Estudo do livro 50 anos depois

June 2, 2017 | Autor: Candice Gunther | Categoria: Espiritismo
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Estudo do livro 50 anos depois Livro de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier Candice Gunther

Estudo do livro 50 anos depois com enfoque nas lições evangélicas. Lições morais sob as luzes do Evangelho de João. O estudo está dividido em 07 partes, que estão sudivididas em 03 parte, a, b e c.

Estudo 50 anos depois – Parte 1a

“O Espírito reencarnado retoma a herança de si mesmo, na estrutura psicológica do destino, reavendo o patrimônio das realizações e das dívidas que acumulou, a se lhe regravarem no ser, em forma de tendências inatas, e reencontrando as pessoas e as circunstâncias, as simpatias e as aversões, as vantagens e as dificuldades, com as quais se ache afinizado ou comprometido.” Emmanuel

As diversas experiências reencarnatórias estão, quando encarnados, guardadas em profundas lembranças que, raras vezes, podemos acessar. Deus, em sua infinita misericórdia, assim o quis, permitindo que através do esquecimento temporário novos laços de amor fossem criados, apagando os antigos de dor, mágoa, ódio, vingança. Não obstante este esquecimento há algo em nós que permite reconhecermos os que nos foram importantes em outras vidas. Aos afetos da alma, sentimos imediata simpatia, aquele sentimento de que a pessoa é confiável e que a ela poderemos endereçar nossa estima e amizade. De igual forma, nossos desafetos geram sentimentos antagônicos de aversão, medo, repulsa, e facilmente queremos nos distanciar da pessoa em questão. Logo no primeiro capítulo do livro 50 anos depois, temos o encontro de Helvídio e Nestório. O livro nos fornece informações relevantes sobre os sentimentos de ambos quando se encontraram, dando-nos, assim, uma oportunidade de estudo deste reconhecimento que a alma nos oferece, não obstante o esquecimento propiciado pela encarnação. Primeiramente, recordemos que na Carta ao Leitor, logo no início do livro, Emmanuel nos informa que: - Nestório é reencarnação de Públio Lentulus, senador romano que teve a história narrada no livro Há 2000 anos (lembrando-nos que se trata de encarnação do próprio Emmanuel);

- Pompílio Crasso, também senador romano e amigo de Públio Lentulus. Ambos foram presos pelos judeus, sendo que Pompílio foi assassinado e Públio feito cego. Pompílio retorna em nova encarnação, agora como Helvídio Lucius. Qual seria o propósito de Emmanuel ao nos fornecer estes dados iniciais? O que podemos aprender com eles? A primeira reflexão que gostaria de compartilhar é que o retorno de ambos a reencarnação dá-se em classes sociais distintas. Se no livro Há 2000 anos ambos eram senadores, vemos que em sua encarnação seguinte, tal fato não ocorre. Públio retorna como escravo. Pompílio como nobre romano. Não caíram os dois em faltas similares? Não eram senhores que queriam dominar o mundo e instaurar a pax romana? Onde a justiça divina que não os iguala nas provas e expiações? Creio que estas perguntas são importantes, porém, não sabemos de todas as suas ações em vidas passadas, não sabemos, em especial em relação a Pompílio, e por não sabermos de suas vidas, não temos o direito de julgar. A balança da justiça pertence a Deus, e a Ele cabe o encaminhamento das provas e expiações que necessitamos. Assim nos ensina o Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. Bem Aventurados os Aflitos, item 8: “As tribulações podem ser impostas a Espíritos endurecidos, ou extremamente ignorantes, para levá-los a fazer uma escolha com conhecimento de causa. Os Espíritos penitentes, porém, desejosos de reparar o mal que hajam feito e de proceder melhor, esses as escolhem livremente. Tal o caso de um que, havendo desempenhado mal sua tarefa, pede lha deixem recomeçar, para não perder o fruto de seu trabalho. As tribulações, portanto, são, ao mesmo tempo, expiações do passado, que recebe nelas o merecido castigo, e provas com relação ao futuro, que elas preparam. Rendamos graças a Deus, que, em sua bondade, faculta ao homem reparar seus erros e não o condena irrevogavelmente por uma primeira falta.” Algo interessante e digno de nota é que muitos de nós podemos ter pensado que se Públio retorna como escravo e Pompílio não, talvez o último tenha méritos acumulados que não o fizeram enfrentar encarnação tão dolorosa. Mas, tal raciocínio seria também um julgamento. A verdade é que não o sabemos, podemos apenas aventar as possibilidades e uma delas é a de que Públio Lentulus, ao reencarnar como escravo Nestório estivesse buscando uma dura prova para purificação e adiantamento do seu espírito. Assim, o que a primeira vista parece um castigo, aos olhos da doutrina espírita pode significar elevação e preparo para dar passos mais largos rumo a perfeição. Adentremos no capítulo 01 da primeira parte do livro 50 anos depois e vejamos o trecho que narra o encontro de Nestório e Helvídio: “Helvídio Lucius surpreendeu-se, ao ver a personagem interessante que lhe era apresentada. Identificara, imediatamente, a sua condição de servo, mas o espanto lhe provinha da profunda

simpatia que aquela figura lhe inspirava. (...) Helvídio Lucius parecia não ouvir, como que procurando mergulhar fundo naquela figura curiosa, ao alcance de seus olhos, e cuja simpatia lhe impressionava as fibras mais sensíveis e mais íntimas.” Profunda simpatia, sentiu Helvidio por Nestório. Espíritos amigos que se reencontram na jornada e que se auxiliam mutuamente. Novamente, buscamos na doutrina o amparo para entender os sentimentos que ligam estes dois espíritos através dos séculos: “Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de idéias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências.” (ESE, Cap. XIV, item 8) E esta amizade noticiada nestes livros, dura até os dias atuais, como vemos no quadro de reencarnações apresentado por Wanda Joviano no livro Sementeiras de Luz:

Sabemos que Rômulo Joviano era o chefe de Chico Xavier na Fazenda Modelo e foi um grande amigo e colaborador para que estes romances pudessem ser psicografados. Ele e sua esposa, Maria Joviano, organizavam as leituras recebidas pelo Chico diariamente e foram amigos fiéis, grandes colaboradores desta obra que hoje é objeto de nosso estudo, aprendizado e oportunidade de aprimoramento. Vemos quão profundos são os laços que nos unem e nos atraem. Saibamos reconhecer nossos irmãos espirituais na Terra e a eles dedicarmos nosso carinho e afeição. Que possamos, também, nos abster de julgar a todos aqueles que atravessam momentos de dificuldade, recordando que Nestório teve muita coragem e fé em sua encarnação, representando um passo significativo em seu caminho redentor.

Avancemos para outra questão relevante.

Vejamos o momento que nos noticia a grande afinidade de Nestório com a história romana: “Sua capacidade mnemônica é um dos fenômenos mais interessantes que tenho observado em toda a vida. Imagina que tem dentro do cérebro a longa história de Roma, sem omitir o mais ligeiro detalhe. Conhece nossas tradições e costumes familiares como se houvera nascido no Palatino.” Explicam os espíritos as razões de Nestório ter tanta facilidade nas questões que se referem a Roma: “218. Encarnado, conserva o Espírito algum vestígio das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores? “Guarda vaga lembrança, que lhe da o que se chama ideias inatas.” Ao nos defrontarmos com estas lições que o livro apresenta, aproveitemos a oportunidade para refletir sobre quais as idéias que trazemos de outras vidas, quais as tendências que reconhecemos em nosso viver. Temos facilidade em alguma esfera de trabalho? Reconhecemos que determinada área nos é de fácil aprendizado? É certamente um convite a reflexão, porém, há um passo a mais que necessitamos dar e que raros o fazem. Reconhecendo em mim as aptidões, como posso colocá-las a serviço de Jesus para a construção de um mundo melhor? Alguns acham que nada tem de bom que possa ser útil a seara de Jesus. Assim falou-me uma amiga certa feita, não reconhecendo em si nenhuma aptidão que pudesse colocar a serviço do trabalho edificante. Observando-a, porém, facilmente víamos que era uma pessoa dócil, paciente, a quem todos procuravam para conversar e não raro contar seus problemas. Fácil foi lhe dizer que seu dom era a capacidade de ouvir, de ter compaixão pela dor do outro, de esquecer dos seus problemas para simplesmente importar-se com os problemas alheios. E assim, seguiu ela feliz, descobrira um dom belíssimo, por fazê-lo com facilidade não o sabia ou percebia. Eis, então, um convite, qual o teu dom? Ele auxilia o Pai Celestial a construir um mundo melhor, mais justo, belo, amoroso? O entendimento da reencarnação e do processo das diversas vidas é um grande presente de Deus para nossos espíritos. Precisamos, porém, alargar o seu entendimento para as diversas consequências que ele nos traz, fazendo-nos reconhecer tendências, sentimentos em relação as pessoas e a nos mesmos, percebendo-nos como seres em construção. Para iluminar nosso estudo, recordemos do cap. 11 do Evangelho de João, que nos oferece a história de Lázaro, irmão de Marta. Emmanuel comenta no livro Caminho Verdade e Vida: O regresso de Lázaro à vida ativa representa grandioso símbolo para todos os trabalhadores da Terra. Os criminosos arrependidos, os pecadores que se voltam para o bem, os que “trincaram” o cristal da consciência, entendem a maravilhosa característica do verbo recomeçar.

Lázaro não podia ser feliz tão só por revestir-se novamente da carne perecível, mas, sim, pela possibilidade de reiniciar a experiência humana com valores novos. E, na faina evolutiva, cada vez que o espírito alcança do Mestre Divino a oportunidade de regressar à Terra, ei-lo desenfaixado dos laços vigorosos... exonerado da angústia, do remorso, do medo... A sensação do túmulo de impressões em que se encontrava, era venda forte a cobrir-lhe o rosto... Jesus, compadecido, exclamou para o mundo: — Desligai-o, deixai-o ir . Essa passagem evangélica é assinalada de profunda beleza. Preciosa é a existência de um homem, porque o Cristo lhe permitiu o desligamento dos laços criminosos com o pretérito, deixando-o encaminhar-se, de novo, às fontes da vida humana, de maneira a reconstituir e santificar os elos de seu destino espiritual, na dádiva suprema de começar outra vez. Saibamos o quão preciosa é a oportunidade que ora vivenciamos e aproveitemo-la na seara do bem, do amor, do refazimento, da compaixão. Que Jesus ilumine nosso viver hoje e sempre. Abraços fraternos. Campo Grande-MS, 17.01.2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 1b

Nesta segunda etapa, iremos trabalhar com um elemento que aparece nos capítulos de número 01, primeira e segunda parte, retornando a uma perspectiva que temos adotado para o estudo dos romances de Emmanuel, qual seja, a busca de idéias paralelas entre os capítulos de igual número, sob as luzes de um texto evangélico. Identificamos na conversa entre Cáio Fabricius e Helvídio Lucius, no capítulo 01 da primeira parte, a menção a Silano. Vejamos um trecho: “- Helvídio - murmurou o tribuno fraternalmente -, teu regresso a Roma é de causar apreensões aos teus verdadeiros amigos. Recordando teu pai, lembro-me instintivamente de Silano, o pequeno enjeitado que ele chegou quase a adotar oficialmente como próprio filho, desejoso de libertar-te da calúnia a ti imputada no albor da mocidade. - Sim - disse o anfitrião, como se houvera repentinamente desgertado -, ainda bem que não desconheces ser caluniosa a acusação que pesou sobre mim. Aliás, meu pai não ignora isso. - Apesar de tudo, teu venerável genitor não hesitou em cumular a criança, a ele encaminhada, com o máximo de carinhos...” Helvídio tivera um caso amoroso com Cláudia em sua juventude e esta engravidou, não sabendo, porém, se o filho que carregava era efetivamente de Helvídio. No transcorrer do livro ela mesma manifesta esta informação de que tinha dúvidas quanto a paternidade, qunado conta a Silano que é sua mãe. Não obstante a dúvida e a diferença de posição social entre ambos, Cnéio Lucius, pai de Helvídio, opta por assistir o menino, cuidando de seu bem estar. Esta atitude de Cnéio Lucius é muito significativa e merece nossa atenção e estudo. Quais as razões que o levariam a agir de tal forma? Ao cuidar do menino não estaria corroborando a tese de que era realmente filho de Helvídio? É certo que não sabemos os motivos íntimos que levaram Cnéio Lucius a tal atitude, porém, podemos considerar que o ato trouxe consequências para a vida de todos. Reconhecemos a atitude de um pai amoroso que não deseja que sobre o filho recaia a calúnia que o tempo pode transformar em ódios e dissabores. Ao tomar Silano como se fora seu filho, dando-lhe uma vida digna e com oportunidades, Cnéio agiu com zelo e com amor. Seguindo um pouco a frente, no capítulo 01 da primeira parte, iremos observar o reencontro de Silano com Cnéio Lucius, este já em idade avançada e com a saúde deveras comprometida. Percebemos o carinho e afeto que existia entre estas almas:

“A filha mais velha vinha anunciar-lhe a chegada de alguém muito caro ao seu espírito generoso. Era Silano, o filho adotivo, que regressava das Gálias. O patrício mandou-o entrar, com o seu júbilo carinhoso e sincero. Levantou-se, trêmulo, para abraçar o rapaz que, na juventude sadia dos seus vinte e dois anos completos, o apertou também nos braços, quase chorando de alegria. - Silano, meu filho, fizeste bem em vir! - exclamou serenamente. - Mas, conta-me ! vens a Roma com alguma incumbência de teus chefes? O rapaz explicou que não, que havia solicitado uma licença para rever o pai adotivo, de quem se sentia muito saudoso, acrescentando os seus propósitos de se fixar na Capital do Império (...).” E mais a frente: “- Silano, não desconheces o passado e, um dia, já te falei das circunstâncias que te trouxeram ao meu coração paternal. Sim - respondeu o rapaz em tom resignado -, conheço a história do meu nascimento, mas os deuses quiseram conceder ao mísero enjeitado do mundo um pai carinhoso e abnegado, como vós, e não maldigo o destino.” Silano foi deixado por Cláudia as portas da casa de Cnéio Lucius e este o acolheu. Esta é uma história que fala ao nosso coração e nos convida a refletir. Quantas e quantas vezes pessoas adentram em nossas vidas de forma inesperada, batendo as portas de nossos corações, buscando afeto, alento, cuidado, carinho. Acolhemos? Nem sempre. Afinal, temos tantos afazeres, tantas responsabilidades, quem está querendo mais um problema? Este é o pensamento que domina e é considerado socialmente aceito. Mas o que a sociedade recomenda está coadunado com o que o Cristo ensina? Gostaríamos, então, de buscar as luzes de uma narrativa evangélica que encontra paralelos com este estudo que ora realizamos. No capítulo 11 do Evangelho de João, a narrativa da ressurreição de Lázaro. Vejamos um trecho, conforme a Bíblia de Jerusalém: “1Havia um doente, Lázaro, de Betânia, povoado de Maria e de sua irmã Marta. 2Maria era aquela que ungira o Senhor com bálsamo e lhe enxugara os pés com seus cabelos. Seu irmão Lázaro se achava doente. 3As duas irmãs mandaram, então, dizer a Jesus: "Senhor, aquele que amas está doente". 4A essa notícia, Jesus disse: "Essa doença não é mortal, mas para a glória de Deus, para que, por ela, seja glorificado o Filho de Deus". 5Ora, Jesus amava Marta e sua irmã e Lázaro. 6Quando soube que este se achava doente, permaneceu ainda dois dias no lugar em que se encontrava; 7só depois, disse aos discípulos: "Vamos outra vez até a Judéia!" 8Seus discípulos disseram-lhe: "Rabi, há pouco os judeus procuravam apedrejar-te e vais outra vez para lá?" 9Respondeu Jesus: "Não são doze as horas do dia? Se alguém caminha durante o dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; 10mas se alguém caminha à noite, tropeça, porque a luz não está nele". "Disse isso e depois acrescentou: "Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo". Vejamos o comentário de Martins Peralva, sobre o texto evangélico: “O despertamento é gradativo e se condiciona ao funcionamento, equânime e perfeito, das leis naturais que regem a evolução. Ninguém desperta instantaneamente. Ninguém se ergue, de um

momento para outro, do túmulo da ignorância, para o santuário do conhecimento. Ninguém dá um salto da cova do egoísmo para a catedral da abnegação. Ninguém, após levantar-se, conseguirá desenfaixar-se, com facilidade, sem o concurso de amigos e benfeitores, sejam eles encarnados ou desencarnados. Há sempre alguém intercedendo por nós, à maneira de Marta e Maria, que se apressaram a enviar mensageiros ao Cristo, a fim de que pudesse Lázaro ser restituído à dinâmica da vida. ( PERALVA, Martins. Estudando o evangelho. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 40 (Cristo e Lázaro), item 1, p. 177.)

Silano era um espírito que necessitava de amparo, não apenas físico, mas também emocional, espiritual. Ser criado por Cnéio Lucius permitiu ao seu espírito ser influenciado por uma pessoa boa, que o queria bem. Infelizmente o mesmo não poderíamos falar de sua mãe, Cláudia, que nos instantes derradeiros de sua vida, ao contar a verdade a Silano, de que era sua mãe, aproveitando-se da profunda emoção que o fazia sentir, pede a ele que cometa um crime que comprometeria toda a sua encarnação e as próximas também, certamente uma influência negativa sobre o seu querer. Vemos assim, como nos informa Martins Peralva, que é um despertar lento, gradativo. Viver sob a tutela de Cnéio Lucius foi um despertar para o espírito de Silano. Sementes de amor foram colocadas em sua vida e germinaram no momento oportuno. Muitos de nós passamos por semelhante processo, muitos já nos auxiliaram para que pudéssemos despertar, para que pudéssemos retirar os “panos” que nos envolvem e que não nos permitem viver, mas nos remetem a morte. Assim como entre o Cristo e Lázaro havia uma pedra, a qual Jesus manda que seja retirada, ainda guardamos muitos obstáculos que não nos permitem adentrar na vida verdadeira e plena, no reino celestial. Assim como Silano tinha suas imperfeições, nós outros também as temos e necessitamos do Cristo em nosso viver para que possamos “retirar a pedra”, ou seja, remover tudo o que nos afasta do seu amor e de sua paz. E assim como Silano, precisamos identificar quem nos influencia de forma positiva, contribuindo para o nosso erguimento e quem nos impulsiona ao mal, ao erro. Identificar estas influências é muito importante para que nos tornemos mais vigilantes. Após ser despertado pelo Cristo, Lázaro é entregue aos familiares, eis que tinha dificuldades de andar, de cuidar de si próprio. Silano foi entregue a Cnéio Lucius, e este, não obstante não existir nenhuma obrigação que o impelisse a cuidar do menino, adotou-o tal qual lhe fosse um filho. Assim, vemos que Jesus conta sempre com o concurso daqueles que já estão aptos a agir amorosamente, permitindo, assim, que desenvolvamos o amor solidário e fraterno, numa belíssima teia de colaboração eterna. No reino que Jesus veio inaugurar impera a solidariedade. A história de Silano nos remete a profundas reflexões, das oportunidades que temos na vida e das provas que advém, verificando o quanto o amor já se arraigou em nosso íntimo.

Despertaremos gradativamente e para isto precisamos aproveitar as oportunidades de amar mesmo quando não há obrigação social; de servir mesmo quando não é nossa tarefa e de perdoar, mesmo quando não estamos errados. Encerramos o estudo desta semana com uma reflexão sobre a história de Lázaro, trazida por nosso querido Emmanuel, no livro Caminho, Verdade e Vida: “O regresso de Lázaro à vida ativa representa grandioso símbolo para todos os trabalhadores da Terra. Os criminosos arrependidos, os pecadores que se voltam para o bem, os que “trincaram” o cristal da consciência, entendem a maravilhosa característica do verbo recomeçar. Lázaro não podia ser feliz tão só por revestir-se novamente da carne perecível, mas, sim, pela possibilidade de reiniciar a experiência humana com valores novos. E, na faina evolutiva, cada vez que o Espírito alcança do Mestre Divino a oportunidade de regressar à Terra, ei-lo desenfaixado dos laços vigorosos… exonerado da angústia, do remorso, do medo… A sensação do túmulo de impressões em que se encontrava, era venda forte a cobrir-lhe o rosto… Jesus, compadecido, exclamou para o mundo: — Desligai-o, deixai-o ir. Essa passagem evangélica é assinalada de profunda beleza. Preciosa é a existência de um homem, porque o Cristo lhe permitiu o desligamento dos laços criminosos com o pretérito, deixando-o encaminhar-se, de novo, às fontes da vida humana, de maneira a reconstituir e santificar os elos de seu destino espiritual, na dádiva suprema de começar outra vez. Tenhamos em Silano um exemplo de recomeço, de alguém que foi auxiliado e influenciado positivamente, ainda que ao final de sua vida tenha vacilado e retornado ao mundo de crimes, dores e vinganças. As sementes do amor já foram semeadas e Deus dará a vida no momento oportuno. Sigamos em frente, despertando de nossas paixões inferiores para a vida plena com o Cristo. Jesus nos ampare e guia, hoje e sempre. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 24.01.2016. Candice Günther.

Estudo 50 anos depois – Parte 1c

“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de servidão.” — PAULO (Gálatas, 5:1)

A liberdade é algo celebrado e almejado pelo homem deste os primeiros tempos e este é o temo de nosso estudo desta semana, onde sondaremos algumas situações narradas, em especial sobre Nestório e Silano. O livro 50 anos depois, ao trazer duas situações similares em seus capítulos de número 01, nos permite uma reflexão mais profunda sobre o tema e o real significado da liberdade em nossos dias. Vejamos quais são elas, primeiramente, para em seguida buscarmos algumas reflexões e questionamentos. Primeiramente, no capítulo 01 da primeira parte, temos o primeiro encontro de Alba Lucínia com Nestório, que foi trazido como um presente, dado como uma mercadoria, eis que assim eram tratados os homens feito escravos, presente este para a família de Helvídio Lucius. Toda a família é surpreendida com a erudição de Nestório, e ele é anunciado como o que irá ensinar as filhas de Alba e Helvídio. Porém, logo após as apresentações Alba toma uma atitude que a todos surpreende. Vejamos um trecho: “E, tomando de minúscula varinha que descansava no bojo de um jarrão oriental, a um canto da sala, tocou levemente a fronte do escravo, obedecendo às cerimônias familiares, com as quais o senhor libertava os cativos na Roma Imperial, exclamando: - Nestório, nossa casa te declara livre para sempre!” Certamente um momento de grande emoção para Nestório que ficaria marcado na memória espiritual de Emmanuel (Nestório foi uma de suas vidas). A liberdade é como um tesouro para o qual caminhamos e cada passo em sua direção é sempre um momento marcante para os nossos espíritos imortais. No capítulo 01 da segunda parte temos a narrativa do retorno de Silano, acolhido como um filho por Cnéio Lucius. Ao chegar, alegando uma licença para visitar Cnéio, Silano faz-lhe o

requerimento de que usasse sua influência junto ao poder romano a fim de que o mesmo não precisasse retornar ao seu comandante que era tirano: “O rapaz explicou que não, que havia solicitado uma licença para rever o pai adotivo, de quem se sentia muito saudoso, acrescentando os seus propósitos de se fixar na Capital do Império, caso consentisse esclarecendo que o seu comandante nas Gálias, Júlio Saulo, era um homem grosseiro e cruel, que o submetia a constantes maus tratos, a pretexto de disciplina. Rogava ao pai que o protegesse junto das autoridades, impedindo-lhe o regresso.” Apesar de ser homem livre, diferente de Nestório que era escravo, Silano sofria maus tratos e precisou de auxilio para sair da situação em que se encontrava. A liberdade é um bem precioso e a história da humanidade é repleta de momentos, como estes narrados no livro 50 anos depois, em que o homem subjuga o próprio homem, esquecendose que todos somos irmãos, filhos de um mesmo Pai Criador. Alba reconheceu em Nestório um homem de valores e teve uma reação imediata de colocá-lo em liberdade. Qual a razão de Helvídio e o próprio Caio não terem pensado assim? Não obstante os muitos elogios que teciam ao escravo, afirmando ser um homem de singular inteligência e conhecimento, não estava em seus planos torná-lo livre. Pensemos, também, no chefe de Silano, homem de Estado conduzindo outros homens para a expansão do império romano. Ele precisava de seus soldados para realizar a sua tarefa, não obstante não os tinha como aliados, mas os subjugava, maltratava, impondo-lhes condições de medo e dor. Que sentimentos escondem os homens que agem assim, como tiranos e algozes dos que lhe são próximos? Que motivos levam as pessoas a se sentirem superiores e no direito de desmerecer a vida alheia? Até mesmo nos lares, alguns pais agem como senhores de seus filhos, infringindo-lhes castigos e maus tratos. Sondemos, em reflexão, que o orgulho impera e o egoísmo ordena, ainda, estes corações adoecidos. Temos o ensejo, dentro da doutrina espírita, de ampliarmos nosso olhar para reconhecermos que a subjugação ocorre também no âmbito espiritual, quando invigilantes permitimos a influência de espíritos que querem realizar o mal, muitas vezes através de nós mesmos. Recordemos um trecho do livro dos médiuns, cap XXIII: “A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob um verdadeiro jugo. A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é uma como fascinação. No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários.”

Deus, nosso Pai Celestial, nos criou para sermos livres. Permite, assim, que assumamos o curso de nossas vidas e nesta interação, neste caminhar evolutivo, cometemos desatinos como os narrados acima, esquecendo-nos de nossa natureza, de nossa essência. A liberdade, porém, precisa ser bem compreendida sob pena de trilharmos caminhos que se chocam com os caminhos alheios. Ao pensar apenas no seu bem estar o homem fez de seu irmão um serviçal, como aconteceu com Nestório e tantos outros. E ao entendermos isto, avançamos para um entendimento muito importante: apenas o amor incondicional nos torna livres. Precisamos olhar para o Cristo para entendermos a liberdade. Ele viveu entre nós, ensinando e amando, no entanto, fizemos dele prisioneiro, encarcerado, açoitado, crucificado, mas não conseguimos escravizá-lo em nenhum momento. Sua alma livre e luminosa permaneceu amando e perdoando, não obstante o que fazíamos com Ele. Ainda, como fonte de auxílio, recordemos da história de Lázaro, no capítulo 11 do Evangelho de João. Jesus estava se preparando para os momentos derradeiros de sua existência na Terra, a prisão estava próxima, porém, antes, vai a Lázaro e mostra a todos que está vivo. Para alguns um milagre, para outros tantos o retorno de um estado de catalepsia, porém, seja qual o estado em que Lázaro estava, o importante é lembrarmos que para os seus ele estava morto e Jesus o trouxe de volta a vida. E entender isto nos permite, também, entender a lição de hoje. No roteiro de luz do Evangelho encontramos o caminhar seguro para nosso espírito ainda prisioneiro das amarras do passado. Ao olharmos para Jesus buscando o aprendizado para nossas almas imortais encontraremos um espírito livre e que usou de sua liberdade para servir e amar. Não apenas os homens que são escravizados tem a sua liberdade tolida. Todos aqueles que se esquecem das leis divinas, que se afastam de sua essência, tornam-se escravos das paixões que ainda regem nosso mundo. Afinal, para onde estamos caminhando? Queremos a liberdade? Eis o Cristo a nos mostrar que só é livre quem aprender a amar e servir. Encerramos nossas reflexões com um texto de Emmanuel do livro Palavras da Vida Eterna, lição 75: - LIBERTEMOS “Disse-lhes Jesus: desatai-o e deixai-o ir.” (JOÃO, 11:44.) É importante pensar que Jesus não apenas arrancou Lázaro à sombra do túmulo. Trazendo-o, de volta, à vida, pede para que seja restituído à liberdade. “Desatai-o e deixai-o ir” – diz o Senhor. O companheiro redivivo deveria estar desalgemado para atender às próprias experiências.

Também nós temos, no mundo da própria alma, os que tombam na fossa da negação. Os que nos dilaceram os ideais, os que nos arrastam à desilusão, os que zombam de nossas esperanças e os que nos lançam em abandono assemelham-se a mortos na cripta de nossas agoniadas recordações. Lembrá-los é como reavivar velhas úlceras. Entretanto, para que nos desvencilhemos de semelhantes angústias, é imperioso retirá-los do coração e devolvê-los ao sol da existência.

