Estudo fenomenológico sobre a percepção masculina das transformações da mulher no período gestacional e suas implicações afetivo-sexuais

July 27, 2017 | Autor: Georges Boris | Categoria: Subjectivities
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ISSN 1518-9740

VI Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM Saúde da mulher: consolidação do conhecimento e perspectivas 8 a 10 de novembro de 2012 Natal/RN

Physical Therapy Brazil

Fisioterapia

Su ple B Erspa smienl ec o to Ano 10 -ianl 2

Novembro / Dezembro de 2012

13 anos

www.atlanticaeditora.com.br

VI Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da Mulher – ENFISM Saúde da mulher: consolidação do conhecimento e perspectivas 8 a 10 de novembro de 2012 Natal/RN

Fisioterapia Brasil (Suplemento Especial - novembro/dezembro 2012) ISSN 1518-9740

Editorial Saúde da mulher em todas as fases da vida Profa. Dra. Maria hereza Albuquerque Barbosa Cabral Micussi, Profa. Dra. Elizabel de Souza Ramalho Viana* É com imensa alegria que a contribuição cientiica gerada pelo o VI  Encontro Nordestino de Fisioterapia na Saúde da Mulher – ENFISM será apresentada para comunidade acadêmica pela Revista Fisioterapia Brasil. Queremos compartilhar a produção cientiica na  área da saúde da mulher, de autores de diversas universidades do Brasil com aqueles que se interessam pela promoção à saúde da mulher. A isioterapia na saúde da mulher vem ganhando destaque e reconhecimento mediante o esforço dos proissionais, através da divulgação dos métodos avaliativos e terapêuticos, tornando esta especialidade indispensável para isioterapia clinica. Esse evento é uma tradição no Nordeste brasileiro e traz consigo muitas inovações nessa área de grande demanda nos serviços de atenção à saúde. Após a cidade de Campina Grande/PB (2006 e 2008), Teresina/PI (2009), Fortaleza/CE (2010) e Salvador/ BA (2011) serem as cidades-sede do ENFISM, chegou a vez de Natal/RN sediar o ENFISM e mostrar as perspectivas na área da saúde da mulher. O encontro não se restringe apenas aos graduandos, mas também aos proissionais atuantes que percebam a necessidade de haver uma constante reciclagem em todo conteúdo adquirido de acordo com anos de prática. Como a saúde da mulher é um tema que tem superado tabus, ano após ano, há sempre questionamentos que vencem as portas da clínica e necessitam de respostas. Foi nesse misto de curiosidade com necessidade de conhecimento que nasceu o ENFISM, agregando valores e proissionais não apenas na área da Fisioterapia, como também em todas as áreas da saúde, oferecendo troca de conhecimentos com o aprofundamento de técnicas e evidências cientíicas. A atuação da Fisioterapia na saúde da mulher permite intervir em todas as fases da sua vida, desde a adolescência até a sua fase adulta, passando pelo período gestacional e climatério. Em todas elas, podemos desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, dando assistência tanto em nível individual como coletivo. Isso propicia à mulher uma melhor qualidade de vida e retorno as suas funções de maneira mais rápida e satisfatória. Convidamos todos a participar com envolvimento crescente dos estudos envolvendo a saúde da mulher e do nosso evento, uma porta sempre aberta para o conhecimento.

*Professoras organizadoras do VI Encontro Nordestino de Fisioterapia em Saúde da mulher – VI ENFISM

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Comissão cientíica Profa. Dra. Elizabel de Souza Ramalho Viana Profa. Dra. Maria hereza Micussi Profa. Ms. Lílian Lira Lisboa Profa. Ms. Vanessa Patrícia Soares de Sousa Laiane dos Santos Eufrásio, acd. Patrícia Mayara Moura da Silva, acd.

