Estudo de design para uma sala de aula modelo - Design study for a model classroom

Share Embed


Descrição do Produto

Estudo de design para uma sala de aula modelo

Estudo de design para uma sala de aula modelo Design study for a model classroom Autora: Thiara L. S. Stivari Socolovithc1* e-mail: [email protected]

Resumo O presente artigo versa sobre a observação no âmbito do design do modelo atual de salas de aula focado, para exemplo, em uma sala de aula do ensino superior. Esta pesquisa bibliográfica aborda a discrepância e o distanciamento do design atual em relação às transformações sociais das gerações de alunos nas últimas décadas. Como sequência apresenta-se um projeto proposto como uma alternativa, no intuído de inspirar e fomentar o estudo na área, salientando a importância de se repensar a educação contemporânea não somente em questões pedagógicas, mas também o espaço de ensino. Palavras-Chave: Design; Sala de Aula Contemporânea; Ergonomia.

Abstract This paper reports about the observation in design terms of the model of a general classroom nowadays. This bibliographic research a addresses the discrepancies and the detachment of the current design in relation to the social transformations of the generations of students in the last decades. As a sequence it is presented a proposed project as an alternative, with the intent of inspiring and fomenting the study in this field, stressing the importance of rethinking the contemporary education not only in pedagogical issues, but also teaching space. Keywords: Design; Contemporany Classroom; Ergonomics.

3º Simpósio Interdesigners

1

Estudo de design para uma sala de aula modelo

Introdução Uma das características fundamentais da história da humanidade é a capacidade de registrar suas descobertas e transmiti-las adiante possibilitando novas conquistas e significados sociais. Bahia e Oosterbeek (2014) falam sobre a importância da socialização do conhecimento para o avanço da raça humana, primeiramente, através da oralidade e tradições familiares e, em sequência, em comunidade – onde o ensino passou a ser de função de mestres e pupilos em espaços reservados. Para a continuação da evolução social e histórica é fundamental que o espaço de ensino e as dinâmicas dentro dele sejam pensados com criticidade e com a devida importância. De acordo com Bauman (2011), ao trabalhar o que chama de templos fluidos, a sociedade e as tecnologias atuais geraram uma mudança radical nas interações entre pessoas, os espaços e seus objetos. A velocidade dos acontecimentos e sua sobreposição transforma as informações e os conceitos em algo fluido, de intensa mobilidade e em constante mutação. Com esta perspectiva a motivação para esta pesquisa se iniciou ao constatar que no espaço de ensino houve pouca evolução ou uma repetição de um modelo arcaico desestimulante e desconexo das transformações sociais nas últimas décadas. Observa-se que a existência de cadeiras bonitas, confortáveis e computadores não são elementos suficientes para estimular o aprendizado. As salas de aula encontram-se privadas de estímulos visuais e tecnologia, além de ainda possuírem graves problemas de conforto ambiental. Nesse sentido, este artigo contextualiza o ambiente de sala de aula ao momento atual, fazendo o levantamento bibliográfico sobre os fatores sociais e arquitetônicos que podem influenciar para a melhora do ambiente de ensino. Objetivou-se ainda demonstrar técnicas de design de ambientes para melhorar as condições em sala e, ao final, propor um projeto modelo. Desta forma, esse trabalho poderá servir de subsídios ou inspiração para planejamento de salas de aula atualizadas tecnologicamente e com conforto ambiental, procurando através do design facilitar as condições de aprendizado, compartilhamento e produção de novas ideias. A metodologia aplicada a este artigo foi a pesquisa bibliográfica pautada em livros, periódicos, artigos científicos e sites especializados.