Não basta, porém, esse gesto de libertação para nós. É imprescindível haja de nossa parte auxílio a eles, para que se desagrilhoem. Nem condená-los, nem azedar-lhes o sentimento, mas sim exonerá-los de todo compromisso, ajustando-os a si próprios. Aqueles que libertamos de qualquer obrigação para conosco, entregando-os à bondade de Deus, mais cedo regressam à luz da compreensão. Se alguém, assim, caiu na morte do mal, diante de ti, ajuda-o a refazer-se para o bem; entretanto, além disso, é preciso também desatá-lo de qualquer constrangimento e deixá-la ir.” Que possamos retornar a nossa essência divina para sermos finalmente livres, não para fazer e ter o que queremos, mas para amar e servir a todos que nos cercam. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 31. 01. 2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 2a

Não julgue o próximo pelo guarda-roupa ou pela máscara. A verdade, como o Reino de Deus, nunca surge com aparências exteriores. — André Luiz

Iniciamos a segunda etapa do estudo do livro 50 anos depois e dentre as muitas possibilidades de estudarmos um livro, buscamos a perspectiva do paralelismo. Quais os pontos em comum nos capítulos de mesmo número, primeira e segunda parte? Identificado o ponto em comum, o que o lapso temporal nos apresenta de novo? Nossos personagens aprenderam algo? Mudaram o rumo de suas vidas? Quais as causas? O que podemos aprender? Assim, identificando o caminho, vamos aprendendo e compartilhando nossas singelas impressões. Nos capítulo de número 02, primeira e segunda parte, verificamos alguns pontos de encontro, vejam: - Lólio Úrbico é descrito como um homem rico e próspero na primeira parte, já na segunda o foco está em seus vícios e na paixão por Alba; - Hatéria é chamada por Cláudia para trabalhar na casa de Alba como uma espiã, trassando plano ardiloso. Na segunda parte, capítulo 02, vemos o plano de Cláudia em prática e Hatéria como a executora das maldades planejadas. - Helvídio e a família retornam a Roma no capítulo 02 da primeira parte, e também no capítulo 02 da segunda parte ele retorna de uma temporada distante, a trabalho. - Célia conta de sua nova crença para seu avô e diz pressentir que sua vida seria de sacrifícios e lutas. No capítulo 02 da segunda parte sua premonição se concretiza. Sacrifica-se pela mãe e é expulsa de casa por seu pai. Enfim, estes são alguns pontos de ligação que encontramos entre os capítulos de número 02, primeira e segunda parte. E, olhando desta forma, são apenas fatos, porém, nosso intuito é

aprender com estes fatos, mais ainda, é buscar as suas lições evangélicas, a boa nova por trás dos exemplos que Emmanuel sabiamente escolheu nos contar. Um primeiro ponto que abordaremos e que nos tocou de forma singular é sobre Hatéria. Uma mulher simples, do povo, porém, de grande ambição, informada sobre a vida e os acontecimentos das pessoas, em especial de Cláudia e Helvídio. Emmanuel nos oferta uma síntese de sua personalidade: “mulher de aspecto humilde, com o artificialismo de suas maneiras aparentemente singelas.” E mais a frente: “A humildade e singeleza de Hatéria pareceram-lhe adoráveis. Suas maneiras revelavam extraordinária capacidade de submissão, desvelada e carinhosa. Túlia Cevina aceitou-a e, apiedada da sua situação, recolheu-a naquela mesma noite, acomodando-a entre as suas fâmulas.” Sabemos que logo após ser recebida por Túlia como serva, Hatéria conseguiu efetivar o plano inicial e habilmente infiltrou-se na casa de Alba e Helvídio, e também a estes conquistou em pouco tempo, tornando-se digna de inteira confiança. Já diz o dito popular que nem tudo o que reluz é ouro e cabe-nos aqui refletir um pouco sobre a questão das aparências e de como anda o nosso olhar. Quem nunca enganou-se quanto a uma pessoa que parecia-lhe confiável, dócil e de repente faz-nos algo totalmente contrário às impressões que tínhamos da pessoa? Pensemos que Alba e Helvídio eram pessoas instruídas e experimentadas, no entanto, são enganados habilmente por uma mulher rústica, do povo, sem instrução. Quando conhecemos alguém fazemos leituras sobre a pessoa, buscando identificar-lhe nos gestos, palavras, atitudes a sua personalidade. A questão é que ficamos adstritos a percepção dos sentidos, o que ouço, o que vejo, o que toco. Chega a hora de irmos além das aparências e realizarmos outras perguntas: o que sinto ao ver, ouvir esta pessoa? Que sentimentos suas ações provocam em mim e nos outros? E usemos a razão também: existe coerência entre o que a pessoa fala e como ela age? A ação dela se modifica diante de pessoas de níveis sociais diferentes? Para exemplificar bem o que acima dissemos, pensemos num presente lindamente embalado, com capricho, dobras perfeitas, laço alinhado, linda fita. Qual a impressão que nos causa? Em geral, acharemos tratar-se de um excelente presente, mas não raro nos decepcionamos ao abrir a caixa. Fazemos o mesmo com as pessoas, olhamo-as superficialmente e não adentramos em seu mundo interior para reconhecer o que realmente há e quem realmente são. Emmanuel, no livro Instrumentos do Tempo, faz interessante reflexão sobre o tema “aparências”, do qual grifamos o trecho: “Às vezes, a santificação permanece com aquele que se afigura pecador e a maldade se resguarda no imo de quem se oculta na máscara da pobreza e da angústia, no jogo das aparências.” Hatéria era hábil neste dito “jogo de aparências” e não raro, ainda hoje, nos defrontamos com pessoas que transitam nesta mesma vibração. Em verdade, quase todas as pessoas (e nos colocamos dentre elas) se utilizam de máscaras sociais em determinado momento de suas vidas, a grande questão é irmos além para identificarmos a essência.

Qual deve ser a nossa postura? O Cristo recomendou que não julgássemos a ninguém, eis que muito falhamos. Mas isto nunca significou consideremos que todo mundo é bom, honesto e digno. Certamente, cada ser carrega em si as virtudes que sua alma já foi capaz de adquirir e a elas devemos sempre nos reportar, porém, a verdade é necessária a fim de que amemos a pessoa tal qual ela é e não como gostaríamos que ela fosse. Há uma expressão muito oportuna ao que ora intentamos dizer: “amar de olhos abertos”. Isto significa que devemos buscar sempre a verdade, abstendo-nos de julgar. A benevolência não significa ignorar o erro, sabe-se que ele existe sem, porém, apontar a falta a quem a pratica sem o objetivo sincero de auxiliar, nunca para humilhar ou ferir.

Hatéria conseguia dissimular, e muitos ainda o fazem, porque nossas relações são superficiais e raramente nos envolvemos emocionalmente com aqueles que convivemos. Uma proximidade maior sempre irá revelar o caráter da pessoa, e isto não se dará através das palavras, mas principalmente nas atitudes ante as pequenas coisas do dia a dia. Para que sejamos capazes de identificarmos situações e pessoas precisamos aprender a ir além da impressão dos sentidos e não delimitar um ser humano em nossos pobres conceitos e impressões. A expressão “eu sei quem você é” é perigosa e geralmente equivocada e merece ser trocada pela expressão “quero te conhecer e aprender sobre você a cada dia”. Com este novo olhar, de quem está pronto a perceber a pessoa, abstemo-nos de julgar para usufruir de novas percepções. Aprender sobre o outro a cada vez que temos a oportunidade de estar em sua presença nos permite caminhar sempre em busca da verdade, que é muito maior do que nossa frágil e limitada percepção. Jesus, nosso Mestre, modelo e guia, foi hábil em conhecer as pessoas e identificar sua essência nos menores atos praticados. Continuando nosso caminhar com o Evangelho de João, a iluminar nossos estudos, verificamos no capítulo de número 12 a história da moça que lava os pés de Jesus, recordemos: “Então Maria, tendo tomado uma libra de um perfume de nardo puro, muito caro, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos; e a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo.” Esta história foi contada pelos quatro evangelistas, porém, existem discrepâncias significativas entre elas, como nos dizem os estudiosos, como J. A. Carson: “Embora haja alguns críticos que sustentem que apenas um evento está por trás dos quatro relatos, as discrepâncias entre os relatos de Lucas e o dos outros três são tão grandes que só uma imaginação sem limites pode oferecer motivo suficiente para explicar por que tantas diferenças teriam sido inventadas. Os paralelos entre João e

Mateus/Marcos são muito estreitos. Ambos localizam a unção em Betânia, embora Mateus/Marcos especifiquem a casa de Simão, o leproso, enquanto que João não diz a quem ela pertencia. Em ambos, o ungüento é nardo puro; em ambos a reação dos espectadores é que o perfume deveria ter sido vendido, e o dinheiro dado aos pobres. Mateus especifica que essa foi a reação dos discípulos; João menciona um discípulo em particular, Judas Iscariotes. Ambos mencionam a soma de trezentos denários como o valor do perfume (Marcos diz ‘mais de’ trezentos denários).”

O fato é único, porém, dele decorrem 04 histórias distintas. E, certamente, se ouvíssemos os fariseus, os discípulos, os familiares de Marta e Maria, os amigos, teríamos outras tantas versões. A questão é que temos e oportunidade de escolher olhar para o Mestre e sua atitude é única, não difere. Ele recebe o gesto de carinho, não obstante alguns discípulos acharem que o dinheiro da venda do perfume serviria para outros fins, não obstante os fariseus acharem que a mulher de cabelo soltos era motivo de escândalo, não obstante a nossa turva visão. Jesus olhou para Maria, sentiu-lhe a vibração afetiva, as lágrimas, o gesto e permitiu-lhe estar com ele e demonstrar que o amava. Nos ensina a ir além das aparências e das idéias preconcebidas, ensinou-nos a buscarmos um novo olhar. O que Hatéria e Maria tem em comum? Elas nos chamam a refletir sobre a nossa forma de olhar o mundo e as pessoas que nos cercam. Buscando o olhar de aprendiz, o olhar de quem quer amar acima de tudo, encontraremos no exemplo de Jesus o guia seguro para pautar e conduzir nosso viver. Encerramos nosso estudo com um texto de Emmanuel, do livro Justiça Divina, intitulado Doenças da Alma: “Na forja moral da luta em que temperas o caráter e purificas o sentimento, é possível acredites estejas sempre no trato de pessoas normais, simplesmente porque se mostrem com a ficha de sanidade física. Entretanto, é preciso pensar que as moléstias do espírito também se contam. O companheiro que te fala, aparentemente tranquilo, talvez guarde no peito a lâmina esbraseada de terrível desilusão. A irmã que te recebe, sorrindo, provavelmente carrega o coração ensopado de lágrimas. Surpreendeste amigos de olhos calmos e frases doces, dando-te a impressão de controle perfeito, que soubeste, mais tarde, estarem caminhando na direção da loucura. Enxergaste outros, promovendo festas e estadeando poder, a escorregarem, logo após, no engodo da delinquência. É que as enfermidades do espírito atormentam as forças da criatura, em processos de corrosão inacessíveis à diagnose terrestre. Aqui, o egoísmo sombreia a visão; ali, o ódio empeçonha o cérebro; acolá, o desespero mentaliza fantasmas; adiante, o ciúme converte a palavra em látego de morte…

Não observes os semelhantes pelo caleidoscópio das aparências. É necessário reconhecer que todos nós, Espíritos encarnados e desencarnados em serviço na Terra, ante o volume dos débitos que contraímos nas existências passadas, somos doentes em laboriosa restauração. O mundo não é apenas a escola, mas também o hospital em que sanamos desequilíbrios recidivantes, nas reencarnações regenerativas, através do sofrimento e do suor, a funcionarem por medicação compulsória. Deixa, assim, que a compaixão retifique em ti próprio os velhos males que toleras nos outros. Se alguém te fere ou desgosta, debita-lhe o gesto menos feliz à conta da moléstia obscura de que ainda se faz portador. Se cada pessoa ofendida pudesse ouvir a voz inarticulada do Céu, no instante em que se vê golpeada, escutaria, de pronto, o apelo da Misericórdia Divina: “Compadece-te!” Todos somos enfermos pedindo alta. Compadeçamo-nos uns dos outros, a fim de que saibamos auxiliar. E mesmo que te vejas na obrigação de corrigir alguém — pelas reações dolorosas das doenças da alma que ainda trazemos —, compadece-te mil vezes antes de examinar uma só.”

Que Jesus nos auxilie para que tenhamos a postura de aprendizes que se colocam aos pés do Mestre, com humildade. Que a compaixão possa ser recorrente em nossos corações. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 07.02.2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 2b

“Suponhamos um homem colocado no cume de uma alta montanha, a observar a vasta extensão da planície em derredor. Nessa situação, o espaço de uma légua pouca coisa será para ele, que poderá facilmente apanhar, de um golpe de vista, todos os acidentes do terreno, de um extremo a outro da estrada que lhe esteja diante dos olhos. O viajor, que pela primeira vez percorra essa estrada, sabe que, caminhando, chegará ao fim dela. Constitui isso uma simples previsão da conseqüência que terá a sua marcha. Entretanto, os acidentes do terreno, as subidas e descidas, os cursos dágua que terá de transpor, os bosques que haja de atravessar, os precipícios em que poderá cair, as casas hospitaleiras onde lhe será possível repousar, os ladrões que o espreitem para roubá-lo, tudo isso independe da sua pessoa; é para ele o desconhecido, o futuro, porque a sua vista não vai além da pequena área que o cerca. Quanto à duração, mede-a pelo tempo que gasta em perlustrar o caminho. Tirai-lhe os pontos de referência e a duração desaparecerá. Para o homem que está em cima da montanha e que o acompanha com o olhar, tudo aquilo está presente. Suponhamos que esse homem desce do seu ponto de observação e, indo ao encontro do viajante, lhe diz: “Em tal momento, encontrarás tal coisa, serás atacado e socorrido.” Estará predizendo o futuro, mas, futuro para o viajante, não para ele, autor da previsão, pois que, para ele, esse futuro é presente.” A Gênese – Cap. XVI – Kardec

Continuando nossos estudos do livro 50 anos depois em busca de lições evangélicas para nosso espírito, iremos, nesta etapa, sondar um pensamento que Célia expõe no capítulo de número 02 da primeira parte e que se concretizará no capítulo de número 02 da segunda parte. Vamos a ele: “Desde a infância, tenho sido triste e amiga da meditação, como se a misericórdia de Jesus estivesse a preparar-me, em todos os ensejos, para não faltar aos meus deveres espirituais no instante oportuno. E, fixando no ancião o olhar percuciente e calmo, prosseguiu: - Sinto pesar-

me no coração muitos séculos de angústia... Devo ser um Espírito muito culpado, que vem a este mundo de maneira a remir-se de passados tenebrosos! Desde a Palestina, minhas noites estão povoadas de sonhos estranhos e comovedores, nos quais ouço vozes carinhosas que me exortam à submissão e ao sacrifício.” Em sua tenra idade, Célia já era capaz de observar seus sentimentos, sua postura de vida e além disto, sentia que o futuro lhe traria duras provas. Sabemos que Célia muito sofreu em sua jornada e é justamente no capítulo 02 da segunda parte que encontraremos a grande guinada em sua vida, sacrificando-se pelo bem estar da mãe, assume a maternidade, que segundo as aparências criadas por Hatéria, seria de sua mãe. Célia é expulsa de casa, num tempo em que a mulher só saía da guarda dos pais para o casamento. Seus sentimentos, de que viera ao mundo para grandes provas, fizeram-se verdadeiros. Eis um trecho de sua derradeira conversa com o pai Helvídio: “- Poupo-te a vida, mas, doravante estás definitivamente morta para a nossa desdita imensurável, porque tua indignidade não te permite viver mais um minuto sob o teto paterno! És maldita para sempre!.. Foge para qualquer parte, sem te lembrares de teus pais ou do teu nascimento, porque Roma assistirá ao teu funeral em breves dias ! Serás estranha ao nosso afeto !.. Não nos recordes, nunca, nem busques o passado, pois eu poderia exterminar-te nos meus impulsos!.. Célia continuava na sua atitude humilde, de joelhos, mas aos seus ouvidos ressoavam as palavras decisivas do pai orgulhoso e ofendido no seu amor-próprio. - Vai-te, foge, maldita! Ergueu-se ela, então, cambaleante, endereçando à mãe um derradeiro olhar, no qual parecia concentrar toda a sua crença e toda a sua esperança...” Ao encontrarmos este ponto de encontro entre os dois capítulos tivemos o ensejo de iniciar questionamentos e pesquisas sobre a questão da presciência. Alguns espíritos percebem de forma clara o seu caminhar enquanto encarnados, outros tantos, porém, vagam andando conforme os vários ventos. Conhecer a vida e os sentimentos de Célia nos remetem a que sondemos também o nosso viver e como anda nosso caminhar. Ainda neste intuito reflexivo, fomos buscar as luzes do Evangelho, assim, aguardemos um pouco quanto ao livro e nos lancemos ao Evangelho de João, capítulo 12, versículos 24 a 28: “Em verdade, em verdade, vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto. 25Quem ama sua vida a perde e quem odeia a sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna. 26Se alguém quer servir-me, sigame; e onde estou eu, aí também estará o meu servo Se alguém me serve, meu Pai o honrará. 27Minha alma está agora conturbada. Que direi? Pai, salva-me desta hora? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. 28Pai, glorifica o teu nome". Veio, então, uma voz do céu: "Eu o glorifiquei e o glorificarei novamente!" Jesus comemorava sua última páscoa entre os homens, preparava-se para o fim e tentava advertir seus discípulos para o que viria. Sabia que morreria, tal qual o texto com o qual iniciamos o texto, seu espírito elevava-se a pairagens mais altas e sabia dos perigos do caminho e

das intenções dos que lhe cercavam. Conhecia a sua missão entre nós e nossa incapacidade de entendê-la. Amava e demonstrava este amor de uma forma tão inusitada que até mesmo senti-lo era difícil para muitos (recordemos do próprio Públio Lentulus – Há 2000 anos). Certamente um ponto de encontro entre o livro 50 anos depois e o Evangelho: a capacidade de antecipar o que virá. Célia o sabia e Jesus mais ainda. Este é o fato e nos atermos apenas a ele é empobrecer nossa alma que já tem condições de ir além. Do fato, então, é necessário que decorram perguntas e neste ponto nos sabemos, ainda, encarecidos da misericórdia divina a nos iluminar, eis que muito singela a nossa capacidade de reflexão. Não obstante o reconhecermos sem falsa modéstia, saber-se pequeno é também oportunidade para querer crescer, pelo que nos aventuramos em estudar e aprender. Perguntamos, então: Qual o propósito divino de tais revelações? Nós podemos verificar o nosso futuro? Como diferenciar intuição de desânimo e desesperança? Retornemos a Célia e a Jesus para refletir um pouco sobre estas questões. Quando Célia revela-se triste e amiga da meditação também faz consideração importante nos dando a dica de qual o propósito divino para que tivesse o sentimento de que passaria por duras provas: “misericórdia de Jesus estivesse a preparar-me, em todos os ensejos, para não faltar aos meus deveres espirituais”. Assim como Jesus preparava seus discípulos para sua partida do mundo físico, permaneceu entre nós, como Mestre Divino, nos preparando para as provas que o espírito necessita passar. Célia chamou estas provas de deveres espirituais. Qual o meu dever espiritual? Reconhecemos nas provas diárias, nos desafios cotidianos a oportunidade de melhoria e de cumprimento de dever? Os obstáculos vividos estão santificados pela nossa conduta cristã ou são rejeitados em sentimentos de auto-piedade? Temos compromissos assumidos para esta encarnação e cada momento de dor e luta é sempre uma preparação para algo que virá e nos provará. Célia sentia-se amparada por forças superiores e apta a atravessar os caminhos de provas e expiações que este planeta iria lhe apresentar. E nós outros? Quais as provas a que fomos preparados a atravessar? Delas temos consciência ou atravessamos a vida buscando apenas nossa satisfação pessoal? Seguindo adiante em nosso caminho de reflexões, há um ponto muito importante que necessitamos abordar ao entrarmos neste assunto e o faremos através das palavras de Emmanuel, no livro Encontro Marcado, quando trata das predições do futuro: “ Especialmente no que se reporte a profecias inquietantes, é imperioso ouvi-los com reserva e discrição, porquanto estamos informados pela Doutrina Espírita de que não existe a predestinação para o mal. Renascemos na Terra, indubitavelmente, com as nossas tendências

inferiores e com os nossos débitos, às vezes escabrosos, por ressarcir, mas isso não significa estejamos obrigados a reincidir em velhas ilusões ou reacomodar-nos com a força das trevas.” Eis, então, um ponto a que somos chamados para refletir: necessitamos diferenciar o que nos é dito ou revelado do futuro para nos preparar daquilo que nos é revelado e, não obstante possa ser verdadeiro, em nada contribui para o nosso avanço e melhoria. A clarividência é um dom e sendo um dom pode ser usado de forma boa ou ruim, como todas as nossas outras aptidões. Muitos procuram médiuns para consultas quanto ao seu futuro e isto muitas vezes poderá ser útil se soubermos sondar com antecedência o que nos motiva a procurar tais informações. O próprio Emmanuel, continuando o texto supracitado (Encontro Marcado) nos adverte quanto a esta questão: “Clarividentes que desenvolveram faculdades psíquicas, fora do esclarecimento espírita evangélico, podem recolher observações infelizes a nosso respeito, seja relacionando cenas de nosso passado culposo ou descrevendo quadros menos dignos, projetados mentalmente sobre nós pelas ideias enfermiças daqueles que se fizeram nossos inimigos em outras eras; e das palavras que articulam podem surgir sombrios vaticínios ou apontamentos desencorajadores, tendentes a enfraquecer-nos a coragem ou aniquilar-nos a esperança. Oponhamos, porém, a isso a certeza de que estamos reformando causas e efeitos diariamente, em nosso caminho, na convicção de que a Divina Providência nos oferece, incessantemente, através da reencarnação, oportunidades e possibilidades ao próprio reajuste perante as leis da vida, armando-nos de recursos e bênçãos, dentro e fora de nós.” E para lançarmos luz sobre estas palavras de Emmanuel, retornemos ao Evangelho de Jesus e ouçamos novamente as palavras do Mestre: “Minha alma está agora conturbada. Que direi? Pai, salva-me desta hora? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. 28Pai, glorifica o teu nome". Não estamos aqui, encarnados, a passeio. Há um propósito para nossa vinda, neste tempo, com as pessoas que nos acompanham, com as dificuldades que nos permeiam e as muitas que ainda virão. Jesus sabia, como nenhum outro espírito que veio a este mundo, da sua missão e dos propósitos divinos para a sua vida. Deu um testemunho de conduta e principalmente de humanidade, tornando-se nossa luz, eis que atravessamos ainda as sombras da ignorância. Célia seguiu-lhe os passos, sabia sondar seus sentimentos, suas tendências e buscou a luz de Jesus para guiar-lhe os passos. Como anda meu caminhar? Eis o grande questionamento que este estudo nos traz. Se não sabemos para onde ir, qualquer direção nos será válida.

Os momentos difíceis raramente serão aproveitados para crescimento interior se nos mantivermos na postura de quem veio a este mundo para buscar a felicidade plena esquecendo-se do trabalho e do sacrifício. Se temos conhecimento de vidas passadas, que elas nos sejam a oportunidade de construirmos um novo viver, pautado no amor e na esperança. Célia deixou-se conduzir por este amor infinito e hoje reside em mundos felizes e plenos. Soube aproveitar as lições desta rica escola na qual estamos hoje lotados. Saibamos nós também aproveitar a oportunidade que Deus nos oferece sob e tutela do seu Cristo, nosso Mestre Jesus. Encerramos este estudo com um comentário de Emmanuel ao texto do Evangelho de João que citamos acima, livro Vinha de Luz. Crises “Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora.” - Jesus. (João. 12:27.) A lição de Jesus, neste passo do Evangelho, é das mais expressivas. Ia o Mestre provar o abandono dos entes amados, a ingratidão de beneficiários da véspera, a ironia da multidão, o apodo na via pública, o suplício e a cruz, mas sabia que ali se encontrava para isto, consoante os desígnios do Eterno. Pede a proteção do Pai e submete-se na condição do filho fiel. Examina a gravidade da hora em curso, todavia, reconhece a necessidade do testemunho. E todas as vidas na Terra experimentarão os mesmos trâmites na escala infinita das experiências necessárias. Todos os seres e coisas se preparam, considerando as crises que virão. É a crise que decide o futuro. A terra aguarda a charrua. O minério será remetido ao cadinho. A árvore sofrerá a poda. O verme será submetido à luz solar. A ave defrontará com a tormenta. A ovelha esperará a tosquia. O homem será conduzido à luta. O cristão conhecerá testemunhos sucessivos.

É por isso que vemos, no serviço divino do Mestre, a crise da cruz que se fez acompanhar pela bênção eterna da Ressurreição. Quando pois te encontrares em luta imensa, recorda que o Senhor te conduziu a semelhante posição de sacrifício, considerando a probabilidade de tua exaltação, e não te esqueças de que toda crise é fonte sublime de espírito renovador para os que sabem ter esperança.

Que as luzes do Cristo iluminem nosso caminhar. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 14.02.2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 2c

“O perfume da amizade santa é a claridade dos caminhos.” — Emmanuel

O capítulo 02 da primeira parte possui um trecho de profunda relevância, que deu ensejo inclusive ao título do capítulo, Um Anjo e um Filósofo. Um relacionamento de impressionante sintonia, almas que se amavam e se compreendiam. Se a leitura nos impressiona e emociona, o convite que fazemos através deste estudo é de reflexão e meditação sobre estes dois seres, sua conversa, sua amizade. Nosso intuito é observar, e ao observar, aprender, e ao aprender, nutrir-se deste amor que transcende a obra e o tempo. A posição de quem observa parece, muitas vezes algo confortável e inodoro, mas qualquer aprofundamento nesta obra, pela sua grandeza espiritual, é um mergulho profundo dentro de si mesmo. Célia e sua trajetória de renúncia e amor falam de sentimentos que guardamos muitas vezes escondidos de nós mesmos. E é importante estarmos atentos para estes movimentos do coração, eles nos falam das profundezas de nossa alma. Caminhemos, então com Célia e Cnéio Lucius, quando passam um dia juntos, Célia tornara-se cristã e seu pai havia incumbido o avó, Cnéio Lucius, a fazê-la recobrar a razão, para tanto visitaram os lugares de adoração dos deuses romanos, prestando-lhes as homenagens. Antes de vermos o comportamento de Célia, pensemos nós, como estaríamos em situação semelhante? Convidados a participar de rituais que não fazem parte mais de nossas crenças, qual seria a nossa postura? Manifestaríamos a nossa opinião e a nossa crença?

Vamos ao livro: “A jovem não lhe contradisse as palavras nem interrompeu a carinhosa preleção, submetendose à maior obediência no que se referia à ritualística dos templos, conforme os regulamentos instituídos em Roma pelos padres flamíneos.” Eis os verbos: não contradisse, não interrompeu, submeteu-se, obedeceu. Célia, antes de dizer-se cristão, apenas o foi, lembrando-se de ser caridosa com o pensamento alheio, esperou o momento oportuno para manifestar-se quanto as suas crenças, sem jamais querer impô-las a quem quer que fosse. Maravilhosa lição! E este é apenas o começo deste encontro entre duas almas magníficas. O avô era atento ao comportamento da neta e observou-lhe o comportamento, sem acusações, reprimendas ou discurso moral. Dirigiu-lhe apenas uma pergunta. Novamente, antes de irmos ao texto, pensemos nós, o que faríamos? Se um filho amado de nossa alma, recusa-se a praticar a fé que nós professamos, perguntamos a ele o que vai em seu coração? Ou nos dedicamos a convencer-lhe de que estamos certos? Vejamos como o bom Cnéio agiu: “Notei que acompanhavas os meus gestos e, todavia, não demonstravas devoção sincera e ardente. Acaso, trouxeste da Província alguma idéia nova, contrária às nossas crenças?!” Há no amor um respeito inerente, que busca no outro os seus verdadeiros sentimentos de forma cuidadosa e sincera, tal qual um ágil jardineiro que colhe a rosa, sabendo-a cheia de espinhos. Não obstante o risco de ferir-se, preocupa-se mais com a frágil e delicada rosa do que com sua própria mão. E vejam a delicadeza da resposta de Célia: “- Querido avô - respondeu de olhos úmidos, nos quais transparecia sublimada inocência -, eu sempre vos amei de toda a minhalma e vós me ensinastes a dizer toda a verdade, em quaisquer circunstâncias.” Perfumes de um coração amoroso. Respeito ao avô, um exemplo sublime de uma alma cumprindo um mandamento deveras antigo: honra teu pai e tua mãe. Célia respeitava as tradições da família e não necessitava ferir-lhes a alma em nome de entoar a verdade. Eis a vida de um anjo nos ensinando que o verbo deve ser luz. Sigamos em frente, vendo que o texto também nos oferece um contra-exemplo, a postura de Helvídio Lucius, ainda austera: “- Sim - continuou a jovem -, talvez meu pai não me pudesse compreender inteiramente... Ele jamais poderia ouvir-me satisfatoriamente, sem um protesto enérgico de sua alma; entretanto, eu continuaria a amá-lo sempre, ainda que o seu coração não me entendesse.” Helvídio não podia compreender Célia, ela bem o sabia, não obstante, ela afirmou que continuaria a amá-lo sempre.