Comissão organizadora Amanda Celly  Rafaela Souza Camilla Souza Priscylla Hellouyse Rívea Trindade Rossânia Bezerra Tamyres Oliveira Gentil Gomes Bianca Vasconcelos Heloísa França Lenize Costa Paloma Sena Larissa Varella Silvia Oliveira Lívia Narelli haís Dias Carla Monique Natália Barbosa hereza Micussi Elizabel Viana Laiane Eufrásio Patrícia Mayara Vanessa Patrícia

Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012

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Índice EDITORIAL Saúde da mulher em todas as fases da vida, Maria hereza Albuquerque Barbosa Cabral Micussi, Elizabel de Souza Ramalho Viana .................................................................................................................................................... 1

ARTIGOS 1. Afeto positivo e negativo e sua associação com a dor e funcionalidade em mulheres com ibromialgia, Rodrigo Pegado de Abreu Freitas, Sandra Cristina de Andrade, Lilian Lira Lisboa, Elisa Sonehara, Maria hereza Barbosa Cabral Micussi, Maria Bernardete Cordeiro de Sousa ............................................................................................................................................... 6 2. Análise da qualidade de vida e distúrbios do sono em mulheres menopausadas residentes no município de Apodi/RN: dados preliminares, Pedro Paulo Silveira Souza, Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Elizabel de Souza Ramalho Viana............................................................................................... 11 3. Recursos isioterapêuticos disponíveis para trabalho de parto: uma revisão, Victor Hugo Brito de Oliveira, Débora Luciana dos Santos Brandão, Gentil Gomes da Fonseca Filho, Maria hereza Albuquerque B. C. Micussi, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Lílian Lira Lisboa.................................................. 16 4. Inluência da cinesioterapia sobre a dor e qualidade de vida em mulheres grávidas, Sayonara Rodrigues da Silva, Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Dayse Aleixo Bezerra, Silvia Oliveira Ribeiro, Elizabel de Souza Ramalho Viana .............................................................................................................. 23 5. Avaliação da função sexual em mulheres no climatério, Natalia Maria Barbosa Bezerra, Andressa Gollo Signoretti, Maria hereza Albuquerque B. C. Micussi, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Lílian Lira Lisboa ..................................................................................................................... 29 6. Avaliação da qualidade de vida de pacientes portadores de incontinência anal em uma clínica particular de Natal/RN, Cleneide Quintela Gadelha do Espírito Santo, Lucas Ithamar Silva Santos, Valéria Conceição Passos de Carvalho ................................................................................................ 34 7. Recuperação da diástase de reto abdominal no período puerperal imediato com e sem intervenção isioterapêutica, haís Medeiros da C. Dias, haisa Caline dos Santos Barbalho, Amanda Celly de Andrade Moura, Rafaela Jéssica Silveira de Souza1, Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Elizabel de Souza Ramalho Viana .................................................................................................................................................. 39 8. Eletroterapia aplicada às disfunções sexuais femininas: revisão sistemática, Camila Stein Montalti, Natachie Furlan Santos, Karina Tamy Kasawara, Andréa de Andrade Marques, Néville de Oliveira Ferreira .................................. 45 9. Peril epidemiológico de puérperas atendidas em uma maternidade conveniada ao Sistema Único de Saúde de Maceió/AL, Rafaela da Silva Cruz, Bárbara Rose Bezerra Alves Ferreira .................................................................... 51 10. Avaliação da força muscular respiratória durante o período gestacional: uma análise através da manovacuometria, André Gustavo Marcolino Leal, Nayara Tavares dos Santos, Esp., Gabriela Brasileiro Campos Mota, Maíra Creusa Farias Belo, Denise Almeida Santos, Klênio Lucena Sena, Marcos Valério Rocha de Oliveira ................................................................................................................. 56 11. Inluência da atividade física na qualidade de vida da mulher no climatério, Rívea Trindade da Silva, Camila huanne Brito Fernandes, Ana Rita Dantas de Lira, Vitória Jéssica Teixeira Dantas, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Lílian Lira Lisboa .................................................................... 62 12. Avaliação funcional do assoalho pélvico: uma abordagem isioterapeutica na prevenção da incontinência urinária, Jéssica Costa Leite, Flavia Monteiro Marques Morais, Gabriela Brasileiro Campos Mota, Denise Almeida Santos, Klênio Lucena Sena, Isabela Dantas da Silva, Lorena Maria Brito Neves Pereira ............................................................................................................. 67 13. Prevalência da perda urinária em praticantes de atividades físicas, Vânia Nayara da Silva Costa, Raylla Kelly Ibiapina Leal, Maíra Creusa Farias Belo, Denise Almeida Santos, Cileneide Pereira dos Santos Rodrigues ......................................................................................................................................... 73 Fisioterapia Brasil - Volume 13 - Número 6 - novembro/dezembro de 2012

