ESTUDO E TRATAMENTOS EXPERIMENTAIS DE DESINFESTAÇÃO A PARTIR DE UMA PINTURA COLONIZADA POR FUNGOS 3 PUBLICATIONS 0 CITATIONS

June 3, 2017 | Autor: V. Silva | Categoria: Conservação e restauro
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ESTUDO E TRATAMENTOS EXPERIMENTAIS DE DESINFESTAÇÃO A PARTIR DE UMA PINTURA COLONIZADA POR FUNGOS Conference Paper · October 2013

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4 authors, including: Valquíria de Oliveira Silva Federal University of Minas Gerais 3 PUBLICATIONS 0 CITATIONS SEE PROFILE

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Tópico 3, Nº 13 (T3-13)

ESTUDO E TRATAMENTOS EXPERIMENTAIS DE DESINFESTAÇÃO A PARTIR DE UMA PINTURA COLONIZADA POR FUNGOS Silva,V.O. (1); Boniek, D. (2); Bonadio, L.(3); Mendes, I.C.(4); Resende-Stoianoff, M.A.(5); Pereira, M.T. (6) (1) Bacharel em Conservação e Restauração Bens Culturais Móveis pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]. (2) Doutorando em Microbiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG. E-mail: [email protected]. (3) Mestre em Artes pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG. (4) Doutora em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG. (5) Doutora em Microbiologia pela Universidade de São Paulo/UFMG. (6) Doutor em Bioquímica e Imunologia pela Universidade Federal de Minas Gerais/CDTN.

RESUMO O patrimônio cultural é o legado do passado, a bagagem do presente e a herança para as futuras gerações. As pinturas integram o conjunto de bens culturais que fazem parte desse patrimônio e as mesmas estão sujeitas a vários mecanismos de deterioração, dentre esses a ação por fungos. Este mecanismo é denominado biodeterioração fúngica que leva à fragilização da estrutura pictórica ocasionando manchas e fissuras que impedem a leitura e apreciação estética dessas obras. Este trabalho tem como objetivo principal analisar e comparar os métodos adequados de tratamento aos fungos presentes na pintura de cavalete do século XX, de autoria do pintor Amadeu Luciano Lorenzato. Para essa investigação e avaliação experimental foram confeccionados mini-protótipos os quais foram inoculados com fungos através de duas metodologias. Foram propostos três tipos de tratamentos testes para a desinfestação fúngica, sendo estes por atmosfera anóxia estática, por câmara de fumigação e por radiação gama com fonte de cobalto 60. Além disso, buscou-se verificar quais métodos apresentam-se menos nocivos à saúde e ao meio ambiente no que tange a preservação e salvaguarda de pinturas colonizadas por fungos. Palavras-chave: Fungos; colonização; pintura; tratamento; conservação

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1. INTRODUÇÃO O Brasil, país de clima tropical úmido e diversificado pelas variantes geográficas favorece a biodeterioração de bens culturais pela ação de diversos de micro-organismos. Dentre esses, os fungos destacam-se como agentes causadores da deterioração. Estes organismos associados a fatores como a presença de umidade, nutrientes e porosidade do substrato podem causar danos irreversíveis aos bens culturais. Esse estudo foi elaborado a partir de uma pintura colonizada por fungos denominada “Conjunto de Casas” de autoria de Amadeu Luciano Lorenzato, cuja técnica empregada na obra é a tinta a óleo sobre tela aderida a uma placa de madeira (marrouflage), realizada em Minas Gerais, Brasil, no século XX. Durante o trabalho lançou-se mão de técnicas de identificação, documentação científica por imagem, estudos da técnica construtiva, diagnóstico do estado de conservação da obra, fatura dos protótipos e uma parte dos tratamentos para desinfestação (atmosfera anóxia). Além disso, foi realizado o teste de fumigação e também a coleta e identificação dos fungos, inoculação dos protótipos com os micro-organismos presentes na obra de Lorenzato, acompanhamento do crescimento e coletas testes para confirmação da eficácia dos tratamentos. Por fim, testes com radiação gama cobalto 60 foram utilizados.