Francisco de Assis orou ao Mestre rogando-lhe que amasse a ser amado, compreendesse a ser compreendido...eis Célia nos exemplificando o amor que nada espera em troca, fiel e obediente, permanece mesmo que contrariado. Em geral, nós outros, amamos a quem nos compreende e mais ainda, a quem pensa como nós. Mas será este o amor que irá transformar o mundo? Será que não estamos como Helvídio, prontos a realizar um protesto enérgico? Temos o entendimento, é chegada a hora de escolher. Célia diz ao seu avô: “a verdade para ser totalmente compreendida precisa ser tratada entre corações da mesma idade espiritual.” Eis o que devemos aprender para saber o que devemos esperar dos que nos cercam e de quem amamos. Nem sempre seremos compreendidos, mas sempre poderemos amar. E ela aprofunda a frase, explicando-lhe o significado de “corações da mesma idade espiritual”: “Que a mocidade e a velhice, quais as vemos no mundo, não podem significar senão expressões de uma vida física que finda com a morte. Não há moços nem velhos e sim almas jovens no raciocínio ou profundamente enriquecidas no campo das experiências humanas.” Viveríamos de forma tão melhor se soubéssemos aproveitar estas palavras. Passamos a vida requerendo das pessoas atitudes e pensamentos que ainda não são capazes de produzir, mas que a seu tempo produzirão. Assim como nós outros, caminhamos carecendo de compreensão e entendimento daqueles que já se adiantaram nos caminhos espirituais elevados. Transitamos entre estes dois mundos, o dos que já compreendem e dos que necessitam ser compreendidos. Célia declara-se cristã e, ante a surpresa do avô, que sua nova fé precisa ser melhor compreendida: “Se tivésseis o conhecimento integral da sua doutrina, se ouvísseis diretamente aqueles que se saturaram da sua fé, teríeis enriquecido ainda mais o tesouro de bondade e compreensão do vosso espírito.” A resposta de Cnéio é digna de nota e reflexão, eis que demonstra um espírito que observa os frutos para julgar a árvore. Vejam sua afirmativa: “Mas não se compreende uma idéia tão pura, a encaminhar seus adeptos para a condenação e para o martírio, há quase um século.” Certamente se mantivermos o olhar em apenas um século, em apenas uma existência, a doutrina do Cristo é loucura, eis que o sofrer é incompreensível. Como conceber um Deus justo e bom quando uma alma doce e pura como Célia carrega fardos tão pesados? Como conceber um Deus amoroso quando um ser não encontra o afeto e a compreensão naqueles que lhe são mais caros para a alma? Certo é que os deuses foram esquecidos, mas o Cristo renova-se a cada século, atravessa os anos, os milênios e traz luz nos falando de nossa imortalidade, das diversas vidas e experiências, das oportunidades redentoras do caminho e do amor do Pai Celestial que nos conduz a cada passo, a cada instante. E ao ouvirmos Célia argumentando com seu avô, temos a rica oportunidade de avançarmos em nosso entendimento sobre o caráter consolador da boa nova que o Cristo traz a humanidade: “Onde estão os nossos deuses de marfim, que não nos salvam da decadência e da

ruína?! Onde Júpiter que não vem ao cenário do mundo para restabelecer o equilíbrio da maravilhosa balança da justiça divina?! Poderemos aceitar um deus frio, impassível, que se compraz em endossar todas as torpezas dos poderosos contra os mais pobres e os mais desgraçados? Será a Providência do Céu igual à de César, para cujo poder o mais dileto é aquele que lhe traz as mais ricas oferendas? Entretanto, Jesus de Nazaré trouxe ao mundo uma nova esperança. Aos orgulhosos advertiu que todas as vaidades da Terra ficam abandonadas no pórtico de sombras do sepulcro; aos poderosos deu as lições de renúncia aos bens transitórios do mundo, ensinando que as mais belas aquisições são as que se constituem das virtudes morais, imperecíveis valores do Céu; exemplificou, em todos os seus atos de luz indispensáveis à nossa edificação espiritual para Deus Todo-Poderoso, Pai de misericórdia infinita, em nome de quem nos trouxe a sua doutrina de amor, com a palavra de vida e redenção .” A conversa de Célia e Cnéio Lucius prossegue, num tom amoroso, de almas que buscam compreender-se, adentram em momentos ainda mais íntimos, quando Célia lhe relata sobre seu amor por Ciro. Ficamos nós, a degustar o diálogo até este momento, reparando não apenas nas palavras mas nos gestos cuidadosos de ambos os lados. Exemplos de amor e de almas profundamente interligadas pelos séculos, pela vida e por que não dizer, pela eternidade. Esta conversa tornou-se um marco na vida de Cnéio Lucius, que meditou, refletiu e encontrou na doutrina cristã respostas que sua alma ansiava e o consolo que o seu coração pedia. Sua alma permanece irmanada a de Célia, e veremos que muitas e muitas vezes ele vem em espírito para lhe dar palavras de encorajamento. O amor entrelaça nossas vidas, porém, há quem ande no mundo achando-se só, desventurado, sem afetos ou alguém que o ame e ampare. Há um espírito que vela por nós desde o início dos tempos e que permitiu que os laços do amor que tem por nós atravessassem o tempo, criando laços imorredouros. Fez-se homem para aproximar-se, mostrar-se, mas sobretudo, para mostrar a cada um de nós que somos amados, profundamente amados. Muitos afirmar que não o sentem, mas lhes digo, que para sentir o seu amor é preciso que nos aventuremos a andar por sua estrada de luz, permitindo que a esperança no guie, que a fé nos conduza. Célia perdeu tudo, família, amigos e a própria identidade, não obstante muito padecer, sabia-se e sentia-se profundamente amada. Eis a hora, sintamos nós também este sublime amor que nos cerca, envolve e convida. Para encerrar nosso estudo, buscamos mais uma vez as luzes do Evangelho de João, capítulo 12. Um pequeno versículo comentado por Emmanuel que nos amplia o olhar e o entendimento. Tempo de hoje “Andai enquanto tendes luz” Jesus (João, 12:35)

“Chamado a prestar contas do seu mandato terreno, o Espírito se apercebe da continuidade da tarefa interrompida, mas sempre do retomada. Ele vê, sente que apanhou de passagem, o pensamento dos que o precederam. Entra de novo na liça, amadurecido pela experiência, para avançar mais.” (Cap. 20, Item 3) (Assim ocorreu com Cnéio Lucius que adentrou em nova vida ao tornar-se cristão, trilhando o caminho de vida e redenção.) “Hoje é o tema fundamental nas proposições do tempo. Ontem, retaguarda. Amanhã, porvir. Hoje, no entanto, é a oportunidade adequada a corrigir falhas havidas e executar o serviço à frente... Dia de começar experiências que nos melhorem ou reajustem; de consultar essa ou aquela página edificante que nos iluminem a rota; de escrever a mensagem ao coração amigo que nos aguarda a palavra a fim de reconfortar-se ou assumir uma decisão; de promover o encontro que nos valorize as esperanças; de estender as mãos aos que se nos fizeram adversários ou de orar por eles se a consciência não nos permite ainda a reaproximação!... Quantas mágoas se converteram em crimes por não havermos dado um minuto de amor para extinguir o braseiro do ódio Quantos pequeninos ressentimentos se transfiguraram em separações seculares, nos domínios da reencarnação por não termos tido coragem de exercer a humildade por meia hora! Analisa a planta que se elevou nos poucos dias em que estiveste ausente, reflete no prato que se corrompeu durante os momentos breves em que te distanciaste da mesa! Tudo se transforma no tempo. No trecho de instantes, deslocam-se mundos, proliferam micróbios. O tempo, como a luz solar, é concedido a nós todos em parcelas iguais; as obras é que diferem, dentro dele por partirem de nós. Observa o tempo que se chama hoje. Relaciona os recursos de que dispões: olhos que vêem, ouvidos que escutam, verbo claro, braços e pernas úteis sob controle do cérebro livre!... Ninguém te impede fazer do tempo consolação e tranqüilidade, exemplo digno e conhecimento superior. O próprio Jesus atribuía tamanha importância ao tempo que não se esqueceu de glorificar a última hora dos seareiros da verdade que se decidem a trabalhar. Aproveita o dia corrente e faze algo melhor. Hoje consegues agir e pensar, comandar e seguir, sem obstáculos. Vale-te, assim, do momento que passa e toma a iniciativa do bem, porque o tempo é concessão do Senhor e amanhã a bondade do Senhor poderá modificar-te o caminho ou renovar-te os programas.”

Recordemos o ensejo de servir e amar, hoje ainda, assim, trilharemos o caminho de luz que Jesus nos deixou, o caminho que Célia exemplificou e, também, o caminho de Cnéio Lucius adentrou, pelo coração amada de sua neta. Que Jesus os envolva em sua doce paz. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 21.02.2016.

Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 3a

“Os discípulos do Cristo são chamados “viajores”, “peregrinos”, “caminheiros”. Mas há viandantes e estiadas de todos os matizes, O mal tem, igualmente, os seus caminhos, Não seria mais justo chamarmo-nos — cristãos — uns aos outros? Este título nos recordará a presença do Mestre, nos dará energia em seu nome e caracterizará, de modo perfeito, as nossas atividades em concordância com os seus ensinos.” Lucas no livro Paulo e Estevão

Iniciamos a terceira etapa de nossos estudos, onde abordaremos um ponto que é citado no capítulo 03 da primeira parte e novamente no capítulo 03 da segunda parte, pincelando fatos que atravessam o tempo, permitindo-nos a reflexão, a comparação e, principalmente, a utilizarmos os fatos de outrora para aprendermos hoje. O capítulo 03 da primeira parte inicia nos falando de Nestório e de seu trabalho junto à família de Helvídio Lucius. Era cristão, porém, ao contrário do que acontece nos dias atuais em que todos podem declarar-se livremente, ao menos no Brasil e na maioria dos países, nos tempos de Nestório ser cristão era algo arriscado, que poderia significar prisão, açoites, perda de bens e provável morte. Assim, não obstante as dificuldades, a abençoada doutrina do Cristo, por seu caráter profundamente consolador, ia expandindo-se de porta em porta, de coração em coração. E eles eram cuidadosos em se identificar. Emmanuel nos fala como era esta identificação, no capítulo 03 da primeira parte:

“Os adeptos de Jesus apenas se reconheciam, entre si, na cidade, por um vago sinal da cruz, que os identificava fraternalmente onde quer que se encontrassem.” Avancemos um pouco até o capítulo 03 da segunda parte e encontraremos nova referência a esta identificação dos cristãos, agora através de Célia, que caminhava pelo mundo desamparada, com um menino em seu colo: “Nesse comenos, experimentando a secreta confiança que lhe inspirava aquela mulher simples, traçou com a destra, na poeira do solo, um pequeno sinal da cruz, mediante o qual todos os cristãos da cidade se reconheciam. Ambas trocaram, então, um olhar expressivo de simpatia, enquanto a desconhecida se aproximava, exclamando bondosamente: - És cristã? - Sim - sussurrou Célia em surdina.” Este é o fato - o ponto de ligação entre os capítulos – os primeiros cristãos identificam-se de forma cuidadosa, através do sinal da cruz. Percebiam-se através da conduta, do olhar, da fraternidade, e sentindo-se seguros, demonstravam sua fé. Decorridos 2000 anos, cabe a nós outros, cristãos destes tempos, perguntar: como nos identificamos? Como percebemos que alguém é cristão? Qual o sinal? Sentimo-nos em segurança quando na presença de um irmão de fé? Olhemos um pouco ao nosso redor e perceberemos que os católicos ainda guardam o belo costume de relembrar a cruz e, não raro, a tem em correntes ornadas no pescoço, em terços de oração, em suas casas. Pensemos em nossos irmãos evangélicos e rapidamente veremos a figura de uma pessoa carregando uma bíblia em seus braços. Mas isto bastará para identificar-lhes a disposição de seguir o Cristo? E aos espíritas? O que lhes identifica como seguidores do Cristo? Ser cristão, como Lucas disse aos seus irmãos de fé, significa caminhar em concordância com os ensinamentos do Cristo. Isto independe de credo religioso. Reconheceremos, assim, um cristão pela sua conduta, pela sua vida. Pensemos, ainda, no singular, olhando para nós mesmos: o que nos identifica como cristãos? É certo que não era apenas o sinal da cruz sendo realizado que identificava os primeiros cristãos, havia algo em sua conduta que inspirava no outro a confiança de se expor, arriscando, como acima dissemos, a própria segurança e a própria vida. Frei Pedro de Alcântara, através da psicografia de Chico Xavier nos fala sobre o assunto: “Antes era preciso lutar por Jesus nos circos e nos cárceres, afrontando a renunciação e a morte. Agora é indispensável combater pelo Cristo, em nós mesmos, vencendo o egoísmo e a ignorância. Antes era necessário crer. Agora é imprescindível edificar.”

Observemos um pouco o mundo ao nosso redor e identificaremos que dizer-se cristão tornou-se coisa banal, muitos o dizem, mas quantos o são? Pergunta mais importante: eu, minha conduta, minha vida, dão-me o direito de dizer-me cristão? Ainda ontem, com grande tristeza no coração, conversei com um senhor já em idade avançada que me dizia estar saudoso de frequentar o centro espírita de nosso bairro. Perguntando-lhe os motivos de seu afastamento, disse-me que havia ficado muito decepcionado com a conduta de um dirigente e que não conseguia mais ir a casa. É certo que todos falhamos, e que devemos buscar no perdão a única possibilidade de convivermos uns com os outros. Não obstante, é muito triste quando verificamos que a nossa conduta ou a de outrem serve de tropeço a um irmão. Afinal, estamos sendo observados e somos responsáveis por todos aqueles que buscam uma luz e um amparo em nosso viver. Não se trata de sermos perfeitos, certamente não o somos, mas de termos uma conduta adequada. Refleti algum tempo sobre esta questão, recordando da frase de André Luiz, no livro Mensageiros, em conversa com Tobias que lhe explica: “Não preparamos, pois, neste Centro, simples postalistas, mas espíritos que se transformem em cartas vivas de Jesus para a Humanidade encarnada.” Cartas vivas!!! Desde a primeira vez que li esta frase ela ficou gravada em meu coração. Que alegria um dia ser uma carta viva do Evangelho, certo que ainda não o sou, mas desde muito tempo almejo e luto por isto. Precisamos saber quem somos e por quê o somos! Ser cristão é uma missão divina confiada aos corações que desejam adentrar em seu reino de amor e paz. Mas longe de ser uma bandeira a ser erguida, é um luta a ser travada dentro de si mesmo, corrigindo-se, melhorando-se, sendo reconhecido como uma pessoa de bem. Já dizia Confúcio: “A palavra convence, o exemplo arrasta.” Emmanuel nos fala sobre ser cristão, no livro Vinha de Luz: “O cristão não surgiu na Terra para circunscrever-se à casinhola da personalidade; apareceu, com o Mestre da Cruz, para transformar vidas e aperfeiçoá-las com a própria existência que, sob a inspiração do Mentor Divino, será sempre um cântico de serviço aos semelhantes, exaltando o amor glorioso e sem fim, na direção do Reino dos Céus que começa, invariavelmente, dentro de nós mesmos.” Sondemos um pouco o movimento espírita pelo mundo e veremos que, ainda, há muitos equívocos na jornada. Longe de querer criticar quem quer que seja, deixo claro que não é este o meu intuito, precisamos saber em que direção estamos caminhando. Já o dissemos antes, para quem não sabe onde quer ir, qualquer direção é válida. Cuidemos para que a doutrina permaneça com seu caráter profundamente consolador e sejamos os primeiros a abraçá-la através de nossas vidas.

Certa feito ouvi a frase: “o difícil é fazer fácil”, e como é!!! Complicamos o que deveria ser simples e claro. Jesus é nosso guia, modelo, e a doutrina espírita veio clarear seus ensinamentos que necessitam ser vivenciados. A regra áurea – amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo - é de fácil percepção e entendimento, porém, vivê-la requer compromisso e disciplina. Kardec nos adverte sobre esta questão: “ Seria necessária, então, para compreendê-la, uma inteligência fora do comum? Não, pois vêem-se homens de notória capacidade, que não a compreendem, enquanto inteligências vulgares, até mesmo de jovens que mal saíram da adolescência, apreendem com admirável justeza as suas mais delicadas nuanças. Isso acontece porque a parte, de qualquer maneira, material da ciência, não requer mais do que os olhos para ser observada, enquanto a parte essencial exige um certo grau de sensibilidade, que podemos chamar de maturidade do senso moral, maturidade essa independente da idade e o grau de instrução, porque é inerente ao desenvolvimento, num sentido especial, do espírito encarnado.” Evangelho Segundo o Espiritismo. Temos complicado o que Kardec nos trouxe como algo simples e claro, a doutrina dos espíritos. E isto ocorre sempre que precisamos justificar a mudança do foco principal, que é a melhoria constante, através da observação da regra áurea. Nosso caminho é um só, é o caminho do amor e pautar a vida em atos de amor é um grande desafio. A evangelização que Célia promoveu em muitos corações foi fruto, essencialmente, de sua capacidade de amar, renunciar, viver com profunda fé e confiança nos desígnios de Deus. Seu pai, Helvídio, foi tocado de forma impressionante quando soube de suas ações para proteger a mãe. Ela já havia lhe falado do cristianismo, e estas palavras não foram capazes de ajudá-lo a entender o Cristo, mas a vivência cristã de Célia demonstraram a mensagem do evangelho. Esta questão é uma constante nestes romances, espíritos superiores que vem ao mundo demonstrar uma capacidade de amor e renúncia tão profunda que tocam os mais ressequidos corações. Desta forma, tenhamos a coragem de verificar o caminho que estamos trilhando. Será o da palavra que quer convencer ou do exemplo, que vive o que já provou ser bom para si mesmo? Vejam bem, que não estou querendo dizer que devamos silenciar, muito pelo contrário, palestras, seminários, estudos, etc. são de suma importância e nos auxiliam. O que quero ressaltar é que nosso foco deve ser a melhoria constante, deve ser a busca pela luz de Jesus a nos iluminar os passos. A evangelização dos que nos cercam será fruto de nossa conduta, muito mais que de nossas palavras. Assim, retornando ao nosso pensamento inicial e ao questionamento que deu ensejo a este estudo, eis Kardec a nos indicar como devemos reconhecer um verdadeiro espírita: “ Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações. Enquanto um se compraz no seu horizonte limitado, o outro,

que compreende a existência de alguma coisa melhor, esforça-se para se libertar, e sempre o consegue, quando dispõe de uma vontade firme.” Finalmente, proponho um teste, que eu mesma faço sempre, nem sempre com bons resultados. Como somos reconhecidos? Perguntem aos seus familiares mais próximos se identificaram alguma melhora significativa nos últimos 2 anos, 5 anos, 10 anos...houve alguma transformação moral? Dominas melhor alguma má inclinação do que o fazia outrora? Nosso próximo é a melhor testemunha de nossa reforma moral. Que Jesus nos auxilie e nos dê entendimento para que não desperdicemos mais um vida, mas que esta seja um farto celeiro de renovações íntimas e que possamos ter a certeza de que amanhã seremos melhores que hoje, simplesmente por que reconhecemos que hoje somos melhores que ontem. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 28.02.2016, Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 3b “Jesus é o centro divino da verdade e do amor, em torno do qual gravitamos e progredimos.” Emmanuel

Continuando nossos estudos do livro 50 anos depois, estamos, nesta etapa, sondando as lições dos capítulos de número 03. Helvídio e Alba manifestaram o desejo de retornar para a Palestina, no ensejo de retomar uma vida mais tranquila, longe das disputas e intrigas de Roma. Este desejo nos é relatado no capítulo 03 da primeira parte e também no capítulo 03 da segunda parte. Vejamos os trechos: “- Helvídio - exclamou confortada -, essa perspectiva de voltarmos ao ambiente campestre, com a nossa ventura e o nosso amor, consola-me o espírito abatido. Mas, ouve-me: e os nossos deveres? Que dirá meu pai da nossa atitude, depois de haver lutado tanto para reajustar tua situação à política administrativa do Império? Enfim, desejo saber se não chegaste a assumir qualquer compromisso mais sério.” Trecho do capítulo 03 da primeira parte “Sentindo-se muito a sós, Helvídio Lucius e a esposa planejaram voltar à tranquilidade provinciana da Palestina, mas o falecimento imprevisto da nobre matrona impedia-lhes, de novo, a execução dos projetos há muito acarinhados, atento o insulamento em que ficaria o velho censor, cujo coração orgulhoso e frio lhes dera sempre as mais inequívocas provas de amor e dedicação.” Trecho do capítulo 03 da segunda parte Um desejo plausível, humano e comum – retornar ao lugar onde se foi feliz e onde sentimos paz.

A vida é uma jornada de muitas lutas, todos nós, indistintamente, atravessamos momentos de crise, dificuldades, provas. E, como Helvídio e Alba, recordamos dos momentos em que tudo parecia mais tranquilo e fácil, recordamos daqueles momentos em que a vida nos oferece uma trégua e a eles queremos retornar. Eis, então, que ao olharmos esta situação na vida de nossos personagens, reconhecendo-a como algo comum em nossas vidas também, tivemos o ensejo de refletir: este sentimento tão comum e tão humano tem uma raiz mais profunda? O que realmente estamos procurando? O que o mais íntimo em nós realmente está buscando? Se olharmos para a humanidade de modo geral veremos que há um movimento, ainda que muitas vezes equivocado, para buscar a felicidade, a alegria, a paz. Mas onde encontrar? Emmanuel nos auxilia na belíssima lição do livro Passos da Vida, que abaixo transcrevemos utilizando-nos dos exemplos da história do livro 50 anos depois para melhor interpretá-los: - Fábio Cornélio dependia economicamente de Lólio Úrbico e este foi um dos motivos pelo qual Helvídio não pode retornar a Palestina, estava vinculado ao sogro e deveria aceitar o trabalho proposto por Adriano, o Imperador, porém, aprendamos que o que buscamos: “Não está no dinheiro, porquanto, a cada passo, surpreendemos irmãos nossos, investidos na posse do ouro, a se confessarem desorientados e infelizes...”

- Cláudia Sabina era mulher de grande inteligência, não obstante, seus planos e tramas a levaram à solidão e ao sofrimento, assim, o que buscamos: “Não está na inteligência, visto que vemos, em toda parte, gênios transviados, utilizando fulgurações do pensamento em apoio das trevas...”

- Adriano era um homem poderoso, vivia cercado de regalias, ordenando e regendo o mundo ao seu entorno e as vidas dos seus assistidos, não obstante, o que buscamos: “Não está na autoridade humana, de vez que habitualmente abraçamos criaturas, altamente revestidas de poder terrestre, carregando o peito esmagado de angústia...”

- Helvídio era um homem estudado, inteligente, competente em suas atividades ao ponto de ser requisitado pelo Imperador para importantes tarefas, não obstante, o que buscava:

“Não está nos títulos acadêmicos, porque, em muitas ocasiões, encontramos numerosos amigos laureados com importantes certificados de competência, portando conflitos íntimos que os situam nos mais escuros distritos do sofrimento e da aflição…”

A questão que nos parece complexa é, porém, mais simples do que supomos. O problema, o cerne da questão é nossa perspectiva. Em todos estes casos estamos vivendo em busca de algo, mas para traçarmos um caminho seguro, uma rota que tenha sentido e direção, precisamos de origem, precisamos de destino. Quem não sabe para onde vai, segue para qualquer direção que lhe seja apontada. Ora caminha para o dinheiro e as posses materiais, ora busca no poder a satisfação que sua alma anseia, mas qual o destino? Onde se quer chegar? Neste momento precisamos de um modelo, um guia, alguém que já trilhou estas estradas, que conhece a jornada e nos ofertará o roteiro do qual necessitamos. Temos realizado o estudo do livro 50 anos depois sob as luzes do Evangelho de João e encontramos uma frase capítulo 13, versículo 03 que mostrou-se ser a chave que buscávamos para nossos questionamentos: “sabendo que o Pai lhe deu todas as coisas (nas mãos); e que ele viera de Deus e partia para Deus.”

Eis nossa origem e nosso destino: Início:Deus

Destino:Deus

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Jesus estava com os discípulos, despedindo-se, preparando-os para o que viria. Sabia das intenções equivocadas de Judas, sabia da fraqueza de seus discípulos, não obstante os amou ainda mais, dando-lhes a belíssima lição do lava pés. O maior dentre vós, aquele que servir. Eis o rumo, o caminho: servir. Quando sabemos que viemos do Pai e para Ele retornamos, toda a nossa vida se torna mais clara e lúcida. Se nos alegramos, nos sentimos abençoados e próximos a Deus, não obstante, se sofremos, também sentimo-nos trilhando um caminho corretivo que nos dirige os passos e nos ensina algo novo. Sem esta perspectiva – de Deus e para Deus - nos perdemos no caminho e traçamos rotas equivocadas e totalmente desalinhadas. Viemos de Deus e nosso rumo e objetivo é estar em sua

presença, não mais como no início em que éramos simples e ignorantes e o sentíamos de forma rudimentar. O que buscamos é a plenitude deste sentir do qual temos apenas singelas impressões. Nosso desejo de paz e felicidade tem raiz em nossa origem. Nosso Criador, nosso Pai Celestial é pleno em amor, paz e felicidade e todo o nosso ser almeja sentir-lhe a presença. Observem o mundo e verão muito desengano, muito caminhar desgovernado, eis que esquecidos de sua origem e de seu destino. Eis, então, que se reconhecemos a nossa origem, temos, também a condição de traçar a nossa rota, o nosso caminho para perceber que todas as nossas ações, equivocadas ou não, representam o nosso querer de retornar ao regaço paterno, onde nos sentimos felizes, seguros e em paz. Paulo de Tarso contribuindo na elaboração da Codificação, nos fala na questão 1009 do Livro dos Espíritos: “Gravitar para a unidade divina, eis o fim da Humanidade. Para

atingi-lo, três coisas são necessárias: a justiça, o amor e a ciência. Três coisas lhe são opostas e contrarias: a ignorância, o ódio e a injustiça.” Acima representamos o movimento para Deus com uma origem e um destino, e o fizemos com uma reta. Agora, porém, deixemos a reta de lado, com seu início e seu destino, já somos seres mais complexos e podemos, hoje, adotar outra forma, presente na natureza e em nosso mundo, presente no Universo e na organização dele. Pensemos que nossa trajetória evolutiva não é uma reta, mas uma espiral. Paulo o disse: gravitamos para a unidade divina, gravitamos para sermos um com o Pai, assim como o Cristo o é. Vejam que no início temos um pequeno movimento, simples, uma pequena curva, que vai se ampliando, crescendo, desenvolvendo-se:

O homem nunca foi tão consumista como nos dias atuais. Os últimos 100 anos a humanidade provocou mais destruição ao meio ambiente do que provocara em diversos milênios

anteriores. Evoluímos em saber e buscamos, buscamos e buscamos. A grande questão é que se não nos atentarmos para a rota apontada por Jesus, fatalmente erraremos a trajetória. Enfim, nosso ensejo hoje foi refletir um pouco sobre a nossa conduta e as nossas necessidades, perguntando-nos qual o roteiro que seguimos, se sabemos da nossa origem e reconhecemos o nosso destino. Emmanuel sabia que em nossa busca, a felicidade é um norte sem igual e deixou-nos valorosa reflexão, com a qual encerramos o estudo de hoje. A lição sobre A Felicidade, no livro Passos da Vida: “Não está no que possuis e sim no que dás e, ainda assim, não tanto no que dás como no modo como dás. Não está no que sonhas e sim no que fazes e, sobretudo, na maneira como fazes. Felicidade, na essência, é a nossa integração com o Cristo de Deus, quando nos rendemos a Ele para que nos use como somos e no que temos, a benefício dos semelhantes. Isso porque todo bem que venhamos a fazer é investimento em nosso favor, na Contabilidade Divina. Em suma, felicidade colhida nasce e cresce da felicidade que se semeia, ou melhor, à medida que ajudamos aos outros, por intermédio dos outros, o Céu nos ajudará.” Que Jesus nos auxilie para que possamos crescer e evoluir em Deus e para Deus, ou como nos ensinou Paulo, gravitando para a unidade divina. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 13.03.2015. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 3c

“Ó vós, que lutais no caminho empedrado de cada dia, enxugai as lágrimas e esperai! As flores mais sublimes para o Céu nascem na Terra, onde os companheiros de boa-vontade sabem viver para a vitória do bem, com o suor do trabalho incessante e com as lágrimas silenciosas do próprio sacrifício.” Humberto de Campos

Para finalizar a terceira e última parte desta etapa dos estudos do livro 50 anos depois selecionamos um texto que merece ser lido detidamente, frase a frase, ante o seu caráter profundamente consolador. Encontramos Célia, no capítulo 03 da segunda parte atravessando momentos de grande prova. Expulsa do lar, foi acolhida por família cristã, não obstante a fraternidade de Orfília e seu marido, quando parte em viagem com o filho, Junio, Célia precisa fugir na madrugada, visando escapar das más intenções do rapaz. Dirige-se a casa da irmã, na intenção de receber auxílio e guarida, mas cruza com seu cunhado, que finge não conhecê-la, entende que jamais poderá retornar ao lar, para eles ela estava morta para sempre. De dor em dor, prossegue Célia.

Não obstante todas as adversidades que atravessa, Célia mantem-se confiante em Jesus, a dor é profunda, mas a cada passo, há uma prece, uma menção a confiança que depositada em Jesus. Sozinha na noite escura, aloca-se em uma caverna para o repouso e lá recebe a visita do espírito de seu avô. Quem já teve a oportunidade de sonhar com um afeto do coração que reside na pátria espiritual, ou de lá recebeu alguma comunicação, sabe o quão consolador é este momento. Sentimo-nos abraçados e as dores do caminho se esvaem, permitindo o retorno da alegria e da esperança. Assim, a mensagem do avô de Célia é também mensagem para nós outros, que somos assistidos e consolados pelos espíritos benfeitores. Não obstante muitas vezes restar apenas uma leve intuição destes sublimes momentos, sem que deles nos recordemos, fica em nosso ser ressoando o amor que nos é dirigido. Quantas e quantas vezes dormimos inquietos e acordamos pacificados, ou adentramos a noite com um propósito que ao amanhecer está totalmente modificado? Eis meus amigos a espiritualidade atuando e nossos benfeitores nos aconselhando. Vamos, então, a esta magnífica conversa, inicia Cnéio Lucius, em espírito: “Deus te abençoe nas tormentas aspérrimas da vida material !...” Interessante observarmos a saudação do avô de Célia, ele lhe dá sua benção e fala das tormentas, especificando, porém, que estas são da vida material. Não estaria Célia sofrendo também em espírito? Seria apenas a ausência do pão e do teto que lhe angustiavam? Saíra do convívio familiar, andava só, desamparada, e seu avô lhe diz que suas tormentas são da vida material e isto é muito significativo e vale nossa reflexão. Caminhamos em um mundo de provas e expiações e aqui passamos por adversidades, lutas, dissabores, porém, o espírito que já alcançou a fé e a esperança, que se sabe imortal e confia na justiça divina há o conhecimento de que as dores são transitórias. Saibamos que as dores do espírito se perpetuam e nos acompanham onde quer que estivermos, encarnados ou desencarnados, mas as tormentas desta existência que nos provam e educam são passageiras, perenes, temporárias. Chico Xavier, no final de sua existência terrena, quando perguntado como estava, sempre respondia que estava ótimo, apenas seu corpo não andava bem. Eis a grande sabedoria, distinguir as dores temporárias e transitórias deste mundo das dores da alma. Como estamos? Quais as tormentas que nos seguem? Sigamos em frente. “Feliz de ti, que elegeste o sacrifício, como se houvesses recebido uma determinação grata do Mestre!”