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14. Peril epidemiológico de mulheres em idade fértil com hepatites virais na região Trairí e Potengi, Rio Grande do Norte, Brasil, Joelson dos Santos Silva, Candice Simões Pimenta de Medeiros, Vanessa Lopes Costa de Oliveira, Diego de Sousa Dantas, Damião Ernane de Souza, Adriana Gomes Magalhães, Karla Veruska Marques Cavalcante da Costa ............................................. 79 15. Abordagem da sexualidade após a mastectomia, Nívea Adriano de Santana e Santos, Socorro Maria Pinho da Silveira .................................................................................................................................................... 86 16. Atuação do isioterapeuta na linha de cuidado à saúde da mulher com ênfase no apoio matricial, Daiana Pereira Martins Costa ........................................................................................................................ 93 17. Importância da isioterapia na qualidade de vida em idosas institucionalizadas com diagnóstico de osteoartrose, Ana Letícia de Souza Pereira, Cynthiane Louyse Menezes de Araújo, Alianny Raphaely Rodrigues Pereira, Lívia Braz de Carvalho, Fernanda Diniz de Sá, Karla Luciana Magnani, Adriana Gomes Magalhães.............................................. 97 18. Incidência de episiotomia em partos normais em uma maternidade do SUS, Bárbara Rose Bezerra Alves Ferreira, Eloá Mendes Silva Gomes ................................................................................................... 103 19. Qualidade de vida de mulheres na fase do climatério residentes no meio urbano e no meio rural, Carla Monique Ribeiro de Aquino, Katheyrine Lorena Bráz Santos, Maria hereza Albuquerque B.C. Micussi, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Lílian Lira Lisboa................................................. 108 20. Inluência da isioterapia no tratamento da constipação intestinal em mulheres com ibromialgia: estudo piloto, Marjorie Ovídio Bezerra Galvão, Fernanda de Lourdes Penha da Câmara, Rodrigo Pegado de Abreu Freitas, Elisa Sonehara, Sandra Cristina de Andrade, Lilian Lira Lisboa ........................................................................................................................... 113 21. Análise comparativa da capacidade funcional de idosas com e sem incontinência urinária, Denise Almeida Santos, Maíra Creusa Farias Belo, Klenio Lucena de Sena, Gabriela Brasileiro Campos Mota ................................................................................................................................................ 118 22. Efeito agudo de uma sessão de reabilitação cardíaca sobre a pressão arterial sistêmica em mulheres hipertensas, Rayanne Rakel Paiva Ferreira, Danielly Inocêncio de Araújo, Murillo Frazão de Lima e Costa, Maria Elma de Souza Maciel Soares, Iza Neves de Araújo Nascimento ..................................... 124 23. Fisioterapia na incontinência fecal: uma revisão integrativa, B.B. Camilo, J.M.A. Cruz, M.S. Magalhães, A.A.B. Façanha ................................................................................................................................................. 130 24. Repercussão da incontinência urinária na qualidade de vida de mulheres idosas institucionalizadas, Joelson dos Santos Silva, Fernanda Diniz de Sá, Maria das Graças Costa, Kamila Brena Almeida de Oliveira, Adriana Gomes Magalhães ................................................................................................... 135 25. Estudo fenomenológico sobre a percepção masculina das transformações da mulher no período gestacional e suas implicações afetivo-sexuais, Neyliane Sales Chaves Onofre, Georges D. Janja Bloc Boris ........................................................................................................................................................ 141 26. Géis lubriicantes são bons agentes de acoplamento para estimulação transvaginal do assoalho pélvico? Jairo Domingos de Morais, Mallison da Silva Vasconcelos, Maria Francilene Leite, Eleazar Marinho de Freitas Lucena, Welligton da Silva Lyra.................................................................... 145 27. Resistência elétrica de géis lubriicantes utilizados na reabilitação uroginecológica, Jairo Domingos de Morais, Mallison da Silva Vasconcelos, Eleazar Marinho de Freitas Lucena, Maria Francilene Leite, Welligton da Silva Lyra ........................................................................................................................... 149 28. Associação da hipertensão arterial com as medidas antropométricas em mulheres assistidas no programa Hiperdia, Iza Neves de Araújo Nascimento, Iara Medeiros de Araújo, Maria Elma Souza Maciel Soares, Neir Antunes Paes ................................................................................................................... 154 29. Avaliação isioterapêutica do comportamento ventilatório de parturientes durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto, hâmara Pequeno de Paiva, Emília Sampaio Rocha, Gabriela Brasileiro Campos Mota, Marília Sampaio Rocha Campos de Souza, João Paulo Campos de Souza, Edilânia Cristina Féliz de Souza, Italo Morais Torres..................................................................... 159

