Estudo do livro Há 2000 anos

June 14, 2017 | Autor: Candice Gunther | Categoria: Espiritismo
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Estudo do livro Há 2000 anos.

 Em 10 etapas subdivididas em 03 partes (a, b e c).

 Após o estudo, curiosidades encontradas no livro e um estudo sob as luzes do Evangelho Segundo o Espiritismo, A Estrada da Caridade.

 Este estudo está disponível para download gratuito, pode ser copiado, emprestado, utilizado para outros estudos. Nada me pertence, apenas peço que jamais seja utilizado com fins lucrativos, quaisquer que sejam.  Realizado em Campo Grande-MS, no ano de 2015.

Estudo Há 2000 anos – Introdução

Muitos já leram este livro, uma, duas, três vezes ou mais, e é uníssono o quanto esta história trazida pelas mãos benditas de Francisco Xavier, pelo espírito Emmanuel, no ano de 1939, nos oferece ensinamentos e lições de muito valor. Nesta breve introdução iremos tecer uma singela explicação da forma pela qual optamos estudar este livro e em seguida, olharemos o texto introdutório: Na intimidade de Emmanuel. É importante dizer que nosso intuito é de aprofundamento nas lições que o livro apresenta, assim, aos que nunca leram a obra, aconselhamos a leitura prévia integral do livro, para depois debruçar-se sobre o estudo que ora nos propomos a fazer. É comum estudar os livros em sua sequência, capítulo a capítulo, deixandose levar pelo enredo, pelo decorrer da história. Há, porém, outras formas de olharmos e estudarmos. Podemos, por exemplo, escolhermos uma palavra chave, e buscarmos neste livro os trechos em que a palavra aparece, recolhendo, assim, impressões e ensinamentos sobre o tema. No caso do livro Há 2000 anos, publicamos um estudo neste sentido usando a palavra CARIDADE. E justificamos e escolha pelas palavras do próprio Públio Lentulus: Se houvesse entendido bastante a sua caridade, na cura de minha filha, teria conhecido melhor o tesouro espiritual do coração de Lívia, vibrando com o seu espírito na mesma fé, ou caindo juntamente com ela na arena ignominiosa do circo, o que seria suave, em comparação com as lentas agonias do meu destino; teria sido menos vaidoso e mais humano, se lhe houvesse entendido a preceito a lição de fraternidade...” “

Considerando que o livro trata de episódios do cristianismo no primeiro século, outra forma de estudar este livro mostrou-se viável e com ampla perspectiva de absorvermos suas lições evangélicas. Trata-se de estudar os capítulos aos pares, capítulo 1 da primeira parte juntamente com o capítulo 1 da segunda parte e assim consecutivamente.

Os escritos antigos, como nos noticia Haroldo Dutra Dias em suas palestras, eram escritos em pergaminhos, estes eram guardados em rolos e quando desenrolados, tinha-se no centro o tema principal do texto. Os evangelhos foram disseminados desta forma. Ocorre também, que muitos textos guardam similitude, principalmente de significado, quando colocados lado a lado. A esta estrutura literária chama-se paralelismo. Para melhor entendermos, vejamos um trecho do livro Parábolas de Jesus, Texto e Contexto de Haroldo Dutra Dias: “Muitos ensinos de Jesus e narrativas dos evangelistas parecem seguir a tradição poética do povo hebreu. Nesse particular, é importante registrar que a poesia hebraica bíblica, embora também apresente rima de palavras e de sons, caracteriza-se por uma técnica literária conhecida pelo nome de paralelismo. O paralelismo pode ser definido como a rima das ideias, e apresenta variações relativas a sua forma e ao seu conteúdo. (...) O paralelismo reto pode ser representado pela figura a-b e a’-b’. O referido modelo pode ser visto na composição do Salmo 24.3: Quem subirá

ao monte de YHWH?

E quem ficará de pé

no seu lugar santo?”

O que faremos neste estudo, e já o fizemos no livro Paulo e Estevão e no livro Renúncia, é estudá-lo utilizando esta perspectiva de “paralelismo reto” que mostrou-se verdadeira nos dois livros citados. E qual a razão? Por que este estudo um tanto estranho, em um livro escrito em 1939 e em português? Vejamos o que nos diz Emmanuel, na parte inicial do livro: “Agradeço, meus filhos, o precioso concurso que me vindes prestando. Tenho-me esforçado, quanto possível, para adaptar uma história tão antiga ao sabor das expressões do mundo moderno, mas, em relatando a verdade, somos levados a penetrar, antes de tudo, na essência das coisas, dos fatos e dos ensinamentos.” Se olharmos o versículo do Salmo, utilizado para explicar o paralelismo, veremos que um trecho traz novo e mais amplo olhar sobre o outro, nos faz entendê-lo com maior profundidade. Assim, ao “adaptar uma história tão antiga”

algo ficou daquele povo, daqueles costumes. Cabe a nós, assim, buscarmos se também neste livro Emmanuel optou por capítulos paralelos.

Para facilitar-lhes o entendimento, vejam que estamos acostumados a olhar o livro assim:

Mas também é possível olhá-lo e estudá-lo desta forma:

A escolha deste formato (pirâmide) se dá para que tenhamos a imagem de ascensão, dos primeiros passos à elevação do espírito que encontra o Cristo e sua mensagem salvadora e o olharemos como um roteiro que outrora ele percorreu e que hoje nos é fonte de estudo e reflexão. Antes, porém, de iniciarmos nossa jornada cabe-nos olharmos as notas iniciais do livro, que nos traz belíssimas lições e uma prece de Emmanuel dirigida a Jesus, nos traz um coração integrado ao evangelho, relembrando as palavras de Paulo na I Carta aos Coríntios 1:11: “Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo.” Em rápida análise podemos perceber que um trabalho sério necessita do amparo e permissão de Jesus para o seu bom desenvolvimento, e neste sentido, vemos as primeiras mensagens de Emmanuel: “ algum dia, se Deus permitir – falar-vos-ei do orgulhoso patrício...” e mais adiante: “esperemos a permissão”.

Muito bom seria se nós pautássemos nossos projetos na seara do Mestre atentos a este gesto de humildade, rogando e esperando. Segue, então, a notícia: “ iniciaremos dentro de alguns dias” e novamente Emmanuel se coloca em posição humilde, não sabendo se conseguirá realizar a tarefa, mas em plena: “confiança na misericórdia divina”. Todos somos aprendizes do evangelho e necessário se faz que nos reconheçamos assim, humildemente limitados e carecedores do auxílio do Pai. Iniciam-se os trabalhos em 24.10.1938, “com amparo de Jesus” e Emmanuel nos informa: “verificareis minha fraquezas”, mas também nos convida: “orai comigo”. Esta obra não é apenas o relato de uma vida, mas uma “confissão” e um “roteiro para todos”. Em 30.12.1938, Emmanuel nos informa dos grandes desafios desta obra, eis que trata-se de uma “adaptação de história tão antiga”, e este “esforço” lhe trazia recordações “profundamente dolorosas”. Quem de nós estaria apto a retornar ao passado e reconhecer suas culpas e erros sem adentrar num mar de dores e culpas paralisantes? Para ir tão longe é preciso reconhecer o quanto Emmanuel já tinha crescido em amor a si mesmo. E não se trata de exaltá-lo, quando afirmamos isso, mas de que saibamos que o amor por nós mesmos também é algo que construiremos ao longo dos séculos e mais que isso, é algo que Jesus está nos auxiliando a construir a cada dia e a cada experiência. Em outra comunicação apresenta-nos, então, o “objetivo do trabalho –

mostrar uma experiência para os que hoje trabalham na semeadura e na seara do Nosso Divino Mestre”, assim, importa-nos reconhecer que se já nos arvoramos em trabalhar para a construção de um mundo regenerado, esta obra é dirigida aos nossos corações, muito mais que um relato histórico é fonte de ricas lições. E se o objetivo é ensinar aos que hoje trabalham, Emmanuel também ensinou a “necessidade de ligação espiritual com Jesus em todos os trabalhos.” Em 04 de janeiro de 1939 em nova comunicação do benfeitor , ele nos traz uma belíssima prece. E se fez bela aos nossos olhos e corações por trazer em suas notas a sinceridade de um coração totalmente voltado a Jesus. E, tal qual o discípulo que se torna imitador do Mestre, Emmanuel ao orar faz referência a diversos salmos. Vejam um trecho do livro Sabedoria e Poesia do Povo de Deus

(Ed. Loyola) e em seguida a prece de Emmanuel com alguns salmos que conseguimos identificar:

PRECE de Emmanuel sob as luzes dos Salmos de Davi "Jesus, Cordeiro Misericordioso do Pai de todas as graças, são passados dois mil anos e minha pobre alma ainda revive os seus dias amargurados e tristes!... Que são dois milênios, Senhor, no relógio da Eternidade? (Salmo 90:4 – “Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite.”) "Sinto que a tua misericórdia nos responde em suas ignotas profundezas... Sim, o tempo é o grande tesouro do homem e vinte séculos, como vinte existências diversas, podem ser vinte dias de provas, de experiências e de lutas redentoras. (Salmo 90: “1 SENHOR, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração. 2 Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, tu és Deus.”) "Só a tua bondade é infinita! Somente tua misericórdia pode abranger todos os séculos e todos os seres, porque em Ti vive a gloriosa síntese de toda a evolução terrestre, fermento divino de todas as culturas, alma sublime de todos os pensamentos. (SALMO 23 – Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias.”)

"Diante de meus pobres olhos, desenha-se a velha Roma dos meus pesares e das minhas quedas dolorosas... Sinto-me ainda envolto na miséria de minhas fraquezas e contemplo os monumentos das vaidades humanas... Expressões políticas, variando nas suas características de liberdade e de força, detentores da autoridade e do poder, senhores da fortuna e da inteligência, grandezas efêmeras que perduram apenas por um dia fugaz!... Tronos e púrpuras, mantos preciosos das honrarias terrestres, togas da falha justiça humana, parlamentos e decretos supostos irrevogáveis!... Em silêncio, Senhor, viste a confusão que se estabelecera entre os homens inquietos e, com o mesmo desvelado amor, salvaste sempre as criaturas no instante doloroso das ruínas supremas... (SALMO 30 - 611 "Em tua mão entrego o meu espírito resgata-me, Senhor Deus! Tu detestas os que adoram ídolos vazios, quanto a mim, eu confio no Senhor: dançarei de alegria com teu amor, pois viste minha miséria, conheceste minha opressão; não me entregaste à mão do inimigo, firmaste meus pés em lugar espaçoso. Tem piedade de mim, Senhor, pois estou oprimido. A dor me consome os olhos, a garganta e as entranhas. Eis que minha vida se consome em tristeza e meus anos em gemidos; meu vigor se enfraquece com a miséria, e meus ossos se consomem. Eu confio em ti, e digo: "Tu és o meu Deus!") Deste a mão misericordiosa e imaculada aos povos mais humildes e mais frágeis, confundiste a ciência mentirosa de todos os tempos, humilhaste os que se consideravam grandes e poderosos!... "Sob o teu olhar compassivo, a morte abriu suas portas de sombra e as falsas glórias do mundo foram derruídas no torvelinho das ambições, reduzindo-se todas as vaidades a um acervo de cinzas!...” (Salmo 103 – “Como um pai é compassivo com seus filhos, Iahweh é compassivo com aqueles que o temem; porque ele conhece nossa estrutura, ele se lembra do pó que somos nós.” ) "Ante minhalma surgem as reminiscências das construções elegantes das colinas célebres; vejo o Tibre que passa, recolhendo os detritos da grande Babilônia imperial, os aquedutos, os mármores preciosos, as termas que pareciam indestrutíveis... Vejo ainda as ruas movimentadas, onde uma plebe miserável espera as graças dos grandes senhores, as esmolas de trigo, os fragmentos de pano para resguardarem do frio a nudez da carne."Regurgitam os circos... Há uma aristocracia do patriciado observando as provas elegantes do Campo de Marte e, em tudo, das vias mais humildes até os palácios mais suntuosos, fala-se de César, o Augusto!... "Dentro dessas recordações, eu passo, Senhor, entre farraparias e esplendores, com o meu orgulho miserável! Dos véus espessos de minhas sombras, também eu não te podia ver, no Alto, onde guardas o teu sólio de graças inesgotáveis... (Salmo 19 – “Preserva também o teu servo do orgulho, para que ele nunca me domine; então eu serei íntegro e inocente de uma grande transgressão.”)

"Enquanto o grande Império se desfazia em suas lutas inquietantes, trazias o teu coração no silêncio e, como os outros, eu não percebia que vigiavas! (Salmo 66 – “Seus olhos vigiam as nações, para que os rebeldes não se exaltem.”) "Permitiste que a Babel romana se levantasse muito alto, mas, quando viste que se ameaçava a própria estabilidade da vida no planeta, disseste: - "Basta! São vindos os tempos de operar-se na seara da Verdade!" E os grandes monumentos, com as estátuas dos deuses antigos, rolaram de seus pedestais maravilhosos! Um sopro de morte varreu as regiões infestadas pelo vírus da ambição e do egoísmo desenfreado, despovoando-se, então, a grande metrópole do pecado. Ruíram os circos formidandos, caíram os palácios, enegreceram-se os mármores luxuosos... (Salmo 25 – “Mostra-me teus caminhos, Iahweh, ensina-me tuas veredas. Guia-me com tua verdade, ensina-me, pois tu é o meu Deus salvador.”)

"Bastou uma palavra tua, Senhor, para que os grandes senhores voltassem às margens do Tibre, como escravos misérrimos!... Perambulamos, assim, dentro da nossa noite, até o dia em que nova luz brotara em nossa consciência. Foi preciso que os séculos passassem, para aprendermos as primeiras letras de tua ciência infinita, de perdão e de amor! (Salmo 33 – “Pois a palavra de Iahweh é reta, e sua obra toda é verdade; ele ama a justiça e o direito, a terra está cheia do amor de Iahweh.”) "E aqui estamos, Jesus, para louvar-te a grandeza! Dá que possamos recordar-te em cada passo, ouvir-te a voz em cada som distraído do caminho, para fugirmos da sombra dolorosa!... Estende-nos tuas mãos e fala-nos ainda do teu ....... Temos sede imensa daquela água eterna da vida, que figuraste no ensinamento à Samaritana... (Salmo 42 – “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando voltarei a ver a face de Deus?) "Exército de operários do teu Evangelho, nós nos movemos sob as tuas determinações suaves e sacrossantas! Ampara-nos, Senhor, e não nos retires dos ombros a cruz luminosa e redentora, mas ajuda-nos a sentir, nos trabalhos de cada dia, a luz eterna e imensa do teu Reino de paz, de concórdia e de sabedoria, em nossa estrada de luta, de solidariedade e de esperança!..." (Salmo 107 – “Muitas vezes ele os livrou, mas eles se obstinaram na revolta e se corromperam na iniquidade/ ele viu a angústia deles, ao ouvir os seus gemidos. Lembrou de sua aliança com ele e moveu-se por seu grande amor; concedeu-lhes moverem-se de compaixão todos aqueles que os mantinham cativos.” ) Os trabalhos de psicografia da obra Há 2000 anos, terminaram em 08.02.1939 e ele nos apresenta precioso agradecimento:

- "Meus amigos, Deus vos auxilie e recompense. Nosso modesto trabalho está a terminar. Poucas páginas lhe restam e eu vos agradeço de coração. Reencontrando os Espíritos amigos das épocas mortas, sinto o coração satisfeito e confortado ao verificar a dedicação de todos ao firme pensamento de evolução, para a frente e para o alto, pois não é sem razão de ser que hoje laboramos na mesma oficina de esforço e boa vontade. Jesus há de recompensar a cota de esforço amigo e sincero que me prestastes e que a sua infinita misericórdia vos abençoe é a minha oração de sempre." O trabalho de Emmanuel permanece até os dias atuais, eis que hoje nos convida a adentrarmos nesta obra, com os corações abertos para o aprendizado, para que passamos promover em nossas vidas a reforma íntima da qual todos necessitamos. Assim, encerramos este texto introdutório, rogando a permissão de Jesus para que possamos ter êxito nesta tarefa, o estudo do livro Há 2000 anos. Abraços fraternos. Campo Grande-MS, 22.05.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 1a

Primeiramente, devo alertar que este estudo pressupõe uma leitura prévia do livro, para primeiramente ter conhecimento de sua história. Visamos aqui uma tentativa de aprofundamento para os corações que encontraram nestas letras lições para as suas vidas. Seguindo, então, a proposta que apresentamos no texto introdutório, buscaremos nesta etapa alguns aspectos em comum no capítulo 1 da primeira parte e da segunda parte, amparados pelas lições evangélicas do Evangelho de João. Justificamos a escolha do evangelho de João para acompanhar a leitura deste livro pelo motivo deste apóstolo ter sido uma figura muito especial na existência seguinte a de Publio Lentulus (Emmanuel), narrada no livro 50 anos depois, em que o próprio Nestório nos conta: “Assumindo a responsabilidade da palavra, esta noite, recordo a minha infância para vos dizer que vi João, o apóstolo do Senhor, que, por longos anos, iluminou a igreja de Éfeso! O grande evangelista, nos seus arroubos de fé, falava-nos do céu e de suas visões consoladoras... Seu coração estava em permanente contacto com o do Mestre, de quem recebia a inspiração divina, como derradeiro discípulo na Terra, santificando-se as suas lições e as suas palavras com o sopro sublimado das verdades celestes!. .” Iniciamos, assim, nossa caminhada, com os olhos no primeiro capítulo do livro Há 2000 anos, no diálogo de Flaminius Severius com Publio Lentulus (Emmanuel) temos uma perspectiva de como vai a vida e das dificuldades que enfrentam. A filha de Públio está muito doente, e, abatido, ele não vislumbra mais alternativas para a solução do caso. E nesta conversa fraterna, entre amigos sinceros, surge a idéia: “- Poderias descansar um pouco na Palestina, levando a família para essa estação de repouso. Existem ali regiões de clima adorável, que operariam, talvez, a cura de tua filhinha, restabelecendo simultaneamente as tuas forças orgânicas. Quem sabe?” A esperança os encontra e planejam a sua ida a Palestina.

Avancemos um pouco e sondemos o que acontece com estas vidas na narrativa do capítulo 1 da segunda parte. Primeiramente cabe-nos registrar o lapso temporal, o capítulo 1 relata fatos ocorridos no ano 31, já o capítulo 1 da segunda parte, inicia-se informando-nos que os relatos trazidos são do ano 46. Se no primeiro capítulo nos era noticiada a partida para a Palestina, cheia de sonhos e esperanças, temos, então, o capítulo 1 da segunda parte a nos noticiar o retorno a Roma: “A volta a Roma não reclamou, desse modo, grande demora. O mesmo emissário levou as instruções do senador para os seus amigos da Capital do Império e, daí a pouco, uma galera os esperava em Cesareia, reconduzindo a família Lentulus, de regresso, depois da permanência de quinze anos na Palestina.” E Emmanuel nos fornece um elo entre estes dois momentos, a ida e o retorno, um parágrafo que nos dá a perspectiva do mundo interior de sua família: “A partida, quinze anos antes, havia sido um cântico de esperança nas expectativas suaves do futuro, mas o regresso estava cheio do silêncio amargo das mais penosas realidades.”

Pois bem, cabe-nos neste momento um breve intervalo, uma reflexão. Quantos sonhos trazemos em nossas vidas e em nossos corações, e quantas vezes a vida se revela diferente do que planejamos. Esta perspectiva do retorno da família nos convida a um olhar mais atento para o nosso próprio caminhar. Recordemos que se para Públio as fatalidades pareciam-lhe fugir do controle, certo é que ele teve a oportunidade, foi-lhe dado um aviso de quem era e do que necessitava melhorar. Voltemos ao capítulo 1 da primeira parte, e recordemos as impressões depois o sonho que Públio noticia a Flaminius: “Como poderíamos explicar a diversidade da sorte neste mundo? Porque a opulência dos nossos bairros aristocráticos e as misérias do Esquilino? A fé no poder dos deuses não consegue elucidar esses problemas torturantes. Vendo minha desventurada filhinha com a carne dilacerada e apodrecida, sinto que o teu escravo está com a verdade. Que teria feito a pequena Flávia, nos seus sete anos

incompletos, para merecer tão horrendo castigo das potestades celestiais? Que alegria poderiam encontrar as nossas divindades nos soluços de uma criança e nas lágrimas dolorosas que nos calcinam o coração? Não será mais compreensível e aceitável que tenhamos vindo de longe com as nossas dividas para com os poderes do Céu?

Percebemos que primeiramente ele relata a impressão e um questionamento da possibilidade da reencarnação e em seguida falará dos sonhos e dos documentos de seu avô que encontrara, relatando-lhe a impressão de que teria sido ele, em outra encarnação. “Realidade ou sonho, não o sei dizer, mas vi-me revestido das insígnias de cônsul, ao tempo da República. Parecia-me haver retrocedido à época de Lúcio Sergius Catilina, pois o via a meu lado, bem como a Cícero, que se me figuravam duas personificações, do mal e do bem. Sentia-me ligado ao primeiro por laços fortes e indestrutíveis, como se estivesse vivendo a época tenebrosa da sua conspiração contra o Senado, e participando, com ele, da trama ignominiosa que visava à mais intima organização da República.” Talvez você esteja se perguntando o que tem estes sonhos e impressões com a viagem a Palestina e o retorno, noticiado no capítulo 1 da segunda parte. Pois bem, digo-lhe que se Públio tivesse dado ouvidos as revelações que se apresentavam, talvez, o retorno não teria sido tão dolorido. Se a imagem da outra vida, em que foi intransigente e corrompido pelo poder (Num relâmpago, revivi toda a tragédia, sentindo que minhas mãos estavam nodoadas do sangue e das lágrimas dos inocentes.) lhe tivesse falado ao coração endurecido, talvez não tivesse sido tão duro com Saul e assim não atrairia o ódio de André de Gioras, que é responsável pelo sequestro de seu filho. Se a recordação de que também sucumbiu em outra vida lhe estivesse ativa na memória, talvez não tivesse sido tão duro com Lívia, enfim, o ponto em que quero chegar é que houve um aviso e também houve desatenção, ele deixou de lado todos aqueles sentimentos que lhe estavam sendo inspirados e, ante as provas do caminho, não foi capaz de uma atitude diferente das que tomava outrora. E se Emmanuel nos traz isto neste livro, cabe-nos aproveitar a lição que certamente lhe é recordação dolorosa, como ele mesmo noticia, mas que nos é dada

com o intuito de que possamos aprender e refletir. Assim, vejamos a questão 393 do livro dos Espíritos: 393. Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas de que se não lembra? Como pode aproveitar da experiência de vidas de que se esqueceu? Conceber-se-ia que as tribulações da existência lhe servissem de lição, se se recordasse do que as tenha podido ocasionar. Desde que, porém, disso não se recorda, cada existência é, para ele, como se fosse a primeira e eis que então está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com a Justiça de Deus? “Em cada nova existência, o homem dispõe de mais inteligência e melhor pode distinguir o bem do mal. Onde o seu mérito se se lembrasse de todo o passado? Quando o Espírito volta a vida anterior (a vida espírita), diante dos olhos se lhe estende toda a sua vida pretérita. Vê as faltas que cometeu e que deram causa ao seu sofrer, assim como de que modo as teria evitado. Reconhece justa a situação em que se acha e busca então uma existência capaz de reparar a que vem de transcorrer. Escolhe provas análogas as de que nao soube aproveitar, ou as lutas que considere apropriadas ao seu adiantamento e pede a Espiritos que lhe são superiores que o ajudem na nova empresa que sobre si toma, ciente de que o Espírito, que lhe for dado por guia nessa outra existência, se esforçara por leva-lo a reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das em que incorreu. Tendes essa intuição no pensamento, no desejo criminoso que frequentemente vos assalta e a que instintivamente resistis, atribuindo, as mais das vezes, essa resistência aos princípios que recebestes de vossos pais, quando e a voz da consciência que vos fala. Essa voz, que é a lembrança do passado, vos adverte para não recairdes nas faltas de que já vos fizestes culpados. Na nova existência, se sofre com coragem aquelas provas e resiste, o Espírito se eleva e ascende na hierarquia dos Espiritos, ao voltar para o meio deles.”

Não somos uma carta em branco que nasce e começa a sua história, somos espíritos milenares, buscando através das diversas experiências a nossa melhoria, a nossa evolução. Não andamos sós, somos auxiliados por espíritos superiores que trabalham pela nossa melhoria, nos aconselhando e intuindo, requerendo, porém, que nos esforcemos em nossa jornada. Quando nos é oferecida uma revelação como a que

Públio teve, há sempre um propósito e quase sempre ele é para nos auxiliar, nos advertir. Ao olharmos este trecho da vida de Públio, percebemos claramente que houve uma intuição, um sonho, até mesmo os documentos que achou de seu avô lhe indicavam uma vida anterior, motivando-o para um novo agir. Mas, tal qual nós o fazemos, este aviso foi ignorado. Deus sempre tem um plano amoroso para nós, há sempre uma estrada de resgate através de boas ações e vivências fraternas, mas temos atraído a dor em nossa jornada. Isto nos fica muito claro ao olharmos a vida de Públio, que Jesus nos auxilie para que tenhamos a coragem de ouvir o que nos é dito, intuído. Outrora, houve um homem que anunciou a vinda de Jesus. João Batista não foi compreendido, nem tampouco lhe deram ouvidos. Quem é você, lhe perguntaram...és o Cristo, Elias ou um profeta? Quem és? E ele respondeu e nos responde hoje: “Eu sou a Voz que clama no deserto: Endireitai o

caminho do Senhor.” Temos um deserto a atravessar, um deserto interior, de autoconhecimento, almejamos um lugar de paz e refazimento junto ao Pai e Jesus veio nos mostrar o caminho do amor, do perdão, da esperança. Emmanuel nos traz a sua vida como testemunho de que não obstante muito errarmos, Deus é misericordioso e nos encontra, acolhe, ama. Eis, então, que encerro os estudos de hoje, sabendo que para ouvir, para nos colocarmos em sintonia com os bons espíritos, precisamos ouvir o chamado do precursor do Cristo, João Batista. Emmanuel comenta o versículo no livro Caminho, Verdade e Vida e é com ela que encerramos a lição.

“Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.” João Batista (JOÃO, 1: 23) A exortação do Precursor permanece no ar, convocando os homens de boa vontade à regeneração das estradas comuns. Em todos os tempos, observamos criaturas que se candidatam à fé, que anseiam pelos benefícios do Cristo. Clamam pela sua paz, pela presença divina e, por vezes, após

transformarem os melhores sentimentos em inquietação injusta, acabam desanimadas e vencidas. Onde está Jesus que não lhes veio ao encontro dos rogos sucessivos? Em que esfera longínqua permanecerá o Senhor, distante de suas amarguras? Não compreendem que, através de mensageiros generosos do seu amor, o Cristo se encontra, em cada dia, ao lado de todos os discípulos sinceros. Falta-lhes dedicação ao bem de si mesmos. Correm ao encalço do Mestre Divino, desatentos ao conselho de João: “endireitai os caminhos”. Para que alguém sinta a influência santificadora do Cristo, é preciso retificar a estrada em que tem vivido. Muitos choram em veredas do crime, lamentam-se nos resvaladouros do erro sistemático, invocam o céu sem o desapego às paixões avassaladoras do campo material. Em tais condições, não é justo dirigir-se a alma ao Salvador, que aceitou a humilhação e a cruz sem queixas de qualquer natureza. Se queres que Jesus venha santificar as tuas atividades, endireita os caminhos da existência, regenera os teus impulsos. Desfaze as sombras que te rodeiam e senti-lo-ás, ao teu lado, com a sua bênção. Abraços fraternos!! Campo Grande – MS, 28.05.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 1b

Percorrendo as páginas do capítulo de número 1 da primeira e segunda parte, com a perspectiva de que sejam textos paralelos, com possibilidades de significados em comum, encontramos mais um ponto que merece nossa atenção e estudo. Emmanuel nos fornece um perfil dos personagens e, através dele, temos a oportunidade de ver a atuação do fator tempo na vida de Publio, Lívia e Flávia. Vejamos:

“(...) senador Públio Lentulus Cornelius, homem ainda moço, que, à maneira da época, exercia no Senado funções legislativas e judiciais, de acordo com os direitos que lhe competiam, como descendente de antiga família de senadores e cônsules da República. (...) era um homem relativamente jovem, aparentando menos de trinta anos não obstante o seu perfil orgulhoso e austero, aliado à túnica de ampla barra purpúrea, que impunha certo respeito a quantos se lhe aproximavam (…) Publio “(...) A esse tempo, vamos encontrá-lo com os traços fisionômicos (capítulo 2 da ligeiramente alterados, embora treze anos houvessem dobado segunda parte sobre os dolorosos acontecimentos de 33. Seus cabelos ainda guardavam integralmente a cor natural e apenas algumas rugas, quase imperceptíveis, tinham vindo acentuar a sua fácies de profunda austeridade. Serena tristeza lhe pairava no semblante, invariavelmente, levando-o a isolar-se quase da vida comum, para mergulhar tão somente no oceano dos seus papéis e dos seus estudos, com a única preocupação de maior vulto, que era a educação da filha, buscando dotá-la das mais elevadas qualidades intelectivas e sentimentais. Sua vida no lar continuava a mesma, embora o coração muitas vezes lhe pedisse reatar o laço conjugal, atendendo àqueles treze anos de separação íntima, com a mais absoluta renúncia de Lívia a todas e quaisquer distrações que não fossem as da vida doméstica e da sua crença. fervorosa e sincera. A sós com as suas meditações, Públio Lentulus deixava divagar o pensamento pelas recordações mais doces e mais distantes e, Publio (capítulo 1 da primeira parte)

nessas horas de introspecção, ouvia a voz da consciência que subia do coração ao cérebro, como um apelo à razão inflexível, tentando destruir-lhe os preconceitos, mas o orgulho vencia sempre, com a sua rigidez inquebrantável.” Observamos a ação do tempo na vida de Públio, a alteração dos traços fisionômicos, ainda que levemente, as dores da vida lhe alcançando e tornando-o uma pessoa mais introspectiva, mas o velho orgulho ainda lhe acrisolando a alma. Vejamos, com esta mesma perspectiva, as informações sobre Lívia. “Lívia, a esposa, expedia ordens domésticas a uma jovem escrava etrusca. (...) figura celeste de Lívia, que, no meio desse vórtice de pavores, estendia-me as mãos fúlgidas e carinhosas.(...) Lívia seguirá contigo pela via dolorosa do aperfeiçoamento, e nela encontrarás o braço amigo e protetor para os dias de provações ríspidas e acerbas. (...) Esperamos, para breve, o segundo rebento do nosso lar.” Lívia “Lívia, porém, se insulara, envolta num véu de triste resignação, (capítulo 1 como quem espera as providencias sobrenaturais, que nunca da segunda aparecem no inquieto decurso de uma existência humana. O parte esposo a conservava junto da filha, atendendo simplesmente à condição de mãe, não lhe permitindo, porém, de modo algum, interferir nos seus planos e trabalhos educativos. Para Lívia, aquele golpe rude fôra o maior sofrimento da sua vida. A própria calúnia não lhe doera tanto; mas, o reconhecer-se como dispensável junto da filha do seu coração, constituía a seus olhos a mais dolorosa humilhação da sua existência. Era por esse motivo que mais se abroquelava na fé, procurando enriquecer a alma sofredora, com as luzes da crença fervorosa e sincera. Longe de conservar as energias orgânicas, tal como acontecera ao marido, seu rosto testemunhava as injúrias do tempo, com a sua pesada bagagem de sofrimentos e amarguras. Na sua fronte, que as dores haviam santificado, pendiam já alguns fios prateados, enquanto os olhos profundos se tocavam de brilho misterioso, como se houvessem intensificado o próprio fulgor, de tanto se fixarem no infinito dos céus. Seus traços fisionômicos, embora atestassem velhice prematura, revelavam ainda a antiga beleza, agora transformada em indefinível e nobre expressão de martírio e de virtude. Um único pedido fizera ao esposo, quando se viu isolada Lívia (capítulo 1 da primeira parte)

dos seus afetos mais queridos, no ambiente doméstico, longe do próprio contacto espiritual com a filha, circunstância que ainda mais lhe afligia o coração amargurado: - foi apenas que lhe permitisse continuar nas suas práticas cristãs, em companhia de Ana, que tanto se lhe afeiçoara, com aquele espírito de dedicação que lhe conhecemos, a ponto de desprezar as oportunidades que se lhe ofereceram para constituir família. O senador deu-lhe ampla permissão em tal sentido, chegando a facultar-lhe recursos financeiros para atender aos numerosos operários da doutrina que a procuravam, discretamente, amparando-se nas suas possibilidades materiais para iniciativas renovadoras.” Vemos em Lívia o tempo operando de forma implacável, afastada do propósito divino de ser o esteio de Públio, suavizando-lhe a jornada, afastada de sua filha a quem também tinha o compromisso de conduzir-lhe a jornada, de seu filho que estava desaparecido, Lívia sofria e amparava-se tão somente em sua fé. Antes de adentrarmos mais a fundo nas lições que esta perspectiva nos oferece, vejamos o que nos conta Emmanuel sobre Flávia. Flávia (capítulo 1 da primeira parte) Flávia (capítulo 1 da segunda parte)

“O facultativo não chegou a positivar o diagnóstico, certamente em razão da sua comiseração pela doentinha e pelo nosso paternal desespero; mas, segundo nossas observações, acreditamos que o médico de Tibur presume tratar-se de um caso de lepra. (...) a verdade é que minha pobre filha, com todos os nossos cuidados, mais parece uma dessas infelizes criaturinhas atiradas ao Velabro. (…) “No esplendor dos seus vinte e dois anos, ostentava o fruto da educação que o pai lhe dera, com a forte expressão pessoal do seu caráter e da sua formação espiritual. A filha do senador era Lívia, na encantadora graça dos seus dotes físicos, e era Públio Lentulus, pelo coração. Educada por professores eminentes, que se sucederam no curso dos anos, sob a escolha dos Severus, que jamais se descuidaram dos seus amigos distantes, sabia o idioma pátrio a fundo, manejando o grego com a mesma facilidade e mantendo-se em contacto com os autores mais célebres, em virtude do seu constante convívio com a intelectualidade paterna.”

Quinze anos passados! Mas o tempo não agiu da mesma forma, ao olharmos a descrição de Públio veremos os traços fisionômicos levemente alterados e um aumento em sua introspecção. Da mesma forma, se olharmos Flávia veremos que a cura da doença e a educação fizeram-na desabrochar em inteligência e beleza. Lívia, no entanto, sofreu a ação das desditas da vida. Se nos sonhos de Públio ela seria o anjo tutelar a lhe assistir nos momentos difíceis, na vida real ele a afastou de tal forma que o padecimento por esta e outras dores lhe foram expressivos motivos de dor e envelhecimento. Esta é a visão que o livro nos mostra, com nossos olhos físicos, pautados em apenas uma vida, a que nos é relatada e tal perspectiva é dolorosa. Onde a justiça divina? Onde o amor de Deus? Qual a razão de Lívia sofrer a ação do tempo de forma desigual, sendo que estava totalmente isenta das acusações que lhe eram feitas? Entendemos o que ocorre? Em nossas vidas, certamente conhecemos e vivenciamos situações de dificuldade, nem sempre estamos aptos a enfrentá-las com o amor e a resignação de Lívia, exemplo sublime de um espírito de grande força moral. Resistir ao mal que nos é inflingido sem o ímpeto da vingança, da desforra, passar por injustiças mantendo a caridade e o amor pelo seu agente, todas estas ações e sentimentos pedem do espírito uma coragem e força moral muito grande. Estamos prontos? Mas, será mesmo necessária estas duras provas? Olhemos, então, sob as luzes da doutrina espírita como o sofrimento de Lívia é percebido no mundo espiritual Primeiramente, vejamos o que nos diz o Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V – a desgraça real: “24. Toda a gente fala da infelicidade, toda a gente já a sentiu e julga conhecerlhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que a infelicidade real não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o supõem. Eles a veem na miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana. Sim, é desgraça para os que só

veem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas consequências

de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta consequências funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade que vos arranca as árvores, mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade. Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as consequências. Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as consequências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e encontra a sua compensação na vida futura. Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir. Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito! A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas do que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o repouso ilusório para vos imergir de súbito na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo.”

Então, a doutrina espírita nos convida a ampliarmos nossa visão, a deixarmos de olhar apenas para uma existência, para o hoje, e nos lembrarmos de que temos muitas vidas na vida... Se aos nossos olhos Lívia sofria, aos olhos do espírito imortal sua alma ascendia, suportando rude prova. E isto tanto é verdade que ela nunca mais precisou reencarnar, até onde se tem notícia. O que se sabe é que Emmanuel, confidenciando a Chico, que de tempos em tempos recebia autorização para ir visitá-la em esferas superiores. Tão diferente a forma como vemos o mundo e a forma como os espíritos nos veem. O texto do evangelho fala das consequências, que de todos os atos que praticamos o que lhes indicará se são bons ou não são as consequências

apresentadas. Sabemos que Públio, em decorrência de seu orgulho, teve muitas dificuldades em aceitar a boa nova de Jesus, para Lívia, porém, a mensagem de Jesus se adequou ao seu espírito e aos seus sentimentos. Como estamos? Faz sentido para nós esta mensagem, esta lição? Jesus nos confia tarefas, atuamos como coautores do Universo, porém, somente através das provas do caminho poderemos demonstrar o quanto já estamos aptos a receber e adentrar neste reino de paz e amor. Comparativamente, pensemos em uma criança que conforme vai se desenvolvendo e crescendo em maturidade e responsabilidade, mais lhe é oferecido e cobrado. Talvez, ainda nos reste o pensamento e até mesmo o questionamento dos motivos que fizeram com que a descrição da ação de tempo de 15 anos em Lívia e em Publio e Flávia fosse tão diferente, tão mais acentuada. Entendemos isso? Se não olharmos para o Cristo, dificilmente entenderemos os sofrimentos de Lívia. Trata-se de um coração amoroso, destinado a uma missão e que por motivos alheios a sua vontade, não teve como prosseguir. Lívia veio nesta encarnação para auxiliar Públio, para que ele enfrentasse as provas do caminho com mais brandura. Impedida de cumprir sua missão, foi-lhe requerido o testemunho silencioso, o exercício da virtude da paciência para alcançar o coração de seu amado. Esta lição, já a vimos nos outros romances e ela nos é repetida. Deus tem sempre um plano amoroso para a nossa vida, mas reiteradas vezes nos afastamos dele. Paulo poderia ter ouvido Estevão e sua estrada teria sido mais branda, mas ao manter-se inflexível atraiu para seu caminho muita luta e sofrimento. Abigail lhe suavizaria a jornada, tal qual Lívia o faria com Públio, mas quando o orgulho prevalece, quando colocamos a nossa vontade acima dos desígnios de Deus, dificultamos a nossa vida. Como Paulo, também Públio terá oportunidades de rever atos e posturas e, mais a frente, veremos quando sua alma finalmente se entrega ao convite amoroso de Jesus. O convite, então, é que olhemos o tempo passado, os quinze anos, voltemos ao ano 2000... de lá para cá, quantas vezes fomos como Públio, deixando-nos governar pelo orgulho, que impede a alma de seguir em frente, eis que quem tudo sabe e está sempre com a verdade, como aprenderá? Sondemos, também, quando a doença nos visitou o corpo físico, recordando de Flávia, nos levando a outros estados de vida, de dependência, de reflexão, e jamais olvidemos da cura que nos revigorou o ânimo e a energia, permitindo que a vida se abrisse mais um vez. E, por fim, perscrutemos as nossas vidas buscando os momentos, talvez ainda

pequeninos, em que fomos capazes de colocar o amor acima de nossas necessidades e anseios, sabendo silenciar, apesar da dor, tendo em mente a vida sublime de Lívia, recordando-nos também que se muito já sofremos, todas as vezes que soubemos nos colocar nos braços amorosos do Pai, entregando a Ele nossas dúvidas, anseios, medos, abriu-se um mundo de esperança, o mundo vindouro de nossas almas imortais. Em nossa estrada, também nos é feito o convite de reconhecermos o plano amoroso do Pai Criador. Quando esteve entre nós, certa feita Jesus perguntou aos que o seguiam e, hoje, esta pergunta está sendo feita a nós outros, que nos apresentamos como discípulos do Mestre, necessitados do seu amparo e de sua mão condutora. O texto encontra-se no Evangelho de João, 1:38: QUE BUSCAIS? Emmanuel comenta este versículo, e é com este comentário que encerramos as reflexões de hoje. Livro O Espírito da Verdade, lição 54: “Que buscais?” – Jesus (João, 1: 38) Esta simples indagação do Senhor, aos dois discípulos que o seguiam, é dirigida presentemente a todos os lidadores do Espiritismo, diante da Boa Nova renascente no mundo. Ao obreiro modesto da assistência fraternal, exprime a Voz Superior a reclamarlhe os frutos na colheita do bem. Ao colaborador da propaganda doutrinária, representa a interpelação incessante acerca da tarefa de resguardar a pureza dos postulados que consolam e instruem. Ao orientador das assembleias de nossa fé, é a pergunta judiciosa, quanto à qualidade do esforço no cumprimento dos deveres que lhe competem. Ao servidor da evangelização infantil, surge a interrogação do Divino Mestre qual brado de alerta relativamente ao rumo escolhido para a sementeira de luz. Ao portador da responsabilidade mediúnica, inquire Jesus pela aplicação dos talentos que lhe foram confiados. Ao aprendiz incipiente da oficina espírita cristã constitui adequada sindicância quanto à sinceridade que traz consigo, alertando-o para os deveres justos. A cada criatura que desperta em mais altos níveis da fé raciocinada, soa a interpelação do Senhor como sendo convite às obras em que se afirme a caridade real. Assim, escuta no íntimo, em cada lance das próprias atividades, a austera palavra do Condutor Divino, convocando-te à coerência entre o ideal e o esforço, entre a promessa e a realização.

Analisa o que fazes. Observa o que dizes. Medita em torno de tuas aspirações mais ocultas. Que resposta forneces à indagação do Senhor? Quem segue o Cristo, vive-lhe o apostolado. Serve, coopera e caminha avante, sem temor ou vacilação, lembrando-te de que o Verbo da Verdade incide sobre nós, cada dia, perguntando incessantemente: – Que buscais? Abraços fraternos! Campo Grande-MS, 05.06.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 1c

Finalizando a primeira etapa do estudo do livro Há 2000 anos, num total de 10, iremos buscar mais uma lição evangélica, uma lição para as nossas vidas, auxiliando-nos em nossa reforma íntima, da qual todos necessitamos. Para tanto, continuaremos a utilizar a perspectiva do paralelismo, onde sondamos os capítulos de igual numeração, primeira e segunda parte, em busca de fatos e situações compatíveis, amparados pelas luzes do Evangelho de João a fim de que nossa compreensão se amplie. Públio e Flaminio Severus eram amigos de longa data, suas famílias reuniam-se e criaram laços sinceros de afetividade e confiança. O livro Há 2000 anos tem como título do primeiro capítulo: “Dois Amigos”, informando justamente sobre Publio e Flaminio, sua amizade sincera, pautada na confiança mútua que lhes permitia trocar confidencias e conselhos. Publio encontrava-se aflito, questionando sua fé, seus deuses, e toda a crença na qual fora educado. Reflete sobre a possibilidade da reencarnação, tendo em vista os sonhos e descobertas que havia feito sobre seu bisavô. Algumas frases nos auxiliam a perceber o tom desta amizade: - “Um laivo de perspectivas sombrias transparecia na fronte dos dois amigos” O problema era de Publio, mas o amigo se solidarizava, sentia junto... - “Os dois amigos haviam-se recolhido a um largo banco de mármore, reclinando-se nos estofos orientais que o forravam, prosseguindo na palestra amistosa.” A alegria da amizade, a conversa que se perde nas horas e que não se esgota. - “Flamínio Severus ouvia-o com interesse e atenção, rebuscando o meio mais fácil de lhe desvanecer impressões tão penosas.” Ouvir com atenção, interesse...algo tão raro nos dias de hoje... - “Compreendia que era necessário primeiro restabelecer sua própria fortaleza de ânimo, entendendo que a lógica da brandura deveria ser o escudo de suas palavras, para esclarecimento do amigo que ele mais considerava irmão.” As

palavras ditas em um ambiente tão fraterno e amoroso, perduram em nossos corações por toda uma existência. Pois bem, situamo-nos em como andavam sintonizados estes dois corações. Agora, nos cabe verificar do que se tratava o assunto. Publio, como foi dito anteriormente, teve sonhos reveladores, descobriu documentos que lhe indicavam sua antiga reencarnação, tinha tido até a oportunidade de conversar com um escravo que lhe explicara sobre a reencarnação, pois havia passado um tempo na India e lá aprendera estes conceitos. Porém, ao conversar com o amigo, este lhe foi contrário e seus conselhos tiveram uma repercussão muito forte em Publio. Poderíamos, então, responsabilizar Flaminio pela queda de Publio? Seria ele o culpado por suas atitudes posteriores que geraram dor e sofrimento a sua família? Não, com certeza não! Cada um de nós poderá agir conforme nossa consciência e livre arbítrio, porém, não estamos sozinhos no mundo e a todo instante interagimos, trocamos. O livro Pensamento e Vida, em seu primeiro capítulo, nos auxilia sobre esta troca incessante de pensamentos e sentimentos: “Ninguém pode ultrapassar de improviso os recursos da própria mente, muito além do círculo de trabalho em que estagia; contudo, assinalamos, todos nós, os reflexos uns dos outros, dentro da nossa relativa capacidade de assimilação. Ninguém permanece fora do movimento de permuta incessante.” Chegamos, assim, a uma palavra mais apropriada à atitude de Flaminio para com Publio: influência! A todo instante nossos pensamentos e nossas palavras ecoam pelo mundo. Resta-nos a pergunta: o que estamos gerando através destas emanações? Esta é a primeira lição e um convite a que nos observemos, buscando um olhar sincero para qual tipo de energia nossa vida espelha. Prossigamos. Flaminius disse uma frase que ecoou no coração de Publio por 15 longos anos: “Bem sabes do respeito que me inspiram os áugures do templo, mas, afinal, o que te ocorreu não pode passar, simplesmente, de um sonho, e tu não ignoras como devemos temer a imaginação dentro de nossas perspectivas de homens práticos.” Passemos para o capítulo 1 da segunda parte, que tem como título: “A morte de Flaminio”. Decorridos 15 anos de ausência de Roma, Publio recebe uma carta noticiando-lhe o estado precário de saúde do amigo, juntamente com um pedido de auxílio, que é prontamente atendido. Retornam a Roma e Publio anseia por

reencontrar o amigo: “Em direção à cidade, pensou então o senador que, finalmente, ia rever o amigo muito amado.” Mas não é apenas o tom da amizade e do reencontro que ligam estes dois capítulos de forma belíssima. Flaminio fará menção àquela conversa que aconteceu há 15 anos e vejamos que interessante, Publio permaneceu com o pensamento conforme os conselhos de Flamínio, mas este, não. Olhemos os trechos do livro: - Lembras-te daquela noite em que me confiaste os pormenores de um sonho misterioso, no auge da tua emotividade dolorosa? - Oh! se me lembro!... - revidou Públio Lentulus recordando, de modo inexplicável, não só a palestra remota que resolvera a viagem à Palestina, mas também outro sonho, no qual testemunhara os mesmos fenômenos intraduzíveis, na noite do seu encontro com Jesus de Nazaré. Ao lembrar-se daquela personalidade maravilhosa, estremeceu-lhe o coração, mas tudo fez por evitar ao amigo uma impressão mais forte e dolorosa, acrescentando com aparente serenidade: - Mas, a que vem tua pergunta, se hoje estou mais que convicto, de acordo contigo mesmo, que tudo aquilo não passava de simples impressões de uma fantasia sem importância? - Fantasia? - replicou Flamínio, como se houvesse encontrado uma nova fórmula da verdade. - Já modifiquei por completo as minhas idéias. A enfermidade tem, igualmente, os seus belos e grandiosos benefícios. Retido no leito há muitos meses, habituei-me a invocar a proteção de Têmis, de modo que não chegasse a ver nos meus padecimentos mais que o resultado penoso dos meus próprios méritos, perante a incorruptível justiça dos deuses, até que uma noite tive impressões iguais às tuas.

As convicções de outrora já não permanecem no coração de Flaminio, que ao fim da vida, conseguiu compreender que vivemos muitos vidas, que elas estão interligadas e que muito do que nos acontece hoje encontra a justificativa neste passado oculto. Mas o que isto tudo quer nos dizer? O que podemos aprender com estes laços de amizade tão profundos? Primeiramente, cabe-nos sondar os nossos relacionamentos e verificar que ensejamos nos corações que nos cercam a palavra amiga e consoladora. Se somos um esteio, uma fonte de amparo e alegria. O que estamos oferecendo aos nossos

amigos? Conseguimos ouvir com zelo e atenção? Nos preocupamos com suas vidas tal qual fosse a nossa própria? O exemplo da amizade de Publio e Flaminio é algo digno de nota e observação. Um outro ponto que merece nossa atenção é a questão de que ao longo dos anos nós mudamos, revemos pensamentos, evoluímos de modo geral. Publio ficou preso a um conselho por toda uma vida, e até mesmo Flaminio, que o aconselhara, já tinha modificado seu modo de pensar. A rigidez com que tratamos alguns assuntos pode em muito nos prejudicar. Fazemos isso com pessoas, com instituições, com igrejas, permanecemos com uma visão que pode não representar a atual e verdadeira. Assim, esta perspectiva apresentada pelo livro é um convite a que sejamos mais flexíveis, que estejamos aptos a rever posicionamentos quando a vida assim nos convidar. Flaminio o fez ao fim da vida, Publio também terá seu momento e vejam, quantas oportunidades reiteradas de corrigir a rota, de alcançar a verdade. No capítulo 1 da segunda parte, Publio recorda não apenas do sonho que teve em Cafarnaum e que foi objeto da conversa com Flaminio, lembra-se, também: “mas também outro sonho, no qual testemunhara os mesmos fenômenos intraduzíveis, na noite do seu encontro com Jesus de Nazaré.” Naquele dia em que Publio encontrou Jesus, este se aproximou como um bom amigo, respeitoso e verdadeiro. Queria abraçar Publio como o fizera com tantos, mas não era chegada a hora, Publio ainda não tinha o seu coração aberto para o amor do Mestre. E neste tom de amizade, de olharmos quem somos e como agimos, somos nós, também, convidados a deixar o amor amigo de Jesus adentrar em nossas vidas e corações. Ele o disse a João: “Já não vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” (João, 15.15) Jesus é um amigo? Encontramos em seu evangelho bons conselhos que nos acompanham em nossa jornada? Temos na prece um esteio seguro e consolador? Ninguém está só no mundo, temos um grande amigo que zela por nós desde o início dos tempos. Levantemos o nosso olhar e alcancemos este imenso amor. E quando vislumbrarmos a imensidão desta amizade, estaremos aptos a perguntar: Somos amigos de Jesus?

Deus, em sua infinita bondade, nos permite o exercício amoroso em nosso convívio diário. “amai-vos e instrui-vos”disse Kardec. São experiências que nos propiciam crescer, evoluir. Amizades sinceras são tesouros inestimáveis neste mundo passageiro. A medida que nossa capacidade de amar se amplia, também nossa riqueza imaterial se torna maior, e ao sentirmos o amor que nos cerca, vamos também nos apercebendo do amor de Deus e do seu filho, Jesus. Irmanados, assim, vamos deixando a condição de servos, que cumprem ordens e temem castigos, para nos tornarmos filhos de Deus, partícipes da sua criação e, como filhos, responsáveis pelo mundo que nos cerca. Emmanuel comenta o versículo anterior ao citado, João 15:14, no livro Palavras da Vida Eterna, lição 134 e é com ela que encerramos o estudo de hoje.

“Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando." - Jesus Aspirando ao titulo de amigos do Senhor, urge não lhe perdermos as instruções. Imbuídos e entusiasmo, somos pródigos em manifestações exteriores, quanto a esse propósito, acrescendo notar que quase todas elas se caracterizam por alto valor indutivo.Esforçamo-nos por estudar-lhe palavras e atitudes: e, claramente, não dispomos de quaisquer recursos outros para penetrar-lhes o luminoso sentido. Administramos conselhos preciosos, em nome dele, sem que nos seja permitido manejar veiculo mais adequado às circunstâncias, a fim de que irmãos nossos consigam encontrar a direção ou o caminho de que se mostram carecedores. Escrevemos páginas que lhe expressam as diretrizes; e não nos cabe agir de outro modo para que se nos amplie, na Terra, a cultura de espírito. Levantamos tribunais, em que lhe retratamos o ensino pelo verbo bem-posto, sendo necessário que assim procedamos, difundindo esclarecimentos edificantes que nos favoreçam a educação dos sentimentos. Realizamos pesquisas laboriosas, ajustando as elucidações inspiradas por ele aos preceitos gramaticais em voga, competindo-nos reconhecer que não existe outra via senão essa para fazer-lhe a orientação respeitada nas assembléias humanas. Entretanto, isso não basta. Ele mesmo não se limitou a induzir. Demonstrando a própria união com o Eterno Bem, consagrou-se a substancializá-lo na construção do bem de todos. Em verdade, podemos reverenciar o Cristo, aqui e ali, dessa ou daquela forma, resultando, invariavelmente, alguma vantagem de semelhante norma externa; mas, para sabermos como usufruir-lhe a sublime intimidade, é forçoso lhe ouçamos a afirmação categórica: "Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando".