2. METODOLOGIA 2.1. Exames da obra 2.1.1. Luz visível O exame à luz visível consiste na avaliação visual do objeto artístico ou cultural com auxílio de um feixe de luz incide diretamente sobre a superfície da obra. Esse exame foi utilizado para o conhecimento das características formais e estilísticas da obra, conhecimento da técnica empregada pelo artista e para a avaliação do estado de conservação. Observou-se um biofilme extenso em toda superfície pictórica, presença de pequenos craquelês, ranhuras e ausência de intervenções anteriores.

FIGURA 1 – Fotografia frontal a luz visível, pintura Conjunto de Casas. Fonte: Oliveira, V.

FIGURA 2 – Fotografia do verso a luz visível, pintura Conjunto de Casas. Fonte: Oliveira, V.

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Nota-se na camada pictórica da obra estudada uma extensa camada de biofilme. O termo biofilme consiste em comunidade microbiana complexa, dinâmica e envolta por uma matriz polimérica extracelular de características polissacarídeas, que se formam em sequência e sofrem alterações ao longo de tempo. O biofilme, portanto, é constituído por micro-organismos, EPS (proteínas, carboidratos e polissacarídeos), água, partículas sólidas retidas (argilas, areia, partículas orgânicas e produtos de corrosão). Podem aparecer em ambientes aquosos em interfaces sólido-líquido (superfícies imersas), líquido-líquido (água-petróleo), líquido- ar (superfície-água) e sólido-ar (expostas ao ar). Os micro-organismos que formam o biofilme, com o objetivo de obterem melhores condições de sobrevivência são capazes de se protegerem contra variação de pH, concentrações de sais, radiações UV, desidratação, biocidas e antibióticos, aproveitam melhor os nutrientes, se estabelecem melhor e criam nichos ecológicos. Desta forma, os fatores que alteram a formação de biofilme podem ser a superfície sólida (rugosidade, hidrofobicidade), presença de materiais particulados, quantidade e concentração de nutrientes, luz, umidade, temperatura.

2.1.2. Exame de identificação dos fungos O exame para identificação dos fungos é parte fundamental desse trabalho, uma vez que o conhecimento do gênero e/ou espécie e o estudo do comportamento desses microorganismos colonizadores e seus processos de biodeterioração na pintura auxiliam e direcionam a escolha de um tratamento adequado de desinfestação. Entende-se como tratamento eficaz aquele que interrompe o ciclo de vida e/ou o ciclo reprodutivo desses micro-organismos. Sendo assim, empregou-se “swabs” embebidos em água destilada ambos estéreis, para realizar a coleta de amostras dos fungos, em locais previamente definidos. Para realizar a cultura dos fungos coletados, primeiramente preparou-se em laboratório placas de Petri com meio de crescimento rico em nutrientes para o crescimento desses microorganismos. Nesse caso, preparou-se o Ágar Batata Dextrose (BDA) e cloranfenicol (100µg/mL) estéreis. As amostras coletadas foram semeadas suavemente com auxílio de um “swab” em toda a superfície do meio de cultura sobre as placas de Petri. O crescimento dos fungos foi observado em estufa a temperatura de 28°C por 7 dias. A partir das colônias formadas nas placas, selecionou-se todas as colônias com definição a óptica macro-morfológica com finalidade de purificação dos morfotipos. As mesmas permaneceram incubadas em estufas a 28°C por mais 7 dias, no mesmo meio de cultura apropriado para o seu crescimento. Após 7 dias de crescimento fúngico, e retira-se a lamínula cuidadosamente, e com auxílio do corante azul de metileno observam-se ao microscópio óptico as estruturas de reprodução dos fungos. A classificação taxonômica dos fungos é baseada em estruturas relacionadas com a reprodução sexuada e, na ausência desta, é feita pelos órgãos assexuados. O taxonomista faz análises a partir da sua amostra e compara a um banco de dados de fungos de referência internacional. O enquadramento taxonômico é regido pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica. Obteve-se 17 morfotipos de isolados que se encontram em processo de identificação molecular.