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30. Peril clínico, qualidade de vida e nível de independência funcional de pacientes submetidas à mastectomia radical modiicada, Leila Maria Alvares Barbosa, Camilla Carneiro Leão Sampaio Carvalho, Caroline Wanderley Souto Ferreira ........................................................................... 166 31. Repercussões ventilatórias impostas pelo ciclo gestatório: uma abordagem isioterapêutica sobre a saturação de oxigêni, Pâmella Carolline Araújo Batista, Karenn Araújo Barros, Gabriela Brasileiro Campos Mota, Juliana Carvalho Cordeiro, Aliuska Souza Santos, Denise Almeida Santos, Ângela Maria Targino de Alcântara ........................................................................................................ 171 32. Incontinência urinária na prática esportiva: uma revisão sistemática, Priscylla Helouyse Melo Angelo, Rossânia Bezerra, Maria hereza Barbosa Cabral Micussi, Rodrigo Pegado de Abreu Freitas ................................................................................................................................................. 176 33. Mortalidade materna: peril sociodemográico do Brasil no ano de 2010, Érika Rayane de Medeiros Silva, Jéssica Danielle Medeiros da Fonsêca, Camila Maria Medeiros de Araújo, Maria José Medeiros da Fonsêca ........................................................................................... 181 34. Análise da relação entre idade gestacional e qualidade de vida em gestantes atendidas em unidades básicas de saúde da cidade do Natal/RN, Laiane Santos Eufrásio, Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Elizabel de Souza Ramalho Viana............................................................................................. 185 35. Avaliação do desconforto respiratório em gestantes: uma abordagem isioterapêutica, Jéssica Costa Leite; Saulo Patrício Gonçalves, Gabriela Brasileiro Campos Mota, Denise Almeida Santos, Maíra Creusa Farias Bel, Tércio de Sousa Mota, Matheus Brasileiro Campos ......................................... 190 36. Avaliação do grau de satisfação de gestantes usuárias do serviço de isioterapia de uma maternidade pública, André Gustavo Marcolino Leal, Lidyane Ferreira de Oliveira, Gabriela Brasileiro Campos Mota, hâmara Pequeno de Paiva, Denise Almeida Santos, Matheus Brasileiro Campos, Tércio de Sousa Mota...................................................................................................................... 195 37. Avaliação da qualidade de vida e dos sintomas de depressão em mulheres com incontinência urinária, Clécio Gabriel de Souza, Isabelle Eunice de Albuquerque Pontes, Karolinne Souza Monteiro, Maria do Carmo Pinto Lima, Maíra Creusa Farias Belo, José Roberto da Silva Júnior, Maria de Lourdes Fernandes Oliveira .......................................................................................................................................... 201 38. Inluência de um protocolo de exercícios cinesioterapêuticos sobre a qualidade do sono de mulheres grávidas: ensaio clínico randomizado controlado, Silvia Oliveira Ribeiro, Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Dayse Aleixo Bezerra, Bárbara Emmily Cavalcanti Vale, Gabriele Natane de Medeiros Cirne, Elizabel de Souza Ramalho Viana ....................................................................................... 206 39. Conhecimento de mulheres com lesão medular traumática sobre sexualidade pós-lesão: relato de caso, Mariana Carmem Apolinário Vieira, Lorenna Marques de Melo Santiago, Livane Caldas dos Santos Barbosa, Silvia Oliveira Ribeiro, Raquel da Silva Ferreira, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo ................................................................................... 211 40. Tratamento isioterapêutico com exercícios do assoalho pélvico associados ou não ao biofeedback ou à eletroestimulação em mulheres portadoras de Incontinência Urinária de Esforço: um estudo piloto, Daphne Gilly, Leila Maria Alves Barbosa, Deniele Bezerra Lós, Ivson Bezerra da Silva, Mallison da Silva Vasconcelos, Caroline Wanderley Souto Ferreira ........................................................... 214