Que possamos prosseguir nesta jornada atentos aos nossos laços afetivos, cuidando e zelando pelos que nos cercam. Recordemos, sempre, que Jesus é um amigo dedicado que trabalha incessantemente pelo nosso crescimento e evolução. Deixemo-nos dirigir por este amigo bondoso que quer nosso bem. Abraços fraternos, rogando a doce paz de Jesus a todos os corações. Campo Grande-MS, 12.06.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 2a

“ Quem quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com o ciúme e a inveja. Os que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo arruído que promovem.” A Genese, cap. XVII

Prosseguindo nossos estudos do livro Há 2000 anos, sob a perspectiva de capítulos paralelos, iremos, nesta etapa, sondar as convergências dos capítulos de número 2, primeira e segunda parte. Inicia o capítulo 2 da primeira parte com uma importante descrição da figura feminina nos tempos romanos: “Desde os primeiros tempos do Império, a mulher romana havia-se entregado à dissipação e ao luxo excessivo, em detrimento das obrigações santificadoras do lar e da família. (...) Mulheres havia, ao tempo, que se orgulhavam do padrão das antigas virtudes familiares, de quantas as tinham antecedido no labor construtivo das gerações de tantas almas sensíveis e nobres. As esposas de Públio e Flamínio eram desse número. Criaturas inteligentes e valorosas, ambas fugiam da onda corruptora da época, representando dois símbolos de bom-senso e simplicidade.” E o capítulo segue com um diálogo entre Lívia e Calpurnia, amigas de longa data: “trocando impressões íntimas, à meia voz, em tom amigo e discreto.” Exemplos que nos ensinam ainda hoje. O capítulo 2 da segunda parte, também nos noticia um diálogo entre duas mulheres, porém, em outro tom e com intenções bem diversas. Vejamos um trecho da conversa entre Fulvia e Aurélia: Eis porque, daí a algum tempo, vamos encontrar mãe e filha em palestra animada sobre o assunto, na intimidade do lar, dando a entender a mesquinhez de seus

sentimentos, embora os cabelos brancos infundissem veneração na fronte materna, que, apesar disso, não se deixava vencer pelos argumentos da experiência e da idade. - Eu também - exclamava Fúlvia, maliciosamente, respondendo a uma interpelação da filha - muito me surpreendi com as atitudes de Plínio, por julgá-lo um rapaz cioso do cumprimento de seus deveres; mas não me interessei pelos modos de Flávia, porquanto sempre achei que os filhos têm de herdar fatalmente as qualidades dos pais e, mais particularmente no caso presente, quando a herança é materna, com mais bases de certeza irrefutável para o nosso julgamento. - Oh! mãe, queres dizer, então, que conheces a conduta de Lívia a esse ponto? perguntou Aurélia, com bastante interesse. - Nem duvides que seja de outra forma... E a imaginação caluniosa de Fúlvia passou a satisfazer a curiosidade da filha, com os fatos mais inverossímeis e terríveis, sobre a esposa do senador, quando de sua permanência na Palestina, glosados pelas expressões de ironia e desprezo da jovem, dominada pelos mais acerbos ciúmes (…)” Em rápida leitura percebemos o quão distantes estão os dois diálogos. Se no primeiro o tom é amistoso, familiar, harmonioso, não obstante as lutas e dificuldades pelas quais atravessam Livia e Calpúrnia, identificamos no diálogo de Fulvia todo o amargor de seu espírito que ainda transitava em esferas mais baixas fazendo uso da palavra para ferir e caluniar. Eis, assim, a primeira reflexão que nos cabe fazer ao olharmos estes dois exemplos: como andam as conversas que entabulo em minha vida cotidiana? Tenho usado com cuidado as palavras? Sondando o meu íntimo, quais as intenções do que digo nos lugares por onde passo? Não obstante ser uma pessoa de bem, de conduta honesta e amável, Lívia foi alvo da inveja e da maledicência de Fulvia e poderíamos dizer que isto se dá em razão do diverso momento evolutivo em que se encontram, afirmando que através das várias experiências reencarnatórias, um dia Fúlvia aprenderá a dor de ser alvo de calunias e difamações. Porém, buscamos aqui não apenas um raio X dos personagens, mas aprender com suas vivências, trazendo as lições para o nosso momento, para o nosso viver. Para isto, é preciso ir mais a fundo... Recordemos que no início do primeiro capítulo Emmanuel nos informa que Livia e Calpúrnia destoavam das mulheres de sua época, eis que mantiveram-se firmes nos princípios familiares, “fugiam da onda corruptora da época,

representando dois símbolos de bom-senso e simplicidade”. Não se adequar ao que a sociedade dita como regra e como conduta gera conflitos. Fúlvia reconhecia que Lívia lhe era diferente, e isto a incomodava. Qual a razão? Sempre que encontramos alguém que pensa e age diferente de nós, isto nos causará estranheza e nos remeterá a reflexão: está certo ou errado? E se eu não tiver a maturidade emocional de verificar que o que é diferente não necessariamente está errado, estará instaurado um conflito. Cada um de nós opta por uma forma de viver, alguns são mais expansivos, outros tantos preferem uma vida mais simples e reservada. Não nos cabe julgar a quem quer que seja, pelo simples fato de que apenas a Deus é possível sondar o coração. Fúlvia via em Lívia uma ameaça ao que acreditava e ao que vivia. Seu jeito simples e sensato de viver, a incomodava. E para não ter que pensar em transformar-se ou procurar melhorar-se, lançava-lhe as críticas e intrigas. Emmanuel, na lição 34 do livro Fonte Viva, nos auxilia nesta reflexão: “O homem enxerga sempre, através da visão interior. Com as cores que usa por dentro, julga os aspectos de fora. Pelo que sente, examina os sentimentos alheios. Na conduta dos outros, supõe encontrar os meios e fins das ações que lhe são peculiares.” Queremos ver o mundo de forma mais amorosa, cuidando para que nosso falar esteja pautado nas linhas do evangelho do Cristo? Saibamos que a limpeza começa em nosso mundo íntimo, serão sempre os nossos sentimentos que nos guiarão ao outro, em exame e convívio. Difícil, não? Se a reforma íntima fosse fácil, já seríamos todos anjos...não obstante, temos a vontade como guia e condutora do caminho que elegemos. Assim, se realmente queremos que o evangelho do Cristo Jesus adentre em nossas vidas e corações, é chegada a hora de reconhecermos que a primeira mudança necessária é a minha. Como fazê-lo? Vejamos o que nos traz a doutrina espírita: “O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência são para a alma ervas venenosas das quais é preciso a cada dia arrancar algumas hastes, e que têm como antídoto: a caridade e a humildade.” (O Espiritismo em sua mais simples expressão » Máximas extraídas do ensinamento dos Espíritos » 37)

Não é por acaso que Kardec elegeu a máxima Fora da caridade não há salvação, pois sem ela, sem a caridade, não iremos prosperar. Para cada “Fúlvia” que encontrarmos em nossa jornada, lembremos que é um irmão que nos auxilia a praticarmos o bem, a paciência, a indulgência. Abstenhamo-nos de julgar ou de devolver-lhe as palavras que ferem. Seja o nosso falar um bálsamo aos que nos cercam, tendo sempre uma palavra de bom ânimo, de esperança e de alegria. Quero encerrar estas reflexões, reconhecendo que nem sempre agimos como gostaríamos, nas palavras de Paulo, o bem que quero não faço, o mal que não quero, este o faço (Romanos 7), saibamos nos reconhecer como praticantes do evangelho, em caminho evolutivo, tendo a coragem de perceber nossos erros, falhas, desacertos, rogando ao Pai que nos dê a vista caridosa a fim de encontrarmos o rumo, de acertarmos o alvo. Sempre que queiramos nos sobrepor a alguém, lembremo-nos da figura do Mestre, que serviu com humildade a todos ao seu redor. Ele nos conhecia, nos conhece, sabe de nossas imperfeições e, ainda sim, nos ama incondicionalmente. Que este amor seja fonte de restauração e erguimento, sigamos em frente, hoje, melhores que ontem e piores que amanhã. O Evangelho de João, cap. 2:25, nos fala que Jesus nos conhece: “Ele bem sabia o que havia no homem.” Assim, saibamos contar com estes irmãos mais velhos e experientes a fim de que nossa jornada seja proveitosa. Emmanuel comenta este versículo no livro Fonte Viva, lição 109, e é com ela que encerramos as reflexões de hoje. “Sim, Jesus não ignorava o que existia no homem, mas nunca se deixou impressionar negativamente. Sabia que a usura morava com Zaqueu, contudo, trouxe-o da sovinice para a benemerência. Não desconhecia que Madalena era possuída pelos gênios do mal, entretanto, renovou-a para o amor puro. Reconheceu a vaidade intelectual de Nicodemos, mas deu-lhe novas concepções da grandeza e da excelsitude da vida. Identificou a fraqueza de Simão Pedro, todavia, pouco a pouco instala no coração do discípulo a fortaleza espiritual que faria dele o sustentáculo do Cristianismo nascente. Vê as dúvidas de Tomé, sem desampará-lo. Conhece a sombra que habita em Judas, sem negar-lhe o culto da afeição. Jesus preocupou-se, acima de tudo, em proporcionar a cada alma uma visão

mais ampla da vida e em quinhoar cada espírito com eficientes recursos de renovação para o bem. Não condenes, pois, o próximo porque nele observes a inferioridade e a imperfeição. A exemplo do Cristo, ajuda quanto possas. O Amigo Divino sabe o que existe em nós... Ele não desconhece a nossa pesada e escura bagagem do pretérito, nas dificuldades do nosso presente, recheado de hesitações e de erros, mas nem por isso deixa de estender-nos amorosamente as mãos.

Que Jesus nos ampare, hoje e sempre. Abraços fraternos.

Campo Grande – MS, 26.06.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 2b

Estudar um livro é diferente de ler. Quando lemos nos deixamos envolver pelo enredo, pela história, os personagens entram em nossas vidas e se tornam nossa companhia durante esta leitura. Porém, quando decidimos aprender com o livro, ler não mais é o suficiente. E são muitas as formas e opções de se estudar. Optamos por buscar as lições evangélicas, pois, sob o nosso ponto de vista, é do que mais carecemos: o evangelho de Jesus estudado, aprendido, compreendido e vivenciado. E guardamos a convicção de que quando Emmanuel nos trouxe estes romances, ele não nos ofertou apenas relatos históricos perfeitos, ele nos apresentou um rico tesouro que aos poucos vamos descobrindo, como se fossem chaves benditas que abrem nosso entendimento e adentram nossos corações. Identificar que os romances possuem uma estrutura literária facilitou muito esta busca. Verificar que os capítulos se enquadram no mesmo estilo de muitos trechos da Bíblia, o paralelismo, nos proporciona a condição de andarmos no tempo, na vida, e nas lições que o livro vai apresentando. Assim, prosseguindo esta busca educativa, com olhos de aprendizes e profunda sede de conhecer mais, nesta etapa iremos sondar mais alguns aspectos do capítulo 2, primeira e segunda parte. Uma figura que se destaca em ambos capítulos é a amiga e conselheira de Lívia, Calpúrnia. Emmanuel a descreve logo no início do capítulo 2 da primeira parte: “Criaturas inteligentes e valorosas, ambas fugiam da onda corruptora da época, representando dois símbolos de bom-senso e simplicidade.” E a afirmativa de Emmanuel é facilmente confirmada ao sondarmos a postura de Calpúrnia, seja com a família ou com os amigos há em sua fala e em seu agir muita sabedoria. Há um “porém” em sua conduta que nos cabe verificar. Vejamos: Ante as aflições de Lívia em relação a doença de Flávia, diz-lhe a valorosa amiga: “- Mas, quem te diz que o mal é incurável? Acaso semelhante opinião provejo da palavra infalível dos deuses? Não sabes quanto é enganosa a ciência dos homens?”

Sobre o casamento e o papel da mulher, podemos colher, também, valioso conceito: “Públio é um bom coração, generoso e idealista, mas, como patrício descendente de família das mais ilustres da República, é vaidoso em demasia. Homens dessa natureza requerem grande senso psicológico da mulher, sendo justo e necessário que aparentes igualdade absoluta de sentimentos, de modo a poderes conduzi-lo sempre pelo melhor caminho.” Quando aconselha Lívia sobre a personalidade das pessoas que encontraria em Jerusalém: “Não temos o direito de reprovar os atos de ninguém, a não ser em presença daqueles que consideramos culpados ou passíveis de recriminações…” Usando de tom apaziguador ante os filhos e o marido: “- Tudo está muito certo, mas teremos de resolver o assunto em casa, porque a hora não comporta discussões entre pai e filhos.” Em conversa com Agripa, seu filho, que sofria por não ser correspondido por Flávia em seus desejos amorosos: “- Ora, filho, deves abrir-me o coração com mais sinceridade e mais franqueza. Confia-me as tuas mágoas mais íntimas, pois é possível que te possa dar algum consolo!...” E assim seguem os muitos exemplos do bom-senso de Calpúrnia, dirigindo seu lar, auxiliando os amigos. Encontraremos, porém, um episódio no capítulo 2 da segunda parte que merece a nossa atenção. Ressaltando, desde já, que nosso intuito não é tecer críticas ou acusações, mas analisar posturas a luz do Evangelho do Cristo a fim de que tenhamos a capacidade de, instruídos, verificarmos em nosso íntimo, como agimos e pensamos. Publio procura Calpurnia para aconselhar-se, abre-lhe o coração desejoso de ouvir da amiga palavras reconciliadoras, que lhe aproximassem de Lívia. Os anos na Palestina foram duros e, assim, buscava em Calpurnia, amiga de tanto tempo de Lívia, uma palavra consoladora. Ocorre que Lívia agora era cristã e aderindo ao evangelho de amor e perdão que Jesus nos apresentou, distanciou-se das crenças antigas, que compartilhava com a amiga Calpúrnia. Não obstante o amor e a amizade que as uniam, Calpúrnia ainda não conseguia entender esta nova doutrina:

“Desde os primeiros dias de permanência na casa dos amigos, recebera de Lívia e Públio, em separado, as mais dolorosas confidências sobre os fatos da Palestina, que lhes comprometeram para sempre a ventura e tranqüilidade conjugal. Mobilizando, porém, todas as suas faculdades de observação e análise, não conseguira pronunciar-se em definitivo quanto aos acontecimentos em favor da inocência da sua bondosa e leal amiga. Se, aos seus olhos, Públio Lentulus era o mesmo homem integrado no conhecimento de seus nobilíssimos deveres junto do Estado e das mais caras tradições da família patrícia, Lívia pareceu-lhe excessivamente modificada nos seus modos de crer e de sentir. E é neste momento que começam as nossas reflexões. Mesmo Calpúrnia sendo uma pessoa de boa índole, sábia em seu agir, de simples modos e profundamente dedicada a família, houve uma rejeição a nova doutrina. Qual a razão? Onde o evangelho lhe era de impossível aplicação e acolhimento? E Emmanuel nos explica as razões: “Na sua concepção de orgulho e vaidade raciais, não podia admitir aqueles princípios de humildade, aquela fraternidade e aquela fé ativa de que Lívia dava pleno testemunho junto dos próprios escravos, dentro dos postulados da nova doutrina que invadia todos os departamentos da sociedade.” Kardec entendia este tipo de sentimento, tanto que fez menção a ele na primeira edição do Livro dos Espíritos ao dizer: “há certas pessoas que supõem ter o Sol nascido somente para elas.” E esta dificuldade em reconhecer na fraternidade e na igualdade a aplicação do mandamento do Pai, amar ao próximo como a si mesmo, ainda reside em nossos dias atuais. Jesus também nos disse para amarmos nossos inimigos. E ao estudarmos mais a frente a postura de Calpúrnia, veremos que não se trata apenas de uma recomendação aos nossos desafetos, mas, também, aqueles que nos são contrários, as pessoas que pensam de forma distinta da qual concebemos como correta. E veremos que Lívia estava agindo de forma distinta ao esperado, não seguia mais os deuses de outrora e via em todos irmãos, causando em seus amigos, até mesmo os mais íntimos, grande estranheza e reprovação. E esta nova postura de Lívia fez com que Calpúrnia duvidasse até mesmo de sua integridade: “Em nossas discussões e palestras íntimas, não me revela mais aquela timidez encantadora que lhe conheci noutros tempos, demonstrando, pelo contrário, demasiada desenvoltura de opinião a respeito dos problemas sociais, que ela julga haver resolvido ao contacto duma nova fé. Suas idéias me

escandalizam com as mais injustificáveis concepções de igualdade; não hesita em classificar nossos deuses como ilusões nocivas da sociedade, para a qual tem, em todas as palavras, as mais severas recriminações, revelando singulares modificações em pensamento, indo ao extremo de confraternizar com as próprias servas de sua casa, como se fora uma simples plebéia...” E Calpúrnia vai além da mera reprovação, ante a ansiedade de Públio manifesta-se mantendo dúvidas sobre a conduta de Lívia, incentiva-o a prosseguir no silêncio e no distanciamento, ao qual se agrega: “cumpre-me aconselhar-te, a ti que conservas intactas as nossas tradições mais queridas, esperares mais algum tempo antes de esqueceres as eventualidades dolorosas do passado, de modo a observarmos se Lívia virá a beneficiar-se com a continuidade de nossas atitudes, voltando, finalmente, ao seio de nossas tradições e de nossas crenças!...” Diz-nos o codificador que “a justiça não exclui a bondade” (LE-1009), assim, Calpúrnia, sob esta perspectiva, tornou-se algoz da própria amiga, porque mesmo querendo ser justa, esqueceu-se da bondade. Publio já a punia, não obstante a sua inocência, há 17 anos. Afastou-a do convívio conjugal, privou-a da presença e da educação da filha e, agora, retornando a Roma, sua grande amiga, também toma medidas a fim de modificar-lhe o intuito de permanecer cristã. E neste ponto que percebemos o quanto a sabedoria humana é falha. Calpúrnia era uma mulher extraordinária, cheia de virtudes e qualidades, porém, seu coração ainda seguia as crenças antigas e, ainda, não aprendera sobre o Deus único, o Pai Santíssimo que faz de todos nós irmãos, iguais. Emmanuel alerta sobre isso quando diz: “Na sua concepção de orgulho e vaidade raciais, não podia admitir aqueles princípios de humildade, aquela fraternidade (...)”. Todos os credos ensinam muitas coisas e de muito valor, mas foi o Cristo que nos veio exemplificar a mais pura fraternidade, descendo e se fazendo irmão. Não foi a toa que o seu primeiro milagre foi realizado justamente em uma festa de casamento, estava ele entre amigos, irmanados em uma bela confraternização, sem superiores hierárquicos, sem distinção de raça, credo ou cor, apenas bons amigos celebrando a vida, com alegria e paz. (Bodas de Cana - João, cap. 2) E o banquete permanece, como um convite incessante para que olhemos a humanidade inteira como nossa família. Se para Calpúrnia isto ainda era inconcebível, para nós outros já não o deve ser. Sondemos nossas vidas, olhemos

com coragem e franqueza se já aderimos verdadeiramente a esta proposta de Jesus de fraternidade. Emmanuel, no livro Pão Nosso, nos diz que “A fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações entre as almas. O homem que se sente filho de Deus e sincero irmão das criaturas não é vítima dos fantasmas do despeito, da inveja, da ambição, da desconfiança.” Lívia já participava deste sentimento de sentir-se filha de Deus e era sincera irmã de todas as criaturas, não obstante, paga um preço altíssimo pela opção que faz, eis que incompreendida pelos seus afetos mais próximos. Permanece firme, amparada pelo consolo incomparável que recebe o coração que se entrega ao Cristo e se arvora no trabalho de edificar-se a si mesma. Aprendamos com ela, eis a hora. Humberto de Campos, na lição 12 do livro Boa Nova, nos conta de quando Pedro arguiu Jesus , após a festa em Canã, sobre o fato de ter transformado a água em vinho, argumentando que seria um incentivo a bebedeira, ao que Jesus lhe responde:

“Simão disse ele —, conheces a alegria de servir a um amigo? Pedro não respondeu, pelo que o Mestre continuou: As bodas de Caná foram um símbolo da nossa união na Terra. O vinho, ali, foi bem o da alegria com que desejo selar a existência do Reino de Deus nos corações. Estou com os meus amigos e amo-os a todos. Os afetos dalma, Simão, são laços misteriosos que nos conduzem a Deus. Saibamos santificar a nossa afeição, proporcionando aos nossos amigos o máximo da alegria; seja o nosso coração uma sala iluminada onde eles se sintam tranquilos e ditosos. Tenhamos sempre júbilos novos que os reconfortem, nunca contaminemos a fonte de sua simpatia com a sombra dos pesares! As mais belas horas da vida são as que empregamos em amá-los, enriquecendo--lhes as satisfações íntimas.” Lívia entendeu o valor da fraternidade, fez-se irmã de todos, servos, escravos, todos indistintamente bebiam do seu afeto e de sua bondade. Calpúrnia, como muitos de nós, não conseguia entender a alegria do amor universal, do agir

desinteressado. Hoje, porém, ao olharmos estes sublimes exemplos, podemos decidir de que forma queremos viver. Eis o convite, é Jesus quem nos chama. Agradeço por mais esta lição e pelo profundo aprendizado. Que Jesus nos ampare e guie, hoje e sempre. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 03.07.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 2c

“Certa vez, uma mãe muito preocupada com seu filho, que comia muitos doces, pediu a Gandhi que o aconselhasse a largar seu vício. Ele respondeu: "volte aqui em duas semanas". Passado este tempo, quando se encontrou com o menino, Gandhi disse: "Você deve parar de comer doces, isso fará muito mal a sua saúde". Então a mãe do menino perguntou: "Porque o senhor nos pediu para esperar este tempo para aconselhar meu filho?" Ele respondeu: "Porque há duas semanas eu mesmo ainda comia açucar". Desta maneira reformou milhões de pessoas pelo próprio exemplo.”

Finalizando esta semana o estudo da segunda parte, ainda sondando o que os capítulos de número dois tem de convergente, sob a perspectiva do paralelismo, iremos refletir sobre a questão da maternidade e sua valorosa ascensão em nossas vidas. Em realidade, ensinamos aos nossos filhos o que somos e nossos hábitos e ações falam muito mais alto que nossas palavras. Assim, qualquer pai ou mãe que queira ter alguma ascensão moral sobre o seu rebento há de querer primeiramente melhorar-se. A primeira lição, logo no início do capítulo 2 da primeira parte, Calpúrnia leva seus filhos para brincarem com Flavinha, que convalescia em razão de uma grade doença da pele, dita por médico renomado com uma grande possibilidade de ser lepra. Não obstante os supostos riscos de contágio, Calpúrnia soube observar atentamente, questionou o parecer médico, e permitiu a todos momentos de confraternização. “- Não, minha boa Lívia - respondeu Calpúrnia, com delicadeza fraternal, adivinhando-lhe as intenções -, não só Plínio, mas, também, Agripa, consagraram o dia de hoje à doentinha. Adivinho as suas vacilações e escrúpulos maternos, considerando a boa saúde dos nossos filhinhos; mas, os teus receios são infundados...”

Muitas vezes, em nome de supostos cuidados de higiene, muitas mães afastam seus filhos do contato com outras crianças. Sem dúvida que o zelo é importante e a ciência nos mostra os riscos de certas ações, não obstante, é preciso reconhecer quando o zelo está vestindo as roupas do preconceito disfarçado, impedindo que os pequenos aprendam a valorizar a própria saúde, reconhecendo que muitos não a tem. Se nos é ofertado este sublime exemplo de corações amigos que se encontram e suavizam suas dores, em troca de gentilezas, ensinando aos seus herdeiros os mais belos hábitos de amizade, cuidado e gentileza, veremos no capítulo 2 da segunda parte um exemplo contrário. A conversa de Fúlvia com sua filha, nas palavras de Emmanuel: “vamos encontrar mãe e filha em palestra animada...dando a entender a mesquinhez de seus sentimentos...” Qual exemplo que Aurélia teve em sua jornada? Quais as virtudes que Fúlvia lhe ensinou através de exemplos cotidianos? Segue o diálogo em tom de maledicência, até que Aurélia expõe a mãe sua ligação com Plínio, não obstante dizer-se apaixonada, confessa-lhe conduta imprópria. E nesta hora vemos uma ação muito comum até nos dias atuais, quando não existe uma ascensão moral dos pais sobre os filhos, em decorrência de uma conduta adequada, instaura-se uma discussão: “- Que pensas, então, que fazemos indo às festas e aos circos?Porventura, serei eu diferente das outras moças do meu tempo?E, alteando a voz como alguém que necessitasse defender-se pronunciando um libelo contra o acusador, desatou em considerações inconvenientes, através de termos asquerosos, rematando: - E tu, mãe, não tens igualmente... Fúlvia, porém, de um salto, colou-se ao corpo da filha numa atitude acrimoniosa e severa, exclamando com fria serenidade: - Cala-te! Nem mais uma palavra, pois que não era meu propósito acalentar uma víbora no próprio seio!...”

Todos querem um mundo melhor, cheio de paz e amor, mas poucos preocupam-se em começar este mundo dentro de seus próprios lares. Estes dois capítulos nos mostram como os pais influenciam na conduta de seus filhos e, repito, as lições apreendidas são aquelas que eles vivenciam em seu dia a dia,

palavras podem se tornar vazias que não estiverem alicerçadas numa conduta coerente. Há, ainda, um último exemplo do capítulo 2 da segunda parte que importa citarmos dentro deste contexto a que nos propomos sondar. Agripa adoece e depois dos desvelados cuidados de sua mãe, Calpúrnia, não obstante a melhora física, confessa a sua mãe que sua dor é na alma. Apaixonado por Flávia desde a infância, vê seu sonho desfazer-se ao perceber que ela e Plínio ligam-se e planejam matrimônio em breve tempo. Eis, novamente, a sabedoria de Calpúrnia alcançando os seus e nos ensinando. Ouve com atenção: “Calpúrnia ouvia-o em silêncio, compartilhando das suas angústias e das suas lágrimas. Ignorava aquele duelo silencioso de sentimentos e somente agora podia compreender a moléstia indefinida que lhe devorava o filho mais velho, avassaladoramente.” Usa a sua experiência de vida para socorrer os ímpetos de juventude do filho: “Seu coração possuía, porém, bastante experiência da vida e dos costumes do tempo, para ajuizar com o máximo acerto a situação e, transformando a sensibilidade feminina e os receios maternais em rígida fortaleza, respondeu-lhe comovida, acariciando-lhe os cabelos numa doce atitude (...)” Fala-lhe com amor e carinho: “- Meu Agripa, eu te compreendo o coração e sei avaliar a intensidade dos teus padecimentos morais; precisas, porém, compreender que há na vida fatalidades dolorosas, cujos problemas angustiantes devemos resolver com o máximo de coragem e paciência... Nem foi para outra coisa que os deuses nos colocaram nas culminâncias sociais, de modo a ensinarmos aos mais ignorantes e mais fracos as tradições da nossa superioridade espiritual, em face de todas as penosas eventualidades da vida e do destino.” Aconselha:

“Sê forte - continuava a nobre matrona enxugando-lhe as lágrimas silenciosas e tristes -, porque a existência exige de nós, algumas vezes, esses gestos de renúncia ilimitada!...” Deus nos permite vivenciar a maternidade como uma fonte de ensinamento riquíssima e tenhamos a certeza que todos, indistintamente, nesta ou em outra vida, passaremos por esta experiência e dela colheremos boas lições. Agripa sentiu-se melhor depois da conserva: “...sentia-se mais ou menos aliviado...” Assim, nós também podemos ser fonte de alívio enquanto mães, ou mesmo podemos ter a alegria de nos reconfortarmos em braços consoladores se nesta vida nos foi concedido nascer em berço com uma matriarca sábia e amorosa. Nem sempre será assim, muitos não terão a experiência, ou não tem mais suas mães perto de si. E neste momento, encaminhando-nos para o fim desta lição, recordemos que Jesus ao fazer-se nosso irmão, também nos permitiu sentir o acolhimento de um anjo que visitou a terra e nos assiste em desvelados cuidados, Maria, nossa mãe santíssima. Se temos em Calpúrnia um rico exemplo de conduta e inspiração, temos em Maria um exemplo sublime que nos permite este sentimento de acolhimento e de amor. Se para nós Jesus é um Mestre, amigo de todas as horas, é imperioso recordar que para ela será sempre o filho amado que carregou em seus braços desde os primeiros dias e, creio eu, ser esta uma das lembranças mais ricas para o seu espírito imortal. E este amor de mãe é estendido a todos nós, em especial aos que sofrem e se encontram em zonas de muito sofrimento. Maria se faz presente no primeiro relato de um milagre de Jesus e a todos aconselhou, em especial aos amigos de Canã, que ouvissem o seu filho e que fizessem o que ele dizia. E este conselho de mãe amorosa nos alcança ainda hoje. Emmanuel comenta este conselho de Maria e é com ele encerramos a lição de hoje. “Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.” (JOÃO, 2: 5)

O Evangelho é roteiro iluminado do qual Jesus é o centro divino. Nessa Carta da Redenção, rodeando-lhe a figura celeste, existem palavras, lembranças, dádivas e indicações muito amadas dos que lhe foram legítimos colaboradores no mundo. Recebemos aí recordações amigas de Paulo, de João, de Pedro, de companheiros outros do Senhor, e que não poderemos esquecer. Temos igualmente, no Documento Sagrado, reminiscências de Maria. Examinemos suas preciosas palavras em Caná, cheias de sabedoria e amor materno. Geralmente, quando os filhos procuram a carinhosa intervenção de mãe é que se sentem órfãos de ânimo ou necessitados de alegria. Por isso mesmo, em todos os lugares do mundo, é comum observarmos filhos discutindo com os pais e chorando ante corações maternos. Interpretada com justiça por anjo tutelar do Cristianismo, às vezes é com imensas aflições que recorremos a Maria. Em verdade, o versículo do apóstolo João não se refere a paisagens dolorosas. O episódio ocorre numa festa de bodas, mas podemos aproveitar-lhe a sublime expressão simbólica. Também nós estamos na festa de noivado do Evangelho com a Terra. Apesar dos quase vinte séculos decorridos, o júbilo ainda é de noivado, porquanto não se verificou até agora a perfeita união... Nesse grande concerto da idéia renovadora, somos serventes humildes. Em muitas ocasiões, esgota-se o vinho da esperança. Sentimo-nos extenuados, desiludidos... Imploramos ternura maternal e eis que Maria nos responde: Fazei tudo quanto ele vos disser. O conselho é sábio e profundo e foi colocado no princípio dos trabalhos de salvação. Escutando semelhante advertência de Mãe, meditemos se realmente estaremos fazendo tudo quanto o Mestre nos disse. Que tenhamos a força e a coragem de seguir este valoroso conselho desta mãe amorosa que a todos abraça. Fiquemos na paz de Jesus. Campo Grande – MS, 10.07.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 3a

“...no coração reside a força criadora do ser e somente através dele flui a generosa fonte do amor que gera a beleza e glorifica as bênçãos da vida. É por isso que Jesus, o nosso Divino Mestre, falou acima de tudo ao Coração Humano, porque se o Cérebro é garantia do progresso na Terra, o Coração é a estrela que brilha, soberana, confundindo a Terra com o Céu para que a Humanidade se integre, vitoriosa, na luminosa comunhão com Deus.” Emmanuel

Prosseguindo nossos estudos do livro Há 2000 anos, chegamos à terceira etapa em que nos caberá a leitura e estudo dos capítulos de número 3, buscando os pontos em comum, situações de convergência que nos permitam adentrar em pontos importantes ao nosso aprendizado e edificação espiritual. Ao longo de nossa jornada evolutiva temos adquirido através das diversas experiências e em diversas vidas, o aprendizado para o nosso espírito imortal. Certamente as ligações afetivas são fontes primárias que nos auxiliam na construção de quem somos. Porém, nem sempre as vivenciamos de forma equilibrada e verdadeiramente amorosa, eis que nos estamos afastados do amor de Deus e deixamos de colocá-lo no centro de nossas vidas, isto refletirá na forma como nos relacionamos com os que nos cercam, essencialmente, na forma como vivenciamos e entendemos o amor. O capítulo 3 da primeira parte nos noticia como vai a adaptação da família de Públio Lentulus a cidade de Jerusalém. Públio se integra aos trabalhos a que foi destinado, Flávia melhora de sua doença de pele e Lívia tenta se manter íntegra dentro de uma sociedade muito diferente do ambiente a que fora acostumada. Neste cenário, há porém um fato que se destaca: o assédio de Pilatos a Lívia: “Pôncio Pilatos comparecia diariamente à residência do pretor, a pretexto de predileção pela palestra com os patrícios recém-chegados da Corte. Horas a fio eram empregadas nesse mister, mas Lívia, com as secretas intuições da sua alma, compreendia os pensamentos inconfessáveis do governador a seu respeito,

recebendo de espírito prevenido os seus amáveis madrigais e alusões menos diretas.” E dentro deste cenário de luxo e extravagâncias, Pilatos sentiu-se livre para dar ensejo as suas paixões inferiores, prontamente rejeitadas por Lívia que sofria com tal assedio: “- Nobre Lívia - exclamou com emoção -, não posso guardar por mais tempo os sentimentos que as vossas virtudes cheias de beleza me inspiraram. Sei da natural repulsa de vossa alma digna, em face de minhas palavras, mas lamento não me compreendais o coração tocado dessa admiração que me avassala!...” Cabe-nos, porém, o ensejo de realizarmos algumas perguntas ante as manifestações acima. A paixão de Pilatos era apenas em decorrência da beleza física de Lívia ou havia algo em sua aura que lhe atraia? Não obstante reconhecê-la como uma mulher cheia de virtudes, Pilatos não se constrangeu em manifestar-se afetivamente, contrariando o que ele próprio dizia, caso ela lhe correspondesse. Assim, achava ele tratar-se apenas de um verniz social, seria ele capaz de entender a essência de Lívia? Pilatos era capaz de reconhecer a dignidade da mulher que lhe era objeto de desejo ou apenas a queria como um prêmio? Muitas outras arguições poderíamos realizar, tentando adentrar neste mundo íntimo de Pilatos, que ainda nos tempos atuais é tão frequente e até mesmo nominado em nossos tribunais, o uso do poder para assediar que lhes esteja de alguma forma subordinado, intitulamos hoje como assédio sexual. Aguardemos um pouco quanto a estes questionamentos, passemos ao capítulo 3 da segunda parte. Encontraremos na narrativa deste capítulo a menção a uma outra paixão, semelhante a de Pilatos, esta, porém, endereçada a Flávia, que já se encontrava casada com Plínio. Trata-se de Saul, o escravo liberto que tornara-se rico comerciante: “Esse móvel era o intenso desejo de se fazer notado pela jovem esposa de Plínio, cujo olhar parecia atraí-lo para um abismo de amor violento e irreprimível. (...) Na soledade de suas preocupações íntimas, considerava Saul que, se ela o amasse, se correspondesse à afeição violenta do seu espírito impetuoso e egoísta, jamais se

lembraria de exercer a planejada vingança sobre o coração de seu pai, indo buscar o jovem Marcus Lentulus para o lar paterno e liquidando o pretérito de visões tenebrosas; contudo, se acontecesse o contrário, executaria os seus diabólicos projetos, deixando-se embriagar pelo vinho odiento da morte.” A paixão de Saul era tão forte para seu espírito que em seus pensamentos tencionava desistir de seus planos de vingança que lhe conduziram por toda uma vida, se houvesse uma correspondência de Flávia. O que estes homens procuravam? Por que estas mulheres virtuosas lhes tocavam o coração? Conseguimos identificar o que eles, em realidade, estão buscando? Temos dois homens apaixonados, dispostos a levar adiante os seus desejos, o que podemos aprender com esta situação? A paixão é assunto sério que acompanha a humanidade desde os primórdios e é imperioso refletirmos sobre ela, uma vez que dela não estamos isentos. Kardec dedicou à paixão um trecho do capítulo do Livro dos Espíritos que trata da Perfeição Moral, vejamos um trecho: “Todas as paixões tem seu princípio num sentimento ou numa necessidade natural. O principio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa e este excesso se torna um mal, quando tem como consequência um mal qualquer. Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.” Muitas vezes tenho ouvido o dizer que o problema está nas paixões, mas eis que esta é uma idéia superficial. Vemos que a doutrina espírita nos apresenta a paixão como uma condição providencial da nossa existência, a questão é que não a dirigimos corretamente por ainda estamos ligados sobremaneira à matéria e aos sentidos, buscamos as realizações através de sensações e por isso, ainda, nos deixamos dominar pelas paixões. A questão é que Kardec nos fala que as paixões nascem de uma necessidade natural, eis então o ponto em que gostaríamos de chegar: qual a necessidade natural de Pilatos e também de Saul que originou uma paixão que tornou-se um

equívoco pelo mau direcionamento que foi dado pelos seus espíritos ainda infantis e ignorantes? Qual a necessidade do nosso espírito? O que buscamos incessantemente? Pilatos, Saul, todos nós, temos necessidades, e vou recorrer a fala de um anjo para explicar do que se trata. Alcione explica a Polux, ainda no plano espiritual (livro Renúncia): “Não temos sede de enganosas satisfações. Temos sede de Deus, Pólux! O infinito amor que nos transfunde as almas tem sua origem sagrada em sua misericórdia paternal. Quero-te eternamente, como sei que a união comigo é a tua sublime aspiração: entretanto, seria justo encerrar nosso júbilo num círculo egoístico, tão somente? Amamo-nos para sempre, a eternidade nos santifica os destinos, mas o Pai está acima de nós. Entreguemo-nos ao seu amor, no santo trabalho de suas obras. Em suas mãos augustas, meu querido, palpita a luz que enche os abismos. Haverá maior glória que praticar-lhe a divina vontade, que se traduz em amor, dedicação e alegria?” Enquanto humanidade temos galgado séculos e séculos distanciados do amor divino, da fraternidade, de nos sabermos irmanados e vivenciarmos isso. O homem egoísta acredita ser possível a felicidade para si unicamente, mas Deus em sua infinita sabedoria nos criou interdependentes, nossas almas estão entrelaçadas e a felicidade ou infelicidade de um é também a de todos. E este é o ponto em que os sonhos de Pilatos e Saul, e de tantos, deixa de ser legítimo, porque o seu desejo e o seu querer estão voltados apenas para o seu benefício pessoal, para o seu anseio e desejo que significará a dor de outrem. Nenhuma felicidade poderá prosperar se estiver alicerçada na dor de alguém. Mas como amar? Como adquirir esta sabedoria que nos faz olhar o outro como irmão? Como adentrar neste reino celestial que o Pai preparou para nossas almas quando estiverem purificadas? Nicodemos fez a Jesus pergunta similar, como vemos no Evangelho de João, cap. 3:1-8: “Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um notável entre os judeus. À noite ele veio encontrar Jesus e lhe disse: "Rabi, sabemos que vens da parte de Deus como um mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele". Jesus lhe respondeu: "Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus". Disse-lhe Nicodemos: "Como pode um homem nascer, sendo já velho? Poderá entrar uma segunda vez no seio de sua mãe e nascer?" Respondeu-lhe Jesus: "Em verdade, em

verdade, te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: deveis nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito". São as diversas vidas que nos dão a experiência, é Jesus quem nos ensina o caminho, mas somos nós, individualmente quem optamos por recalcitrar em erros, vida após vida, ou nos tornarmos novas criaturas, vivificadas pelo amor sublime do Pai. As alegrias das paixões são passageiras e enganosas, temos exemplos para nos alertar, Saul e Pilatos nos ensinam que nossos desejos não podem prosperar se estiverem alicerçados num desejo egoísta que quer tudo para si. Temos, hoje, a oportunidade bendita de estarmos vivenciando nova experiência na Terra, Emmanuel nos ensina que “a liberdade de fazer o que se quer está condicionada à liberdade de fazer o que se deve.” Esta frase está na lição 7 do livro da Esperança, que comenta um versículo do texto da conversa de Nicodemos com Jesus, acima citada, e é com esta valorosa lição que encerramos as reflexões de hoje. Vejam que os trechos sublinhados parecem dar uma descrição de Pilatos e Saul, nos auxiliando a entender o quão ainda ligados as coisas efêmeras da vida estes espíritos estavam.

“Nada te admires de que eu te haja dito ser preciso que nasças de novo.” Jesus (João, 3:7) “Não há, pois, duvidar de que sob o nome de ressurreição o principio do reencarnação era ponto de uma dos crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e as profetas confirmaram de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as palavras do Cr isto.” (Cap. IV, Item 16)

Surgem, aqui e ali, aqueles que negam o livre arbítrio, alegando que a pessoa no mundo é tão independente quanto o pássaro no alçapão. E, justificando a assertiva, mencionam a junção compulsória do espírito ao veiculo carnal, os constrangimentos da parentela, as convenções sociais, as preocupações incessantes na preservação da energia corpórea, as imposições do trabalho e a obediência natural aos regulamentos constituídos para a garantia da ordem terrestre, esquecendo-se de que não há escola sem disciplina.

Certamente, todos os patrimônios da civilização foram erigidos pelas criaturas que usaram a própria liberdade na exaltação do bem, no entanto, para fixar as realidades do livre arbítrio examinemos o reverso do quadro. Reflitamos, ainda que superficialmente, em nossos irmãos menos felizes, para recolher-lhes a dolorosa lição. Pensemos no desencanto daqueles que amontoaram moedas, por longo tempo, acumulando o suor dos semelhantes, em louvor da própria avareza, e sentem a aproximação da morte, sem migalha de luz que lhes mitigue as aflições nas trevas... Imaginemos o suplicio dos que trocaram veneráveis encargos por fantasiosos enganos, a despertarem no crepúsculo da existência, qual se fossem arremessados, sem perceber a secura asfixiante de escabroso deserto. Ponderemos a tortura dos que abusaram da inteligência, reconhecendo, à margem da sepultura, os deprimentes resultados do desprezo com que espezinharam, a dignidade humana... Consideremos o martírio dos que desvirtuaram a fé religiosa, anulando-se no isolamento improdutivo, ao repararem, no término da estância terrestre, que apenas disputaram a esterilidade do coração. Meditemos no remorso dos que se renderam à delinquência, hipnotizados pela falsa adoração a si mesmos, acordando abatidos e segregados no fundo das penitenciárias de sofrimento. Ninguém pode negar que todos eles, imanizados ao cativeiro da angústia, eram livres... Conquanto os empeços do aprendizado na experiência física eram livres para construir e educar, entender e servir. Eis porque a Doutrina Espírita fulge, da atualidade, diante da mente humana, auxiliando-nos a descobrir os Estatutos Divinos, funcionando em nós próprios, no foro da consciência, a fim de aprendermos que a liberdade de fazer o que se quer

está condicionada à liberdade de fazer o que se deve. Estudemos os princípios da reencarnação, na lei de causa e efeito, à luz da justiça e da misericórdia de Deus e perceberemos que mesmo encarcerados agora em constringentes obrigações, estamos intimamente livres para aceitar com respeito e humildade as determinações da vida, edificando o espírito de trabalho e compreensão naqueles que nos observam e nos rodeiam, marchando, gradativamente, para a nossa emancipação integral, desde hoje.” (Emmanuel – Livro da Esperança) Que Jesus nos auxilie a que não desperdicemos nova chance de aprendermos e exemplificarmos o evangelho de Jesus.

Abraços fraternos.

Campo Grande – MS, 17.07.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos - Parte 3b “Sem dúvida, a fé não se prescreve, nem, o que ainda é mais certo, se impõe. Não; ela se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais básicas e não de tal ou qual crença particular. Não é à fé que compete procurá-los; a eles é que cumpre ir-lhe ao encontro e, se a buscarem sinceramente, não deixarão de achá-la. Tende, pois, como certo que os que dizem: “Nada de melhor desejamos do que crer, mas não o podemos”, apenas de lábios o dizem e não do íntimo, porquanto, ao dizerem isso, tapam os ouvidos.” Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX.

Prosseguindo nossos estudos do livro Há 2000 anos, sondaremos nesta etapa trechos dos capítulos de número 3, primeira e segunda parte, ainda sob a perspectiva do paralelismo, muito comum nos livros escritos pelo povo hebreu e que hoje intitulamos de Bíblia. As lições que buscamos, porém, são as evangélicas, são as que nos ensinem e nos remetam a um melhor viver, assim, este estudo tem o propósito de realizar-se sob as luzes do evangelho. Para este romance, em especial, optamos pelo evangelho de João, recordando que Emmanuel, enquanto escravo Nestório (livro 50 anos depois) foi por ele evangelizado em sua infância. Com este ensejo, temos encontrado ricas lições e profundos aprendizados ao confrontarmos estes dois livros, distanciados por 2000 anos na escrita, mas profundamente interligados pelas lições imorredouras que fluem das esferas crísticas. Há no capítulo 3 da primeira parte a narrativa de uma festa proporcionada por Pilatos aos seus mais novos convidados, Públio e Lívia. Em determinado momento, um dos participantes da festa e subordinado a Pilatos, Sulpício, narra sobre o mais novo e famoso profeta dos judeus. Trata-se de um momento belíssimo do livro que reproduzimos na íntegra:

“De sua personalidade, extraordinária de beleza simples, vinha um "não sei quê", dominando a turba que se aquietava, de leve, ouvindo-lhe as promessas de um eterno reinado... Seus cabelos esvoaçavam às brisas da tarde mansa, como se fossem fios de luz desconhecida nas claridades serenas do crepúsculo; e de seus olhos compassivos parecia nascer uma onda de piedade e comiseração infinitas. Descalço e pobre, notava-se-lhe a limpeza da túnica, cuja brancura se casava à leveza dos seus traços delicados. Sua palavra era como um cântico de esperança para todos os sofredores do mundo, suspenso entre o céu e a terra, renovando os pensamentos de quantos o escutavam... Falava de nossas grandezas e conquistas como se fossem coisas bem miseráveis, fazia amargas afirmativas acerca das obras monumentais de Herodes, em Sebasto, asseverando que acima de César está um Deus Todo-Poderoso, providência de todos os desesperados e de todos os aflitos... No seu ensinamento de humildade e amor, considera todos os homens como irmãos bem-amados, filhos desse Pai de misericórdia e justiça, que nós não conhecemos...” Emmanuel continua a narrativa demonstrando a repercussão das palavras de Sulpicio nos corações presentes, alguns rejeitam, outros refletem, outros sentem-se curiosos...tratava-se ali de uma pequena semente lançada, a notícia do amor encarnado, que frutificaria em cada um a seu tempo. E a nós, como chega esta mensagem? Como recebemos a mensagem que o Cristo trouxe até nós, de humildade e amor? Kardec nos ensina que “para crer, não basta ver; é preciso, sobretudo, compreender.” (cap. XIX do Evangelho Segundo o Espiritismo), assim, cabe a nós a pergunta e a reflexão: compreendemos a mensagem do Cristo? Diante da narrativa de Sulpicio estavam grandes personalidades da época em que o mundo era regido pelos ideais romanos, governadores, senadores, pretores, as maiores autoridades de uma época tiveram acesso a esta narrativa, alguns pessoalmente o conheceram, como é o caso do Senador Publio. Alguns até mesmo acreditaram em seus milagres, viram com seus olhos, mas não compreenderam. E a nós, que buscamos aprender com estas vidas e exemplos trazidos pela escrita de Emmanuel, cabe o questionamento: o que significa, afinal, compreender a mensagem do Cristo?

Alcemos voo ao capitulo 3 da segunda parte, e veremos que esta pequena semente lançada frutificou em um dos corações presentes, olhemos para o bondoso e sofrido coração de Lívia e encontraremos a salutar resposta a esta indagação: “Assim é que, quando se anunciava a chegada de algum apóstolo da Galileia ou das regiões que lhe são fronteiriças, Lívia fazia questão de comparecer, fazendo-se acompanhar pela serva desvelada e fiel, atravessando os caminhos a pé, embora trajasse agora a sua indumentária patrícia, de conformidade com a autorização do marido, para professar livremente as suas crenças. Ela estava ciente de que, perante a sociedade, sua atitude representava grave perigo, mas o sacrifício de Simeão fora um marco de luz assinalando os seus destinos na Terra. Adquirira coragem, serenidade, resignação e conhecimento de si mesma, para nunca tergiversar em detrimento da sua fé ardente e pura. Se as suas antigas relações de amizade, em Roma, atribuíam suas modificações interiores à demência; se o marido não a compreendia e Calpúrnia e Plínio cavavam, ainda mais, o grande abismo que Públio havia aberto entre ela e a filha, possuía o seu espírito, na crença, um caminho divino para fugir de todas as terrenas amarguras, sentindo que o Divino Mestre de Nazaré lhe dulcificava as úlceras da alma, compadecendo-se do seu coração retalhado de angústias. Era-lhe a fé como um archote luminoso clareando a estrada dolorosa, e do qual se irradiavam os clarões da confiança humana na Providência Divina, que transforma as provações penosas da Terra em antegozo das eternas alegrias do Infinito.” Coragem, serenidade, resignação, conhecimento de si mesmo...reconhecemos em nós estas características? Deixamos o Divino Mestre dulcificar as úlceras de nossas almas? Sentimos o antegozo das eternas alegrias do Infinito? Creio, caros amigos, que muitos já conseguem acreditar em Jesus como Mestre, guia e modelo, porém, poucos são os que o compreendem. E Lívia nos é um exemplo de alguém que ouviu e foi além da mera crença, compreendeu a mensagem de Jesus e aplicou-a em sua vida, resignou-se ante as duras provas, esperou com paciência por dias melhores, permitiu que o amor consolador de Jesus adentrasse em seu coração. Recordemos, mais uma vez, a conversa de Jesus com Nicodemos que consta no capítulo 3 do Evangelho de João, o Príncipe dos Judeus também acreditava no Mestre, afirmou isto quando disse: “bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus...”, mas ante a sua dificuldade em compreender, ouve de Jesus a pergunta: “Tu és mestre em Israel e não sabes isto?” É certo que temos lido este texto, essencialmente dentro da doutrina espírita, como uma prova da existência da

reencarnação, mas é hora de vermos que ele é muito mais que isso. Trata-se aqui, também, da renovação do espírito, de nada adianta repetir vida após vida e permanecer no círculo vicioso de orgulho, da vaidade. Podemos e devemos renascer em atitude, amor, compreensão, fraternidade, podemos deixar o evangelho renascer em nossas vidas tornando o mundo que nos cerca um lugar melhor. Emmanuel comenta o versículo 3, do capítulo 3 do Evangelho de João, e é com esta mensagem que encerramos as reflexões de hoje.

Renasce agora “Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus.” Jesus (JOÃO, 3:3) A própria Natureza apresenta preciosas lições, nesse particular. Sucedem-se os anos com matemática precisão, mas os dias são sempre novos. Dispondo, assim, de trezentas e sessenta e cinco ocasiões de aprendizado e recomeço, anualmente, quantas oportunidades de renovação moral encontrará a criatura, no abençoado período de uma existência? Conserva do passado o que for bom e justo, belo e nobre, mas não guardes do pretérito os detritos e as sombras, ainda mesmo quando mascarados de encantador revestimento. Faze por ti mesmo, nos domínios da tua iniciativa pela aplicação da fraternidade real, o trabalho que a tua negligência atirará fatalmente sobre os ombros de teus benfeitores e amigos espirituais. Cada hora que surge pode ser portadora de reajustamento. Se é possível, não deixes para depois os laços de amor e paz que podes criar agora, em substituição às pesadas algemas do desafeto. Não é fácil quebrar antigos preceitos do mundo ou desenovelar o coração, a favor daqueles que nos ferem. Entretanto, o melhor antídoto contra os tóxicos da aversão é a nossa boa vontade, a benefício daqueles que nos odeiam ou que ainda não nos compreendem. Enquanto nos demoramos na fortaleza defensiva, o adversário cogita de enriquecer as munições, mas se descemos à praça, desassombrados e serenos, mostrando novas disposições na luta, a idéia de acordo substitui, dentro de nós e em torno de nossos passos, a escura fermentação da guerra.. Alguém te magoa? Reinicia o esforço da boa compreensão.

Alguém te não entende? Persevera em demonstrar os intentos mais nobres. Deixa-te reviver, cada dia, na corrente cristalina e incessante do bem. Não olvides a assertiva do Mestre: — "Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus. Renasce agora em teus propósitos, deliberações e atitudes, trabalhando para superar os obstáculos que te cercam e alcançando a antecipação da vitória sobre ti mesmo, no tempo... Mais vale auxiliar, ainda hoje, que ser auxiliado amanhã. Recordemos de Lívia que deixou-se reviver a cada dia pela mensagem imorredoura do Evangelho do Cristo, possamos nós, também, renascer agora, em nossos propósitos, deliberações e atitudes. Que Jesus a todos ilumine. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 24.07.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 3c

“Pois Deus amou de tal modo o mundo de deu seu filho unigênito, a fim de que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3: 16

Encerrando a terceira etapa de nosso estudo do livro Há 2000 anos, sob as luzes do Evangelho de João, também em seu terceiro capítulo, sondaremos as lições que a doença de Flavinha proporcionou ao seu corpo físico e ao seu espírito, buscando novamente a perspectiva de capítulos que possuem fatos correlatos e que nos remetem a um mais rico entendimento de suas lições evangélicas.

A viagem do Senador Publio Lentulus a Jerusalém teve um motivo especial e ele no-lo revela com os seguintes dizeres: “A saúde da minha pobre Flávia representa o objeto primordial da nossa longa viagem até aqui. Resolvidos os problemas do Estado, que me trouxeram a Jerusalém, há alguns dias que examino a possibilidade de me localizar em qualquer região do interior, de modo que a filhinha possa recuperar o precioso equilíbrio orgânico, aspirando um ar mais puro.” A razão maior da viagem de Públio era a busca da cura para o afeto imorredouro do seu coração, Flávia, sua filha amada padecia e tal fato repercutia em todos seus familiares. E o intuito de Públio estava tendo êxito, noticiano-nos o capítulo terceiro da primeira parte que a menina estava em franca melhora. É também neste capítulo, como vimos anteriormente, que Flávia ouve falar, pela primeira vez, de Jesus e das curas que ele realizava. Sulpício relatou fatos que presenciara e a todos surpreendeu, em especial a menina Flávia, como segue: “(...) as senhoras presentes, com exceção de Fúlvia, pareciam fundamente impressionadas com a descrição de Sulpício, inclusive a pequenina Flávia, que lhe bebera as palavras com o máximo de curiosidade infantil.” Guardados estes dois fatos, o ensejo de Publio que almejava a cura de Flávia e a dela própria que se interessava pelo Nazareno que a todos curava, estamos aptos a percorrer as páginas do livro e também os anos da narrativa e encontrar a pequena Flávia já crescida, no capítulo 3 da segunda parte. Teremos a oportunidade de ouvir no capítulo 5 sobre a cura definitiva de sua doença, mas, esclarecemos, que este não é o objeto principal de nossa reflexão, não é a cura em si, mas o que e como desejamos em relação ao nosso corpo e nosso espírito. Públio fez grande esforço para que a melhoria física de Flávia ocorresse, porém, levado pelo orgulho e pela intransigência, separou-a a mãe, criou-a dentro do que considerava importante e primordial. O corpo renovou-se e desabrochou na juventude, mas e sua alma? Qual a cura promovida? Quais as chagas que persistiram? Encontraremos estas respostas no capítulo 3 da segunda parte, após as investidas maliciosas de Saul, Flávia vê sua ventura conjugal enfraquecida e Emmanuel nos oferece uma perspectiva muito rica:

“Plínio resumia todo o seu idealismo e toda a sua felicidade de mulher jovem. Depositara no seu coração todos os sonhos femininos, todas as suas melhores e mais florentes esperanças. Assaltada pela primeira contrariedade da sua vida social, na grande cidade de seus pais, sentia, naquele instante, a sede devoradora de um esclarecimento amigo, de uma palavra carinhosa que viesse restabelecer o equilíbrio do coração, agora turbado pelos primeiros dissabores. Faltava-lhe alguma coisa que pudesse completar as nobres qualidades do seu coração de mulher, alguma coisa que devia ser a atuação materna na sua educação, porque Públio Lentulus, na sua cegueira espiritual, lhe moldara o caráter no orgulho da estirpe, nas tradições vaidosas dos antepassados, sem desenvolver as suas qualidades de ponderação, que a influência de Lívia criaria, certo, para notáveis florações do sentimento.” A pele estava curada, Flávia refletia beleza, saúde, jovialidade, porém, seu espírito padecia de outras chagas em decorrência da ausência de Lívia. Emmanuel usa a expressão “notáveis florações do sentimento” e é belíssima esta comparação que ele faz, imaginemos, assim, que também nós outros temos um jardim em nosso mundo interior que necessita de cultivo, adubo, cuidado para que possa florescer. Deus, nosso Pai de infinita bondade, nos encaminha anjos tutelares que nos assistem em nossos caminhos de redenção. Mas se não estivermos atentos a sua presença em nossas vidas, poderemos desperdiçar uma rica oportunidade de sermos por eles influenciados. E assim tardaremos a ver este jardim interior florescer e frutificar. Ao olharmos o exemplo desta família e de sua influência na vida de Flávia, é oportuno que reflitamos: O que estamos buscando em nossas vidas? Se temos um convívio religioso, seja em centro espírita ou outro templo, ou mesmo em nossos lares, necessitamos de cura? Buscamos apenas a nossa integridade física ou estamos atentos que temos chagas morais que urgem serem tratadas? Somos responsáveis, também, por aqueles a quem o Pai Maior nos confiou a guarda e a educação, assim como a Públio foi confiada a vida de Flávia. Como estamos conduzindo-os nesta jornada? É muito fácil olharmos para Públio e o taxarmos de orgulhoso, porém, estamos aptos a ver em nós o orgulho que ainda impera e nos torna, também, cegos espirituais? E a nossa cegueira tem a repercussão na vida dos que nos cercam e a quem Deus nos confia a guarda e a educação.