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Quadro 1- Espécies e gêneros dos fungos isolados e identificados na pintura Fotografia microscópia óptica (Aumento 40 a 100 X)

Habitat

Bens Culturais colonizados por esses fungos

Ar

Forro da Capela em Pernambuco (2010) Pergaminhos Coimbra Portugal (2013)

Penicillium simplicissimum

Ar

Pintura Medieval na Itália (2013) Pintura a óleo na Espanha (2012)

Cladosporium cladosporioides

Plantas

Pintura na Espanha (2012) Pergaminho em Portugal (2013)

Ulocladium sp.

Plantas

Caverna de Lauscaux na França (2008) Pintura na Espanha (2012)

Fusarium sp.

Solo e Plantas

Caverna de Lauscaux na França (2008)

Espécie de fungo identificada

Aspergillus fumigatus

Doença/patologia causada em seres humanos

Doenças pulmonares (aspergilose)

Infecções de pele e respiratórias

Intoxicação por alimentos contaminados

Infecções de pele

Intoxicação alimentar

Pintura na Espanha (2012) Alternaria sp

Plantas Indumentária cardinal (2012)

Reações alérgicas sinusites e rinites

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2.2. Preparo dos protótipos O desenvolvimento e confecção de foi baseado em pesquisas bibliográficas da técnica empregada pelo artista em suas pinturas de cavalete e também relato oral de artista contemporâneo a Lorenzato. O artista utilizava em seus trabalhos diversos suportes e matérias primas dentre esses destacam especificamente os pigmentos Xadrez® e óleo de linhaça (LORENZATO; SILVA; RIBEIRO, 2004). Averiguou-se ao exame físico que o tecido usado foi o algodão aderido à prancha de madeira fina e chassi de quatro montantes. Findada essa fase partiu-se para a fatura dos protótipos. Foram confeccionados 30 mini-protótipos de 10x8cm, mantendo a proporção da pintura original, com prancha de madeira de espessura de 0,5mm, chassi com quatro montantes, fixos com Acetato de Polivinila (PVA) nas extremidades da madeira. O tecido de algodão cru foi lavado três vezes em água corrente, seco ao ar livre e passado com ferro a vapor d`água. Cortou-se o tecido em retângulos de 11x9cm, que foram aderidos à madeira também com PVA. A base de preparação original é constituída por Carbonato de Cálcio (CaCO3), branco de chumbo e óleo. Nos protótipos, ela foi feita da mesma forma, com acréscimo de PVA em água na proporção de (1:1). O carbonato de cálcio e o branco de chumbo foram macerados intensamente em um almofariz. Em seguida adicionou-se paulatinamente o PVA, até a mistura adquirir a consistência de pasta ou de ponto de fio (COLNAGO; BRANDÃO, 2003). Em seguida, foram acrescentados 10mL de óleo de linhaça. O PVA foi inserido com o objetivo de otimizar a secagem dessa camada e aumentar a adesão da mistura ao tecido. Posteriormente aplicou-se uma demão dessa mistura com auxílio de uma trincha em um sentido, deixando-a secar. E depois, no outro sentido, mais uma demão. Após a secagem lixou-se essa camada. Na camada pictórica, como se pode averiguar em relato oral, o artista empregava pigmento xadrez, cera de abelha e óleo de linhaça. Os pigmentos escolhidos foram os mesmos usados na obra originalmente: verde, azul, vermelho e amarelo que foram macerados em almofariz e peneirados em peneira de trama fina. Seguiu-se o protocolo na proporção de 120mL de óleo de linhaça, adicionamos cera de abelha previamente partida em pequenos pedaços, até que o nível de óleo elevasse para 135mL. Transferiu-se para o recipiente metálico e aqueceu-se até que a cera derretesse completamente (MAYER, 1999). Primeiramente aplicou-se o azul acrescido de branco com pincel em apenas uma demão. Com a camada ainda molhada, usou-se um pente de plástico com objetivo de produzir textura (ondas) na superfície pictórica, do mesmo modo que Lorenzato. Depois aplicou-se o verde, em seguida amarelo e por último o rosa produzido a partir da mistura do vermelho e branco. A secagem completa demorou cerca de 40 dias.