O contexto das salas de aula Para a compreensão da dinâmica de uma sala de aula é necessário que se faça breve levantamento sobre a história do ensino, do desenvolvimento pedagógico e das questões culturais e educacionais. A escola surgiu a partir da necessidade do homem de transmitir seu conhecimento para a próxima geração. Esse compartilhamento de ideas e experiências foi essencial para que o indivíduo conseguisse sobreviver e se adaptar ao meio. No início da civilização a passagem de conhecimentos se dava pelo ensino de pais para filhos, através da oralidade e prática. Os primeiros indício de escola são tratados em Barbosa (2012) quando fala sobre a educação no Oriente Médio, berço da escrita e das primeiras salas de aula estruturadas, dizendo que a educação era para os filhos das classes dominantes e era baseada no estudo religioso para formação de sacerdotes e para necessidades do governo, fundamentado na arte da retórica. Os ofícios eram passados de pais para filhos, sem modelo formal, através da experiência. Amado (2007) fala sobre o ensino na Grécia Clássica (principalmente Atenas), em que observas-e o aflorar da escola pública, ali surgem os tutores e os primeiros modelos de escolas para todos. Amado (2007), se referindo ao trecho de Platão em Protágoras, ressalta que as crianças iam para a escola aprender letras e cítara e o método de ensino obrigava-as a decorar e declamar os poemas dos grandes poetas nas bancadas, no intuito de que se esforçassem para ser como

3º Simpósio Interdesigners

2

Estudo de design para uma sala de aula modelo

eles. Os mais ricos tinham a possibilidade de manter seus filhos por mais tempo nas escolas, fazendo com que o estudo se aprimorasse e surgissem as primeiras faculdades. Após a queda da cultura clássica greco-romana o ensino na Europa passa a ser regido pela igreja, no entanto o Renascimento trouxe um novo ar para o conteúdo programático. Os ideais humanistas e a reforma protestante demonstravam o decaimento gradual o poder da igreja e após a Revolução Francesa, já no século XVIII, o Iluminismo enfatiza e instala a educação laica, uma educação à parte da igreja, dando ao governo as bases do ensino. Neste período Marques de Pombal expulsa os padres jesuítas de Portugal e suas colônias, impondo um ensino mais liberal e racionalista.(AMADO, 2007) O modelo moderno tinha como base a educação pública, pela necessidade de especialização de mão de obra para as máquinas e com isto o ensino das classes operárias. A dinâmica de ensino se baseava na memorização, repetição, correções e metodologia padronizada, uma forma clara para o governo estabelecer suas bases. “O século XVIII foi o século da disciplinarização dos saberes, isto é, da organização interna de cada saber como uma disciplina, tendo, no seu próprio campo e, simultaneamente, critérios de seleção que permitem afastar o falso saber, o não saber, formas de normalização e de homogeneização dos conteúdos, formas de hierarquização e, por fim, uma organização interna de centralização desses saberes em torno de uma espécie de axiomatização de fato. (FOUCAULT, 2004 p.161-162)