Célia assumiu uma culpa que não era sua, nada tinha feito de errado, mas alçando o amor a patamares desconhecidos para a maioria de nós, sacrificou-se, elegendo-se a mãe do pequenino e assumindo o erro que acreditava ser de sua mãe. Este ato foi natural para Célia, eis que seu espírito compreendeu a mensagem do Cristo de tal forma e com tal magnitude que sacrificar-se, para ela, pareceu-lhe algo natural a ser feito, como cristã que era. Eis-nos, então, de posse de um título sem dele sermos merecedores. Somos cristãos? Agimos cumprindo as determinações de Jesus? Recordemos uma delas, evangelho de João, capítulo 13:34- “Um novo mandamento vos dou: “que vos amei uns aos outros”, assim como vos amei...” Célia amou sua mãe como se sentiu amada pelo Cristo, eis o sacrifício do que abre mão de seus direitos, de sua vida para doar-se ao outro. “Não desfaleças nas horas mais amargas, pois entre as flores do Céu há quem te acompanhe os sofrimentos, fortalecendo as fibras do teu espírito desterrado! Jamais te suponhas abandonada, porquanto, do Além, nós te estendemos mãos fraternas.” Isto é tão certo quanto importante: não estamos sós! Caminhar buscando alinhar-se com Jesus é tarefa árdua, que pede ao orgulhoso que se curve, ao vaidoso que se humilhe, ao egoísta que dê de si, e tudo isto é árduo aprendizado de muitos séculos e muitas vidas. Creio que o grande aprendizado é reconhecermos que necessitamos de auxílio, pois do alto do nosso orgulho, muitas e muitas vezes acreditamos que somos capazes de algo sozinhos. Não somos! Carecemos do apoio, auxílio, carecemos dos espíritos que fortalecem nossas fibras morais quando a dor e a tristeza nos visitam. Saibamos buscar este valoroso auxílio, eis o grande lenitivo para o nosso caminhar, a prece sincera, o pensamento sintonizado com o bem. “Todas as dores, filhinha, passam como a vertigem dos relâmpagos ou como os véus da neblina desfeitos ao Sol...” Esta perspectiva de que a dor é passageira é primordial para a nossa vivência diária. Como um relâmpago! Eis a dor, a tristeza, a doença: apenas um relâmpago. Precisamos tomar posse desta condição de espíritos imortais, vivenciando isto em nosso mundo interior. Esta perspectiva é condição essencial para aquele que quer ter esperança. Cnéio também compara nossas dores aos véus da neblina e isto também é muito significativo. A lutas materiais desta existência limitam a visão do nosso espírito e saber isto nos encaminha para um andar mais humilde, em que nossas convicções não devam ser alardeadas como verdades incontestáveis. Não basta nos sabermos imperfeitos, é importante que atentemos

que estamos em um condição que nos limita a possibilidade de amplo entendimento das leis divinas, eis a dura prova de estar encarnado, mas também a grande oportunidade. “Só a alegria é perene, só a alegria alcança a eternidade.” Esta frase é fantástica e precisa ser lida com profunda atenção. Nossas virtudes são eternas, uma vez adquiridas são incorporadas ao nosso patrimônio espiritual. Se aprendemos a ser pacientes, a ter esperança, a sermos alegres, tudo isto caminhará conosco para sempre. Estamos aqui não apenas para abandonar velhos vícios e reparar longínquos desenganos, mas essencialmente para adquirirmos novos dons, para incorporarmos ao nosso patrimônio evolutivo aquilo que já conquistamos de bom em nosso íntimo. Assim, observe-se hoje e compare com quem era há 10 anos. Veja a melhoria, o desenvolvimento. Aquele ser já não existe mais, é o velho homem. E como nos ensina Paulo, em Cristo, somos novas criaturas. Qual o patrimônio espiritual que levaremos desta vida? Qual o nosso esforço para sermos mais alegres, esperançosos, otimistas? Lembremos que a alegria não acaba nunca e nos acompanha sempre. “Realizando- nos interiormente para Deus, nós compreendemos que todos os sofrimentos são vésperas divinas do júbilo espiritual nos planos da verdadeira vida!” Quando seremos felizes? Amanhã! E quando é amanhã? Isto depende de quanto tempo levaremos para compreender o que são nossos sofrimentos e qual é a verdadeira vida. Não se trata de colocar a felicidade em tempo futuro e ficar vivenciando a tristeza e a melancolia. Podemos ter gotas de alegria ainda hoje, sorrir e sermos gratos pela vida. Mas ainda há muito sofrimento da Terra e se estamos com o Cristo e a trabalho da construção de um mundo regenerado, devemos estar dispostos a dar um pouco de nós para quem nada tem. Se queremos um mundo melhor, precisamos ir além do dever, precisamos reequilibrar a balança com esforço e sacrifício pessoal. Isto significará que o cristão estará sempre um passo a frente em servir, doar-se, compreender, perdoar...isto é realizar para Deus e não mais realizarmos para nós mesmos. O diálogo fraterno prossegue e as dores de Célia vão sendo balsamizadas pelo amor e carinho de seu querido avô e por todos aqueles que a auxiliavam em sua jornada. Transcorrido 2000 anos destes acontecimentos que ficaram ocultos do mundo, a espiritualidade nos oferta estas lições pelas abençoadas mãos de Chico Xavier, corroborando as palavras proféticas de seu avô naquele dia de luz: “Teu sacrifício, filhinha, há-de ser para todo o sempre um marco renovador de nossas energias espirituais no grande movimento das reencarnações sucessivas, em busca do amor e da sabedoria! Ampliando os meus recursos para regressar às lutas terrestres, abençôo a tua dor, porque a tua renúncia é grande e meritória aos olhos de Jesus.”

Eis amigos a prova material de que o bem jamais morre, como nos disse Cnéio em trecho mais acima. Célia apenas agiu em consonância com os ensinos do Cristo, disposta a sacrificar-se por amor e hoje nos é exemplo e fonte constante de inspiração. Quantos já leram este livro? Quantas e quantas pessoas já se inspiraram em Célia para serem melhores, mais pacíficas, amorosas e pacientes? Quantos finalmente entenderam o amor do Cristo, através da vida de renúncia de Célia? Deixemos, também, sementes silenciosas plantadas nos tempos atuais. Deus, no tempo oportuno, saberá lhes dar a vida. E recordemos que hoje temos a oportunidade de orar ao nosso espírito protetor, tal como Célia o fez: “Mais do que as palavras, meu coração, que o vosso espírito pode perscrutar, pode dizer-vos da minha alegria e reconhecimento!... Protetor e amigo, guia desvelado de minhalma, já que vindes das sombras do túmulo para trazer-me as mais consoladoras verdades, ajudai-me a vencer nos embates dolorosos da vida!... Animai-me! Inspirai-me com a vossa sabedoria e o vosso amor compassivo! Não me deixeis desorientada, nestas penhas escabrosas !.. Avô, meu coração tem andado triste como esta noite, e o desalento e a amargura clamam no meu íntimo como os lobos ferozes que uivam nestas selvas !.. Doravante, porém, saberei que vos tenho junto a mim !... Caminharei consciente de que me seguireis os passos em busca da felicidade real !.. Rogai a Jesus que eu desempenhe austeramente todos os meus deveres !” Eis os verbos: Animai-me! Inspirai-me! Não me deixeis desorientada! Caminhemos conscientes em busca da felicidade real. Célia prosseguiu em sua jornada, contando com o auxílio dos amigos espirituais, em especial o seu avô. No dia seguinte conheceu o Irmão Marinho, que lhe acolheria como um pai, auxiliando-a a cumprir os desígnios de Deus. Ele a auxiliaria e lhe transformaria toda a existência com sua abnegada ajuda. Caminhemos nós também, reconhecendo-nos carecedores de auxílio da espiritualidade superior e da misericórdia do Pai Excelso, nosso Criador. Célia exemplificou o novo mandamento deixado por Jesus. Sentia-se profundamente amada por Ele e diante deste amor soube agir, servir, renunciar. E por ter exemplificado o mandamento que o Cristo deixou aos discípulos, encerramos com o comentário de Emmanuel ao versículo 34 do capítulo 13 do Evangelho de João, eis que fala também de Célia e de todos aqueles que pautam suas vidas no amor. Lição 179 do livro Caminho Verdade e Vida. O NOVO MANDAMENTO “Um novo mandamento vos dou: que vos ameia uns aos outros, como eu vos amei.” Jesus (JOÃO, 13: 34) A leitura despercebida do texto induziria o leitor a sentir nessas palavras do Mestre absoluta identidade com o seu ensinamento relativo à regra áurea. Entretanto, é preciso salientar a diferença. O “ama a teu próximo como a ti mesmo” é diverso do “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”.

O primeiro institui um dever, em cuja execução não é razoável que o homem cogite da compreensão alheia. O aprendiz amará o próximo como a si mesmo. Jesus, porém, engrandeceu a fórmula, criando o novo mandamento na comunidade cristã. O Mestre refere-se a isso na derradeira reunião com os amigos queridos, na intimidade dos corações. A recomendação “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” assegura o regime da verdadeira solidariedade entre os discípulos, garante a confiança fraternal e a certeza do entendimento recíproco. Em todas as relações comuns, o cristão amará o próximo como a si mesmo, reconhecendo, contudo, que no lar de sua fé conta com irmãos que se amparam efetivamente uns aos outros. Esse é o novo mandamento que estabeleceu a intimidade legítima entre os que se entregaram ao Cristo, significando que, em seus ambientes de trabalho, há quem se sacrifique e quem compreenda o sacrifício, quem ame e se sinta amado, quem faz o bem e quem saiba agradecer. Em qualquer círculo do Evangelho, onde essa característica não assinala as manifestações dos companheiros entre si, os argumentos da Boa Nova podem haver atingido os cérebros indagadores, mas ainda não penetraram o santuário dos corações.

Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 20.03.2015. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 4a

“Guardemos o coração na luz do bem, para que nossa alma diariamente, possa banhar-se nas águas vivas da grande compreensão. Somente assim nosso olhos aprenderão a ver ignorância onde presumimos encontrar a delinquência e apenas desse modo, nossos ouvidos registrarão a dor e o infortúnio, onde costumamos assinalar a intemperança e a revolta.” Emmanuel Iniciamos nova etapa de nossos estudos, agora em busca de pontos em comum nos capítulos de número 04, primeira e segunda parte. Utilizamos a técnica do paralelismo já explicada anteriormente, muito comum na poesia hebraica. Pensemos em uma situação: uma mulher com trajes simples, de beleza singular revelando, ao espectador mais atento, não tratar-se de pessoa do povo. Esta mulher adentra choupana simples e lá encontra pessoa de idade avançada com a qual busca aconselhar-se, busca amparo para suas lutas e dores. Sente-se só no mundo e busca algo que lhe dê novo alento para prosseguir. De quem falamos? Qual a descrição do livro 50 anos depois que reflete a descrição acima? Temos duas situações que se encaixam na narração acima, uma no capítulo 04 da primeira parte e outra no capítulo 04 da segunda parte. Certamente são de pessoas distintas, com

motivos e sintonias totalmente opostas...mas aos olhos do mundo material as situações são deveras semelhantes... Na primeira, Cláudia busca por Plotina, conforme o trecho do livro: “Era Cláudia Sabina, que, em trajes muito simples, mandava seguir para a Suburra. Após exaustivo trajeto, mandou que os escravos de confiança a esperassem em local convencionado e internou-se, sozinha, por vielas ermas e pobres. Atingindo um quarteirão de casas humildes e pequeninas, parou subitamente como se desejasse certificar-se do local, fixou à pequena distância uma casa esverdeada, de feição característica, que a diferenciava de todas. A esposa de Lólio Úrbico esboçou um sorriso de satisfação e, estugando o passo, bateu à porta com visível interesse. Daí a momentos, uma mulher velhíssima e de má estatura, cabelos desgrenhados e largos vincos a lhe enrugarem o rosto, veio atendê-la com expressão de curiosidade nos olhos empapuçados e pequeninos.” Cláudia estava totalmente obcecada pela idéia de ter Helvídio para si, acreditava amá-lo e depositava todas as suas esperanças de ventura em estar com ele. Este era o seu entendimento, o seu ideal de felicidade e seu propósito de viver. Não importavam-lhe os outros ou quem faria sofrer, usaria de todos os meios a seu dispor para angariar sucesso em sua pretensão desonesta e ilusória. Pois bem, há também outra mulher, Célia, que adentra uma simples choupana, também de um homem idoso, buscando-lhe socorro ante o caminho que se apresentava: “Foi então que reparou numa choupana rodeada de laranjeiras, onde a vida parecia ser a mais simples e mais solitária. Seu aspecto singelo emergia do arvoredo a duzentos metros do local em que se encontrava, mas, como que atraída por algum detalhe que não poderia definir, Célia alcançou a trilha e bateu à porta. Brilhavam no céu as primeiras estrelas. Depois de muito chamar, sentiu que alguém se aproximava com dificuldade, para dar voltas ao ferrolho. E não tardou tivesse diante dos olhos surpresos uma figura patriarcal e veneranda, que a acolheu com solicitude e simpatia. Era um velho de cabelos e barbas completamente encanecidos. As cãs prateadas realçavam-lhe os nobres traços romanos, irrepreensíveis. Aparentava mais de setenta anos, mas o olhar estava cheio de ternura e de vida, como se os seus raciocínios estivessem em plenitude de maturidade. Estendendo-lhe as mãos encarquilhadas e trêmulas, Célia notou pequena cruz a pender-lhe do peito, fora da toga descolorida e surrada. Grandemente emocionada e compreendendo que se encontrava à frente de um velho cristão, murmurou humilde : - Louvado seja Nosso Senhor Jesus-Cristo !” Olhando os fatos sem profunda análise, vemos que as situações do ponto de vista material são muito semelhantes, duas mulheres em busca de auxílio, em lugares simples, sendo auxiliadas por idosos. Certamente este é um ponto em comum nos dois capítulos, não obstante, o que os distingue? Qual o diferença entre as situações? E mais ainda, o que elas podem nos ensinar? Emmanuel, no livro Viajor, nos adverte:

“Não basta observar as telas do mundo, na conceituação habitual da experiência terrestre, porque o raciocínio, quase sempre, mora na faixa estreita do cálculo que se atrela ao egoísmo para entregar-se ao jogo pernicioso da vantagens imediatas e nem vale criticar com a inteligência, porquanto, muitas vezes, a apreciação que nos é própria resulta de enganosa exigência do nosso modo de ser. É preciso mergulhar o sentimento nas desventuras e necessidades alheias com a elevação do amor que não apenas situa o defeito, mas acima de tudo busca extirpá-lo em silêncio, à força de espontânea bondade e justa cooperação.” Eis, então, um ponto de partida, olharmos para Cláudia amorosamente, sem necessidade de julgá-la ou criticá-la. Apenas olhando a sua vida e encontrando nela os desenganos e desventuras de muitos. O convite é para que coloquemos em prática os dizeres iniciais, em epígrafe: “banhar-se nas águas vivas da grande compreensão. Somente assim nosso olhos aprenderão

a ver ignorância onde presumimos encontrar a delinquência e apenas desse modo, nossos ouvidos registrarão a dor e o infortúnio, onde costumamos assinalar a intemperança e a revolta.” Há um ponto que distingue estas histórias e que deve distinguir também as histórias de nossas muitas vidas, do que somos hoje e do que fomos outrora. E este ponto é Jesus, o Cristo de Deus que habitou entre nós e nos fez avançar em entendimento das coisas do mundo, através das lentes do amor. O diálogo de Cláudia com Plotino, que segue no capítulo 04 da primeira parte nos fará ver que seus interesses visam apenas a satisfação pessoal, cercado pelo egoísmo que lhe cega a consciência, trama planos mirabolantes a fim de resgatar o amor que entendia ser sua única possibilidade de ventura. Quantos e quantos não transitam pelo mundo desta forma? Conseguimos perceber os sentimentos que esta atitude de Cláudia esconde? O que realmente sua alma está buscando? A incapacidade de amar e de sentir-se amado nos distancia de Deus e permite que a maldade se instaure. Uma pessoa que não sente amor pelo próximo, em geral, é uma pessoa que não se sente amada pelos seus e por Deus. Vejam a diferença com a postura de Célia que, não obstante caminhar só e sem nenhum auxílio, sente-se confiante no amparo divino: “A filha de Helvídio Lucius explicou, então, que se encontrava no mundo ao desamparo, com um filhinho de poucos dias, abençoando a hora feliz de bater à porta de um cristão, que, desde aquele instante, passaria a encarar como um mestre. Desde logo, estabeleceu-se entre ambos uma cordialidade e um afeto mútuos, tão expressivos, tão puros, que pareciam radicados na Eternidade.” Não foi assim que Cláudia sentiu-se diante de Plotina, a antiga pitonisa que trazia do mundos dos mortos as instruções para os vivos. Palestraram durante longo tempo e chegaram a um acordo financeiro para cooperação mútua, cada qual, porém, visando aos seus próprios interesses, sem a mínima compaixão ou afeto entre ambas.

Neste dia Cláudia foi advertida por Plotina, em comunicação com os espíritos, de que havia um anjo que poderia interferir em seus planos de prejudicar Alba, a esposa de Helvídio. Este anjo era justamente Célia, que abriria mão de tudo, de sua própria vida, para defender a mãe. Vejam este outro trecho muito interessante: “Palestraram ainda, largo tempo, como se as suas mentes se casassem com absoluta sintonia de princípios, dentro das mesmas intenções e fins, notando-se que, ao despedir-se, Cláudia averbou as necessidades da sua nova cúmplice, prometendo-lhe providências confortadoras, depois de lhe entregar todo o dinheiro que trazia.” Emmanuel nos diz que havia ali “absoluta sintonia de princípios” e qual a surpresa que encontramos expressão semelhante quando nos dirigimos a conversa de Célia com o ancião de Minturnes: “estabeleceu-se entre ambos uma cordialidade e um afeto mútuos, tão expressivos, tão puros, que pareciam radicados na Eternidade.” Percebemos agora que do plano espiritual as diferenças entre os dois fatos vão se apresentando, distanciando-os em nível moral. Aquilo que no plano físico é semelhante, aos olhos do espírito pode ser justamente o oposto. Com Cláudia, o desamor, o egoísmo, o interesse próprio sendo amplamente alimentado, com Célia, a lei da atração atuando e lhe trazendo amparo, alento, aconchego. Cabe-nos, então, como aprendizes que somos, questionarmos a nossa postura ante a vida para identificarmos com quais forças estamos nos sintonizando, sabendo-nos a caminho com o Cristo, confiantes no seu amparo e na justiça divina, ou transitando ainda nas regiões inferiores, que buscam a própria felicidade em detrimento dos que caminham conosco. Buscamos, ainda, as luzes do Evangelho de Jesus para clarear nossas singelas reflexões, e encontramos no capítulo 14 uma valorosa conversa de Jesus com seus discípulos, qual amigo amoroso e fiel que aconselha: Não se turbe o vosso coração, versículo 01. Emmanuel, no livro Palavras da Vida Eterna, comenta este versículo e por guardar perfeita consonância com o estudo de hoje, com ele encerramos nossas singelas reflexões, com o convite de que observemos nossas ações, observemos como temos buscado a satisfação de nossas necessidades e rogando a Jesus que nos aproximemos cada vez mais do exemplo de Célia, deixando a Cláudia, como símbolo do egoísmo que já habitou em muitos de nós, cada vez mais para trás.

“Não se turbe o vosso coração...”- Jesus (JOÃO, 14:1.) “Guarda contigo o coração nobre e puro. Não afirmou o Senhor: -“não se vos obscureça o ambiente”, ou “não se vos ensombre o roteiro”, porque criatura alguma na experiência terrestre poderá marchar constantemente a céu sem nuvens.

Cada berço é início de viagem laboriosa para a alma necessitada de experiência. Ninguém se forrará aos obstáculos. O pretérito ominoso para a grande maioria de nós outros, os viandantes da Terra, levantará no território de nosso próprio íntimo os fantasmas que deixamos para trás, vaguentes e insepultos, a se exprimirem naqueles que ferimos e injuriamos nas existências passadas e que hoje se voltam pra nós, a feição de credores inflexíveis, solicitando reconsideração e resgate, serviço e pagamento. Não passarás, assim, no mundo, sem tempestades e nevoeiros, sem o fel das provas ásperas ou sem o assédio das tentações. Buscando o bem, jornadearás, como é justo, entre pedras e abismos, pantanais e espinheiros. Todavia, recomendou-nos o Mestre: - “não se turbe o vosso coração”, porque o coração puro e intimorato é garantia de consciência limpa e reta e quem dispõe da consciência limpa e reta vence toda perturbação e toda treva, por trazer em si mesmo a luz irradiante para o caminho.” Que Jesus, nosso Mestre, nos conduza nos caminho do bem e que saibamos aproveitar as ásperas provas do caminho para edificarmos o nosso espírito ainda tão arraigado no egoísmo e no interesse pessoal. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 27 de março de 2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 4b

“E quando tudo te pareça Saudade e solidão Na bruma que te envolva o coração, Entra no claro abrigo que reténs, Que se te faz no mundo o mais alto dos bens, Riqueza em luz e paz que ninguém desarruma E nunca sofre alteração alguma… Esse refúgio ideal que te descansa Nos tesouros de tudo quanto é teu, É a bênção de servir que te guarda a esperança No trabalho do bem que Deus te concedeu...” Maria Dolores

No capítulo 04 da primeira parte temos, logo no início, a descrição da conversa de Cláudia e Plotina, momentos em que era arquitetada a trama que traria grande sofrimento à família de Helvídio Lucius. Neste mesmo capítulo Emmanuel nos fala de Alba, que encontrava-se abatida, como ela mesma descreve à amiga Túlia: “visivelmente enferma e acentuando as palavras com dolorosa melancolia -, sinto-me profundamente cansada e abatida!”

Certamente as incursões de Lóbio, que intentava seduzir Alba a faziam sofrer, mas seria possível cogitar que seu espírito pressentia o mal que abateria a sua família? Poderíamos supor que os planos de Cláudia e Plotina, apesar de serem desconhecidos de Alba, ressoavam em seu espírito e, juntamente com os outros fatos, promoviam este abatimento, esta melancolia? Já nos sentimos assim? A vida nos pareceu árdua e sentimo-nos sem forças para as lutas que se afiguravam, incapazes de reagir e não ser incorrendo em preces e a misericórdia divina? A dor moral de Alba era imensa: “Necessito de algo sobrenatural que me devolva a paz do espírito. É impossível prosseguir nesta angústia moral que me inutiliza todas as forças. Lágrimas amargas lhe cortaram a palavra entristecida.”

Os

espíritos

nos

auxiliam

a

entender

estes

sentimentos:

“Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É vosso Espírito que aspira à felicidade e à liberdade, e e que, preso ao corpo que lhe serve de prisão, esgota-se em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, a lassidão, o abatimento e uma espécie de apatia, apoderam-se de vós e vos julgais infelizes. Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo; agora, quando Deus vos envia seus Espíritos para vos instruir acerca da felicidade que ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação que deve vos ajudar a romper os laços que mantêm cativo vosso Espírito. Pensai que tendes de cumprir uma missão de que não suspeitais, seja devotando-vos à vossa família, seja cumprindo os diversos deveres que Deus vos confiou. E se, no curso dessa prova, no cumprimento de vossa tarefa, as preocupações, as inquietações e os desgostos desabarem sobre vós, sede fortes e corajosos para os suportar. Enfrentai-os sem hesitação; eles são de curta duração e devem vos conduzir à companhia dos amigos por quem chorais e que, jubilosos por vossa chegada entre eles, vos estenderão os braços, a fim de vos conduzir a um lugar inacessível às aflições da Terra. – François de Genève. (Bordeaux)” Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap V.

Alba não conhecia o Cristo, não conhecia estes ensinamentos valorosos dos espíritos, mas sentia-se assim, melancólica, cansada das lutas e aflições que a Terra nos apresenta. Tinha, porém, esperanças e buscaria na prece o refazimento para suas dores. Se buscarmos as luzes do Evangelho de João para avançarmos no entendimento destas lutas tão humanas de Alba e de todos nós, encontraremos no capítulo 14 Jesus conversando com

seus discípulos, preparando-os para sua partida e dizendo: “não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, credes também em mim.” Cada palavra de Jesus tem um significado especial e todo este capítulo 14 do Evangelho de João é uma lição que se reveste de palavras ditas por uma alma que nos ama profundamente e percebe que, ainda, estamos distantes da verdadeira paz e do verdadeiro entendimento. Vivemos em tempos difíceis, muitos corações estão angustiados, buscando paz, tranquilidade, é chegada a hora de pararmos um pouco, em reflexão, para atentarmos para a oportunidade de crescimento espiritual que se nos apresenta. Fiz isto, parei um pouco, por que este estudo não é um exercício intelectual, mas uma busca incessante de alguém que quer melhorar-se. Assim, retornei aos momentos de minha vida em que a dor e a melancolia me visitaram, rememorei instantes dos quais apenas eu e Deus somos conhecedores e permiti que as lágrimas trouxessem do mais íntimo do meu ser algo que sinto e que não sou capaz de descrever, não obstante tentar. A todos os momentos vividos que retornei senti a mão amorosa do Pai a tocar-me a face, conduzindo-me para um melhor viver. Mesmo ante a morte, a dor, a dúvida, a calúnia, nada aconteceu sem que, quando permiti, Deus estivesse lá de forma consoladora e amorosa. Eis, então, que começo a entender o que Jesus nos ensina, cap. 14:21: “Quem possui os meus mandamentos e os observa, esse é quem me ama. Quem me ama, será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.” Quando atravessamos momentos de dificuldade, como o que Alba atravessava, estamos em busca do consolo e do amor do Pai. E quando buscamos o amor, ele se manifesta. Quando Jesus nos fala para seguir os mandamentos, ele não está nos alertando a regras de conduta, mas a regras de viver, e são coisas distintas. A conduta requer apenas uma ação exterior, um procedimento. A vida requer entrega, confiança e fé. Assim como Alba sentia que as lutas retificadoras se aproximavam, Jesus sabia que a sua hora estava se aproximando. Não obstante, vemos no Mestre a absoluta comunhão com a vontade de Deus e a perfeita entrega de sua vida à vontade divina. E se é certo que ainda estamos distantes deste modo de viver de Jesus, também é certo que este deve ser o nosso norte e a nossa busca. As adversidades virão e nós escolheremos como iremos atravessá-las. Jesus nos oferece auxilio, vejam o que diz o versículo 23: “(...) Se alguém me ama, observará a minha palavra; o meu Pai o amará, e viremos até ele e faremos morada junto a ele.” Deus conosco, fazendo morada junto a nós, haverá maior ventura que esta? Foi assim que Célia se sentia, quando acompanhando Túlia à reunião cristã, em lugar

de sua mãe que não se sentia bem: “A mulher de Máximo Cunctator não sabia dissimular a emoção, contemplando Célia a cantar, qual se fosse uma ave exilada do Paraíso ! . . . Seus olhos calmos estavam fixos no firmamento, onde parecia divisar o país da sua bem-aventurança, entre as estrelas que lucilavam no alto, como sorrisos carinhosos da noite, e aqueles versos, inspirados na música que lhes era peculiar, escapavam-se dos seus lábios com tal riqueza melódica, que a amiga se comoveu até às lágrimas, sentindo-se transportada a uma região divina. . . Sim, Célia conhecia aquele cântico que lhe enchia o coração de brandas reminiscências. Ciro lho havia ensinado sob as árvores frondosas da Palestina, para que a sua alma soubesse interpretar o reconhecimento a Deus, nas horas de alegria. Naquele instante, em comunhão com todos aqueles espíritos que vibravam também a sua fé, ela sentia-se distante da Terra, como se a alma fosse tocada de um júbilo divino . . .” É diferente a dor de um coração que está em Cristo, eis que Ele e o Pai fazem morada junto deles, tal qual nos ensinou Jesus. Célia sentia este amor e naquele instante Deus estava com ela, e o mais importante, ela estava com Deus. O capítulo se encerra com belíssima lição, corroborando tudo o que dissemos acima. Reunidos os cristãos, receberam a notícia da prisão de Policarpo, valoroso trabalhador de Jesus que dirigia as reuniões noturnas. Eis, então, que se levanta um homem, um escravo liberto, em outra vida um senador que renunciara ao amor de Jesus, nesta, porém, um coração totalmente entregue a sua vontade, permitindo-lhe fazer morada em sua vida, permitindo que Jesus caminhasse com ele, falamos amigos, de Nestório, outrora Senador Públio Lentulus, hoje, nosso querido Emmanuel. Perfeita harmonia entre as lições do romance e as escrituras sagradas, nos mostrando que a vida é a grande escola divina e que é nas lutas do dia a dia que somos chamados a viver e a experimentar Deus conosco. Que possamos permitir que Nosso Pai Celestial faça morada em nós. Encerramos nossas reflexões com a lição 71 do Livro da Esperança, em que Emmanuel comenta o versículo 21, objeto de nosso estudo, e nos dá segura alicerce de compreensão do real significado de cumprir os mandamentos de Jesus.

Diante da vida social “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será armado de meu Pai e eu o amarei e me manifestarei a ele.” Jesus (João, 14. 21) “Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as cousas anunciadas par a a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houver em trabalhado no campo do Senhor , com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade.” (Cap. 20, Item 5)

Espiritualidade superior não se compadece com insulamento. Se o trabalho é a escola das almas na esfera da evolução, o contacto social é a pedra de toque a definir-lhes o grau de aproveitamento. Virtude que não se reconheceu no cadinho da experiência figura-se metal julgado precioso, cujo valor não foi aferido. Talento proclamado sem utilidade geral assemelha-se, de algum modo, ao tesouro conservado em museu. Ninguém patenteia aprimoramento espiritual à distância da tentação e da luta. As leis do Universo, diligenciando a santificação das criaturas, não determinam que o mundo se converta em vale de mendicância e sofrimento, mas sim espera que o planeta se eleve à condição de moradia da prosperidade e da segurança para quantos lhe povoam as faixas de vida. Todos somos chamados à edificação do progresso, com o dever de melhorar-nos, colaborando na melhoria dos que nos cercam. Justo, assim, passas deter um diploma acadêmico, retendo prerrogativas de trabalho pela competência adquirida, no entanto, será crueldade nada fazer para que o próximo se desvencilhe da ignorância; natural desfrutes residência dotada de todos os recursos, que te garantam a euforia pessoal, mas é contrário à razão te endeuses dentro dela, sem qualquer esforço para que os menos favorecidos disponham de abrigo conveniente; compreensível guarneças a própria mesa com iguarias primorosas que te satisfaçam a dieta exigente, entretanto, é absurdo esperares que a fomo alheia te bata à porta; perfeitamente narina, que te vistas, segundo os figurinos do tempo, manejando as peças de roupa que suponhas aconselháveis à própria apresentação, contudo, é estranho confiar vestuário em desuso ao domínio da traça, desconsiderando a nudez dos que tremem de frio. Apoiemos o bem para que o bem nos apóie. Para isso é preciso estender aos semelhantes os bens que nos felicitam. Repara a natureza, no sistema de doações permanentes em que se expressa. O céu reparte a luz infinitamente, o solo descerra energias e riquezas sem conta, fontes ofertam águas, árvores dão frutos... Felicidade sozinha será, decerto, egoísmo consagrado. Toda vez que dividimos a própria felicidade dos outros, devidamente aumentada, retorna dos outros ao nosso coração, multiplicando a felicidade verdadeira dentro de nós.” Seja o nosso viver revestido do firme propósito de viver os ensinos de Jesus e que pela misericórdia divina, Deus habite entre nós.

Abraços Fraternos! Campo Grande – MS, 03.04.2016.

Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 4c

“Amamos a Deus na pessoa do próximo. Comecemos o exercício dessa abnegação que nos proporcionará o necessário acesso à Luz Divina.” Batuira – livro Bençãos de Amor

Caminhamos para a última parte da quarta etapa do estudo do livro 50 anos depois. A cada capítulo, buscando suas lições evangélicas, temos a oportunidade de refletir e aprender. Eisnos, então, diante de Célia e seu encontro memorável com o Irmão Marinho, capítulo 04 da segunda parte. Célia estava só no mundo, para sua família estava morta para sempre, seguia, porém, pelo mundo e caminhava apenas confiando que Jesus a socorreria, conforme seu avô, em espírito, lhe revelara. Acontece, então, no capítulo 04 a ação divina na vida de Célia, sente-se atraída por uma casinha simples e ao se achegar, buscando quem lá residia, é recebida pelo Irmão Marinho. Logo de início sentem profunda sintonia de idéias e um imenso amor ressurge naqueles corações que ora se abraçavam ante as suas profundas dores. Vejamos um trecho deste encontro: “- Depois de examinar a tua situação, minha filha, hás-de permitir te assista como um pai ou irmão mais velho, na fé e na experiência. É que, também, tive uma filha, perdida há pouco

tempo, justamente quando vinha buscá-la para acompanhar-me no meu voluntário e bendito degredo na África... Parecia-se extraordinariamente contigo e terei grande ventura se me olhares com a mesma simpatia que me inspiraste. Ficarás nesta casa o tempo que quiseres, ou necessitares... Vivo só, após uma existência fértil de prazeres e de amarguras... Antigamente, a afeição de uma filha ainda me prendia o coração a cogitações mundanas, mas agora vivo somente na minha fé em Jesus-Cristo, esperando que a sua palavra de misericórdia me chame breve ao seu reino, para a verificação da minha indigência!” Trata-se de um momento belíssimo do livro, em uma narrativa que já fez muitos e muitos olhos se encherem de lágrimas. Diz-nos a sabedoria popular que a arte imita a vida...e fazendo uma analogia a este pensamento, gostaria de refletir um pouco sobre este acontecimento na vida de Célia, trazendo-o, porém, para o nosso caminhar espiritual. Temos um corpo que nasceu neste século, talvez outro no século passado, mas e nosso espírito? Nosso espírito já atravessou muitas e longínquas encarnações, caminhando, tendo experiências, errando e acertando. Há, porém, neste caminhar, a eterna mão generosa de Deus que nos assiste, intervindo, corrigindo, aperfeiçoando. Quando a humanidade conheceu Jesus e sua comunhão com Deus, cada um de nós foi convidado a iniciar novo relacionamento com Deus, deixamos de tê-lo como Senhor que nos vê como servos e passamos a olhá-lo como um Pai que ama e assiste seus filhos. Este nova condição é um marco em nossa jornada espiritual, eis o convite: doravante sejamos filhos de Deus. Fazendo, então, um paralelo com a narrativa do livro 50 anos depois, pensemo-nos como Célia, viajante do Universo, caminhando de vida em vida, eis que quando tudo lhe parecia ruir, a bondade de Deus se manifesta e ela é acolhida como filha, recebendo amparo e lenitivo para o seu caminhar. Assim, também, ao nosso espírito, quando tudo nos parece desfavorável, surge o Cristo a nos convidar a vivermos não mais como servos de Deus, mas como seus filhos amados. O Irmão Marinho deu a Célia novo nome, casa, abrigo, afeto, tornou-se herdeira de suas posses, ainda que diminutas. Assim, também, o Cristo veio oferecer-nos nova identidade, agora como filhos, que igualmente tem casa, abrigo, afeto, que deixa de ser servo para ser chamado de filho de Deus. A questão que se nos apresenta agora é como nos sentimos em relação a Deus? Temos nEle um Pai amoroso guardando a firme convicção de que não caminhamos sós e em desamparo pelo mundo? Conseguimos sentir sua mão protetora mesmo quando a vida se nos mostra dura? Sou um espírito, estou vestindo estas vestes temporárias e perenes. Um espírito imortal, criado simples e ignorante, mas que hoje já desperta para um novo mundo. Este despertar requer

que nos sintamos como filhos e que nossa vida, ação e pensamento seja um reflexo deste sentimento. Jesus, como nos conta o evangelista João no capítulo 14, dizia aos discípulos que sua ida estava próxima, sua ida física, a perda do corpo material, mas ele lhes disse, nos versículo 18:

“Não vos deixarei órfãos, venho para vós.” Tal qual o irmão Marinho que acolheu Célia dizendo-lhe que doravante seria-lhe como um pai ou um irmão mais velho, o Cristo nos convida para adentrar na casa de nosso Pai Celestial. Aceitar ou não o convite cabe a cada um. Retornemos ao livro 50 anos depois, para aprender com Célia do que se trata esta nova condição de sermos filhos: “- Se me tendes chamado filha, permitireis vos beije as mãos generosas, chamando-vos pai, pelas afinidades mais santas do coração. (...) Abandonada e só, receberei, por certo, da vossa experiência nas estradas da vida o bom conselho que me habilite a fixar-me em qualquer parte, a fim de cumprir a missão de mãe, junto deste pobre inocentinho!” Eis, então, que fomos acolhidos por um irmão maior, a quem somos convidados a beijar as mãos amorosas, sentindo crescer em nós a afinidade que nos une e nos irmana. Jesus é o escolhido por Deus para nos guiar. Dizem-nos os espíritos ser ele nosso modelo e guia. Mas, perguntemos com franqueza: modelo de quê? guia para onde? Para responder estas questões, retorno ao Evangelho de João, ainda no capítulo 14, agora porém no versículo 7: “Se me conheceis, conhecereis também ao meu Pai. Desde agora o conheceis e o contemplais.” Eis, então, nosso modelo e guia. Modelo do que iremos nos tornar: homens de bem que vivem em plena comunhão com o Pai Celestial. Sendo-nos o roteiro o seu evangelho de luz, que nos mostra a sua vida entre nós, o seu caminhar sempre pautado no amor incondicional. Segue a conversa entre Célia e o Irmão Marinho e, novamente fazendo uma analogia entre este momento sublime e a nossa vida espiritual, temos a oportunidade de avançar em nosso entendimento. Vejamos mais um trecho: “Pois bem; se teu espírito se sente disposto à luta pelo Evangelho, não vacilemos em prepararte as estradas porvindouras! Ficarás nesta casa pelo tempo que desejares, se bem esteja convicto de que não tardará muito a minha viagem para o Além. Amanhã mesmo entrarás nos

teus novos trajes, a fim de facilitar a tua ida para a África, no momento oportuno. Serás "meu filho" aos olhos do mundo, para todos os efeitos. Chamarei amanhã a esta casa o pretor de Minturnes, a fim de que ele cuide da tua situação legal, caso eu venha a falecer. Tenho o dinheiro necessário para que te transportes a Alexandria e, antes de morrer, deixarte-ei uma carta apresentando-te a Epifânio, como meu sucessor legítimo na sede da nossa comunidade. Lá, tendo empregadas todas as derradeiras economias que consegui retirar de Roma nos tempos idos, é possível que não te criem embaraços para que te entregues a uma vida de repouso espiritual na prece e na meditação, durante os anos que quiseres.” Célia tornou-se filha e adentrou em novo mundo, assistida por um amigo fraterno, abriam-se, finalmente, novas portas de esperança. Eis uma luz, um caminho a seguir. Seguiria para a África, tornar-se-ia um exemplo para os que com ela convivessem. Paulo na 2. Carta aos Corintios, 5:17, nos diz que “se alguém está em Cristo é nova criatura, as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas.” Ao espírito pouco importam as roupas físicas, as casas, as coisas, eis então, que ao adentrarmos numa vida com o Cristo somos convidados a vestir novas roupas, e as mais belas roupas do espírito, que o fazem reluzir e brilhar como o ouro, são suas virtudes. A bondade que já adquiriu e que difunde pelo mundo desinteressadamente, eis que é porque é, nova criatura em Cristo. Este senhor que acolheu Célia poderia ter agido de forma diversa, poderia ter exigido recompensas, trabalho, assistência, mas o seu coração estava cheio de amor fraterno e é esta a relação que Jesus nos oferece, que nos quer ensinar. Emmanuel nos ensina em importante lição: “Na sua exemplificação, ensinou-nos Jesus como alcançar o título de filiação a Deus. O trabalho ativo e incessante, o desprendimento dos interesses inferiores do mundo, a perfeita submissão aos desígnios divinos, constituíram traços fundamentais de suas lições na Terra. Muitos homens, notáveis pela bondade, pelo caráter adamantino, sacerdotes dignos e crentes sinceros, poderão ser dedicados servos do Altíssimo. Mas o Cristo induziu-nos a ser mais alguma coisa. Convidou-nos a ser filhos, esclarecendo que esses ficam “para sempre na casa”.

Novo nome, novas roupas, nova casa…tudo mudou para a vida material de Célia, assim também nosso espírito imortal é convidado a seguir, deixando para trás o personalismo, a vida pautada no “eu”, vestindo novas roupas espirituais, as virtudes que vamos adquirindo em nossas diversas vidas e por fim, adentrando em nova casa, o Reino de Deus, um mundo de paz, amor e fraternidade. Ainda sob as luzes do cap. 14 do Evangelho de João, Jesus nos diz no versículo 2: “Na casa de meu Pai há muitas moradas.

Se não fosse assim não teria dito que vou preparar um lugar para vós.”

O Irmão Marinho possibilitou a Célia uma nova morada para assistir as suas necessidades materiais, Jesus nos acolhe e nos oferece uma nova morada celestial, um mundo interior em que nos sentimos em verdadeira comunhão com o Pai e que independe do lugar físico em que estamos. Quando assim nos sentirmos e estivermos, então a promessa de Jesus, versículo 23, se fará verdadeira: “...viremos até ele e faremos morada junto a ele.” Ao recomeçar sua vida, Célia tornou-se, então, apta a ser, também ela um nova morada celestial, abrigando os corações desvalidos da sorte e ansiosos de consolo. Encerra-se o capítulo 04 da segunda parte e com ele renova-se a nossa aspiração de que o Mestre nos inspire e nos ensine a que sejamos nós também filhos do Pai Celestial:

“Desde esse dia, nunca mais a casinhola do horto deixou de receber os pobres e aflitos de todas as categorias sociais, que lá iam rogar as bênçãos de Jesus, através daquela alma pura e simples, santificada pelos mais acerbos sofrimentos.” Imensa gratidão a Célia, espírito de luz, pelo exemplo de vida que nos remete a entendimentos para o espírito e nos convidam a um novo e melhor viver. Que Jesus faça morada em nossos corações. É, também, no capítulo 14 do Evangelho de João que Jesus nos diz ser o caminho, a verdade e a vida, assim, nestas coincidências não raras de nosso estudo, encerramos o estudo de hoje com uma reflexão de um livro de mesmo nome, Caminho, Verdade e Vida, dizendo-nos do Cristo e lembrando-nos de Célia, que habitou lugar simples e distante, não figurando entre os grandes de seu tempo, porém, atravessando os séculos pelo seu exemplo amoroso de servir a Jesus em qualquer circunstância. “BASTA POUCO “Disse-lhe Judas: Senhor, donde vem que te hás de manifestar a nós e não ao mundo?” (JOÃO, 14: 22) Um dos fatos mais surpreendentes do Cristianismo é a posição escolhida pelo Salvador, a fim de anunciar as verdades eternas. Não aparece Jesus em decretos sensacionais, em troféus revolucionários ou em situações de domínio. Chega em paz à manjedoura simples, exemplifica o trabalho, conversa com alguns homens obscuros de uma aldeola singela e, só com isso, prepara a transformação da Humanidade inteira.

Para o mundo inferior, todavia, a pergunta de Tadeu ainda é de plena atualidade. As criaturas vulgares só entendem os que se impõem aos demais, ainda que, para isso, sejam compelidas a ouvir sentenças tirânicas, proferidas em tribunas sanguinolentas; apenas compreendem espetáculos que ferem a visão e gestos teatrais dos que dominam por um dia para sofrerem amanhã o mesmo processo transformador imposto ao mundo transitório ao qual se dirigem. Jesus, todavia, falou à alma imortal. Por esse motivo, suas revelações nunca morrem. Além disso provou não ser necessária a evidência social ou econômica para o serviço de utilidade a Deus, demonstrando, ainda, não ser para isso indispensável a cidade com as arregimentações e recursos faustosos. Bastarão os princípios edificantes e simples, uma aldeota sem nome e alguns poucos amigos. O portador da boa vontade sabe que foi esse o material com que o Cristo iniciou a remodelação da vida terrestre.” Fraterno abraço. Campo Grande – MS, 10.04.2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 5a “A palavra é a bússola de nossa alma, onde estivermos. Conduzamo-la na romagem do mundo para a orientação do Senhor, porque, em verdade, ela é a força que nos abre as portas do coração às fontes luminosas da vida ou às correntes da morte.” André Luiz

Iniciamos nova etapa do estudo do livro 50 anos depois, buscando lições evangélicas, reflexões para nossas vidas que nos auxiliem a melhor compreender a mensagem de luz de Jesus através de exemplos vividos e trazidos por Emmanuel neste magnífico livro. Pois bem, o capítulo 05 da primeira parte é um momento muito especial na vida de Nestório, encarnação de Emmanuel. Sabemos, pelos relatos do livro Há 2000 anos que, em vida anterior, Emmanuel fora o Senador Romano Públio Lentulus e este retorna nos relatos do livro 50 anos depois como o escravo Nestório, cristão desde a infância, em vida que lhe pediria imensa fé e amor ao Cristo. Públio encontrou-se com Jesus as margens do Rio Tiberíades, teve lá a oportunidade de mudar o roteiro de sua vida, mas seu coração ainda estava fechado para a boa nova do Cristo, necessitando passar por lutas e aflições a fim de que seu entendimento fosse lapidado pela maior professora de todos os tempos, a dor. Quando Nestório inicia a pregação em substituição a Policarpo, que havia sido preso, menciona esta lembrança, reminiscências de um passado que ecoava em sua alma:

“Desde criança, tenho os olhos voltados para os sublimes ensinamentos do seu amor e pareceme, também, havê-lo visto no seu apostolado de luz, pela nossa redenção, na face escura da Terra. As vezes, como que impulsionado por um mecanismo de emoções maravilhosas, tenho a doce impressão de ainda o estar vendo junto ao Tiberíades, a ensinar a verdade e o amor, a humildade e a salvação!. . Figura-se-me, frequentemente, que aquelas águas claras e sagradas cantam-me no coração um hino de eterna esperança e, apesar dos véus espessos da minha cegueira, sinto que o contemplo em Nazaré ou em Cafarnaum, em Cesareia ou em Betsaida, arrebanhando as ovelhas desgarradas do seu aprisco.” Agora tinha o entendimento do Cristo e buscava viver os seus ensinamentos, morreu como mártir do primeiro século e a ele devemos hoje belíssimas lições evangélicas trazidas pela mãos benditas de Chico Xavier. Emmanuel ouvia as palavras de Jesus e elas brotaram em seu coração no tempo oportuno. Eis, então, que estamos aptos a ouvir suas palavras iniciais naquela pregação memorável: “- Irmãos, sinto que a minha indigência espiritual não pode substituir o coração de Policarpo nesta tribuna, mas o fogo sagrado da fé precisa manter-se nas almas! Assumindo a responsabilidade da palavra, esta noite, recordo a minha infância para vos dizer que vi João, o apóstolo do Senhor, que, por longos anos, iluminou a igreja de Éfeso!” Naquela noite, Nestório assumiu a responsabilidade da palavra. Falou de sua vida, de suas experiências, de seu conhecimento, falou de Jesus e da forma como o entendia e sentia. Deixou-se inspirar, semeando aos corações presentes o que lhe vinha ao coração. Assim, também, acontece conosco, trilhamos um caminho evolutivo, alguns já estão aptos a ouvir a palavra e assumir a responsabilidade de a divulgar, outros tantos a ouvem e lutam internamente para que ela possa frutificar. Avançando um pouco no livro 50 anos depois, no capítulo 05 da segunda parte, encontraremos exemplos de pessoas que ouviram a palavra e a ela reagiram de acordo com seu momento evolutivo, Cláudia Sabina, Hatéria, Helvídio são alguns deles. Sondemos um pouco a vida de Cláudia Sabina, que após todo o trâmite de suas intenções maliciosas para conquistar o coração de Helvídio, pairava só no mundo. Foi vista nas catacumbas: “Na verdade, Cláudia Sabina tivera os primeiros contactos com a religião do Crucificado, mas sentia o coração assaz intoxicado de ódio para identificar-se com os postulados de amor e singeleza. Decorridos dez anos, não conseguira saber o resultado real da tragédia que armara na esteira do seu destino. Vivera com a terrível preocupação de reconquistar o homem amado, ainda que para isso tivesse de movimentar todos os bastidores do crime. Seus planos haviam fracassado. Sem o apoio de outros tempos, quando o prestígio do marido lhe propiciava uma turba de aduladores e de servos, nada conseguira, nem mesmo a palavra de Hatéria, que, amparada por Helvídio, retirara-se para o seu sítio de Benevento, onde passou a viver na companhia dos filhos, com a máxima prudência, necessária à própria segurança. Cláudia

Sabina encontrara algum conforto para o remorso que lhe mordia a alma, mas não poderia nunca, a seu ver, conciliar o seu ódio e o seu orgulho inflexíveis com a exemplificação daquele Jesus crucificado e humilde, que prescrevera a humildade e o amor como fulcro de todas as venturas terrenas.” Eis um coração aflito, que necessitava das consolações do Cristo, mas o ódio que carregava era tão forte que apenas as muitas vidas poderiam lhe auxiliar, purificando-lhe e ensinando-lhe. Recordemos que Cláudia é a mesma Susana no livro Renúncia, novamente vivendo este triângulo amoroso e contraindo terríveis débitos para o seu espírito imortal. Recebera a palavra, mas ainda não estava aberta para senti-la e vivê-la. Não se trata apenas de compreender, Cláudia compreendia a mensagem do Cristo, mas não conseguia abdicar de seu querer, sua alma ainda transitava no mundo do orgulho exacerbado que não nos permite seguir o Cristo e adentrar em seu reino de paz e amor. Onde estamos em nosso caminhar? Compreendemos a palavra do Cristo, mas ela já adentrou em nossas vidas e corações? Emmanuel, no livro Pão Nosso, nos auxilia a refletir sobre este estado da mente e do coração: “Grande número de adventícios ou não aos círculos do Cristianismo acusa fortes dificuldades na compreensão e aplicação dos ensinamentos de Jesus. Alguns encontram obscuridades nos textos, outros perseveram nas questiúnculas literárias. Inquietam-se, protestam e rejeitam o pão divino pelo envoltório humano de que necessitou para preservar-se na Terra. Esses amigos, entretanto, não percebem que isto ocorre, porque permanecem dormindo, vítimas de paralisia das faculdades superiores. Na maioria das ocasiões, os convites divinos passam por eles, sugestivos e santificantes; todavia, os companheiros distraídos interpretam-nos por cenas sagradas, dignas de louvor, mas depressa relegadas ao esquecimento. O coração não adere, dormitando amortecido, incapaz de analisar e compreender.” O coração deve aderir para que possamos realmente compreender. Ainda hoje li uma mensagem, atribuída a Buda que dizia assim: “Quando tu gostas de uma flor, apenas a arrancas. Mas quando amas uma flor, tu cuidas e regas diariamente. Quem entende isto, entende a vida.” A questão é identificarmos até onde a palavra de Jesus adentrou em nossas vidas, se apenas gostamos de seu evangelho, ou se lhe permitimos adentrar em nossas vidas, revestido do mais sublime amor que nos acompanhará para todo sempre. Afinal, amamos o Cristo? O que em nossa vida demonstra isto? Buscando as luzes do Evangelho de João, entendemos melhor o que significa a questão de adesão do coração ao Cristo. Jesus ensina aos discípulos nos capítulo 15:

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo em mim que não produz fruto, Ele o tira; e todo aquele que produz fruto, (ele) o limpa, para que produza mais fruto.” Somos ramos e só iremos prosperar se estivermos ligados a videira verdadeira que é Jesus, eis a adesão do coração, saber-se ramo e não árvore, saber-se ramo e não agricultor. O espírito orgulhoso quer andar sozinho, mas o Cristo nos quer acompanhar, auxiliar, alimentar nossas vidas com sua luz, seus ensinos, seu viver. Nestório reconhecia-se carecedor da misericórdia divina e seu discurso é revestido de dizeres profundos, cheios de sentimento de uma alma que adentrava neste reino e buscava esta completa adesão do coração. Naquele momento, ao subir no púlpito e confessar a sua fé diante de multidão, Emmanuel passou a ser um ramo da videira que é Jesus. Assumiu diante de todos a qual árvore pertencia e cabe a cada um de nós verificarmos a qual árvore pertencemos, sabedores que fora de Deus, nosso Pai Celestial, nada poderá prosperar. Recordo um trecho deste discurso de Nestório, eis que quero lhes mostrar um pequeno detalhe, quase um mimo para o nosso singelo estudo: “Os que sabem acatar, neste mundo, os desígnios de Deus, com humildade e tolerância, com resignação e com amor, chegarão mais depressa junto daquele que se nos revelou há cem anos como Caminho, Verdade e Vida!” Nestório fala do Caminho, Verdade e Vida e Emmanuel nos trouxe um livro com este título e é com lição deste livro, que comenta um versículo do capítulo 15 do Evangelho de João que encerraremos nossos estudos de hoje. Coincidência ou não, estudamos hoje o capítulo 05 do livro 50 anos depois, primeira e segunda parte, e a lição do livro Caminho, Verdade e Vida é a de número 55. AS VARAS DA VIDEIRA “Eu sou a videira, vós as varas.” Jesus (JOÃO, 15:5) Jesus é o bem e o amor do princípio. Todas as noções generosas da Humanidade nasceram de sua divina influenciação. Com justiça, asseverou aos discípulos, nesta passagem do Evangelho de João, que seu espírito sublime representa a árvore da vida e seus seguidores sinceros as frondes promissoras, acrescentando que, fora do tronco, os galhos se secariam, caminhando para o fogo da purificação. Sem o Cristo, sem a essência de sua grandeza, todas as obras humanas estão destinadas a perecer. A ciência será frágil e pobre sem os valores da consciência, as escolas religiosas estarão condenadas, tão logo se afastem da verdade e do bem. Infinita é a misericórdia de Jesus nos movimentos da vida planetária. No centro de toda expressão nobre da existência pulsa seu coração amoroso, repleto da seiva do perdão e da bondade.

Os homens são varas verdes da árvore gloriosa. Quando traem seus deveres, secam-se porque se afastam da seiva, rolam ao chão dos desenganos, para que se purifiquem no fogo dos sofrimentos reparadores, a fim de serem novamente tomados por Jesus, à conta de sua misericórdia, para a renovação. É razoável, portanto, positivemos nossa fidelidade ao Divino Mestre, refletindo no elevado número de vezes em que nos ressecamos, no passado, apesar do imenso amor que nos sustenta em toda a vida.” Encerro mais um estudo com profunda gratidão, rogando a Jesus que me aceite como singelo ramo a receber de sua seiva que renova, ampara e dá vida, permitindo sempre que nosso Pai Celestial seja o agricultor que nos cuida e protege com seu imenso amor. Fraterno abraço. Campo Grande – MS, 16.04.2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 5b

“Faze, tão bem quanto esteja em tuas possibilidades, a obra parcial confiada às tuas mãos. Por hoje, talvez te enganes, supondo servir às autoridades terrestres, no entanto, chegará o minuto revelador no qual reconhecerás que permaneces a serviço do Senhor. Une-te, pois, ao Divino Artífice, em espírito e verdade, porque o problema fundamental de nossa paz é justamente o de saber se vivemos nele tanto quanto ele vive em nós.” Emmanuel – Fonte Viva

A cada vida temos a oportunidade de renovar nossas experiências e nos aproximarmos do Cristo, de seus ensinamentos e de seu amor. Caminho lento para alguns e rápido para outros, cada um, em seu tempo particular, irá compreender as verdades divinas para vivenciá-las. Emmanuel nos trouxe uma parte de seu caminhar, primeiramente como o Senador Romano Públio Lentulus, no livro Há 2000 anos, e agora no livro que estudamos, 50 anos depois, ele reaparece em vida de resgate, como o escravo Nestório. Não obstante toda a sua cultura e inteligência, para a sociedade da época, era apenas um escravo que merecia um pouco mais de confiança e, certamente, um maior número de atribuições. Não retornou só, espíritos entrelaçados pelas muitas vidas compartilhadas reúnem-se neste caminhar, em auxílio mútuo. Assim, Alba Lúcinia, fez de Nestório homem livre, confiando-lhe a educação das filhas. No capítulo 05 da primeira parte do livro 50 anos depois temos a oportunidade de ouvir uma pregação de Nestório. Ele que fora Senador Romano e que guardava no íntimo as recordações deste tempo de estagnação para o seu espírito, vinha a público falar de sua fé e de seu amor pelo Cristo de Deus, Jesus, nosso salvador.

Seria esta a única pregação que Nestório realizaria, eis que o cerco aos cristãos era fortíssimo naqueles tempos e muitos, como ele, seriam presos e levados ao martírio. Torna-se, então, um rico tesouro esta pregação, algo raro e único, realizado em um momento histórico da evolução do cristianismo na Terra. Imaginemo-nos, assim, como estes historiadores que encontram um raro papiro com a descrição deste momento sublime, imaginemos os cristãos reunidos em lugar simples e humilde, entoando cânticos de louvor ao Pai Celestial, imaginemos a riqueza e a harmonia espiritual que reinava naqueles corações sofridos pelas muitas lutas. Agora sim, estamos aptos a adentrar nas palavras, do discurso, nos dizeres inspirados e profundos de uma alma em redenção. A primeira vista poderá se pensar que o discurso é daquele tempo, para aquelas pessoas, mas eis que surge a surpresa ao vermos que, pelo muito que permitiu-se inspirar, as palavras de Nestório ressoam em nossos corações e atravessam o fator temporal para nos trazer lições valiosas para o tempo presente. Permitam-me, então, ouvi-lo novamente, atentamente, parágrafo a parágrafo, linha a linha, como um aluno que admira seu professor e quer dele extrair a essência de sua luz, de sua fonte de luz. Inicia a pregação com humildade, reconhecendo-se carecedor na misericórdia divina: “Invoco estas reminiscências longínquas, para recordar que o Senhor é a misericórdia infinita. Na minha pobreza material e moral, não tenho vivido senão pela sua bondade inesgotável e quero invocar a sua assistência caridosa para o meu coração, neste momento.” Como é belo e importante este posicionamento de Nestório, percebamos que quando nos colocamos a caminho com Jesus, deixamos de lado o orgulho que nos fazia grandes, para nos reconhecermos criaturas em caminho evolutivo, imperfeitas e carecedoras da bondade divina. Quantos discursos que temos ouvido guardam esta feição? Para seguir o Cristo não basta uma rica inteligência e uma portentosa oratória, andar com o Cristo é, antes de tudo, reconhecer que necessitamos dele. Nossas palavras precisam ser um reflexo de nossa vida e, reconhecendo que ainda estamos distantes de o conseguir, faz-se necessário que assumamos sempre uma posição de humildade, como a que Nestório assumiu. Vejamos mais um trecho: “Desde criança, tenho os olhos voltados para os sublimes ensinamentos do seu amor e pareceme, também, havê-lo visto no seu apostolado de luz, pela nossa redenção, na face escura da Terra. As vezes, como que impulsionado por um mecanismo de emoções maravilhosas, tenho a doce impressão de ainda o estar vendo junto ao Tiberíades, a ensinar a verdade e o amor, a humildade e a salvação!. . Figura-se-me, frequentemente, que aquelas águas claras e sagradas cantam-me no coração um hino de eterna esperança e, apesar dos véus espessos da minha

cegueira, sinto que o contemplo em Nazaré ou em Cafarnaum, em Cesareia ou em Betsaida, arrebanhando as ovelhas desgarradas do seu aprisco.” Nestório tinha o sentimento da vida anterior guardado em seu coração. Encontrara-se com o Cristo, conversara com Ele. E estas lembranças ressurgiam em seu íntimo como algo doce, como um lenitivo. A presença de Jesus em nossas vidas jamais será uma dor ou um fardo, mas algo leve e suave, porque tudo o que vem dele em nossa direção é amor e cura. Achei interessante que na sequência de sua fala, Nestório cita quatro cidades, Nazaré, Cafarnaum, Cesareia ou Betsaida. O que estas cidades representam? Olhemos um mapa que consta na Biblia do Peregrino, creio que ele nos auxiliará:

Talvez exista outros significados, mas a mim pareceu que ele estava dizendo algo como: de norte a sul, de leste a oeste, ou seja, para onde quer que eu olhe, eu vejo o Cristo arrebanhando suas ovelhas. De um extremo a outro, o Cristo zelaria por todos nós. E suas palavras seguintes parecem corroborar a nossa interpretação, vejam o parágrafo seguinte:

“Sim, irmãos, o Mestre nunca nos abandonou, no seu apostolado divino. Seu olhar percuciente vai buscar o pecador no mais recôndito socavão da iniqüidade, e é pela sua ternura infinita que conseguimos caminhar indenes nos desfiladeiros do crime e do infortúnio ! . . .” Que alegria esta certeza que podemos guardar em nossas almas: O Mestre nunca nos abandonou! Nenhuma ovelha se perderá. Se nos tempos de Nestório ele usava lugares e paisagens para descrever a busca do Cristo por cada um de nós, é sabido que hoje, somos convidados a aceitá-lo em nosso mundo interior. As cidades de Nestório cita também representam símbolos, Nazaré, a cidade onde Maria nasceu e Jesus passou sua infância é tida por alguns estudiosos como a “cidade do ramo”; Betsaida significa “casa de pesca” e foi lá que Jesus “pescou” alguns de seus discípulos como Pedro, lá também realizou curas, como a do cego de Betsaida que tivemos a oportunidade de estudar no livro Há 2000 anos fazendo um paralelo com o próprio Públio Lentulus; Cafarnaum, a cidade em que Públio falou com Jesus, cidade que tem como significado em hebraico “lugar em que há tumulto ou desordem”; e, por fim, Cesaréia, a cidade criada por Herodes para homenagear Cesar, a cidade que significa “boa sorte” em hebraico. Vemos que, desde aqueles tempos, Emmanuel não economizava nas palavras e era de bom alvitre atentar para o significado de cada uma delas, tendo assim a possibilidade de ir a lugares mais profundos de reflexão e aprendizado. Pensemos nas quatro cidades, por exemplo, tudo começa com um pequeno ramo (Nazaré), que floresce, dando frutos que se espalham pelo mundo (Betsaida), que vão a todos os lugares, inclusive onde há tumulto ou desordem (Cafarnaum), chegando inclusive aos lugares em que outros deuses são enaltecidos (Cesaréia), para que eles também tenham a boa sorte de conhecer o Cristo...para onde quer que olhemos, lá o Cristo estará, porque ele nunca nos abandonou. Sigamos em frente, nestas ricas lições: “- Para tanger o ponto evangélico desta noite, lembremos que Jesus não podia condenar os laços humanos e sacrossantos da família, mas suas palavras, proferidas para a Eternidade, abrangem e abrangerão todas as situações e todos os séculos vindouros, de modo a demonstrar que a fraternidade é o seu alvo e que todos nós, homens e grupos, coletividades e povos, somos membros de uma comunidade universal, fraternidade, essa, que um dia nos integrará a todos como irmãos bem-amados, e para sempre.” Será concebível, hoje, estas palavras de Nestório? Todos os que nos cercam podem ter a certeza de encontrar em nós “irmãos bem-amados”? Tenho visto tantos e tantos cristãos assumindo a posição de críticos e donos da verdade, quando da verdade só conhecemos parcela ínfima, dispostas em pequenas porções e espalhadas em muitos corações. Como pode um cristão arvorar-se de julgador de quem quer que seja? Não seria a hora de uma prece aos invés das palavras duras que desarmonizam e prejudicam?