2.3. Inóculo dos protótipos Os protótipos foram inoculados por micélio dos fungos e pelos seus esporos. A inoculação por micélio foi feita após o isolamento prévio de cada colônia. Foi selecionado para inoculação apenas um morfotipo de fungo purificado. Inoculou-se pequenos discos de ágar (BDA) desse morfotipo selecionado que possuía micélios vegetativos ativos, 5

cada disco possuía 1,0mm de diâmetro. Esses discos foram colocados sobre a superfície pictórica em regiões específicas e acondicionados em estufa a 28°C por 14 dias. Além disso, houve a inoculação dos protótipos com a suspensão de esporos em solução salina estéril a 0,85%, sendo esta mensurada no espectrofotômetro na escala de MacFarland de 0,5 a 530nm. A solução dos esporos 10μL foi inoculada em regiões específicas dos mini-protótipos, sendo que essa quantidade mínima necessária para produzir o início de uma colonização em uma superfície.

FIGURA 3 – Inóculo por micélio fúngico. Fonte: Oliveira, V.

FIGURA 4 – Inóculo por esporo fúngico. Fonte: Oliveira, V.

2.4. Tratamento dos protótipos por anóxia O emprego do tratamento por atmosfera modificada originou-se em pesquisas de combate a insetos em alimentos. A desinfestação por atmosfera anóxia é uma técnica que almeja a erradicação de micro-organismos e pragas. Ela consiste na retirada de oxigênio do interior de um espaço estanque onde o objeto fica isolado durante o tratamento. As bolsas ou bolhas são constituídas de materiais plásticos de alta barreira, confeccionados com cerca de sete camadas coextrusadas de diferentes plásticos como: Politerefltalato de etileno PET18, Policloreto de vinilideno PVDC 19, poliamida, nylon e outros. Pode ser empregado por três variações de sistema: uma com aplicação de dióxido de carbono, ou um gás inerte como argônio, absorvedores de oxigênio ou os dois processos simultâneos. Esses abrangem três sistemas: dinâmico, estático, dinâmicoestático. O sistema estático geralmente empregado para objetos menores que podem ser tratados em bolsas pequenas ou médias confeccionadas com plásticos de alta barreira que variam de 0,001 a 1m3 (1 a 1000 litros). Esse sistema utiliza sachês de absorvedores de oxigênio (compostos de óxido de ferro em ácido ascórbico e água) em invólucro plástico microporoso para garantir o nível de 0,3 % de oxigênio, um indicador visual de oxigênio e uma pequena fita indicadora visual de umidade. Para o cálculo do quantitativo de absorvedores multiplica-se a largura pela profundidade pela altura do volume tratado em cada bolsa. Divide-se esse resultado do volume em centímetros cúbicos de ar por 5, que corresponde a 20% do ar. A proporção de absorvedores é de um absorvedor para cada litro de ar. O indicador de O2 muda de cor indicando baixa ou alta desse elemento, quando exposto ao ar fica violeta, e em baixa concentração fica rosa.

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Durante o tratamento dos protótipos inoculados por esporos e micélios de fungos optouse pela implementação do sistema estático. Confeccionaram-se duas bolsas com plástico de sete camadas coextrusadas para os controles dos inóculos. Uma para o protótipo inoculado por esporos e a outra para o protótipo inoculado por micélios, cada uma dessas recebeu dois indicadores de O2 interno e outro externo a bolsa. Colocou-se também em cada uma das bolsas um recipiente com solução saturada de Nitrato de Magnésio, sal que mantém os níveis de umidade interna da bolsa em torno de 55%. Por último, uma fita de Cloreto de Cobalto a 5% que indica a umidade interna das bolsas por meio da mudança de cor na presença de umidade elevada.

FIGURA 5 – Tratamento por anóxia estática. Fonte: Oliveira, V.

FIGURA 6 – Tratamento por micélio fúngico. Fonte: Oliveira, V.