No último século houve um desenvolvimento das ideias pedagógicas e sociais. Na linha da pedagogia um dos precursores da “Escola Nova” foi John Dewey, que tinha como princípio o aluno pesquisador, a educação no fazer e com isto suas questões a serem resolvidas (PALMA FILHO, 2011). Autores como Zygmunt Bauman, Michel Foucault, Edgar Morin entre outros, começam a teorizar uma decadência das utopias modernas a partir da metade do século XX, estabelecendo o início da pós-modernidade. Uma era de complexidade, de questionamento do que é moral e humano, de liquidez dos tempos e dos espaços e a isto Edgar Morin desenvolve uma abordagem sobre uma educação planetária e seus desafios. Morin versa que as escolas raramente ensinam a compreensão entre pessoas, empatia, identidade e relacionamentos mais positivos. Discutindo sobre o que chama de “buracos negros da educação” temas como - conhecimento e dificuldade de fornecer saberes no ensino; a importância da contextualização para uma transferência de conhecimento pertinente no ensino; a convergência das disciplinas para a identidade e condição humana como homo sapiens, ludens, economics.(KOWALTOWSKI, 2011 p.36) Mais além, a exposição às informações e a conectividade dos últimos 20 anos transformou a forma como crianças e adultos têm aprendido novos conteúdos e em que lugar isto acontece. Cortella (2004) atenta para a necessidade de se repensar a forma de ensino em uma sociedade pós-moderna. Segundo ele as crianças de hoje nascem imersos neste mundo conectado e já não são mais como os alunos de 20 anos atrás, com isto a forma de ensino não pode ser a mesma. Segundo o filósofo uma criança a partir de dois anos assiste em torno de três horas de TV por dia, mil horas no ano, a esse tempo são acrescidos as horas gastas com outros meios de comunicação tal como celular e tablets. No entanto, aos cinco anos, as crianças ao irem para seu primeiro dia de aula se deparam com uma realidade totalmente diferente. Para a filósofa Viviane Mosé é importante compreender que se na era moderna a necessidade era a quantidade de informações acumuladas na memória, a exemplo da escola tradicional na memorização das “verdades”, na pós-modernidade a temática é outra. O foco está na sociedade do conhecimento, ou seja, alguém que possui acesso à informação em rede e que consegue gerar conexões ou soluções importantes a partir dela.(GOIS, 2013) E Bauman (2001) reitera descrevendo que nesse tempo líquido pós-moderno a velocidade de troca de

3º Simpósio Interdesigners

3

Estudo de design para uma sala de aula modelo

paradigmas devido às inovações é como nunca se viu, e isto colide com a ineficiência das instituições de ensino em acompanhar essas mudanças sociais. Nestas referências constatamos a situação atual das dinâmicas sociais e uma crítica quanto ao ensino em sala de aula, esses pontos levantados auxiliam no questionamento de como melhorar o ambiente de ensino para contribuir com o desenvolvimento pedagógico.

Quem são esses alunos? Segundo Cortella (2004) nos últimos 50 anos tivemos uma aceleração do tempo e das formas de relações humanas, o que transformou as gerações. O que se entendia por mudança de perfil de geração a cada 25 anos, hoje já não se encaixa mais. Atualmente as principais gerações são classificadas como Baby Boomers, X, Y e Z. Para facilitar o entendimento deste artigo foca-se nas gerações Y e Z que são a maioria dos ingressantes em faculdades. A geração Y que varia entre os nascidos 1980-1990 são jovens/adultos que cresceram em uma perspectiva de mundo melhor, com a quebra das grandes filosofias e em um contexto em expansão, seja de tecnologia seja de países em desenvolvimento (MAIA DE OLIVEIRA et al., 2012). Este grupo é estimulado por atividades, multitarefas, espírito de coletivismo e inclusão. É uma geração que domina o mouse, blog, Iphone com extrema facilidade, fazendo uso das múltiplas inteligências para o fortalecimento de suas próprias redes sociais (MAIA DE OLIVEIRA et al. 2012, p.29). Nas empresas quer ser participativo e não somente operador. É impulsivo, impaciente e quer crescer rapidamente. Ele vê o emprego como algo para crescer e não como carreira hierárquica, procura reconhecimento e não é estático no trabalho. Esta geração é multimeios e multitarefas, executa uma tarefa ouvindo música e navegando na internet. Vive com estímulos, não tem paciência para reuniões muito longas. Porém, presenciou as mudanças mais importantes dos últimos tempos e percebeu que existem caminhos possíveis, por isto, não segue muito a hierarquia e processos que não pode opinar. A geração Z, de acordo com Maia de Oliveira et al. (2012), compreende os nascidos na segunda metade dos anos 90 e tem o Z atribuído de “Zapear”. Eles são os “nativos da internet”. Para o professor de psicologia e filosofia da PUC-Campinas, Arlindo Ferreira Gonçalves Júnior, e para o consultor em marketing e estratégia, Marcos Calliari (MATTIASO 2013), esta geração nasce com a tecnologia instalada, tudo conectado e em alta velocidade. É uma geração que percebe o viver no espaço mais como o que se compartilha do que a experiência em si. Pode se referir à sociedade do espetáculo de Guy Debord (1997), estendida a interatividade e ao viver intensamente compartilhando, gerando uma possível crise da visão crítica nesta geração. Por ser imediatista se distrai com muita facilidade e utiliza a tecnologia como meio de supressão para o tédio, perdendo o tempo do ócio criativo ou tempo da reflexão. Para este fato os profissionais preveem uma crise, pois são jovens que não tem profundidade sobre os temas. É uma geração, no entanto, extremamente criativa e produtora de conteúdo rápido, sejam blogs, vídeos e músicas. Atualmente, ocupando as classes de ensino fundamental e médio, a "geração Z" acabou com o reinado das aulas expositivas. Já não basta intercalar conteúdos e exercícios para atrair a atenção dos jovens, a tecnologia é a principal aliada dos professores.