Recordando as lições anteriores em que fizemos paralelos com o Evangelho de João, em especial a conversa de Jesus com Nicodemos, verificaremos que Jesus disse que “se alguém não nascer de água e de espírito, não pode entrar no Reino de Deus”. Não obstante as muitas interpretações que são oferecidas a este texto, verificamos no livro Sabedoria do Evangelho de Carlos Pastorino o elenco de 05 possibilidades, cabe a nós buscarmos a que vai de encontro ao nosso anseio e busca de espiritualização, sabedores que o Reino de Deus não é um lugar físico e restrito, mas um mundo interior de plenitude, auto-conhecimento e profundo amor. Assim, transcrevo pequeno trecho que consta no segundo volume da obra citada, eis que nos auxilia a entender que a cura de Flávia deu-se apenas no mundo físico (representado pela água), porém, ela ainda não alcançada a plenitude de suas possibilidades emocionais, eis que seu espírito não passara pelas lições e provas que necessitava e que só as experiências reiteradas iriam lhe proporcionar. Vejamos o que diz Pastorino: “Jesus, a individualidade, ensina ao homem "que venceu o povo" comum, isto é, à personalidade já evoluída acima do normal, que para conseguir o Encontro Místico é mister "nascer do alto", no Espírito. A personalidade é pura carne, é matéria, mas a individualidade é celeste, é espiritual. Se renunciarmos ao nosso pequeno "eu", renasceremos "do alto" " viveremos no Reino Divino, não mais no Reino Humano: seremos Filhos do Homem e, além disso, Filhos de Deus. Nesse ponto, estaremos (embora crucificados na carne) unidos à Divindade, num Esponsalício místico, perdidos em Deus, "como a gota no Oceano" (Bahá’u’lláh): seremos UM com o Todo, porque "eu e o Pai somos um" (Jo. 10:30).” Emmanuel, em belíssima lição no livro Palavras da Vida Eterna, nos convida e crescermos para o bem. Flávia cresceu, curou-se, casou-se, cumpriu os papéis que a sociedade de sua época aspirava, porém, faltava-lhe algo, seu espírito ainda ansiava pela boa nova do Evangelho que nos ensina o amor, o perdão e a esperança. Deus nos encaminhou Jesus, tal qual um Pai zeloso que quer a educação primorosa para seus filhos, buscando e oferecendo-lhe o melhor e mais apto professor. Seus ensinos permanecem ao longo dos milênios como um convite para que sejamos curados não apenas de nossas dores físicas, mas sobretudo de nossas chagas espirituais. Somos cegos, eis o mestre a nos dizer: vede a luz!

Olhemos o mundo ao nosso redor como rica oportunidade e não a desperdicemos outra vez. Eis um amigo de todas as horas e também um mestre inigualável, Jesus, a nos convidar também: cresçamos para o bem! Assim, encerramos estas reflexões com os comentários de Emmanuel ao evangelho de João, cap. 3:34

Observa a munificência das concessões Divinas por toda a parte. Enquanto o homem raciona a distribuição desse ou daquele recurso, Deus não altera as suas Leis de abundância. Anota na Terra em torno de ti: O Sol magnificente nutrindo a vida em todas as direções... O ar puro e sem medida... A fonte que se dá sem reservas... Tudo infinitamente doado a todos. Tudo liberalmente repartido. Qual ocorre às concessões do Senhor na ordem material, acontece no Reino do Espírito. As portas da sabedoria e do Amor jazem constantemente abertas. Os tesouros da Ciência e as alegrias da compreensão humana, as glórias da arte e as luzes da sublimação interior são acessíveis a todas as criaturas. No entanto, do rio de graças da vida, cada alma somente retira a porção de riquezas que possa perceber e utilizar proveitosamente. Estuda, observa, trabalha e renova-te para o bem. Amplia a visão que te é própria e auxilia os outros, ajudando a ti mesmo. Recorda que Deus a ninguém dá seus dons por medida, contudo, cada alma traz consigo a medida que instalou no próprio íntimo para recepção dos dons de Deus.” Que o Pai Celestial nos conduza e nos auxilie a fim de que a nossa jornada seja rica e que possamos adentrar em seu reino, eis que renascidos da água e do espírito. Abraços fraternos. Campo Grande-MS, 31.07.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 4a

"Alma, tens que procurar-te em Mim, e a Mim, hás de procurar-me em ti". (Teresa de Avila, .Búscate en mí", Obras, vol. 2.º, pág. 957).

Iniciamos nova etapa do estudo, sondando as ligações entre os capítulos de número quatro, primeira e segunda parte do livro Há 2000 anos. O primeiro ponto a ser observado é a famosa poesia que Públio fez para Lívia, Alma Gêmea, que aparece em ambos os capítulos. No capítulo quatro da primeira parte, Públio está angustiado, nervoso e Lívia o leva a sala onde se encontra sua arpa, passa a dedilhar os versos, cantando-os docemente, provocando em seu amado o refazimento e a elevação dos sentimentos. Na segunda parte, também no capítulo quatro, a situação é diversa, ambos estão separados, ainda sob o mesmo teto, conforme o costume da época, porém, sem a sintonia e a convivência de outrora, ante as intrigas em que foram envolvidos, que veremos em momento oportuno. Não obstante o afastamento, o amor de Lívia resiste as intempéries da vida e ela dedilha a antiga canção, achando-se só, Públio, porém, ouve-a por detrás da porta e sente profunda emoção. Estes são os fatos, em resumo grosseiro, ante a sublime beleza de ambos os momentos. Cabe a nós outros, porém, olharmos a poesia que acompanhou e deve acompanhar a ambos até os dias de hoje, buscando o entendimento do que as palavras dizem, mas também qual os sentimentos refletem. Comecemos, então, reproduzindo-a na íntegra, com uma pequena observação, são quatro versos, de quatro linhas cada, não por acaso a poesia também nos capítulos de número quatro (isto significa algo? – veremos mais adiante):

"Alma gêmea da minhalma, Flor de luz da minha vida,

Sublime estrela caída Das belezas da amplidão!... Quando eu errava no mundo Triste e só, no meu caminho, Chegaste, devagarinho, E encheste-me o coração. Vinhas na bênção dos deuses, Na divina claridade, Tecer-me a felicidade, Em sorrisos de esplendor!... És meu tesouro infinito, Juro-te eterna aliança, Porque eu sou tua esperança, Como és todo o meu amor!"

Já no primeiro verso, uma polêmica que acompanha estes versos há muito tempo, existirá alma gêmea, qual o sentido desta expressão? Temos duas opções: a primeira é entender que existem almas que estão predestinadas desde a sua criação a ficarem juntas; a segunda, de que uma vez unidas pelos laços do amor, irão buscar-se ao longo do tempo, em auxílio mútuo até que alcancem similar evolução, neste caso, o ponto inicial não seria sua criação, mas o elo que os une seria a aproximação durante a jornada evolutiva e a criação de um laço tão firme e sólido que jamais se destruiria, o amor eterno. Se optarmos pela primeira interpretação, entramos em campo minado, eis que estaríamos contrariando o que nos dizem os espíritos: 298. As almas que devam unir-se estão, desde suas origens, predestinadas a essa união e cada um de nós tem, nalguma parte do Universo, sua metade, a que fatalmente um dia se reunirá? “Não; não há união particular e fatal, de duas almas. A união que há é a de todos os Espiritos, mas em graus diversos, segundo a categoria que ocupam, isto é, segundo a perfeição que tenham adquirido. Quanto mais perfeitos, tanto mais

unidos. Da discórdia nascem todos os males dos humanos; da concórdia resulta a completa felicidade.” De outra forma, se optamos pela segunda opção, entendendo que a ligação se dá em momento posterior à criação, encontraremos na Doutrina Espírita forte apoio e corroboração: 386. Podem dois seres, que se conheceram e estimaram, encontrar-se noutra existência corporal e reconhecer-se? “Reconhecer-se, não. Podem, porém, sentir-se atraídos um para o outro. E, frequentemente, diversa não e a causa de intimas ligações fundadas em sincera afeição. Um do outro dois seres se aproximam devido a circunstancias aparentemente fortuitas, mas que na realidade resultam da atração de dois Espiritos, que se buscam reciprocamente por entre a multidão.” Recordemos que no início do livro nos é relatado um sonho de Públio em que ele reconhece que já convivera com Lívia em outras vidas e que nesta sua existência ela lhe assistiria como anjo-tutelar: “Lívia devia ser o meu anjo-tutelar nesse conselho de magistrados intangíveis, porque sua destra pairava sobre minha cabeça, como a impor-me resignação e serenidade, a fim de ouvir as sentenças supremas.” Assim, parece-nos mais acertada a segunda hipótese, de espíritos que se amam profundamente e buscam auxiliar-se no caminho evolutivo. Relatam os amigos de Chico Xavier que Emmanuel por algumas vezes disse ao Chico que ia descansar em esferas mais elevadas onde encontrava-se com Lívia, já em estado evolutivo muito superior. Porém, a questão não se resolve tão facilmente, Emmanuel traz considerações sobre o tema no livro O Consolador, questão 323 e seguintes, e faz uma afirmação que merece nossa atenção: “No sagrado mistério da vida, cada coração possui no Infinito a alma gêmea da sua, companheira divina para a viagem à gloriosa imortalidade. Criadas umas para as outras, as almas gêmeas se buscam, sempre que separadas.” Nos alerta, ainda, que: “Somos dos primeiros a reconhecer que em todos os textos necessitamos separar o espírito da letra; contudo, é justo lembrar que nas primeiras páginas do Antigo Testamento, base da Revelação Divina, está registrada: “e Deus considerou que o homem não devia ficar só”.”

E agora? Há contradição? Cada um fará sua escolha e seu julgamento, sem que isto represente uma polêmica, quero lhes dizer, porém, que por todo o trabalho desenvolvido por Emmanuel na leitura e interpretação do Evangelho, seus dizeres merecem todo o nosso crédito e atenção, assim sendo, ou buscamos interpretar suas palavras, como ele mesmo indica, separando o espírito da letra, ou aguardemos o tempo e as lições da vida que nos abrirão os olhos e o coração para entendermos a dimensão do que ele nos diz. Tenho para mim que esta é uma das muitas coisas que apenas quem viveu e sentiu é capaz de entender, assim, amemos muito, imensamente, desinteressadamente, e aos poucos alcançaremos o espírito destas magníficas letras produzidas por este espírito que tanto nos ensina. Ainda no livro O Consolador, na questão 326, Emmanuel nos fala que: “O amor das almas gêmeas, em suma, é aquele que o Espírito, um dia, sentirá pela Humanidade inteira. E na questão seguinte fala-nos de Jesus: “Representando para nós outros a síntese do amor divino, somos compelidos a considerar que de sua culminância espiritual enlaçou no seu coração magnânimo, com a mesma dedicação, a Humanidade inteira, depois de realizar o amor supremo.” Assim, somos convidados a pensar num amor mais amplo, que a todos alcança, e este amor foi vivenciado por Jesus, nós outros apenas damos os primeiros passos em sua direção. Não há, assim, um só ser que possa dizer-se só ou não amado, eis que Jesus a todos nos abraça, num acolhimento que, ainda, não somos capazes de alcançar, ou melhor, alguns já o são ou foram...como Lívia... Retornando ao poema: Públio coloca Lívia em patamar superior: “sublime estrela caída das belezas da amplidão” e reconhece que a sua presença lhe trouxe uma nova vida: “Quando eu errava no mundo, triste e só, no meu caminho, chegaste, devagarinho, e encheste-me o coração.” A força do amor, transforma a vida e o coração de Públio, recordemos que será através do testemunho de Lívia, de sua vida cheia de resignação e paciência, que tocará a alma do Senador Públio para que este entenda o amor do Cristo e sua boa-nova. Podemos ir, assim, ainda que aos poucos, compreendendo a bondade divina espelhada nestes exemplos. Ensaiamos o amor em nossos relacionamentos afetivos, entregamo-nos ao ser amado colocando-o em patamar altíssimo, reconhecendo que nossa vida se completa ante a sua presença, que nossa alegria só se verifica quando estamos ao seu lado. Forçoso, porém, é reconhecermos que estes são os passos inaugurais, eis que o Pai nos convida ao amor universal, amor este que Jesus nos veio demonstrar em vida e também em sua morte.

Constatamos assim, que há um caminho para nossas almas trilharem e é este caminho que nos salvará, nos guiará e nos conduzirá a plenitude: amar. Parece simples, e o é, mas a simplicidade nunca foi sinônimo de facilidade, ao contrário, no decorrer dos séculos, saindo da condição de simples e ignorantes, temos avançado em complexidade, trazendo ao nosso caminho que deveria ser unicamente o amor, ingredientes que nos atrasam, nos paralisam e até nos impedem de avançar, derivações de nossas duas chagas, o orgulho e o egoísmo, entraves que permitimos adentrarem em nossas vidas e que aos poucos somos convidados a retirar, purificar. A poesia nos convida a pensamentos românticos, temos no Evangelho um momento que poderia, de acordo com o costume da época, ser até confundido com um encontro amoroso. As moças da Samaria iam ao poço buscar água e lá, muitas e muitas vezes, encontravam com seus amados, muitos casamentos foram noticiados no Velho e Novo Testamento em encontros como o que iremos relatar. Trata-se da história relatada no Evangelho de João, capítulo 4, Jesus e a mulher samaritana. Jesus lhe pede água e ela estranha a atitude, eis que um judeu jamais deveria se aproximar de uma samaritana, ante a rivalidade de suas tribos. Não obstante Jesus lhe pede água mas o que acontece a seguir é lição amorosa, que apenas um Cristo que nos ama qual fôssemos almas gêmeas a sua, é capaz de realizar. Versículos 9 e 10: “Assim, a mulher samaritana lhe diz: Como tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou samaritana? – pois judeus não se associam com samaritanos. Em resposta, Jesus lhe disse: Se conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te diz “Dá-me de beber”, te lhe pedirias e ele te daria água viva.” Tal qual a mulher samaritana, não conhecemos o amor, dom de Deus, também, não obstante os 2000 anos decorridos, não conhecemos Jesus e por isso, não usufruímos de sua água viva, da qual quem bebe sente-se saciado e jamais tem sede. Mas qual seria a relação desta história narrada no Evangelho de João com a poesia de Públio? A começar, Públio também tinha sede de um amor eterno, puro. Todas as suas esperanças foram depositadas em Lívia, porém, não era um amor alicerçado nos ensinos do Cristo, como este ensina à Samaritana, era-lhe desconhecido o dom de Deus, a água viva da qual quem bebe jamais tem sede.

Públio amava intensamente e de uma forma belíssima, mas era um amor condicional e ante as primeiras dúvidas quanto à integridade de Lívia, o relacionamento é cortado, rompido. E sua alma torna a sentir-se só, sede. A Samaritana diz a Jesus: “dá-me desta água, para que eu não tenha sede...” E Jesus lhe diz: “vai, chama teu varão” ao que ela lhe responde que não tinha varão. Mas teve, outrora teve cinco varões (marido). Não temos condições de explorar em profundidade o significado dos 05 varões, o que queremos abstrair deste texto é que sejam deuses, amores, ou quem quer que tenha feito parte da vida desta mulher, nenhum lhe saciou a sede. De igual forma é Públio. De igual forma somos nós. O amor de Públio existe e é verdadeiro, mas falta-lhe algo. Apenas quando ele entendeu a proposta de Jesus para mundo e para a sua vida foi capaz de reconhecer o amor que Lívia estava lhe oferecendo e foi capaz de amá-la, não mais de forma condicionada e precária, mas de forma livre. Onde estamos procurando o amor? Onde temos saciado a nossa sede? Carlos Pastorino nos ensina sobre este texto no livro Sabedoria do Evangelho, volume 2, e nos apresenta uma interpretação para os cinco maridos: “"os cinco maridos" que tivera, referiam-se às suas ilusões, quando pensara que era: 1) seu próprio corpo; 2) suas sensações; 3) suas emoções; 4) seu intelecto; 5) seu "espírito"; todos eles eram "falsos", no sentido de transitórios e ilusórios. O próprio "sexto" marido atualmente, (que a levara a mergulhar no coração - poço - na busca da Cristo), esse mesmo não era legítimo, pois só a Centelha Divina, o Eu profundo, é que pode dizer-se o VERDADEIRO EU, o verdadeiro Espírito.” Esta água que sacia e que nos é apresentada por Jesus vem de Deus, mas é um movimento interior, um movimento do espírito que se reconhece filho do Pai Celestial e que, sabedor desta condição, passa a se assemelhar ao Pai que é todo amor e toda bondade. Neste sentido nos ensina Pastorino: “o Pai PROCURA com ânsia amorosa aqueles que O amam em verdadeiro Espírito, sem nenhuma interferência material, nem sensitiva, nem emocional, nem intelectual, nem mesmo espiritual-religiosa: é o Espírito Verdadeiro o único que poderá unificar-se ao Cristo Interno, à Consciência Cósmica. A alma reconhece, finalmente, na Voz interna do coração o verdadeiro Cristo Cósmico, manifestado DENTRO DE NÓS; e para ela abre-se a

Luz sublime da compreensão: é ESSE Cristo que é o verdadeiro "Caminho da Verdade e da Vida" (João, 14:6); Ele ensinar-nos-á todas as coisas (João, 14:26). E o Cristo Interno confirma a sensação íntima da alma vigilante e amorosa: "sou Eu ... que falo contigo, sou o CRISTO DE DEUS" ! O amor que se expande do coração da Alma Vigilante não tem medida: atingiu o ápice da felicidade que pode uma alma humana suportar,. encontrou o Caminho definitivo, a alma gêmea da sua alma, e a União é total e absoluta, por todos os séculos, liberta já de toda sede espúria: tem tudo; a alegria, a felicidade, o AMOR (que é DEUS) permeando-lhe, já agora conscientemente, todas as células. Já era então a hora sétima, a perfeição total e absoluta ! Nos encaminhando para o fim do estudo, retornamos ao número quatro, à poesia de 04 versos, 04 estrofes, que está no capítulo 04 da primeira parte e no capítulo 04 da segunda parte e que também nos ensina sob as luzes do capítulo 4 do Evangelho de João. Resta-nos, perguntar o que este número quatro pode nos ensinar sobre tudo o que foi dito, em rápida pesquisa poderemos encontrar inúmeros significados, a Cabala, a Árvore da Vida no judaismo, Jung, e muitos outros falaram da simbologia do número quatro (“O número 4, está relacionado com a criação, o Reino físico, a terra e as quatro estações do ano, aos quatro elementos, aos quatro pontos cardeais, ao equilíbrio das forças do Universo.”) Quem queira aprofundar-se poderá buscar mais sobre o tema, optamos por um texto antigo, escrito em torno do ano de 1500, de Teresa de Ávila sobre as quatro formas de orar, eis que se saciar a sede é um movimento interior, necessitamos nos conectar com este mundo em que Deus habita, e cremos ser a oração um dos meios eficazes de consegui-lo. Eis alguns trechos do Livro da Vida, de Teresa de Ávila, ao qual recomendamos a leitura integral, em especial a partir do capítulo 11: “Diz a razão por que não se ama a Deus com perfeição em breve tempo. (…) Há-de fazer conta, quem principia, que começa a plantar um horto em terra muito infrutífera (...) Com a ajuda de Deus, devemos procurar, como bons hortelãos, que cresçam estas plantas e ter cuidado de as regar para que se não percam (...) Parece-me a mim que se pode regar de quatro maneiras: “- ou com tirar água dum poço, que é à custa de grande trabalho”; Tirar a água do poço é o movimento que a Samaritana fazia, que Públio e muitos de nós ainda

realiza. Teresa continua, falando desta primeira água: “Dos que começam a ter oração, podemos dizer que são os que tiram água do poço. É muito à sua custa, como tenho dito, porque se hão-de cansar em recolher os sentidos e, como estão acostumados a andar distraídos, é forte trabalho.” - ou com nora e alcatruzes, em que se tira com um torno (tenho-a tirado assim algumas vezes) e é com menos trabalho que estoutro e tira-se mais água; O segundo modo “quietude”: “Isto é um recolherem-se as potências dentro de si para gozar daquele contento com mais gosto; mas não se perdem, nem ficam adormecidas Só a vontade se ocupa de maneira que, sem saber como, se torna cativa, dando somente consentimento para que a prenda Deus, como quem bem sabe ser presa de Quem ama. (...)As lágrimas que Deus aqui dá, já são com gozo; ainda que se sintam, não se procuram.” Como não lembrar de Lívia já tão próxima a Jesus e a este gozo interior, dedilhando a linda poesia e a cantando suavemente, não obstante a dor, sentia, também, profundo consolo, lágrimas que não se procuram. - ou de um rio ou arroio, e com isto se rega muito melhor, pois fica mais farta a terra de água e não é preciso regar tão amiúde, e é com muito menos trabalho do hortelão; Quer aqui o Senhor ajudar o hortelão, de maneira que quase é Ele o jardineiro e quem faz tudo. É um sono das potências em que nem de todo se perdem nem entende como operam. O gosto, suavidade e deleite são, sem comparação, maiores de que o passado. (...) Não me parece outra coisa senão um morrer quase de todo a todas as coisas do mundo e estar gozando de Deus.” Novamente somos levados a lembrar de Lívia, que perdeu tudo, o carinho dos filhos, do esposo, da melhor amiga, e consolou-se apenas no Cristo e na esperança de dias melhores. - ou com chover muito, que a rega o Senhor sem trabalho nenhum nosso e é sem comparação muito melhor que tudo o que ficou dito.” (...) O Senhor me ensine palavras com que possa dizer alguma coisa sobre a quarta água. Bem preciso é o Seu favor, mais ainda de que para a anterior, na qual a alma ainda sente não estar morta de todo. E podemos assim dizer, pois embora o esteja ao mundo, tem, no entanto, - como já se disse - sentidos para compreender que está na terra e sentir sua soledade e aproveita-se do exterior para dar a entender aquilo que está sentindo, sequer ao menos por sinais.” O texto de Teresa Dávila é sem dúvida riquíssimo e merece estudo em apartado, coube-nos roubar-lhe pequenos trechos para demonstrar que Deus nos

chama e nos quer perto dEle, como diz Pastorino, Deus nos PROCURA. Este movimento interior precisa ser realizado e cada um de nós o fará, hoje ou amanhã, a fim de aproximar-se do Deus Pai, saciando, assim e tão somente a sede que nos acompanha a tanto tempo. É com imensa gratidão que encerro este estudo, repleta da alegria e gratidão pelo aprendizado e pelas boas intuições que me revelaram tesouros, como este de Teresa de Ávila. Um simples número pode nos levar a lugares desconhecidos e belíssimos, assim, deixemo-nos conduzir por estes amigos benfeitores que nos amam e querem o nosso bem. Que a paz de Jesus os encontre hoje e sempre. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 07.08.2015 Candice Günther

Estudo do livro Há 2000 anos – Parte 4b

“Se trazes a consciência tranquila, entre os limites naturais de tuas obrigações ante as obrigações alheias, ora pelos que te censuram ou injuriam e prossegue centralizando a própria atenção no desempenho dos encargos que o Senhor te confiou, de vez que o tempo é o juiz silencioso de cada um de nós.” Emmanuel

Em mais uma etapa do estudo deste livro magnífico, prosseguiremos sondando pontos que ligam os capítulos de número quatro, primeira e segunda parte, permitindo que o tempo decorrido na vida dos personagens nos ensine sobre as consequências de ações, pensamentos, palavras. Inicia o capítulo quatro da primeira parte com uma conversa entre Fúlvia e Públio, por sinal, uma conversa nada amistosa, eis que a primeira trazia notícias falaciosas quanto a integridade e fidelidade de Lívia, prontamente repudiadas por Públio, que via na esposa as mais nobres virtudes. Vejamos um pequeno trecho: “- Senador, o ascendente de nossas ligações familiares obriga-me a procurar-vos para tratar de um assunto desagradável e doloroso, mas, nas minhas experiências de mulher, cumpre-me aconselhá-lo a resguardar sua esposa da insídia dos próprios amigos, pois que, ainda ontem, tive oportunidade de surpreendê-la em íntimo colóquio com o governador... O interpelado estranhou aquela atitude insólita, grosseira, contrária a todos os seus métodos de homem de bem.” Quem já teve a oportunidade de ler o livro, sabe bem onde esta mentira vai dar, uma sementinha de discórdia lançada e que infelizmente, frutificará no coração de Públio, nosso querido Emmanuel. Eis, porém, que nosso ensejo de olhar as linhas em busca de aprendizado nos faz apontar os holofotes para Fúlvia. Principalmente por causa da narrativa de seu doloroso desencarne descrito no capítulo quatro da segunda parte.

Ainda no diálogo com Públio, no capítulo quatro da primeira parte, Fúlvia diz algo interessante: “Um homem nunca perde por ouvir os conselhos da experiência feminina.” E esta frase, aparentemente simples, me faz parar um pouco para refletir, voltar no tempo e verificar: quais conselhos eu já dei? Estavam sempre amparados na verdade, na caridade? Já conduzi o caminho de alguém de forma equivocada por fazer um falso julgamento e aconselhar de forma errônea? Minha consciência me cobra de algo? Convida a cada um que faça suas reflexões, retorne no tempo. Muitas vezes olhamos para Fúlvia como uma vilã dos folhetins, ela é porém a personificação de falhas que ainda carregamos e que raramente somos capazes de identificar e corrigir. Temos uma habilidade incrível de nos desculparmos de nossas faltas, mas Deus, em sua infinita sabedoria, inscreveu suas leis em nosso ser, como nos dizem os espíritos na questão 621 do Livro dos Espíritos: Onde está escrita a Lei de Deus? “Na consciência.” Não há lugar em que possamos esconder as nossas faltas, nossos erros, nossos julgamentos. No livro Céu e Inferno, Kardec nos apresenta o relato de diversos espíritos sofredores, vejamos o que nos diz Clara: “O mal reside em mim e não fora de mim. Portanto, sou eu quem deve mudar e não as coisas exteriores. Trazemos dentro de nós o nosso céu e o nosso inferno, e as nossas faltas, gravadas na nossa consciência, são lidas claramente no dia da nossa ressurreição, quando então nos tornamos em nossos próprios juízes, visto que o estado de nossa alma nos leva para o alto ou nos faz cair.” Com estas reflexões, estamos aptos a retornar ao livro. Fúlvia agiu em seu próprio interesse e semeou muito sofrimento em diversas vidas, mas, ao final, vemos que a maior prejudicada, a quem o sofrimento alcançou com muita força, foi ela mesma. Olhemos, então, um trecho do capítulo quatro da segunda parte: “Por volta do ano 53, desaparecia em trágicas circunstâncias, nos escuros braços da morte, uma das figuras mais fortes desta história. Referimo-nos a Fúlvia que, dois anos após o falecimento do companheiro, acusava as mais sérias perturbações mentais, além de inquietantes fenômenos orgânicos, provenientes de passados desvarios. Feridas cancerosas devoravam-lhe os centros vitais e, por

dois anos a fio, o corpo emagrecido era forçado às mais penosas e incômodas posições de repouso, enquanto os olhos inquietos e arregalados dançavam nas órbitas, como se nas suas alucinações fosse compelida à vidência dos quadros mais sinistros e tenebrosos.” Sua filha Aurélia não tinha tempo ou interesse em cuidar da mãe e, ante a misericórdia divina, que a ninguém esquece, Emiliano, genro de Fúlvia, prestavalhe a assistência, cuidando-lhe com tal zelo como se fora seu próprio filho. Os últimos dias de Fúlvia foram esclarecedores para seu espírito imortal, como é comum acontecer, via com maior clareza o seu estado espiritual: “Minha existência misérrima foi uma longa esteira de crimes, cujas manchas horrorosas não poderão ser lavadas pelas próprias lágrimas da enfermidade que ora me conduz aos impenetráveis segredos da outra vida! Nunca, porém, consegui ponderar as amarguras terríveis que me esperavam. Hoje, nas pesadas sombras dalma, sinto que minha consciência se tisna do carvão apagado do fogo das paixões nefastas que me devoraram o penoso destino!... Fui esposa desleal, impiedosa, e mãe desnaturada... Quem se apiedará de mim, se houver uma claridade espiritual após as cinzas do túmulo?” Fúlvia não tinha para onde ir, percebia agora, tal qual o relato do espírito Clara, que o mal reside em nós e não fora de nós, e cedo ou tarde seremos chamados a confrontar esta realidade. A doutrina espírita nos permite este entendimento, relatos e mais relatos de espíritos nos noticiam que colhemos apenas o que semeamos. Porém, há um equívoco que muitas vezes ocorre na alma desatenta que por medo de padecer ao desencarnar, busca em atos exteriores a bondade que seu coração ainda não encontrou. Deus nos conhece e sabe o que vai em nosso coração e as nossas ações que visam apenas aparentar uma bondade da qual ainda não somos portadores, é apenas um momento ilusório da existência que cedo ou tarde nossa consciência nos apontará. Ainda no livro Céu e Inferno, no relato de Clara, ela nos adverte: “Renunciai ao mal, mas sobretudo, renunciai à hipocrisia que encobre a baixeza da máscara risonha e falsa das conveniências mútuas.”

Eis, então, que a experiência de Fúlvia nos é convite para revermos a nossa vida e tratarmos com sinceridade nossas ações e sentimentos. Aos olhos da

sociedade, a esposa de um prefeito, uma mulher bela, rica, feliz, mas Emmanuel nos traz a verdade e nos convida a aprendermos com ela. Tenhamos a coragem moral de assumir que ainda transitamos nas zonas inferiores e menos dignas, ante as nossas reiteradas faltas em relação ao que o Pai Celestial espera de nós, não nos esqueçamos, porém, que a convivência com um Pai Amoroso e Justo nos é fonte de amparo e sustentação. Deus nunca nos ofereceu o açoite, somos nós que reiteradamente o temos procurado por nos esquecermos de olhar a nossa consciência. Para finalizar nossas singelas reflexões, buscamos um trecho do Evangelho de João que nos auxiliasse a melhor compreender a questão da forma como vivemos, de onde procuramos a felicidade e depositamos nossas esperanças. Novamente, encontramos uma ligação com o diálogo de Jesus com seus discípulos, também no quarto capítulo. Nele verificamos as lições evangélicas que complementam e nos explicam com maior profundidade as vivências de Fúlvia, Públio e tantos outros, ou seja, nos convida a refletir: do que temos alimentado nossas almas? Jesus conversa com os discípulos, dizendo-lhes do alimento verdadeiro: “minha comida é que eu faça a vontade daquele que me enviou e complete sua obra.” (Joao 4: 34) Emmanuel comenta este versículo e nos ensina, não como um teórico, mas como alguém que viveu, errou, arrependeu-se e seguiu em frente, estando hoje em condições de nos mostrar o caminho, iluminar nossas consciências para que, urgentemente, acertemos nosso caminhar, coadunado-o com a vontade do Pai Maior.

Afirmação e ação “Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer eu a vontade daquele que me enviou, e cumprir a sua obra.” - (João, 4:34.) Aqui e ali, encontramos crentes do Evangelho invariavelmente prontos a alegar a boa intenção de satisfazer os ditames celestiais. Entregam-se alguns à ociosidade e ao desânimo e, com manifesto desrespeito às sagradas noções da fé, asseguram ao amigo ou ao vizinho que vivem atendendo às determinações do Todo-Poderoso. Não são poucos os que não prevêem, nem providenciam a tempo e, quando tudo desaba, quando as forças inferiores triunfam, eis que, em lágrimas, declaram que foram obedecidas as ordens do Altíssimo.

No que condiz, porém, com a atuação do Pai, urge reconhecer que, se há manifestação de sua vontade, há, simultaneamente, objetivo e finalidade que lhe são consequentes. Programa elevado, sem concretização, é projeto morto. Deus não expressaria propósitos a esmo. Em razão disso, afirmou Jesus que vinha ao mundo fazer a vontade do Pai e cumprir-lhe a obra. Segundo observamos, não se reportava somente ao desejo paternal, mas igualmente à execução que lhe dizia respeito. Não é razoável permanecer o homem em referências infindáveis aos desígnios do Alto, quando não cogita de materializar a própria tarefa. O Pai, naturalmente, guarda planos indevassáveis acerca de cada filho. É imprescindível, no entanto, que a criatura coopere na objetivação dos propósitos divinos em si própria, compreendendo que se trata de lamentável abuso muita alusão à vontade de Deus quando vivemos distraídos do trabalho que nos compete. Que Jesus nos conceda a luz, a sabedoria e o discernimento para realizarmos a sua vontade, a começar em cada um dos nossos corações, tornando-nos mais aptos para o amor, para o perdão e para paz, onde quer que nos encontremos. Abraços fraternos.

Campo Grande – MS, 14 de agosto de 2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 4c

“Nada reclames. Dor é transformação que nos reforma o ser… e toda e qualquer vida, a fim de renovar-se, necessita servir, caminhar e sofrer.” Maria Dolores

. Um último olhar sobre os dois capítulos de número quatro, primeira e segunda parte, nos trouxe muito mais do que uma reflexão, trouxe-nos uma pergunta, um questionamento interior. E por dias tenho refletido, pesquisado, orando e rogando ao Pai Celestial o auxílio para alcançar o entendimento das lições que está obra nos oferece. Assim, este estudo é algo mais que as letras de quem observa, é também as constatações de quem aprende e busca, de coração sincero, apreender. Desta feita, caminhemos um pouco com a pequena Flávia, no capítulo 4 da primeira parte do livro Há 2000 anos. A doença avança e a menina sofre noite e dia, as esperanças são diminuídas a cada instante pela dor de ver um ser tão singelo e indefeso padecer. Públio e Lívia sofrem. E nestas horas, até o mais rígido coração paterno, amante da disciplina e da ordem, se desdobra em carinhos e mimos. Eis, então, um trecho do diálogo entre o Senador Públio Lentulus e sua filha, Flávia: “- Filhinha, que queres hoje para dormir melhor? - perguntou com a voz estrangulada, arrancando lágrimas dos olhos de Lívia. Comprar-te-ei muitos brinquedos e muitas novidades... Dize ao papai o que desejas... Copioso suor empastava as excrescências ulcerosas da doentinha, que deixava transparecer angustiosa ansiedade. Notava-se-lhe grande esforço, como se estivesse realizando o impossível para responder à pergunta paterna. - Fala, filhinha - murmurava Públio, sufocado, observando-lhe o desejo de expressar qualquer resposta. Buscarei tudo que quiseres... Mandarei a Roma um portador, especialmente para trazer todos os teus brinquedos... Ao cabo de visível esforço, pode a pequenina murmurar com voz cansada e quase imperceptível: - Papai... eu quero... o profeta... de Nazaré...”

Um mundo a sua disposição, riquezas, brinquedos, o que sua imaginação pudesse alcançar, porém, ante a dor que sentia, Flávia queria aquele que lhe aliviaria as dores do caminho. Pede por Jesus. E se o tema em questão é a dor e as dificuldades do caminho, também no capítulo quatro da segunda parte, encontraremos um coração bom, uma alma generosa, que nas últimas estações de sua existência, encontra no testemunho da amiga desvelada, Lívia, o verdadeiro sentido das palavras e ações do profeta de Nazaré. Falamos de Calpúrnia. Vejamos, assim, um pequeno trecho do capítulo 4 da segunda parte: “Entrava o ano de 58, com amarguradas perspectivas para as nossas personagens. Um fato, porém, começava ferir a atenção de todas as personagens desta história real e dolorosa. A dedicação de Lívia à sua velha amiga doente era um exemplo raro de amor fraterno, de carinho e bondade indefiníveis. Oito meses a fio, sua figura franzina e silenciosa esteve a postos dia e noite, sem descanso, junto ao leito de Calpúrnia, provando-lhe com exemplos a excelência dos seus princípios religiosos Muitas vezes, a nobre matrona considerou, intimamente, a superioridade moral daquela doutrina generosa, que estava no mundo para levantar os caídos, confortar os enfermos e os tristes, disseminando as mais formosas esperanças com os desiludidos da sorte, em confronto com os seus velhos deuses que amavam os mais ricos e os que oferecessem os melhores sacrifícios nos templos, e aquele Jesus humilde e pobre, descalço e crucificado, de que lhe falava Lívia em suas palestras íntimas e carinhosas. Calpúrnia estava plenamente modificada, às vésperas da morte. A convivência contínua da velha amiga renovara-lhe todos os pensamentos e crenças mais radicadas.” Pois bem, se já temos o exemplo destas duas vidas, que em suas dores e desenganos se recordam e permitem que a boa nova de Jesus adentre em suas vidas, reconhecendo, também, que muitos dos que adentram na doutrina espírita o fazem pelas portas da dor, estou apta a compartilhar com vossos corações minha pergunta. Por que razão a dor nos faz buscar a Jesus? Vejam, não se trata de saber porque sofremos, mas porquê a dor nos move em direção ao Mestre. Pensemos bem, a vida mostra-nos seu esplendor através do nascimento de um bebê, das belíssimas estrelas, do imensoUniverso, da maravilhosa natureza,

estes e outras tantos fatos nos lembram da existência de uma força divina, nos falam de um Deus amoroso que nos busca a cada instante. Mas nós nos movimentamos em direção a Deus, sobretudo, quando sofremos. É claro, existem exceções em nossas vidas e em vidas que já se conectam a Deus e o percebem a cada instante, na alegria ou na dor. Mas em geral, lembramos de orar e de nos aproximarmos do Pai quando estamos em dificuldade. Qual a razão? Por que motivo, quando tudo nos vai bem, nos esquecemos de Deus? Na obra de Humberto de Campos, em diálogo com Raquel, Jesus lhe diz: “O sofrimento é sempre o aguilhão que desperta as ovelhas distraídas à margem da senda verdadeira.” Então, em busca da resposta à pergunta que fizemos acima, poderíamos pensar que estamos adormecidos, distraídos em nossa vivência material, e o sofrimento nos desperta. Insisto, porém, em perguntar: por que o amor não nos desperta, como a dor o faz? Bastaria sairmos em nossos quintais, olharmos o céu, o sol, para sentirmos a presença de Deus, Nosso Pai Criador. Mas, não raro, damos valor ao céu azul quando ele está cinzento, lembramos do sol quando cai a chuva incessante e o frio toca nossos sentidos. Que tendência é esta que nos faz perceber o bem, apenas quando nos defrontamos com o mal? A questão, caros amigos, é que minha pergunta está errada! Não somos nós que estamos a procurar Deus. É Ele quem nos busca incessantemente. A questão de o buscarmos na dor e no sofrimento é que nestas horas nos percebemos frágeis, carecemos de amparo e conforto e por causa deste sentir, do ser que se percebe humilde e frágil, permitimos a aproximação da luz divina. Mas é Ele quem nos busca, quem nos procura, quem nos acolhe, na alegria ou na dor. Reconheço, assim, que basta o uso da minha vontade para que eu possa me aproximar do amor de Deus. Ele nos procura através da beleza da flor, do calor do sol, da chuva que nutre, do vento que espalha a vida, nos procura através do bom e do belo, mas ficamos tão absorvidos pelas sensações que nos esquecemos de olhar o Criador, ficamos apenas com a criação. De outra forma, quando convalescemos, Ele também nos busca e o faz ininterruptamente ao longo dos milênios de nossas existências.

Flávia foi procurada por Deus através de sua cura, Calpúrnia, por sua vez, mesmo rejeitando a amiga Lívia por tantos anos, silenciando e auxiliando que permanecesse distante dos seus afetos familiares, é por ela assistida. Oito meses de dedicação, dia e noite. Deus nos procura através do amor, e aqueles que já o sentem, estão aptos a refletir este amor, como Lívia o fez. Quando Jesus veio até nós, reconhecemos novamente que foi Deus agindo, procurando-nos amorosamente através de seu filho amado, e respeitando o nosso querer, respeitando a nossa reiterada rejeição. Se o quisermos em nossas vidas, verdadeiramente, o encontraremos, na alegria ou na dor. Estamos encerrando as reflexões desta quarta etapa, lembrando que nos apoiamos no capítulo 04 do Evangelho de João. Desta forma, lembremos da Samaritana ao poço sendo ensinada por Jesus que há uma água que mata a sede, e também aos discípulos que há apenas um alimento que nutre a alma, que é fazer a vontade de Deus. Assim, saibamos que de tudo o que nos é oferecido, cabe a nós escolhermos a água que queremos beber e o alimento que queremos ingerir. Quando criança, acompanhando minha mãe aos cultos da Igreja que frequentava, cantávamos uma música inspirada em um salmo, sua letra era mais ou menos assim: “Elevo os meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro? O meu socorro vem de Deus que fez a Terra e fez os Céus.” Tão simples e tão perfeita a canção que nos adverte: ELEVE-SE, eleve teu olhos, tua vida, teu querer. Fico profundamente grata quando ao encerrar os estudos, busco uma palavra de Emmanuel, em comentário a algum versículo, preferencialmente adstrito ao trecho do evangelho que nos ampara e nos ilumina em determinada etapa. E esta busca ocorre com o intuito de que os bons espíritos nos orientem e auxiliem a entender a profundidade das vidas de Flávia e Calpúrnia, a primeira em doença gravíssima, e a segunda em seu momentos derradeiros, padecendo por 08 meses. Nosso intuito, também, é alcançar as respostas às indagações que surgem em nossos corações. Não raro, o texto sintetiza o que tentei entender e desta vez não foi diferente. Assim, encerro o estudo desta semana, com o profícuo texto de Emmanuel, retirado do livro Vinha de Luz:

Levantai os olhos “Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa.” - Jesus. (João, 4:35.) O mundo está cheio de trabalhos ligados ao estômago. A existência terrestre permanece transbordando emoções relativas ao sexo. Ninguém contesta o fundamento sagrado de ambos, entretanto, não podemos estacionar numa ou noutra expressão. Há que levantar os olhos e devassar zonas mais altas. É preciso cogitar da colheita de valores novos, atendendo ao nosso próprio celeiro. Não se resume a vida a fenômenos de nutrição, nem simplesmente à continuidade da espécie. Laborioso serviço de iluminação espiritual requisita o homem. Valiosos conhecimentos reclamam-no a esferas superiores. Verdades eternas proclamam que a felicidade não é um mito, que a vida não constitui apenas o curto período de manifestações carnais na Terra, que a paz é tesouro dos filhos de Deus, que a grandeza divina é a maravilhosa destinação das criaturas; no entanto, para receber tão altos dons é indispensável erguer os olhos, elevar o entendimento e santificar os raciocínios. É imprescindível alçar a lâmpada sublime da fé, acima das sombras. Irmão muito amado, que te conservas sob a divina árvore da vida, não te fixes tão-somente nos frutos da oportunidade perdida que deixaste apodrecer, ao abandono... Não te encarceres no campo inferior, a contemplar tristezas, fracassos, desenganos!... Olha para o alto!... Repara as frondes imortais, balouçando-se ao sopro da Providência Divina! Dá-te aos labores da ceifa e observa que, se as raízes ainda se demoram presas ao solo, os ramos viridentes, cheios de frutos substanciosos, avançam no Infinito, na direção dos Céus. Que Jesus nos auxilie para que elevemos os nossos olhos ao céus, a cada instante de nossas vidas. Que não esperemos a dor que dilacera, ou a morte que se aproxima para sermos acolhidos por seu amor e por sua justiça. Que, acima de

tudo, nos deixemos, finalmente, sermos encontrados pelo Pai Celestial e dEle jamais nos afastemos. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 21.08.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 5a

“...estamos constantemente em presença da Divindade. Não há uma só de nossas ações que possamos subtrair ao seu olhar; nosso pensamento está em contato com o seu pensamento e é com razão que se diz que Deus lê nos mais profundos recônditos do nosso coração; estamos nele como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo. Para entender sua solicitude sobre as menores criaturas, ele não tem necessidade de mergulhar seu olhar do alto da imensidade, nem deixar sua morada de glória, pois essa morada está em toda parte. Para serem ouvidas por ele, nossas preces não precisam transpor o espaço, nem serem ditas com voz retumbante, porque, incessantemente penetrados por ele, nossos pensamentos nele repercutem.” Revista Espírita – Maio de 1866 Iniciamos a quinta etapa do nosso estudo. Será no capítulo 5 da primeira parte que veremos o início da conversão de Públio. Muitos há que interpretam este momento como recusa, talvez seja hora de percebemos que Públio ainda não entendia a mensagem do Cristo, não tinha alcançado esta “bem-aventurança”, assim, aos nossos olhos, não houve uma recusa, mas sim o início de um processo em seu coração. A semente fora lançada e agora precisava de tempo, espaço e condições para crescer. O solo fora preparado pelos amigos espirituais quando daquele sonho narrado no início do livro em que Públio se reconhecia como reencarnação de seu bisavô paterno, mas a semeadura quem faria era Jesus. Mas de que momento estamos falando afinal? Do seu encontro com o Cristo. Atendendo o pedido da pequena Flávia, Públio Lentulus vai ao encontro do Profeta de Nazaré. O que sentiu? “O senador sentiu o coração perdido num abismo de cogitações infinitas, ouvindo-lhe o palpitar descompassado no peito opresso. Dolorosa emoção lhe compungia agora as fibras mais íntimas do espírito.” O que pensou? “Profundas cismas entornavam-lhe do cérebro para o coração, como as sombras do crepúsculo que precediam a noite.”

O que seus olhos viram? “Diante de seus olhos ansiosos, estacara personalidade inconfundível e única. Tratava-se de um homem ainda moço, que deixava transparecer nos olhos, profundamente misericordiosos, uma beleza suave e indefinível. Longos e sedosos cabelos molduravam-lhe o semblante compassivo, como se fossem fios castanhos, levemente dourados por luz desconhecida. Sorriso divino, revelando ao mesmo tempo bondade imensa e singular energia, irradiava da sua melancólica e majestosa figura uma fascinação irresistível.” E lágrimas ardentes rolaram dos seus olhos... e ele tentou falar, mas sentiu o peito sufocado e opresso. Quantos de nós ainda olhamos o Cristo assim? Reconhecendo a sua beleza e nos emocionando com a sua presença? Isto basta? Certamente não bastou para Públio, certamente não basta para nós. E a pergunta que Jesus fez ao Senador, hoje, ele a faz a nós outros: “- Senador, porque me procuras?” Publio o procurou ao entardecer…e Jesus lhe diz: “- Fora melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da humildade... Mas, eu não vim ao mundo para derrogar as leis supremas da Natureza e venho ao encontro do teu coração desfalecido!...” Eis, então, que a pergunta: porque me procuras? Agregamos um outra: a que hora do dia procuramos Jesus? No anoitecer ou na hora mais clara do dia? O que isto significa? Procurar Jesus na hora mais clara do dia, seria correr o risco de ser visto, de misturar-se com a multidão, demonstrar a fé num homem que, em seu conceito, lhe era inferior. A intenção do Senador fica clara: “quando o crepúsculo entornava as suas meias tintas na paisagem maravilhosa, saiu, fingindo distração e alheamento...” Publio era adorador de Júpiter, que significa deus do dia e é interessante pensarmos que Publio não reconhecia Jesus como digno de qualquer reconhecimento, ao seu ver, tratava-se apenas de um profeta dos judeus. Queremos ser identificados como aqueles que andam com o Cristo? Ou apenas “ao entardecer”quando buscamos a casa de oração frequentava, lembramos

do seu evangelho de luz? Procurar Jesus na hora clara do dia é demonstrar a intenção firme de segui-lo, a todo tempo e em qualquer circunstância. Não se trata da hora em si, mas da intenção de como procuramos Jesus.

E Jesus sabe e sente a forma pela qual o estamos procurando. Reconheceu em Públio um coração desfalecido. Aguardemos, por ora, as palavras que se seguiram neste valoroso diálogo. Para que possamos compreender a importância de nossas intenções, vejamos Lívia, no capítulo 5 da segunda parte: “Tenho necessidade de comungar com os nossos irmãos de crença, nas mesmas vibrações da nossa fé! Além disso, preciso agradecer ao Senhor a misericórdia das suas graças imensas...” É tão diferente a forma como Lívia busca Jesus, duas palavras chaves podem nos ensinar muito: necessidade de comunhão e gratidão. Não obstante as adversidades de vida, as dificuldades do caminho, encontrava alento e refazimento ao reunir-se com seus irmãos na fé, não porque o fossem perfeitos, mas porque os amava, e todos amavam Jesus. Sentia-se também grata pelas bençãos recebidas, e uma delas é a reaproximação do Senador, que decorridos 25 anos, finalmente tencionava reaproximar-se da esposa: “...noto que Públio está mais sereno e mais esclarecido... Nestes últimos dias, temme dirigido a palavra com a ternura de outros tempos, havendo-me afirmado, ainda ontem, que seu coração me reserva doce surpresa para amanhã, depois da sua vitória suprema na vida pública. Sinto que é muito tarde para que seja novamente feliz neste mundo, mas, em suma, estou intimamente satisfeita, porque nunca desejei morrer em desarmonia com o companheiro que Deus me concedeu para as lutas e alegrias da vida.” E é interessante que Públio tencionava realizar esta reaproximação na “hora mais clara do dia”, no momento em que estava sendo homenageado pelos trabalhos realizados no império, como Senador Romano. Seria o ápice de sua carreira, da qual tinha tanto orgulho. Ainda o velho orgulho a lhe dirigir os passos. E a nós? Quem nos dirige os passos? O orgulho ou a gratidão? Reconhecemo-nos carecedores de comunhão ou nos sentimos superiores?

Todo este esforço, este olhar que lançamos ao livro clareia sobremaneira quando iluminamos as suas valorosas lições com o capítulo 5 do Evangelho de João que trata justamente da ida de Jesus a Jerusalém, num lugar chamado Betesda, onde ficavam enfermos, cegos, mancos, e foi a este lugar para realizar uma cura. E Jesus diz para um deles: “Levanta-te, toma teu leito e anda”. De forma similar conversou com Públio que teve, neste encontro, o início de sua redenção espiritual. Mesmo sem o saber, talvez até mesmo sem o querer, após este encontro seu coração havia sido tocado de forma irremediável pelo mestre, que aguardava apenas o seu querer, a sua adesão, o seu levantar. Também a nós outros é feito o convite, uma palavra de cura aos nossos corações corroídos pelo orgulho há tanto tempo. Eis a hora clara do dia em que Jesus nos diz: Levanta-te!! Avançaremos um pouco mais nesta sublime conversa de Públio com Jesus, buscando dela retirar lições para as nossas vidas, aproveitando o ensejo para questionar posicionamentos e sentimentos que somente uma avaliação íntima pode fazer. “Por que me procuras, Públio?” Encerramos a estudo com valioso texto de Emmanuel, comentando o versículo de João, cap. 5:8, livro Ideal Espírita.

O SUBLIME CONVITE. Espírito: EMMANUEL. “Levanta-te, toma o teu leito e anda”. – Jesus. (João, 5:8). A palavra do Senhor é sempre luz direta. A partir do momento em que fala incisivo, o doente inicia uma nova jornada. Os músculos paralíticos vibram, fortes de novo. O tônus orgânico circula mais ativo. O equilíbrio ressurge no cosmo celular. A prisão em forma de leito liberta o prisioneiro. E múltiplas consequências são criadas no processo sublime quais sejam a responsabilidade maior para o irmão socorrido, estudo e meditação nos circunstantes

admirados, reafirmação categórica das potencialidades sublimes do amor de Nosso Divino Mestre, através do trabalho messiânico de libertação das consciências humanas que impôs generosamente a Si Mesmo... Em seguida, mais uma crônica ajustar-se-á aos ensinamentos narrados pelos evangelistas expressando, até hoje, lição palpitante na escola da Humanidade. Em soerguendo o enfermo desditoso do leito de provação, convoca-nos Jesus a levantarnos, todos, do ninho de imperfeições, em que nos comprazemos, de coração cansado e mente corrompida. Se egoísmo, orgulho, inveja e ciúme, cobiça e vaidades ainda nos prendem o coração ao catre do infortúnio, ouçamos o convite do Senhor Amorável: - “Levanta-te, toma o teu leito e anda”. E erguendo-nos pela fé, saberemos sofrer a consequência ainda amarga de nossa própria sombra, caminhando, por fim, ao encontro da Luz. Que o Mestre, em sua infinita bondade, nos acompanhe e ilumine nosso caminho, hoje e sempre. Abraços fraternos, Campo Grande – MS, 28 de agosto de 2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 5b

“As criaturas dedicadas ao bem encontrarão a fonte da vida em se banhando nas águas da morte corporal. Suas realizações do porvir seguem na ascensão justa, em correspondência direta com o esforço perseverante que desenvolveram no rumo da espiritualidade santificadora, todavia, os que se comprazem no mal cancelam as próprias possibilidades de ressurreição na luz. Cumpre-lhes a repetição do curso expiatório. É a volta à lição ou ao remédio. Não lhes surge diferente alternativa.” Pão Nosso - Emmanuel Prosseguindo nossos estudos nesta quinta etapa, continuaremos dando atenção especial à parte do diálogo de Públio com Jesus, eis que encontramos algo muito especial. Primeiramente, é interessante falar que muitas vezes nossa atenção volta-se para algo em decorrência de símbolos ou sinais, que se repetem e nos auxiliam a prestar a devida atenção. Nesta etapa percebemos que os números podem nos levar a descobertas e significados muito profundos. Vejam, estamos estudando, nesta quinta etapa, os capítulos de número 5, considerando que Emmanuel realizou uma escrita nos moldes de muitas poesias do povo hebreu, inclusive utilizada nos evangelhos, a chamada técnica do paralelismo. No capítulo 5 da primeira parte Emmanuel conversa com Jesus, no capítulo 5 da segunda parte, Emmanuel relembra desta conversa, quando Lívia é levada ao martírio, decorrido quanto tempo? 25 anos (5x5, devo lembrá-los). Pois bem, tenho estudado estas convergências dos capítulos, primeira e segunda parte, do livro Há 2000 anos, sob a luz do Evangelho de João e até agora foi possível relacionar as lições do livro com o evangelho, capítulo a capítulo. Assim, nesta etapa, seguindo esta lógica, encontraremos no capítulo 5 do Evangelho de João um assunto de se relacione com a lição evangélica que procuramos. É preciso pensar que João tinha uma intenção ao construir o texto da forma como construiu, e que Emmanuel também o fez, e talvez, ao contar a sua vida, o seu momento de encontrar-se com Jesus, tenha se inspirado em seu grande amigo e evangelizador (Emmanuel relata no livro 50 anos depois uma de suas encarnações como escravo Nestório, informando que em sua infância conheceu o apóstolo João, na cidade de Éfesos).