2.5. Tratamento por radiação gama cobalto 60 A radiação gama foi desenvolvida em meados do século XX. Produziram-se isótopos radioativos por meio de reações nucleares. Essas ocorrem pelo fenômeno de ativação que acontece quando elementos naturais são colocados frente ao núcleo de um reator. Esses elementos são irradiados por nêutrons térmicos, que por sua vez atingem e penetram o núcleo do átomo, causando uma quebra do equilíbrio energético nuclear. O equilíbrio energético nuclear ocorre através da liberação da energia na forma de irradiação gama. A radiação gama é formada por ondas eletromagnéticas que por causa de sua alta energia é capaz de penetrar na matéria através de radiações alfa e beta. Geralmente obtida pela emissão de um radioisótopo, ou seja, um isótopo radioativo como o Cobalto 60 e Césio 137. O tratamento atualmente empregado em alguns acervos é o Cobalto 60, que é obtido por meio do bombardeamento por nêutrons do isótopo estável Cobalto 59, que apresenta como característica a meia vida de 5,24 anos. A faixa de emprego do Cobalto depende das especificações do objeto a ser tratado. Este método de tratamento foi empregado acervos bibliográficos e no âmbito da conservação-restauração antecede o ano de 1960, período quando foi verificada a sensibilidade de alguns micro-organismos a esse procedimento. Em 1970 houve a criação na França do Projeto “Nucleart” por uma 7

Comissão de Energia Atômica na França com a finalidade de empregar a Radiação Gama para destruir micro-organismos em obras de arte. A transferência energética de irradiação gama para o material constante no objeto a ser tratado ocorre da interação da irradiação com material irradiado, gerando moléculas reativas, átomos excitados ou carregados eletricamente. Os produtos dessa reação dão prosseguimento ao processo. O resultado dessa interação e transferência de energia é a inativação dos micro-organismos. Pode se dar tanto por danos estruturais nas células micro-organismos como pela reação dos radicais produzidos no interior do liquido celular. “Para a desinfecção e/ou esterilização de produtos por irradiação, doses de radiação podem compreender de 5,0kGy até 25,0kGy. Para o controle de infestação por insetos em livros são necessárias doses de radiação relativamente baixas, da ordem de 0,2 kGy - 0,5 kGy. Para a eliminação de fungos as doses variam entre 3kGy a 12kGy.” (L.D. B.Machado1, F. M. Auada2, M.Crescenti, S.I. Borrely1, M.L.O D´Almeida, 3, E.S.Pino1, M. Zuffo1)

Para tratamento dos protótipos por radiação gama Cobalto 60, optou-se por aplicar 3 doses diferentes para cada um dos três protótipos inoculados por esporos de fungos: o primeiro foi irradiado por 3KGy, o segundo 7 KGy e o terceiro por 12KGy. A mesma metodologia de tratamento foi empregada nos protótipos inoculados por fungos, com as mesmas dosagens.

FIGURA 7 – Ante-sala da fonte de Cobalto 60. Fonte: Oliveira, V.

FIGURA 8 – Ensaio do tratamento de radiação gama. Fonte: Oliveira, V.

2.6. Tratamento por fumigação A fumigação é tradicionalmente empregada como tratamento fitossanitário na indústria, construção civil, moveleira contra insetos xilófagos como cupins e brocas. Porém pode ser utilizada em tratamento de desinfestação devido à característica fungicida de alguns compostos. Trata-se de um tratamento químico realizado com emprego de compostos químicos voláteis, esses compostos podem apresentar-se na forma sólida, gasosa ou líquida. Esses agentes fumegantes de um modo geral são biocidas voláteis, ou seja, são 8