O Design da sala de aula Para Doris Kowaltowski (2011) o que se percebe com a história da educação é que existe uma vasta pesquisa e evolução na área pedagógica, no entanto a arquitetura e o design são pouco questionados. Kowaltwski (2011) salienta que os aspectos físicos do ambiente escolar são pouco citados nas discussões pedagógicas ou em estilos de aprendizagem. A autora ainda comenta que o desenvolvimento dos fundamentos da educação influenciam e

3º Simpósio Interdesigners

4

Estudo de design para uma sala de aula modelo

devem ser considerados para o estudo da arquitetura e design de uma sala de aula. Para ela “o ambiente físico escolar é, por essência, o local do desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem” e “deve ser analisado como expressão cultural de uma comunidade.” (KOWALTOWSKI, 2011, p.11). Este fato nos leva questionar primeiramente o porquê de não se investir em abordagens neste sentido, e em um segundo ponto ressaltar a importância de fazê-lo: “É pertinente indagar a respeito do impacto de elementos arquitetônicos sobre os níveis de aprendizagem de alunos e de produtividade dos professores ao transmitirem conhecimentos. Para a comunidade escolar, deve existir a certeza de que o ambiente físico contribui positivamente para criar o contexto adequado, confortável e estimulante para uma produção acadêmica expressiva.” (KOWALTOWSKI, 2011, p.40)

A psicologia ambiental estuda a relação entre o comportamento humano e o ambiente físico, principalmente por meio de recomendações de projeto. Segundo Kowaltowski (2011) o arquiteto deve buscar formas e elementos que estimulem a relação homem e ambiente, trazendo a sensação de conforto e segurança, ou ainda imprimir uma característica de ambiente social e coletivo ou individual e íntimo. Sobre questões de conforto ambiental o professor Simon Smith (2012), responsável pelo ambiente de aprendizagem da escola inglesa Sweyne Park, apresenta os resultados de pesquisa a respeito de acústica em salas de aula e como isto pode influenciar no aprendizado. Eles criaram salas modelo com demonstração de níveis diferentes de tratamento acústico para proporcionar uma diminuição no tempo de reverberação. O resultado observado foi que em uma sala com conforto acústico os professores não precisavam mais elevar a voz para serem ouvidos, não era preciso repetir, pois os alunos entendiam a tarefa na primeira vez, se sentiam mais relaxados no fim do dia. Por parte dos alunos foi constatado que a sala era mais silenciosa e eles conseguiam entender melhor o professor e não se distraiam com facilidade. No Brasil a recomendação técnica da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) na Norma Brasileira(NBR)12179/1992 sobre conforto acústico o nível de ruído deve estar entre 40-50dB para salas de aula, com um tempo de reverberação e 0,4-0,6 segundos. Com relação ao conforto térmico Nelson et al. (1987) desenvolveram uma pesquisa utilizando câmaras de testes para verem a e relação entre produtividade, fadiga e estado psicológico em diferentes condições de temperatura e umidade. Seus resultados mostraram que a produtividade é maior e a fadiga progride mais lentamente em ambientes climatizados mais frios do que em ambientes quentes, contudo, um ambiente muito frio provoca incomodo nos indivíduos causando desconcentração. No campo do conforto lumínico, a norma que rege é a NBR5413/1991 e prevê a quantidade de 200 lux de iluminância sobre a área de trabalho para salas de aula com alunos com média de idade de até 40 anos. A norma atenta para a importância na escolha dos materiais e das fontes luminosas, tanto para a luz incidente quanto para a luz refletida que auxilia na qualidade visual dando clareza e nitidez às coisas e podendo evitar o ofuscamento. Em termos de avanço tecnológico empresas como Intel (GUSMÃO, 2014) e Google (PAIVA, 2014) tem desenvolvido uma série de inciativas para repensar metodologias de ensino, aumentando a interação e a imersão da tecnologia em sala de aula, mas com uma perspectiva para futuro, baseando-se na capacitação primeiramente dos professores para daí uma decisão das tecnologias a serem implementadas. O modelo da “classroom of the future” da Intel(GUSMÃO, 2014) é uma das perspectivas. Um computador/tablet por aluno interconectado, além de lousas interativas para o desenvolvimento de projetos colaborativos. O professor tem controle do desenvolvimento dos alunos e de forma integrada caminham para a solução de problemas, no exemplo da Intel, para a construção de uma ponte.