O Brasil vive momentos de grande luta e dor, como já viveu antes e como viverá mais a frente. A grande questão é qual o testemunho que eu, como cristã, estou dando aos que me cercam neste momento? A fraternidade é meu alvo? Tenho buscado a indulgência para com todos? Minha fala se reveste de caridade para tratar do irmão que atravessa dura prova, na qual eu talvez sucumbiria? A caridade é sempre o meu norte para dirigir-me a quem quer que seja? Aprendo com Nestório que os momentos de dificuldade, são oportunidades de luta interior, de mostrarmos confiança no Cristo e em seus desígnios superiores. Diante da minha cegueira espiritual, parafraseando nosso benfeitor, quero crer que o momento é oportunidade de aprendizado para mim, oportunidade para que eu sonde onde e como posso melhorar como pessoa, como cidadã, como trabalhadora, como mãe, como filha. Estes irmãos que caminham no desengano clamam por nosso exemplo, por nosso amor e por nossa paz! Estamos prontos a lhes oferecer isto? Sigamos em frente na pregação de Nestório: “Seus ensinamentos referiam-se àqueles que, cumprindo a vontade soberana e justa do Pai que está nos céus, marcham na vanguarda dos caminhos humanos, em demanda do seu reino de amor, cheio de belezas imperecíveis!” Os tesouros que a alma convertida ao Cristo almeja são aqueles que nem a traça ou a ferrugem corroem (Mateus 6:19). Como anda a nossa marcha? Quais caminhos trilhamos? Reconhecemos que há um reino cheio de belezas IMPERECÍVEIS, nos aguardando? Ou ainda nos debatemos e lutamos pelas riquezas do mundo? As palavras de Nestório atravessam os séculos para ecoar em nossos corações. Imaginemos que aquelas pessoas tinham perdido tudo, sua liberdade, suas terras, viviam sob o jugo dos romanos, muitas e muitas vezes sob tribunais injustos, tendo que pagar tributos que lhe subtraiam o próprio sustento. Estes eram os cristãos do primeiro século, pessoas que estavam sob o jugo tirano do Império Romano. Não podemos comparar as nossas dificuldades com as deles, mas se o fizermos, certamente veremos que são muito, muito menores. Não obstante, temos um tom de amor, paz e fraternidade eclodindo daqueles corações de forma límpida e pura, que chegam aos nossos tempos como testemunhos de coragem e de soerguimento para que tenhamos a coragem de acreditar no bem, no amor, na fraternidade. É preciso força para amar a quem maltrata e subjuga. Continua Nestório: “Os que sabem acatar, neste mundo, os desígnios de Deus, com humildade e tolerância, com resignação e com amor, chegarão mais depressa junto daquele que se nos revelou há cem anos como Caminho, Verdade e Vida! Esses Espíritos amorosos e justos, que se iluminaram interiormente pela compreensão e aplicação dos ensinos em toda a vida, estarão mais perto do seu coração misericordioso, cujas pulsações sagradas repercutem em nosso próprio ser, pela

magnanimidade infinita que sentimos em torno de nossa alma, em todos os passos desta vida ! . . Tais criaturas são desde já seus irmãos mais próximos, pela iluminação evangélica no cumprimento das leis do amor e do perdão.” Eis o convite, vivamos em fraternidade, para sermos chamados de irmãos também pelo Cristo. Iluminemo-nos interiormente pela compreensão e aplicação dos ensinos. Compreendemos algo do evagelho? Eis o primeiro passo, o seguinte é aplicá-lo em nossa vida cotidiana, eis o mais difícil. “Dentro, pois, dessas luzes prodigiosas da Verdade, sentimo-nos compelidos a dilatar o conceito de família no plano universalista, alijando o criminoso egoísmo que, por vezes, nos toma de assalto o coração, criando os germes da discórdia e do sofrimento no próprio lar. Se um homem é a partícula divina da coletividade, o lar é a célula sagrada de todo o edifício da civilização. Um homem divorciado do bem e um lar envenenado pelos desvios do sentimento, operam os desequilíbrios singulares que atormentam os povos!. . Jesus conhecia todas as nossas necessidades e ajuizou de nossa situação, não apenas em vista da época que passa, mas de todos os séculos do futuro.” De tudo que tenho estudo, compreendido, observado, resta-me a conclusão de que cada instante, cada lugar é escola divina em nosso aprendizado. Viver o evangelho é muito mais que compreendê-lo. Olhemos para o nosso lar e verifiquemos se nossos familiares se sentem amados, compreendidos e cuidados por nós. Olhemos para o nosso trabalho e sondemos onde podemos melhorar, sendo mais fraternos, pacientes e solidários. E assim, nas pequenas coisas aprenderemos e iremos nos preparar para as que hão de vir. Estamos onde necessitamos estar, vivemos no melhor lugar e com as melhores pessoas que trabalham por nossa edificação espiritual. Estamos prontos para receber a lição? Ou permanecemos como crianças queixosas ante a tarefa cotidiana? “Acredito que o Evangelho não poderá ser integralmente compreendido em nossos tempos amargos de devassidão e decadência; todavia, enquanto as forças mais poderosas do mundo se concentram neste Império cheio de orgulho e impiedade, outras energias profundas trabalham o seu organismo atormentado, preparando o advento das civilizações do porvir. Até agora, as águias romanas dominam todas as regiões e todos os mares; mas dia virá em que esses símbolos de ambição e tirania hão-de rolar dos seus pedestais, numa tempestade de cinzas e de sombras!. . Outros povos serão chamados a dirigir os movimentos do mundo . Mas, enquanto o espírito agressivo da guerra permanecer entre os homens, qual monstro de ruína e de sangue, é sinal de que as criaturas não se realizaram interiormente para serem os irmãos do Mestre, puros e pacíficos.” Se estamos a trabalho com o Cristo, precisamos extinguir de nossas vidas estes traços de agressividade que ainda restam, eis que durante milênios assim agimos e vivemos. A fala de Nestório é para hoje, para mim, para reflexão do quanto atrasados estamos, eis que há 2000 anos estes dizeres ressoam, ressoam sem parar. São chegados os tempos de ouvir e de viver.

“A Terra viverá as suas fases evolutivas de dor e de experiências dolorosas, até que a compreensão perfeita do Messias floresça em todo o mundo, para as almas. Até agora, o Cristianismo tem medrado com as lágrimas e o sangue de seus mártires; mas os Espíritos do Senhor, cujas vozes ouvi na mocidade nas sagradas reuniões da igreja de Efeso, asseveravam aos discípulos de João que, não levará muito tempo, o proselitismo do Cristo será chamado a colaborar nas esferas políticas do mundo, para dissipar a treva e a confusão da sua rede de enganos.. Nessa época, meus irmãos, talvez que a doutrina do Mestre venha a sofrer o insulto daqueles que navegam no vasto oceano dos poderes terrestres cheios de vaidade e despotismo. É possível que espíritos turbulentos e endurecidos tentem subverter os valores da nossa fé, desvirtuando-a com as exterioridades do politeísmo, mas, ai dos que operarem semelhante atentado, em face das verdades que nos orientam e consolam ! . .” Vivemos hoje estes momentos que Nestório anuncia, momentos em que a compreensão do Messias floresce em muitos corações, caminhos para a regeneração do mundo. Porém, também são tempos destes espíritos turbulentos e endurecidos, a eles, nossa prece, nosso amor e a certeza imorredoura do alcance da justiça divina, a unica que é perfeita, justa e boa. “E que, meus irmãos, o reino de Jesus deve ser fundado sobre os corações, sobre as almas, e não poderá conciliar-se nunca, neste mundo, com qualquer expressão política de egoísmo humano ou de doutrinas de violência, que estruturam os Estados da Terra! O reino do Senhor sofrerá, por muito tempo, "a abominação do lugar santo", pela falsa interpretação dos homens, mas chegará a época em que a Humanidade, hoje decadente e corrompida, se sentirá a caminho de uma Jerusalém gloriosa e libertada!...” Feliz daquele que consegue olhar de norte a sul, leste e oeste e encontrar o Cristo. Que sejamos capazes de finalmente tirá-lo das igrejas e templos onde o encerram há tantos anos para levá-lo aos nossos lares, a praça pública, a fábrica onde trabalhamos. Jesus vive e nunca nos abandonou, apenas com esta certeza atravessaremos esta madrugada de tumultos e desentendimentos, eis que guardaremos em nosso íntimo a certeza de que o sol logo vem. Muitas e muitas vezes clamamos pela justiça do homem, erguendo bandeiras e defendendo teorias nem sempre honestas e verdadeiras. É preciso cuidado, qualquer luta que peça de nós o abandono da caridade e do amor ao próximo não é digna de ser abraçada. Ao cristão cabe, primeiramente, o exemplo e a frase de Jesus, ainda se faz necessária e verdadeira: “atire a primeira pedra apenas quem estiver sem pecado.” “Guardemos na mente a convicção de que o reino de Jesus não está nos templos ou nos manuscritos materiais que o Tempo se incumbirá de aniquilar em sua passagem incessante e, sim, que os alicerces divinos têm de ser construídos no íntimo do homem, de modo que cada alma possa edificá-lo por si mesma, à custa de esforços e lágrimas, a caminho das moradas gloriosas do Infinito, onde nos aguardarão, depois da jornada, as bênçãos do Cordeiro de Deus, que se imolou na cruz, para nos redimir do infortúnio e do pecado!...” Que assim seja!

Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 24.04.2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 5c

“A alegria cristã não consta de prazeres da inconsciência, mas da sublime certeza de que todas as dores são caminhos para júbilos imortais.” Emmanuel

Como o Cristo chegou em minha vida? Como ele adentrou na tua vida? Como o Cristo entrou na vida de Helvídio Lucius, pai de Célia? Dizem que ou o conhecemos pelo amor ou pela dor, creio eu, porém, que a dor e o amor caminham juntos, em parceria contínua, onde uma alerta e o outro consola, cura, vivifica. No capítulo 5 da segunda parte, que Emmanuel intitulou de “O caminho expiatório” encontraremos o início desta jornada que transformaria este cidadão romano em um cristão a quem Jesus confiaria a convivência e o amparo a Chico Xavier enquanto trabalhou na Fazenda Modelo em Pedro Leopoldo, onde tantos livros foram psicografados. Trata-se de Rômulo Joviano, como nos informa o livro Sementeiras de Luz, psicografado por Chico Xavier, pelo espírito Cneio Lucius (Artur Joviano).

É belíssima a trajetória deste espírito, desde a narrativa do livro Há 2000 anos, até o século passado: romano, depois irlandês que migrou para a América, depois retorna em nova vida na Espanha, como o Rei Católico, ao lado de Isabel de Aragão. Uma obra como a que Chico nos trouxe através da psicografia, certamente careceu de muito amparo da espiritualidade e também de homens encarnados que lhe propiciaram condições de efetuar seu trabalho dentro de um ambiente com tranquilidade e harmonia, a fim de que os espíritos pudessem trazer ao nosso conhecimento ensinamentos profundos e de grande relevância moral e histórica. Este homem, Helvídio, foi como um escudeiro para Chico. Acolheu-o em sua casa, em sua família, providenciou uma sala, onde Chico datilografou o memorável Paulo e Estevão e muitos outros livros. Jesus lhe confiou esta sublime tarefa. Mas este é o ápice, é a alegria, é o que almejamos e um dia seremos dignos e merecedores. O estudo de hoje, porém, fala dos começos, onde a alegria se esconde e a dor ensina. E olhar o começo, conhecendo o futuro, nos dá esperança. Esperança no mundo, nas pessoas, mas principalmente em nós mesmos. Helvídio Lucius era um homem correto, reconhecido pela sociedade e por seu Imperador, mas ainda preso ao orgulho, tão comum nos homens de seu tempo e de sua estirpe. Quando sua filha, Célia, supostamente cometeu um engano, quis tirar-lhe a vida, mas impedido por Alba, deu-a como morta, expulsando-a de casa. Ocorre que Célia não tinha culpa, nada fizera e abraçou o bebê como seu apenas para proteger a mãe, a quem queriam fazer parecer culpada, em trama odiosa de Cláudia e Hatéria. Pois bem, no capítulo 05 da segunda parte do livro 50 anos depois, toda a verdade vem a tona, cobrando consciências que lutam contra si mesmas e que por seus ditatinos, causaram destruição e morte. Cláudia, Hatéria, Silano, Fabio Cornélio e até mesmo Alba, todos partem para o mundo espiritual ante as dores das verdades reveladas. E Helvídio permanece, vivo sem o estar, em profunda dor pela perda de seus entes queridos, mas, também, pela consciência viva da injustiça praticada contra a própria filha. Eis, então, que decide ir pelo mundo procurar por Célia: “...como se o animasse uma esperança nova, o tribuno converteu todas as dores na preocupação de reencontrar a filhinha expulsa do lar, fosse onde fosse, para alívio da consciência. Desejava morrer para reunir-se à companheira bem-amada, mas quisera levar-lhe também a certeza de que Célia reaparecera, e que, de joelhos, havia suplicado o perdão da filha, a quem não pudera compreender.” Paremos um pouco com a narrativa da história para sondar os sentimentos que são dos outros, mas também são nossos. E, para tal, gostaria de buscar um capítulo do livro Pensamento e Vida de Emmanuel, que nos fala da culpa:

“Quando fugimos ao dever, precipitamo-nos no sentimento de culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma.” (Reconhecemos em Helvídio em sentir, ao saber da verdade, viu seu erro e buscou uma forma de aliviar a consciência.) E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos reflexos de nossa lembrança amarga, transforma-se num abscesso mental, envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente miasmática de nossa vida íntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o convívio. (Estes sentimentos reconhecemos em Cláudia, Hatéria...conviver com a consciência culpada traz danos ao nosso viver) (...) Projetando as energias dilacerantes de nosso próprio desgosto, ante a culpa que adquirimos, quase sempre somos subitamente visitados por silenciosa argumentação interior que nos converte o pesar, inicialmente alimentado contra nós mesmos, em mágoa e irritação contra os outros. ( A mágoa e a irritação são sinais que precisamos perceber e trabalhar em nossos corações, com o auxílio de Jesus podemos trabalhá-los em nosso mundo interior, Helvídio tentou sozinho reparar e não teve êxito. Precisava de Jesus para encontrar não apenas Célia, mas o auto-perdão) (...) Toda deserção do dever a cumprir traz consigo o arrependimento que, alentado no espírito, se faz acompanhar de resultantes atrozes, exigindo, por vezes, demoradas existências de reaprendizado e restauração. Cair em culpa demanda, por isso mesmo, humildade viva para o reajustamento tão imediato quanto possível de nosso equilíbrio vibratório, se não desejamos o ingresso inquietante na escola das longas reparações. (Helvídio tinha uma missão a cumprir como pai, afastou-se dela e ao longo da vida isto pesou-lhe no espírito. A culpa vem em seu auxílio, para fazê-lo entender a lei divina, levando-o para o caminho do arrependimento e da reparação. Assim, também, nós outros hoje estamos neste caminhar, de reparar enganos passados e trilhar novo caminhar).

É por essa razão que Jesus, não apenas como Mestre Divino mas também como Sábio Médico, nos aconselhou a reconciliação com os nossos adversários, enquanto nos achamos a caminho com eles, ensinando-nos a encontrar a verdadeira felicidade sobre o alicerce do amor puro e do perdão sem limites.” (Trechos do livro Pensamento e Vida – Culpa) Helvídio sentiu-se culpado, doeu-lhe a desventura da filha, doeu-lhe a partida da esposa, doeu-lhe saber-se responsável e, ao mesmo tempo, impotente para agir e reparar. Como caminhamos? Reconhecemos em nossas existências traços de culpa de ações desta ou de outras vidas? O quanto deste sentimento que adentra na vida de Helvídio também é realidade em nossos corações?

Uma das coisas que mais me tocou ao estudar o livro Paulo e Estevão foi a capacidade de Paulo de perdoar-se, seguir em frente e fazer o melhor, o seu melhor. Reconhecia-se pecador, mas sem o sentimento de auto-piedade tão comum em nossos dias. Em nossa jornada, caminhamos da melhor forma possível, dentro de nossa condição evolutiva e reconhecer isto é oportunidade de usufruir de paz e alegria, vindas do Cristo Jesus. O texto de Emmanuel, do livro Pensamento e Vida, nos afirma que devemos buscar o ensino do mestre esforçando-nos para a reconciliação com nossos adversários. Importante, também, é percebemos quando nos colocamos na posição de opositores de nós mesmos, massacrados pela culpa, agimos em detrimento de nossa vida, de nossa saúde, de nossa felicidade. Eis a descrição de uma alma que sofre, Helvídio padecia só: “Sentindo-se profundamente desamparado, era qual árvore frondosa, singularmente insulada na planície extensa da vida. Enquanto mantinha a seu lado as outras companheiras, podia suportar os furacões violentos que desciam dos montes, mas, destruídos os troncos próximos, cuja presença a fortalecia, era agora incapaz de resistir aos ventos mais leves dos vales obscuros da dor e do destino.” Era a culpa sendo alimentada por uma alma que desconhecia Jesus, a videira verdadeira da qual somos os ramos. E é precisamos que sondemos nossas vidas e corações a fim de que saibamos o que nos move e o que nos faz viver. É comum vermos pessoas que correm atribuladas, cheias de deveres e atividades. Será que é isto que o Cristo espera delas? Será isto que o Cristo espera de mim? Quando me torno uma pessoa irritada e inquieta, busco rever minha postura diante de tudo o que estou realizando a fim de que identifique o que realmente é trabalho e o que é fuga. Fugimos da culpa, fugimos de nossa consciência que nos alerta quando vamos para caminhos equivocados, é preciso que tenhamos atenção para não encerrarmos esta jornada sem rever nossos sentimentos verdadeiramente. Helvídio tentou este caminho. Correu o mundo em busca de Célia, para “alívio da consciência”. Mas eis que o alívio viria apenas quando ele finalmente fosse capaz de se perdoar e seguir em frente. Emmanuel diz, no livro Pronto Socorro, que o sofrimento é a terapia de Deus destinada a erradicar a culpa. Assim, se sofremos, precisamos ir ao encontro desta terapia divina, aceitando a cura, que é perdoar-se e perdoar. Há uma música que canto há muitos anos que diz assim: “calmo, sereno e tranquilo, sinto descanso neste viver, isto eu devo a um amigo e só por ele eu pude obter. Ele é Jesus, meu amigo, meu Senhor, o Salvador...”

Quando Jesus nos diz que ele é a videira e nós os ramos, ele nos está dizendo para que deixemos de tentar ser árvore, para que deixemos de tentar andar sozinhos. Vejam que o próprio Emmanuel usou esta descrição para mostrar o estado íntimo de Helvídio: “Sentindo-se profundamente desamparado, era qual árvore frondosa, singularmente insulada na planície extensa da vida”. Jesus é nosso irmão mais velho, preparado para chuvas e tempestades mais fortes, está ao nosso lado para nos amparar quando a escola dor tornar-se forte demais para prosseguirmos sozinhos. Helvídio precisava de auxílio deste irmão mais velho, assim como eu, como todos nós, também necessitamos. Eis a hora de nos reconhecermos frágeis e carecedores do auxílio do Mestre. Apenas assim sentiremos este viver calmo, sereno e tranquilo, eis que teremos uma árvore frondosa a nos fornecer a seiva do caminho, da verdade e da vida. Jesus é bom e zela por nós, disse-nos que era como um pastor que não deixa nenhuma ovelha se perder. Assim é que vemos Helvídio recebendo a visita de um amigo, que lhe falou novamente da Boa Nova trazida por Jesus, convidou-o para participar de reuniões a fim de consolar a sua alma que tanto sofria e falou-lhe de um ser que espelhava em sua vida os mais belos ensinamentos do Cristo, um monge franzino chamado Irmão Marinho, que mais a frente Helvídio descobriria ser sua filha amada, Célia. “Ainda hoje, lá está ele, franzino e humilde como uma flor do Céu, inaclimatável entre as urzes da Terra... Trata-se do Irmão Marinho, que, nos arredores de Alexandria, constitui uma bênção de Jesus, permanente e divina, para todas as criaturas.. Imagem do bem, personificação da perfeita caridade evangélica, vi-o curar leprosos e paralíticos, restituir esperanças e fé aos mais tristes e mais empedernidos! Ao seu tugúrio miserável acorrem multidões de aflitos e desamparados, que o venerável apóstolo do Cordeiro reanima e consola com as lições profundas de amor e de humildade! Depois de peregrinar pelas sendas mais escuras, tive a dita de encontrar a sua palavra carinhosa e benevolente, que me despertou para Jesus, dos negrores do meu destino !... Sentindo-lhe a profunda sinceridade, Helvídio Lucius interrogou ansioso : - E esse homem extraordinário recebe a todos indistintamente ?... - Todas as criaturas lhe merecem atenção e amor.”

Assim, nesta trajetória de dores e lutas humanas, eis o Cristo intervindo, reparando, curando. Estes corações irão se reencontrar mais a frente e teremos a oportunidade de aprender belíssimas lições. Fica, porém, registrado o início da jornada que levou Helvídio ao Cristo, reconhecendo que a sua vida é um exemplo de profunda reflexão que nos remete a nós mesmos e nos permite que também procuremos por este amor sem medida, esta paz sem igual. Se hoje a dor bate a nossa porta, tenhamos, também, a certeza de que o amor logo vem. Encerramos o estudo desta semana com reflexão do livro Segue-se, que comenta um versículo do capítulo 15 do Evangelho de João:

“"Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos." - Jesus. (JOÃO, 15:8.) Em nossas aflições, o Pai é invocado. Nas alegrias, é adorado. Na noite tempestuosa, é sempre esperado com ânsia. No dia festivo, é reverenciado solenemente. Louvado pelos filhos reconhecidos e olvidado pelos ingratos, o Pai dá sempre, espalhando as bênçãos de sua bondade infinita entre bons e maus, justos e injustos. Ensina o verme a rastejar, o arbusto a desenvolver-se e o homem a raciocinar. Ninguém duvide, porém, quanto à expectativa do Supremo Senhor a nosso respeito. De existência em existência, ajuda-nos a crescer e a servi-Lo, para que, um dia, nos integremos, vitoriosos, em seu divino amor e possamos glorificá-Lo. Nunca chegaremos, contudo, a semelhante condição, simplesmente através dos mil modos de coloração brilhante dos nossos sentimentos e raciocínios. Nossos ideais superiores são imprescindíveis, e no fundo assemelham-se às flores mais belas e perfumosas da árvore. Nossa cultura é, sem dúvida, indispensável, e, em essência, constitui a robustez do tronco respeitável. Nossas aspirações elevadas são preciosas e necessárias, e representam as folhas vivas e promissoras. Todos esses requisitos são imperativos da colheita. Assim também ocorre nos domínios da alma. Somente é possível glorificar o Pai quando nos abrimos aos seus decretos de amor universal, produzindo para o bem eterno. Por isso mesmo, o Mestre foi claro em sua afirmação. Que nossa atividade, dentro da vida, produza muito fruto de paz e sabedoria, amor e esperança, fé e alegria, justiça e misericórdia, em trabalho pessoal digno e constante, porquanto, somente assim o Pai será por nós glorificado e só nessa condição seremos discípulos do Mestre Crucificado e Redivivo.” Que a doce paz de Jesus nos alcance. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 01.05.2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 6a

“Quem ama aceita os outros sem mudar-lhes a vida. A abelha colhe o mel sem alterar a flor. Amor e sacrifício são as marcas de Deus.” Emmanuel

Iniciamos nova etapa do estudo do livro 50 anos depois, buscando nos capítulo de número 06, primeira e segunda parte, lições morais para as nossas vidas e aprendizados que nos clarifiquem o entendimento na senda evolutiva. No capítulo 06 da primeira parte, encontramos a narrativa de que Nestório encontrava-se preso e é visitado por Helvídio Lucius, que não obstante a profunda amizade e respeito que lhe dirigia, indignava-se com o fato de ser cristão, agravando-se o fato com a notícia de que era pai de Ciro, a quem Helvídio detestava pelas histórias passadas com Célia. É um diálogo duro, profundo e cheio de significados o que travam Helvídio e Nestório. Recordemos que no início do livro Emmanuel nos noticia que os mesmos estiveram juntos em encarnação anterior, presos pelos rebeldes judeus, como Pompílio Crasso, morto, e Públio Lentulus, cego, recordemos o prefácio: “De todas as personagens do "Há Dois Mil Anos. . . ", um contínuo aqui se encontra, junto de outras figuras do mesmo tempo, como Policarpo, embora não relacionado nominalmente no livro anterior, companheiro esse que, pelos laços afetivos, se lhe tornara um irmão devotado e carinhoso, pelas mesmas lutas Políticas e sociais. A Roma de Nero e de Vespasiano. Quero referir-me a Pompilio Crasso, aquele mesmo irmão de destino na destruição de Jerusalém, cujo coração palpitante lhe fora retirado do peito por Nicandro, às ordens severas de um chefe cruel e vingativo. Pompílio Crasso é o mesmo Helvídio Lucius destas páginas, ressurgindo no mundo para o trabalho renovador e, aludindo a um amigo dedicado e generoso, quero dizer-te que este livro não foi escrito de nós e por nós, no pressuposto de descrever as nossas lutas transitórias no mundo terrestre.”

Vemos assim que estas vidas estavam entrelaçadas pelo correr dos séculos e das muitas vidas e, ainda, que a carne lhes impusesse o véu do esquecimento, sentiam-se atraídos pela afinidade que a amizade de outrora lhes inspirava. Com esta percepção podemos ver o quanto lhes doía a alma a situação em que se encontravam. Nestório diante de um amigo que lhe concedera a liberdade e lhe confiara a educação das filhas e Helvídio, diante de um homem a quem queria bem, não obstante a luta interior com o orgulho da raça e o preconceito que imperava contra os cristãos. Eis, então, o pedido de Helvídio: “Não desejarás, porventura, abjurar uma fé que nada te facultará a não ser a morte infamante pelos suplícios mais atrozes?” E a resposta de Nestório é o ponto chave de nossas reflexões hoje: “- Senhor - acudiu o liberto invocando todas as suas energias para não fracassar no testemunho -, minha gratidão pelo vosso interesse generoso há-de ser eterna! Vossas palavras me sensibilizam todas as fibras do coração!. . Ouvindo-vos, sinto que deveria seguir vossos passos com humildade e submissão, através de todos os caminhos; mas, é também por amor que não posso ceder em minha fé, à própria tentação da liberdade !... Jesus exerce em mim um jugo divino e suave... Embora vos ame, senhor, não posso trair a Jesus nas atuais circunstâncias de minha vida... Se o Mestre de Nazaré deixou que o imolassem na cruz, puro e inocente, pela redenção de todos os pecadores deste mundo, porque me haveria de escusar ao sacrifício, quando me sinto cheio da lama do pecado? Jamais poderei, em consciência, abjurar uma fé que constituiu a luz de minhalma, por toda a vida!.. A morte não me atemoriza, porque, além do martírio e do sepulcro, esplende uma alvorada imortal para o nosso espírito!” Será que somos capazes de entender este ânimo dos primeiros mártires que entregam a própria vida para afirmar a fé na boa nova trazida pelo Cristo Jesus? Haveria mesmo a necessidade de morrer? Não seria mais fácil abjurar e continuar com as reuniões secretas? Famílias ficaram sem pai, crianças tornaram-se órfãs, o que ia no coração destas pessoas para tamanho sacrifício? Eis, então, uma resposta simples para algo grandioso, dito por Nestório: “é também por amor que não posso ceder em minha fé” O amor vai muito além das palavras, ele pede a exemplificação coerente e reta que muitas e muitas vezes se reveste de sacrifício. O mundo carece destes exemplos e, talvez, ainda não tenha sido evangelizado porque os homens ainda estão muito mais afeitos à palavra que ao exemplo. Enchem-se auditórios, aplaudem-se grandes oradores, mas onde entra o amor e o sacrifício que não deixa dúvidas quanto ao que se crê e em quem se crê? É muito mais fácil parecer cristão no mundo das idéias do que o ser onde Deus nos colocou para viver, no seio familiar, no trabalho, e na comunidade em que se está inserido.

Nestório disse a Helvídio que não poderia renegar a sua fé pelo muito amor que recebia do Cristo, não podia renegar a sua fé pela luz que lhe iluminava em seu caminhar. A grande questão que nos surge ao ver o exemplo de Nestório é refletir sobre o nosso papel hoje, como cristãos, como espíritas. O que nos é requerido hoje? Quais as lutas e as adversidades que se nos atravessam o caminho e que precisam ser transpostas? Algo mudou em relação a ser cristão? Ou, ainda, o amor é nossa bandeira de luz? Pois há uma mensagem de Santo Agostinho na Revista Espírita de abril de 1862 que trata do Mártir Espírita e a reproduzo em sua inteireza, pela riqueza e oportunidade de refletirmos sobre a nossa conduta: “Pedistes milagres e hoje pedis mártires! Já existem os mártires do Espiritismo: entrai nas casas e os vereis. Exigis perseguidos: abri, pois, o coração desses fervorosos adeptos da ideia nova, que lutam contra os preconceitos, com o mundo, muitas vezes até com a família! Como seus corações sangram e se enchem quando seus braços se estendem para abraçar um pai, uma mãe, um irmão ou uma esposa e não recebem, como paga de suas carícias e de seus transportes, senão sarcasmos, sorrisos de desdém e desprezo! Os mártires do Espiritismo são os que, a cada passo, ouvem estas palavras insultuosas: louco, insensato, visionário!… e durante muito tempo terão de suportar essas afrontas da incredulidade e outros sofrimentos ainda mais amargos; mas a sua recompensa será bela, porque se o Cristo mandou preparar um lugar soberbo para os mártires do Cristianismo, o que prepara aos mártires do Espiritismo será ainda mais brilhante. Mártires do Cristianismo na infância, marchavam para o suplício com coragem e resignação, porque não contavam sofrer senão dias, horas e segundos do martírio, aspirando depois a morte como única barreira a transpor para viver a vida celeste. Os mártires do Espiritismo não devem buscar nem desejar a morte; devem sofrer tanto tempo quanto praza a Deus deixá-los na Terra, e não ousam julgar-se dignos dos puros gozos celestes logo que deixam a vida. Oram e esperam, murmurando palavras de paz, de amor e de perdão aos que os torturam, enquanto aguardam novas encarnações nas quais poderão resgatar suas faltas passadas. O Espiritismo se elevará como um templo soberbo. No começo os degraus serão difíceis de subir; mas, transpostos os primeiros degraus, os bons Espíritos ajudarão a vencer os outros até um lugar plano e reto que conduz a Deus. Ide, ide, filhos, pregar o Espiritismo! Pedem mártires: vós sois os primeiros que o Senhor marcou, pois sois apontados a dedo e tratados como loucos e insensatos, por causa da verdade! Mas, eu vo-lo digo, em breve vai chegar a hora da luz; então, não mais haverá perseguidores nem perseguidos: sereis todos irmãos e o mesmo banquete reunirá opressores e oprimidos!”