O capítulo 5 do Evangelho de João inicia falando da cura de uma pessoa com 38 anos de idade, em Betesda, segundo o evangelho, trata-se de um lugar onde ficavam cegos, paralíticos e mancos, a beira de um tanque que tinha 5 pórticos, acreditava-se que um anjo visitava o tanque uma vez por ano e movimentava as águas e quem se jogasse nelas, o primeiro, seria curado. O capítulo 5 do livro Há 2000 anos nos conta que Jesus curou Flávia, por meio da fé de Lívia, mas naquele momento também iniciou a cura de Públio. O que isto tudo quer dizer, estas ligações, estes números? A leitura da conversa de Jesus com Públio e a descrição que João faz da cura do paralítico são muito parecidas e é interessante que o Evangelho de João é o único de relata esta cura em Betesda, os demais evangelistas relatam também sobre a cura de um paralítico, porém, ela ocorreu em Cafarnaum (Mateus 9:1-8, Marcos 2:1-12, Lucas 5:17-26). Certamente é um assunto polêmico e eu não tenho a intenção de enveredar por estes caminhos, apenas quero lhes lançar uma possibilidade. Para corroborar a tese de um texto alegórico, cito: “ Embora não se encontre tal qual na tradição sinóptica, a história revela muitas semelhanças, estruturais ou até verbais, com as curas de aleijados e as discussões por causa do sábado na tradição sinóptica, a ponto de se suspeitar que no relato joanino se tenha operado uma “conflação” entre um relato semelhante ao de Mc 2:1-12 (a combinação enfermidade e perdão) e um relato do tipo “cura no sábado” (como em Mc 3:1-6, Lc 13:10-16 e 14:1-6).” Trecho do livro Evangelho Segundo João – Amor e fidelidade por Johan Konings E se João estivesse relatando o encontro de Jesus com uma pessoa que possui graves deficiências, mas não no corpo e sim no espírito? E se ele precisasse contar o encontro de Jesus com um Senador Romano, como o faria? Lembremos que na próxima encarnação de Públio, como escravo Nestório, João estará na cidade de Éfeso e lá ambos se encontrarão, tendo Públio o deleite de ser evangelizado por este querido apóstolo, o discípulo amado. Assim, são almas profundamente ligadas, entrelaçadas pelo tempo e pelo amor até os dias atuais. Seria muita audácia de minha parte afirmar que João escreveu em seu evangelho sobre Públio, porém, posso lhes dizer que o texto de João pode ser interpretado de um forma muito mais ampla e bela, quando o colocamos lado a lado com a história de Públio, em especial, o seu encontro com Jesus. Talvez, até então, tenhamos a história do paralítico como uma cura física, mas é chegada a hora de compreendermos que Jesus veio para tratar de nossos espíritos que carregam chagas há milênios e Públio nos auxiliará neste entendimento.

Como lhes disse, é um tema polêmico, alguns estudiosos dizem que o tal tanque em Betesda existe uma vez que foi encontrado, através de escavações em sitio arqueológico, um similar ao descrito por João em Jerusalém, outros, porém, falam que é alegórico uma vez que os romanos jamais permitiriam um lugar com aglomerações, ainda mais de inválidos. Existe também o problema da datação do tanque, enfim, e existência ou não deste lugar é controversa. Isto sem falar que a característica da escrita de João é utilizar-se de muitos símbolos para representar a mensagem que quer transmitir. Pois bem, o que tenho a lhes oferecer são evidências e sentimentos, e o mais importante, o firme propósito de manter nosso foco principal que é encontrar a lição evangélica, a boa nova que nos ensina e edifica. Fiz meu dever de casa com uma ampla pesquisa, mas lhes asseguro que este não é um estudo que é acompanhado apenas pela razão, é um lugar cheio de intuição, sentimento e busca. Assim, sigamos em frente. Ainda, antes de olharmos os dois textos, um outro ponto interessante: Públio Lentulus teria algo em torno de 38 anos quando conversou com Jesus, assim como o paralítico curado por Jesus como consta no Evangelho de João. E, apenas para deixar nossos cérebros fervendo, ao menos o meu está, o livro Há 2000 anos teve o início de sua psicografia no ano de 1938. É interessante este dado porque este é outro ponto que os estudiosos divergem quanto ao significado, sendo que a maioria opta por aproximar o número 38 de 40, fazendo aí uma referência ao povo de Israel no deserto, porém, não encontrei em nenhum dos livros pesquisados uma referência explícita do significado do número 38. Uma possibilidade? Andemos mais um pouco... Olhemos os dois textos, a conversa de Jesus com Públio e a conversa de Jesus com o paralítico e vejamos como são próximos e possuem muitos pontos em comum. Há 2000 anos – conversa de Jesus com Evangelho de João 5:1-12 (Bíblia de Públio Jerusalém) As águas Onde estaria o profeta de Nazaré naquele instante? Não seria uma ilusão a história dos seus milagres e da sua encantadora magia sobre as almas? Não seria um absurdo procurá-

“1Depois disso, por ocasião de uma festa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém. Existe em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, uma piscina que, em hebraico, se

lo ao longo dos caminhos, abstraindo-se dos chama Betesda, com cinco pórticos.” (Betesda imperativos da hierarquia social? Em todo significa Casa de Misericórdia) caso, deveria tratar-se de homem simples e ignorante, dada a sua preferência por Cafarnaum e pelos pescadores. (...) Das águas mansas do lago de Genesaré parecia-lhe emanarem suavíssimos perfumes, casandose deliciosamente ao aroma agreste da folhagem. Comentário: sobre os 5 pórticos: Em minhas pesquisas também encontrei a informação de que o Templo Romano foi construído observando um estilo grego chamado Pentastilo, ou seja, possuía 5 pórticos laterais e 4 pórticos na frente. Nas moedas usadas na época, o shekel, havia também a imagem de um templo construído desta forma. Alguns estudiosos atribuem o número 5 como sendo uma referência ao Pentateuco. Poderia ser uma referência ao Poder Romano da época? Vemos que Públio procura Jesus, porém, mantém seu pensamento de superioridade em razão de sua condição social – a questão é abordada no evangelho quando João cita a festa (templo) e a piscina, convergindo com esta ambiguidade demonstrada no livro Há 2000 anos. “ Por outro lado, o termo pórtico estabelece relação entre este lugar e o templo. O templo e a piscina são duas realidades relacionadas: o primeiro, o templo explorador (2,14ss), sede do culto antigo que deve desaparecer (4,21), é o lugar da festa e o reduto dos dirigentes (os Judeus); a piscina, porém, é o âmbito do povo, circundado pela instituição centrada no templo (os pórtico), que o priva da vida. Trecho do livro O evangelho de Sao Joao - Juan Mateos e Juan Barreto

A espera Dando curso às idéias que lhe fluíam da Sob esses pórticos, deitados pelo chão, mente incendiada e abatida, Públio Lentulus numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos considerou dificílima a hipótese do seu ficavam esperando o borbulhar da água. encontro com o mestre de Nazaré. Como se 4Porque o Anjo do Senhor descia, de vez em quando, à piscina e agitava a água; o primeiro, entenderiam? O senador sentiu o coração perdido num então, que aí entrasse, depois que a água abismo de cogitações infinitas, ouvindo-lhe o fora agitada, ficava curado, qualquer que fosse palpitar descompassado no peito opresso. a doença. Dolorosa emoção lhe compungia agora as fibras mais íntimas do espírito. Apoiara-se, insensivelmente, num banco de pedras enfeitado de silvas, e deixara-se ali ficar, sondando o ilimitado do pensamento. Comentário: Em ambos os textos percebemos a dificuldade, a expectativa de encontrar Jesus/anjo que daria a cura. A referência aos doentes (cegos, mancos e paralíticos é muito relevante, pois podemos ver o estado espiritual de Públio. “Os enfermos têm três características: são cegos por terem feito sua a doutrina da Lei (as trevas), que os impede de conhecer o projeto de Deus cobre o homem (1,5 Leit.); paralíticos, sem

liberdade de movimentos nem ação; secos, sem vida. Esta última designação remete à visão dos ossos ressequidos ou calcinados de Ez 37,1-14, que também eram figura do povo sem vida (cf. nota; 5,21 Leit.).(...) A multidão atirada nos pórticos está, portanto, excluída da festa. Para este, impotente, enfermo, miserável, não há celebração nem alegria. Contudo, a expressão “em sua enfermidade” (em vez de simplesmente “enfermo”) indica que ele é, de alguma maneira, responsável por ela; de fato, este indivíduo “pecou” (5,14: Não peques mais): isso é que produz o seu estado de morto em vida. Não é somente cego (cf. 9,1-3), mas sua cegueira o leva à invalidez e à falta de vitalidade.” Trecho do livro O evangelho de Sao Joao - Juan Mateos e Juan Barreto

A pergunta Públio Lentulus não teve dificuldade em Encontrava-se aí um homem, identificar aquela criatura impressionante, doente havia trinta e oito anos. 6Jesus, vendomas, no seu coração marulhavam ondas de o deitado e sabendo que já estava assim sentimentos que, até então, lhe eram havia muito tempo, perguntou-lhe: "Queres ignorados. (...) Lágrimas ardentes rolaram- ficar curado?" lhe dos olhos, que raras vezes haviam chorado, e força misteriosa e invencível fê-lo ajoelhar-se na relva lavada em luar. Desejou falar, mas tinha o peito sufocado e opresso. Foi quando, então, num gesto de doce e soberana bondade, o meigo Nazareno caminhou para ele, qual visão concretizada de um dos deuses de suas antigas crenças, e, pousando carinhosamente a destra em sua fronte, exclamou em linguagem encantadora, que Públio entendeu perfeitamente, como se ouvisse o idioma patrício, dando-lhe a inesquecível impressão de que a palavra era de espírito para espírito, de coração para coração: - Senador, porque me procuras? Comentário: Jesus faz um pergunta a Públio e também o faz ao doente e isso pressupõe que está no querer do doente a cura. Jesus falará isto claramente para Públio. “À pergunta de Jesus: “Você quer ser curado?”, vezes, uma interpretação um tanto psicológica: Jesus está primeiro passo para a perfeição é sempre um profundo desejo Mas João não desenvolve a narrativa nessa direção (cf nota de Jesus é mais bem compreendida como uma das ofertas constantemente fazendo nesse evangelho {e.g. 4.10; 6.32, 33).” Trecho do livro O comentário de João - D. A. Carson

apresenta-se, muitas estabelecendo que o por ela (e.g. Barclay). seguinte). A pergunta elípticas que ele está

O doente - Fora melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da humildade... Mas, eu não vim ao mundo para derrogar as leis supremas da Natureza e venho ao encontro do teu coração desfalecido!...

O relato de João diz que a cura foi realizada num sábado e segunda a lei dos judeus não era permitido trabalhar no sábado. (“Os judeus, por isso, disseram ao homem curado: "É sábado e não te é permitido carregar teu leito".)

Lívia - Sim... não venho buscar o homem de Respondeu-lhe o enfermo: Estado, superficial e orgulhoso, que só os "Senhor, não tenho quem me jogue na séculos de sofrimento podem encaminhar ao piscina, quando a água é agitada; ao chegar, regaço de meu Pai; venho atender às outro já desceu antes de mim". súplicas de um coração desditoso e oprimido e, ainda assim, meu amigo, não é o teu sentimento que salva a filhinha leprosa e desvalida pela ciência do mundo, porque tens ainda a razão egoística e humana; é, sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é divina... Comentário: Percebe-se que o paralítico é incapaz de caminhar sozinho, necessita que alguém o auxilie para que alcance a cura. Se compararmos os textos, certamente lembraremos de Lívia que trabalhou incessantemente pela redenção do espírito de Públio. “Insiste-se no fato da cura (O que tinha sido curado). O enfermo confiara num homem (5,12: Quem é o homem) e encontrou sua libertação. O que perdera a esperança de encontrar um homem que o ajudasse (5,7) encontrou-o em Jesus e, ao confiar nele, reencontrou sua própria humanidade. Antes não encontrava solidariedade, ou seja, amor. A Lei não o tinha dado, mas, pelo contrário, utilizada pelos dirigentes, o impedia. Agora, em Jesus, começa a brilhar o amor leal de Deus.” Trecho do livro O evangelho de Sao Joao - Juan Mateos e Juan Barreto O chamado - Não, meu amigo, não estás sonhando... exclamou meigo e enérgico o Mestre, adivinhando-lhe os pensamentos. - Depois de longos anos de desvio do bom caminho, pelo sendal dos erros clamorosos, encontras, hoje, um ponto de referência para a regeneração de toda a tua vida. Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns milênios...

8Disse-lhe

e anda!"

Jesus: "Levanta-te, toma o teu leito

Comentário: Este ponto é essencial para o entendimento de como Jesus nos procura: está no teu querer/levanta-te. “Jesus não o levanta, mas capacita-o para que ele mesmo se levante e caminha. Sua ordem é tríplice: Levanta-te, toma a tua cama e põe-te a andar. Bastaria a primeira, e, talvez, a última, para indicar a cura e a liberdade. A intercalação repetida da frase: toma a tua cama (5,8.9. 10.11) evidencia sua importância em a narração. Jesus o faz dono daquilo que o dominava, fá-lo possuir o que o possuía. O homem estava subjugado e privado da iniciativa própria; agora pode dispor de si mesmo, com plena liberdade de ação (põe-te a andar). De homem inutilizado faz homem livre.” Trecho do livro O evangelho de Sao Joao - Juan Mateos e Juan Barreto

Jesus – Pastor de Ovelhas Soa para teu espírito, neste momento, um minuto glorioso, se conseguires utilizar tua liberdade para que seja ele, em teu coração, doravante, um cântico de amor, de humildade e de fé, na hora indeterminável da redenção, dentro da eternidade... Mas, ninguém poderá agir contra a tua própria consciência, se quiseres desprezar indefinidamente este minuto ditoso! Pastor das almas humanas, desde a formação deste planeta, há muitos milênios venho procurando reunir as ovelhas tresmalhadas, tentando trazer-lhes ao coração as alegrias eternas do reinado de Deus e de sua justiça!

9Imediatamente

o homem ficou curado. Tomou o seu leito e se pôs a andar. Ora, esse dia era um sábado. (A conversa do paralítico com Jesus deu-se perto da “Porta das Ovelhas”.)

“ O tema andar, posto em relevo nas duas cenas (VV. 8.9.11.12), duplica-se assim depois de um lance de alcance simbólico. No Primeiro Testamento “andar” (peirpatéo) é uma metáfora freqüente usada para exprimir a maneira como um fiel conduz sua vida. Ela se esclarece graças a um complemento, por exemplo “(andar) com – ou diante de – Deus”. Em nosso relato, o verbo é empregado sozinho, como o exige o contexto, no qual se trata do ato concreto. A uma segunda leitura, porém, ele passa a ter, por isso, mais força evocadora, pois seu contrário não é outra maneira de andar, mas a própria incapacidade de se mover, que se assemelha à morte. Ao termo “ deitado” (VV 3.6) opõe-se a ordem: “Levanta-se”, em grego égeire, termo tradicional para designar a ressurreição.” Leitura do Evangelho segundo João II, Dufour. Retorno ao lar Agora, volta ao lar, consciente das Tomou o seu leito e se pôs a andar. responsabilidades do teu destino... Se a fé instituiu na tua casa o que consideras a alegria com o restabelecimento de tua filha, não te esqueças que isso representa

um agravo de deveres para o teu coração, diante de nosso Pai, Todo-Poderoso!... Públio não reconhece Jesus`como seu salvador Deveria ele, então, abandonar as suas mais caras tradições de pátria e família para tornar-se um homem humilde e irmão de todas as criaturas? Sorria consigo mesmo, na sua presumida superioridade, examinando a inanidade daquelas exortações que considerava desprezíveis. Entretanto, subiam-lhe do coração ao cérebro outros apelos comovedores. Não falara o profeta da oportunidade única e maravilhosa? Não prometera, com firmeza, a cura da filhinha à conta da fé ardente de Lívia?

Ele respondeu: "Aquele que me curou, disse: 'Toma o teu leito e anda!' " 12Eles perguntaram: "Quem foi o homem que te disse: 'Toma o teu leito e anda'?" 13Mas o homem curado não sabia quem fora. Jesus havia desaparecido, pois havia uma multidão naquele lugar.

Cap. 5 – segunda parte O Reencontro Na plenitude de suas lembranças, pareceu 14Depois disso, Jesus o encontrou no Templo e ouvir ainda as extraordinárias advertências lhe disse: "Eis que estás curado; não peques que lhe dirigira com a voz carinhosa e mais, para que não te suceda algo ainda pior!" compassiva, junto às águas marulhentas do 15O homem saiu e informou aos judeus que Tiberíades. Recordando-se intensamente de fora Jesus quem o tinha curado. Jesus, sentiu-se tomado por uma vertigem de lágrimas dolorosas, as quais, de alguma forma, lhe balsamizavam o deserto do coração. Ajoelhando-se sob a fronde opulenta e generosa, qual o fizera um dia na Palestina, exclamou para os céus, com os olhos marejados de pranto, lembrando-se da força moral que a doutrina cristã havia proporcionado ao coração da esposa, nutrindo-a espiritualmente para receber com dignidade e heroísmo todos os sofrimentos: - Jesus de Nazaré! disse com voz súplice e dolorosa - foi preciso perdesse eu o melhor e o mais querido de todos os meus tesouros, para recordar a concisão e a doçura de tuas palavras!... Não sei compreender a tua cruz e ainda não sei aceitar a tua humildade dentro da

minha sinceridade de homem, mas, se podes ver a enormidade de minhas chagas, vem socorrer, ainda uma vez, meu coração miserável e infeliz!...

No “segundo encontro” com Jesus, Públio foi capaz de reconhecê-lo como o Messias, o enviado do Pai para que os seus filhos amados fossem redimidos, e ainda permeado por imensa dor, ante a notícia da morte de Lívia, Públio novamente de joelhos, como no dia em que viu Jesus, sentiu-se profundamente consolado: “Figurou-se-lhe, todavia, que uma energia indefinível e imponderável o ajudava, agora, a atravessar o angustioso transe. Terminada a súplica que lhe fluía do imo da alma lacerada, o orgulhoso patrício observou que a presença de inexplicável força modificava, naquele momento inesquecível, todas as disposições mais íntimas do seu coração e, conservando-se genuflexo, notou, com a visão interior do seu espírito, que a seu lado começava a surgir um ponto luminoso, que se desenvolveu prodigiosamente, na dolorosa serenidade daquele penoso instante de sua vida, surpreendendo-se com o fenômeno que lhe sugeria ao pensamento as conjeturas mais inesperadas.” Tal qual o paralítico que fora curado e não sabia a quem atribuir a cura, no segundo encontro o reconheceu, soube que era Jesus. Assim, amigos, lhes trago minhas singelas impressões, de dois textos que se ligam com um profundidade e beleza que as letras apenas conseguem empobrecer. Carlos Torres Pastorino, no livro Sabedoria do Evangelho, volume 3, pg. 133 a 153 faz um belíssimo estudo deste texto do evangelho de João e gostaria de grifar alguns trechos que considero importantes para corroborar o que ora intentamos através da junção dos textos:

“Aqui é-nos apresentado um episódio privativo da narrativa de João, obedecendo à mesma técnica didática utilizada na lição do Pão da Vida: partindo de um exemplo prático, de uma experiência viva, finaliza com o desenvolvimento de um tema teórico. Em vista da importância do ensino posterior, há que prestar atenção a todos os pormenores e sinais fornecidos pelo narrador, como por exemplo à numerologia, simbolismo muito usado pelo quarto evangelista, sobretudo no Apocalipse. Neste trecho comprovamos ainda uma vez a veracidade desta nossa assertiva (já salientada por nós em outros passos), quando João assinala minúcias numéricas totalmente secundárias e inexpressivas, não fora o símbolo que exprimem (piscina com 5 pórticos ... enfermo havia 38 anos ...).

(...) Nesse ambiente, anota-se o local da lição prática: a "porta das ovelhas", o lugar mais indicado para um "Bom Pastor" conversar com aqueles que, "quais ovelhas entre lobos", desejavam penetrar o sentido profundo das Escrituras, libertando-se do sentido "literal". Era exatamente a porta de acesso a uma lição espiritual profunda. Não nos esqueçamos de que as ovelhas constituem o símbolo do holocausto, do sacrifício da parte animal do ser humano, quando aceito resignadamente. Ao contrário, por exemplo, dos suínos, que berram revoltados ao serem sacrificados, as ovelhas caminham sem protesto para a tosquia e até para o holocausto de suas vidas: "não abriu a boca, como o cordeiro que é levado ao matadouro e como a ovelha que é muda diante dos que a tosquiam" (Is. 53:7). (...) Na "porta das ovelhas" havia uma piscina, um "banho público" (lugar destinado à limpeza e purificação dos corpos) com CINCO pórticos; outra anotação que deixa perceber que a criatura-paradigma da lição já se achava purificada e limpa em sua parte da animalidade. Recordando e aplicando o conhecimento dos arcanos, vemos que se trata de um modo de assinalar que ali "a Providência divina governaria a vida universal e a vontade do homem dirigiria sua força vital (cfr. pág- 121). Tanto assim é que João registra o nome simbólico da piscina, Bethesda, ou "Casa da Misericórdia". Esse nome não consta de nenhum outro documento histórico, nem podia constar, pois foi escolhido pelo evangelista para fazer compreender a quem no pudesse, o significado da lição: um Manifestante divino que chegava às criaturas misericordiosamente para elucidá-las. Mas também aprendemos que a lição se referirá aos seres já purificados no corpo, os quais, tendo superado as fases da personalidade (físico, etérico, astral e intelectual) estão começando a perceber, consciente ou inconscientemente, o plano da individualidade, o quinto plano, embora não consigam sozinhos dar o passo decisivo. Daí o fato ocorrer na "porta" (entrada) das "ovelhas" (dos dispostos ao sacrifício) numa "piscina" (depois de purificados) na "Casa da Misericórdia" onde receberão a Providência que governa a vida universal, já que eles se acham prontos a dirigir suas forças vitais nesse sentido. Então, tudo está preparado, o discípulo está pronto, vai aparecer o Mestre Revelador dos segredos eternos. (...) E o Cristo pergunta-lhe se ele quer dá-lo. Nada é feito sem que o livre-arbítrio da criatura o decida (é o simbolismo do CINCO: a vontade do homem para dirigir sua força vital). A resposta dele mais uma vez confirma nossa interpretação: "não tenho quem me ponha na piscina, quando a água é movimentada". Por que não teria ele dito simplesmente "quero"? Na realidade, sabemos que a ÁGUA simboliza a interpretação

alegórica das Escrituras. E é disso que se queixa o enfermo: não podia mover-se sozinho para ir buscar essa compreensão profunda (faltava-lhe a "chave") e não encontrara ninguém que lhe proporcionasse meios de penetrar a alegoria, extraindo das palavras físicas, da letra, o SENTIDO espiritual (cfr. vol. 1). Aqui compreendemos as frases de João nos vers. 3 e 4, que podem perfeitamente ser aceitas neste sentido mais profundo: de tempos a tempos desce um ANJO (chega à Terra um Mestre, um Manifestante divino, um Avatar) e "movimenta as águas" (revela certos sentidos alegóricos e simbólicos profundos das Escrituras); e os "enfermos" que entram nessas águas (que compreendem a lição e a vivem) se curam de suas fraquezas. Não se referia João, com essas palavras ao fato expresso pela letra, mas a um sentido oculto, que pudesse ser captado por quem tivesse a capacidade de compreender: qui potest cápere, cápiat. Diante dessa disposição de aceitação plena, em que o enfermo apenas solicita a ajuda de alguém para iniciá-lo, o Cristo resolve fazê-lo. Levanta-te, isto é, eleva tuas vibrações íntimas; toma teu leito, ou seja domina teu corpo, carregando-o como um peso necessário, embora incômodo e externo a teu Eu verdadeiro; e caminha, e prossegue avante tua jornada evolutiva em busca do Espírito.” E o que nos resta, antes de encerrarmos este estudo é concluir que, ainda que não seja de Públio que João estivesse falando, mesmo sendo totalmente compatíveis os relatos, certamente reconhecemos em Públio, e em nós, seres que necessitam do amor divino para que suas chagas sejam curadas, para que nos levantemos de nossas lutas humanas. Assim, ao iluminarmos a conversa de Públio com Jesus com as luzes do relato do Evangelista João, aprendemos muito, com profunda emoção e todas as outras coisas tornaram-se menores, ante o sentimento belíssimo que se instaura quando nos deixamos tocar por estes momentos de profundo amor. Quem foi quem talvez não seja o mais importante... uma vez que todos, indistintamente, somos abraçados e confortados por este sublime amor. Para mim, isto basta. Que Jesus os envolva em sua doce paz. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 04.09.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 5c

“A esperança e a caridade são uma consequência da fé; essas três virtudes são uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?” Evangelho Segundo o Espiritismo

Encerrando esta quinta parte do estudo, onde tivemos a oportunidade de sondar os ensinos da conversa de Jesus com o Senador Públio Lentulus (uma das encarnações de Emmanuel), mudamos um pouco o foco do nosso olhar que até então estava sobre Públio, e, assim, fomos levados a entrar em mundo elevado, onde imperam o amor, a fé e a caridade. Falamos do mundo de Lívia, este ser de luz que atuou junto aos seus de forma ímpar, como raros neste mundo foram capazes. Se recordarmos a frase do Emmanuel no livro Paulo e Estevão: “Sem Estevão, não teríamos Paulo de Tarso.”, forçoso é pensar que sem Lívia, não teríamos Emmanuel. Sua paciência, amor e fé perduraram e foram fortalecidos ante provas duríssimas que enfrentou. Lívia é, sem sombra de dúvida, alguém que foi capaz de experimentar as lutas da vida com o coração voltado para o Cristo. Desta forma, continuando o estilo de estudo que adotamos que coloca os capítulos do livro em paralelo, primeira e segunda parte, buscando os pontos convergentes, iniciamos com um dizer de Jesus para Públio, sobre Lívia, que consta no capítulo 5 da primeira parte: “- Sim... não venho buscar o homem de Estado, superficial e orgulhoso, que só os séculos de sofrimento podem encaminhar ao regaço de meu Pai; venho atender às súplicas de um coração desditoso e oprimido e, ainda assim, meu amigo, não é o teu sentimento que salva a filhinha leprosa e desvalida pela ciência do mundo, porque tens ainda a razão egoística e humana; é, sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é divina... Basta um raio só de suas energias poderosas para que se pulverizem todos os monumentos das vaidades da Terra...”

Qual o sentido desta fala de Jesus? Por que o fato de Públio ir ao encontro dele, para rogar por sua filha não foi a causa motivadora da cura de Flávia? Qual a razão de Jesus referir-se a Lívia e a fé que depositava no Profeta de Nazaré? Compreender estas questões pode nos auxiliar a olhar a fé de forma diferente da que temos olhado até os dias atuais. Durante muito tempo a fé foi vista como um ato de crer, acreditar em algo, mas ela é muito mais do que isso. Vejam a explicação que o livro A Gênese nos traz no capítulo XV, no trecho em que fala das curas: “Compreende-se que a fé a que ele se referia não é uma virtude mística, qual a entendem muitas pessoas, mas uma verdadeira força atrativa, de sorte que aquele que não a possui opõe à corrente fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma força de inércia, que paralisa a ação. Assim sendo, também, se compreende que, apresentando-se ao curador dois doentes da mesma enfermidade, possa um ser curado e outro não. É este um dos mais importantes princípios da mediunidade curadora e que explica certas anomalias aparentes, apontando-lhes uma causa muito natural. (Cap. XIV, nos 31, 32 e 33.)

O fato de Jesus alertar a Públio que seu raciocínio ainda era humano e egoístico se coaduna perfeitamente com o ensino da codificação, eis que os sentimentos que Públio carregava promoviam uma força repulsiva. Ensina-nos, também, o motivo de, muitas vezes, a enfermidade permanecer, não obstante os reiterados pedidos e preces. A fé é uma força atrativa. Resta-nos a valorosa reflexão sobre a nossa fé e este é um exercício individual. Cabe-nos, neste momento, prosseguirmos em nossa tentativa de aprofundar nestas lições tão ricas e, assim, aprendermos um pouco mais com Lívia. Entrar no mundo de Lívia é permitir-se uma reflexão profunda e bela. Vejam que a sua fé e o seu amor eram tamanhos que permitiram a ação do amor de Deus em sua vida, realizando a cura de Flávia. E se Jesus disse a Públio: “está no teu querer...” , também cabe a cada um de nós os questionamentos: como temos procurado o Cristo? Com nossa razão egoística e humana? A razão egoística e humana é aquela que comparece como merecedora das benesses do Cristo, achando que por sua posição social deve obter privilégios que as demais classes não têm, ou por outros motivos que não a classe social, mas

também decorrentes do orgulho, promovem esta aproximação equivocada, tal qual a de Públio. A razão humana nos é necessária, Deus no-la deu, mas se os nossos sentimentos não estiverem coadunados com as leis divinas, faremos dela mau uso. Como o fazia Emmanuel, nos tempos em que vivia como o Senador Romano, cheio de honras, cheio de si mesmo. O Evangelho Segundo o Espiritismo nos fornece um verdadeiro raio x deste tipo de sentimentos: “ Os homens de saber e de espírito, no entender do mundo, formam geralmente tão alto conceito de si próprios e da sua superioridade, que consideram as coisas divinas como indignas de lhes merecer a atenção. Concentrando sobre si mesmos os seus olhares, eles não os podem elevar até Deus. Essa tendência, de se acreditarem superiores a tudo, muito amiúde os leva a negar aquilo que, estandolhes acima, os depreciaria, a negar até mesmo a Divindade. Ou, se consentem em admiti-la, contestam-lhe um dos mais belos atributos: a ação providencial sobre as coisas deste mundo, persuadidos de que eles são suficientes para bem governálo. Tomando a inteligência que possuem para medida da inteligência universal, e julgando-se aptos a tudo compreender, não podem crer na possibilidade do que não compreendem. Consideram sem apelação as sentenças que proferem.”

Públio esteve com Jesus, sentiu seu amor, viu sua luz, mas seu coração ainda estava fechado para esta vivência. Lívia ficou ao seu lado, dando o testemunho de como Jesus opera na vida das pessoas, capacitando-as para amar e perdoar, amoldando os corações para que nas lutas e renuncias que a vida lhes impõe, alcancem outros corações que verificam o seu testemunho de fé. E Públio foi uma destas pessoas, foi tocado de forma belíssima, sua alma foi conquistada não por palavras, mas pelo amor reiterado. Nosso querido senador, Públio, pode ser comparado a um solo infértil, onde a semente não poderia florescer, e foi tratado, regado, adubado, dia a dia, por sua esposa, nossa querida Lívia. Em verdade, a ação foi divina, Deus buscou resgatar Públio através do amor de sua esposa. Vejam, mais a frente, no capítulo 5 da segunda parte, os dizeres de Lívia traduzindo estes sublimes sentimentos:

- Ana, desde a morte de Calpúrnia, noto que Públio está mais sereno e mais esclarecido... Nestes últimos dias, tem-me dirigido a palavra com a ternura de outros tempos, havendo-me afirmado, ainda ontem, que seu coração me reserva doce surpresa para amanhã, depois da sua vitória suprema na vida pública. Sinto que é muito tarde para que seja novamente feliz neste mundo, mas, em suma, estou intimamente satisfeita, porque nunca desejei morrer em desarmonia com o companheiro que Deus me concedeu para as lutas e alegrias da vida. Acredito que nunca me perdoará o crime de infidelidade que julga haver eu praticado há vinte e cinco anos, mas choro de contentamento ao reconhecer que Públio me sente redimida, ante a severidade de seus olhos!... (...)- Agradeço a Jesus tamanha misericórdia - revidou Lívia, sensibilizada. Suponho mesmo que não estou longe de partir para o mundo das realidades celestes, onde todos os sofredores hão de ser consolados...” Sabemos que esta reconciliação não se efetivou no plano físico, Lívia foi levada junto aos cristãos, presa, para fazer parte da grande festa. Públio homenageado, Lívia levada ao martírio junto com seus irmãos de fé. E sua ida as catacumbas teve uma razão especial, dita por ela mesma: “Se, amanhã, Públio vai receber o supremo galardão do homem do mundo, quero rogar a Jesus não lhe abandone o coração intrépido e generoso, para que as vaidades da Terra não o inibam de buscar, algum dia, o reino maravilhoso do céu!” Eis, novamente, a força atrativa da fé de Lívia promovendo maravilhas. A humanidade ainda não descobriu a força que tem um coração que ama, vidas são restauradas, feridas são curadas e um mundo novo surge quando nos deixamos abraçar por estes anjos de luz que povoam a Terra trabalhando pelo nosso bem. Mas é chegada a hora, a alvorada planetária se anuncia nesta madrugada de dores e inquietações. Possamos, cada um de nós, ante as lutas diárias, relembrarmos da força e coragem de Lívia, que amparava-se nos ensinos de Jesus, seguindo sempre em frente, dia após dia, tendo a fé, o amor e a caridade como seus mais preciosos e imorredouros tesouros. Recordemos de seu exemplo luminoso em nossos lares quando a ameaça da contenda nos visitar, lembremos de sua coragem em silenciar quando ouvirmos palavras desprovidas de caridade, levantemos a bandeira do amor, que espera, é paciente, tudo suporta e tudo crê, como disse Paulo em sua inesquecível poesia sobre o amor na Carta aos Corintios.

E assim, chegamos ao fim da quinta parte, não sem antes entrelaçarmos estas reflexões com o Evangelho de João, num pequeno trecho e na explicação que Emmanuel lhe dá, complementando, assim, nossas singelas reflexões. Livro Caminho, Verdade e Vida, lição Tudo em Deus.

“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma.” Jesus (JOÃO, 5: 30)

Constitui ótimo exercício contra a vaidade pessoal a meditação nos fatores transcendentes que regem os mínimos fenômenos da vida. O homem nada pode sem Deus. Todos temos visto personalidades que surgem dominadoras no palco terrestre, afirmando-se poderosas sem o amparo do Altíssimo; entretanto, a única realização que conseguem efetivamente é a dilatação ilusória pelo sopro do mundo, esvaziando-se aos primeiros contactos com as verdades divinas. Quando aparecem, temíveis, esses gigantes de vento espalham ruínas materiais e aflições de espírito; todavia, o mesmo mundo que lhes confere pedestal projeta-os no abismo do desprezo comum; a mesma multidão que os assopra incumbe-se de repô-los no lugar que lhes compete. Os discípulos sinceros não ignoram que todas as suas possibilidades procedem do Pai amigo e sábio, que as oportunidades de edificação na Terra, com a excelência das paisagens, recursos de cada dia e bênçãos dos seres amados, vieram de Deus que os convida, pelo espírito de serviço, a ministérios mais santos; agirão, desse modo, amando sempre, aproveitando para o bem e esclarecendo para a verdade, retificando caminhos e acendendo novas luzes, porque seus corações reconhecem que nada poderão fazer de si próprios e honrarão o Pai, entrando em santa cooperação nas suas obras. Jesus nos convida, quer que sejamos colaboradores da construção de um mundo melhor, mais fraterno e repleto de paz. Certamente ainda somos trabalhadores inquietos e pouco competentes, mas tenhamos fé, lembrando o que Lívia nos ensinou, a fé é divina. Abraços fraternos, com votos de paz. Campo Grande – MS, 11.09.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 6a

“Venho falar-te daquilo que mais importa, nesta época de crise e de transformação. No momento em que as nações revestem roupagem viril; no momento em que o Céu desvelado vos mostra, vagando nos espaços infinitos, os Espíritos daqueles que pensáveis dispersos como moléculas ou servindo de pasto aos vermes; neste momento solene, é preciso que, armado de fé, o homem não marche tateante nas trevas do personalismo e do materialismo. Como outrora os pastores, guiados por uma estrela, vinham adorar o Menino-Deus, é preciso que o homem, guiado pela brilhante aurora do Espiritismo, marche, enfim, para a Terra Prometida da liberdade e do amor. É preciso que, compreendendo o grande mistério, ele saiba que a finalidade harmoniosa da Natureza, seu ritmo admirável, são os modelos da Humanidade. Nesta espantosa diversidade que confunde os Espíritos, distingui a perfeita similitude das relações entre as coisas criadas e os seres criados, e que essa poderosa harmonia vos leve a todos, homens de ação, poetas, artistas, operários, à união na qual devem fundir-se os esforços comuns durante a peregrinação da vida. Caravanas assaltadas pelas tempestades e pelas adversidades, estendei-vos as mãos amigas e marchai com os olhos voltados para o Deus justo, que recompensa ao cêntuplo aquele que tiver aliviado o fraco e o oprimido.” Géorges – Revista Espírita de 1861

Iniciamos nova etapa dos estudos, novos capítulos para sondarmos convergências, pontos que nos ensinem e nos levem a momentos de reflexão. Não basta olhar o que aconteceu com o outro, é importante que este olhar nos ensine o que vai, também, em nosso coração. Assim, quando abrimos as páginas destes livros para estudar as suas lições evangélicas, sem nenhuma pretensão de esgotálas ou de dizer o que ainda não foi dito, apenas estamos buscando o aprendizado que nos torne pessoas melhores para nós e para mundo. Na vida fazemos muitos planos, sonhamos, realizamos, almejamos, construímos. Cada passo é resultado de um direcionamento que escolhemos, porém, esta escolha de direção muitas e muitas vezes é desviada por algum acontecimento. Quem nunca esteve andando em uma direção quando a vida, inesperadamente, deu uma guinada e o arremessou para outro caminho? Quem nunca?

Pois com Públio não foi diferente. Inicia o capítulo 6 com a narrativa do sequestro de Marcos, o filho caçula. A família preparava-se para retornar a Roma, Flávia Lentulus havia melhorado e todos teceram novos planos e sonhos que não se concretizaram. O menino desapareceu na noite e a vida mudou... Eis alguns trechos do capítulo 6 da primeira parte: “Nessa noite, porém, iam desmoronar-se todas as suas esperanças e modificar-se, para sempre, as linhas do seu destino na Terra. (...) Justamente quando contava regressar a Roma, eis que surge o inesperado, com piores características que a própria moléstia da filha, tantos anos suportada com serenidade e resignação, porque, agora, era o rapto inexplicável de uma criança, envolvendo sérias questões da moralidade de sua casa, e a própria honra da família.” Diz Emmanuel, no livro Abençoa Sempre, que “ninguém evolui sem mudanças e de que não existem mudanças sem atritos ou deslocamentos, conflitos ou desajuste.” Assim, poderíamos pensar que estas mudanças que a vida nos oferece tem algo a nos ensinar? Certamente que sim. Podemos, também, olhar para os anos passados sondando as adversidades que já atravessamos. Certamente iremos constatar que muitas delas nos foram excelentes oportunidades de melhoria pessoal. Não obstante o caráter educativo do sofrimento, fica a ressalva que é preciso cuidado para não ficarmos muito afeitos as tempestades da vida, desistindo da luta quando ela é necessária. Acomodar-se não é remédio de cura, mas atraso evolutivo. Sigamos um pouco a frente, sondando o que se passa no capítulo 6 da segunda parte, a fim de que nos seja possível o estudo das lições paralelas que se juntam para nos propiciar um mais rico entendimento. O capítulo 6 nos conta do desencarne de Lívia. Recordemos que no capítulo anterior Públio tencionava reconciliar-se com Lívia depois de 25 anos de afastamento. Mas novamente teve seus planos frustrados, a vida lhe disse não. Lívia foi levada ao martírio e teria sido salva, não fosse a inspiração de trocar de roupa com Ana, querendo retornar a pátria celestial da forma mais humilde que conhecia.

E esta vida de abnegação foi recompensada. O capítulo 6 da segunda parte nos apresenta uma narrativa belíssima de como é recebido um espírito como o de Lívia no plano espiritual, e ela nos fala sobre as duras voltas que a vida dá: “- Meu amigo - disse ela, entre lágrimas as agonias terrestres são um preço misérrimo para estas recompensas radiosas e imortais!... Se todos os homens tivessem conhecimento direto de semelhantes venturas, não possuiriam outra preocupação além da de buscar o glorioso reino de Deus e de sua justiça.” Há quem argumente que se realmente tivesse certeza das descrições que são apresentadas, certamente viveria de forma diferente, porém, qual o mérito de fazer algo pensando em recompensa? Lívia amou profundamente os seus e não agiu pensando no galardão que receberia ao desencarnar. E se ainda nos achamos distantes de suas conquistas espirituais, não podemos olvidar que seu exemplo nos é motivo de esperança e inspiração. Cabe a nós a perseverança, a paciência, nós que ainda estamos atravessando a vida na carne e que temos a oportunidade bendita de viver o que ora nos é ensinado. Pois bem. Avancemos um pouco mais em nossas reflexões. Caberia, novamente, associarmos a lição que encontramos nos capítulos de número 6 do livro Há 2000 anos, com a narrativa que consta no Evangelho de João, capítulo 6? Recordemos que até o momento tivemos êxito em tais associações que se mostraram momentos de rico aprendizado. Digo-lhes que também agora poderemos alargar nossos horizontes ao lançar as luzes do evangelho sobre as palavras de Emmanuel, nestes capítulos com lições paralelas. O capítulo 6 do Evangelho de João, em seu início, nos apresenta a história da multiplicação dos pães. Em resumo, podemos dizer que estando Jesus com seus discípulos, aproximou-se uma multidão para ouvi-lo, e eles precisavam ser alimentados, havia, porém, apenas 5 pães e 2 peixes. A história é riquíssima e cheia de símbolos que nos ensinam e nos permitem refletir, tanto o é que todos os evangelistas a tem em seus textos. Mas e para nós, que estudamos o livro Há 2000 anos, há algo que nos auxilie a entender melhor os acontecimentos da vida de Públio que significaram verdadeiras guinadas em sua vida? Será que o texto ratifica a fala de Lívia que diz que as lutas da Terra são mínimas ante as venturas do céu? Vejamos. Inicia o evangelho com o texto, João 6:1: “Depois dessas (coisas) Jesus partiu para o outro lado do Tiberíades, o mar da Galiléia.” Parece um texto tão simples, como a informar um deslocamento geográfica apenas. Observa-se, porém,

que este deslocamento causou estranheza nos grandes estudiosos, ao ponto de considerarem que o capítulo está colocado em lugar errado, como se tivesse sido alterado pelos editores antigos. Sem entrar neste mérito acadêmico, para nós que buscamos a lição evangélica que nos toque a alma, cabe aqui perceber duas coisas: Jesus está em constante movimento e isso nos ensina que a vida é assim também. Todas as ações e palavras de Jesus tem um caráter educativo para a humanidade, não há desperdício de um só momento e João Evangelista bem o sabia. Este ser de luz a quem chamamos de Mestre e Salvador, nos veio ensinar a vivermos, nos veio dar lições de humanidade e este constante movimento nos ensina que nenhuma situação em que nos encontremos na Terra é definitiva e imutável, tudo e todos movimentam-se sem cessar. Esta percepção nos permite verificar que se a vida de Públio sofreu mudanças, movimentos, deslocamentos, isto faz parte de nossa trajetória evolutiva. Vivemos, sobretudo quando encarnados, num estado de impermanência. O que é hoje pode não ser amanhã. Sigamos em frente para buscar no evangelho mais luzes para nosso estudo. Há uma situação inesperada que precisa de solução – pessoas famintas precisam ser alimentadas e o que se tem de alimento não é suficiente. Pois é exatamente assim que nos sentimos quando a vida nos assusta com situações novas e nem sempre boas e confortáveis. Públio teve seu filho sequestrado e não tinha recursos para resolver a situação, por mais que torturasse os escravos, mandasse guardas em buscas pelas casas da cidade, seus recursos eram insuficientes para resolver seus problemas. E sua alma sofria. Quantas e quantas vezes na vida tivemos estes sentimentos de escassez? Defrontados com situações difíceis não nos sentimos capazes de resolvê-las eis que nossos recursos, sejam materiais ou espirituais, parecem inadequados àquela situação. É interessante que assim como no texto em que vemos um segundo momento em que a vida de Públio sofre uma terrível mudança, com a morte de Lívia e a impossibilidade da reconciliação tão almejada, também no texto de João há um deslocamento e as pessoas vão atrás de Jesus ao que eles lhes diz, João 6:26: “Buscai a mim não porque vistes sinais mas porque comestes dos pães e vos saciastes.”

E, então, adentramos nos dizeres de Lívia que nos ensina a buscar Jesus em nossas adversidades, por que ele nos oferecerá os recursos dos quais carecemos e que ainda não temos. E não se trata de recursos materiais, mas de encontrar a luz necessária para clarear o caminho e seguir em frente, de ter fome e encontrar o pão que sacia, ter sede e tomar a água que a mata, em outras palavras, experimentar o que a prece de São Francisco nos quer ensinar: “Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida, que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade; Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz.”

A lição da multiplicação dos pães nos apresenta um Deus amoroso que nos auxilia em nossas dificuldades e não nos desampara. E Jesus ensina isto, Joao 6:3233: “...meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu; pois o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo.” Lívia foi recebida no plano espiritual por Simeão, que faz belíssima prece no capítulo 6 da segunda parte, vejam que em seus dizeres fala também da multiplicação que ora intentamos apresentar neste estudo: “Multiplica as nossas energias e faze chover sobre nós o fogo sagrado da fé, para espalharmos na Terra as divinas sementes do amor de teu Filho!...” Assim, caros amigos, nos despedimos mais uma vez, com a alegria de aprendermos lições belíssimas de textos que distam quase 2000 anos de escrita mas que se harmonizam profundamente em lições imorredouras para nossas almas que carecem do maná que vem do céu, do alimento divino que nos sustenta e nos faz seguir em frente.

Emmanuel comenta o versículo 32 do capítulo 6 do Evangelho de João no livro Vinha de Luz, na lição intitulada Pão Divino, e é com alguns trechos da lição que encerramos o estudo.

“Moisés não vos deu o pão do Céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do Céu.” - Jesus. (João, 6:32.) (...) Todos os serviços da fé viva representam, de algum modo, aquele pão que Moisés dispensou aos hebreus, alimento valioso sem dúvida, mas que sustentava o corpo apenas por um dia, e cuja finalidade primordial é a de manter a sublime oportunidade da alma em busca do verdadeiro pão do Céu. (...) Esteja, porém, cada companheiro convencido de que o esforço pessoal no pão divino para a renovação, purificação e engrandecimento da alma há de ser culto dominante no aprendiz ou prosseguiremos nas mesmas obscuridades mentais e emocionais de ontem. (...) Se procuras, pois, a própria felicidade, aplica-te com todas as energias ao aproveitamento do pão divino que desce do Céu para o teu coração, através da palavra dos benfeitores espirituais, e aprende a subir, com a mente inflamada de amor e luz, aos inesgotáveis celeiros do pão celestial.”

Uma observação antes do encerrarmos: Há um detalhe interessante que merece uma referência final. Como lhes disse no estudo, há muitos estudiosos que afirmam que o capítulo 6 do evangelho de João estaria deslocado. Vejam o que diz Johann Konnings: “Quanto a posição deste episódio existe um problema de crítica literária. O discurso do cap. 5, em Jerusalém, é interrompido em 5,47. Por outro lado, o cap. 7 parece pertencer à mesma situação do cap. 5, aludindo inclusive a este (7. 19.21). Alguns estudiosos acham que o cap. 6 foi deslocado, talvez por uma troca acidental de páginas, e inserem nos seus comentários o cap. 6 logo depois de 4,54.” Por que isto é interessante? Pensemos que nosso estudo fala de mudanças inesperadas que acontecem na vida, deslocamentos que independem de nossa vontade e que nos fazem viver de forma diferente, melhor ou pior. Passados os anos, muitas vezes fica difícil verificar se o que os estudiosos suspeitam (o deslocamento do capítulo) ocorreu de fato ou não, mas até mesmo esta dúvida, dentro do

contexto do nosso estudo, ganha um belo e profundo significado, afinal, todos nós estamos sujeitos a mudanças na vida, aos deslocamentos fortuitos ou não. A grande questão é aprendermos a buscar em Jesus o alimento que sacia, a palavra que consola, tal qual Lívia o fez. Lívia buscou o consolo do Cristo, saiu de seu momento de profunda dor e foi ao encontro da palavra consoladora do Mestre. No capítulo 7 do livro Há 2000 anos, primeira parte, nos fala de quando Lívia vai a uma reunião cristã, a convite de Ana. Lívia afirma que irá procurar o profeta em gratidão ao que fez por Flávia e também “recorrerei ao profeta para obter um lenitivo ao coração opresso e torturado.” Pois bem! Ao encontrar-se na presença de Jesus, ouvindo algo semelhante às bemaventuranças, eis que nos é narrado um fato interessante:

“A hora ia adiantada e alguns apóstolos do Senhor resolveram trazer alguns pães aos mais necessitados de alimento. Dois grandes cestos de merenda frugal foram trazidos, mas os ouvintes eram em demasia numerosos. Jesus, porém, abençoou-lhes o conteúdo e, como num suave milagre, a escassa provisão foi partida em pequenos pedaços, que foram religiosamente distribuídos por centenas de pessoas.” Multiplicou-se o alimento, tal qual narrado no Evangelho de João que ora estudamos. E se é bela a ligação que ora podemos realizar, cresce ainda mais a necessidade de entender a lição espiritual que o momento nos fornece. Que Jesus nos ampare e nos guie em nossa jornada e que saibamos nos ancorar neste porto seguro a cada instante, na alegria ou na tristeza. E quando a vida nos convidar a provas e lutas que nos faltem recursos para enfrentarmos só, que saibamos procurar o pão divino que alimenta a alma, permitindo a ação da providência divina em nossas vidas e corações. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 18.09.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 6b

“O conhecimento evangélico em nosso mundo íntimo é sempre milagrosa festa de luz. É o banquete com o Pão que desceu do Céu, a inundar-nos de paz, esperança, fortaleza e alegria…” Emmanuel

Nosso intuito em realizar estes estudos dos romances de Emmanuel é identificar as lições evangélicas que eles nos trazem, ou seja, é buscar nas diversas vivências e experiências ofertadas pelas belíssimas histórias, um conhecimento que nos auxilie em nossa vida cotidiana, que nos faça refletir sobre ações e pensamentos, em última instância, que nos auxilie a sermos, em nosso dia a dia, pessoas melhores. Em geral, iniciamos com trechos do livro e depois buscamos nas letras do Evangelho a luz para alcançarmos as lições que procuramos. Desta feita, porém, faremos o caminho inverso. Iniciaremos por um trecho do Evangelho para depois ir ao livro. Vejamos o que diz o Evangelho de João 6:30-35: “Então, lhe disseram eles: Que sinal fazes para que o vejamos e creiamos em ti? Quais são os teus feitos? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu. Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá. Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo. Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão. Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede. Jesus explica aos discípulos e ao povo a origem do pão que dá vida ao mundo, o pão que mata a fome, não apenas a física mas a espiritual. Novamente o Mestre usa algo que nos é corriqueiro como a fome para nos explicar algo muito maior, a nossa necessidade de estarmos conectados com Deus, nos adequando as leis divinas que regem o mundo.

Há um esforço, desde os tempos remotos de Moisés, quando o povo de Israel recebeu o maná no deserto, para explicar à humanidade que ela necessita de Deus. Quando Jesus diz que é o pão da vida, ele nos fala do alimento da alma, porque ele é a imagem de Deus, é o nosso modelo de humanidade, é olhando para ele e seguindo o seu exemplo que encontraremos a centelha divina que há em nós, despertando as nossas potencialidades e cumprindo o desejo do Pai Criador quando deu a vida a cada um de nós. Pois bem, a questão é que este texto nos oferece algumas reflexões e também algumas perguntas: - Quando não estamos conectados com a vontade divina e, por esta razão, não buscamos este alimento que sacia a fome, o que nos ocorre? - Como reconhecer que estamos distantes de Deus e mudar de tal forma que passemos a receber este alimento? Para respondê-las, vamos ao livro Há 2000 anos, capítulos de número 6, primeira e segunda parte. O capítulo 6 da primeira parte nos conta do sequestro de Marcos, filho de Públio, por André di Gioras com auxilio de uma escrava da casa dos Lentulus. Geralmente quando olhamos André o vemos como o vilão da história, alguém que buscou vingança. Este, porém, é apenas o aspecto superficial desta narrativa, pois olhando-o mais de perto vemos o quanto ele se assemelha a maior parte de nós. É uma alma de tem fome e está buscando saciar-se de forma equivocada. Recordemos que Andre di Gioras é pai de Saul, o rapaz judeu que jogou uma pedra em Lívia quando eles chegavam em Jerusalém. Sabemos, pelas informações dos historiadores, que Roma mantinha Jerusalém sob o seu jugo, enriquecendo as custas da miséria de muitos judeus, como a da família de Saul. O jovem, vendo mais um Senador chegando com toda a pompa e riqueza, sente-se ferido, ultrajado e revolta-se. É preso, tenta fugir, mas vira escravo. André vê sua família destruída, seu filho, onde depositava suas esperanças da velhice, lhe é, aos seus olhos, usurpado. Tem fome de justiça, quer algo pelo que perdeu. E usa a lei de Talião como remédio, “olho por olho, dente por dente”, perdera seu filho, Públio também o perderia. Vejamos um trecho o livro:

“Aquele maldito romano conseguiu escravizar para sempre o meu pobre filho, desatendendo às minhas súplicas paternas, mas há-de pagar muito caro a sua ousadia de conquistador, porque seu filho há-de ser um servo da minha casa! Um dia, hei-de mostrar-lhe a minha desforra, provando-lhe que também sou um homem!... Estas palavras ele as disse entre dentes, em voz soturna, de olhos parados e brilhantes, como que se apostrofasse seres invisíveis.” Dentro de sua concepção, do seu tempo e da sua cultura, entendia ele estar agindo corretamente. E é neste ponto que nos aproximamos dele. Dia a dia agimos de acordo com nossa cultura, costumes, regras sociais, podemos até não infringir uma lei, mas não raro nos esquecemos da lei divina, do amor, da caridade, da justiça. Podemos reconhecer nossas almas como as que tem fome? Onde temos saciado nossa fome? A questão parece complexa, mas não é, na verdade é muito simples. Quando André di Gioras fez-se justiceiro, esqueceu-se da regra áurea, do mandamento maior e que já constava na lei de seu povo há muito tempo: Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Sua atitude não causou sofrimento apenas em Públio, Lívia perdeu seu filho, escravos foram açoitados, Flávia perdeu o irmão. Eis a razão de não podermos fazer a justiça com as próprias mãos, de não estarmos aptos para julgar: não temos condições morais e espirituais de sermos justos. Muitas vezes procuramos a justiça e neste caminho somos arrogantes, destratamos pessoas, faltamos com a caridade com o próximo, situações que são aceitas pela sociedade e até incentivadas, mas e a caridade? A questão é lembrarmos e praticarmos a regra áurea e não fazer ao outro o que não gostaríamos que alguém fizesse conosco. Vejam, que não estou querendo afirmar que deixemos para traz as injustiças que nos ocorrem no dia a dia, mas que jamais deixemos a caridade de lado e se tivermos que optar entre sofrermos um injustiça e sermos caridosos, seja sempre a última opção, a caridade, a nossa escolha. Esta postura é a que representa a busca pelo alimento divino, pelo pão dos céus, a vida material jamais irá suprir as nossas necessidades espirituais. É algo simples, todos sabemos, mas não é fácil viver assim. Creio, porém, que esta dificuldade decorre apenas de nossa inexperiência. A medida que vamos vivenciando situações em que a caridade está a frente de nossa conduta, vamos nos

sentindo conectados a lei divina e não há nada no mundo que se iguale a este prazeroso sentimento. Quando temos fé na ação de Deus em nossas vidas, a revolta dá passagem para a compreensão, a dificuldade para a paciência e os dissabores para a perseverança. Assim, as dificuldades do caminho deixam de ser os motivos de infelicidade para tornarem-se momentos de aprendizado, de fortalecimento da fé. E é justamente esta visão, do que realmente importa, que encontramos no discurso da Simeão, que recebe Lívia no plano espiritual, e nos responde a segunda pergunta: Como mudar e receber o alimento que vem de Deus: “"Abençoa, Senhor do Universo, as sagradas esperanças deste Reino. Jesus é para nós o teu Verbo de amor, de paz, de caridade e beleza!... Fortalece as nossas aspirações de cooperar em sua Seara Santa!... "Multiplica as nossas energias e faze chover sobre nós o fogo sagrado da fé, para espalharmos na Terra as divinas sementes do amor de teu Filho!... "Basta uma gota do orvalho divino de tua misericórdia para que se purifiquem todos os corações, mergulhados no lodo dos crimes e das impenitências terrestres, e basta um raio só do teu poder para que todos os Espíritos se convertam ao bem supremo!.. "E agora, ó Jesus, Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, recebe as nossas súplicas ardentes e fervorosas! "Abençoa, ó Divino Mestre, os que chegam redimidos com o anélito criador de tuas bênçãos sacratíssimas!... "Vítimas da perversidade humana, cumpriram, valorosamente, os teus missionários, todas as obrigações que os prendiam ao cárcere do penoso degredo!... "O mundo, no torvelinho de suas inquietações e iniquidades, não lhes compreendeu o coração amantíssimo, mas, na tua bondade e misericórdia, abres aos mártires da verdade as portas divinas do teu reino de luz..." Quando vemos a forma como foram recebidos estes mártires do primeiro século, certamente precisamos refletir sobre o que temos feito ao longo destes 2000 anos e se já não é hora de nos aproximarmos de Deus definitivamente. E é importante percebermos que não é, apenas, a esperança no mundo vindouro que lhes permitiu um desencarne tão luminoso. Enquanto andaram pela Terra, encarnados, atravessaram lutas humanas, como eu, como você, porém, buscaram sempre o pão do céu para saciar sua fome. Inclusive na hora derradeira, no martírio, permaneceram em harmonia, entoando cânticos de louvor ao Criador, nada esperavam da Terra e das coisas materiais, suas almas encontraram o

alimento definitivo que os fez ascender. Lívia continua sendo um exemplo de uma alma que muito sofreu, perdeu o afeto do esposo, da filha, dos amigos, perdeu o filho e, ainda sim, manteve-se confiante e buscando em Jesus o consolo e a paciência para suportar as duras provas. Resta-nos, assim, a reflexão: tenho fome? Onde tenho procurado sacia-la? Para finalizar, retornamos ao Evangelho de João, na interpretação valorosa de Emmanuel faz interessante reflexão sobre o tema no livro Segue-me, Lições do Céu, e com ela encerramos o estudo de hoje.