3º Simpósio Interdesigners

5

Estudo de design para uma sala de aula modelo

Resultados da Observação Esta pesquisa foi baseada na bibliografia e na observação de uma sala de aula de uma escola de ensino superior padrão e o que se teve foi que ela se mantém no formato do início século do XX. Carteiras de madeira e aço tubular de 60x40cm, poltronas em tubo de aço com acento em madeira ou tecido com quatro pés fixos, uma mesa para professor, quadro-negro ou branco no centro, poucas alterações tecnológicas como o uso de um computador para o professor e projetor multimídia (data show) ou aparelho de som. Com relação ao conforto acústico observou-se baixa qualidade acústica das salas, com pouca absorção de ruídos e que aumenta com o passar da aula. Quando possui sistema de áudio é normalmente uma caixa amplificada em um canto da sala. Os materiais de pisos, paredes e teto são lisos e pouco absorcivos, causando um tempo de reverberação superior ao estabelecido pela norma. Há desconforto térmico, principalmente durante os períodos matutinos e vespertinos devido à ineficiência dos ventiladores para refrigerar a sala de aula, ausência de brises e a circulação de ar cruzada com as janelas no topo voltadas para corredores internos não é suficiente para climatizar satisfatoriamente o ambiente. Na questão tecnológica o professor trabalha em pé ao lado do quadro sem apoio do computador pois ele fica na lateral, os alunos permanecem sentados a maior parte do tempo, não tendo acesso às tecnologias, mesmo quando permitido, o uso de recursos tecnológicos pessoais o acesso à energia ou internet é extremamente limitado. Em termos estéticos de maneira geral, o ambiente ainda é insípido, sem estimulação visual alguma, composto por piso frio, paredes lisas e claras, cortinas claras, e mobiliário básico. No caso da iluminação observou-se que está dentro dos padrões normativos, no entanto isto muda quando se inicia a aula considerando que as luzes devem ser apagadas para verem os slides.