RESUMOS ........................................................................................................................................................................222

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Artigos Afeto positivo e negativo e sua associação com a dor e funcionalidade em mulheres com ibromialgia Positive and negative affect and their association with pain and functionality in women with ibromyalgia Rodrigo Pegado de Abreu Freitas, M.Sc.*, Sandra Cristina de Andrade, D.Sc.*, Lilian Lira Lisboa, M.Sc.*, Elisa Sonehara, M.Sc.**, Maria hereza Barbosa Cabral Micussi, M.Sc.***, Maria Bernardete Cordeiro de Sousa, D.Sc.* *Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,**Docente da Universidade Potiguar, ***Doutoranda em Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Bolsista CAPES

Resumo

Abstract

Fibromialgia (FM) é uma síndrome reumática, caracterizada por dor, fadiga, alterações psicossomáticas e no estado de humor. A afetividade positiva e negativa aparecem como um fator importante por estarem relacionadas com o mecanismo de bem estar subjetivo pessoal e interferir nos sintomas físicos e psicossomáticos. Objetivamos avaliar o nível de afeto positivo e negativo e correlacioná-los com o impacto da FM e a dor em mulheres com FM. Mediante estudo descritivo transversal, 39 mulheres com FM foram avaliadas quanto à afetividade através da Escala de Afeto Positivo e Negativo (PANAS), limiar de dor (algometria) e impacto da FM (FIQ). O grupo de mulheres com FM apresentou média de afeto positivo menor e média de afeto negativo maior que aquela preconizada pela Associação Americana de Psicologia (APA). O teste de Spearman evidenciou correlação entre: afeto positivo e limiar de dor (r = -0,32; p = 0,04), afeto positivo vs negativo (r = 0,39; p = 0,01), afeto negativo e FIQ (r = 0,72; p < 0,0001) e FIQ e limiar de dor (r = -0,43; p = 0,005). Estes resultados evidenciam a associação entre as variáveis afetivas e isiológicas e sugerem alteração importante nos estados afetivos que pode estar interferindo nos mecanismos de percepção dolorosa e funcionalidade na FM.

Fibromyalgia (FM) is a non-inlammatory rheumatic disease of unknown etiology, characterized by pain and fatigue, as well as psychosomatic and changes in mood. he positive and negative afectivity appears as an important factor for being related to the mechanism of subjective well-being, physical and psychosomatic symptoms of FM. We aimed to assess the positive and negative afect and correlate with pain and the impact of FM in women. Upon cross-sectional study 39 women with FM were evaluated with Positive and Negative Afect Schedule (PANAS), pain threshold (algometry) and Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). he woman with FM had lower positive afect and higher negative afect than recommended by the American Psychological Association (APA). he Spearman correlation test showed correlation between positive afect and pain threshold (r = -0.32, p = 0.04), negative vs. positive afect (r = 0.39, p = 0.01), negative afect and FIQ (r = 0.72, p < 0.0001) and FIQ and pain threshold (r = -0.43, p = 0.005). hese data show signiicant change in positive and negative afect in women with FM, interfering in hyperalgesia and low functionality. Key-words: ibromyalgia, affect, pain.