“"Jesus lhes respondeu e disse: -Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes". (João, 6:26) Como ao tempo do Cristo, numerosas pessoas se acercam dos círculos religiosos pedindo as provas do céu. Comumente, os católicos romanos rogam "milagres", os espiritistas esperam "fenômenos", os protestantes reclamam "experiências". Os raciocínios que chegam do exterior, entretanto, cooperam no esforço mas não resolvem o problema da vida. O homem está sempre rodeado de sinais do céu. A questão não é de exibir fatos: resumese em possuir a necessária visão espiritual para compreendê-los. A operação mais simples da natureza revela o mecanismo sagrado que a fez surgir na vibração do poder criador da Divindade. Mas são raros os homens que observam além da superfície. Eis porque, entendendo as criaturas, afirmou o Mestre que seus discípulos sinceros não o procuram pelos sinais que hajam visto, fortuitamente, mas pelo pão da vida e de bom animo que receberam de suas mãos generosas. Depois de provar-lhe a excelência divina, no santuário da vida interior, compreendem que só o Cristo ensina, com eficácia, só ele sugere com sabedoria, só ele exemplifica o amor sem mácula. Atingindo essa compreensão o discípulo conhece que a Terra oferece muito pão para o corpo, mas que a fome da alma só o do Cristo.” Tenhamos fome e sede de Deus! Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 25.09.2015. Candice Günther Estudo Há 2000 anos – Parte 6c

“(...) o verbo é a engrenagem do relacionamento espiritual na Terra. (...) Palavrasconstruções e palavras-pedras. Palavras-luzes e palavras-embalagens. Palavras-sementes e palavras-charruas. Palavras-bençãos e palavras-mensagens. Palavras-explicações e palavras-estruturas. Palavras-medicamentos e palavras-bisturis. Palavras-lâminas e palavras-auxílios. Palavras-sinais e palavras-advertências. Palavras-melodias e palavrasprotestos. Palavras-esperanças e palavras-terminações.” Emmanuel – Instrumentos do Tempo.

No capítulo 6 da segunda parte há um momento muito especial da narrativa. Depois do desencarne dos primeiros cristãos que haviam sido levados ao martírio, já no plano espiritual eles recebem a visita de Jesus, que lhes dirige algumas palavras. Assim, vou fazer uma pequena pausa em nosso estilo de estudo para tentar analisar este texto que reproduz as palavras de Jesus. Quando o Mestre esteve entre nós, cada gesto, cada palavra e até mesmo seu silêncio nos ensinaram. Este discurso agrega-se a estes ensinos anteriores e é muito rico, merecendo, assim, toda a nossa atenção, parágrafo a parágrafo. Primeiramente um detalhe que nos chama atenção: o texto foi dividido em 12 parágrafos, como eram 12 os apóstolos, como eram 12 as tribos de Israel. Assim como a colônia espiritual Nosso Lar possui 12 ministros... coincidências? Será? Este texto de Emmanuel é de Jesus aos mártires, tão somente? Um outro fato interessante: os apóstolos trabalhavam aos pares, também em Nosso Lar os Ministros trabalham de 2 em 2. Nosso estudo dos romances segue este princípio, este conceito, de trabalhar os capítulos aos pares, o que vale para o convívio humano, também vale para o estudo, ambos são fontes de aprendizado. Um livro ou um estudo é apenas um reflexo do que somos, da forma como vemos o mundo, assim, podemos trazer estes detalhes para o texto, lembrando sempre das palavras de Emmanuel: “Convidados a estudar os ensinos

do Cristo, à luz da Doutrina Espírita, com os instrumentos do tempo, fomos impulsionados a reconhecer que os instrumentos do tempo são as palavras.”(Livro Instrumentos do Tempo)

Pois bem. Vamos ler o texto com calma, separando os verbos, saboreando os detalhes. Vivemos com tanta pressa que raramente desfrutamos das belezas de um texto como este apresentado no livro, aliás, o próprio livro tem sido apresentado por muitos como mais um romance, entre tantos, ao que temos a plena convicção, é um grande engano, estes romances que Emmanuel nos trouxe são muito mais que histórias de pessoas, são roteiros de vida, fontes de lições evangélicas. Este texto pede calma, reflexão e sentimento. Primeiramente, olhemos ele integralmente, como quando fizemos a leitura do livro, linha por linha, frase por frase, para que tenhamos uma visão geral.

1"Nas moradas infinitas do Pai, há luz bastante para dissipar todas as trevas, consolar todas as dores, redimir todas as iniquidades... 2"Glorificai-vos, pois, na sabedoria e no amor de Deus Todo-Poderoso, vós que já sacudistes o pó das sandálias miseráveis da carne, nos sacrifícios purificadores da Terra! Uma paz soberana vos aguarda, para sempre, no reino dilatado e sem fim, prometido pelas divinas aleluias da Boa Nova, porque não alimentastes outra aspiração no mundo, senão a de procurar o reino de Deus e de sua justiça. 3"Entre a Manjedoura e o Calvário, tracei para as minhas ovelhas o eterno e luminoso caminho... O Evangelho floresce, agora, como a seara imortal e inesgotável das bênçãos divinas. Não descansemos, contudo, meus amados, porque tempo virá na Terra, em que todas as suas lições hão-de ser espezinhadas e esquecidas... Depois de longa era de sacrifícios para consolidar-se nas almas, a doutrina da redenção será chamada a esclarecer o governo transitório dos povos; mas o orgulho e a ambição, o despotismo e a crueldade hão-de reviver os abusos nefandos de sua liberdade! O culto antigo, com as suas ruínas pomposas, buscará restaurar os templos abomináveis do bezerro de ouro. Os preconceitos religiosos, as castas clericais e os falsos sacerdotes restabelecerão novamente o mercado das coisas sagradas, ofendendo o amor e a sabedoria de Nosso Pai, que acalma a onda minúscula no deserto do mar, como enxuga a mais recôndita lágrima da criatura, vertida no silêncio de suas orações ou na dolorosa serenidade de sua amargura indizível!... 4"Soterrando o Evangelho na abominação dos lugares santos, os abusos religiosos não poderão, todavia, sepultar o clarão de minhas verdades, roubando-as ao coração dos homens de boa vontade!... 5"Quando se verificar este eclipse da evolução de meus ensinamentos, nem por isso deixarei de amar intensamente o rebanho das minhas ovelhas tresmalhadas do aprisco!... 6"Das esferas de luz que dominam todos os círculos das atividades terrestres, caminharei com os meus rebeldes tutelados, como outrora entre os corações impiedosos e empedernidos de Israel, que escolhi, um dia, para mensageiro das verdades divinas entre as tribos desgarradas da imensa família humana!... 7"Em nome de Deus Todo-Poderoso, meu Pai e vosso Pai, regozijo-me aqui convosco, pelos galardões espirituais que conquistastes no meu reino de paz, com os vossos sacrifícios abençoados e com as vossas renúncias purificadoras! Numerosos missionários de minha doutrina ainda tombarão, exânimes, na arena da impiedade, mas hão-de constituir convosco a caravana apostólica, que nunca mais se dissolverá, amparando todos os trabalhadores que perseverarem até ao fim, no longo caminho da salvação das almas!... 8"Quando a escuridão se fizer mais profunda nos corações da Terra, determinando a utilização de todos os progressos humanos para o extermínio, para a miséria e para a morte, derramarei minha luz sobre toda a carne e todos os que vibrarem com o meu reino e confiarem nas minhas promessas, ouvirão as nossas vozes e apelos santificadores!...

9"Pela sabedoria e pela verdade, dentro das suaves revelações do Consolador, meu verbo se manifestará novamente no mundo, para as criaturas desnorteadas no caminho escabroso, através de vossas lições, que se perpetuarão nas páginas imensas dos séculos do porvir!... 10"Sim! amados meus, porque o dia chegará no qual todas as mentiras humanas hão de ser confundidas pela claridade das revelações do céu. Um sopro poderoso de verdade e vida varrerá toda a Terra, que pagará, então, à evolução dos seus institutos, os mais pesados tributos de sofrimentos e de sangue... Exausto de receber os fluidos venenosos da ignomínia e da iniquidade de seus habitantes, o próprio planeta protestará contra a impenitência dos homens, rasgando as entranhas em dolorosos cataclismos. .. As impiedades terrestres formarão pesadas nuvens de dor que rebentarão, no instante oportuno, em tempestades de lágrimas na face escura da Terra e, então, das claridades da minha misericórdia, contemplarei meu rebanho desditoso e direi como os meus emissários: "Ó Jerusalém, Jerusalém?..." 11"Mas Nosso Pai, que é a sagrada expressão de todo o amor e sabedoria, não quer se perca uma só de suas criaturas, transviadas nas tenebrosas sendas da impiedade!... 12"Trabalharemos com amor, na oficina dos séculos porvindouros, reorganizaremos todos os elementos destruídos, examinaremos detidamente todas as ruínas buscando o material passível de novo aproveitamento e, quando as instituições terrestres reajustarem a sua vida na fraternidade e no bem, na paz e na justiça, depois da seleção natural dos Espíritos e dentro das convulsões renovadoras da vida planetária, organizaremos para o mundo um novo ciclo evolutivo, consolidando, com as divinas verdades do Consolador, os progressos definitivos do homem espiritual". Alguém se lembrava deste texto, quando leu o livro a primeira vez? Lembra-se do que sentiu? Qual trecho lhe chamara atenção? É Jesus falando! Ouçamos... reiniciemos, com calma e atenção. Primeiro parágrafo, pode ser lido assim: 1"Nas moradas infinitas do Pai, há luz bastante para dissipar todas as trevas, consolar todas as dores, redimir todas as iniquidades... Talvez, muitos tenham lembrado do texto do Cap. 3 do Evangelho Segundo o Espiritismo, que nos explica o texto do Evangelho de João 14:1-3: “Não se turbe o vosso coração. – Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar..” O início realmente nos faz lembrar, eis que fala das diversas moradas, mas o texto do livro Há 2000 anos, vai além e nos dá a finalidade destas moradas: dissipar trevas, consolar dores, redimir iniquidades. Podemos olhar estas três expressões como um caminho que nós mesmos estamos trilhando. A primeira revelação permitiu ao mundo conhecer o Deus Único,

dissipou as trevas da ignorância, do homem que via apenas a matéria, apenas o mundo exterior, que acreditava em vários deuses e não se sabia imortal. Veio, então, Jesus, consolar nossas dores, ensinar-nos a caminhar como espíritos. E a fase final? Redenção? Estamos caminhando para ela. Assim, Jesus nos mostrou um ciclo pelo qual passamos, seja individualmente, seja enquanto humanidade. E é a terceira revelação, a doutrina espírita, que vem em nosso auxilio para que possamos nos redimir perante nosso Pai Celestial. A questão agora se torna interessante, pois iremos dar um salto ao último parágrafo e ver que ele trata justamente deste último estágio, da luz trabalhando para que possamos, pela misericórdia do Pai, redimir nossas iniquidades: “12"Trabalharemos com amor, na oficina dos séculos porvindouros, reorganizaremos todos os elementos destruídos, examinaremos detidamente todas as ruínas buscando o material passível de novo aproveitamento e, quando as instituições terrestres reajustarem a sua vida na fraternidade e no bem, na paz e na justiça, depois da seleção natural dos Espíritos e dentro das convulsões renovadoras da vida planetária, organizaremos para o mundo um novo ciclo evolutivo, consolidando, com as divinas verdades do Consolador, os progressos definitivos do homem espiritual". O início nos apresenta o caminho, nos mostra o ciclo que a humanidade atravessa há milênios. Porém o último parágrafo nos fala desta última fase, o caminho para a redenção. Adentrarmos nestas palavras com reflexão e sentimento nos permite entendermos melhor o mundo de hoje e suas “convulsões renovadoras”, nos convidando a buscarmos a cada dia e a cada instante a fraternidade, o bem, a paz e a justiça, trabalhando com amor, reorganizando o que foi destruído (afetos de outrora que retornam as nossas vidas), examinando ruínas morais de milênios de vivência orgulhosa e egoísta e buscando algo de bom em nós que nos permita um novo aproveitamento. Muito bem. Ligamos os parágrafos 1 e 12. Poderemos fazer o mesmo com o 2 e o 11? E assim consecutivamente? Este tipo de leitura é típico da poesia hebraica e chama-se “quiasmo” ou paralelismo invertido (há um texto ao final explicando o que significam). Lembrando que Jesus usou muito da poesia para falar ao povo, também este texto se reveste de uma forma literária semelhante, porém, em nossa linguagem atual e ocidental. Não obstante, parece-nos que Emmanuel nos deixou traços da beleza e profundidade originários. Assim sendo, cabe-nos verificar se podemos estudar os parágrafos aos pares: 1-12, 2-11, 3-10, 4-9, 5-8 e 6-7, este último nos dando a mensagem central do texto.

Vejamos: 2"Glorificai-vos, pois, na sabedoria e no amor de Deus Todo-Poderoso, vós que já sacudistes o pó das sandálias miseráveis da carne, nos sacrifícios purificadores da Terra! Uma paz soberana vos aguarda, para sempre, no reino dilatado e sem fim, prometido pelas divinas aleluias da Boa Nova, porque não alimentastes outra aspiração no mundo, senão a de procurar o reino de Deus e de sua justiça. Fazendo novamente uma referência a um texto de Evangelho, Mateus 6:33: “33Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentada”, este é o parágrafo dos redimidos, de Lívia, João, Estevão, e tantos outros que esqueceram de si mesmos para sacrificar-se pela boa nova do Cristo. Não alimentaram outra aspiração no mundo, senão a de procurar o reino de Deus e sua justiça. E nós, que ainda estamos aqui, encarnados, neste mundo de provas e expiações? Que não nos desapegamos das coisas materiais, não soubemos perdoar, não buscamos o reino e a justiça de Deus? Ou, nas palavras do evangelho, não sacudimos o pó das sandálias (Lucas 9:5)? O que é feito de nós? Avancemos para o parágrafo de número 11: 11"Mas Nosso Pai, que é a sagrada expressão de todo o amor e sabedoria, não quer se perca uma só de suas criaturas, transviadas nas tenebrosas sendas da impiedade!... Ninguém se perderá, nesta promessa reside o amor de Deus. E ter fé nesta promessa é saber que jamais seremos esquecidos, que o amor de Deus nunca nos abandonará. Isto é profundamente consolador. E assim como Lívia hoje reside nas esferas sublimes e ditosas, cada um de nós também irá desfrutar deste reino que possui muitas moradas, plenas de luz. Nenhuma ovelha se perderá. Sigamos em frente, ainda aos pares, parágrafos 3 e 10. 3"Entre a Manjedoura e o Calvário, tracei para as minhas ovelhas o eterno e luminoso caminho... O Evangelho floresce, agora, como a seara imortal e inesgotável das bênçãos divinas. Não descansemos, contudo, meus amados, porque tempo virá na Terra, em que todas as suas lições hão de ser espezinhadas e esquecidas... Depois de longa era de sacrifícios para consolidar-se nas almas, a doutrina da redenção será chamada a esclarecer o governo transitório dos povos; mas o orgulho e a ambição, o despotismo e a crueldade hão-de reviver os abusos nefandos de sua liberdade! O culto antigo, com as suas ruínas pomposas, buscará restaurar os templos abomináveis do bezerro de ouro.

Os preconceitos religiosos, as castas clericais e os falsos sacerdotes restabelecerão novamente o mercado das coisas sagradas, ofendendo o amor e a sabedoria de Nosso Pai, que acalma a onda minúscula no deserto do mar, como enxuga a mais recôndita lágrima da criatura, vertida no silêncio de suas orações ou na dolorosa serenidade de sua amargura indizível!... Belíssima poesia, que adentra suavemente em nossos corações. Palavras proféticas de alguém que conhece a humanidade como conhece a si mesmo. Desdenhamos o evangelho do Cristo e vivemos momentos de profunda dor, a Terra se convulsiona na madrugada da alvorada. E este conhecimento nos permite vivermos estes tempos de dores e lutas com resignação e paciência. O parágrafo 10 fala justamente disto, do tempo em que o que está escrito no parágrafo 3, findará. 10"Sim! amados meus, porque o dia chegará no qual todas as mentiras humanas hão de ser confundidas pela claridade das revelações do céu. Um sopro poderoso de verdade e vida varrerá toda a Terra, que pagará, então, à evolução dos seus institutos, os mais pesados tributos de sofrimentos e de sangue... Exausto de receber os fluidos venenosos da ignomínia e da iniquidade de seus habitantes, o próprio planeta protestará contra a impenitência dos homens, rasgando as entranhas em dolorosos cataclismos. .. As impiedades terrestres formarão pesadas nuvens de dor que rebentarão, no instante oportuno, em tempestades de lágrimas na face escura da Terra e, então, das claridades da minha misericórdia, contemplarei meu rebanho desditoso e direi como os meus emissários: "Ó Jerusalém, Jerusalém?..." Novamente uma referência ao evangelho de Lucas 13:34: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?” E já se vão 2000 anos e estas palavras de Jesus cada vez mais se confirmam, infelizmente temos procurado, enquanto humanidade, a dor, a guerra, a disputa. São chegados os tempos, porém, do amor triunfar e para isso cada um deve começar, aos poucos, tal qual os mártires dos primeiros tempos. Nós temos os seus exemplos para nos apoiar e inspirar. Viver a doutrina de amor e perdão do Cristo ainda é difícil em nosso planeta. Sigamos em frente, vejamos o que nos dizem os itens 4 e 9. 4"Soterrando o Evangelho na abominação dos lugares santos, os abusos religiosos não poderão, todavia, sepultar o clarão de minhas verdades, roubando-as ao coração dos homens de boa vontade!...

Vivenciar o evangelho apenas em um templo ou casa religiosa é um engano que perturba o espírito e cria mais dívidas. Temos soterrado o evangelho todas as vezes que o esquecemos em nossos lares, em nosso trabalho, no mercado, no trânsito. Ter o evangelho de Jesus em nosso coração representa a reforma íntima, mas também significa que onde quer que estivermos ele nos acompanhará ditando o ritmo de nossas vidas. Temos resistido a este convite, mas Deus nunca desistirá de nós, este é o contexto do parágrafo 9. 9"Pela sabedoria e pela verdade, dentro das suaves revelações do Consolador, meu verbo se manifestará novamente no mundo, para as criaturas desnorteadas no caminho escabroso, através de vossas lições, que se perpetuarão nas páginas imensas dos séculos do porvir!... É interessante que no parágrafo 4 ele nos fala do que temos feito com o Evangelho, já no parágrafo 9 fala que este verbo, dito por João em seu evangelho, cap. 1:1-4: “ No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.” Deste os tempos remotos da criação da Terra, o Cristo já se fazia presente, ao lado do Pai, trabalhando por nossa evolução. E, hoje ainda, fala ao nosso coração, nos procura de diversas formas, por todos os caminhos do bem e do amor. Avancemos um pouco mais, olhando os parágrafos 5 e 8, sondando suas lições, seus ensinos. 5"Quando se verificar este eclipse da evolução de meus ensinamentos, nem por isso deixarei de amar intensamente o rebanho das minhas ovelhas tresmalhadas do aprisco!...

Muitas vezes permitimo-nos o desânimo ante as inúmeras tarefas do caminho, forçoso, porém, é perceber que o amor de Jesus por nós jamais cessará, ele não tem fim. Ainda que venha o eclipse, como diz o parágrafo 5, ou a noite escura, como nos diz o parágrafo 8, o seu amor permanece. 8"Quando a escuridão se fizer mais profunda nos corações da Terra, determinando a utilização de todos os progressos humanos para o extermínio, para a miséria e para a morte, derramarei minha luz sobre toda a carne e todos os que vibrarem com o meu reino e confiarem nas minhas promessas, ouvirão as nossas vozes e apelos santificadores!...

Não bastou um eclipse, veio também a escuridão. Temos tecnologias avançadas a serviço da guerra e da subjugação dos povos, temos milhares de vidas adentrando na Europa diariamente, fugindo da miséria e da morte, e todas estas cenas e noticias nos assustam, nos chocam. Olhamos a nossa pátria do Evangelho, celeiro do mundo, e nos entristecemos com as correntes e cotidianas notícias de corrupção, desvios de condutas, ausência de moralidade. Onde encontrar a esperança? Onde fortalecermos a nossa fé? Eis, então, o Mestre a nos alertar: vibrem em esferas elevadas, confiem, tenham fé, só assim poderemos observar o mundo que convulsiona e ouvir as vozes e apelos das esferas sublimes. Assim, também falou o Espírito da Verdade a Kardec, como observamos no prefácio do Evangelho Segundo o Espiritismo: “Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos. Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.” Finalmente, encerrando este estudo, chegamos a sua parte central, parágrafos 6 e 7 e nestas linhas encontraremos a fala de Jesus que nos permite seguirmos em frente, temos ao nosso alcance uma doutrina consoladora, que nos permite reviver os sentimentos dos cristãos de outrora, como Lívia e tantos outros. Vejamos: 6"Das esferas de luz que dominam todos os círculos das atividades terrestres, caminharei com os meus rebeldes tutelados, como outrora entre os corações impiedosos e empedernidos de Israel, que escolhi, um dia, para mensageiro das verdades divinas entre as tribos desgarradas da imensa família humana!... 7"Em nome de Deus Todo-Poderoso, meu Pai e vosso Pai, regozijo-me aqui convosco, pelos galardões espirituais que conquistastes no meu reino de paz, com os vossos sacrifícios abençoados e com as vossas renúncias purificadoras! Numerosos missionários de minha doutrina ainda tombarão, exânimes, na arena da impiedade, mas hão-de constituir convosco a caravana apostólica, que nunca mais se dissolverá, amparando todos os trabalhadores que perseverarem até ao fim, no longo caminho da salvação das almas!...

O pensamento de Jesus molda as palavras, que são o mais puro evangelho, em seu sentido amoroso e consolador. Ele percorre um caminho, tem uma intenção que é única, desde a nossa criação e nosso trabalho é identificá-la, porém, este não é um exercício apenas da razão e não se traduz apenas em palavras. A vivência com Jesus transcende o que as letras podem descrever.

O que fizemos com este texto é o que temos feito com os romances de Emmanuel, não obstante ele ter trazido o que foi dito para o nosso tempo, manteve a estrutura literária. E assim como Jesus falou muitas vezes em poesia, com ritmo, entonações de raríssima beleza, também neste texto encontramos a manutenção deste estilo. Não temos o original, em que língua terá sido feito em discurso? Talvez seja apenas a linguagem do sentimento, que não necessita de palavras porque vai direto ao coração. E quando trazido para as nossas letras, revestindo o sentimento de palavras, elas se organizam numa poesia, porque das formas de se organizarem as palavras certamente a poesia é a que mais se aproxima do coração. Apenas para um esclarecimento final, nos livros temos adotado o paralelismo, já neste texto identificamos um quiasmo. Deixamos um texto final que explica um pouco como se dá o paralelismo e o quiasmo. O mais importante não é o nome que damos a um texto ou a sua forma de interpretar, mas sim como temos tratado os livros e as riquezas que nos foram dadas. Já disse um sábio que quem leu todos os livros não leu nenhum. Há muita pressa em nossas leituras, degustar este texto de Jesus, palavra a palavra, observando os verbos, as expressões, a cadência, nos auxilia a percebermos a sua grandeza e a sentirmos o amor do Pai que emana de sua vida. Assim, a começar em mim, precisamos desacelerar um pouco, aproveitar os momentos, permitir que as palavras toquem nossos corações, promovam reflexões e gerem mudanças. Que Jesus nos auxilie. Abraços fraternos. Campo Grande, 02 de outubro de 2015. Candice Günther =================================================================== Poesia Hebraica 6.1.Paralelismo: Definição e Tipos. Relação de equivalência, por semelhança ou por contraste, entre dois ou mais elementos. Em poesia, paralelismo é o termo que designa, habitualmente, a correspondência rítmica, sintáctica e semântica entre estruturas frásicas. Para S. Jerônimo e Stº. Agostinho, paralelismo (Gr. “lado a lado”) significa o fenômeno da aparente repetição das frases verificado em textos bíblicos. Sendo entendido como uma figura de estilo, que justificaria uma nova poesia divina em vernáculo a exemplos da Bíblia, paralelismo é, desde logo integrado nos manuais de retorica onde, ainda hoje, subsiste como uma figura de posição por insistência na disposição regular, associado, sobretudo, à correspondência sintáctica: paralelismo (isocolo, compar). Neste sentido, o paraleslimo ocorre freqüentemente na poesia de tradição oral, produzindo, muitas vezes, o efeito de litania. No séc. XVIII, o Bispo Angliano Robert Lowth procura explorar o valor estético dos textos hebraicos e cunha o termo “paralelismo de membros”, em 1778, distinguindo três espécies de paralelismo sinonímico, antitético e sintético. 6.2.Paralelismo Sinônimo é a forma mais simples no qual a segunda linha, em termos diferentes, repete o pensamento da primeira linha. Perceba que esta forma equilibra dois pensamentos iguais com palavras semelhantes. Assim, o paralelismo não indica necessariamente duas colocações diferentes mas uma colocação expressa de duas maneiras. Muitas vezes, a segunda linha serve para esclarecer ou ampliar o sentido da primeira. Quando uma linha contém três ou mais unidades, uma é muitas vezes omitida na linha paralela, na qual uma unidade é alongada por compensação; este tipo é chamado às vezes de paralelismo incompleto.

6.3.Paralelismo Antitético no qual uma linha exprime a mesma idéia da primeira, mas de uma maneira negativa ou em termos de contraste. A maioria dos 376 versos em Provérbios 10.1-22.16 são antitéticos. “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos.” (Iyov/Jó 42:5) “Porque YHWH conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.” (Tehilim/Salmos 1:6)

mas àqueles que buscam ao YHWH bem nenhum faltará.” (Tehilim 34:10) “O filho sábio alegra a seu pai, mas o filho insensato é a tristeza de sua mãe.” (Mishlei/Provérbios 10:1) “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.” (Mishlei/Provérbios 15:1)

6.4.Paralelismo Sintético que é mais bem denominado de paralelismo progressivo, no qual a segunda linha complementa a primeira, oferecendo ambas um pensamento completo. Onde quer que encontremos o paralelismo sintético, a segunda linha deve continuar a mesma idéia da primeira, expandindo-a.

“[1] Bendito o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, [2] nem se detém no caminho dos pecadores, [3] nem se assenta na roda dos escarnecedores.” (Tehilim/Salmos 1:1) “[1] Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, [2]a qual dá o seu fruto no seu tempo; [3] as suas folhas não cairão, [4] e tudo quanto fizer prosperará.” (Tehilim/Salmos 1:3)

6.5.Paralelismo Inverso = esta é uma forma de paralelismo onde as frases são arranjadas quiasticamente. 6.6.Paralelismo Climático/Escalável: paralelismo climático, ou escalável, é uma vertente do paralelismo sintético, incorporando também a idéia do paralelismo sinônimo. Nele, a segunda frase repete um conceito da primeira, porém com uma extensão de seu sentido, dando a ela uma espécie de ‘clímax.’ “[1] Pois eis que os teus inimigos, YHWH, [1+] eis que os teus inimigos perecerão; [2] serão dispersos todos os que praticam a iniqüidade.” (Tehilim/Salmos 92:9) “[1] Os rios levantam, ó YHWH, [1+] os rios levantam o seu ruído, [1+] os rios levantam as suas ondas.” (Tehilim/Salmos 93:3) “Tributai a YHWH, ó filhos dos poderosos, Tributai a YHWH glória e força.” (Tehilim/Salmos 29:1) 6.7.Quiasmo: Assim chamado por sua semelhança estrutural com a letra ‘qui’ do grego, e também conhecido como ‘paralelismo inverso’, trata-se de uma estrutura poética onde o paralelismo aparece ‘espelhado’ (por exemplo: 1,2,3,4,3,2,1). Normalmente, o quiasmo é apenas uma estrutura de construção das frases, as quais podem se relacionar por paralelismo sinônimo, antitético, ou sintético. 6.8.Rima Ritmo e Métrica: além dos paralelismos a poesia é caracterizadas pelos padrões acrósticos (Salmo 119), repetições de consoantes e vogais(Salmo 122.6 a: sha’alu shelom yerushalaim) e jogo de palavras(Amós 8.2). Rima é muito rara na poesia do Antigo Testamento, acontecendo em Juízes 16.24 e Isaías 40-66(ocasionalmente) e no primeiro verso do Salmo 14, por exemplo. Pode-se, portanto, afirmar que a poesia do AT omite essa característica, via de regra, e que quando acontecer é acidental. A maioria dos eruditos do passado argumentou fortemente pela presença de ritmo e métrica, possivelmente pela influência de sua herança nos poetas gregos e latinos da antigüidade. Desde que começaram a ser interpretadas as evidências arqueológicas provenientes da antiga Síria tem se tornado claro que o AT não mostra realmente padrões regulares nem de ritmo nem de métrica. Entre as placas de Ugarite há boa quantidade de textos religiosos, inclusive de poesia muito semelhante aquela encontrada no AT. Deve-se reconhecer, no entanto, no AT certos padrões de acentos tônicos, dos quais se podem discernir variações de ritmo na pronúncia.

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Estudo Há 2000 anos – Parte 7a.

“Se os homens se amassem com mútuo amor, mais bem praticada seria a caridade; mas, para isso, mister fora vos esforçásseis por largar essa couraça que vos cobre os corações, a fim de se tornarem eles mais sensíveis aos sofrimentos alheios. A rigidez mata os bons sentimentos; o Cristo jamais se escusava; não repelia aquele que o buscava, fosse quem fosse: socorria assim a mulher adúltera, como o criminoso; nunca temeu que a sua reputação sofresse por isso. Quando o tomareis por modelo de todas as vossas ações?” Pascal – Evangelho Segundo o Espiritismo

Iniciando nova etapa do estudo do livro Há 2000 anos, buscamos um ponto de encontro entre os capítulos de número 7, primeira e segunda parte. Como das outras vezes, nos outros estudos, o fator temporal nos auxilia a identificar características e sentimentos que vão sendo moldados pela vida. Permite, assim, que sejamos alertados para situações que também nós vivenciamos, com a oportunidade de corrigir, melhorar, acertar o rumo. Conta-nos o capítulo 7 da primeira parte das mudanças na vida da família Lentulus. Com o desaparecimento de Marcos, Públio transformou-se. Vejamos um trecho: “Sua vida doméstica, porém, sofrera as mais profundas alterações. Não sabia mais viver aquelas horas de colóquio feliz com a esposa, da qual o separava um véu de dúvidas amargas e infinitas. Várias vezes tentou, improficuamente, readquirir a antiga confiança e a sua espontaneidade afetiva. Rugas de pesar vincaram-lhe então o semblante, ordinariamente altivo e orgulhoso, esfumando-lhe os traços fisionômicos num nevoeiro de preocupações angustiosas.” Não era apenas a ausência do filho que alterava a postura de Públio, mas as calúnias que foram despejadas em seu coração em relação a conduta de sua esposa. E Lívia sofria com a amargura que se apossara de Públio: “E agora é, sobretudo, o estado de Públio o que mais me acabrunha. Ele foi sempre um homem puro, leal e generoso; mas, de algum tempo a esta parte, noto-lhe singulares diferenças no temperamento, agravando-se lhe os sintomas doentios com maior intensidade, após o incompreensível desaparecimento do nosso filhinho.” A confiança que depositamos em alguém é frágil quando o alicerce não está bem fundamentado e o único fundamento que resiste às intempéries da vida é o amor abnegado ensinada por Jesus. Públio era um homem bom, cultivava virtudes de um homem da lei, porém, tornou-se rígido em seu modo de olhar os que o cercavam e isto foi minando seus relacionamentos e suas possibilidades de amar.

Recordemos de Saulo que tinha uma conduta semelhante, como homem da lei, acostumado a proferir decisões, firmar conceitos, dar a última palavra, tornou o coração tão duro que submeteu a própria felicidade ao que entendia como certo, correto. Recordemos um pequeno trecho do livro Paulo e Estevão: “Afinal, com a rigidez das suas paixões, aniquilara todas as possibilidades de ventura. Com o rigorismo da sua perseguição implacável, Estevão encontrara o suplício terrível; com o orgulho inflexível do coração, atirara com a noiva ao antro indevassável do túmulo.”

Como agimos e pensamos? Somos pessoas flexíveis ou endurecidas por regras e condutas? Há espaço para a caridade nestas regras em que gravitamos? Deus é bom e não nos abandona, não nos deixa entregue as nossas paixões, mas nos permite aprendizados através das diversas experiências. Com Públio não foi diferente. Avancemos um pouco ao capítulo 7 da segunda parte. “Públio Lentulus, aos seus olhos, era sempre o homem frio e impiedoso, em cujo peito pulsava um coração de ferro, que não podia vibrar senão para as loucas vaidades mundanas. Naquele instante, contudo, entre assustada e comovida, observava que também o senador tinha lágrimas para chorar. De seus olhos sempre altivos, caíam lágrimas ardentes, que rolavam, silenciosas e tristes, sobre a cabeça inerte do rapaz, também considerado por ele um filho, como se nada mais lhe restasse, além do consolo supremo de abraçar carinhosamente os seus despojos, através do véu escuro de suas dúvidas angustiosas.” A vida se desdobrava em desafios, Calpurnia, a amiga e confidente, falecera, Lívia partira antes da sonhada reconciliação, no martírio com os primeiros cristãos...a vida se apresentava dura, demonstrando que a Lei de Atração se fazia valer, não apenas porque necessitamos do sofrimento, mas porque agimos de tal forma que o provocamos, atraímos o mal que nos ocorre. Emmanuel nos ensina no livro Pensamento e Vida: “O pensamento é força criativa, a exteriorizar-se, da criatura que o gera, por intermédio de ondas sutis, em circuitos de ação e reação no tempo...” E é o próprio Públio quem sente a vida lhe retornando ações e pensamentos: “... nunca deixei de ser um homem enérgico, em toda a vida, mas chega sempre um momento em que o nosso coração se sente acabrunhado diante da rudeza das lutas que o mundo nos oferece com as suas desilusões amargas e dolorosas! (...) Uma lágrima espontânea embargava-lhe a voz, porém o velho patrício continuava: - Em toda a minha existência, tenho julgado uma imensidade de processos de várias naturezas, relativos à justiça do mundo; mas, de tempos a esta parte, parece-me que estou sendo julgado pela força incoercível de uma justiça suprema, cujos tribunais não se encontram na Terra!...” Nos tornamos, ao longo dos milênios, especialistas em criticar a conduta alheia, tendo sempre fórmulas e soluções para os problemas e dores alheios, mas raramente para nós mesmos. Temos a ilusão de que estamos com a verdade e, assim, somos levados a agir com rigidez, muitas vezes em defesa justa de ideais e princípios. Adentrar nos sentimentos de Públio nos dá a dimensão de quão é urgente que nos deixemos transformar pela lei do amor, da caridade, que não

se esquece da firmeza e da disciplina, mas permite-se ser flexível para que o amor tenha o seu espaço e ele seja grande, imenso, divino. Temos no hoje a oportunidade de gerarmos um amanhã mais belo, suave, pleno, adentrando no Reino de Deus, que erguerá seu trono em nossos corações. E para nos auxiliar no entendimento de que a rigidez excessiva é um entrave em nossa jornada, eis o Evangelho de João, capítulo 7, comentado por Emmanuel, com o qual encerramos o estudo de hoje.

Livro Caminho, Verdade e Vida – OPORTUNIDADE “Disse-lhes, pois, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo, mas o vosso tempo está pronto.” (JOÃO, 7:6) O mau trabalhador está sempre queixoso. Quando não atribui sua falta aos instrumentos em mão, lamenta a chuva, não tolera o calor, amaldiçoa a geada e o vento. Esse é um cego de aproveitamento difícil, porquanto somente enxerga o lado arestoso das situações. O bom trabalhador, no entanto, compreende, antes de tudo, o sentido profundo da oportunidade que recebeu. Valoriza todos os elementos colocados em seus caminhos, como respeita as possibilidades alheias. Não depende das estações. Planta com o mesmo entusiasmo as frutas do frio e do calor. É amigo da Natureza, aproveita-lhe as lições, tem bom ânimo, encontra na aspereza da semeadura e no júbilo da colheita igual contentamento. Nesse sentido, a lição do Mestre reveste-se de maravilhosa significação. No torvelinho das incompreensões do mundo, não devemos aguardar o reino do Cristo como realização imediata, mas a oportunidade dos homens é permanente para a colaboração perfeita no Evangelho, a fim de edificá-lo. Os cegos de espírito continuarão queixosos; no entanto, os que acordaram para Jesus sabem que sua época de trabalho redentor está pronta, não passou, nem está por vir. É o dia de hoje, é o ensejo bendito de servir, em nome do Senhor, aqui e agora... Que Jesus nos illumine o caminho com o discernimento necessário a fim de que não nos tornemos duros às dores alheias, sabendo-nos, também, imperfeitos, abracemo-nos como irmãos. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 16.10.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 7b

“Cada conhecimento novo, cada estudo meditado na revelação divina, cada serviço na crença representa tijolos espirituais na casa do porvir. Quem confia no Senhor nunca sofre desapontamento, porque o desencanto e a amargura pertencem aos círculos dos homens, simplesmente.” Artur Joviano – Colheita do Bem

Nesta segunda etapa da parte 7, faremos alguns paralelos com o Evangelho de João e alguns trechos do livro Há 2000 anos, capítulo 7, primeira e segunda partes. Inicia o capítulo 7 do Evangelho de João falando de um tempo muito precioso para os judeus, A Festa dos Tabernáculos, ou das Tendas. Basicamente esta festa, que ainda acontece nos dias atuais, busca reviver os momentos de grande dor e luta do povo hebreu, quando atravessavam o deserto e buscavam a terra prometida. Era uma alegria saber que estavam livres da escravidão, mas, também, eram momentos de grande dificuldade, uma vez que a travessia de um lugar tão inóspito, tão inadequado para uma vida confortável. “A Festa dos Tabernáculos era celebrada de 15 a 21 de tisri, que corresponde a setembro ou outubro, depois da colheita da uva e dois meses antes da Festa da Dedicação (cf. Lv 23.33-43; Nm 29.12-39; Ne 8.13-18; Os 12.9; Zc 14.16-19; m. Sukkah 5.2-4; v. Avi-Yonah 1964, p. 144). A festa acontecia logo depois do Dia da Expiação e marcava o término do ciclo anual das festas religiosas, que começava seis meses antes com a Páscoa e os Pães sem Fermento. Antes uma festa de colheita, Tabernáculos (ou Cabanas) lembrava a provisão de Deus para seu povo durante a peregrinação do deserto (Lv 23.42,43; cf. Mt 17.4 par.). As festas duravam sete dias e culminavam com um oitavo dia de celebração especial e de reunião festiva. Por causa da libação (oferta derramada) solene e diária de água (Nm 28.7; cf. Is 12.3), a Festa dos Tabernáculos passou a ser associada com as esperanças escatológicas (Zc 14.16-19). Por ser muito popular, era simplesmente chamada “a Festa” pelos judeus (e.g., lRs 8.2,65; 12.32; 2Cr 5.3; 7.8; Ne 8.14,18; Sl 81.3; Ez 45.25). Josefo [Ant. 8.100) a denominava “a maior e mais sagrada festa dos judeus”. (G.K. Beale – Comentário do Uso do Antigo Testamento no Novo Testamento). “A festa das Cabanas ou dos Tabernaculos caia no final da colheita e da vindima. O povo armava barracas e fazia de conta que vivia como os israelitas no deserto. Era a festa mais alegre (Lv 23,34). Quase no fim do ano civil, antes da Expiação o e do ano novo (setembro/outubro).” Bíblia do Peregrino Assim, esta festa que hoje inunda Jerusalém de cores, cabanas montadas com amor, pintadas a mão por muitos, cheias de símbolos e referências a um passado muito respeitado, trazia e traz ao povo judeu a memória de que passamos por momentos difíceis na vida, mas devemos seguir em frente. Não devemos nos deixar escravizar, mas confiarmos que Deus provê e nos liberta de todo mal. Ao encontro deste pensamento, temos a reflexão de Lívia, que entendia a fragilidade da vivência humana:

“Filha única de pais que me legaram considerável fortuna, cidadã romana, com as prerrogativas de mulher de um senador, vês quanto sofro nos trabalhos amargos deste mundo. Os títulos que o berço me outorgou não conseguiram eliminar as provações que o destino também me trouxe, com a mocidade e a fortuna fácil. Reconhece, pois, que, sendo eu patrícia e tu uma serva, não possuímos um coração diverso, mas sim o melhor sentimento de fraternidade, que nos abre a porta de uma compreensão carinhosa, a valer por asilo suave nos dias tristes da vida. De mim para comigo, sempre supus, contrariamente à educação recebida, que todas as criaturas são irmãs, filhas de uma origem comum, sem conseguir atinar com as linhas divisórias entre aqueles que possuem muitos haveres e muitos títulos e os que nada possuem neste mundo além do coração, onde costumo localizar os valores de cada um, nesta vida.” O povo judeu poderia ter uma festa para relembrar tempos de glória, mas optou por relembrar um tempo de dificuldade, de lutas e de profunda entrega a Deus. Este sentimento é belíssimo e merece todo o nosso respeito e admiração. De igual forma, Lívia coloca-se com humildade perante Ana, reconhecendo que posição social ou títulos são coisas humanas que passam e que não resolvem as grandes lutas e dores que todos nós, indistintamente atravessamos. Quando o evangelista João opta por colocar esta festa em seu evangelho não o faz apenas para nos situar histórica e temporalmente, o sentido espiritual também acompanha toda a narrativa. Vejam que os discípulos querem que Jesus vá a festa para que todos vejam dos seus feitos e milagres. Seguindo mais a frente o Evangelho de João, vemos que Jesus afirma que não irá a festa, não obstante seus discípulos entenderem que seria um momento oportuno para estarem lá, realizando milagres e inaugurando o novo reino. Diziam eles: “Manifesta-te ao mundo.” E Jesus responde algo que a todos surpreende: “Então Jesus lhes diz: O meu tempo ainda não chegou, mas o vosso tempo está sempre pronto. O mundo não pode vos odiar, porém me odeia, porque eu testemunho a respeito dele – que as obras dele são más.” Os discípulos de Jesus ainda não haviam entendido qual era o reino que o Mestre estava apresentando para a humanidade. Acreditavam num reino humano, terreno. Escravos, ainda, das convenções sociais, das regalias terrenas, das glorificações momentâneas do poder, não compreendiam que a Terra Prometida é muito mais do que um lugar físico. É saber-se liberto, é recusar estes conceitos e viver a fraternidade, é comunhão com Deus, como Lívia demonstrou e como o Cristo nos ensina. Avançando um pouco no livro Há 2000 anos, vamos encontrar a figura de um judeu, que conhecia e vivenciou muitos destes ritos que o povo judeu realiza, porém, sem o aproveitamento começo do livro, voltara ao convívio da família Lentulus, agora rico, próspero e apaixonado por Flávia. Uma paixão que lhe escravizava, paralisava seu entendimento ao ponto de sentir-se morrer ao não ter a sua intenção atendida: “- Senhora - disse resoluto, depois de fitar-lhe o rosto demoradamente -, há muitos anos espero um minuto como este, para poder confessar-vos a enorme afeição que vos dedico. Quero-vos

acima de tudo, até da própria vida! Sei que para mim estais num plano inacessível, mas, que fazer, se não consigo dominar esta adoração, este intenso amor de minhalma? (…) Atendei aos apelos da minha afeição interminável! Não me façais esperar mais tempo, porque eu poderia morrer!...” Eis, então, algo que escraviza: nossas paixões. E não se trata apenas de expectativas românticas, as paixões se multiplicam em nossas vidas cotidianas, mas quando nos deixamos escravizar por elas, indistintamente, temos o mesmo sentimento de Saul, poderíamos morrer... E é justamente por entender isso, nossos sentimentos equivocados que buscam a realização no mundo, na matéria, que Jesus recusa ir com os discípulos. Ainda os adverte: eles me odeiam porque eu testemunho que as obras deles são más! Nossas obras são más quando realizadas fora dos propósitos divinos em desatenção às leis divinas, como, por exemplo, a lei do amor, da caridade e da justiça. Somos seres, ainda, levianos e que se deixam levar por sentimentos inferiores. E precisamos refletir: Será realmente que queremos nos livrar de nossas paixões? Emmanuel nos adverte quando a isso:

“Mas nem todos os aflitos pretendem renunciar ao objeto de suas desesperações e nem todos os tristes querem fugir à sombra para o encontro com a luz. A maioria dos desalentados chega a tentar a satisfação de caprichos criminosos com a proteção de Jesus, emitindo rogativas estranhas.” Quando o povo de Israel estava no deserto, não obstante a liberdade, ante as dificuldades que atravessaram, muitos queriam retornar, tornar-se novamente escravos. A Festa dos Tabernáculos também é para lembrar isso: Deus nos libertou da escravidão. E o que Deus faz não pode ser desfeito. A questão é saber onde estamos. Atravessando um deserto? Buscando a terra prometida? Buscando um reino interior que nos dê paz, alegria e esperança? Prossegue o Evangelho de João noticiando que quando os discípulos subiram para a festa, ele também subiu, não publicamente, mas em oculto. E isto nos fala muito de como Jesus age em nossas vidas e corações. Podemos aparentar ser uma boa pessoa, cheia de virtudes, mas ele sempre sondará o que vai no oculto do nosso coração, auscutando os ecos do evangelho em nossas vidas cotidianas, nos pequenos gestos. Sempre que o buscarmos de forma equivocada, priorizando as nossas paixões, permitindo que nosso orgulho fale mais alto, Jesus se afastará, “não subirá a festa conosco”, como o fez com os discípulos. Parecerá que ele não está junto de nós, mas ele está agindo, sempre, ainda que em oculto, cumprindo os propósitos de nosso Pai Celestial e não atendendo as nossas paixões inferiores. As palavras de Jesus ditas em uma festa cheia de símbolos e significados nos permitem um entendimento maior de nossas vidas. O livro Há 2000 anos nos apresenta paixões que fizeram cair muitos, neste mesmo capítulo 7 temos as ações de Aurélia, envenenando Flávia com o intuito de roubar-lhe o afeto e a atenção do marido. Primas, unidas pelos laços sanguíneos,

porém, afastadas pelo arroubo da paixão violenta de Aurélia. Também Plínio, deixava-se levar pelos prazeres mundanos, encontrando nas festas sociais e na jogatina a distração material que lhe ocultava o caminho para a vida verdadeira, para a liberdade do espírito que não quer mais ser escravo. Deixa-se levar pelas palavras mentirosas de Saul e arde em ciúmes de Agripa, seu irmão, e Flávia, sua esposa. Saul chega ao desatino de tirar a vida de Agripa. Paixões que escravizam e nos afastam de nossa verdadeira humanidade, nos afasta dos ensinos do Cristo que nos mostrou que se ontem eram necessárias tendas e cabanas para relembrar a trajetória no deserto, hoje, é nosso interior que está sendo trabalhado e, por intermédio do Cristo, podemos nos libertar. Ele assim nos disse, a verdade vos libertará. Lívia foi um espírito que ousou atravessar o deserto com coragem, renúncia e abnegação. Abandonou suas paixões, esqueceu suas dores e desventuras e usou do seu tempo e da sua vida para amar ao próximo. Jesus disse para Simão, sobre a força do amor: “- Em verdade te digo - replicou-lhe Jesus, carinhosamente – que muitos virão do Ocidente e do Oriente, procurando as portas do Céu, mas somente encontrarão o reino de Deus e de sua justiça aqueles que amarem profundamente, acima de todas as coisas da Terra, ao nosso Pai que está nos Céus, amando o próximo como a si mesmos.” E justamente por perceber a força do amor no coração de Lívia, Jesus diz a ela: “Quanto a ti, regozija-te em Nosso Pai, porque as minhas palavras e ensinamentos te tocaram para sempre o coração. Vai e não descreias, porque tempo virá em que saberei aceitar as tuas abnegações santificantes!” Eis, então amigos, uma importante reflexão que nos cabe fazer: Nosso movimento diário é de alguém que busca o reino dos céus ou de alguém que quer retornar a escravidão? A história é antiga, mas a lição ainda merece a nossa consideração, nosso mundo interior busca a terra prometida? Um lugar de paz, amor e esperança ao qual o Cristo Jesus nos conduz? Nossas ações, pensamentos e sentimentos testificam este movimento? Encerramos as reflexões desta semana com um texto de Emmanuel, livro Harmonização, lição Quem Siga.

Há crente que não se podem esquivar aos mecanismos do culto exterior. Sentem falta da genuflexão, reclamam prédicas incessantes. Outros preferem comentar levianamente as atividades da fé religiosa, em todos os momentos e situações, barateando as cousas Divinas. Quase sempre declaram que isso lhes constitui a luz sagrada, entretanto, logo sobrevenham golpes inesperados na estrada comum, precipitam-se em sofrimentos sombrios, em resvaladouros escuros, em abismos sem esperança. Sentem-se abandonados e oprimidos. Chegados a esse ponto, demonstram a verdadeira expressão da insuficiência interna. Muitos se tornam relaxados nas obrigações espirituais; afirmam-se desprotegidos de Jesus, esquecidos do Pai. É que não ouviram a Revelação Divina, como necessário. O Mestre não promete iluminação de caminhos aos que falem muito somente.

Assina, porém, verdadeiro compromisso de assistência contínua aos aprendizes que o sigam. E é interessante salientar que Jesus não se refere a lâmpadas materiais que firam os olhos orgânicos. Promete a Luz da Vida. Que saibamos enfrentar nossas lutas e dores com resignação, fé e coragem, lembrando sempre do exemplo sublime de Lívia, e dos ensinamentos de Jesus. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 22.10.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 7c

“Se toda a literatura espiritual da humanidade perecesse, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido.” Gandhi Quantas vezes em nossas vidas já ouvimos as bem-aventuranças que se encontram no Sermão do Monte, Evangelho de Mateus 5:1-16? Já a estudamos, ouvimos cantigas, ouvimos frases, perguntas, dúvidas. Talvez, as Bem-Aventuranças seja um dos textos da Bíblia mais falados, estudados, tema de palestras, de livros. Será que nos seria permitido saber quando estas palavras foram ditas? Quem as ouviu? O que sentiram? Há um livro que nos dá informações preciosas sobre este belíssimo momento da História do Cristo entre nós e vai além, muito além...nos permite alçar um entendimento do seu alcance em muitos corações. O livro que ora estudamos, Há 2000 anos, nos traz este momento sublime. Palavras que atravessam o tempo e ecoam através de muitas vidas, nos convidando a sermos, hoje, bem-aventurados. Lívia ouviu de Jesus estes profundos dizeres e Emmanuel nos trouxe o relato de como foi este dia de luz. Eles esperavam por Jesus: “todos os olhares se dirigiam para um ponto escuro que se desenhava no espelho cristalino das águas, muito ao longe, no horizonte. Era a barca de Simão, que trazia o Mestre para as dissertações costumeiras.” Quem eram os ouvintes? “Operários humildes, pescadores rudes, mães numerosas em cujos rostos macerados se podiam ler as histórias amargas dos mais incríveis padecimentos, criaturas da plebe anônima e sofredora, mulheres adúlteras, publicanos gozadores da vida, enfermos desesperados e crianças numerosas, que traziam consigo os estigmas do mais doloroso desamparo.” Como receberam Jesus? “Um sorriso de ansiedade e de esperança clareou, então, todos aqueles semblantes que o aguardavam, no desconforto de seus sofrimentos. A descrição do Mestre Jesus: “Sua fisionomia parecia transfigurada em resplendente beleza. Os cabelos, como de costume, caíam-lhe aos ombros, à moda dos nazarenos, esvoaçando levemente aos ósculos cariciosos dos ventos brandos da tarde.” O sentimento de Lívia: “A esposa do senador não pôde mais despregar os olhos deslumbrados, daquela figura simples e maravilhosa.” As palavras de Jesus, cheias de vida e amor: “Começara o Mestre um sermão de beleza inconfundível e suas palavras pareciam tocar os espíritos mais empedernidos, figurando-se que

os ensinamentos ressoavam nas devesas de toda a Galileia, ecoando pelo mundo inteiro, previamente modelados para caminhar no mundo com a própria eternidade.” Finalmente, os ensinamentos modelados para caminhar no mundo com a própria eternidade:

"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque a eles pertencerá o reino de meu Pai que está nos céus!... "Bem-aventurados os pacíficos, porque possuirão a Terra!... "Bem-aventurados os sedentos de justiça, porque serão saciados!... "Bem-aventurados os que sofrem e choram, porque serão consolados nas alegrias eternas do reino de Deus!..." E a sua palavra enérgica e branda disse da misericórdia do Pai Celestial; dos bens terrestres e celestes; do valor das inquietações e angústias humanas, acrescentando que viera ao mundo não para os mais ricos e mais felizes, mas para consolar os mais pobres e deserdados da sorte.” Momento sublime, de profunda elevação. O Mestre ensina a humanidade sobre a humildade, a paz, a justiça, a consolação. Nos fala de um Pai rico em misericórdia e traz a oportunidade de curarmos as nossas chagas, as nossas dores da alma. Eis, então, que descobrimos um ponto belíssimo unindo os capítulos de número 7, primeira e segunda parte. As palavras de Jesus não são “para os mais ricos e mais felizes, mas para consolar os mais pobres e deserdados da sorte.” E quem serão os pobres e deserdados neste romance apresentado por Emmanuel? De quem serão estas vidas que transitaram por nosso mundo como desventurados? O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos fala um pouco de quem o são: “Quando o Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes pertence”, não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem.” Seguindo, assim, ao capítulo 7 da segunda parte, encontraremos os personagens do livro nos ensinando sobre as bem-aventuranças: Desventurado foi Plínio que se esqueceu da humildade... “Plínio Severus, embora generoso, era impulsivo: no regime familiar, seu espírito era o desses tiranos domésticos, que, adotando a conduta mais desregrada e incompreensível, não toleram a mínima falta no santuário da família. A despeito de sua orientação errônea e condenável, passou a vigiar constantemente o irmão e a esposa, com a feroz impulsividade do leão ofendido”.