Sala de aula modelo Com base nestes levantamentos este artigo apresenta uma proposta para uma sala de aula modelo. Por ser um projeto modelo levou-se em consideração as possibilidades tecnológicas existentes, no entanto, não se propõe aqui fazer o estudo da viabilidade econômica, por considerar que a implementação do modelo depende não só dos valores de mercado, mas também de um planejamento institucional entre outros aspectos. A sala de aula aqui proposta foi baseada em um espaço real de 48m 2, com características estruturais muito semelhantes ao padrão nacional. Em termos arquitetônicos a sala segue as normas da ABNT com as aberturas de janelas e portas dentro dos padrões recomendados. O conceito do projeto foi pensado sobre a perspectiva da pós-modernidade com a base na estética desconstrutivista inspirada nas obras do arquiteto Daniel Libeskind. Primeiramente porque a pós-modernidade questiona os conceitos preestabelecidos, desconstrói do pensamento modernista cartesiano para um multiforme, fluido, complexo e humano, que é a fonte da estética de Libeskind. E em segundo lugar a sala de aula foi pensada como um prolongamento da vida em sociedade e elementos com estímulos calculados podem auxiliar na dinâmica e criatividade. Por isto foram aplicados elementos angulares e com cores que estimulam as atividades cognitivas, como pode ser observado na figura 01 à baixo.

3º Simpósio Interdesigners

6

Estudo de design para uma sala de aula modelo

Figura 01: Representação ilustrativa perspectiva computadorizada da sala, painéis acústicos em V com direcionamento para palanque do professor. Fonte: Próprio Autor

Para o teto foi projetada a combinação de placas flutuantes brancas com recortes angulares e o teto de alvenaria pintado de preto criando a sensação de infinito, o desenho garante uma distribuição difusa e homogênea com ênfase na acuidade visual. As lâmpadas são LED na temperatura de 4200k (cor branca natural) com IRC superior a 80 por sua durabilidade, qualidade na reprodução de cores e fluxo luminoso. Em conjunto ao invés de projetores que perdem qualidade e nitidez, é proposto o uso de televisores de LED de alta definição com tecnologia de reconhecimento de movimento e touch screen, pois são emissores de luz e podem ser utilizados com as luzes da sala acesas, proporcionando imagens mais nítidas, facilidade de leitura e evitando a sonolência. Com o uso de softwares de gestão de ensino, a exemplo as novas plataformas desenvolvidas pela Google, Intel e Samsung, as telas interagem com os tablets/computadores dos alunos e o professor consegue ter o controle, compartilhar e acompanhar o desenvolvimento dos projetos. O projeto ainda sugere o uso de painéis de TV interativa ao fundo da sala, permitindo acesso direto ao conteúdos, avisos, vídeos e trabalhos que estão sendo desenvolvidos por outros cursos, pesquisas científicas, entre outros, ou seja, os cursos podem interagir mais entre si, captar mais recursos, ideias e conteúdos através do compartilhamento de informações. Para um conforto acústico, painéis de lã de vidro foram aplicados nas laterais e no teto flutuante, absorvendo o som reverberante e reduzindo assim a sensação de ruído excessivo (neste estudo o tempo de reverberação baixou de 1,2 para 0,4s). Nas paredes laterais os grandes triângulos de placas acústicas ajudam no conjunto para conforto acústico e promovem o direcionamento do olhar para a área do professor criando uma dinâmica visual e zona de interesse. Ao fundo da sala um painel em madeira pinus funciona não só como painel para livros, mas também como difusor acústico, que ao contrário do teto flutuante, não diminui o tempo de reverberação, mas serve para manter a acústica da sala “viva”, espalhando o som de forma homogênea pela sala. (Figura 02).

Figura 02: Representação da sala modelo com painéis de madeira ao fundo. Fonte: Próprio Autor