Ainda hoje, não responder a uma ofensa, não agir movido por interesse pessoal ou até mesmo auxiliar a quem padece são atitudes mal compreendidas pela sociedade. Caminhamos

como nos diz Santo Agostinho? Orando e esperando? Murmuramos palavras de paz, amor e perdão? Queremos elevar o espiritismo, mas para isso ele pede de nós testemunhos de vida, silenciosos, incógnitos, distantes dos aplausos que promovem a vaidade, filha do orgulho. O Cristo espera por nós, como esperava por Nestório e Ciro, nas esferas mais sublimes. A questão é sabermos para onde vai o nosso caminhar. Diz-nos o espírito Lázaro, também na Revista Espírita de 1862 que: “Quando o Cristo veio destruir o costume bárbaro dos sacrifícios, quando veio proclamar a igualdade e a fraternidade entre a túnica proletária e a toga patrícia, os altares ainda vermelhos fumegavam o sangue das vítimas imoladas; os escravos tremiam ante os caprichos do senhor e os povos, ignorando sua grandeza, esqueciam a justiça de Deus. Nesse estado de rebaixamento moral, as palavras do Cristo teriam sido impotentes e desprezadas pela multidão, se não tivessem sido gritadas pelas suas chagas é tornadas sensíveis pela carne palpitante dos mártires. Para ser cumprida, a misteriosa lei das semelhanças exigia que o sangue derramado pela ideia resgatasse o sangue derramado pela brutalidade. Hoje, os homens pacíficos ignoram as torturas físicas. Só o seu ser intelectual sofre, porque se debate, comprimido pelas tradições do passado, enquanto aspira novos horizontes. Quem poderá descrever as angústias da geração presente, suas dúvidas pungentes, suas incertezas, seus ardores impotentes e sua extrema lassidão? Inquietos pressentimentos dos mundos superiores, dores ignoradas pela antiguidade material, que só sofria quando não gozava; dores que são a tortura moderna e que transformam em mártires aqueles que, inspirados pela revelação espírita, crerão e não serão acreditados, falarão e serão censurados, marcharão e serão repelidos. Não desanimeis; vossos próprios inimigos vos preparam uma recompensa tanto mais bela quanto mais espinhos houverem semeado em vosso caminho.” Qual a misteriosa lei de semelhança que hoje nos pede o exemplo contrário a fim de que exemplifiquemos aos corações o que a mente está fechada para entender? Qual exemplo prático que é necessário em nossos dias a fim de que a verdade do Cristo mantenha-se firme e prossiga sendo divulgada através das vidas dos seus seguidores? Já não temos mais fogueiras ou feras, as dores de outrora que atuaram no campo físico, hoje atuam em nossas mentes e corações. Não olvidemos, porém, que o chamado continua o mesmo e está na simples resposta de Nestório: ““é também por amor que não posso ceder em minha fé”. Amor ao Cristo, mas também amor aos nossos semelhantes e aos que Deus nos permitiu a convivência nesta vida. Emmanuel traz-nos belíssima reflexão sobre o papel do Espiritismo, o Consolador enviado por Jesus para relembrar a humanidade de seus ensinamentos. Assim, encerramos estas singelas reflexões, recordando o exemplo de Nestório ante o sacrifício de morrer por amor do Cristo, sabedores, porém, que hoje ainda o Cristo espera de nós o amor e a abnegação de outrora. A lição é do livro Segue-se e intitula-se Sem Ruídos:

“"Mas quando vier aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará em toda a verdade". - Jesus (João, 16:13) O caminho de toda a Verdade é Jesus Cristo. O Mestre veio ao mundo instalar essa verdade para que os homens fossem livres e organizou o programa dos cooperadores de seu divino trabalho, para que se preparasse convenientemente o caminho infinito. No fim da estrada colocou a redenção e deu as criaturas o amor como guia. Conforme sabemos, o guia é um só para todos. E vieram os homens para o serviço divino. Com os cooperadores vinham, porém, os gênios sombrios, que se ombreavam com eles nas cavernas da ignorância. A religião, como expressão universalista do amor, que é o guia, pairou sempre pura acima das misérias que chegaram ao grande campo; mas este ficou repleto das absurdidades. O caminho foi quase obstruído. A ambição exigiu impostos dos que desejavam passar, o orgulho reclamou a direção dos movimentos, a vaidade pediu espetáculos, a conveniência requisitou mascaras, a política inferior estabeleceu guerras, a separatividade provocou a hipnose do sectarismo. O caminho ficou atulhado de obstáculos e sombras e o interessado, que e o espírito humano, encontra óbices infinitos para a passagem. O quadro representa uma resposta a quantos perguntarem sobre os propósitos do Espiritismo cristão, sendo que o homem já conhece todos os deveres religiosos. Ele e aquele Espírito de Verdade que vem lutar contra os gênios sombrios que vieram das cavernas da ignorância e invadiram o campo do Cristo. Mas, guerrear como: Jesus não pediu a morte de ninguém. Sim, o Espírito de Verdade vem como a luz que combate e vence as sombras, sem ruídos. Sua missão é transformar, iluminando o caminho para que os homens vejam o amor, que constitui o guia único para todos, ate a redenção.” Que tenhamos espírito de amor e sacrifício, aprendendo a cada dia a doar-nos um pouco mais para que a boa nova de Jesus possa ressurgir em muitos corações. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 08.05.2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 6b

“Jesus descia sobre o meu Horto… Estrelas lindas no céu brilharam, Voltou-me o riso, já quase morto. E a sua boca falou tão doce, Como se a corda de uma harpa fosse: Filha adorada que o teu gemido Ergueste n’asa de uma oração, Na treva escura sempre envolvido, Por que soluça teu coração? Levanta os olhos para o meu rosto, Que à vista dele foge o Desgosto. Não tenhas medo do sofrimento. Ele é a escada do Paraíso… Contempla os astros no firmamento, Doces reflexos de meu sorriso. Não pensa em dores nem canta mágoas A garça nívea fitando as águas. Sigo-te os passos por toda parte, Vivo contigo como um irmão. Acaso posso desamparar-te Quando me trazes no coração? Nas oliveiras do mesmo Horto, Enquanto orares, terás conforto.” Auta de Souza (Horto) Continuando nossos estudos do livro 50 anos depois, encontraremos no capítulo 06 da segunda parte o encontro de Helvídio com o Irmão Marinho, personalidade assumida por Célia, sua filha, ao encaminhar-se ao mosteiro. O capítulo intitulasse O Horto de Célia e é muito significativo este título.

Se passarmos rapidamente por este título podemos pensar que trata-se apenas do lugar em que Célia cultivava suas plantas, cuidava de alguns animais e seguia sua vida. Mas se buscarmos no dicionário o significado da palavra HORTO e nos debruçarmos um pouco sobre as lições morais deste capítulo, eis que teremos a oportunidade de avançar para um significado também espiritual: “Segundo a Bíblia é Jardim, onde sepultaram a Jesus; "E havia um horto naquele lugar onde fora crucificado e, no horto um sepulcro novo ... "Ev. de João cap 20:14;

Se para a Bíblia, o horto é o lugar onde Jesus nos ofereceu o maior sacrifício de amor que a humanidade já conheceu, ao intitular o lugar onde Célia vivia como Horto, talvez Emmanuel quisesse nos alertar que naquele lugar também existia amor e sacrifício, que naquele lugar existia um espírito que, seguindo os passos do Mestre Jesus, também estaria apto a nos exemplificar algo. Partindo desta pergunta, fomos ao encontro das lições do livro. Helvídio perdera toda a esperança e buscava agora algum consolo no cristianismo. Ouve falar de um homem que a todos encantava com sua simplicidade e generosidade. Encontra o Irmão Marinho: “- Cheguei ao Cristianismo qual náufrago, após as mais ásperas derrotas do mundo ! Sinto que o Divino Mestre endereçou à minha alma todos os apelos suaves da sua misericórdia; no entanto, eu estava surdo e cego, no âmbito de lamentáveis desvarios. Foi preciso que uma hecatombe desabasse em meu lar e sobre o meu destino, para que no fragor da tempestade destruidora, conseguisse romper as muralhas que me separavam da nítida compreensão dos novos ideais florescentes para a mentalidade e o coração do mundo. Jamais confiei a alguém os episódios pungentes da minha vida, mas sinto que vós, apóstolo de Jesus e seguidor do Mestre na exemplificação do bem, podereis compreender minha existência, ajudando-me a raciocinar evangelicamente, para que cumpra os meus deveres nestes últimos dias de atividade terrena. Nunca, em parte alguma, deixei de experimentar uma tal ou qual dúvida que me desconsola; aqui, porém, sem saber porquê, experimento uma tranquilidade desconhecida. Julgo dever confiar em vós, como em mim mesmo !. Há muito, sinto necessidade de um conforto direto, e somente a vós confio as minhas chagas, na expectativa de um auxílio carinhoso e fraterno!.” Não é preciso ir muito longe com o pensamento para imaginar como Célia se sentia diante do pai, ainda mais depois destas confissões tão cheias de dor e sentimento. Certamente todo o seu ser desejava a ventura do abraço e a imediata reconciliação com pai. Mas não foi isto que ocorreu, primeiro veio o amor, depois veio o que ela queria. Célia silenciou, ouviu o pai, sentiu suas dores e entregou aquele momento a Jesus, para que ele a direcionasse da melhor forma. Silenciou quanto a sua dor, a sua ânsia, o seu querer.

Se olharmos para Jesus ante o Sinédrio veremos que houve ali, também, um silenciar. Jesus respondeu algumas poucas perguntas, sem contudo guardar nenhum ânimo de convencer aqueles homens a fazerem algo diferente do que intentavam fazer. Qual a razão? Compreendemos o silêncio de Célia? Por qual razão ela calou-se quanto a ser filha de Helvídio no primeiro encontro que tiveram? Por que isto era necessário? Vejamos um trecho do livro: “Desejou revelar-se ao pai, beijar-lhe as mãos encarquilhadas, dizer-lhe do seu júbilo em reencontrá-lo no mesmo caminho que a conduzia para Jesus... Quis afirmar que o amara sempre e olvidara o passado de prantos dolorosos, a fim de poderem ambos elevar-se para o Senhor, na mesma vibração de fé, mas uma força misteriosa e incoercível paralisava-lhe o ímpeto.” Não tenho a pretensão de responder a estes questionamentos…estes momentos da vida falam muito mais ao coração que a razão. Justificar não será o melhor caminho, é preciso observar o que segue, o que acontece depois com as vidas das pessoas que presenciam e são atingidas por estes atos de amor e sacrifício. Existem alguns momentos em nossas vidas em que não estamos aptos a ouvir a verdade sem sucumbir diante dela. Helvídio, talvez, em sabendo da verdade naquele momento cairia num sentimento de dor e culpa, sua alma necessitava de experiências no bem para afagar um pouco estes sentimentos que lhe massacravam o ser. E este foi o caminho que o Irmão Marinho lhe indicou, o caminho da fraternidade, do exercício do bem, do burilamento da alma através do serviço ao próximo. “Conheço Roma e o turbilhão de suas misérias angustiosas. Ao lado das residências nobres das Carinas, dos edifícios soberbos do Palatino e dos bairros aristocráticos, há os leprosos da Suburra, os cegos do Velabro, os órfãos da Via Nomentana, as famílias indigentes do Trastevere, as negras misérias do Esquilino !.. Estendei vosso braço às filhas dos pais anônimos, ou dos lares desprotegidos da fortuna !... Abracemo-nos com os miseráveis, repartamos nosso pão para mitigar a fome alheia ! Trabalhemos pelos pobres e pelos desgraçados, pois a caridade material, tão fácil de ser praticada, nos levará ao conhecimento da caridade moral que nos transformará em verdadeiros discípulos do Cordeiro. Amemos muito !.. Todos os apóstolos do Senhor são unânimes em declarar que o bem cobre a multidão de nossos pecados! Toda vez que nos desprendemos dos bens deste mundo, adquirimos tesouros do Alto, inacessíveis ao egoísmo e à ambição que devoram as energias terrestres. Convertei o supérfluo de vossas possibilidades financeiras em pão para os desgraçados. Vesti os nus, protegei os orfãozinhos! Todo o bem que fizermos ao desamparado constitui moeda de luz que o Senhor da Seara entesoura para nossa alma. Um dia nos reuniremos na verdadeira pátria espiritual, onde as primaveras do amor são infindáveis. Lá, ninguém nos perguntará pelo que fomos no mundo, mas seremos inquiridos sobre as lágrimas que enxugamos e as boas ou más ações que praticamos na estância terrena.”

Célia demonstrou um profundo amor por seu pai ao tomar tal atitude. Permitiu-lhe trilhar um caminho de redenção que lhe ensinaria sobre o amor universal. Saber naquele instante que o Irmão Marinho era em realidade sua própria filha era o que suas almas mais desejavam, mas não era o que mais necessitavam. Para Helvídio, o aprendizado de um novo caminhar, para Célia, mais uma oportunidade de servir a Jesus, renunciando a si mesma em prol da ascensão espiritual de seu amado pai. Eis o amor com suas lições insondáveis. Recordando que estudamos o livro 50 anos depois sob as luzes do Evangelho de João, encontraremos no capítulo 16 a conversa de Jesus com seus discípulos, preparando-os para a sua partida, sem, porém assombrá-los ou atormentálo, usando também do silêncio em relação ao grande sacrifício a que seria levado. Em especial, temos o versículo 22 a nos oferecer preciosa lição: “Assim, vós também agora, tendes tristeza, mas vos verei novamente e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém tira de vós.” Pensando em dores e tristezas que nos acolhem em nosso caminhar, recordando dos discípulos de Jesus que muito sofreram em seu nome, olhemos para Helvídio que sentia a solidão e as dores da vida a lhe envolverem o coração. Buscava a renovação, acreditando ser Célia a resposta, mas eis que ela lhe oportuniza o aprendizado de que devemos buscar Jesus, buscar o amor, o trabalho abnegado ao próximo, só assim alcançaremos o reino de paz, alcançaremos esta alegria que Jesus anuncia aos discípulos, a alegria que não pode ser retirada, eis que vive em nós, dentro de nós. Helvídio prosseguiu sua jornada, viveu outras vidas, teve experiências e, pela psicografia de Chico Xavier, através do espírito Cnéio Lucius (Artur Joviano), encontramos no livro Sementeiras de Luz uma relevante informação. Aquele lugar onde Chico recebeu maravilhosos livros e que hoje é centro de peregrinação de muitos que lhe querem conhecer o trabalho e sentir as fraternas vibrações, a Fazenda Modelo, recebeu um nome muito carinhoso pela espiritualidade, chamava-se Horto de Helvídio, demonstrando-nos que se outrora conhecera Jesus na sua mais bela expressão no Horto de Célia, chegara a sua vez de amar, renunciando a si mesmo, para que muitos lhe aproveitassem o exemplo e adentrassem neste reino de amor e paz. Eis o trecho do livro Sementeiras de Luz: “Se tudo passa na Terra, se aí não somos senhores de coisa alguma, porque todos os patrimônios pertencem a Deus, sou muito feliz verificando que o pequeno lugar que denominamos, temporariamente, Horto de Helvídio, há produzido tantos benefícios espirituais, imitando aquele outro horto do passado, que ficou a distância. É certo que todas as paisagens e coisas da Terra se modificam na passagem incessante do tempo. Como o Horto de Célia, o Horto de Helvídio terá de passar um dia, mas as expressões materiais que passam na luz e no amor elevam-se ao Infinito para constituírem a nossa paisagem da Eternidade, nos perenes caminhos evolutivos. Que Deus os abençoe, meus filhos.”

Que todos aproveitemos estes exemplos sublimes de amor e sacrifício, construindo também em nossos lares, mas sobretudo em nossos corações, um Horto que produza benefícios espirituais e nos remeta ao exemplo sublime de Jesus. Encerramos, assim, estas singelas reflexões com um texto de Emmanuel, que consta no livro Caminho, Verdade e Vida e que comenta o versículo de João, capítulo 16, a que acima nos referimos, auxiliando-nos a entender que as tristezas de hoje se converterão em alegrias imorredouras para o nosso espírito imortal. ALEGRIA CRISTÃ “Mas a vossa tristeza se converterá em alegria.” Jesus (JOÃO, 16: 20) Nas horas que precederam a agonia da cruz, os discípulos não conseguiam disfarçar a dor, o desapontamento. Estavam tristes. Como pessoas humanas, não entendiam outras vitórias que não fossem as da Terra. Mas Jesus, com vigorosa serenidade, exortava-os: “Na verdade, na verdade, vos digo que vós chorareis e vos lamentareis; o mundo se alegrará e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converter á em alegria.” Através de séculos, viu-se no Evangelho um conjunto de notícias dolorosas — um Salvador abnegado e puro conduzido ao madeiro destinado aos infames, discípulos debandados, perseguições sem conta, martírios e lágrimas para todos os seguidores... No entanto, essa pesada bagagem de sofrimentos constitui os alicerces de uma vida superior, repleta de paz e alegria. Essas dores representam auxílio de Deus à terra estéril dos corações humanos. Chegam como adubo divino aos sentimentos das criaturas terrestres, para que de pântanos desprezados nasçam lírios de esperança. Os inquietos salvadores da política e da ciência, na Crosta Planetária, receitam repouso e prazer a fim de que o espírito chore depois, por tempo indeterminado, atirado aos desvãos sombrios da consciência ferida pelas atitudes criminosas. Cristo, porém, evidenciando suprema sabedoria, ensinou a ordem natural para a aquisição das alegrias eternas, demonstrando que fornecer caprichos satisfeitos, sem advertência e medida, às criaturas do mundo, no presente estado evolutivo, é depor substâncias perigosas em mãos infantis. Por esse motivo, reservou trabalhos e sacrifícios aos companheiros amados, para que se não perdessem na ilusão e chegassem à vida real com valioso patrimônio de estáveis edificações. Eis por que a alegria cristã não consta de prazeres da inconsciência, mas da sublime certeza de que todas as dores são caminhos para júbilos imortais. Que Jesus nos guarde em sua doce paz. Abraços fraternos. Campo Grande-MS, 14.05.2016 Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 6c

“A morte é uma viagem que nos é imposta por Deus e para a qual o homem do mundo nunca está preparado. Pobre de mim! Minha bagagem é muito pobre e muito pouca, e somente agora vejo que podia ter edificado mais no terreno das ações definitivas. Sinto-me muito fraco e muito abatido. Não sei ver claro em minha situação. Tenho recebido aqui os primeiros socorros espirituais…” Carta de Virgilio Machado (espírito) endereçada a Rômulo Joviano, pelas mãos de Chico Xavier em 13.12.1939.

As noticias dos espíritos nos falando da vida após a morte são uma fonte importante de reflexão e conhecimento. Afinal, como encarar a morte? É o fim? É um começo? Estamos prontos? Poucos, pouquíssimos estão prontos...seja quem parte ou quem fica, este, ainda, é um assunto que provoca dor... Com Célia não foi diferente, recebera Ciro como filho do coração por duas vezes, e em ambas ele teve uma vida rápida, desencarnando ainda na infância, não obstante seus reiterados cuidados. A ausência do afeto de seu coração provocou-lhe enorme tristeza, como encontramos no relato do capitulo 06 da segunda parte: “O pequeno enjeitado de Brunehilda, depois de lhe suavizar a soledade, por alguns anos, com os seus carinhos e sorrisos, havia falecido, deixando-a amargurada e abatida mais que nunca. Impressionada com o acontecimento, Célia deprecara fervorosamente e, uma noite, quando se entregava à solidão de suas preces e meditações, divisou a seu lado o vulto de Cneio Lucius, contemplando-a com infinita ternura.” “Amargurada e abatida, mais que nunca”... se para Célia, um espírito que conduzia-se mediante a fé no Cristo, a partida de um ente amado era difícil, imagine para nós outros que ainda associamos a tais sentimentos a dúvida, a desesperança e o desespero? Mas eis que nossa benfeitora novamente nos ensina o caminho, a prece sincera que evoca as forças do bem que seguem a serviço de Jesus em busca de consolo e amparo: “Célia deprecara fervorosamente”.

E é atendida, seu avô vem lhe dizer palavras ao coração, palavras de consolo, amor, esperança. Antes, porém, de irmos ao texto de Cnéio Lucius, pensemos um pouco: que palavras temos levado a quem perde um ente querido? São consoladoras? Tenho presenciado dizeres desastrosos em profundo desrespeito ao luto de quem vê um ser amado partir. Se o cidadão for espírita, precisa ficar calmo e tranquilo, para “não fazer mal ao espírito”, sem dúvida há muita verdade nesta frase, mas será que é a hora de ser dita? Coloque-nos por um instante no lugar da pessoa e encontraremos a resposta. Feito um pequeno parênteses, ouçamos Cnéio Lucius a fim de aprender com o seu falar: “- Filha querida, não te magoe essa nova separação do ser idolatrado! Prossegue na tua fé, cumprindo a missão divina que o Senhor houve por bem deferir à tua alma sensível e generosa! Depois de perfumar, por alguns anos, a tua senda terrena, o Espírito de Ciro volve de novo ao além para saturar-se de forças novas ! Não desanimes pela saudade que te punge o coração sensibilíssimo, pois nossa alma semeia o amor na Terra para vê-lo florir nos Céus, onde não chegam as tristes inquietações do mundo !... Além do mais, Ciro tem necessidade dessas provações, que lhe hão de temperar a vontade e o sentimento para os gloriosos feitos do seu porvir espiritual!...” Para toda dor há um propósito e, ainda que nos seja desconhecido, a doutrina espírita nos certifica, exaustivamente, que a Lei Divina atua sempre pelo nosso bem, pelo nosso crescimento e para nossa evolução. Então, a ordem é prosseguir, prosseguir sem mágoa...é isto é muito importante. Muitas vezes ocultamos a mágoa por Deus ter permitido que tamanho sofrimento nos alcançasse. Perdoem uma interferência pessoal, mas falar de algo tão profundo requer também um dizer amparado na experiência. Meu irmão desencarnou aos 18 anos, um rapaz exemplar, estudioso, trabalhava desde os 14, cursava direito, liderava um grupo jovem religioso, enfim, seu currículo era muito bom e ele nos enchia de alegria e esperança. Eu contava com 14 anos quando ele partiu e desconhecendo a doutrina espírita na época, ao menos como encarnada, senti o mundo que eu conhecia desaparecer. Nossa querida mãe zelou desde cedo por nossa fé e tive a oportunidade de fazer uma oração, ainda na casa de uma amiga, logo após receber a notícia de que ele desencarnara. Lembro que ajoelhei num canto e disse a Deus: “Pai amado, não sei o que tu queres com tamanha dor que ora enfrentaremos, mas creio em ti e me submeto a tua vontade, dá-me força para amparar meus pais.”

Esta prece causou um efeito profundo em meu ser e a compartilho convosco não para lhes fazer parecer que sou um ser evoluído ou algo do gênero, tenham a certeza de que tenho mil defeitos a serem saneados, não amigos, não se trata de virtude ou de quem se é, mas de conhecer a Deus e saber que se pode contar com Ele para consolo, para uma profunda paz e para uma certeza perfeita de que tudo segue a ordem que Deus tem estabelecido para seus filhos. Deus nos ama de forma incondicional e sentir-se amado desta forma é uma experiência inigualável. Hoje, conhecendo a doutrina espírita um pouco melhor, consigo entender o valor daquela prece para a minha alma. Não havia como evitar a dor e o sofrimento, mas era possível passar por tudo aquilo recebendo o consolo amoroso do Pai. E recebi, senti-me amparada e fortalecida para as horas que se seguiram. E, de todas as lembranças que tenho daqueles dias cinzentos, posso lhes dizer que a certeza inabalável de que meu irmão estava bem, amparado, cuidado por Deus foi o que me moveu e me conduziu. Há no Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo V, um texto sobre a morte prematura, destaco o seguinte trecho: “Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu.” – Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de Paris. (1863.)

A jornada neste orbe de provas e expiações é por vezes dolorosa e Célia experimentou muitas dores, porém, o que deve sobressair aos nossos olhos e corações é que ela buscava em Deus o lenitivo, a cura, o consolo para que pudesse prosseguir a jornada. Mas a fé de Célia, não obstante o tempo em que vivia, não era uma fé isenta de raciocínio, ao contrário, queria entender, questionava e buscava o entendimento para as coisas que lhe ocorriam. Vejam este trecho: “- Não duvido de que todas as dores nos são enviadas por Jesus, a fim de aprendermos o caminho da redenção divina, mas, qual a razão dessas vidas temporárias de Ciro na Terra? Se ele tem chegado a viver no ambiente humano, ainda necessitado das experiências terrestres, porque vem a morte decepando as nossas esperanças? - Sim - replicou a entidade amorosamente -, são as leis da prova que regem os nossos destinos. - Mas Ciro, há alguns anos, não chegou a morrer pelo DivinoMestre, no martírio e no sacrifício? - Filha, entre os mártires do Cristianismo, há os que se desprendem do mundo em missão sacrossanta e os que morrem para os mais penosos resgates... Ciro é do número destes últimos... Em séculos anteriores, foi um déspota cruel, exterminando esperanças e envenenando

corações... Mergulhado depois na luta expiatória, renegou as dores santificantes e enveredou pela senda ignominiosa do suicídio. É justo, pois, que agora aprecie os benefícios da luta e da vida, na dificuldade de os readquirir para a sua redenção espiritual, ansiosamente colimada. As experiências fracassadas hão de valorizar o seu futuro de realizações e esforços nobilíssimos. Em face da dor e do trabalho, no porvir que se aproxima, seu coração amará todos os detalhes da luta redentora. Saberá prezar no trabalho ingente e doloroso os recursos sagrados da sua elevação para Deus, reconhecendo a grandeza do esforço, da renúncia e do sacrifício!...” Eis, amigos, a grande relevância de entendermos a lei divina atuando através dos tempos e das várias vidas. Ciro havia morrido pelo Cristo, porém, em suas vidas anteriores havia caminhado em desacordo com a lei maior e seu espírito necessitava depurar-se das faltas passadas. Temos, hoje, a doutrina espírita a nos trazer esclarecimentos profundamente consoladores e é chegada a hora de nos apossarmos destes conhecimentos que Célia, há quase 2000 anos experimentava. Sabia que trilhava um caminho de grandes dores e sofrimentos, mas diante de sua robusta fé, amparada em alicerces seguros, mostrou-nos que desde os primeiros tempos do cristianismo a fé raciocinada era fonte de esclarecimento e consolo. Célia depositava suas melhores esperanças nas promessas e nos exemplos redivivos do Cristo Jesus, assim como nós outros somos convidados hoje a apoiarmo-nos nele, conduzindonos no seu caminho de luz. Encerramos estas reflexões com um versículo de João, capítulo 16, comentado por Emmanuel no livro Palavras da Vida Eterna. “Tende bom ânimo; eu venci o mundo.” - Jesus (JOÃO 16:33) É importante enumerar algumas das circunstâncias difíceis em que se encontrava Jesus, quando asseverou perante os discípulos: “tende bom ânimo; eu venci o mundo”. Ele era alguém que, na conceituação do mundo, não passava de vencido vulgar. Sabia-se no momento de entrar em amarga solidão. Confessava que fora incompreendido pelos homens aos quais se propusera servir. Não ignorava que os adversários lhe haviam assaltado a comunidade em formação, através de um amigo invigilante. Dirigia-se aos companheiros, anunciando que eles próprios seriam dispersos. Falava, sem rebuços, da flagelação de que seria vítima. Via-se malquisto pela maioria, perseguido, traído. Não desconhecia que lhe envenenavam as intenções. Certificara-se de que as pessoas mais altamente colocadas eram as primeiras a examinar o melhor processo de confundi-lo. Percebera o ódio de que se tornara objeto, principalmente por parte daqueles que pretendiam açambarcar o nome de Deus, a serviço de interesses inferiores. Reconhecia-se a poucos passos da morte, a que se inclinaria, condenado sem culpa.