Desventurado foi Saul de Gioras que esqueceu-se da paz... “Saul de Gioras, por sua vez, despeitado com a sublime e fraternal afeição entre Flávia e Agripa, não perdia ensejo para envenenar o coração impetuoso do oficial, levando-lhe as calúnias mais torpes e injustificáveis. Desventurado foi Agripa que foi alvo de calúnias, palavras falaciosas, injustiças ao seu coração “Agripa, na sua generosidade e no seu sentimentalismo, não podia adivinhar as ciladas que o enredavam na vida comum e prosseguia com a preciosa atenção de sua amizade, junto da mulher que não podia amá-lo senão com sublimado amor fraterno.” Desventurada foi Flávia que sofria a chorava as dores do corpo e da alma: “Aurélia, contudo, na violência de suas pretensões, não descansava. Conseguindo introduzir uma serva astuta junto de Flávia, de conformidade com antigo projeto da sua mentalidade doentia, iniciou a sinistra execução de um plano diabólico, no sentido de envenenar, vagarosamente, a rival retraída e desditosa. (…) Flávia abriu desmesuradamente os olhos serenos e tristonhos, tomada de penosa surpresa... - Senhor Saul - revidou corajosamente, triunfando da sua emoção -, serenai vosso ânimo... Se me tendes tamanha afeição, deixai-me no caminho dos meus deveres, onde precisa conservar-se toda mulher ciosa da sua virtude e do seu nome! Calai, portanto, vossas emoções neste sentido, porque o amor que me confessais não pode passar de um desejo violento e impuro!...” Mas não o serão, pois a condição de estar “desaventurado” é passageira. Como nos ensina o Evangelho, a questão não é apenas o sofrer, mas como sofremos. E, com esta perspectiva, podemos avançar um pouco mais e descobrir bem-aventuranças... Bem-aventurada foi Ana, que encontrou forças para mais um momento de dor em sua vida: “Ana precisou mobilizar todas as reservas de serenidade da sua fé, para não gritar escandalosamente, alarmando a casa inteira. Ela, porém, que tantos padecimentos havia já experimentado em todo o curso da vida, não tinha grande dificuldade em juntar mais uma nota angustiosa ao concerto de suas amarguras, sofridas sempre com resignação e serenidade.” Bem-aventurado foi Públio que teve fome e sede de justiça: “- Ana, o profeta Nazareno devia ser, de fato, uma figura divina aqui na Terra!... Eu, porém, sou humano e careço de forças novas para viver uma existência fora de minha época... Quero perdoar e não posso... Quero julgar neste caso e não sei como fazê-lo. .. Mas, hei-de saber decidir, quanto à solução deste terrível problema! Farei o possível por observar os preceitos do teu mestre, guardando uma atitude de silêncio, até que venha a conhecer o verdadeiro culpado, quando, então, buscarei não julgar como os homens, mas pedir a essa justiça divina que se manifeste, amparando meus pensamentos e esclarecendo os meus atos...” Aquele mesmo Senador que durante toda uma vida julgara os mais intrincados casos da Antiga Roma, agora rendia-se à inspiração superior de Jesus para conduzir o seu agir. A escola da dor agira em seu coração e o ensinava a avançar com mais cautela, calma, paz. Ensina-nos a Prof. Aila Pinheiro de Andrade em sua palestra sobre As BemAventuranças que na língua hebraica o termo usado e traduzido como bem-aventurança também guarda o significado de “avançar, seguir adiante, prosseguir”, assim, mesmo quando

atravessamos momentos difíceis, quando a vida nos parece injusta, quando nossos planos não se realizam, com o Cristo Jesus somos convidados a seguir em frente. A mágoa, a culpa, o remorso, o ódio paralisam nossa jornada espiritual, ficamos estagnados em nosso processo evolutivo até que vençamos, conseguindo seguir em frente. Com esta perspectiva e olhando os personagens do livro, vemos o quanto são verdadeiras as lições do Sermão do Monte. Cristo nos diz: avancem, sigam em frente, nada temam! Apreciar este texto sem a ótica do espírito imortal é praticamente impossível, porque ele não faria sentido algum, Saul, Plínio e tantos outros, queriam a satisfação imediato de seus anseios e tomaram medidas egoísticas para alcançarem seus desejos. Não obstante, temos o sublime exemplo de Lívia, que entregou suas dores, lutas e dificuldades para o Pai Celestial, confiando integralmente na sua justiça e no seu amor. Saibamos nós, também, alcançarmos esta belíssima perspectiva para que sejamos bem-aventurados, sejamos aqueles que seguem adiante, mesmo quando a vida se apresenta de forma diferente da que almejávamos. Emmanuel comenta um trechinho das bem-aventuranças no livro Ceifa de Luz, e é com esta lição que encerramos o estudo de hoje, com profunda gratidão pelo aprendizado.

“Bem-aventurados os que choram”, — disse-nos o Senhor — contudo, é importante lembrar que, se existe aflição gerando tranquilidade, há muita tranquilidade gerando aflição. No limiar do berço pede a alma dificuldades e chagas, amargores e cicatrizes, entretanto, recapitulando de novo as próprias experiências no Plano Físico, torna à concha obscura do egoísmo e da vaidade, enquistando-se na mentira e na delinquência. Aprendiz recusando a lição ou doente abominando o remédio, em quase todas as circunstâncias, o homem persegue a fuga que lhe adiará indefinidamente as realizações planejadas. É por isso que na escola da luta vulgar vemos tantas criaturas em trincheiras de ouro, cavando abismos de insânia e flagelação, nos quais se despenham, além do campo material, e tantas inteligências primorosas engodadas na auréola fugaz do poder humano, erguendo para si próprias masmorras de pranto e envilecimento, que as esperam, inflexíveis, transposto o limite traçado na morte. E é ainda por essa razão que vemos tantos lares, fugindo à bênção do trabalho e do sacrifício, à feição de oásis sedutores de imaginária alegria para se converterem amanhã

em cubículos de desespero e desilusão, aprisionando os descuidados companheiros que os povoam em teias de loucura e desequilíbrio, na Vida Espiritual. Valoriza a aflição de hoje, aprendendo com ela a crescer para o bem, que nos burila para a união com Deus, porque o Mestre que te propões a escutar e seguir, ao invés de facilidades no imediatismo da Terra, preferiu, para ensinar-nos a verdadeira ascensão, a humildade da Manjedoura, o imposto constante do serviço aos necessitados, a incompreensão dos contemporâneos, a indiferença dos corações mais queridos e o supremo testemunho do amor em plena cruz da morte.

Sigamos em frente, a jornada persiste e não devemos arrefecer o ânimo. Abraços fraternos, Campo Grande – MS, 30.10.2015 Candice Günther

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Estudo Há 2000 anos – Parte 8a

“A guerra semeia em sua passagem a morte e as ideias. As ideias

germinam e crescem. Depois de se haver retemperado na vida espírita, vem o Espírito fazê-las frutificar. Não carregueis, pois, com as vossas maldições, o diplomata que preparou a luta, nem o capitão que conduziu seus soldados à vitória. Grandes lutas se preparam. Lutas do bem contra o mal, das trevas contra a luz, do Espírito de progresso contra a ignorância estacionária. Esperai com paciência, porque nem as vossas maldições, nem os vossos louvores poderão mudar a vontade de Deus. Ele saberá sempre manter ou afastar do teatro dos acontecimentos os seus instrumentos, conforme tenham eles cumprido a sua missão ou dela abusado, a fim de servir a seus pontos de vista pessoais, do poder que tiverem adquirido por seu sucesso. Tendes o exemplo do César moderno e o meu. Por várias existências miseráveis e obscuras eu tive que expiar as minhas faltas e, da última vez, vivi na Terra com o nome de Luís IX.” JÚLIO CÉSAR (Revista Espírita 1859) Luís IX, também é conhecido como São Luis.

Iniciando nova etapa do estudo deste livro singular, buscaremos o ponto de encontro entre os capítulos de número 8, primeira e segunda parte. E justificamos esta forma de estudo, baseando-nos num costume antigo, muito comum na poesia hebraica, de textos com idéias paralelas. Ao optarmos por buscar pontos de encontro entre os capítulos ganhamos novo olhar, alcançando uma perspectiva que a mera leitura do livro ainda não nos havia proporcionado. Eis-nos, então, diante do primeiro ponto de encontro entre estes dois capítulos: uma festa de origem judaica, a Páscoa. E esta festa aparece em dois momentos importantíssimos da História: a crucificação do Cristo no ano 33 d.C. e a queda de Jerusalém em 70 d. C., dois fatos que mudaram o rumo da humanidade e que Emmanuel optou por colocar nos capítulos de número oito. Qual a razão? O que este fato nos pode ensinar? Poderíamos pensar que inicia-se novo ciclo? Que a vida segue sempre em frente, mas que o tempo nos permite ver que cada fase, cada ciclo teve o seu papel e sua importância? Pois bem, antes de irmos ao encontro das lições do livro Há 2000 anos, ampliemos nosso entendimento do que é a Páscoa para o povo judeu. Segundo o Professor Severino Celestino da Silva, a Páscoa (Pessach):

“O Pessach é provavelmente a festa mais respeitada em Israel, depois de Kipur Yom Kipur, mesmo pelos não religiosos. Ela tem todo um preparativo que antecede a festa, como a queima dos alimentos proibidos e celebram o Êxodo ou fuga do Egito, onde no janta (seder) faz a leitura da Hagadá “vehigadeta levincha” – “e contarás ao seu filho”, narrativas sobre a escravidão e fuga do Egito. As crianças têm papel importante e cabe a elas a realização das kushiot, as perguntas que constam da Hagada. Chag HaPessach Nome principal, usual e freqüente, vem do hebraico e quer dizer ‘pulou,

passou’, pois D’us “passou” pelas casas dos judeus no Egito, para que não morressem seus primogênitos, uma das dez pragas do Egito (Shmot, capítulo XII, versículo 23). Não se esquecendo de uma figura importante pela qual D’us usou para esse feito que foi Moises (Moshé), que conduziu o povo pelo deserto para a terra prometida e constituiu muitos dos conceitos e leis ordenadas por D’us para o os judeus ainda seguidos até hoje. Alguns símbolos referentes a essa festa são Matza/ot Pão ázimo, confeccionado sem levedura, que se come durante a semana na qual se comemora a festa de Pessach, como lembrança à massa que não fermentou quando os judeus saíram, com pressa, do Egito.” Para os cristãos, porém, após a morte e ressurreição de Jesus, a Páscoa ganhou novos significados. Relembra-se na sexta-feira a crucificação e, no terceiro dia, no domingo de Páscoa, celebra-se a ressurreição. Sendo Jesus judeu, no ano 33, ele foi com seus discípulos para Jerusalém, que segundo estudiosos contava na época com algo em torno de 50 mil habitantes, porém, na época da Páscoa ou a Festa dos Pães Ázimos, chegava a 3 milhões de pessoas. O Senador Públio Lentulus e sua família também foram a esta festa: “Aproximava-se a Páscoa no ano 33. Numerosos amigos de Públio haviam aconselhado a sua volta temporária a Jerusalém, a fim de intensificar os serviços da procura do filhinho, no curso das festividades que concentravam, na época, as maiores multidões da Palestina, estabelecendo possibilidades mais amplas ao reencontro do desaparecido. Peregrinos incontáveis, de todas as regiões da província, dirigiam-se para Jerusalém, a participar dos grandes festejos, oferecendo, simultaneamente, os tributos de sua fé, no suntuoso templo.” É interessante pensar que Públio e sua família estavam na cidade em busca de seu filho amado, que fora sequestrado por André de Gioras, justamente quando acontecia uma festa que relembrava a todos que Deus havia libertado o povo hebreu da escravidão, e os tinha poupado de uma das pragas que atingia o Egito, a morte dos primogênitos. Tivesse Públio atendido o pedido de misericórdia de André de Gioras em relação a punição ao seu filho Saul, ainda no calor da juventude, e, também, seu filho primogênito teria sido poupado, toda a sua família não passaria por esta dor. Se o povo judeu relembrava os momentos de escravidão e da liberdade que Deus concedeu, podemos refletir que Públio afastouse da vontade divina ao agir com rigidez excessiva, não obstante sua tentativa tardia de reparar a falta, isto também é uma forma de escravidão. As vezes olhamos estas festas apenas como acontecimentos de celebração, esquecendonos que guardam profundos significados que nos alertam para uma forma de viver, uma vida em comunhão com o Pai. Quantos males não evitaríamos se tivéssemos uma conduta mais pacífica e amorosa? Clamamos a Deus quando tudo desaba, mas esquecemos que, em geral, a vida só vai mal porque em tempos anteriores nos esquecemos de ser bons, cegos que andamos pelo orgulho e pelo egoísmo.

Públio ainda não estava pronto para esta aproximação com o Pai Celestial, demasiado orgulho o impedia de reconhecer no amor e no perdão os grandes impulsionadores de nossa felicidade. Esteve diante do Cristo, mas não tinha olhos de ver, reconhecia seus valores morais, mas não permitiu que eles tocassem seu coração promovendo a mudança que apenas o amor é capaz: “- Conheci de perto o profeta de Nazaré, em Cafarnaum, onde ninguém o tinha na conta de conspirador ou revolucionário. Suas ações, ali, eram as de um homem superior, caridoso e justo, e jamais tive conhecimento de que sua palavra se erguesse contra qualquer instituto social ou político, do Império. Certamente, alguém o toma aqui como pretendendo a autoridade política da Judeia, cevando-se no seu nome as ambições e o despeito dos sacerdotes do templo.” O capítulo 8 da primeira parte nos fornece todo um relato dos bastidores de como os romanos trataram a prisão e o pedido de crucificação e alguns detalhes merecem a nossa atenção, porém o faremos em outra oportunidade, nas etapas seguintes deste estudo. Sigamos agora para a segunda parte do livro, no seu oitavo capítulo. Decorridos mais de 30 anos após os fatos relatados acima, Públio retorna a Jerusalém, atendendo a um pedido do Imperador. O requerimento era de que aconselhasse o filho do Imperador quanto as medidas a serem tomadas para frear o levante do povo. Junto com a viagem, vieram as lembranças, presságios do espírito que vê muito além: “Sim, a pequenina figura de Marcus, o filho desaparecido, parecia surgir novamente a seus olhos, sob uma auréola de radioso e santificado enlevo. Um dia, em Cafarnaum, levado pelas palavras caluniosas de Sulpício Tarquinius, duvidou da honorabilidade da mulher, acreditando, mais tarde, que o rapto da criança fosse uma consequência da sua infidelidade. Mas Lívia agora estava redimida de todas as culpas, no tribunal da sua consciência. Seus sacrifícios domésticos e a morte heróica no circo constituíam a prova máxima da sublimada pureza do seu coração. Naqueles instantes de meditação, figurava-se-lhe que voltava ao passado com os seus sofrimentos intermináveis, esbarrando sempre na sombra pesada do mistério, quando tentava reler as páginas desse doloroso capítulo da sua existência. A que abismos insondáveis e desconhecidos teria sido levado o pequenino que lhe perpetuaria a estirpe nobre? Suas emoções paternais pareciam alarmar-se de novo, depois de tantos anos e tantos padecimentos em família.” Novamente o povo judeu se reúne para a Páscoa com todos os seus profundos símbolos, como o fato de ter sido poupada a vida dos primogênitos. Emmanuel nos relata como foi este ano que mudaria radicalmente a história do povo judeu e sua postura religiosa na Terra: “O cerco de Jerusalém, terminado em 70, foi um dos mais impressionantes da história da humanidade. A cidade foi sitiada, justamente quando intermináveis multidões de peregrinos, vindos de todos os pontos da província, se haviam reunido junto ao templo famoso, para as festas dos pães ázimos. Daí, o excessivo número de vítimas e as lutas acérrimas da célebre resistência. O número de mortos nos terríveis recontros elevou-se a mais de um milhão, fazendo os romanos quase cem mil prisioneiros, dos quais onze mil foram massacrados pelas legiões vitoriosas, depois da escolha dos homens válidos, entre cenas penosas de sangue e de selvageria

por parte dos soldados. O velho senador sentia-se amargurado com aqueles pavorosos espetáculos de carnificina, mas cumpria-lhe desempenhar a palavra dada e era com o melhor espírito de coragem que dava pleno cumprimento ao seu mandato.” (A Páscoa também era conhecida como a festa dos pães ázimos (sem fermento), ou em hebraico, Pessach) Não estariam estes homens mortos resgatando as culpas e dores de um passado não muito distante, em que encaminharam o Governador do Orbe a cruz, conforme relato do capítulo 08 da primeira parte? Certamente uma possibilidade, que apenas levantamos, sem nada afirmar. E neste cenário de dor, em meio as comemorações da Páscoa no ano 70, que relembra a bondade de Deus em poupar os primogênitos da morte quando da saída do Egito, que relembra o sacrifício do Filho de Deus em prol de toda a humanidade, traria finalmente a Públio o reencontro com o seu primogênito. Um momento de imensa dor, mas também de incrível beleza cuja percepção só os milênios dariam ao espírito do Senador. A dor daquele dia seria imensa, porém, com o olhar do espírito imortal, reconhecemos que Públio Lentulus deu um passo significativo em seu caminho evolutivo: Públio Lentulus e Pompílio Crasso são presos: “Públio e o amigo, em virtude da coragem de que davam testemunho, caíram nas mãos de alguns adversários que, ao lhes observarem a indumentária de altos dignitários da Corte Imperial, os conduziram imediatamente a um dos chefes da desesperada resistência, instalado num casarão à guisa de quartel, próximo da Torre Antônia.” André di Gioras é um dos líderes: - Públio Lentulus, sou André de Gioras, o pai a quem insultaste um dia com o excesso da tua autoridade orgulhosa. Lembras-te agora? O prisioneiro fez um sinal afirmativo com a cabeça. - Decretada a pena: Públio ficará cego. Ítalo, lhe é apresentado por André de Gioras como um escravo romano, que, em verdade, era que o próprio filho do Senador, Marcos, que havia sido sequestrado pela próprio André de Gioras: “- Ítalo, compete ás tuas mãos a tarefa deste momento. Da assistência compacta e inquieta destacou-se um homem, aparentando quase quarenta anos de idade, surpreendendo o senador pelos seus traços finos de patrício. Seus olhares encontraram-se e ele supôs descobrir naquela alma um laço de afinidade estranha e incompreensível. Ítalo? Aquele nome não lhe recordava alguma coisa das proximidades da sua Roma inesquecida? Por que motivo estaria ali aquele homem, evidentemente de sangue nobre, combatendo ao lado dos judeus amotinados e intoxicados de ódio? Por sua vez, o verdugo, indicado pela voz soberana de André, parecia inclinado à ternura e à piedade por aquele homem velho e sereno, de mãos e pés amarrados ao poste da injúria, como que hesitava sobre se devia cumprir o sinistro e despiedado desígnio do seu chefe.” - A atração mútua que o tempo não pode impedir, os espíritos que se amam se reconhecem: “Ítalo tomou, então, da lâmina, humildemente. Aproximou-se de leve do condenado cheio de resignação e de fortaleza interior. Antes do instante supremo, seus olhares se encontraram, trocando vibrações de simpatia recíproca. Públio Lentulus ainda lhe fixou o porte, tocado de incontestável nobreza, esfacelada em suas linhas mais características pelos trabalhos mais

impiedosos e mais rudes; e tão grande foi a atração que experimentou por aquele homem, fixado pelos seus olhos em plena luz, pela vez derradeira, que chegou a se recordar, inexplicavelmente, do seu pequenino Marcus, considerando que, se ele ainda vivesse num ambiente tão hostil, deveria ter aquele porte e aquela idade.” - Decorrido algum tempo após o trágico dia, eis a confissão de André de Gioras, escravo da culpa e da dor que a vingança provoca: “- Pois bem, senador; obedecendo aos meus sentimentos condenáveis, raptei vosso filhinho, que cresceu humilhado nos mais rudes trabalhos da lavoura... aniquilei-lhe a inteligência... favorecilhe o ingresso nos vícios mais desprezíveis, pelo prazer diabólico de humilhar um romano inimigo, até que culminei na minha vindita em nosso encontro inesperado! Mas, agora, estou diante da morte e não sei enxergar mais a nossa situação, senão como pais desventurados... Sei que vou comparecer breve no tribunal do mais íntegro dos juízes, e, se vos fosse possível, eu desejava que me désseis um pouco de paz com o vosso perdão!” - Andre pede perdão e Públio se reconhece também como culpado e devedor, escravo do rigorismo que tantas vezes lhe fez sofrer: “Diante dele estava o inimigo implacável que procurara em vão, por consecutivos e longos anos de infelicidade. Mas, na sua introspecção, sabia entender, igualmente, as próprias culpas, recordando os excessos da sua severidade vaidosa. Também ele ali estava como um cadáver ambulante, no seio das sombras espessas. De que valeram as honrarias e o orgulho desenfreado? Todas as suas esperanças de ventura estavam mortas. Todos os seus sonhos aniquilados. Senhor de fortuna considerável, não viveria mais, no mundo, senão para carregar o esquife negro das ilusões despedaçadas. Todavia, seu íntimo se recusava ao perdão da hora extrema. Foi então que se lembrou de Jesus e da sua doutrina de amor e piedade pelos inimigos. O Mestre de Nazaré perdoara a todos os seus algozes e ensinara aos discípulos que o homem deve perdoar setenta vezes sete vezes. Recordou, igualmente, que, por Jesus, sua esposa imaculada morrera nas ignomínias do circo infamante; por Jesus voltara FIamínio do reino das sombras, para incliná-lo, um dia, ao perdão e à piedade...” - Aos olhos da humanidade, um homem cego e um condenado; aos olhos de Deus, dois filhos amados que se encontravam em meio a suas dores e concediam o perdão mútuo. “Foi então que Públio Lentulus, abandonando todas as tradições de orgulho e vaidade, sentiu que no íntimo dalma brotava uma fonte de linfa cristalina. Copiosas lágrimas desceram-lhe às faces rugosas e macilentas, das órbitas sem expressão, dos olhos mortos e, como se desejasse fitar o inimigo com os olhos espirituais, a fim de mostrar-lhe a sua comiseração, exclamou em voz firme: - Estais perdoado...” A Páscoa nos lembra de um Deus que nos ampara e nos guia, também nos lembra que este mesmo Deus nos quer libertar da escravidão. Aos estudarmos esta festa e seus significados e os relatos do livro Há 2000 anos, percebemos que a escravidão não se dá apenas fisicamente. Públio e André di Gioras tornaram-se escravos de suas idéias de poder, vingança, vaidade. Jesus veio ao mundo para nos ensinar sobre o amor e a verdade, dizendo-nos que seremos livres. E sua morte justamente no dia da Páscoa traz uma perspectiva muito profunda aos nossos corações. Se antes o povo judeu utilizava de um cordeiro em sacrifício, no lugar do filho

primogênito, após o sacrifício de Jesus, único e verdadeiro, somos convidados a celebrar uma nova Páscoa. Jesus nos disse que era o pão da vida (João 6:35), numa referência a este momento em que o povo saiu da escravidão, foi para o deserto levando um pão sem fermento, um pão que lhes permitiu ficarem vivos, serem alimentados. E o fermento também guarda um símbolo profundo para o povo hebreu, em várias passagens ele é usado como sinônimo de hipocrisia, de erro (Lucas 12:1, Marcos 8:15), assim, o pão da vida simboliza também a pureza que precisamos ter em nossos corações para ir ao Cristo. Quando Públio se lembra de Jesus e de seus ensinamentos, alimenta-se do pão da vida, do que liberta da escravidão, da dor, do sofrimento e, do que, lembrando as palavras de Jesus, sacia a fome. Ao conceder o perdão a André di Gioras é, também, libertado da vaidade e do orgulho que outrora lhe cegaram o espírito. Também nos outros somos convidados a entrar no Reino de Deus, vivenciando a liberdade de amar e de perdoar, alimentando-nos dos ensinos do Cristo que são o pão da vida, o alimento que nos fortalece e nos permite adentrar na vida plena. Para encerrar nossas reflexões, buscamos mais uma vez o amparo no Evangelho de João, também em seu capítulo oitavo. Encontramos lá valorosa lição, quando Jesus estava ainda com seus discípulos falou sobre a escravidão, poucos o compreenderam. E nós, compreendemos? Evangelho de João 8: “34Jesus lhes respondeu: "Em verdade, em verdade, vos digo: quem comete o pecado é escravo. 35Ora, o escravo não permanece sempre na casa, mas o filho aí permanece para sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis, realmente, livres.” Emmanuel, hoje na condição de filho redimido, abençoado e trabalhador da seara do Cristo, não mais vivenciando as dores do mundo interior do Senador Públio Lentulus, nos auxilia no entendimento dos dizeres de Jesus. Livro Caminho, Verdade e Vida, lição 125.

Na sua exemplificação, ensinou-nos Jesus como alcançar o título de filiação a Deus. O trabalho ativo e incessante, o desprendimento dos interesses inferiores do mundo, a perfeita submissão aos desígnios divinos, constituíram traços fundamentais de suas lições na Terra. Muitos homens, notáveis pela bondade, pelo caráter adamantino, sacerdotes dignos e crentes sinceros, poderão ser dedicados servos do Altíssimo. Mas o Cristo induziu-nos a ser mais alguma coisa. Convidou-nos a ser filhos, esclarecendo que esses ficam “para sempre na casa”. E os servos? Esses, muita vez, experimentam modificações. Nem sempre permanecerão, ao lado do Pai. Mas, não é a Terra igualmente uma dependência, ainda que humilde, da casa de Deus? Aí palpita a essência da lição. O Mestre aludiu aos servos como pessoas suscetíveis de vários interesses próprios. Os filhos, todavia, possuem interesses em comum com o Pai. Os primeiros, servindo a Deus e

a si mesmos, porque como servidores aguardam remuneração, podem sofrer ansiedades, aflições, delírios e dores ásperas. Os filhos, porém, estão sempre “na casa”, isto é, permanecerão em paz, superiores às circunstâncias mais duras, porquanto reconhecem, acima de tudo, que pertencem a Deus. Eis o convite que a Páscoa comemorada ano após ano nos faz: deixemos a escravidão para traz, não somos servos, somos filhos do Altíssimo. Que Jesus nos auxilie em nossa jornada e que possamos entender o quão profundas são estas lições evangélicas vivenciadas por estes irmãos de outrora e que hoje são um convite para nós, também, alcancemos um novo entendimento e um novo viver. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 06.11.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 8b

“O Cristo não erigiu um Panteão: ergueu uma cruz.” Lamenais

O capítulo oitavo da primeira parte nos apresenta um relato que acredito ser um dos mais relevantes em termos históricos e espirituais. Um grupo seleto se reúne para decidir o futuro do Profeta de Nazaré, como era conhecido Jesus pelos romanos: “Pilatos recebeu-o com deferência e solicitude, conduzindo-o a um gabinete amplo, onde se reunia pequeno número de patrícios, escolhidos a dedo em Jerusalém. O pretor Sálvio, funcionários de destaque, militares graduados e alguns poucos romanos civis, de nomeada, que passavam eventualmente pela cidade, ali se aglomeravam, convocados pelo governador…Resolvi, portanto, agir em consciência, aqui reunindo todos os patrícios e romanos notáveis de Jerusalém, para examinarmos o assunto, de modo que o meu ato não prejudique os interesses do Império, nem colida com o meu ideal de justiça.” Ao ler este capítulo e refletir um pouco, fluíram algumas perguntas difíceis: Públio poderia ter evitado a crucificação de Jesus? Era necessária esta morte extrema? Qual a razão? Que tipo de sentimentos levam os homens a matarem um homem de bem, um espírito puro? Se isto acontecesse hoje, agiríamos de forma diferente? Qual a importância da crucificação de Jesus dentro da doutrina espírita? Antes de mais nada, preciso lhes adiantar que não tenho todas estas respostas e, ainda que as tenha, podem estar incorretas. Assim, o que tenho são reflexões, leituras e sentimentos, que juntos serão o norte deste estudo, que não vem de uma alma que tenta vos ensinar, mas de alguém que necessita aprender para apreender. Olhemos, então, um trecho do capítulo 8 da primeira parte, quando Públio dá sua opinião sobre Jesus: “Conheci de perto o profeta de Nazaré, em Cafarnaum, onde ninguém o tinha na conta de conspirador ou revolucionário. Suas ações, ali, eram as de um homem superior, caridoso e justo, e jamais tive conhecimento de que sua palavra se erguesse contra qualquer instituto social ou político, do Império. Certamente, alguém o toma aqui como pretendendo a autoridade política da Judeia, cevando-se no seu nome as ambições e o despeito dos sacerdotes do templo.” Muito sóbria e lúcida a fala de Públio, porém, distante da verdade que seus olhos, e talvez os meus, ainda não podem ver. João de Deus, na psicografia de Chico Xavier nos pergunta:

“Não era Ele o Enviado do poder do Criador? Não passou por este mundo, acendendo a luz do amor?” Assim, a primeira lição que esta reflexão nos apresenta e que nos faz recordar uma fala da querida Irmã Aila é que nem sempre somos culpados por determinadas situações, mas assim

mesmo somos responsáveis por ela. Foram muitas as mãos e as mentes culpadas pelo que ocorreu com Jesus, Públio foi uma das mentes que esteve atuando e vemos claramente que por sua opinião, Jesus deveria ser solto, fácil verificar que está isento de culpa, porém, não da responsabilidade. E, mais ainda, todos nós somos responsáveis por este ato. Talvez, alguns pensem, mas eu não estava lá!! Como posso ser responsabilizado? E se estivesse? Como agiria? O que faríamos hoje? Para entender isto, precisamos perceber os sentimentos mais íntimos de levaram a humanidade a crucificar o Cristo, porque não raro, estes sentimentos se fazem presentes ainda hoje. Herodes o via como adversário político: “tratou o prisioneiro com revoltante sarcasmo, dando-nos a entender o desprezo com que supõe deva ele ser encarado pela nossa justiça e administração.” Pilatos o via como um homem simples e bom: “Tão amarga situação contrista-me bastante, porque o coração me diz que esse homem é um justo...” Numa leitura apressada, talvez pensemos em Pilatos como o que teve maior bondade e benevolência. Mas que mérito há naquele que sabe se tratar de um homem bom e ainda sim nada faz para defendê-lo? Que tipo de “pax romana”estava sendo defendida por estas pessoas que não o interesse próprio em permanecer no poder? Tenho sempre o cuidado e o comprometimento em não proferir julgamentos nestes estudos. Não são apenas personagens, são espíritos vivos e imortais que sentem nossas vibrações. O nosso intuito é aprender com estes atos, pensamentos, sentimentos a fim de que tenhamos a coragem de olhar para o nosso mundo íntimo e perscrutar por quem somos governados. Herodes e Pilatos nos ofertam dois tipos de sentimentos muito comuns, ainda hoje. O primeiro, que julga apressadamente e manipula para manter-se no poder. O segundo, que percebe o erro, entende tratar-se de uma injustiça, mas não se dispõe a qualquer infortúnio em prol do acusado, o ato de lavar as mãos o imortaliza e fala alto da nossa condição de pessoas que simplesmente não se importam A narrativa segue e Públio está diante de Jesus, como hoje somos convidados a estar: “O senador fez questão de aproximar-se do supliciado, na suas provações dolorosas e extremas. Aquele rosto enérgico e meigo, em que os seus olhos haviam divisado uma auréola de luz suave e misericordiosa, nas margens do Tiberíades, estava agora banhado de suor sangrento a manarlhe da fronte dilacerada pelos espinhos perfurantes, misturando-se de lágrimas dolorosas; seus delicados traços fisionômicos pareciam invadidos de palidez angustiada e indescritível; os cabelos caíam-lhe na mesma disposição encantadora sobre os ombros seminus e, todavia, estavam agora desalinhados pela imposição da coroa ignominiosa; o corpo vacilava, trêmulo, a cada vergastada mais forte, mas o olhar profundo saturava-se da mesma beleza inexprimível e misteriosa, revelando amargurada e indefinível melancolia. Por um momento, seus olhos encontraram os do senador, que baixou a fronte, tocado pela imorredoura impressão daquela sobre humana majestade.”

Ao ler este trecho, eu precisei parar um pouco, deixar as palavras ecoarem, imaginar o momento e fazer uma dura pergunta: se eu tivesse a oportunidade de ver Jesus, eu precisaria baixar a fronte? Convido-os a um breve intervalo...retomem o estudo em outra hora, deixem a imagem de Jesus os absorver. Seguindo em frente, encontraremos no livro a sugestão de Públio para que Jesus fosse colocado a lado do pior malfeitor a fim de convencer a população a soltá-lo. O amor da multidão que o recebera em Jerusalém, agora era ódio e descontentamento. Tão humana esta reação, tão nossa...enquanto tudo vai bem, enquanto nossos anseios são correspondidos, ofertamos amor, mas diante da adversidade, quando o nosso querer torna-se secundário, o dito amor se dissolve e não raro, se desfaz. A forma como tratamos Jesus nos fala de como agimos, pensamos, mas sobretudo, de como sentimos. Kardec fala um pouco sobre esta questão no livro A Genese, cap. I, item 25: “Toda a doutrina do Cristo se funda no caráter que ele atribui à Divindade. Com um Deus imparcial, soberanamente justo, bom e misericordioso, ele fez do amor de Deus e da caridade para com o próximo a condição indeclinável da salvação, dizendo: Amai a Deus sobre todas as coisas e o vosso próximo como a vós mesmos; nisto estão toda a lei e os profetas; não existe outra lei. Sobre esta crença, assentou o princípio da igualdade dos homens perante Deus e o da fraternidade universal. Mas, fora possível amar o Deus de Moisés? Não; só se podia temê-lo. A revelação dos verdadeiros atributos da Divindade, de par com a da imortalidade da alma e da vida futura, modificava profundamente as relações mútuas dos homens, impunha-lhes novas obrigações, fazia-os encarar a vida presente sob outro aspecto e tinha, por isso mesmo, de reagir contra os costumes e as relações sociais. É esse incontestavelmente, por suas consequências, o ponto capital da revelação do Cristo, cuja importância não foi compreendida suficientemente e, contrista dizê-lo, é também o ponto de que mais a Humanidade se tem afastado, que mais há desconhecido na interpretação dos seus ensinos.”

Continuando nossa leitura do Cap. 8 da primeira parte vemos que Jesus é escolhido, Barrabás é poupado. E Públio manifesta-se novamente: “- Meu amigo - respondeu Públio, com energia -, se a decisão dependesse tão somente de mim, fundamentá-la-ia em nossos códigos judiciários, cuja evolução não comporta mais uma condenação tão sumária como esta, e mandava dispersar a multidão inconsciente à pata de cavalo; mas, considero que as minhas atribuições transitórias, junto ao vosso governo, não me outorgam direito a tais desmandos e, além disso, tendes aqui uma experiência de sete anos consecutivos. (...) Como homem, estou contra este povo inconsciente e infeliz e tudo faria por salvar o inocente; mas, como romano, acho que uma província, como esta, não passa de uma unidade econômica do Império, não nos competindo, a nós outros, o direito de interferência nos seus grandes problemas morais e presumindo, desse modo, que a responsabilidade desta morte

nefanda deve caber agora, exclusivamente, a essa turba ignorante e desesperada, e aos sacerdotes ambiciosos e egoístas que a dirigem.” Como homem e como romano? É possível esta divisão? É possível que um homem assuma diversas facetas para justificar a sua própria consciência atitudes que sabe incorretas? Fazemos isto, ainda hoje, quem nunca ouviu a frase: isto é apenas profissional, pessoalmente não tenho nada contra...a fim de justificar algo que fez ou falou? Guardadas as proporções, permanecemos nos deixando enganar por estes artifícios que visam apenas apaziguar a nossa culpa e, tal qual Pilatos, nos livrar de nossa responsabilidade. Afinal, entendemos a cruz? A luz da doutrina espírita, entendemos o que significa para a

humanidade este ato de Jesus? Osias Gonçalves, no livro Instruções Psicofônicas nos auxilia: “O Mestre, amoroso e decidido, ensinou-nos a usar o fracasso como chave de elevação. Traído pelos homens, utilizou-se de semelhante decepção para demonstrar lealdade a Deus. Atormentado, aproveitou a aflição para lecionar paciência e governo próprio. Escarnecido, valeu-se da amargura íntima para exercer o perdão. E, crucificado, fez da morte a revelação da vida eterna.”

A morte de Jesus foi tida como um evento corriqueiro para os romanos, que logo retomaram suas atividades e suas festas. Não obstante, as distrações transitórias da matéria não afastaram de Públio as imagens dolorosas daquele dia e ei-lo entre nós, nos dias atuais, como fiel trabalhador do Cristo e da divulgação da sua palavra de amor e caridade, que naqueles tempos ele não foi capaz de compreender. Há um belíssimo texto na Revista Espírita de Fevereiro de 1862, ditado pelo espírito de Lamenais, com o qual encerramos estas reflexões, com a firme convicção de que apenas ensaiamos os primeiros passos no entendimento do que foi e do que representa a crucificação de Jesus:

“Em meio às revoluções humanas, em meio a todos os distúrbios, a todos as irrupções do pensamento, eleva-se uma cruz alta e simples, fixada num altar de pedra. Um jovenzinho esculpido na pedra tem nas mãos uma bandeirola, sobre a qual se lê esta palavra: Simplicitas [Simplicidade em latim]. Filantropos, filósofos, deístas e poetas: vinde ler e contemplar essa palavra; é todo o Evangelho, toda a explicação do Cristianismo. Filantropos, não inventeis a filantropia: não existe senão a caridade; filósofos, não inventeis uma sabedoria: só há uma; deístas, não inventeis um Deus: só existe um; poetas, não perturbeis o coração do homem. Filantropos, quereis quebrar as cadeias materiais que mantêm cativa a Humanidade; filósofos, elevais Panteões; poetas, idealizais o fanatismo. Para trás! Sois deste mundo, e o Cristo disse: “Meu

reino não é deste mundo.” Oh! sois por demais deste mundo de lama, para compreenderdes estas sublimes palavras; e se algum juiz bastante poderoso vos disser: “Sois filhos de Deus?” vossa vontade morreria no fundo da garganta e não podereis responder como o Cristo, em face da Humanidade: “Vós o dissestes.” — “Vós todos sois deuses”, disse o Cristo, quando a língua de fogo desce sobre as vossas cabeças e penetra os vossos corações; sois todos deuses, quando percorreis a Terra em nome da caridade; mas sois filhos do mundo quando contemplais os sofrimentos atuais da Humanidade e não pensais em seu futuro divino. Homem! que aquela palavra seja lida por teu coração e não por teus olhos de carne. O Cristo não erigiu um Panteão: ergueu uma cruz.”

Conduz-nos, Pai Celestial, no caminho do amor que teu filho amado veio nos ensinar, faz de nós também teus filhos. Abraços fraternos.

Campo Grande-MS, 13.11.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 8c

“O cristão é chamado a servir em toda parte.” André Luiz

Nesta última etapa da oitava parte de nossos estudos, vamos ver um ponto interessante de contato entre os dois capítulos de número 08, primeira e segunda parte. Já o mostramos na parte 8a, porém, aqui buscaremos uma outra perspectiva e quem nos oferece é o próprio Públio Lentulus. Vejamos um trecho do capítulo 08, segunda parte: “Públio Lentulus, observando as cenas de selvajeria e sangue da plebe anônima e amotinada, que exterminava numerosos cidadãos romanos sob as suas vistas, lembrou a tarde dolorosa do Calvário, em que o piedoso profeta de Nazaré sucumbira na cruz, sob a vozeada terrificante das multidões enfurecidas. Enquanto caminhava tangido com brutalidade e aspereza, o velho senador considerava, igualmente, que, se aquele momento assinalasse a sua morte, devia morrer heroicamente, como sua própria mulher, em holocausto aos seus princípios, embora houvesse fundamental diferença entre o reino de Jesus e o império de César. A idéia de deixar Flávia Lentúlia órfã do seu afeto preocupava-lhe o íntimo; todavia, ponderava que a filha teria no mundo a dedicação generosa e assídua de Ana, bem como o amparo material da sua fortuna.” O fato lembrado por Públio, a tarde dolorosa do Calvário, é narrado no capítulo 08 da primeira parte. Encontramos, assim, um ponto de contato entre os dois capítulos, mas isto é apenas o começo. Ao encontrarmos este pontos, somos convidados a analisar os dois momentos, afastados pelo tempo decorrido. A perspectiva do paralelismo, em que as mesmas idéias são apresentadas em momentos distintos nos convidam a um aprendizado mais amplo e completo. Ao recordar-se da morte de Jesus, sabendo-se em grande perigo, o Senador buscou no seu exemplo a inspiração para também, se necessário, morrer heroicamente. Jerusalém estava em guerra, a revolta dos judeus estava sendo duramente combatida pelos romanos e lá estava Públio Lentulus auxiliando o Império Romana a manter-se no poder. Públio sabia que corria risco de morte, e precisava de coragem para enfrentar esta situação, porém, seus motivos eram diferentes dos de Jesus, e ele mesmo reconheceu isto: “fundamental diferença entre o reino de Jesus e o império de César”. Públio estava disposto a morrer por suas crenças, pelo que acreditava e esta postura nos recorda muito de um outro livro, de um outro homem: Paulo de Tarso. Paulo, ainda Saulo, acreditava que apenas a Lei Mosaica devia ser abraçada pelo povo judeu e repudiava os que seguiam o Profeta de Nazaré. Teve um momento impactante em sua vida que o fez reconhecer que estava errando o alvo e mudou sua vida. Públio trilhará seu caminho redentor, conseguirá entender que apenas o reino de amor e paz que Jesus nos convida a adentrar é verdadeiro, os outros, inclusive o Império Romano, são passageiros, fruto do orgulho, egoísmo e vaidade humanos.

Mas, a nós outros, cabe a reflexão antes os momentos que Emmanuel nos narra no livro. Públio lembra de Jesus, recorda-se de sua feição, do seu jeito, de sua força. Vai além, inspira-se no exemplo de Jesus para também enfrentar com coragem as suas próprias lutas. Estamos aptos, então, a fazer um questionamento: isto faz dele, de Públio, um cristão? Admirarmos Jesus e o considerarmos como um bom exemplo em alguns momentos de nossas vidas, nos faz cristãos? Vejamos o que nos diz o Evangelho Segundo o Espiritismo: “Bastará dizer: “Sou cristão”, para que alguém seja um seguidor do Cristo? Procurai os verdadeiros cristãos e os reconhecereis pelas suas obras. “Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore má pode dar frutos bons.” – “Toda árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo.” São do Mestre essas palavras. Discípulos do Cristo, compreendeias bem! Que frutos deve dar a árvore do Cristianismo, árvore possante, cujos ramos frondosos cobrem com sua sombra uma parte do mundo, mas que ainda não abrigam todos os que se hão de grupar em torno dela? Os da árvore da vida são frutos de vida, de esperança e de fé.”

Somos cristãos? Quais os frutos que nossa vida está produzindo? Esta é uma lição dada por Jesus e muitas vezes esquecida por muitos. Queremos avaliar algo em nossas vidas, façamos a pergunta: qual fruto isto produz? A casa espírita que frequentamos é realmente cristã? Lancemos a pergunta: que frutos ela produz? Kardec nos deixou, ainda, um complemento a lição nos dizendo que a boa árvore nos dá frutos de vida, esperança e fé. No livro Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, encontramos o relato de quando Jesus veio a Terra, e há algo muito interessante neste trecho:

“Foi após essa época, no último quartel do século XIV, que o Senhor desejou realizar uma de suas visitas periódicas à Terra, a fim de observar os progressos de sua doutrina e de seus exemplos no coração dos homens.” Podemos admirar os feitos de Jesus, mas chega a hora em que ele pede de nós o que temos feito dos seus ensinamentos. E isto não significa grandes obras ou reconhecimento público de algum trabalho. Recordemos de Lívia, que nunca mais precisou reencarnar depois desta vida com Públio, vejamos que ela não precisou estar diante de multidões ou mesmo fazer-se reconhecida pela história. Foi uma mulher que muito sofreu e soube buscar em Jesus o consolo e a fé para prosseguir.

Se olharmos para a vida de Lívia facilmente reconheceremos frutos de vida, esperança e fé. Mas e para Públio, o que vemos? E para as nossas vidas, qual a nossa realidade? Ser cristão não é um título que usamos quando nos convém, é, acima de tudo, uma vida voltada para o amor, é uma adesão a proposta de Jesus de um novo viver. Se Públio fosse cristão, seria contrário ao espírito bélico de Roma e não a auxiliaria nas atrocidades cometidas contra o povo judeu. São coisas incompatíveis. E como, ainda hoje, vemos pessoas que se dizem cristãos, porém, afirmam que a única solução para a paz mundial é a morte dos radicais islâmicos. Certamente, este é um ponto de vista que toda pessoa tem o direito, garantido por Deus, de expressar. O que não cabe é a pessoa fazer uma afirmação como esta e ao mesmo tempo dizer-se cristão, é incoerente. E isto é apenas um exemplo. Talvez, alguns estejam pensando que estamos em momentos evolutivos distintos e que cada um está galgando seu caminho lentamente. Certamente que sim, todos alcançaremos a plenitude do ser, purificando-nos de nossas imperfeições, mas para que isso ocorra, precisamos buscar a verdade. Precisamos ter a coragem de olharmos para nossas vidas e percebermos que poucos de nós realmente aderiram a proposta de amor, paz e fraternidade que Jesus nos veio apresentar. E esta adesão precisa ser integral e não apenas quando adentramos uma casa espírita ou outro templo qualquer. Em casa, no trabalho, no trânsito, na fila de super-mercado, onde quer que estejamos, podemos vivenciar o cristianismo, podemos ser cristãos. Perdoar as ofensas e oferecer a outra face ainda são atos, além de raros, desacreditados pela nossa sociedade. Não raro quem o faz é tido por passivo, covarde ou outros nominativos que não vem ao caso. Esta postura de Públio, inspirando-se em Jesus, sem contudo aderir a Ele, pos-me a refletir e é este convite que estendo aqueles que leiam a este estudo. Somos realmente cristãos? Como o sabemos? Kardec nos diz que reconhece-se o verdadeiro espírita pelo esforço que realiza em melhorar-se. Eis a mesma idéia, o mesmo princípio dos dizeres de Jesus quanto a árvore. Para sabermos que realmente aderimos a chamado do Cristo, é preciso que tenhamos a coragem de acreditar no amor como a solução para os problemas da humanidade. Nos encaminhando para o final, buscando fazer um paralelo também com o Evangelho de João, verificamos lição interessante que nos remete a um aprofundamento do que ora intentamos entender e refletir para melhor viver.

“Mas, porque vos digo a verdade, não me credes.” Jesus (JOÃO, 8: 45)

O mundo sempre distingue ruidosamente os expositores de fantasias.

É comum observar-se, quase em toda parte, a vitória dos homens palavrosos, que prometem milagres e maravilhas. Esses merecem das criaturas grande crédito. Basta encobrirem a enfermidade, a fraqueza, a ignorância ou o defeito dos homens, para receberem acatamento. Não acontece o mesmo aos cultivadores da verdade, por mais simples que esta seja. Através de todos os tempos, para esses últimos, a sociedade reservou a fogueira, o veneno, a cruz, a punição implacável. Tentando fugir à angustiosa situação espiritual que lhe é própria, inventou o homem a “buenadicha”, impondo, contudo, aos adivinhadores o disfarce dourado das realidades negras e duras. O charlatão mais hábil na fabricação de mentiras brilhantes será o senhor da clientela mais numerosa e luzida. No intercâmbio com a esfera invisível, urge que os novos discípulos se precatem contra os perigos desse jaez. A técnica do elogio, a disposição de parecer melhor, o prurido de caminhar à frente dos outros, a presunção de converter consciências alheias, são grandes fantasias. É necessário não crer nisso. Mais razoável é compreender que o serviço de iluminação é difícil, a principiar do esforço de regeneração de nós mesmos. Nem sempre os amigos da verdade são aceitos. Geralmente são considerados fanáticos ou mistificadores, mas... apesar de tudo, para a nossa felicidade, faz-se preciso atender à verdade enquanto é tempo. Recordemos que o Império Romano prometeu ao mundo um reino de paz, a dita “pax romana”, mas foi Jesus quem atravessou os séculos e ainda hoje nos convida a adentrarmos no seu reino, através de nossa melhora contínua, de nosso esforço e acima de tudo, nossa vontade. Que busquemos dia a dia sermos verdadeiramente cristãos e que o Cristo Jesus não seja somente alguém que nos inspira ou alguém a quem admiramos, mas efetivamente MODELO E GUIA, como nos ensinaram os espíritos. Abraços fraternos.

Campo Grande – MS, 20.11.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 9a.

“Oh! bem-aventurado o cego que quer viver com Deus. Mais ditoso do que vós que aqui estais, ele sente a felicidade, toca-a, vê as almas e pode alçar-se com elas às esferas espirituais que nem mesmo os predestinados da Terra logram divisar. Abertos, os olhos estão sempre prontos a causar a falência da alma; fechados, estão prontos sempre, ao contrário, a fazê-la subir para Deus. Crede-me, bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, muitas vezes, a verdadeira luz do coração, ao passo que a vista é, com frequência, o anjo tenebroso que conduz à morte.” Evangelho Segundo o Espiritismo

Iniciando nova etapa do estudo do livro Há 2000 anos, estudaremos desta feita os capítulos de número 09, primeira e segunda parte, buscando os pontos de encontro destes dois capítulos, eis que defendemos a tese que os romances de Emmanuel também podem ser estudados observando-se um estilo antigo muito observado na poesia hebraica, chamado paralelismo. Este forma de estudo me foi apresentada no livro Parábolas de Jesus – Texto e Contexto de Haroldo Dutra Dias, que demonstra a ocorrência num trecho do Evangelho de Lucas, vejamos um trecho da página 182: “No Evangelho de Lucas encontramos uma impressionante e bela peça literária, conhecida pelo nome de “Narrativa da Viagem a Jerusalém” (Lc 9:51 – 19:48), na qual Jesus e os apóstolos iniciam uma longa e movimentada jornada em direção à cidade de Jerusalém (...)”, página 185: “Lançando um olhar tridimensional para o texto, percebemos que ele está dividido em duas partes espelhadas, no formato do quiasma da poesia hebraica. Cada parte com seu respectivo par, dando a idéia de uma escada que você sobe, depois desce.”

Verificamos a ocorrência desta forma de capítulos com idéias paralelas no livro Paulo e Estevão e também no livro Renúncia, agora, estamos finalizando o estudo do romance Há 2000 anos, onde esta possibilidade também demonstrou-se verdadeira. Quais as razões e motivos de Emmanuel optar por escrever desta forma, nos oferecendo uma outra forma de estudar, ainda são assuntos sobre os quais não ouso comentar, eis que reservo meus sentimentos e intuições a comprovações futuras, evitando assim qualquer caráter especulativo sobre estes estudos. As lições evangélicas que encontramos estudando desta forma são tão maravilhosas que nada me falta, aliás, ouso dizer que minha vida vai sendo transformada através destas imersões, percebendo pontos que preciso corrigir, equívocos que preciso abandonar, num eterno melhorarse. Feita esta nota introdutória, adentremos nas maravilhosas lições dos capítulos de número 09.

Ao longo da história fomos observando as sementes lançadas ao coração de Públiu em relação a suposta infidelidade de sua esposa. Fúlvia e Sulpício foram maledicentes, caluniadores e encontraram terreno para semear dúvidas no coração de Públio. Pois bem, a culminância desta semeadura ocorre no capítulo 09, em que o Senador é chamado a efetuar um flagrante de sua esposa com Pilatos, sendo levado a uma janela por Fúlvia, no palácio do Imperador, verifica Lívia saindo apressadamente do gabinete de Pilatos. Sabemos todos que Lívia jamais traiu Públio, e sua visita a Pilatos tinha motivos nobres, porém, não foi assim que os olhos do Senador enxergaram o ocorrido. Vejamos um trecho de seu encontro com Lívia, já retornando ao lar: “Foi assim que, intoxicado pelo ciúme, procurou a esposa, sem mais delongas, a fim de cuspir-lhe em rosto todo o desprezo da sua amargurada desesperação. Ao chamá-la, bruscamente, observou que seus olhos semicerrados estavam cheios de lágrimas, como a contemplar alguma visão espiritual inacessível à sua observação. Jamais Lívia lhe parecera tão espiritualizada e tão bela, como naquele instante; mas o demônio da calúnia lhe fez sentir, imediatamente, que aquele pranto nada representava senão sinal de remorso e compunção ante a falta cometida, ciente, como deveria achar-se a esposa, da sua presença no palácio governamental, depreendendo-se daí que ela deveria esperar a possibilidade da sua severa punição.” Emmanuel usa palavras fortes para descrever o estado emocional do Senador, falando de si mesmo e de um tempo que lhe é deveras doloroso. Lívia era a representação de todo o seu ideal amoroso, mas eles viviam em um meio onde isto quase não existia, onde a fidelidade e o amor eram secundários aos interesses egoísticos que dominavam as mentes da época. Todos estes sentimentos fizeram Públio ficar cego para quem era realmente sua esposa, deixando de reconhecer o amor que ela lhe endereçava. Conhecemos a história, nos emocionamos com ela e reconhecemos também em nós momentos em que ficamos totalmente cegos à realidade. Olhar esta narrativa nos permitirá o conhecimento de que vivemos em um mundo de intrigas, de orgulho, de egoísmo, um mundo em que pessoas usam da maledicência para obterem privilégios. Somos convidados a aprender, então, as lições evangélicas que emanam deste acontecimento. Públio saberia em vida o que realmente aconteceu naquele dia e esta narrativa encontrase justamente no capítulo 09 da segunda parte, mostrando-nos quão bela é a perspectiva do paralelismo. Depois de diversas reflexões sobre a trajetória de sua vida, Públio chega ao dia em que Lívia, supostamente, havia procurado Pilatos em intenções duvidosas. Ana, que estivera com Lívia no dia citado, esclarece tudo a Públio: “- Então Lívia chegou a dirigir-se a Pilatos para suplicar por Jesus? - perguntou o senador, interessado e perplexo, recordando aquela tarde angustiosa da sua vida e rememorando as calúnias de Fúlvia, a respeito da esposa.