3º Simpósio Interdesigners

7

Estudo de design para uma sala de aula modelo

Para um conforto térmico é observado que deve haver uma união na escolha de materiais, ventilação cruzada e climatizadores para dias mais quentes garantindo uma melhor capacidade de memória e raciocínio. Para isto, foram utilizados materiais de baixa condutibilidade térmica que evitam as trocas de calor com o ambiente, mantendo a temperatura estável por mais tempo. Um exemplo é o piso vinílico, as poltronas polipropileno e mesas em melamina e aço. Além destes, condicionadores de ar com sistemas inverter para controle da temperatura e purificação do ar. O mobiliário desenvolvido segue ao conceito desconstrutivista, criando a carteira “InVértice” com design angular, móvel e multifuncional com pés descentralizados e angulares. Elas desafiam o olhar e instigam a criatividade (Figura 03) O tampo das carteiras em melamina de alta pressão possibilita diversas composições, na medida de 90x60cm aumentando o espaço de trabalho. Com design universal o tampo possui regulagem de altura e escamoteável para agrupar as mesas além de virar um quadro para discussões em grupo (Figura 04). A bancada de apoio para o professor é elevada (tampo 0,90-1,10m altura) e móvel, para que ele possa ter um apoio onde precisar e na altura ergonômica para uma pessoa em pé. As cadeiras em polipropileno são coloridas do modelo Prodige 5 do designer italiano Giampaolo Alloco promovendo além de ergonomia, maior mobilidade, conforto térmico e durabilidade. O patamar para a aula expositiva é elevado 30cm para que facilite a visibilidade do professor por todos os alunos, a rampa na lateral permite o acesso de todos. Em suma a composição das peças busca uma dinamicidade que ativa a criatividade e mantém o aluno conectado ao espaço, sempre descobrindo novas formas de compor o ambiente. Numa alusão a realidade social e sua necessidade de um olhar criativo para solução de problemas. (A)

(B)

(C)

Figura 03: Representação de três modelos de distribuição dinâmica das carteiras (A, B, e C) da sala de aula modelo. Fonte: Próprio Autor

Figura 04: Representação ilustrativa perspectiva computadorizada da carteira InVértice. Fonte: Próprio Autor

3º Simpósio Interdesigners

8

Estudo de design para uma sala de aula modelo

Considerações Finais O que se conclui é que existe uma grande distância entre a realidade social e a experiência em sala de aula hoje, que além de programas pedagógicos o espaço físico do ensino deve ser repensado. Deve atender às várias formas interação, aplicando sempre um design universal. Acredita-se que o modelo de sala de aula aqui proposto vai de encontro com essa nova geração de alunos. A sala de aula modelo proporciona um ambiente de ensino dentro da complexidade do mundo atual, fazendo com que seus usuários sejam mais participativos, contribuindo na construção e desenvolvimento de novas ideias e conceitos. A sala de aula modelo exige acesso de qualidade a conteúdos digitais, remete a uma proposta multidisciplinar além de questões estéticas que “capturam” a atenção dessa nova geração. O projeto trouxe materiais acústicos, formas geométricas, mobiliários ergonômicos, acessibilidade, tecnologia, cores neutras e vibrantes, compondo um espaço diferente, dinâmico, criativo e estimulante. Ressalta-se que além do proposto, a pesquisa sobre os ambientes de ensino, incluindo as plataformas digitais, deve ser aprofundada e contínua, para que a socialização do conhecimento, base para desenvolvimento humano, seja prioridade em nossa sociedade.

Referências Bibliográficas ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5413. Iluminância de Interiores. Rio de Janeiro: ABNT, 1991. _______NBR 12179. Tratamento acústico em recintos fechados. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. _______NBR 9050. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. AMADO, Casamiro. História da Pedagogia e da Educação – Guião para acompanhamento das aulas, Univ. de Évora p.26 2007 http://home.dpe.uevora.pt/~casimiro/HPE-%20Guiao%20-%20tudo.pdf (acesso 08/06/2015) BAHIA, Izabela R.; OOSTERBEEK, Luiz. Socialização do conhecimento na educação: o estudo da pré-história nas séries iniciais do ensino formal. Cadernos do LEPAARQ - Vol. XI, n°21, 2014 p.139-155 BARBOSA, Robson Gomes. Ensaio: A história da educação na antiguidade. 2012 http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3920034 (acesso 06/08/2015) BAUMAN, Zygmunt; KEITH, Tester. Conversations with Zygmunt Bauman. Cambridge: Polity Press, 2001. BAUMAN, Zygmunt. Entrevista para Fronteiras do Pensamento. Publicado 10/08/2011 https://www.youtube.com/watch?v=POZcBNo-D4A (Acesso 20/08/2015)