substâncias capazes de reagir com micro-organismos vivos, inibindo o processo do ciclo de vida desses, causando assim a morte dos mesmos. Os compostos são colocados em um sistema hermético em que as moléculas de ar dentro desse ambiente são sensibilizadas pelos biocidas, essas interagem dentro do circuito que possui uma pequena bomba de aquário propulsora, que acelera o processo de interação entre as moléculas de ar ainda sem composto e aquelas sensibilizadas com o composto, as moléculas internas entram em equilíbrio químico, e as moléculas resultantes da interação entram em contato com a superfície do objeto a ser tratado e podem também penetrar nesse, promovendo assim a desinfestação de objetos e/ou materiais. Existem vários compostos biocidas no mercado: brometo de metila, óxido de etileno, fluoreto sulfúrico. Para este tratamento construiu-se um câmara de fumigação de vidro de 4mm de espessura, com cola de silicone de cura acética sem fungicida, duas válvulas de segurança laterais uma para entrada e outra para saída de ar, abertura central redonda, porta de acrílico 3mm de espessura redonda e maior que a abertura, com borracha lateral para vedação em toda circunferência da mesma, e um mecanismo central de travamento e vedação. Montou-se um circuito com garrafa de segurança, preenchida com timol sólido e esferas de vidro para reduzir efeito de agitação da bomba que é ligada a rede elétrica, acoplou-se a bomba de aquário por meio de mangueira, a outra extremidade da garrafa foi acoplada a câmara por outra mangueira que se conecta a válvula de entrada de gás da câmara, colocou-se os protótipos inoculados por micélio em tratamento. A válvula de saída foi conectada por uma mangueira em outra garrafa de segurança que continha água e etanol para absorverem o timol em suspensão no ar interno do sistema. Os protótipos por micélio ficaram 24 horas em tratamento, durante este período, mensurou-se o pH da solução de 8 em 8 horas, para certificar a acidez do sistema estava constante.

FIGURA 9 – Tratamento fumigação vista lateral. Fonte: Oliveira, V.

FIGURA 10 – Tratamento fumigação vista superior. Fonte: Oliveira, V.

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3. RESULTADOS Os resultados parciais dos tratamentos foram obtidos 7 dias após a coleta e os finais 14 dias após a coleta. Os resultados encontram-se elencados no quadro abaixo.

Quadro 2 : Resultados após tratamentos

Tratamento submetido

Tempo de tratamento

Resultados

3 horas

Eficaz em todos protótipos

3 horas

Eficaz na maioria dos protótipos, exceto no protótipo de 3KGy na faixa de cor rosa

30 dias

Eficaz na maioria dos protótipos, exceto em um na faixa cor rosa

Radiação Gama Co 60 (Protótipo com esporos) Radiação Gama Co 60 (Protótipo com micélios) Atmosfera Anóxia (Protótipo com esporos) Atmosfera Anóxia (Protótipo com micélios)

Ineficaz em quase todos protótipos 30 dias

Fumigação (Protótipo com esporos)

24 horas

Eficaz na maioria dos protótipos

24 horas

Ineficaz em todos os protótipos

Fumigação (Protótipo com micélios)