Entretanto ele dizia: “tende bom ânimo; eu venci o mundo”. Quanto te encontres em crise, lembra-te do Mestre. Subjugado, seria o conquistador inesquecível. Batido, passaria à condição de senhor da vitória. Assim ocorre, porque os construtores do aperfeiçoamento espiritual não estão na Terra para vencer no mundo, mas notadamente para vencer o mundo, em si mesmos, de modo a servirem ao mundo, sempre mais, e melhor. Que guardemos a firme convicção de que todo mal que hoje nos visita, será sempre porta para venturas futuras se permanecermos com Deus. Que Jesus nos conduza em sua doce paz. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 21.05.2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 7a

“Não é o êxito suscetível de sorrir-te na Terra, por alguns dias breves, a fonte de alegria real que procuras com os melhores anseios de coração, mas a paz de consciência, no dever bem cumprido, nas obrigações de cada dia. Busquemos ser, antes de aparentar e fazer, antes de instruir. A verdade espera nossa alma, em cada ângulo de caminho, dentro de nossa jornada para a frente. Assim, pois, construamos o nosso engrandecimento interior, porque, hoje ou amanhã, o Sol Divino projetará sobre nós a sua bendita claridade, revelandonos, à luz meridiana, tais quais somos.” André Luiz – Através do Tempo

Chegamos à última etapa do estudo do livro 50 anos depois e, sem sombra de dúvida, foi uma jornada de muito aprendizado. Comparamos capítulos, lições, buscamos as luzes do Evangelho de João que nos clareou a estrada, ensinando-nos a ler o evangelho na vida de Célia e dos personagens do livro 50 anos depois. Eis, então, que somos convidados a um último olhar comparativo, o livro foi dividido em 02 partes, cada qual com 07 capítulos. Assim como os hebreus, inspirados pelas esferas sublimes, nos contam a criação do mundo de forma poética, tal qual se fora tudo feito em 07 dias, também Emmanuel organiza esta história em 07 passos, primeira e segunda parte. Um ciclo, uma fase, um tempo de se viver, eis o número 07 a nos alertar que a vida é constante mutação e tudo o que hoje conhecemos, amanhã se fará diferente. No capítulo 07 da primeira parte, o grande imperador, Adriano, promove festas e eventos antes de partir da província. Quer ser lembrado, enaltecido, cultuado, quer mostrar a força de Roma e usa dos meios que dispõe para fazer-se grande. Eis um trecho que representa bem o mundo daquela época e as ansiedades que acolhiam o povo e seus governantes: “Preparando-se para a sua derradeira romagem a um dos centros mais antigos do mundo, Adriano deseJava brindar o povo romano com espetáculos inesquecíveis. Em tais ocasiões, as autoridades políticas aproximavam-se do sentimento popular, alimentando-lhe as vibrações de extravagância e de alegria. A inauguração de novos edifícios, os preparativos da

viagem e a adesão do povo ao programa oficial justificavam os mais altos caprichos da magnanimidade imperial. Por toda parte verificava-se o frêmito dos trabalhos extraordinários, enchendo a cidade de improvisações transformadoras. Construções de novas arcadas, pontes ou aquedutos provisórios, distribuições de trigo e vinho, organização de préstitos religiosos, homenagens a templos especializados, loterias populares e, por fim, o circo com as suas novidades inexcedíveis. O povo esperava sempre tais manifestações, com júbilo incontido.” Ao observarmos o mundo romano, não raro reconhecemos, ainda, o nosso mundo pensando e agindo da mesma forma. Colocamos a felicidade nas coisas transitórias da existência, e se temos um governo que fomenta o dito “pão e circo”, não raro permitimos o entorpecimento dos sentidos e nos deixamos levar, cegos conduzindo cegos. Poderíamos ficar nesta constatação, observando como Roma agia com a triste percepção que nosso mundo não mudou tanto assim, mas eis que este estudo é de comparação, não olhamos apenas um fato, mas buscamos outro que lhe seja correlato, e Emmanuel nos facilitou em muito a tarefa quando dispôs os capítulos aos pares. Caminhemos, assim, para o capítulo 07 da segunda parte e veremos, também, um outro ciclo sendo finalizado. Outro tipo de festa, de encontro, de alegria que não é notícia, não vira história, mas que deixa um legado indestrutível. Falamos de Célia, do Irmão Marinho que vivera seus últimos momentos na Terra. O que esta moça nos deixou? Franzina, frágil, delicada como uma flor, qual o seu legado? De Roma temos as ruínas, as histórias de sangue e luta, eis o seu legado. Mas e de Célia, o que ela deixa para a humanidade? Para entender o que diferencia estes dois mundos, ouçamos os dizeres de Scheilla, no livro Mãos Marcadas: “Combinações e negócios felizes, no mundo, quase sempre se realizam conforme as credenciais do figurino e, por isso, homens e mulheres capricham no concurso de esbeltez e elegância que levam a efeito, cotidianamente, nas ruas. Não nos esqueçamos, porém, de que somos igualmente observados no reino da verdade, através do porte espiritual que adotamos. Nossos pensamentos são as criações de que se nos veste a personalidade autêntica e, por eles, somos conhecidos, vistos, ouvidos e analisados na Vida Superior, cabendo-nos o dever de buscar em Jesus o modelo das nossas atitudes e decisões. Nos círculos terrestres, os requerimentos à autoridade humana, para serem considerados, reclamam primor de apresentação. E, no Mundo Espiritual, muitas vezes, depois dessa ou daquela petição aos Administradores Celestes, temos ouvido, de coração opresso: — “Filha, repare seu figurino”.” Para entendermos o mundo de Célia precisamos das lentes do mundo espiritual, não nos servem as lentes do mundo, as lentes de Adriano, de Cláudia, e de tantos outros que procuram no

ouro a luz que necessitam. Para entendermos a riqueza de Célia é preciso que o espírito se despoje da matéria e de suas ilusões e adentre num mundo de verdades e virtudes. Não apenas Célia, mas boa parte dos personagens já haviam desencarnado e cada um pairava nas esferas onde seu espírito se sintonizava. Eis um trecho em que Emmanuel nos fala deste novo viver: “A vida cariciosa do plano espiritual constituía, para todos, um conforto suave. Continuamente, os grandes portadores das determinações divinas ensinavam aí as verdades do Mestre, enchendo os corações de paz e de esperança. As almas afins, reunidas em grupos familiares, sabem apreciar, fora das vibrações pesadas do mundo físico, os bens supremos da verdade e da paz, sob os laços sublimes do amor e da sabedoria. Examinadas as disposições felizes dessas esferas, cuja intimidade encantadora não poderemos descrever aos leitores humanos...” São dois mundos distintos, um transitório, amparado nas ilusões da Terra, outro repleto de paz e laços sublimes de amor e sabedoria, tão rico e belo que não existem palavras que o descrevam. Afinal, em qual mundo queremos transitar? Para onde nossa conduta nos encaminha? A oportunidade do estudo é momento de reflexão íntima, é convite renovado da espiritualidade para que olhemos para o que realmente importa e nos fará felizes. Célia teve uma vida de renúncia, resignação e sacrifício, sempre chamou para o seu ser todas as lutas e adversidades que o caminho lhe impunha. Encontrou no amor a sua única forma de viver dignamente e, se Ciro e Nestório deram suas vidas pelo Cristo, sendo martirizados com tantos outros, Célia deu-nos o seu exemplo, viveu silenciosamente, exemplificando em cada oportunidade o amor que o Cristo lhe inspirava. Sob as luzes do Evangelho de João, em especial da lição do capítulo 17, versículo 14, encerramos as reflexões de hoje. Agimos e vivemos como Adriano e os seus, amparados nas riquezas e alegrias de um mundo transitório, eis, porém, o Cristo a nos lembrar que não somos do mundo, nele estamos apenas vestindo uma roupa carnal que passará.

“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os aborreceu, porque não são do mundo, assim como eu do mundo não sou.” Jesus (JOÃO, 17: 14) Aprendizes do Evangelho, à espera de facilidades humanas, constituirão sempre assembléias do engano voluntário. O Senhor não prometeu aos companheiros senão continuado esforço contra as sombras até a vitória final do bem. O cristão não é flor de ornamento para igrejas isoladas. É “sal da Terra”, força de preservação dos princípios divinos no santuário do mundo inteiro. A palavra de Jesus, nesse particular, não padece qualquer dúvida: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Amai vossos inimigos. Orai pelos que vos perseguem e caluniam. Bendizei os que vos maldizem. Emprestai sem nada esperardes.

Não julgueis para não serdes julgados. Entre vós, o maior seja servo de todos. Buscai a porta estreita. Eis que vos envio como ovelhas ao meio dos lobos. No mundo, tereis tribulações.” Mediante afirmativas tão claras, é impossível aguardar em Cristo um doador de vida fácil. Ninguém se aproxime d’Ele sem o desejo sincero de aprender a melhorar-se. Se Cristianismo é esperança sublime, amor celeste e fé restauradora, é também trabalho, sacrifício, aperfeiçoamento incessante. Comprovando suas lições divinas, o Mestre Supremo viveu servindo e morreu na cruz.” Jesus deu-nos um roteiro, orar, bendizer, fazer o bem, não julgar, ser humilde, buscar o caminho estreito e para cada um destes verbos que Jesus enuncia, temos o exemplo de Célia...orou sem cessar, mesmo quando acusada injustamente, jamais maldisse a quem quer que fosse, fez o bem, mesmo quando lhe acusaram falsamente, acolheu a todos, sem esperar nada em troca, não buscou facilidades, mas sacrificou-se em todo tempo, por todos. Sua vida foi atribulada, cheia de dores, marcas, tribulações, tomou sua cruz e seguiu o Cristo. Em breve, todos nós partiremos, eis que a vida material se extingue, cedo ou tarde. Cabe a cada um reconhecer o seu caminho e decidir aonde quer chegar. Que a doce paz de Jesus permaneça entre nós. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 29.05.2016. Candice Günther.

Estudo 50 anos depois – Parte 7b

“─ Senhor, um ímpio vai morrer. Vós o condenastes, mas dissestes: “Eu perdoo quando há remorso e concedo indulgência quando há arrependimento”. Eis uma lágrima de verdadeira caridade, que extravasou do coração para os olhos do ser que mais amo na Terra. Eu vos trago esta lágrima. É o resgate do sofrimento. Dai-me o poder de enternecer o coração de rocha do Espírito que vai expiar os seus crimes.” Caritas – Revista Espírita 1862.

Todos nós sabemos que a morte um dia nos alcançará, mas, raramente, refletimos sobre o fim da experiência terrestre, não nos preparamos para partir, ao contrário, cultivamos a cada instante o apego a tudo o que nos cerca, sejam bens, pessoas, situações. Encerrar uma existência é um momento de imenso aprendizado, deixamos tudo, família, bens, amigos, profissão, é o momento do espírito que segue seu caminhar que é único e individual. No capítulo 07 da primeira parte encontraremos o belíssimo relato do desencarne de Nestório, e quem nos narra é o próprio, eis que a vida do escravo foi uma das encarnações de Emmanuel. Assim, nosso amado benfeitor, conta-nos algo de si mesmo, um momento de sua jornada espiritual. Pensemos juntos: quantas vezes já desencarnamos? Quantas mortes guardamos em nossas almas? O que elas nos ensinaram? Morremos ainda jovens ou velhos, saudáveis ou doentes, de morte natural ou criminosa? Quantas faces o fim de uma existência oculta... Nestório partiu de forma violenta, reafirmando sua fé no Cristo foi levado ao martírio, em espetáculo comemorativo, num tempo em que a vida era banalizada e considerava-se um grande show os banhos de sangue impostos aos que seguiam o Nazareno. Recordemos que Emmanuel já nos proporcionou o relato de sua outra vida, como o rico Senador Públio Lentulus, a tragédia do Monte Vesúvio que arrasou toda uma população. Mas, agora, sua partida é diferente, ele teve a opção de guardar a sua vida, bastava negar o Cristo, bastada retornar a crenças anteriores... Sim....em sua vida anterior, como Senador Romano, Emmanuel não foi capaz de ouvir o chamado do Cristo, mas eis a nova chance para o espírito trilhar um novo caminhar, como Nestório inicia um caminho de redenção, cujo ápice adentra em nossas vidas e corações hoje

através da belíssima obra que compôs com Chico Xavier, livros e mais livros repletos de lições imortais. Olhemos, então, com atenção este sublime momento, com o olhar de aprendiz. Vejamos um trecho do livro 50 anos depois: “Os condenados, com exceção de sete mulheres que se trajavam de "indusium", estavam quase nus, munidos somente de uma tanga que lhes cobria a cintura, até os rins. Cada qual foi colocado a um poste diferente, enquanto trinta atletas negros da Numídia e da Mauritânia compareciam na arena ao som das harpas que se casavam estranhamente com os gritos da plebe. Havia muito que Roma não presenciava aquelas cenas, dado o caráter morigerado e tolerante de Adriano, que sempre fizera o possível por evitar os atritos religiosos, vendo-se, então, um espetáculo espantoso. Enquanto os gigantes africanos preparavam os arcos, ajustando-lhes flechas envenenadas, os mártires do Cristianismo começaram a entoar um cântico dulçoroso. Ninguém poderia definir aquelas notas saturadas de angústia e de esperança.” Eis a primeira lição, morrer com o Cristo é adentrar um mundo de consolo e paz, permitindo ao coração entoar uma bela canção que se eleva e ressoa eternamente em todos os corações que ali estavam presentes. O Cristo nos trouxe a oportunidade de nos conectarmos ao amor infinito do Pai Celestial e esta é a fonte sublime a que recorrem estes corações num momento de profunda angústia e dor para converter um triste momento em esperança e fé. O que isto nos ensina hoje? Não mais existem os circos de martírio, mas a crueldade encontra novas e mais sutis formas de adentrar nas vidas daqueles que seguem o Cristo...todos os dias vidas são destruídas, e não apenas a vida material, matam-se sonhos, ideais, esperanças, realizações, famílias e afetos se desfazem... a morte assumiu outras faces e continua entre nós. A questão que nos resta, então, é verificar em que posição nos encontramos. Pelo Cristo sofremos algum revez? Ao agirmos de acordo com seus ensinamentos somos atacados de alguma forma? Qual o cântico de esperança e fé que estamos entoando nestes momentos? A chamado de outrora renova-se hoje em nossas vidas e corações e, ampliando nossa perspectiva do alcance da morte, ouçamos novamente o cântico entoado pelos primeiros cristãos: “Cordeiro Santo de Deus, Senhor de toda a Verdade, Salvador da Humanidade, Sagrado Verbo de Luz!... Pastor da Paz, da Esperança, De Tua mansão divina, Senhor Jesus, ilumina As dores de nossa cruz!... Também tiveste o Calvário

De dor, de angústia, de apodo, Ofertando ao mundo todo As luzes da redenção; Tiveste a sede, o tormento, mas, sob o fel, sob as dores, Redimiste os pecadores Da mais triste escravidão! Se também sorveste o cálice De amargor e de ironia, Nós queremos a alegria De padecer e chorar... Pois, ovelhas tresmalhadas, Nós somos filhos do erro, Que no mundo do desterro Vivemos a Te esperar. Dá, Senhor, que nós possamos Viver a felicidade Nas bênçãos da Eternidade Que não se encontram aqui; O júbilo de reencontrar-Te Nos últimos padeceres, Acende em nós os prazeres De bem morrermos por Ti!.. Senhor, perdoa os verdugos De tua doutrina santa! Protege, ampara, levanta Quem no mal vive a morrer. . A caminho do Teu reino, Toda a dor se transfigura, Toda a lágrima é ventura, O bem consiste em sofrer!... Consola, Jesus amado, Aqueles que nós queremos, Que ficarão aos extremos Da saudade e do amargor; Dá-lhes a fé que transforma Os sofrimentos e os prantos Nos tesouros sacrossantos Da vida de Teu amor!...” A escravidão não é mais física, nos escravizamos pelos vícios que carregamos desde os tempos remotos e este viver continua tolhendo a nossa liberdade, eis que aprendemos com o Cristo que a vida plena em amor e paz, servindo a todos como irmãos é a maior representação de um espírito livre e pleno.

Assim como hoje nossas dores são, muitas vezes, oportunidade de resgate de dívidas passadas, Nestório recordou-se dos tempos idos, em que sentava-se do outro lado como algoz e não mártire: “Com o peito crivado de setas que lhe exauriam o coração, e contemplando o cadáver do filho que expirara antes dele, dada a sua fraqueza orgânica, Nestório sentiu que um turbilhão de lembranças indefiníveis lhe afloravam ao pensamento já vacilante, confuso, nas vascas da agonia . Com os olhos sem brilho pelas ânsias da morte arrebatando-lhe as forças, percebeu a multidão que os apupava, escutando-lhe ainda os alaridos animalescos.. . Fitou a tribuna imperial, onde, certo, estariam quantos lhe haviam merecido afeição pura e sincera, mas, dentro de emoções intraduzíveis, viu-se também, nas suas recordações confusas, na tribuna de honra, com a toga de senador, enfeitado de púrpura... Coroado de rosas aplaudia, também ele, a matança de cristãos que, sem os postes do suplício nem flechas envenenadas a lhes traspassarem o peito, eram devorados por feras hediondas e insaciáveis... Desejou andar, mover-se, porém, ao mesmo tempo sentia-se ajoelhado junto de um lago extenso, diante de Jesus Nazareno, cujo olhar doce e profundo lhe penetrava os recônditos do coração... Genuflexo, estendia as mãos para o Mestre Divino, implorando amparo e misericórdia... Lágrimas ardentes queimavam-lhe as faces descarnadas e tristes...” Nestório teve uma vida inteira dedicada ao bem, trilhou os caminhos do cristianismo desde a infância, ajudou a muitos, permanecendo sempre de forma discreta e humilde ao lado de quem quer que fosse. Não obstante sua vida ilibada, soube-se carecido de amparo e misericórdia na ora derradeira. Não clamou informando ser merecedor, não buscou a honra meritória, mas fez-se humilde, consciente de sua pequenez e de sua imperfeição. Sentia em seu coração e no momento derradeiro recordou, se hoje está com o Cristo, nem sempre foi assim, em vidas anteriores muito falira... Esta postura cala alto em nossos corações, afrontando de forma contumaz o nosso orgulho, fonte de tantos desenganos. A verdade, amigos, é que da bondade ainda sabemos muito pouco e ai daquele que achar-se merecedor ou digno de alguma honraria. Atentemos o exemplo que ensina para ajustar nossa postura interior. O desencarne de Nestório nos permite um rico aprendizado e também nos dá uma sublime esperança. Suas preces são ouvidas e, ao desencarnar, é Lívia quem o recebe, acolhendoo com seu profundo amor. A mesma Lívia que havia sido sua esposa quando era Senador, e que havia sido devorada pelas feras, simplesmente por ser cristã. “Foi quando um vulto de anjo ou de mulher (2) caminhou para ele, estendendo-lhe as mãos carinhosas e translúcidas. . . O mensageiro do céu ajoelhara-se junto do corpo ensanguentado e afagou-lhe os cabelos, beijando-o suavemente. O antigo escravo experimentou a carícia daquele ósculo divino e seu espírito cansado e enfraquecido adormeceu de leve, como se fora uma criança.”

Jesus esteve entre nós semeando a vida e ao seu exemplo de luz muitas e muitas vidas foram aderindo, uns imediatamente, como Livia, outros, em experiências reiteradas, como Públio/Nestório. Nestório foi acolhido por Lívia quando desencarnou, mas não permaneceu em repouso ou descanso, aguardando a próxima vida. Seu espírito já estava envolvido com o trabalho na seara do Cristo e encontraremos no último capítulo da segunda parte uma importante referência. “Em esferas mais elevadas, Helvídio Lucius junto de quantos lhe foram familiares, inclusive Ciro, repousavam do trabalho, esforçando-se, em conjunto, por fixar as bases espirituais, asseguradoras de êxito futuro. Algumas personagens, como Nestório e Policarpo, faziam grandes excursões pelos arredores sombrios do planeta, cooperando com os mensageiros de Jesus, que pregavam a Boa Nova aos espíritos desalentados e sofredores, levando a efeito o mais sadio aprendizado evangélico para as lutas do futuro nos ambientes terrenos, onde prosseguiriam, mais tarde, no abençoado labor de redenção do passado culposo.” Nestório não mais afastou-se de Jesus e hoje é um grande amigo que nos auxilia no entendimento das luzes do Evangelho. Através da psicografia de Chico Xavier, os livros de Emmanuel são fonte pura e renovada de lições para nosso espírito. E é com uma destas belíssimas lições, em que Emmanuel nos auxilia a compreendermos as dificuldades, ainda hoje, que encontra aquele que abraçou o Cristo e adentrou em sua seara divino. Como comentamos acima, estão extintos os circos de martírio, mas a crueldade ainda acomete aos trabalhadores de Jesus, sem contudo experimentarem o abandono, eis que o Mestre a todos alcança com consolo e paz. Livro Vinha de Luz, lição 139:

É a santificação “Santifica-os na verdade.” - Jesus (João, 17:17.) Não podemos esquecer que, em se dirigindo ao Pai, nos derradeiros momentos do apostolado, rogou-lhe Jesus santificasse os discípulos que ficariam no plano carnal. É significativo observar que o Mestre não pediu regalias e facilidades para os continuadores. Não recomendou ao Senhor Supremo situasse os amigos em palácios encantados do prazer, nem os ilhasse em privilégios particularistas. Ao invés disso, suplicou ao Pai para que os santificasse na condição humana. É compreensível, portanto, que os discípulos sinceros recebam da Providência maior quinhão de elementos purificadores em trabalhos e testemunhos benéficos. Na Terra, quase sempre, o dever e a responsabilidade parecem esmagá-los, no entanto, a palavra do Evangelho é bastante clara no terreno das conquistas eternas. Não nos referimos a recompensas banais de periferia. Destacamos o engrandecimento espiritual, a iluminação divina e a perfeição redentora, inacessíveis ainda ao entendimento comum. Em verdade, o Senhor anunciou sacrifícios e sofrimentos aos seguidores, acentuando, porém, que os não deixaria órfãos.

Seriam convocados a interrogatórios humilhantes, contudo, não lhes faltaria a Sublime Inspiração. Seguiriam atribulados, mas não angustiados; perseguidos, mas nunca desamparados. Receberiam golpes e decepções, mas não lhes seriam negados a esperança e o reconforto. Suportariam a incompreensão humana, todavia, os desígnios superiores agiriam em favor deles.

Sofreriam flagelações no mundo, no entanto, suas dores aba-teceriam os celeiros da graça e da consolação para os aflitos. Muita vez, participariam dos últimos lugares, entre as criaturas terrestres, para serem dos primeiros na cooperação com o Divino Trabalhador. Seriam detidos nos cárceres, mas disporiam da presença dos anjos sob cânticos de glorificação. Carregariam cicatrizes por sinais celestes. Tolerariam sarcasmos em honroso serviço à Verdade. Perseguidos e torturados, representariam as cartas palpitantes do Cristo à Humanidade. Servos sofredores e humilhados no campo carnal, marchariam assinalados por luz imperecível. Escalariam calvários de dor, suportando cruzes, encontrando, porém, a ressurreição, coroados de glória. Efetivamente, pois, os colaboradores do Evangelho são, de modo geral, anônimos e desprezados nas esferas convencionalistas da Terra; todavia, para eles, repete o Mestre, em todos os tempos, as sublimes palavras: “Sois meus amigos porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer.” Vivamos com o Cristo, recordemos do exemplo de Nestório que hoje é nosso querido Emmanuel e sigamos firmes no propósito de andarmos nas luzes do Evangelho. Que fiquemos todos na doce paz de Jesus. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 05.06.2016. Candice Günther

Estudo 50 anos depois – Parte 7c (final)

“Tudo na Natureza se encadeia. Ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, concorre, sob essa forma, para a execução dos desígnios da Providência. Cada um tem neste mundo a sua missão, porque todos podem ter alguma utilidade.” Livro dos Espíritos - 573

Este não é bem um estudo, mas uma carta de encerramento, uma carta de gratidão. Estudar o livro 50 anos depois foi mais que uma oportunidade, foi um presente. Semanalmente buscávamos no livro alguma lição que nos calasse a alma, que nos trouxesse reflexão ou questionamento e instigados por palavras, ações e sentimentos, buscávamos aprender sem, no entanto, intelectualizar o que vinha de forma tão bondosa ao nosso coração. Quantas madrugadas, como esta em que escrevo estas linhas, onde o silêncio se faz presente e podemos simplesmente nos deixar inspirar sem nenhuma interrupção e quantas lágrimas se fizeram presentes no decorrer dos meses. E tudo valeu a pena, todas as dificuldades de adentrar na reforma íntima e perceber-se muito aquém do que se achava ser, sem esquecer as dificuldades próprias de compartilhar um trabalho com fundo moral. A alegria de se compartilhar um estudo é que não se caminha sozinho, assim, Deus em sua infinita bondade lançou pessoas desconhecidas em minha vida que aos poucos tornaram-se como irmãos, com palavras de apoio e incentivo, ajudando-me a refletir e sondando as belas lições deste livro. Mas Jesus também nos quer vigilantes, assim, houve também a crítica velada e o silêncio de onde se esperava um aconchego. Tudo isto foi aprendizado, acompanhado do exemplo de Célia, a quem aprendemos não só a admirar, mas a amar profundamente. Como não se encantar com seu amor puro e ingênuo, desinteressado das conveniências do mundo, pelo então escravo Ciro. Um amor proibido para se viver conforme os padrões da Terra, eis que era precioso demais para uma mera existência. Almas afins que se unem no decorrer dos milênios para auxiliarem-se no caminho evolutivo. Célia e Ciro muito me ensinaram. Suas conversas, suas renúncias e sua fé demonstraram que além do amor romântico, tão comum nos filmes e livros que hoje circulam, há uma ligação entre espíritos que se querem bem que transcende a tudo isto.

Aprendemos um pouco sobre a fé quando a acompanhamos na Via Ápia, abandonada por todos e jogada a própria sorte com um bebê para criar e cuidar. E descobrimos a fortaleza que surge na alma quando ela esquece de si mesma para dedicar-se a uma outra vida. Nesta trajetória, vimos que Deus jamais desampara os seus, proporcionando o cuidado e a assistência por vias diversas. A solidariedade que existente no homem de bem nos enche de esperança quanto aos dias que virão. Aprendemos, também, que surgem pessoas em nossas vidas que ficarão por breves momentos e deixarão marcas eternas. Irmão Marinho deu a Célia o seu próprio nome, acolhendoa como um pai zeloso e abnegado. Deixou-lhe as posses, o nome e o exemplo de que o amor surge de onde menos esperamos. Continuando nosso caminhar com Célia descobrimos que os servidores do Cristo ainda padecem neste mundo de provas e expiações, confrontados com a injúria, a mentira, somos todos convidados a uma postura que é dificílima: não reagir, oferecer a outra face. Célia poderia ter se defendido inúmeras vezes, afastando facilmente as inverdades que eram ditas sobre ela ou para ela. Mas quedou-se em silêncio, acatando o ônus sem a culpa, servindo sempre e acreditando na justiça divina. Não fez-se vítima de infortúnios, mas renovou-se em fé e esperança para sempre seguir em frente. Convidando-nos a mudar a nossa perspectiva ainda tão arraigada no hoje e em nossa vida material. Célia viveu como espírito, que se reconhece imortal, apegando-se nas promessas de um mundo vindouro de paz e amor. Célia ensinou-me que quem anda com o Cristo jamais fica sozinho. Visitada por espíritos amigos, recebendo conselhos e lenitivos para o seu coração, foi capaz de reencontrar o ânimo quando tudo parecia ruir.Também a nós outros, esta experiência está disponível, através da boa sintonia sentiremos o amor vibrando em nossos corações, mesmo quando supostamente nos vejamos sós para enfrentar determinadas circunstâncias da vida. Aprendi algo sobre o silêncio. Silenciar o próprio mundo para abrir espaço para o mundo alheio é tarefa difícil mas única, só assim haverá espaço para o amor, para a caridade. Cada gesto de Célia ecoou na vida dos que a cercavam e promoveu mudanças definitivas em seus afetos mais próximos. Olhar sua vida como alguém que observa para aprender, permitiu-me entender um pouco da ação de Deus na Terra. Uma moça humilde que atravessa os séculos para falar a nossa alma da renúncia, do amor e da fé. Muitas vidas foram tocadas por seu exemplo e o livro 50 anos depois nos dá uma pequena amostra das maravilhas que pode fazer um coração abnegado que aprendeu a amar.

Os personagens do livro 50 anos depois retornam ao mundo espiritual para breve refazimento e, mediante orientação, planejam as novas que virão, em caminho evolutivo e redentor, tutelados pelo Cristo Jesus. Somos todos uma grande família, unidos por laços sacrosantos, de infinito amor. Ouçamos as palavras do mentor espiritual que está no capítulo 07 da segunda parte, não como leitores ou ouvintes de uma história que não nos pertence, mas como amigos de Célia que tutelados por seu amor, se colocam em prece para aprender mais uma vez. Agradeçamos à misericórdia do Senhor, que nos concede as preciosas oportunidades do trabalho a favor de nossa própria redenção, em marcha incessante para o amor e para a sabedoria. Vós que partis, amai a luta redentora, como se deve amar uma alvorada divina! Aqui, sob a luz da bondade infinita do Cordeiro de Deus, a alma egressa do mundo pode descansar de suas profundas mágoas. Os corações ulcerados se retemperam junto à fonte inesgotável do consolo evangélico; mas, acima de nossas frontes, há um reino de amor perene e de paz inolvidável, que necessitamos conquistar com os mais altos valores da consciência ! Adquiristes aqui os mais elevados conhecimentos, em matéria de sabedoria e amor; experimentastes o bafejo de sublimes consolações, como somente poderá senti-las o Espírito liberto das sombras e angústias materiais; observastes a beleza e a ventura que aguardam, no Infinito, as almas redimidas; todavia, é necessário regressardes à carne a fim de poderdes experimentar o valor do vosso aprendizado ! É na Terra, escola dolorosa e bendita da alma, que se desdobra o campo imenso de nossas realizações. Os erros de outrora devem ser reparados lá mesmo, entre as suas sombras angustiosas e espessas !... Enquanto se reparam, na sua superfície, os desvios das épocas remotas, faz-se mister aplicar nas suas estradas sombrias os ensinamentos recebidos do Alto, em virtude do acréscimo de misericórdia de Jesus, que não nos desampara. Na Terra está o aprendizado melhor, e aqui vigora o exame elevado e justo. Lá é a sementeira, aqui a colheita. Voltai novamente aos carreiros terrestres e reparai o passado doloroso!. Abraçai os vossos inimigos de ontem, para vos aproximardes dos vossos benfeitores no porvir ! Fechai as portas da exaltação no mundo e sede surdos às ambições ! Edificai o reino de Jesus no imo, porque, um dia, a morte vos arrebatará de novo às angústias e mentiras humanas, para as análises proveitosas. A exemplificação de Jesus é o modelo de todos os corações. Não vos queixeis da orientação precisa, porque, em toda parte do mundo, como em todas as idéias religiosas e doutrinas filosóficas, há uma atalaia de Deus esclarecendo a consciência das criaturas ! O mundo tem as suas lágrimas penosas e as suas lutas incruentas. Nas suas sendas de espinhos torturantes se congregam todos os fantasmas dos sofrimentos e das tentações, e sereis compelidos a positivar os vossos valores intrínsecos. Amai, porém, a luta como se os seus benefícios fossem os de um pão espiritual, imprescindível e precioso !... Depois de todas as conquistas que o plano terrestre vos possa proporcionar, sereis, então, promovidos aos mundos de regeneração e de paz, onde preparareis o coração e a inteligência para os reinos da luz e da bem-aventurança supremas !...

Antes de encerrar preciso dizer algo sobre as luzes que o Evangelho de João trouxe a este estudo. Capítulo a capítulo fomos comparando o que dizia o evangelho e o que o livro nos trazia, demonstrando de forma irrefutável que existe uma intenção de nos mostrar a vida em comum, um caminhar que se assemelha e se distingue dos demais. João falou do Cristo amorosamente e Célia viveu este amor com uma abundância que raras vezes tivemos a oportunidade de ver na Terra, ambos se coadunam porque provém de uma esfera sublime, onde as idéias crísticas fluem naturalmente. Rogando ao Pai Maior que nos permita, um dia, retornar a este livro para estudá-lo novamente, agradecemos pela oportunidade com a alegria de constatar que ao final estamos melhores, com a certeza, porém, que ainda há um longo caminho a percorrer. A todos, desejo que a doce paz de Jesus lhes acolha e que seu amor permaneça sempre em vossos corações. Abraços fraternos. Campo Grande-MS, 12 de junho de 2016. Candice Günther

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