dia

CORTELA, Mario Sérgio. A criança em seu mundo. Palestra no Café Filosófico CPFL Cultura dia 19/03/2004. http://www.cpflcultura.com.br/wp/2008/12/26/a-crianca-em-seumundo/ (acesso 20/05/2015) DEBORD, Guy. A sociedade doespetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro:Contraponto, 1997

3º Simpósio Interdesigners

9

Estudo de design para uma sala de aula modelo

FOUCAULT, Michel. Il Faut Défendre La Société. Cours au Collège de France. Paris: Gallimard, 1997. GOIS, Antonio. Entrevista comViviane Mosé para Info globo: Nossa educação hoje é castradora e elimina líderes, diz filósofa. dia 09/09/2013. http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/nossa-educacao-hoje-castradora-eliminalideres-diz-filosofa-9878735#ixzz3b74g08Zy (acesso 24/05/2015) GUSMÃO, Gustavo. Reportagem Info abril:"Uso de tecnologia na educação precisa sermuito bem planejado", diz executivo da Intel. Site: Info Online 21/06/2014. http://info.abril.com.br/noticias/it-solutions/2014/06/uso-de-tecnologia-na-educacao-e-algobastante-complexo-diz-executivo-da-intel.shtml (acesso25/09/2014) KOWALTOWSKI, Doris C.C.K. Arquitetura escolar: o projeto do ambiente de ensino - São Paulo, Editora Oficina de Textos 2011. MAIA DE OLIVEIRA, Rosa Maria, GOMES, Fabio, VIEIRA GOMES, Juliana,Gonçalves, DE ALMEIDA, Roberta, SANTOS, Julio e Regiane, DEJESUS, Adrielli. A psicanálise e o poder das gerações X Y Z. IV Congreso Internacional de Investigación y Práctica Profesional em Psicología XIX Jornadas de Investigación VIII Encuentro de Investigadores en Psicología del MERCOSUR. Facultad de Psicología - Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires 2012. http://www.aacademica.org/000-072/396 MATTIASO, LEILA, 2013 - TV PUC CAMPINAS, Ponto de Encontro - gerações Baby Boomers, X, Y e Z - entrevista com Arlindo Ferreira Gonçalves Jr. e Marcos Calliari. https://www.youtube.com/watch?v=My0dWWcIk9s (acesso 06/08/2015) MOSE, Viviane. Palestra para Café Filosófico CPFL: Desafios contemporâneos da Educação 22/10/2009 http://www.cpflcultura.com.br/wp/2009/12/01/integra-desafios-contemporaneos-a-educacaoviviane-mose/ (acesso 01/05/2015) NELSON, T. M., NILSSON, T. H., HOPKINS, G. W. "Thermal Comfort: Advantages and Deviations". ASHRAE Transactions. Atlanta: v 93, n. 1, p. 1039-1054, 1987. PAIVA, Thais. Reportagem site Carta na escola: "Sala de Aula Google." Junho 2014. http://www.cartaeducacao.com.br/tecnologia/sala-de-aula-google/ (acesso20/09/2014) PALMA FILHO, J. C. A educação através dos tempos. Caderno de Formação - Formação de Professores - Educação Cultura e Desenvolvimento - História da Educação. 1ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010, v. único, p. 18-31 http://ruipaz.pro.br/textos/educacao_atraves_tempos.pdf (acesso 06/08/2015) SMITH, Simon, 2012 - Simon Smith of Sweyne Park School, Sound Education London 2012 https://www.youtube.com/watch?v=HCL8sjrwfyQ (acesso 10/10/2014)

3º Simpósio Interdesigners

10

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.