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4 . CONCLUSÃO

Este trabalho aponta medidas importantes a serem consideradas pelos profissionais da Conservação-Restauração, ao identificar-se a colonização seja por fungos ou bactérias em uma dada superfície de um bem cultural, ele deverá ser isolado dos demais objetos próximos para evitar contaminação. Deve-se pesquisar e estudar um tratamento adequado, eficaz e sustentável de desinfestação. Esse consistirá na redução máxima possível da população de microorganismos presentes na obra, no entanto, sabe-se que a descontaminação total é inviável. O conhecimento dos agentes que causam a biodeterioração aponta a escolha de um tratamento específico e eficaz de desinfestação fúngica. Uma vez identificado o gênero ou espécie de micro-organismo causador de deterioração pode-se aprofundar o estudo de seu comportamento num dado substrato. Esse conhecimento do comportamento dos fungos é fundamental e direciona a escolha de tratamento e o aperfeiçoamento da metodologia adotada no emprego do mesmo. O tratamento de desinfestação fúngica deve ser o primeiro passo antes de qualquer intervenção seja essa de Conservação ou Restauração, resguardada a avaliação sobre o diagnóstico de acometimento da colonização na superfície ou interior de uma dada obra. Os conceitos que envolvem a ciência da conservação perpassam por métodos preventivos de controle de umidade, temperatura, luminosidade, ventilação esses visam ações mitigatórias à biodeterioração de bens culturais. A conservação preventiva possui como principal objetivo minimizar a incidência de biodeterioração e/ou biocorrosão em bens culturais. Mas uma vez instalada a biodeterioração sugere-se adotar métodos de desinfestação fúngica eficazes e sustentáveis. Ao propor os 3 tratamentos testes buscouse avaliar a aplicabilidade, eficácia e sustentabilidade desses. Observou-se que o tratamento por atmosfera anóxia se mostrou eficaz, promissor e sustentável ecologicamente. Porém o seu emprego ainda requer mais testes em laboratório e ateliês com intuito de aperfeiçoamento da técnica. O tratamento por radiação gama se mostrou eficiente, mas deve ser avaliado com cautela por conservadores-restauradores devido ao acúmulo de radiação em nível de núcleo da molécula da matéria constante nos materiais da obra. Porém seu uso na desinfestação fúngica se mostrou promissor na prevenção e na redução significativa desses microorganismos, especificamente para tratamento de desinfestação fúngica que requer dosagens baixas e produz efeito satisfatório nessa faixa. Já o tratamento por fumigação se mostrou parcialmente eficaz, porém há necessidade de se realizar mais testes. Esses novos testes deverão aumentar o tempo de exposição dos protótipos a fumigação para constatação de sua eficácia. E se faz mister acompanhamento e monitoramento sistemático dessas obras após tratamento, uma vez que esses tratamento reduzem a população de micro-organismos, mas pode ocorrer em dado momento a reinfestação da mesma. A complexidade desses estudos e tratamentos testes de desinfestação fúngica abrem perspectivas futuras para o desenvolvimento e aplicação desses em outros objetos culturais. Nota-se no âmbito da conservação-restauração a crescente busca desse nicho de mercado por tratamentos eficazes contra os micro-organismos. 11

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECK, Ingrid. Desinfestação do acervo da Biblioteca Rodrigues, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. XIII Congresso da ABRACOR, Porto Alegre, 2009. BONONI, V.R.L. (org) 1998. Zigomicetos, Basidiomicetos e Deuteromicetos: noções básicas de taxonomia e aplicações biotecnológicas. São Paulo: Instituto de Botânica, Secretaria do Meio Ambiente. 184p. CANEVA, G; NUGARI, Maria Pia; SALVADORI, O. La biología en la restauración. Hondarribia: Nerea, Sevilla: Instituto Andaluz del Patrimonio Historico, c2000. 274 p. FRIN, Raymonde. The care of paintings: the fabric paint supports. Unesco, 1960. Volume XIII, número 3. 135-173. FRISVAD, Jens.C. et al. Introduction to food and airborne fungi. 2004 LORENZATO, Amadeu Luciano; SILVA, Fernando Pedro da; RIBEIRO, Marília Andrés. Lorenzato: depoimento. Belo Horizonte: C/Arte, 2004. 93p LUTTEBACH, M.T.S. et al. The Imperial coach of D. Pedro II: DNA fungal identification in select materials and its relation to biodeterioration and aerobiology. 2013. Disponível em acesso em 07/06/13 MAREN, A. Klick. Identification of Common Aspergillus Species. 2002. MOHAMOUD, E.F. Abdel-Haliem. et al. Efficiency of antibiotics and gama radiation in eliminating Streptomyces strains isolate from paintings of ancient Egyptian tombs. Science Direct. Journal of Cutural Heritage. 2013. Disponível em:< http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1296207412000581> acesso em 06/06/14 PANGALLO, Domenico. et al. Disclosing a crypt: Microbial diversity and degradation activity microflora isolated from funeral clothes of Cardinal Peter Pazmany. Science Direct. 2012. Disponível em: acesso em 10/06/13 RELA, Paulo Roberto; GOMES, Fátima Faria;THOMÉ, Lúcia Elena; KODAMA, Yasko. Recuperação de um acervo: uso da Radiação Gama (Cobalto 60) na descontaminação de objetos do acervo do Instituto de Estudos Brasileiros – USP. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n.46. São Paulo 2008. ZANNONI, Davide. et al. The microbial comunity dewling on biodeteriorated 16 th century painting. Science Direct. International Biodeterioration & Biodegradetion. 2010. Disponível em: acesso em 08/06/14 12

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