- Sim - respondeu a serva -, por Jesus, seu coração magnânimo desprezou todas as convenções e todos os preconceitos, não vacilando em atender às nossas súplicas, tudo fazendo por salvar o Messias da morte infamante!...” Eis, então que decorridos algo em torno de 40 anos o Senador descobre mais um fato sobre a saudosa e amada Lívia, além de sua morte em meio aos cristãos, tinha tido a coragem de interceder pelo Cristo ante as autoridades da época. E seguem em profundas meditações sobre os desdobramentos que a vida nos oferece: “Públio Lentulus sentiu, então, grande dificuldade para externar seus pensamentos, com a garganta sufocada de emoção, dentro de suas amargas lembranças, e com os olhos mortos, marejados de lágrimas...” Os olhos mortos de Públio, olhos físicos, estavam agora diante da verdade que liberta e elucida. Pode, assim, perceber que quando no passado acusou Lívia de crimes não cometidos estava, em verdade, cego. Seus olhos viam apenas o que as calúnias de Fúlvia e Sulpício haviam semeado em seu coração, porém, estavam cegos para o amor e a verdade do Cristo. Não obstante, 07 anos após ter ficado cego, teve a oportunidade de reviver esta experiência pelo olhar de Ana, permitindo que sua alma se libertasse da mentira e alcançasse o que realmente aconteceu. Na próxima etapa, aprofundaremos um pouco mais esta questão da cegueira de Públio e também deste tempo, 07 anos, nos indicando o encerramento de um ciclo em sua vida. Não por acaso, o Evangelho de João nos traz em seu capítulo 09 o relato da cura de um cego por Jesus. E olharmos estas lições amparados pelas luzes do Evangelho nos auxilia a buscarmos também em nós os motivos que ainda nos tornam cegos espirituais para as verdades divinas. Emmanuel comenta um trecho do Evangelho de João, e é com ele que encerramos o estudo desta semana, retornando na próxima na tentativa de aprofundar um pouco o tema nesta iniciado. O texto encontra-se no livro Vereda de Luz, lição 20. Posso lhes dizer que o texto é quase uma descrição da vida de Públio e de suas reflexões no capítulo 09 da segunda parte e mais ainda, o encerramento nos mostra que não obstante a faltas de outrora, Emmanuel hoje trabalha firme na seara do Mestre Jesus convidando-nos a fazer o mesmo.

“É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia... Jesus”. (João 9:4). Até ontem, é possível: que pesadas cargas de sofrimento nos tenham sitiado o curso das horas; (a doença de Flávia, o sequestro de Marcos)

Que tenhamos caído em faltas lastimáveis, das quais dificilmente nos levantamos, como quem se demora a ingerir curativa poção amarga; (a punição severa ao filho de André de Gioras, bem como o não atendimento do pedido de clemência)

Que lágrimas nos hajam lavado o rosto, muitas e muitas vezes; (a morte de Agripa e de Lívia, a descoberta de Marcos)

Que provas graves nos tenham experimentado a confiança e o discernimento; (as calúnias de Fúlvia e Sulpício)

Que desilusões nos hajam espancado o entusiasmo e a esperança;

(A ausência do filho,

encontrado tardiamente, a dor pelo afastamento de Lívia)

Que obstáculos e golpes nos tenham visitado o espírito em luta; (A cegueira) Que afeições modificadas nos hajam imposto doloroso adeus ao coração; (O adeus aos amigos Calpúrnia e Flaminius, a Agripa e, sem dúvida, e Lívia)

Que as trevas tenham mostrado o propósito de esfriar-nos o ideal, convulsionando-nos a área de serviço; (a cegueira e o afastamento das atividades de Senador) Que perturbações e conflitos nos hajam testado a fidelidade e a segurança no esforço de construção da Vida Superior; ( o perdão a André de Gioras) Que solidão e abandono, várias vezes, nos tenham deixado em cinza e sombra; (a velhice em Pompéia)

Que adversários intransigentes nos hajam abatido a coragem de esperar e o prazer de servir... (Andre de Gioras e Sulpício) -oEntretanto, na essência, não vale o mal que passou. Importa, acima de tudo, que estejamos no cumprimento de nossas obrigações, sem esmorecer, doando o melhor de nós mesmos ao trabalho que a Divina Providência nos deu a realizar, na Seara do Bem, porque de todas as concessões de Deus, nos instrumentos da vida, é imperioso reconhecer que todas elas se refazem ou se reajustam, menos a dádiva do tempo que, depois de perdida, não volta mais.

Grifei estes dois trechos em amarelo, pois eles relembram a fala de Públio com Jesus, as margens do mar de Galiléia, recordemos:

“-

Senador, porque me procuras? - e, espraiando o olhar profundo na paisagem, como se desejasse que a sua voz fosse ouvida por todos os homens do planeta, rematou com serena nobreza: - Fora melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da humildade... Mas, eu não vim ao mundo para derrogar as leis supremas da Natureza e venho ao encontro do teu coração desfalecido!...”(...) Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns milênios... Se o desdobramento da vida humana está subordinado às circunstâncias, és obrigado a considerar que elas existem de toda a natureza, cumprindo às criaturas a obrigação de exercitar o poder da

vontade e do sentimento, buscando aproximar seus destinos das correntes do bem e do amor aos semelhantes.” Públio não aproveitou o ensejo de renovar-se em luz e entendimento quando o Mestre lhe visitou, porém, o tempo, dádiva divina, encarregou-se de trazer o seu coração para esta fonte de amor e fraternidade, a qual todos buscamos para aliviar a nossa sede. Saibamos nos reconhecer com humildade a fim de identificarmos os pontos que ainda nos fazem sermos cegos espirituais e tenhamos a coragem de enfrentar as nossas imperfeições a fim de que a reforma íntima se opere em cada ser, lembrando-se, assim, da frase de Jesus, quem tem olhos de ver, que veja. Que Jesus ilumine nosso caminhar e que saibamos aproveitar as suas verdades enquanto é dia, enquanto as condições nos são favoráveis e a felicidade ainda nos é possível. Não tardemos em reconhecer as luzes do evangelho, aprendendo com estes irmãos de outrora o quão dura pode ser uma vida que se afasta da lei divina. Abraços fraternos Campo Grande – MS, 26.11.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 9b

“Foi Wells que, em uma das suas audaciosas fantasias, descreveu o vale escuro e triste onde um punhado de homens havia perdido as faculdades visuais. Tudo para eles era a mesma noite uniforme, onde se arrastavam como sombras da vida. As gerações se haviam sucedido incessantemente, os séculos passaram e aqueles seres apagaram da lembrança as tradições dos antepassados que lhes falavam do estranho poder dos olhos, os quais, em seus organismos, nada mais eram que duas conchas de treva. O mundo para eles estava circunscrito àquela prisão escura. Os trovões e o vozerio lamentoso dos ventos da tarde significavam, para a sua acuidade auditiva, as advertências das bruxas que povoavam o seu deserto, e o chilrear dos passarinhos o suave consolo que lhes prodigalizavam os gênios carinhosos e alegres. Eis porém que um dia, desce ao vale misterioso um homem que vê. Fala aos filhos da treva das grandes maravilhas do mundo, dos tesouros amontoados nos seus impérios, das faiscantes grinaldas de luz dos plenilúnios, do entusiasmo colorido das auroras de primavera, de tudo o que as mãos dadivosas do Senhor puseram nas páginas imensas do livro da Natureza, para o encanto fugitivo dos homens. Em resposta, porém, ouve-se no calabouço um clamor de gargalhadas e de apreensões. O homem da noite examina com as suas mãos o homem do dia e supõe descobrir a origem dos seus disparates, descrevendo coisas inverossímeis para ele, atribuindo aos seus olhos a causa da sua loucura, concluindo pela necessidade de se lhe arrancarem esses órgãos incômodos, como excrescências daninhas.” Crônicas de Além Túmulo – Humberto de Campos

A descrição de um mundo de cegos nos faz refletir sobre o mundo em que Públio vivia, o mundo em que Roma dominava, comandava, determinava. E ele, como senador, era partícipe direto destas ações. O que viam estes homens? Qual era a visão de Pilatos? Enquanto humanidade, não fomos capazes de reconhecer Jesus como o Mestre enviado por Deus para nos ser modelo e guia. Públio reconhecia que Jesus era um homem bom e agindo de acordo com seu entendimento, considerou tratar-se de um erro a morte que estavam imputando a Jesus. Porém, discordar não significa importar-se. Lívia importou-se. Arriscou sua reputação, procurou um homem que lhe ultrajava a condição de esposa fiel com galanteios inoportunos, sabendo-o como o homem com poderes para livrar Jesus da morte na cruz. Intercedeu por Jesus, pediu a Pilatos que o libertasse. Hoje estamos aptos a ver a cegueira espiritual de Públio, de Pilatos, e de tantos outros. A questão que se revela oportuna é também perguntarmos se já estamos aptos a ter a vista espiritual que Lívia tinha? Se Jesus estivesse hoje entre nós, estaríamos aptos a reconhecê-lo? Ouviríamos falar que ele andava com mulheres de conduta duvidosa, ele iria jantar em casa de homens que fazem má utilização do dinheiro público, seus amigos seriam pessoas pobres e humildes. Será que reconheceríamos Jesus?

Apenas um coração humilde é capaz de reconhecer Jesus. Aconselha-nos o Cura D’ars, no Evangelho Segundo o Espiritismo, que oremos assim: “Meu Pai, cura-me, mas faze que minha alma enferma se cure antes que o meu corpo; que a minha carne seja castigada, se necessário, para que minha alma se eleve ao teu seio, com a brancura que possuía quando a criaste.” Vivemos encarnados num mundo material de provas e expiações e muitas vezes agimos como se a verdade nos fosse algo simples e possível de ser alcançado com os recursos que temos. Este pensamento nos tem levado a equívocos, como levou a Públio e a tantos outros. Estar encarnado é vivenciar uma profunda e muitas vezes dolorida limitação. Precisamos de mais humildade para nos reconhecermos cegos a muitas e muitas verdades espirituais, sob pena de agirmos como os cegos que mandam arrancar os olhos do único homem que realmente enxergava.

Emmanuel, no livro Construção do Amor, nos fala um pouco mais sobre a cegueira:

A sombra nos olhos físicos pode ser angustiosa provação, mas, a cegueira real é aquela que envolve o coração e a mente, na noite da rebeldia ou da ignorância. É por isso que encontramos, no mundo, cegos de todos os matizes… Cegos cristalizados na usura, que nada enxergam, além do pobre tesouro amoedado, em que mergulham as mãos ávidas. Cegos detidos no egoísmo destruidor, que nada vêm senão os caprichos em que se movimentam. Cegos encarcerados no orgulho, supondo-se as únicas criaturas louváveis do Universo. Cegos algemados à viciação, em apagam a luz da própria consciência. Cegos agrilhoados à preguiça, que somente enxergam as suas conveniências individuais, invariavelmente dispostos a vampirizar os semelhantes, à custa de queixas e lamentações. Cegos atados à tristeza nociva, que menosprezam a graça do sol e as riquezas da vida, sustentando-se na imobilidade espiritual da revolta ou do desespero, olvidando que a vida é trabalho e renovação. Cegos confiados ao abismo da descrença, que nada observam senão os espinhos de sarcasmo e negação, que lhes vicejam no íntimo…

Para todos esses cegos que cruzam diariamente nossos passos elevemos ao Alto as nossas preces de auxílio, rogando ao Senhor nos mantenha acordados para as próprias responsabilidades, com a suficiente visão para o desempenho dos nossos deveres, ainda que esse despertamento nos visite, a cada hora, pela bênção edificante da dificuldade ou da dor.”

Depois que ficou cego, Públio Lentulus passou a refletir melhor sobre a vida, sobre a sua condição e aos poucos foi se apercebendo de sua cegueira espiritual. Vejamos um pequeno trecho do capítulo 09 da segunda parte: “Se eu tivesse aproveitado a exortação de Jesus naquele dia, talvez houvesse alijado mais de metade das provações amargas que a Terra me reserva... Se houvesse buscado compreender sua lição de amor e humildade, teria procurado André de Gioras, pessoalmente, reparando o mal que lhe havia feito, com a prisão do filho ignorante, demonstrando-lhe o meu interesse individual, sem confiar tão somente nos funcionários irresponsáveis que se encontravam a meu serviço... Guiado por esse interesse, teria encontrado Saul facilmente, pois Flamínio Severus seria, em Roma, o confidente dos meus desejos de reparação, evitando dessa maneira a dolorosa tragédia da minha vida paternal. Se houvesse entendido bastante a sua caridade, na cura de minha filha, teria conhecido melhor o tesouro espiritual do coração de Lívia, vibrando com o seu espírito na mesma fé, ou caindo juntamente com ela na arena ignominiosa do circo, o que seria suave, em comparação com as lentas agonias do meu destino; teria sido menos vaidoso e mais humano, se lhe houvesse entendido a preceito a lição de fraternidade...” Vemos hoje, em muitas casas espíritas espalhadas pelo país os trabalhos de cura sendo realizados, certamente um trabalho caridoso e de grande importância. Mas será que estamos desempenhando o mesmo esforço para que a alma adquira olhos de ver? Ao buscarmos a cura física apenas estamos repetindo os atos que nossos antepassados vieram nos dizer, através destes livros e ensinos, que é um equívoco. É preciso que busquemos acima de tudo a cura da alma, a cura de nossa cegueira espiritual, trabalhando nosso orgulho e egoísmo dia a dia, qual fosse uma grande pedra que esconde um diamante. Públio sofreu muito por causa de sua cegueira espiritual e olhar a sua vida é um convite ao aprendizado. Inspirar-se em Lívia é certamente adentrar num roteiro de paciência, abnegação e renúncia. Quando João escreveu o seu Evangelho e colocou no capítulo 09 a história da cura de um cego, trouxe-nos, também, esta reflexão, versículo 39: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos.” Públio eram um destes homens que achava que via, perdendo porém sua vista física e todas as vantagens do mundo físico, tornou-se apto a começar a vislumbrar as claridades celestiais.

Na próxima etapa iremos avançar um pouco mais nas similaridades do Evangelho de João, em especial a cura do cego narrada do capítulo 09, com a história de Públio Lentulus. Encerramos esta etapa, deixando a todos um texto de Emmanuel, com sábios conselhos, livro Fonte Viva:

Vê e segue “Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo.” (João, 9:25) Apesar de o trabalho renovador do Evangelho, nos círculos da consolação e da pregação, desdobrarse, diante das massas, semeando milagres de reconforto na alma do povo, o serviço sutil e quase desconhecido do aproveitamento da Boa Nova é sempre individual e intransferível. Os aprendizes da vida cristã, na atividade vulgar do caminho, desfrutam do conceito de normalidade, mas se não gozam de vantagens observáveis no imediatismo da experiência humana, quais sejam as da consolação, do estímulo ou da prosperidade material, de maneira a gravarem o ensinamento vivo de Jesus, nas próprias vidas, passam à categoria de pessoas estranha, muita vez ante os próprios companheiros de ministério. Chegado a semelhante posição, e se sabe aproveitar a sublime oportunidade pela submissão e diligência, o discípulo experimenta completa transposição de plano. Modifica a tabela de valores que o rodeiam. Sabe onde se ocultam os fundamentos eternos. Descortina esferas novas de luta, através da visão interior que outros não compreendem. Descobre diferentes motivos de elevação, por intermédio do sacrifício pessoal, e identifica fontes mais altas de incentivo ao esforço próprio. Em vista disso, freqüentemente provoca discussões acesas, com respeito à atitude que adota à frente de Jesus. Por ver, com mais clareza, as instruções reveladas pelo Mestre, é tido à conta de fanático ou retrógrado, idiota ou louco. Se, porém, procuras efetivamente a redenção com o Senhor, prossegue seguro de ti mesmo; repara, sem aflição e sem desânimo, as contendas que a ação genuína de Jesus em ti recebe de corações incompreensivos e estacionários, repete as palavras do cego que alcançou a visão e segue para diante. Que Jesus seja a claridade que nos permite a visão do mundo e de nossas vidas. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 04.12.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 9c

Agora compreendia aquele Cristo que viera ao mundo principalmente para os desventurados e tristes de coração. Antes, revoltava-se contra o Messias Nazareno, em cuja ação presumia tal ou qual incompreensível volúpia de sofrimento; todavia, chegava a examinarse melhor, agora, haurindo na própria experiência as mais proveitosas ilações. (...) Abismalmente concentrado na cegueira que o envolvia, orou com fervor, recorreu a Deus para que o não deixasse sem socorro, pediu a Jesus lhe clareasse a mente atormentada pelas ideias de angústias e desamparo.” Paulo e Estevão

O estudo em sua nona parte está alicerçado na perspectiva de que Públio Lentulus possuía uma cegueira espiritual e que um dos caminhos que o levaram a ver o mundo com mais clareza foi justamente a sua cegueira física. Fizemos este estudo na parte 03, que trata do encontro de Públio com Jesus, onde o Senador este diante do Mestre e não o reconheceu, não foi capaz de mudar o seu olhar, seu viver. O capítulo 03 do Evangelho de João trata da cura de um cego que ficava as margens de Betsaida aguardando a visita de um anjo que iria lhe curar. Também o capítulo 09 do Evangelho de João trata da cura de um cego e existem belíssimas relações que podemos fazer com o Senador Públio e sua trajetória espiritual. Faremos, desta feita, o caminho inverso. Partiremos do texto evangélico para o livro Há 2000 anos. Vejamos o Evangelho de João, cap. 9 (tradução Bíblia de Jerusalém):

Cura de um cego de nascença — 1 Ao passar, ele viu um homem, cego de nascença. 2Seus discípulos lhe perguntaram: "Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?" 3Jesus respondeu: "Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus. 4 É necessário realizarmos a obra daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. 5 Enquanto estiver no mundo, sou a luz do mundo. 6 Ao dizer estas coisas cuspiu na terra e fez barro com a saliva, e aplicou o barro sobre os olhos dele. 7 E disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloam, que interpretado é “Enviado”. Então, partiu, se lavou e voltou vendo.” (...) 01 – O cego de nascença

Se fizéssemos uma leitura literal, já de inicio teríamos dificuldade em relacionar este trecho com a vida de Públio Lentulus. Eis que este ficou cego em razão de uma ordem de André de Gioras a Marcos, que cegou o próprio pai. Porém, veremos que há um significado muito interessante por trás das palavras. D. A. Carson no livro O comentário de João, nos ensina: “Não se revela como se ficou sabendo que o homem era cego de nascença. Admitido o simbolismo do capítulo, é provável que esse detalhe, em adição ao realce do efeito do milagre, sinalize que os seres humanos sejam espiritualmente cegos desde o nascimento.” (...) Se os rabis afirmavam que não há morte sem pecado (B. Shabbath 55a; provado por uma referência a Ez 18.20), e não há sofrimento sem culpa (citando SI 89.32), Paulo, no Novo Testamento, sem dúvida concordaria (Rm 1-2; 3.10ss.).” Continua o autor dizendo que há quem discorde, porém, queremos aderir ao primeiro grupo, buscando a causa do sofrer. No início do livro Públio tem um sonho e encontra escritos de seu bisavô. Obtêm evidências fortíssimas de que teria sido ele mesmo, em outra encarnação, porém, rejeita a idéia e segue com a vida. Recordemos um trecho deste capítulo: “E ao meu coração desalmado não bastava o recolhimento dos inimigos aos calabouços infectos, com a consequente separação dos afetos mais caros e mais doces, da família. Ordenei a execução de muitos, na escuridão da noite, acrescendo a circunstância de que a muitos adversários políticos mandei arrancar os olhos, na minha presença, contemplando-lhes os tormentos com a frieza brutal das vinditas cruéis!... Ai de mim que espalhava a desolação e a desventura em tantas almas, porque, um dia, se lembraram de eliminar o verdugo cruel!” Vemos, assim, que o termo “de nascença” pode ser interpretado como um símbolo que nos remete a nossas cegueiras espirituais pretéritas, aos momentos em que, ainda em outras vidas, erramos, causando dor e sofrimento. O exemplo de Públio é muito oportuno e nos auxilia a entender o texto evangélico com maior amplidão, um ilumina o outro e nos permite aprender. Prosseguindo, veremos que o texto evangélico prossegue com um dizer muito interessante de Jesus que, novamente a primeira vista, parece contrapor a tudo o que escrevemos acima, vejam o versículo 3: “Jesus respondeu: "Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus.” Novamente recorremos a D. A. Carson para buscarmos um entendimento mais profundo deste versículo: “Embora Jesus não rejeite a conexão generalizada entre pecado e sofrimento, ele desaprova completamente uma universalização de conexões particulares. Nesse exemplo, ele insiste que nem o cego de nascença nem seus pais pecaram. Antes, isto aconteceu para que a obra de Deus [lit. ‘obras’] se manifestasse na vida dele.” Eis, então, uma lição de grande relevância para nós espíritas. Em geral, ficamos apenas com a primeira parte, justificando o sofrimento por uma falta antiga, fazendo assim de Deus, um

Deus vingativo, que pune. Mas Jesus nos ensina que estas coisas ocorrem “para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.” Não há sofrimento sem propósito, a dor vem as nossas vidas para que acertemos o passo e nos voltemos para a retidão, deixando o orgulho para trás. Não sofremos para pagar uma dívida, podemos resgatar nossos débitos através do amor e este sempre é o plano de Deus para nós, porém, não raro, rejeitamos o caminho do amor e necessitamos da dor para corrigir o nosso caminhar. Reconhecemos, assim, que a dor é permitida por Deus, nunca desejada. Tudo isto fica fácil de entender se olharmos para o exemplo de Públio, sabendo que ele mesmo reconhece o quanto as dores que enfrentou foram importantes para o seu entendimento. Vejamos um trecho do capítulo 09: “Sete anos de padecimentos infinitos na soledade dos meus olhos mortos, figuram-se-me sete séculos de aprendizado cruel e doloroso! Somente assim, porém, poderia chegar a entender a lição do Crucificado!” Públio teve vários convites amorosos para mudar sua vida, tornando ao caminho redentor que o Pai Criador lhe oferecia. Sonhou com sua vida pretérita, teve o amor de Lívia, encontrouse com Jesus que curou sua filha, novamente cruzou seu olhar com Jesus quando de sua crucificação, mas todos estes momentos não foram suficientes para tocar sua alma, eis, então, a escola da dor a lhe tocar a alma, ensinando as lições de que tanto necessitava para que a obra de Deus se realizasse em sua vida. Isto acontece conosco também, quando sofremos achamos que a lei de causa e efeito nos alcançou, esquecemo-nos, porém, que anterior a ela vem sempre a lei do amor e da misericórdia, que em Deus são infinitos. Públio compreendeu isto claramente: “A expiação não seria necessária no mundo, para burilamento da alma, se compreendessemos o bem, praticando-o por atos, palavras e pensamentos. Se é verdade que nasci condenado ao suplício da cegueira, em tão trágicas circunstâncias, talvez tivesse evitado a consumação desta prova, se abandonasse o meu orgulho para ser um homem humilde e bom.” 02 – “enquanto é dia” Esta expressão é usada por Jesus no versículo 04: “É necessário realizarmos a obra daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” Quando Públio encontrou-se com Jesus ele lhe disse algo que, sob as luzes do Evangelho, melhor compreendemos: “Fora melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da humildade...” Novamente, podemos ler apenas na literalidade, mas com as luzes do evangelho, podemos ver que Jesus dizia a Públio que ele podia procurá-lo enquanto ainda tinha o vigor da juventude, enquanto ainda podia ver e trabalhar. Em sua velhice, já cego, foi quando procurou Jesus e sentiu-lhe as vibrações, porém, neste momento já não tinha condições de trabalhar na

seara do Mestre, como nos diz o texto evangélico. E Públio sentiu esta dor, de ver o Mestre tardiamente: “Minha atual existência teria de ser um imenso rosário de infinitas amarguras, mas vejo tardiamente que, se houvesse ingressado no caminho do bem, teria resgatado um montão de pecados do pretérito obscuro e delituoso. Agora entendo a lição do Cristo como ensinamento imortal da humildade e do amor, da caridade e do perdão – caminhos seguros para todas as conquistas do espírito, longe dos círculos tenebrosos do sofrimento!” 03 – Uso da saliva e do barro Para curar o cego Jesus faz um unguento com saliva e barro. D. A. Carson nos traz algumas referências interessantes: ‘O homem cego, apresentado como o tema de um debate teológico, torna-se o objeto da misericórdia divina e o lugar de revelação’ (Barrett, p. 358). O uso de saliva faz lembrar a cura do surdo e mudo em Decápolis (Mc 7.33) e do cego em Betsaida (Mc 8.23). Nessas duas ocasiões, entretanto, a saliva foi, ao que parece, aplicada diretamente; aqui um emplastro de barro é feito com a saliva e aplicado aos olhos do homem. E extremamente difícil saber o que exatamente isso significa. Eruditos, com frequência, citam a opinião rabínica no sentido de que a saliva do primogênito de um pai tem propriedades curativas, mas não a saliva do primogênito de uma mãe (B. Baba Bathra 126b). (...)poucos pais da igreja viram aqui uma alusão a Gênesis 2.7: já que Deus fez os seres humanos do pó da terra, Jesus, em um ato de criação, usou um pouco de pó para fazer olhos que de outra forma estavam ausentes.” Continua o autor explicando o quanto é controversa a questão do uso da saliva, colocando como uma possibilidade o uso do símbolo por João para demonstrar uma contraposição – a saliva contamina, segundo os fariseus, os poderosos, porém, Jesus a usa para curar. Trazendo para a nossa realidade, podemos pensar que o que vemos como punição, Ele vê como oportunidade de cura e redenção. É muito interessante o cruzamento deste texto com a cura do cego de Betsaida. Para quem acompanhou o estudo da parte 03, lembrará o quanto o texto de João se relacionava com a cegueira espiritual de Públio. Teria João conhecido Públio? Poderia esta história ser a sua, contada através de símbolos? Sabemos, no livro 50 anos depois, que Públio retorna a vida como o escravo Nestório, nascendo em Cafarnaum e sendo evangelizado em sua infância pelo próprio João. Assim, apenas aventamos a possibilidade pelos muitos pontos em comum entre as histórias de Públio e do cego de Betsaida, como também do cego de nascença curado no capítulo 09 do Evangelho de João. Mais oportuno do que levantar este debate é aprendermos as lições e buscarmos a cura de nossa cegueira. Deixo apenas como referência, para futuros estudos. O fato de Jesus ter utilizado o barro para curar a cegueira, também nos traz uma bonita perspectiva. Adão foi criado do barro e era o modelo de homem que Deus criara para viver no paraíso, para ser feliz, para caminhar para a angelitude. Porém, este homem fraquejou, foi desobediente e afastou-se de Deus. Jesus veio para curar o homem, para fazê-lo retornar ao caminho de redenção e estar apto a adentrar novamente no paraíso, ou seja, no reino interior de harmonia e paz celestial. Públio está sendo preparado, está sendo curado. Assim, também, nós outros, que cedo ou tarde, deixaremos as vestes físicas, simbolizadas pelo barro, pelo pó, ao qual

retornaremos. Tenhamos sede destes ricos ensinamentos, deixemos o evangelho de Jesus ser a cura para nossos corações adormecidos, sejam, enfim, o novo homem. D. A. Carson: “Esse capítulo retrata o que acontece quando a luz brilha: alguns passam a ver, como esse cego de nascença, enquanto outros, que pensam que vêem, viram o rosto, cegados, por assim dizer, pela luz.” Resta-nos o questionamento: como reagimos ante as luzes do Evangelho? Ainda estamos cegos? Encerramos nossas reflexões com um trecho da lição 127 do livro Caminho, Verdade e Vida, de Emmanuel: “Os que vibram de coração voltado para o Evangelho são, efetivamente, emissários da Divina Lição entre os companheiros da vida material, onde quer que estejam, e bem aventurados serão todos aqueles que aproveitarem o dia generoso, realizando em si próprios e em derredor de seus passos as obras santificadas d’Aquele que os enviou. Jamais desdenhes, desse modo, a posição em que te encontrares. Busca valorizá-la, através de todos os meios ao teu alcance, a fim de que teu esforço seja uma fonte de bênçãos para os outros e para teu próprio círculo. Nunca te esqueças de aproveitar o tempo na aquisição de luz, enquanto é dia.”

Que Jesus nos conduza e nos cure. Abraços fraternos. Campo Grande-MS, 11.12.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 10a

“ Jesus ensinou em barcos emprestados, ensinou em bancos públicos, nas praças em que comparecia, nos montes, nos lares de companheiros… O Evangelho nos relata que, muitas vezes, ele ensinou na casa de Pedro, isto é, na casa de Pedro, por empréstimo… A única propriedade do Cristo foi a cruz — a cruz do Cristo foi a única propriedade de que ele foi o único dono. Não se fala de uma casa do Cristo, de um território do Cristo, mas a cruz do Cristo é muito recordada.” Chico Xavier

Iniciamos a última parte do estudo do livro Há 2000 anos, buscando as suas lições evangélicas. Novamente, utilizamos a busca de elementos em comum nos capítulos de número 10, proporcionando-nos a chance da observação de elementos que se modificam com o fator temporal e se ampliam no decorrer da vida de nossos queridos amigos. Sim, ouso chamá-los amigos, por que este estudo nos ensina a amá-los, com suas virtudes e desenganos, suas vidas sofridas nos ensinam e nos lembram, também em nosso cotidiano, do amor do Cristo Jesus e da necessidade de corrigirmos nosso caminhar. A cruz tornara-se o símbolo guardado com grande carinho pelos cristãos e é importante a referência que Emmanuel faz da diferença do significado, bem distinto do de hoje, daqueles tempos: “A cruz era objeto de toda a sua veneração e absoluto respeito, não obstante representar. Naquele tempo, o instrumento de punição para todos os criminosos e celerados.”

No capítulo 10, da primeira parte, Lívia e Ana refugiam-se na casa de Simeão, e ele lhes dá um presente como símbolo de afete e amizade, oferece-lhes a cruz com importante mensagem:

“Arrancando uma pequena cruz de madeira tosca das dobras da túnica humilde, entregou-a à esposa do senador, exclamando com voz serena: - Só Deus conhece o minuto que se aproxima, e esta hora pode assinalar os derradeiros momentos do nosso convívio na Terra. Se assim for, guardai esta cruz como recordação de um servo humilde... Ela traduz a gratidão do meu espírito sincero...”

A cruz que era um símbolo de morte para criminosos, para os piores criminosos, é transformada pelo Cristo Jesus, tornando-se símbolo de amor e gratidão. Diz-nos um amigo que a cruz é tal qual uma espada voltada para baixo, fincada no chão, estabelecendo para sempre que não serão as guerras, as disputas ou as lutas que mudarão o mundo. No livro Fonte Viva, Emmanuel comenta este aspecto da cruz:

“Cristo usa o fracasso aparente para ensinar o caminho da Ressurreição Eterna, demonstrando que o “eu” nunca se dirigirá para Deus, sem o aprimoramento e sem a sublimação de si próprio.”

Esta cruz, símbolo da amizade de Simeão e do amor do Cristo, acompanhou Lívia por muitos anos e Públio a acolheu, também, como símbolo de sua saudade e sua dor:

“- Onde está uma pequena cruz de madeira tosca, que minha mulher tanto venerava? - Ah! é verdade!... - exclamou a serva, satisfeita por observar a modificação daquela alma austera. E, retirando do seu quarto a modesta lembrança do apóstolo de Samaria, entregou-lha com reverência afetuosa. O senador, então, colocou-a num móvel secreto. Todavia, quem lhe acompanhasse a existência amargurada, poderia vê-lo, todas as noites, na solidão do seu aposento, junto do precioso símbolo das crenças da companheira.”

E para nós outros, qual a nossa cruz? Ela simboliza algo que devemos carregar em nosso coração, em nossa vida. Temos no Cristo o exemplo para o nosso caminhar? Lembramo-nos do seu calvário em nossas lutas cotidianas?

Seguindo um pouco a frente, indo para o capítulo 10 da segunda parte, veremos novamente este símbolo sendo usado em momento de angústia e sofrimento. Será o Senador Públio Lentulus, em Pompéia, nos instantes finais de sua vida que dela se recordará:

“- Ana, traze a cruz de Simeão e vamos à prece que te foi ensinada pelos discípulos do Messias!... Diz-me o coração que é chegado o fim da nossa romagem pela Terra!”

Como Simeão havia sentido a hora derradeira aproximar-se, também Públio identificou que chegavam seus momentos derradeiros, Pompéia na escuridão, o monte Vesúvio despejada cinzas sobre todos. E ficaram em prece. Pensemos, nós, em nossas vidas e nos minutos que se precipitam sem que muitas vezes tenhamos deles qualquer controle, e busquemos desde já a vivência cristã que ilumina e nos fortalece. Simeão desencarnou cercado de luz, de amor e de paz. Confiou a Jesus a sua vida e foi exemplo de amor na Terra.

Os tempos são difíceis e sem a fé e a esperança não iremos avançar. O Cristo nos exemplifica e nos convida a caminharmos com ele, ainda que seja relembrando a sua cruz, para que um dia adentremos num reino em que só precisaremos relembrar do seu amor, da sua paz e da sua luz.

Maria Dolores escreveu uma poesia que nos remete as lições deste maravilhoso símbolo, e é com ele que encerramos o estudo de hoje:

A ponte de luz

Terminara Jesus a prédica no monte; Nisso, o apóstolo Pedro se aproxima E diz-lhe: “Senhor, existe alguma ponte Que nos conduza ao Alto, ao Céu que brilha muito acima? Conforme ouvi de tua própria voz, Sei que o Reino do Amor está dentro de nós… Mas deve haver, no Além, o País da Beleza,

Mais sublime que o sol, em fulgor e grandeza… Onde essa ligação, Senhor, esse divino acesso?”

Jesus silenciou, como entrando em recesso Da palavra de luz que lhe fluía a jorro… Circunvagou o olhar pelas pedras do morro E, depois de comprida reflexão, Falou ao companheiro: — “Ouve, Simão, Em verdade, essa ponte que imaginas Existe para a Vida Soberana, Mas temos de atingi-la por estrada Que não é bem a antiga estrada humana.”

— “Como será, Senhor, esse caminho? Tornou Simão a perguntar. E Jesus respondeu sem hesitar: — “Coração que o escolha, às vezes, vai sozinho, E quase que não tem Senão renúncia e dor, solidão e amargura… E conquanto pratique e viva a lei do bem, Sofre o assédio do mal que o vergasta e procura Reduzi-lo à penúria e a desfalecimento.

Quem busca nesta vida transitória, Essa ponte de luz para a eterna vitória Conhecerá, de perto, o sofrimento E há de saber amar aos próprios inimigos, Não contará percalços nem perigos Para servir aos semelhantes, Viverá para o bem a todos os instantes E mesmo quando o mal pareça o vencedor, Confiando-se a Deus, doará mais amor… E ainda que a morte, Pedro, se lhe imponha, Na injustiça ferindo-lhe a vergonha, Aceitará pedradas sem ferir, Desculpará injúria e humilhação Se deseja elevar o coração À ponte para o Reino do Porvir…”

Alguns dias depois, o Cristo flagelado, Entregue à própria sorte Encontrava na cruz o impacto da morte, Silencioso, sozinho, desprezado… Terminada que foi a gritaria Da multidão feroz naquele dia,

Ante o Céu anunciando aguaceiro violento, Pedro foi ao Calvário, aflito e atento, Envergando disfarce… Queria ver o Mestre, aproximou-se Para sentir-lhe o extremo desconforto…

Simão chorou ao ver o amigo morto.

E ao fitá-lo, magoado, longamente Ele ouviu, de repente, Uma voz a falar-lhe das Alturas: — “Pedro, segue, não temas, crê somente!… Recorda os pensamentos teus e meus… Esta cruz que me arrasa e me flagela É a ponte que sonhavas, alta e bela, Para o Reino de Deus.

.Maria Dolores

No próximo estudo prosseguiremos nesta seara de reflexões evangélicas buscando as

belíssimas ligações com o evangelho de João.

Que Jesus nos conduza no caminho do amor e nos envolva em sua doce paz.

Campo Grande – MS, 17.12.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 10b

O capítulo 10 da primeira parte nos traz os bastidores de um momento de grande valor evangélico do livro, qual seja o estudo realizado por Simeão, sua percepção de que seus tempos eram chegados e sua fé e esperança de que estaria com Jesus, nos remetem a uma pessoa de grande luz, amigo de Lívia, parente de Ana, Simeão nos ensinará no estudo de hoje. Vejamos a prece que realizou: “- Senhor, perdoai nossas fraquezas e vacilações nas lutas da vida humana, onde os nossos sentimentos são bem precários e miseráveis!... Abençoai nosso esforço de cada dia e relevai as nossas faltas, se algum de nós, que aqui nos reunimos, vem à vossa presença com o coração saturado de pensamentos que não sejam os do bem e do amor que nos ensinastes!... E, se chegada é a hora dos sacrifícios, auxiliai-nos com a vossa misericórdia infinita, a fim de que não vacilemos em nossa fé, nos dolorosos momentos do testemunho!...” Uma prece que revela uma alma humilde, que se reconhece carecedora da misericórdia divina. Uma alma que roga que a verdade lhe seja revelada, acaso seus olhos estejam fechados para o bem e o amor. Estes dois pontos me chamaram muito a atenção, guardemo-os por hora, iniciando, desde já, a reflexão: Como temos orado a Jesus? Estamos prontos para a corrigenda dos nossos desenganos? Reconhecemo-nos com humildade, criaturas falíveis? Alcemos voo para o capítulo 10 da segunda parte, onde encontraremos Lívia acompanhando os momentos derradeiros da vida de Públio Lentulus. Há também uma prece, belíssima, cheia de sentimentos nobres e elevados que Livia, em espírito, faz por seu amado. Teriam estas preces algo em comum, que nos auxiliasse em nossos estudos? Vejamos: “- Jesus, meigo e divino Mestre - esta hora angustiosa é bem um símbolo dos nossos erros e crimes, através de avatares tenebrosos; mas, vós, Senhor, sois toda a esperança, toda a sabedoria e toda a misericórdia!... Abençoai nossos espíritos neste momento ríspido e doloroso!... Suavizai os tormentos da alma gêmea da minha, concedendo-lhe neste instante o alvará da liberdade!... Aliviai, magnânimo Salvador do mundo, todas as suas magoas pungentes, suas desoladoras amarguras!... Concedei-lhe repouso ao coração angustiado e dolorido, antes do seu novo regresso à trama escura das reencarnações no planeta do exílio e das lágrimas dolorosas... Ele já não é mais, Senhor, o vaidoso déspota de outrora, mas um coração inclinado ao bem e â piedade pregados pela vossa doutrina de amor e redenção; sob o peso das provações amargas e remissoras, seus pendores se espiritualizaram a caminho da vossa Verdade e da vossa Vida!...” Os elementos da prece de Lívia assemelham-se ao de Simeão, pressentindo sua hora derradeira: A humildade e a fé na misericórdia divina. Nada temos a oferecer a Deus, senão a nossa gratidão por tudo que Ele realiza por nós e para nós, não obstante, o homem orgulhoso acredita ter algo de si mesmo. Esquecendo-se de sua

condição de homem falho, arvoramo-nos na falsa crença de que há em nós algum valor ou alguma verdade. Caminhamos sempre, eis a lei divina. Seja pelo amor ou pela dor, iremos avançar. A questão é que saibamos que existe uma luz iluminando nosso caminhar. Nosso orgulho, tão bem exemplificado por Públio, nos torna cegos. Públio passaria dias em escuridão após o desencarne. Eis um trecho do livro que nos noticia isto: “Numerosas legiões de seres espirituais volitaram por vários dias, nos céus caliginosos e tristes de Pompeia. Ao cabo de longas perturbações, Públio Lentulus e filhos despertaram, ali mesmo, sobre o túmulo nevoento da cidade morta.” Não obstante a dor e a luta de Públio, a prece de Lívia foi ouvida e houve um espírito que foi ao seu encontro para lhe auxiliar. O relato deste trabalho espiritual de resgate de Públio Lentulus está no livro Colheita do Bem, psicografia de Chico Xavier, pelo espírito de Artur Joviano. “(...) Quando o senador romano desencarnou extremamente desiludido em Pompéia, foi contemplado com os favores do sublime convertido. Paulo sempre se consagrou às grandes inteligências afastadas do Cristo, compreendendo-lhes as íntimas aflições e o menosprezo injusto de que se sentem objeto, no mundo, ante os religiosos de todos os matizes, quase sempre especializados em regras de intolerância. Amparado pelo apóstolo dos gentios, conseguiu Públio Lentulus transitar nas avenidas obscuras da carne, em existências várias, até encontrar uma posição em que pudesse servir ao divino Mestre com o valor e com o heroísmo daquela que lhe fora companheira no início da era cristã.” (Continua o autor contando-nos que foi na encarnação de Manoel da Nóbrega, aqui no Brasil, que Públio Lentulus finalmente sentiu-se em paz e redimido, integrado à seara do Cristo.)

Percebemos assim que Emmanuel não falava apenas de um grande trabalhador do Cristo quando escreveu o romance Paulo e Estevão, mas de um benfeitor de sua alma, de um amigo que lhe amparou e o acompanhou durante os séculos para que alcançasse a sua redenção. Retornando a prece de Simeão e de Lívia, temos uma terceira prece que nos permite vislumbrar como o espírito de Públio estava sendo transformado e, aos poucos, ia abrindo-se para o amor de Jesus: “Públio, então, ajoelhou-se e, banhado em lágrimas, concentrou o coração em Jesus numa rogativa ardente e silenciosa... Ali, na soledade da sua alma intrépida e sincera, apresentava ao Cordeiro de Deus o seu arrependimento, suas esperanças para o porvir, suas promessas de fé e de trabalho para os séculos porvindouros!...” Reconhecemos, também, na prece de Públio os elementos imprescindíveis para a corrigenda necessária de nossos espíritos, ainda tão arraigados no orgulho e no egoísmo, ei-lo humilde e cheio de esperança e fé nos dias vindouros.

O capítulo 10 do Evangelho de João inicia com um texto falando que Jesus é um bom pastor, comparando o mestre ao pastor de ovelhas que a todas cuida com amor e zelo, não deixando que nenhuma delas se perca. Novamente, percebemos as luzes que o Evangelho lança sobre as lições que buscamos e que temos encontrado reiteradamente, capítulo a capítulo. Jesus foi ao encontro de Públio de várias formas e em momentos distintos, não obstante as recusas reiteradas de Públio em relação ao evangelho do Cristo, este nunca lhe abandonou ou deixou-lhe seguir sem que o buscasse resgatar de seus desenganos. Esta certeza deve nos alcançar também, para que tenhamos a convicção de que não estamos sozinhos no mundo, nem estão sozinhos ou abandonados, não obstante suas faltas, aqueles a quem amamos profundamente. A todos Jesus lança seu olhar de amor e misericórdia, esperando o tempo em que as sementes lançadas atravessem as barreiras do orgulho para finalmente florescer. Encerramos assim, mais esta lição, como a brincar com os números, eis que o versículo é de número 10, que consta também no capítulo 10 do Evangelho de João, comentado por nosso querido Emmanuel, no livro Palavras da Vida Eterna:

"Vim para que tenhais vida e vida em abundância." - Jesus (João, 10:10) Existimos. Existem todas as criaturas saídas do Hálito Criador. A pedra existe, a planta existe, o animal existe... Existem almas nos passos diversos da evolução. Em sentido espiritual, no entanto, viver é algo diferente de existir. A vida é a experiência digna da imortalidade. Há muita gente que se esfalfa, perdendo saúde e possibilidades em movimento vazio, quando não se mergulha nas tramas do mal, entretecendo reencarnações dolorosas. Há muita gente que destrói o próprio cérebro, escrevendo sem proveito, quando não expressa o pensamento para inspirar negação e crueldade, entrando em sofrimentos reparadores. Há muita gente que aniquila as horas, falando a esmo, quando não se utiliza do verbo para ferir e enlouquecer os semelhantes, adquirindo débitos escabrosos. Há muita gente que pede essa ou aquela concessão para frustrá-la em atividades sem sentido, quando não a maneja em prejuízo dos outros, criando lágrimas que empregará longo tempo para enxugar. Todos esses agentes da inutilidade e da delinqüência existem como todos nós existimos. Observa, assim, o que fazes. O berço confere a existência, mas a vida é obra nossa.

Seja a nossa prece um hino de humildade, fé e esperança. Saibamo-nos filhos do Pai Maior que a todos, indistintamente, ama e perdoa. Que saibamos nos abster de julgamentos, uma

vez que nos reconheceremos como criaturas falíveis e em constante melhoria. Públio trilhou um caminho de muitas lutas, desenganos. Fechou-se em um mundo rígido, duro, inflexível, e sofreu muito por isto. Lívia foi um exemplo de perdão, renúncia, abnegação e não obstante todas as suas lutas e dores, nunca lhe faltou uma voz amiga, como a de Ana, companheira de muitas vidas. Permaneceram com humildade e esperança em seus corações, convidando-nos, nestes tempos duros de transição planetária, a também nós outros seguirmos com humildade, fé e esperança nas promessas do Cristo Jesus. Abraços fraternos. Campo Grande-MS, 25.12.2015. Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Parte 10c (parte final)

“Se

nos propormos ao serviço do Divino Mestre, descortinemos a Ele o próprio coração, a fim de que os seus desígnios imperem sobre o nosso roteiro e para que a nossa vida seja uma luz brilhante para quantos caminham conosco, onde estivermos.” Emmanuel

O tom do estudo de hoje é de despedida. Depois de meses em que nos debruçamos sobre a vida de Públio Lentulus, eis chegada a hora de fechar as páginas do livro para refletir e buscar o estudo não mais nas letras, mas em nossas vidas, em nossos labores diários, laboratório divino das lições que nos foram oferecidas. Desde a primeira vez que li o livro o exemplo de Lívia me emocionou profundamente. Levei-a comigo e muitas e muitas vezes me reportava ao seu exemplo de fé e retidão para prosseguir no que entendia correto e justo. Mas Lívia é sempre um exemplo longínquo de nossa capacidade moral, assim, foi em Públio que fui identificando minhas grandes necessidades de transformação moral. Sua vida é uma grande escola para todos aqueles que querem trabalhar para Jesus em sua seara de amor e de perdão. Navegar por estas lições com o amparo do Evangelho de João nos causou imensa surpresa. Conciliar as lições do primeiro capítulo do livro com o primeiro capítulo do Evangelho foi, para nós, uma mera coincidência, mas o processo seguiu, capítulo a capítulo e nos rendemos ao processo intuitivo que nos chegava de forma clara e luminosa. A perspectiva do paralelismo é riquíssima e temos consciência que as palavras apenas tomam a forma de quem as inspira, nada mais que isto. Assim, guardo a firme convicção de que as estruturas paralelas encontradas nos textos bíblicos podem ser utilizadas nestes romances por um fato simples: procedem da mesma fonte: procedem das esferas crísticas que acompanham nosso processo evolutivo e nos assistem para que trilhemos o caminho redentor. Guardamos no coração a certeza de que caminhamos pelo mundo assistidos por um amor paciente, benigno, que nos espera em sua seara do bem. Jesus é nosso Pastor, ou nas palavras dos espíritos, nosso modelo e guia. A vida de um senador romano que tornou-se um dos maiores e mais lúcidos conhecedores do Evangelho que temos dentro da doutrina espírita, Emmanuel, é, certamente, motivo de grande esperança a nós outros que ainda transitamos nas esferas escuras da Terra. Encerro assim, o estudo do livro Há 2000 anos com o firme propósito de a ele retornar em momento futuro, uma vez que minha capacidade de extrair suas lições evangélicas ainda é

diminuta, mas pela bondade de Jesus, se alargará com o passar do tempo que a todos educa e transforma. Agradeço a todos os que se dispuseram a ler e acompanhar as reflexões produzidas semana a semana. Meu sentimento é de grande alegria, de completar uma tarefa e de compartilha-la desinteressadamente com quem queira aventurar-se pelo mundo onde transitam as lições evangélicas. Um mundo que vai muito além da ciência que busca a verdade histórica, ou do pensador que busca suas filosofias, para nós, este livro traz um mundo de riquezas evangélicas, de boas notícias para nossas vidas ainda tão conturbadas nas lutas diárias. Assim, como o fizemos em todos os nossos estudos, deixamos a palavra final ao nosso querido João Evangelista, um pequeno trecho retirado do Cap. 10 de seu evangelho e comentado por Emmanuel, a quem nos tornamos devedores pelo imenso aprendizado e por todo amor que sentimos ao escrever estes estudos. Não contei as lágrimas, mas saibam que não houve um só estudo em que elas não estiveram presentes, por que este estudo não é apenas um exercício da razão, mas sobretudo é um desejo do coração que necessita das luzes de Jesus para guiar-se nas trevas de si mesmo.

Livro O ESPÍRITO DA VERDADE, lição 74, Que ovelha somos? “Eu sou o bom pastor e conheço as minhas ovelhas e das minhas sou conhecido.” – Jesus (João, 10: 14) “O pastor atento se identifica com o rebanho de tal maneira, que define de pronto qualquer das ovelhas mantidas a seu cuidado. Conhece as mais ativas. Descobre as indiferentes. Nomeia as retardatárias. Registra as que lideram. Classifica a lã que venha a produzir. Tudo faz, em favor de todas. Por sua vez, as ovelhas, pouco a pouco, percebem, dentro da limitação que as caracteriza, o modo de ser do pastor que as dirige. Habituam-se aos lugares que lhe são prediletos. Respeitam-lhe os sinais. Acatam-lhe as ordens. Reconhecem-lhe o poder diretivo, sem confundir-lhe a presença. Na imagem, temos a divina missão do Cristo para conosco. O Pastor Compassivo conhece cada uma das ovelhas do redil humano, tudo fazendo para guiá-las ao campo da Luz Celeste. Incentiva as indiferentes. Acalma as impetuosas.

Fortalece as mais fracas. Apoia as mais responsáveis. Sopesa o valor de todas, segundo as peculiaridades e tendências de cada uma. E, de igual modo, as ovelhas do rebanho terrestre, gradativamente, vêm a conhecer e a sentir a existência abençoada do Bom Pastor. Entendem-lhe os ensinamentos e admoestações. Reverenciam a excelência do seu Amor. Confiam serenamente em sua Misericórdia. Esposam-lhe os ideais e buscam corresponder-lhe à vontade, destacando-o, nos quadros da vida, por Intermediário do Pai Excelso. Desse modo, cabe-nos atender ao chamamento do Mestre, melhorando as condições da vida, no mundo, com base em nossa própria renovação. Nesse programa de luta, vale indagar de nós mesmos: – Que ovelha somos? E com semelhante pergunta, busquemos na disciplina, ante o Cristo de Deus, a nossa posição de servidores do bem, na certeza de que a humildade conferir-nos-á sintonia com o Divino Pastor, para que, sublimando e servindo, atinjamos com Ele o Aprisco Celeste na imortalidade vitoriosa.” Emmanuel

Sigamos em frente, encerramos uma tarefa, mas outra já se apresenta, com imensa luz para o nosso caminhar. Estudaremos na sequência o livro 50 anos depois, que nos traz Emmanuel em sua vida subsequente, como o escravo Nestório. Que Jesus nos guie, hoje e sempre. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 31.01.2016.

Estudo Há 2000 anos – Curiosidades (01)

Prosseguindo nossos estudos, adentraremos nos capítulo s de número 2, primeira e segunda parte. Antes, porém, veremos uma informação importante que consta no capítulo 2 dá primeira parte e que nos traz uma importante lição. Após a ordem de prisão de Saul, eis que havia atirado um pedra em Lívia, Públio Lentulus é procurado por André de Gioras, que pede clemência ao senador para com seu filho: “- Ilustríssimo senador, sou André, filho de Gioras, operário modesto e paupérrimo, não obstante numerosos membros de minha família terem atribuições importantes no Templo e no exercício da Lei. Ouso vir até vós, reclamando o meu filho Saul, preso, há três dias, por vossa ordem e remetido diretamente para o cativeiro Perpétuo das galeras... Peço-vos clemência e caridade na reparação dessa sentença de terríveis efeitos para a estabilidade da minha casa pobre... Saul é o meu primogênito e nele deponho toda a minha esperança paternal... Reconhecendo-lhe a inexperiência da vida, não venho inocentá-lo da culpa, mas apelar para a vossa clemência e magnanimidade, em face da sua ignorância de rapaz, jurando-vos, pela Lei, encaminhá-lo doravante pela estrada do dever austeramente cumprido...” Publio permanece intransigente e nega o pedido de André. Há uma frase de André de Gioras que merece a nossa atenção: “- Mas, senhor, eu sou pai... - Se o és, porque fizeste de teu filho um vagabundo e um inútil? - Não posso compreender os motivos que levaram meu pobre Saul a comprometerse dessa maneira, mas, juro-vos que ele é o braço-forte dos meus trabalhos de cada dia.” A lei divina nos aconselha perdoar, a usarmos de benevolência, e quando não o fazemos, iremos necessitar de um aprendizado, atraindo para a nossa vida situações semelhantes, porém, em situações inversas, a fim de que nosso espírito aprenda a conduzir-se de acordo com a vontade do Pai Maior. Não se trata de um mero ajuste de contas, mas de um aprendizado para que aquela ação no mal jamais se repita.

Assim, quando Públio negou um pedido justo de um pai sofredor, atrai para a sua vida futura situações que lhe possibilitariam um aprendizado sobre este fato. Não se trata da lei de talião (olho por olho, dente por dente), mas de situações que acontecerão em nossa vida em razão de ações que praticamos e que visam nosso aprendizado, bem como a reparação dos males partiram de nosso querer ou de nosso agir. O próprio Emmanuel é quem nos ensina em trecho do livro Fonte Viva: “Todo dia é tempo de semear. Todo dia é tempo de colher. Não é preciso atravessar a sombra do túmulo para encontrar a justiça, face a face. Nos princípios de causa e efeito, achamo-nos incessantemente sob a orientação dela, em todos os instantes de nossa vida.” Assim, Publio semeou...e será Nestório, sua encarnação seguinte, que atravessará pelo momento da colheita. No livro 50 anos depois, conta-nos que Públio reencarna como Nestório, agora escravo cristão. Nestório era pai de Ciro e ambos foram presos e condenados a morte, martirizados juntamente com os cristãos de outrora. Não havia crime ou má conduta, a condenação era por serem cristãos. A noticia de que Nestório e Ciro estavam presos faz com que Helvídio vá até a prisão falar com Nestório. Frisa-se que Helvidio tinha grande consideração por Nestório, fora ele quem o libertara, acolhendo como fiel e dedicado servidor. Não obstante sua afeição por Nestório, odiava Ciro. Há um diálogo entre Helvídio e Nestório que abaixo transcrevemos: “- Entretanto, senhor, sou pai e, como pai, sou ainda muito humano! Não vos interesseis por mim, imprestável e doente, para quem a condenação à morte pela causa de Jesus deve representar uma bênção divina!. . Mas, se vos for possível, salvai meu filho, de modo que ele viva para vos servir!. . (...) - Agora, senhor, sei de todo o pretérito amargurado e doloroso e lamento o proceder de meu filho na vossa casa de Antipátris! . . Mas peço-vos perdão para as inquietudes da sua mocidade ! . . . Meu pobre Ciro obedeceu à impulsividade do coração, sem dar ouvidos ao raciocínio, com que se deveria aconselhar, mas, na amargura destas masmorras sombrias, deu-me a sua palavra de que, se volver à liberdade, nunca mais erguerá os olhos para a criança adorável, que é um arcanjo do céu no âmbito do vosso lar... Se assim o exigirdes, senhor, Ciro poderá

sair de Roma para sempre, de maneira a nunca mais vos perturbar a felicidade doméstica! .” O mesmo pedido que outrora, em outra vida, André de Gioras havia feito para Publio, agora, como Nestório, era quem o fazia. Sou pai, sou ainda muito humano... Mas o fim não precisava ser o mesmo, Helvídio poderia ter sido clemente, poderia ter-lhes auxiliado. Mas o orgulho falou mais alto e o ciclo de dor prosseguiu. Se hoje nos é possível ver este e outros retratos de como a lei de causa e efeito age em nosso caminhar, consequência lógica é que aceitemos o convite de um melhor viver. Primeiramente semeando o bem, o amor, o perdão, a todos os que cruzem nosso caminho. De igual forma, percebendo que determinadas situações nos acontecem e a nós é feito o convite de resignação e aprendizado, eis que é a lei que atraímos para as nossas vidas que nos chama a refletir e a melhorar. Assim, a todo mal que nos aconteça, que possamos refletir agradecidos por não sermos mais a mão que açoita, nem a palavra que fere. Emmanuel foi de grande bondade nos trazendo exemplos tão ricos de suas vidas, cabe a cada um de nós identificarmos as situações correlatas em nossas vidas a fim de que possamos encerrar os ciclos de dor e sofrimento através de condutas reiteradas no bem. Estamos prontos? Certamente, nesta hora todos pensamos que a teoria é mais fácil que a prática, e certamente o é. Eis o motivo de nossas diversas vidas, com suas experiências reiteradas. O próximo passo, então, seria avançarmos um pouco e de forma corajosa verificarmos o que ainda nos impede de seguirmos este caminho proposto pelo Cristo. Quais são os fatores que nos impedem de termos atitudes caridosas, benevolentes para com o próximo? Recordemos que Públio precisava afirmar sua posição de senador, não queria sua autoridade questionada. Eis a grande chaga, o egoísmo, o pensar em si mesmo em seu bem estar em detrimento dos que nos cercam e cruzam nosso caminho. Qual a importância de uma afirmação de autoridade ante a dor de um pai que clama por seu filho? Quais os valores de nossa sociedade ante a situações semelhantes? Se pensarmos bem, não mudamos tanto assim.