Palavras-chave: ibromialgia, afeto, dor.

Endereço para correspondência: Rodrigo P.A. Freitas, Departamento de Fisiologia, Programa de Pós Graduação em Psicobiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Sen. Salgado Filho, 3000 Lagoa Nova 59075-000 Natal RN, E-mail: [email protected]

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Introdução

Material e métodos

Fibromialgia (FM) é uma síndrome reumática não articular, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor musculoesquelética difusa, crônica e presença de sítios anatômicos especíicos dolorosos à palpação, denominados “tender points”, localizados especialmente no esqueleto axial. Dentre os sintomas frequentemente associados ao quadro doloroso encontram-se a fadiga, distúrbios do sono, rigidez muscular matinal, ansiedade e depressão [1]. Além da presença de sintomas físicos, a FM também apresenta, comumente, alterações psicossomáticas e no estado de humor que se agravam em momentos de estresse físico ou emocional [2]. O I Consenso Brasileiro do Tratamento da Fibromialgia [3] preconiza a associação entre a terapêutica medicamentosa, a orientação da prática de exercícios musculoesqueléticos e a terapia cognitivo-comportamental, respeitando-se a individualidade de cada caso. É necessário reportar então, os estudos entre as interações físicas e psicossomáticas devido ao entrelace de sintomas, para que possamos escolher o melhor curso de tratamento. As habilidades emocionais são variáveis preditivas de menor dor percebida e a literatura descreve importante relação entre os estados afetivos e os resultados clínicos em doenças como a FM, porém, esse tipo de relação ainda merece maior investigação [4,5]. Em meio aos estudos de estados de humor e comportamento social, a afetividade positiva e negativa aparece como um fator importante por estarem relacionadas com o mecanismo de bem estar subjetivo pessoal, interação social e de relacionamento interpessoal [5]. Pressman e Cohen [6] observaram em estudos de auto-relato de saúde, que indivíduos que apresentavam altos níveis de estados afetivos negativos e déicits de afeto positivo relatavam mais sintomas do que aqueles com níveis normais. Essas alterações no estado de humor e afetividade estão relacionados à piora dos quadros de hipersensibilidade a dor, baixa função física e distúrbios psicossomáticos [5,7,8]. Alguns estudos [9,10] têm mostrado que o afeto positivo possui um efeito benéico sobre indicadores psicológicos e isiológicos de bem-estar, especialmente em resposta a estímulos afetivos negativos e as suas consequências deletérias. Contudo, existe agora uma forte evidência de que mulheres com dor crônica como na FM possuem grande diiculdade em manter os níveis de afeto positivo devido aos episódios de dor. A vida afetiva merece, portanto, atenção durante a avaliação e prescrição do tratamento em mulheres com FM. Esse entendimento pode ser uma alternativa de intervenção pouco levada em consideração pelo isioterapeuta e demais proissionais da saúde, mais de grande importância para entender as relações entre os distúrbios psicossomáticos e físicos encontrados na FM. Desse modo, objetivamos avaliar o nível de afeto positivo e negativo e correlacioná-los com o impacto da FM e o sintoma de dor em mulheres com FM.