Urge que possamos refletir! Não o outro, não meu irmão, mas a mim é feito o convite: onde o egoísmo ainda impera e ordena ações em desacordo com o evangelho? Temos por hábito encerrar nossos estudos com uma reflexão de Emmanuel, e hoje não será diferente, apenas a fonte, o local de onde retiramos o estudo será diferente, eis que não será de uma das valorosas obras do Chico. Eis nosso benfeitor, partícipe da codificação, a nos ensinar sobre o egoísmo. E não são letras teóricas, são palavras de quem viveu e venceu. Para minha, para nossa reflexão, Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XI, item 11: O EGOÍSMO 11. O egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta. Ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-la ascender na hierarquia dos mundos. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem. Digo: coragem, porque dela muito mais necessita cada um para vencer-se a si mesmo, do que para vencer os outros. Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é o causador de todas as misérias do mundo terreno. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens. Jesus vos deu o exemplo da caridade e Pôncio Pilatos o do egoísmo, pois, quando o primeiro, o Justo, vai percorrer as santas estações do seu martírio, o outro lava as mãos, dizendo: Que me importa! Animou-se a dizer aos judeus: Este homem é justo, por que o quereis crucificar? E, entretanto, deixa que o conduzam ao suplício. É a esse antagonismo entre a caridade e o egoísmo, à invasão do coração humano por essa lepra que se deve atribuir o fato de não haver ainda o Cristianismo desempenhado por completo a sua missão. Cabem-vos a vós, novos apóstolos da fé, que os Espíritos superiores esclarecem, o encargo e o dever de extirpar esse mal, a fim de dar ao Cristianismo toda a sua força e desobstruir o caminho dos pedrouços que lhe embaraçam a marcha. Expulsai da Terra o egoísmo para que ela possa subir na escala dos mundos, porquanto já é tempo de a Humanidade envergar sua veste viril, para o que cumpre que primeiramente o expilais dos vossos corações. – Emmanuel. (Paris, 1861.) Que o Pai Maior nos auxilie a um caminhar cristão a fim de que deixemos definitivamente o egoísmo e o orgulho de nossos corações serem erradicados pelo amor.

Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 19.06.2015 Candice Günther

Estudo Há 2000 anos – Curiosidades (02)

Ao iniciarmos o estudo deste livro de Emmanuel, noticiamos que iríamos buscar suas lições evangélicas com as luzes do Evangelho de João. Nossa justificativa foi simples, Nestório (50 anos depois), uma das encarnações de Emmanuel, conheceu João em sua infância, disse que recordava-se de suas lições e, pela proximidade destes dois espíritos ao longo dos tempos, entendemos ser uma boa opção a escolha deste evangelho. Assim como optamos pelo Evangelho de Lucas ao estudar o livro Paulo e Estevão, e o Evangelho de Mateus ao estudarmos o livro Renúncia. Para nossa surpresa, porém, as lições do Evangelho de João foram se encaixando de forma ímpar ao livro Há 2000 anos, capítulo a capítulo, fomos alcançando aprendizados e entendimentos muito profundos ao estudarmos as lições das recordações de Emmanuel como o Senador Públio, sob as luzes do Evangelho de João. Surgiu-nos, então, uma informação que pareceu instigante e nos levou a investigamos com maior profundidade. Vejam: o evangelho de João é, segundo estudiosos, dividido em 4 partes principais: (https://www.paulinas.org.br/sab/pt-br/?system=paginas&action=read&id=1720 ) Bodas de Caná – Jo 2,1-11 Cura do filho do funcionário real – Jo 2,46-54 Cura de um paralítico – Jo5,1-18 Livro dos Sinais

Multiplicação dos Pães – Jo 6,1-15 Jesus anda sobre o mar – Jo 6,16-21 Cura do cego de nascença – Jo 9,1-41 Ressurreição de Lázaro – Jo 11,1-44 Livro da Comunidade – 13 a 17

Livro da Glorificação

Livro da Paixão – 18 a 19 Cenas da Ressurreição – 20,1-29 Conclusão – 20,30-31

Prólogo

Jo 1,1-18

Epílogo

Jo 21,1-23 e Conclusão 21,24-25

Há uma intenção de João ao organizar o livro desta forma, mais ainda, há uma inspiração. O mundo necessita ser evangelizado, aprender sobre a vida do Mestre a fim de que esteja apta a seguir-lhe os passos. Mas João vai além, aprofunda, nos fala de alguém que ama profundamente, quer que, como ele, também sejamos amigos de Jesus. O prólogo, apresentado como uma música, ou poesia, nos traz Jesus presente desde os primórdios, desde os tempos da criação, relatada também em poesia no livro de Genesis. E mais, nos traz o livro Comentários Bíblico, que ele apresenta, já em seu início o paralelismo, conforme gráfico abaixo:

O prólogo nos é apresentado como uma síntese do que João quis nos apresentar quando escreveu o evangelho, em 10 etapas, como no livro Há 2000 anos, em 10 capítulos, primeira e segunda parte. Temos, na sequência, o livro dos sinais. João, ao contrário dos outros evangelistas, opta pelo termo sinais em vez de milagre. Para que precisamos de sinais? Pensemos em um exemplo bem simples: os sinais de trânsito. Eles nos indicam caminhos, o que podemos ou não fazer em determinados locais, enfim, eles nos permitem transitar pelo caminho de forma organizada e segura. O mesmo conceito vale para os sinais que João apresenta? Seriam os sinais, também um caminho, um roteiro para olharmos o Cristo e entendermos sua vinda amorosa, pacífica e que nos infunde profunda esperança? E qual seria a intenção de Emmanuel ao escrever o livro Há 2000 anos? Retornemos ao prefácio do livro: "Agora verificareis a extensão de minhas fraquezas no passado, sentindo-me, porém, confortado em aparecer com toda a sinceridade do meu coração, ante o plenário de vossas consciências. Orai comigo, pedindo a Jesus para que eu possa completar esse esforço, de modo que o plenário se dilate, além do vosso meio, a fim de que a minha confissão seja um roteiro para todos." Segundo consta no livro Os Evangelhos II, João e Lucas, Editora Loyola, Fabris, o livro dos sinais apresenta : “a história de Jesus que se revela a si mesmo e ao Pai para o povo, mediante sinais, e é recusado.” E esta frase me remeteu novamente ao prefácio: "Algum dia, se Deus mo permitir, falar-vos-ei do orgulhoso patrício Públio Lentulus, a fim de algo aprenderdes nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata.” Públio também recusou, ao menos quase até o final de sua vida, a boa nova de Jesus. Feitas estas considerações, estamos aptos a realizar outra pergunta: Os 07 sinais que João apresentou em seu evangelho encontram momentos similares no livro Há 2000 anos? Podemos verificar uma convergência de intenções de Emmanuel ao escrever o livro e de João ao escrever o evangelho? Inspirados por quem? Vamos ao trabalho! São 7 os sinais escolhidos por João: 1 - Bodas de Caná. João 2,1-11 2 - Cura de um filho de um funcionário real. João 4, 46-54

3 - Cura de um enfermo na piscina de Betesda. João 5,1-18 4 - Multiplicação dos pães. João 6, 1-15 5 - Caminha sobre o mar. João 6, 16-21 6 - Cura do cego de nascença. João 9,1-41 7 - Ressurreição de Lazaro. João 11,1-44 (Textos bíblicos retirados da Tradução de Haroldo Dutra Dias)

PRIMEIRO SINAL Bodas de Caná. João 2,1-11 Em resumo, poderíamos dizer que o texto nos informa de quando Jesus comparece a festa de um amigo, ao seu casamento. É constatada a ausência do vinho e procuram Maria, ela lhes diz para fazerem tudo o que Jesus disser. Ele, por sua vez, manda que coloquem água nas talhas e fala para os servos levarem ao Mestre-sala, para surpresa dos servos, a água fez-se vinho. Eu gostaria de destacar três elementos do texto – o primeiro é o valor que Jesus demonstra à amizade, ao afeto sincero, a segunda, a tranformação da água em vinho e a terceira o casamento. Vejamos um trecho do livro Comentários Bíblico, sobre esta passagem: “...o significado é múltiplo, mas concentra-se em um único ponto fundamental: a chegada do novo tempo messiânico por intermédio de Jesus. (...) mudar a água veterotestamentária em vinho messiânico assinala para João a passagem do velho para o novo.” João irá demonstrar que o Cristo inaugura para a humanidade nova era, um novo homem começa a ser criado, tendo como modelo e guia, Jesus. Encontramos no livro Há 2000 anos, logo em seu primeiro capítulo, intitulado “A conversa de dois amigos”, Públio Lentulus relatando a sua apreensão em decorrência de um sonho e da descoberta das semelhanças de sua vida com a de seu bisavô, perguntando ao amigo se seria possível ser verdadeira a teoria das diversas vidas. São os amigos que nos socorrem e nos auxiliam em nossa jornada espiritual. Assim como Jesus foi ao casamento de um amigo querido, Públio também encontrava em Flamínio amparo para suas dúvidas e porto seguro para suas confissões. É interessante, também, pensarmos que ao sonhar com a vida antiga Publio é levado aos seus guias espirituais e convidado a seguir uma nova vida, a ser um novo homem: “- Públio Lentulus, a justiça dos deuses, na sua misericórdia, determina tua volta ao turbilhão das lutas do mundo, para que laves as nódoas de tuas culpas nos prantos remissores. Viverás numa época de maravilhosos fulgores espirituais, lutando com todas as situações e dificuldades, não obstante o berço de ouro que te receberá ao renasceres, a fim de que edifiques tua consciência denegrida, nas dores que purificam e regeneram!... Feliz de ti se bem souberes aproveitar a oportunidade bendita da reabilitação pela renúncia e pela humildade...” O homem velho é convidado a tornar-se novo, a água poderá ser transformada em vinho.

Por fim, encontramos a presença do casamento em ambos. João escolhe esta festa para iniciar a demonstração dos sinais de Jesus. Certamente o casamento nos é fonte de aprendizado e grande oportunidade de aprendermos a vivenciar o evangelho. E tinha uma simbologia tão profunda para os antigos, que a aliança do povo judeu com Deus era representada por um casamento, onde Deus era o noivo e o povo de Israel, a noiva. Para Públio, em especial, seria a vida de renúncia e amor de Lívia que tocaria o seu coração em profundidade, permitindo que o evangelho de Jesus o alcançasse: “Lívia seguirá contigo pela via dolorosa do aperfeiçoamento, e nela encontrarás o braço amigo e protetor para os dias de provações ríspidas e acerbas.” Este foi o primeiro sinal do Evangelho que traz profunda relação com a primeira notícia no livro Há 2000 anos de que Públio estava sendo conduzido para, nesta vida, retomar o curso de sua jornada, na seara do Cristo.

SEGUNDO SINAL Cura de um filho de um funcionário real. João 4, 46-54 Em resumo, Jesus é procurado por um oficial (ou centurião), rogando-lhe ajuda para o filho que padecia em Cafarnaum. Jesus o alerta sobre o fato de crer apenas quando vê sinais. Diz-lhe, ainda, que retorne ao lar, o filho estava vivo. Este também seria o segundo sinal para o espírito de Públio Lentulus. Se o primeiro foram seus sonhos e as recordações de uma vida anterior de erros, chamando-o a renovar-se. Nesta segunda etapa ele ouviria uma história similar, também de um filho de um centurião que é curado.Vejamos um trecho: “Não sei se conheceis Copônio, velho centurião destacado na cidade a que me referi, mas cumpre-me cientificar-vos do fato por mim observado. Depois que a voz do profeta de Nazaré havia deixado uma doce quietude na paisagem, o meu conhecido apresentou-lhe o filhinho moribundo, implorando caridade para a criança que agonizava. Vi-o elevar os olhos radiosos para o firmamento, como se obsecrasse a bênção dos nossos deuses e, depois, notei que suas mãos tocavam o menino, que, por sua vez, parecia haver experimentado um fluxo de vida nova, levantando-se de súbito, a chorar e buscando o carinho paterno, após descansar no profeta os olhinhos enternecidos...” A medida que vamos avançando neste estudo comparativo, é necessário que estejamos aptos a abrir nossos corações, pois se João trilhou este caminho que identificamos também na vida de Públio, olhemos para o nosso caminho e roguemos ao Pai que nos auxilie a identificar os momentos que fomos chamados a mudança, chamados a nos aproximarmos do Pai e o rejeitamos. Quais são os nossos sinais? Sigamos em frente. TERCEIRO SINAL Cura de um enfermo na piscina de Betesda. João 5,1-18

Em resumo, este terceiro sinal nos apresenta a história de um homem que há 38 anos frequentava a piscina de Betesda, onde aguardava a visita anual de um anjo que movimentava as águas, aquele que primeiro se banhasse seria curado. Tivemos a oportunidade de estudar este texto na etapa de número 5b, onde vislumbramos que os aspectos espirituais narrados no Evangelho de João são profundamente similares aos do encontro de Públio com Jesus, as margens do lago de Genesaré. Recordemos alguns trechos: Há 2000 anos – conversa de Jesus com Públio As águas (...) Das águas mansas do lago de Genesaré parecialhe emanarem suavíssimos perfumes, casando-se deliciosamente ao aroma agreste da folhagem.

A espera Dando curso às idéias que lhe fluíam da mente incendiada e abatida, Públio Lentulus considerou dificílima a hipótese do seu encontro com o mestre de Nazaré. Como se entenderiam?

A pergunta Públio Lentulus não teve dificuldade em identificar aquela criatura impressionante, mas, no seu coração marulhavam ondas de sentimentos que, até então, lhe eram ignorados. (...) Lágrimas ardentes rolaram-lhe dos olhos, que raras vezes haviam chorado, e força misteriosa e invencível fê-lo ajoelhar-se na relva lavada em luar. Desejou falar, mas tinha o peito sufocado e opresso. Foi quando, então, num gesto de doce e soberana bondade, o meigo Nazareno caminhou para ele(...)Senador, porque me procuras?

O doente - Fora melhor que me procurasses publicamente e na hora mais clara do dia, para que pudesses adquirir, de uma só vez e para toda a vida, a lição sublime da fé e da humildade... Mas, eu não vim ao mundo para derrogar as leis supremas da Natureza e venho ao encontro do teu coração desfalecido!...

Evangelho de João 5:1-12 (Bíblia de Jerusalém) “1Depois disso, por ocasião de uma festa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém. Existe em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, uma piscina que, em hebraico, se chama Betesda, com cinco pórticos.” (Betesda significa Casa de Misericórdia)

Sob esses pórticos, deitados pelo chão, numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos ficavam esperando o borbulhar da água. 4Porque o Anjo do Senhor descia, de vez em quando, à piscina e agitava a água; o primeiro, então, que aí entrasse, depois que a água fora agitada, ficava curado, qualquer que fosse a doença.

Encontrava-se aí um homem, doente havia trinta e oito anos. 6Jesus, vendo-o deitado e sabendo que já estava assim havia muito tempo, perguntou-lhe: "Queres ficar curado?"

O relato de João diz que a cura foi realizada num sábado e segunda a lei dos judeus não era permitido trabalhar no sábado. (“Os judeus, por isso, disseram ao homem curado: "É sábado e não te é permitido carregar teu leito".)

Lívia - Sim... não venho buscar o homem de Estado, superficial e orgulhoso, que só os séculos de sofrimento podem encaminhar ao regaço de meu Pai; venho atender às súplicas de um coração desditoso e oprimido e, ainda assim, meu amigo, não é o teu sentimento que salva a filhinha leprosa e desvalida pela ciência do mundo, porque tens ainda a razão egoística e humana; é, sim, a fé e o amor de tua mulher, porque a fé é divina... O chamado Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns milênios...

8Disse-lhe

9Imediatamente

o homem ficou curado. Tomou o seu leito e se pôs a andar. Ora, esse dia era um sábado. (A conversa do paralítico com Jesus deu-se perto da “Porta das Ovelhas”.)

das Tomou o seu leito e se pôs a andar.

Públio não reconhece Jesus`como seu salvador Deveria ele, então, abandonar as suas mais caras tradições de pátria e família para tornar-se um homem humilde e irmão de todas as criaturas? Sorria consigo mesmo, na sua presumida superioridade (...)

Cap. 5 – segunda parte

Jesus: "Levanta-te, toma o teu leito

e anda!"

Jesus – Pastor de Ovelhas Soa para teu espírito, neste momento, um minuto glorioso, se conseguires utilizar tua liberdade para que seja ele, em teu coração (...)Pastor das almas humanas, desde a formação deste planeta, há muitos milênios venho procurando reunir as ovelhas tresmalhadas, tentando trazer-lhes ao coração as alegrias eternas do reinado de Deus e de sua justiça!

Retorno ao lar Agora, volta ao lar, consciente responsabilidades do teu destino...

Respondeu-lhe o enfermo: "Senhor, não tenho quem me jogue na piscina, quando a água é agitada; ao chegar, outro já desceu antes de mim".

Ele respondeu: "Aquele que me curou, disse: 'Toma o teu leito e anda!' " 12Eles perguntaram: "Quem foi o homem que te disse: 'Toma o teu leito e anda'?" 13Mas o homem curado não sabia quem fora. Jesus havia desaparecido, pois havia uma multidão naquele lugar.

O Reencontro Na plenitude de suas lembranças, pareceu 14Depois disso, Jesus o encontrou no Templo e ouvir ainda as extraordinárias advertências lhe disse: "Eis que estás curado; não peques que lhe dirigira com a voz carinhosa e mais, para que não te suceda algo ainda pior!" compassiva, junto às águas marulhentas do 15O homem saiu e informou aos judeus que Tiberíades. Recordando-se intensamente de fora Jesus quem o tinha curado. Jesus, sentiu-se tomado por uma vertigem de lágrimas dolorosas, as quais, de alguma forma, lhe balsamizavam o deserto do coração. Ajoelhando-se sob a fronde opulenta e generosa, qual o fizera um dia na Palestina, exclamou para os céus, com os olhos marejados de pranto, lembrando-se da força moral que a doutrina cristã havia proporcionado ao coração da esposa, nutrindo-a espiritualmente para receber com dignidade e heroísmo todos os sofrimentos: - Jesus de Nazaré! disse com voz súplice e dolorosa - foi preciso perdesse eu o melhor e o mais querido de todos os meus tesouros, para recordar a concisão e a doçura de tuas palavras!... Não sei compreender a tua cruz e ainda não sei aceitar a tua humildade dentro da minha sinceridade de homem, mas, se podes ver a enormidade de minhas chagas, vem socorrer, ainda uma vez, meu coração miserável e infeliz!...

O terceiro sinal certamente foi algo muito forte na vida de Públio e principalmente para seu espírito imortal. Ninguém sai indiferente depois de ter estado na presença do Mestre Jesus, ainda que tente, ainda que se engane, a semente foi lançada e aguardará o solo fértil para frutificar. Caminhemos para o quarto sinal.

QUARTO SINAL Multiplicação dos pães. João 6, 1-15

Trata-se de uma história bem conhecida de todos nós. Jesus falava e as multidões o seguiam. Em certo dia não tinham como alimentar a todos e de um cesto com poucos pães e poucos peixes, os discípulos retiraram o alimento para todos os presentes. Também encontramos a narrativa deste sinal no livro Há 2000 anos: “A hora ia adiantada e alguns apóstolos do Senhor resolveram trazer alguns pães aos mais

necessitados de alimento. Dois grandes cestos de merenda frugal foram trazidos, mas os ouvintes eram em demasia numerosos. Jesus, porém, abençoou-lhes o conteúdo e, como num suave milagre, a escassa provisão foi partida em pequenos pedaços, que foram religiosamente distribuídos por centenas de pessoas. Lívia recebeu igualmente a sua parte e, ao ingeri-la, sentiu um sabor diferente, como se houvera sorvido um remédio apto a lhe curar todos os males da alma e do corpo, porque uma certa tranquilidade lhe anestesiou o coração flagelado e desiludido.” Lívia alimentara-se do pão da vida, que sacia toda fome e doravante seu coração estava integralmente preparado para auxiliar a Públio, a ser-lhe um farol nas trevas em que o Senador teimava em estar: “Ela notou-lhe a exacerbação de ânimo, mas, ao contrário de outras vezes, parecia inteiramente preparada para vencer as mais tremendas lutas do coração, porque, com serenidade imperturbável, o encarou face a face, enfrentando-lhe o olhar suspeitoso. Afiguravase-lhe que a flor de eterna paz espiritual lhe desabrochara no íntimo, ao suave calor das palavras do Cristo, porquanto lhe parecia haver atingido o terreno, até então desconhecido, de serenidade estranha e superior.” Avancemos.

QUINTO SINAL 5 - Caminha sobre o mar. João 6, 16-21 “Quando chegou o fim da tarde, os seus discípulos desceram para o mar. Ao entrarem no barco, foram para Cafarnaum, do outro lado do mar, já havia treva e Jesus ainda não viera até eles. E o mar se agitava, porque um grande vento soprava. Então, tendo remado cerca de vinte e cinco ou trinta estádios, observavam Jesus, caminhando sobre o mar e chegando perto do barco, e temeram. Ele lhes diz: “Sou eu. Não temais. Então queriam recebê-lo no barco, o barco logo chegou na terra, para a qual estavam indo.” Há também uma tempestade acontecendo na vida de Públio Lentulus, narrada no capítulo 6 da segunda parte e que, também, já foi objeto de nosso estudo. Lívia tornara-se cristã e é levada ao martírio. Mas a quem Públio irá recorrer? Como ele ouvirá de Jesus: “Não temais.”? Ao final do capítulo seis há uma belíssima mensagem de Jesus aos que fizeram a travessia do mar terrestre adentrando na pátria celestial, grifo um trecho que vai ao encontro com este quinto sinal apresentado por João: “As impiedades terrestres formarão pesadas nuvens de dor que rebentarão, no instante oportuno, em tempestades de lágrimas na face escura da Terra e, então, das claridades da minha misericórdia, contemplarei meu rebanho desditoso e direi como os meus emissários: "Ó Jerusalém, Jerusalém?..." (…)"Mas Nosso Pai, que é a sagrada expressão de todo o amor e sabedoria, não quer se perca uma só de suas criaturas, transviadas nas tenebrosas sendas da impiedade!...”

Também nós, em nossa jornada, atravessamos tempestades, problemas que nos são apresentados e do qual, muitas e muitas vezes não temos a solução. Já paramos para olhar estas situações como um sinal? Já somos capazes de identificarmos que quando chega a tempestade chega também o convite: “Não temais?”

SEXTO SINAL 6 - Cura do cego de nascença. João 9,1-41 Este trecho do evangelho relata a cura de um cego por Jesus, gostaria de grifar um versículo, o de número 39: “E Jesus disse: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos.” Publio ficou cego ao final de sua vida e, no encontro com sua filha Flávia, lhe diz algo de muito valor que nos mostra a grande ligação com o texto evangélico: “- Filha, não te dês ao trabalho de conjeturar a fundo os problemas do destino. Em todos os acontecimentos da vida temos de louvar os soberanos desígnios dos céus e espero que te encorajes de novo, porque somente assim viverei agora, junto de ti, em consolação afetuosa e recíproca! Foi o próprio destino que me afastou compulsoriamente das lides do Estado, a fim de viver doravante somente por ti.” Necessitamos tratar da nossa cegueira espiritual que avança e nos faz caminhar neste mundo acompanhados do orgulho, da vaidade, tal qual o Senador, há 2000 anos. Mas Públio foi curado e hoje é nosso querido benfeitor Emmanuel, que trouxe luzes através dos livros psicografados por Chico Xavier. Este é o sexto sinal, e podemos compará-los tal qual fosse a primeira semana da criação. Desta forma, é no sexto dia que o homem é criado, porém, o evangelho de João nos quer ensinar que com o Cristo Jesus aprenderemos a plenitude de nossa humanidade. É também nesta etapa que surge um novo homem em Públio que se tornará nosso amado Emmanuel, trabalhador incansável do Cristo e que nos ensina com muita clareza as letras do evangelho. Tornou-se cego para as glórias de outrora, precisou despojar-se de todo o seu orgulho e eis que nasceu um novo homem que se revelará no sétimo dia. E o sétimo sinal? Onde o encontraremos?

SÉTIMO SINAL 7 - Ressurreição de Lazaro. João 11,1-44 Lázaro estava enfermo e foi dado como morto por seus familiares, dentre eles, suas irmãs, Marta e Maria. Jesus vai até eles e Lázaro vive novamente. Sem adentrarmos nos detalhes de um texto que possui muitos símbolos e também causa muita polêmica, cabe-nos inferir que

havia morte e Jesus trouxe vida, esta é a mensagem principal, e ele o diz: “E todo o que vive e crê em mim jamais morrerá, por todo sempre. Crês nisto?”(versículo 26) Públio, nos momentos derradeiros de sua existência compreendeu a mensagem do Cristo e não o fez com palavras ou sentimentos, mas com um gesto que demonstra a sua total entrega a mensagem salvadora do Cristo, renasceu, foi nova criatura: “Foi então que Públio Lentulus, abandonando todas as tradições de orgulho e vaidade, sentiu que no íntimo dalma brotava uma fonte de linfa cristalina. Copiosas lágrimas desceram-lhe às faces rugosas e macilentas, das órbitas sem expressão, dos olhos mortos e, como se desejasse fitar o inimigo com os olhos espirituais, a fim de mostrar-lhe a sua comiseração, exclamou em voz firme: - Estais perdoado... (...) Em meditações profundas e dolorosas, pôde então compreender que Lívia vivera para Deus e ele para César, recebendo ambos compensações diversas na estrada do destino. E enquanto o jugo de Jesus fora suave e leve para sua mulher, seu altivo coração estava preso ao terrível jugo do mundo, sepultado nas suas dores irremediáveis, sem claridade e sem esperanças.” Doravante, Públio não mais viveu esquecido das verdades imorredouras do Cristo Jesus, sua alma caminharia agora, eternamente, em direção ao Pai Celestial. Sete sinais, um caminho que João nos ensina, que Publio viveu e que hoje temos a oportunidade de ver e aprender. Que Jesus nos cure a cegueira espiritual e nos permita adentrarmos em seu reino de paz e amor. Que tenhamos a coragem da reflexão para identificarmos também em nossas vidas o chamado do Pai Celestial para que nos tornemos novas criaturas, mais amorosas e fraternas, seguindo o nosso modelo e guia, o Cristo Jesus. Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 09.10.2015. Candice Günther

Estrada da Caridade no livro Há 2000 anos

Roma, seus governantes, seus senadores, construíram muitas estradas a fim de que seu intuito implantar a Pax Romana em todos os povos fosse viável. Paulo utilizou-se de sua cidadania romana para viajar livremente por estas estradas levando o evangelho ao mundo. Emmanuel também construiu suas estradas, mas através de palavras. Sim! Palavras-chaves que nos indicam trechos de grande importância, revelando outros aspectos dos romances que não raro nos passam desapercebidos. Já escrevemos em outra oportunidade sobre a Estrada do Perdão no livro Paulo e Estevão. A palavra perdão aparece 21 vezes no livro e para entender suas lições, fizemos um contraponto com o Cap. X do Evangelho Segundo o Espiritismo que, não por coincidência, possui 21 itens. No livro Renúncia, também já tivemos a oportunidade de trilhar uma belíssima estrada, através da palavra Misericórdia que aparece 28 vezes no livro, desta feita fizemos um contraponto com o Cap. V do Evangelho Segundo o Espiritismo. E os textos se complementam, o evangelho ilumina o romance e muito nos ensina. Pois bem, são 5 os romances e, creio eu, esta possibilidade está nos 5. Iremos através deste estudo estudar mais uma estrada, agora no livro Há 2000 anos. Na introdução, Emmanuel nos fala de seus sentimentos ao relatar uma de suas vidas passadas "Algum dia, se Deus mo permitir, falar-vos-ei do orgulhoso patrício Publio Lentulus, a fim de algo aprenderdes nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata.” O orgulho foi um grande entrave nesta experiência encarnatória de Emmanuel e qual a mais sublime forma de trabalharmos o nosso orgulho? No Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos um norte: “O Cristo foi o iniciador da mais pura, da mais sublime moral, da moral evangélico-cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações a caridade e o amor do próximo e estabelecer entre os humanos uma solidariedade comum; de uma moral, enfim, que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos

que hoje a habitam.” Emmanuel foi tocado pelo amor, e aos poucos foi permitindo que a caridade brotasse em seu coração...vejamos, então, a Estrada da Caridade. A palavra CARIDADE aparece 14 vezes no livro Há 2000 anos e em cada uma de suas aparições vemos momentos importantes na vida dos personagens, para iluminarmos as lições do livro, vamos acompanhar estes trechos da estrada usando o Cap. XV do ESE, que possui 10 itens.

Primeiro Trecho - Cap. XV ESE 1. Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no trono de sua glória; – reunidas diante dele todas as nações, separará uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas – e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo; – porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; – estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver. Então, responder-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? – Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? – E quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? – O Rei lhes responderá: Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes. Dirá em seguida aos que estiverem à sua esquerda: Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi preparado para o diabo e seus anjos; – porquanto, tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber; precisei de teto e não me agasalhastes; estive sem roupa e não me vestistes; estive doente e no cárcere e não me visitastes. Também eles replicarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome e não te demos de comer, com sede e não te demos de beber, sem teto ou sem roupa, doente ou preso e não te assistimos? – Ele então lhes responderá: Em verdade vos digo:

todas as vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo. E esses irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna. (S. MATEUS, 25:31 a 46.)

Primeiro Trecho Há 2000 anos - Ilustríssimo senador, sou André, filho de Gioras, operário modesto e paupérrimo, não obstante numerosos membros de minha família terem atribuições importantes no Templo e no exercício da Lei. Ouso vir até vós, reclamando o meu filho Saul, preso, há três dias, por vossa ordem e remetido diretamente para o cativeiro Perpétuo das galeras... Peço-vos clemência e caridade na reparação dessa sentença de terríveis efeitos para a estabilidade da minha casa pobre... Saul é o meu primogênito e nele deponho toda a minha esperança paternal... Reconhecendo-lhe a inexperiência da vida, não venho inocentá-lo da culpa, mas apelar para a vossa clemência e magnanimidade, em face da sua ignorância de rapaz, jurando-vos, pela Lei, encaminhá-lo doravante pela estrada do dever austeramente cumprido... Comentário – O filho de André de Gioras estava preso a mando de Publio Lentulus, quando estavam chegando na cidade, Saul jogou uma pedra em Lívia. A pena imposta pelo Senador foi dura e severa, afinal, ele precisava demonstrar o poder ao chegar em sua nova residência. Mas movido por orgulho, ele não retrocedeu aos chamados para abrandar a pena e isto trouxe duras consequências para ele e sua família, como se vê mais adiante no livro. Tentou, dias depois, libertar Saul, instado por sua consciência de que fora muito severo em sua sentença, porém, já era tarde, o jovem havia fugido. Quantas vezes em nossas vidas temos a oportunidade de fazer o bem e adiamos. Quantas vezes somos chamados a sermos indulgentes e nosso orgulho nos encaminha para atitudes severas e duras. Eis amigos, o primeiro trecho, um convite a caridade, um chamado de Jesus a Publio.

Segundo trecho do Cap. XV do ESE 2. Então, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para o tentar: Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna? – Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na lei? Que é o que lês nela? – Ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo como a ti mesmo. – Disse-lhe Jesus: Respondeste muito bem; faze isso e viverás. Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a Jesus: Quem é o meu próximo? – Jesus, tomando a palavra, lhe diz: Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram,cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. – Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. – Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. – Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. – Aproximouse dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. – No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar. Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões? – O doutor respondeu: Aquele que usou de misericórdia para com ele. – Então, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. (S. LUCAS, 10:25 a 37.)

Segundo Trecho do livro Há 2000 anos. Não sei se conheceis Copônio, velho centurião destacado na cidade a que me referi, mas cumpre-me cientificar-vos do fato por mim observado. Depois que a voz do profeta de Nazaré havia deixado uma doce quietude na paisagem, o meu conhecido apresentou-lhe o filhinho moribundo, implorando caridade para a criança que agonizava. Vi-o elevar os olhos radiosos para o firmamento, como se obsecrasse a bênção dos nossos deuses e, depois, notei que suas mãos tocavam o menino, que, por sua vez, parecia haver experimentado um fluxo de vida nova,

levantando-se de súbito, a chorar e buscando o carinho paterno, após descansar no profeta os olhinhos enternecidos... Comentário Publio ouviu a narrativa sobre as curas que Jesus estava realizando, ouviu também sobre o sentimento que causava nas pessoas, sobre sua mansidão e seu imenso amor. Jesus tornava-se o próximo de todos que dele se aproximavam, independente de qualquer característica ou circunstância, ele foi a personificação do amor. Quantas vezes nós já ouvimos falar de Jesus? Há quantas vidas o evangelho bate a nossa porta e nós permanecemos indiferentes, não levando-o para a nossa vida cotidiana, para as nossas ações em relação aos que nos cercam? Eis o segundo trecho, mais um chamado ao coração do Publio, que estava de portas cerradas para a boa nova de Jesus.

Terceiro Trecho do Cap. XV do ESE 3. Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade: Bemaventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos;amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa decombater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura. No quadro que traçou do juízo final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que é apenas figura, alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de compreender as questões puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens materiais chocantes e próprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que dizia, tinha mesmo de não se afastar

muito das idéias correntes, quanto à forma, reservando sempre ao porvir a verdadeira interpretação de suas palavras e dos pontos sobre os quais não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade reservada ao justo e da infelicidade que espera o mau. Naquele julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não; inquire tão-somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que crê de outro? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.

Terceiro Trecho do livro Há 2000 anos - Não esquecerei vossas ordens e espero que possais ir até à casa de Simão para visitá-lo, antes de vos retirardes destes lugares... Ainda hoje - prosseguiu em tom confidencial - devo encontrar na cidade o velho tio Simeão, que veio de Samaria especialmente para receber a sua bênção e os seus ensinos. Não sei se a senhora sabe que entre os samaritanos e os galileus há rixas muito antigas; mas o Mestre, muitas vezes, nas suas lições de amor e fraternidade, tem louvado os primeiros pela sua caridade leal e sincera. Numerosos milagres já foram efetuados por ele, na Samaria, e meu tio é um desses beneficiados que hoje virá receber a bênção de suas mãos consoladoras!... Comentário

Primeiramente é interessante observar esta referência a Samaria, pois é justamente do que trata este texto do ESE que explicando a parábola do Bom Samaritano a luz da doutrina espírita nos amplia a vista para o entendermos. No trecho do livro Há 2000 anos, Lívia é apresentada ao cristianismo e sua alma acostumada a caridade e ao amor ao próximo não tem dificuldades em entender a boa nova e a abraça-la como doutrina consoladora. Vemos um contraponto entre a resistência de Públio e a docilidade de Livia ao evangelho. E, sem querer nos adiantarmos demais, será justamente a postura caridosa de Lívia para com a intransigência de Publio, que promoverá em seu espírito a mudança derradeira. Quando Kardec nos ensina que fora da caridade não há salvação, recordemos de Lívia, que não apenas salvou-se, mas pela caridade que emanava de seu coração, a muitos conduziu a salvação. A lição também é convite para que nos mantenhamos persistentes no evangelho e em sua proposta de amor, paciência, perseverança. Inspiremo-nos nestes exemplos sublimes, como Livia o foi.

Quarto Trecho do Cap. XV do ESE 4. Mas, os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, se reuniram; – e um deles, que era doutor da lei, foi propor-lhe esta questão, para o tentar: – Mestre, qual o grande mandamento da lei? – Jesus lhe respondeu: Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. – Esse o maior e o primeiro mandamento. – E aqui está o segundo, que é semelhante ao primeiro: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. – Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos. (S. MATEUS, 22: 34 a 40.)

Quarto Trecho Há 2000 anos - Senhora, Deus abençoe os vossos bons propósitos. Em Cafarnaum, os meus parentes são muito pobres e muito humildes, mas vossa figura está ali no santuário da gratidão de todos, bastando uma palavra vossa para que se ponham à vossa disposição, como escravos.

- Para mim não existe fortuna que se iguale a essa, da paz e do sentimento. Não procurarei o profeta para solicitar-lhe atenções especiais, porque basta a sua

caridade, no caso de minha filha, hoje sadia e forte, graças à sua piedade de justo, mas tão somente para buscar conforto ao meu coração dilacerado.

Comentário Belíssimo é ler este trecho em que Livia fala da maior fortuna, auxiliar as pessoas sob as luzes do Evangelho, nos ensinando o maior mandamento, amar ao próximo como a si mesmo. Quantos de nós buscamos um templo religioso no intuito de receber as benesses de paz, fraternidade e harmonia. Mas, quão poucos são os que também oferecem os braços para o trabalho, buscando o serviço na seara do Cristo. Novamente é Livia quem personifica o exemplo, a lição. Não procurou Jesus para buscar atenções especiais, buscou o conforto de estar na sua presença e de sentir o seu amor. Sentimo-nos assim? Temos no Cristo um amigo que nos consola ante as duras

Quinto trecho do Cap. XV do ESE 5. Caridade e humildade, tal a senda única da salvação. Egoísmo e orgulho, tal a da perdição. Este princípio se acha formulado nos seguintes precisos termos: “Amarás a Deus de toda a tua alma e a teu próximo como a ti mesmo; toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” E, para que não haja equívoco sobre a interpretação do amor de Deus e do próximo, acrescenta: “E aqui está o segundo mandamento que é semelhante ao primeiro”, isto é, que não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar o próximo, nem amar o próximo sem amar a Deus. Logo, tudo o que se faça contra o próximo o mesmo é que fazê-lo contra Deus. Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.

Quinto trecho do livro Renúncia - Então, não é licito esperarmos nenhuma providência mais a beneficio desse homem caridoso e justo, condenado como vulgar malfeitor? Será ele, então, crucificado pelo crime de praticar a caridade e plantar a fé no coração dos seus semelhantes, que ainda não sabem adquiri-la por si próprios? - Infelizmente, assim é... - replicou Pilatos, contrafeito. – Tudo fizemos a fim de evitar os desatinos da plebe amotinada, mas os meus escrúpulos não conseguiram vencer, sendo obrigado a confirmar a pena de Jesus, a contragosto. Comentário Pilatos era um homem poderoso, a mais alta personalidade de sua época, no entanto, como o vemos hoje? Quais as vibrações que seu espírito recebe todas as vezes que se estuda a história da crucificação de Jesus? A máxima apresentada: “Fora da caridade não há salvação” nos convida a uma vida diferente, buscando o norte para nosso agir no amor ao próximo. Nossas chagas, o orgulho e o egoísmo, ainda estão presentes em demasia na humanidade. Pilatos representa bem isso. Estejamos atentos para que amanhã não sejamos nós a sermos olhados da forma como hoje olhamos este homem que teve em suas mãos a vida do governador do orbe e, ainda sim, manteve seu coração fechado, trancafiado pelo orgulho e o egoísmo.

Sexto trecho do Cap. XV do ESE NECESSIDADE DA CARIDADE, SEGUNDO S. PAULO 6. Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; – ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto detransportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. – E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo

isso de nada me serviria. A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; – não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê,tudo espera, tudo sofre. Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade (S. PAULO, 1ª Epístola aos Coríntios, 13:1 a 7 e 13.)

Sexto trecho Há 2000 anos Uma brisa suave parecia amenizar as úlceras que o libelo do esposo lhe abrira no coração. Uma voz, que lhe falava aos refolhos mais íntimos da consciência, lembrou-lhe ao espírito sensível que o Mestre de Nazaré também era inocente e expirara, naquele dia, na cruz, sob os insultos de algozes impiedosos. E ele era justo, bom e compassivo. Daqueles a quem mais havia amado, recebera a traição e o abandono na hora extrema do testemunho e, de quantos havia servido com a sua caridade e o seu amor, tinha recebido os espinhos envenenados da mais acerba ingratidão. Ante a visão dos seus martírios infinitos, Lívia consolidou a sua fé e rogou ao Pai Celestial lhe concedesse a intrepidez necessária para vencer as provações aspérrimas da vida.

Comentário Lívia suportou em silêncio, por 25 anos, o distanciomento e frieza de Públio, ante a falsa notícia de que lhe havia traído. E mais uma vez vemos o quão belo é confrontar estes trechos do Evangelho com a Estrada da Caridade. Neste sexto trecho, o evangelho nos lembra da poesia que Paulo escreveu quando estava em Corinto, cidade de Abigail, que já havia desencarnado, mas com toda certeza o inspirou a estas belas letras. Livia, por sua vez, personifica este amor resignado que “tudo suporta, tudo crê,tudo espera, tudo sofre”.

Lembremos deste sublime exemplo em nossos relacionamentos afetivos, não trocando a felicidade do espírito pela suposta alegria de uma vida passageira. Tenhamos a coragem moral de suportar amorosamente as desditas que sofremos, tal como Lívia, lembrando do exemplo sublime de Jesus que na ora derradeira esteve só.

Sétimo trecho do Cap. XV do ESE 7. De tal modo compreendeu S. Paulo essa grande verdade, que disse: Quando mesmo eu tivesse a linguagem dos anjos; quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios; quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. Dentre estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade, a mais excelente é a caridade. Coloca assim, sem equívoco, a caridade acima até da fé. É que a caridade está ao alcance de toda gente: do ignorante, como do sábio, do rico, como do pobre, e independe de qualquer crença particular. Faz mais: define a verdadeira caridade, mostra-a não só na beneficência, como também no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.

Sétimo trecho Há 2000 anos Simeão, que ali vivia sem a companheira que Deus já havia levado e sem os filhos que, por sua vez, já haviam constituído família, em aldeias distantes, assumia a direção de todos, como patriarca venerável na sua calma senectude, relatando os fatos da vida de Jesus como se a inspiração divina o bafejasse em tais instantes, tal a profunda beleza filosófica dos comentários e das preces improvisadas com a amorosa sinceridade do seu coração. Quase todos os presentes, naquela mesma poesia simples da Natureza, como se estivessem ainda bebendo as palavras do Mestre junto do Gerizim, choravam de comoção e deslumbramento espiritual, tocados pela sua palavra profunda e

carinhosa, magnetizados pela formosura das suas evocações saturadas de ensinamentos raros, de caridade e meiguice. Comentário Simeão era um homem simples. Publio, um senador, homem estudado. Ambos, porém, com infinitas possibilidades ante a vida, porém, é necessário reconhecer que Simão soube melhor aproveitá-la, fez da caridade o seu condutor e mesmo em seu ambiente simples e pobre, onde vivia, abraçava e consolava os corações que o procuravam. Forçoso é que pensemos nós como estamos nos colocando diante do mundo? Temos humildade, nos reconhecendo como pessoas falhas e carecedoras da bondade do Cristo? Onde estão depositadas nossas esperanças? No amor do Cristo ou nas honrarias humanas?

Oitavo trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo 8. Enquanto a máxima – Fora da caridade não há salvação – assenta num princípio universal e abre a todos os filhos de Deus acesso à suprema felicidade, o dogma – Fora da Igreja não há salvação – se estriba, não na fé fundamental em Deus e na imortalidade da alma, fé comum a todas as religiões, porém numa fé especial, em dogmas particulares; é exclusivo e absoluto. Longe de unir os filhos de Deus, separa-os; em vez de incitá-los ao amor de seus irmãos, alimenta e sanciona a irritação entre sectários dos diferentes cultos que reciprocamente se consideram malditos na eternidade, embora sejam parentes e amigos esses sectários. Desprezando a grande lei de igualdade perante o túmulo, ele os afasta uns dos outros, até no campo do repouso. A máxima – Fora da caridade não há salvação consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de consciência. Tendo-a por norma, todos os homens são irmãos e, qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros. Com o dogma – Fora da Igreja não há salvação, anatematizam-se e se perseguem reciprocamente, vivem como inimigos; o pai não pede pelo filho, nem o filho pelo pai, nem o amigo pelo amigo, desde que mutuamente se consideram

condenados sem remissão. É, pois, um dogma essencialmente contrário aos ensinamentos do Cristo e à lei evangélica.

Oitavo trecho Há 2000 anos Araxes, cujo comércio criminoso todos conheciam como fonte inesgotável de filtros milagrosos do amor, da enfermidade e da morte, era um iniciado do antigo Egito, desviado, porém, da missão sacrossanta da caridade e da paz, na sua violenta paixão pelo dinheiro da numerosa clientela romana, então em pletora de vícios clamorosos e na dissolução dos mais belos costumes do sagrado instituto da família.

Comentário Mais uma ligação valorosa entre estes dois livros, vejam que Kardec aponta que qualquer religião que use de exclusivismo, estaria contrária aos ensinamentos do Cristo, eis que o alicerce da caridade estaria fatalmente abalado. O trecho que vemos no livro Há 2000 anos, nos fala de Araxes, um místico de seu tempo, que veio com uma linda missão, mas sucumbiu comercializando os dons que recebeu gratuitamente. E este alerta nos vale para que não condenemos nenhuma religião ou doutrina, mas que olhemos que em todos os lugares onde a caridade seja praticada e buscada com afinco, lá estarão presentes os alicerces para a manifestação do Cristo através de seus amorosos espíritos. Nono trecho do Cap. XV do ESE 9. Fora da verdade não há salvação equivaleria ao Fora da Igreja não há salvação e seria igualmente exclusivo, porquanto nenhuma seita existe que não pretenda ter o privilégio da verdade. Que homem se pode vangloriar de a possuir integral, quando o âmbito dos conhecimentos incessantemente se alarga e todos os dias se retificam as idéias? A verdade absoluta é patrimônio unicamente de Espíritos da categoria mais elevada e a Humanidade terrena não poderia pretender possuí-la, porque não lhe é dado saber tudo. Ela somente pode aspirar a uma verdade relativa e

proporcionada ao seu adiantamento. Se Deus houvera feito da posse da verdade absoluta condição expressa da felicidade futura, teria proferido uma sentença de proscrição geral, ao passo que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, podem todos praticá-la. O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independente de qualquer crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação; e, como não pretende ensinar ainda toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, pois que esta máxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos.

Nono trecho Há 2000 anos Afigurava-se-lhes que a voz branda e amiga do apóstolo da Samaria voltava do Reino de Jesus para ensinar-lhes a fé, o cumprimento do dever de caridade fraterna, a resignação e a piedade. Ambas choravam, então, como se nas suas almas sensíveis e carinhosas vibrassem as harmonias de um divino prelúdio da vida celeste. Comentário Ana e Livia recordavam o amigo querido que já partira para a pátria espiritual, Simeão falava-lhes ao coração. A doutrina espírita, o consolador prometido, nos veio trazer a verdade esquecida, a comunicabilidade com os espíritos, as diversas vidas através das sucessivas reencarnações, permitindo a todos, através da verdade revelada, o resgate do cristianismo primitivo. Fora da verdade não há salvação, nos diz o evangelho. Neste trecho, vemos claramente que era comum o intercâmbio com o plano espiritual, era vivenciada a comunhão amorosa com estes espíritos que partiram e que tornavam para lhes consolar e infundir-lhes esperança. Quando trabalhamos em uma casa espírita, precisamos buscar este norte, que seja um lugar onde as pessoas se sintam em paz, acolhidas, amadas. Que não desvirtuamos esta maravilhosa doutrina como o fizemos com as palavras do Cristo, que seu caráter consolador se faça presente hoje e sempre.

Décimo trecho do Cap. XV do ESE 10. Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai. Reconhecê-los-eis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si. Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. Dedicai-vos, assim, meus amigos, a perscrutar-lhe o sentido profundo e as conseqüências, a descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações. Submetei todas as vossas acoes ao governo da caridade e a consciência vos responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação. Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos. Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam. – Paulo, o apóstolo. (Paris, 1860.)

Décimo trecho Há 2000 anos - Não me esqueci dessa circunstância. Faz, porém, vinte e cinco anos que Públio segue rumo oposto ao meu caminho e não será demais que, buscando ele hoje a suprema recompensa do mundo, como triunfo final dos seus desejos, busque eu também não a vitória do céu, que não mereci, mas a possibilidade de mostrar ao Senhor a sinceridade da minha fé, ansiosa pelas bênçãos lucificantes da sua infinita misericórdia. Depois, minha querida Ana, é muito grato ao coração sonhar com o seu reino santificado e misericordioso... Vermos, de novo, as mãos suaves do Messias abençoando-nos o espírito, com os seus gestos amplos de caridade e de ternura!... Comentário A mensagem que encerra o Cap. XV do ESE, de Paulo de Tarso nos lembra que a vivência cristã é também um ato de caridade e que pode tocar o coração de outras pessoas. Na noite em que Publio iria receber as honrarias, também intentava fazer as pazes com a Livia, depois de 25 anos. Não foi possível, ela estava presa e foi levada, junto com os escravos e outros cristãos, ao sacrifício, uma morte dolorosa e cruel. Aos nossos olhos, certamente um ato trágico, mas para o espírito imortal de Publio/Emmanuel, um ato definitivo que lhe iria ficar no coração para sempre.

Restam, ainda, quatro trechos do livro Há 2000 anos em que a palavra caridade aparece. Qual a razão? Até o item 10 Livia estava encarnada e foi com sua morte que Publio teve que experimentar o ensinamento através da bendita escola da dor. Todos os chamados amorosos foram rejeitadas por seu coração endurecido pelo orgulho, mas a dor de ver Livia partir, mudou sua vida. Veremos, assim, nos itens 11 a 14 este novo homem surgir, em especial nos dois últimos em que o próprio Senador Romano entoa a sublime palavra caridade, reconhecendo-a como a verdade libertadora para seu espírito imortal.

11 (desencarne de Livia) "Por teu amor, sacrossanto e sublime, florescem todos os risos e todas as lágrimas no coração das criaturas!... "Abençoa, Senhor do Universo, as sagradas esperanças deste Reino. Jesus é para nós o teu Verbo de amor, de paz, de

caridade

e beleza!... Fortalece as nossas aspirações de cooperar em sua Seara

Santa!... 12 (dor de Publio, assistido por Ana, serva e amiga de Livia) Ana, porém, não perdeu o ensejo de consolidar o ensinamento evangélico, acrescentando com doçura: - Mesmo na minha terra, a Lei antiga mandava que se cobrasse olho por olho e dente por dente, mas Jesus de Nazaré, sem destruir a essência dos ensinos do Templo, esclareceu que os que mais erram no mundo são os mais infelizes e mais necessitados do nosso amparo espiritual, recomendando, na sua doutrina de amor e caridade, não perdoássemos uma vez só, mas setenta vezes sete vezes. Públio Lentulus admirava-se de aprender aqueles generosos conceitos da sua criada, dentro dos princípios do perdão irrestrito. Perdoar? Nunca o fizera em suas porfiadas lutas no mundo. Sua educação não admitia piedade ou comiseração para os inimigos, porque todo perdão e toda humildade significavam, para os de sua classe, traição ou covardia. 13 (reconhecimento dos erros passados, Publio inicia nova jornada) Se houvesse entendido bastante a sua caridade, na cura de minha filha, teria conhecido melhor o tesouro espiritual do coração de Lívia, vibrando com o seu espírito na mesma fé, ou caindo juntamente com ela na arena ignominiosa do circo, o que seria suave, em comparação com as lentas agonias do meu destino; teria sido menos vaidoso e mais humano, se lhe houvesse entendido a preceito a lição de fraternidade... 14 (um novo homem, Publio adere ao cristianismo) Minha atual existência teria de ser um imenso rosário de infinitas amarguras, mas vejo tardiamente que, se houvesse ingressado no caminho do bem, teria resgatado um montão de pecados do pretérito obscuro e delituoso. Agora entendo a lição do Cristo como ensinamento imortal da humildade e do amor, da

caridade

e do

perdão – caminhos seguros para todas as conquistas do espírito, longe dos círculos tenebrosos do sofrimento!

Estes quatro itens, 11, 12, 13 e 14 nos mostram quando a caridade efetivamente entrou na vida de Publio. A partida de Livia (11) deixando-o só, apesar de todas as honras e glórias terrenas, desconsolado. A palavra de Ana novamente lhe trazendo as mensagens de Jesus, o chamado do Mestre (12) e por fim, os itens 13 e 14 em que o próprio Publio reconhece que se a caridade estivesse presente em seu coração, em seu agir, sua vida teria sido diferente. Esta estrada não é mensagem ao intelecto, é um caminho aos nossos corações, um chamado, como o que Publio teve quando ouviu alguém contar-lhe das curas de Jesus, como o de Paulo, ainda Saulo, ouviu Estevão na Casa do Caminho, ambos optaram por um caminho mais doloroso, rejeitando a proposta amorosa de Jesus, que nos sopra caminhos de recomeço, de corrigenda. Hoje, nós escolheremos qual estrada queremos trilhar, estes exemplos imorredouros nos convidam a um novo viver. A escolha será de cada um. Decorridos 2000 anos, este espírito tornou-se um dos maiores intérpretes do Evangelho de Jesus, trazendo lições belíssimas e interpretações novas e renovadas através da psicografia de Chico Xavier. E é justamente com uma destas mensagens, que trata da caridade, que encerramos o estudo de hoje, o livro chamase Joia, e não por acaso, a mensagem parece descrever Livia... “Caridade não brilha unicamente na dádiva. Destaca-se nos mínimos gestos do cotidiano. Está no sorriso de compreensão e tolerância; na palavra que tranquiliza; na gentileza para com os desconhecidos; no amparo à criança; no socorro ao doente; na atenção para com quem fala; no acatamento às confidências de um amigo; no silêncio, ante os conceitos agressivos desse ou

daquele adversário;

e no respeito perante os hábitos e as

cicatrizes do próximo. Caridade, enfim, será sempre não fazer a ninguém aquilo que não desejamos se nos faça.”

Abraços fraternos. Campo Grande – MS, 17.05.2015. Candice Günther

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