Através de um estudo descritivo transversal, foram estudadas mulheres com diagnóstico clínico de FM, residentes na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, que frequentaram o setor de Fisioterapia do Hospital Universitário Onofre Lopes e a Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Potiguar no período de maio a setembro de 2012. O estudo foi realizado com 39 mulheres com ibromialgia com faixa etária de 32 a 71 anos. Todas as participantes possuíam diagnóstico médico de FM predito através dos critérios do American College of Rheumatology (1990) [1]. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte parecer número 274/2010. As participantes foram informadas sobre os propósitos da pesquisa, podendo participar mediante o preenchimento e assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: (a) possuir diagnóstico médico de FM; (b) capacidade cognitiva de entender o intuito da pesquisa e de responder aos questionários; (c) não estar realizando a menos de 1 mês qualquer tratamento isioterapêutico ou de reabilitação física. Adotamos como critérios de exclusão: (a) comprovação de algum déicit cognitivo; (b) presença de diiculdades físicas e/ou orgânicas, caso estas comprometam a aplicação dos questionários e limitem os testes algésicos; (c) portadoras de doenças endócrinas, reumáticas e/ou auto-imune, tais como: síndrome da fadiga crônica, pubalgia, dor pélvica crônica, depressão atípica, síndrome do cólon irritável, artrite reumatóide, gota e lúpus; (d) pacientes que fazem uso de medicamentos corticoesteróides, analgésicos, antiinlamatórios, psicoativos e antidepressivos na semana dos testes algésicos e da aplicação dos questionários; (e) história de desordens psiquiátricas como depressão grave, dependência de álcool ou substância entorpecente, esquizofrenia e desordens de personalidade. Para todas as pacientes os procedimentos experimentais foram aplicados na seguinte sequência: (1) aplicação dos questionários de afeto positivo e negativo (PANAS), questionário de impacto da FM (FIQ); (2) testes algésicos com algometria.

Aplicação dos questionários e exame físico O afeto positivo e afeto negativo foram medidos pela PANAS [11]. A PANAS surge da necessidade de desenvolver medidas validadas, breves e fáceis de administrar para avaliar alterações de afetividade na população. Esse questionário consiste em um conjunto de palavras que descrevem diferentes sentimentos e emoções dispostas em duas escalas de humor com 10 itens cada. Cada item possui uma pontuação de 1 a 5 pontos (1 = “muito ligeiramente ou nada” a 5 = “extremamente”) para indicar à medida que os entrevistados sentiram os sentimentos e emoções durante as semanas anteriores à entrevista. Para a pontuação do afeto positivo, são somados os

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itens 1, 3, 5, 9, 10, 12, 14, 16,17, e 19 da escala. A pontuação pode variar de 10 a 50, com escores mais altos representando níveis mais elevados de afeto positivo. A pontuação do afeto negativo é realizada somando os itens 2, 4, 6, 7, 8, 11, 13, 15, 18, e 20, também variando de 10 – 50 onde os escores menores representam baixos níveis de afeto negativo. A Associação Americana de Psicologia (APA) [12] deiniu que o escore médio para afeto positivo é descrito como 33,3 ± 7,2 e para o afeto negativo média de 17,4 ± 6,2. Foi utilizada a versão portuguesa da PANAS, validada por Galinha et al. [12]. A análise de consistência interna calculou um valor de alpha de Conbrach a= 0,86 para subescala de afeto positivo e a= 0,91 para a subescala de afeto negativo. A capacidade funcional foi avaliada pela versão brasileira do FIQ, validada por Marques et al. [13]. Este é um questionário auto-aplicável que compreende aspectos funcionais do indivíduo ao longo das últimas semanas, composto por três questões do tipo escala Likert (escala de respostas gradativas) e sete perguntas classiicadas numa escala visual analógica (EVA). Todas as escalas variam de 0 a 10, onde uma pontuação alta indica elevado impacto negativo e uma maior severidade dos sintomas. O score total do FIQ é graduado de 0 a 100 pontos, sendo as maiores pontuações relacionadas ao alto impacto da doença na funcionalidade do indivíduo, consequentemente piorando sua qualidade de vida [14]. O teste de sensibilidade dolorosa foi realizado nos 18 pontos preditos pelo ACR, como preconizado por Okifuji et al. [15] com intervalo de cerca de 5 a 10 segundos entre eles, de forma perpendicular a pele, aplicados pelo mesmo avaliador devidamente capacitado. Foi utilizado um algômetro de pressão (Pain Diagnostics and hermography®, Great Neck, NY, USA) com uma ponta de borracha de 1 cm de diâmetro, sendo quantiicados em termos de limiar à dor à pressão, na unidade de kg/cm2. O limiar de dor é deinido como o ponto em que um estímulo de pressão cada vez maior e não dolorosa torna-se uma sensação de pressão dolorosa [16]. O examinador posiciona a ponta de borracha sobre a área de exame e gradualmente aumenta a pressão com aproximadamente 1 kg/cm2 por segundo. O limiar de dor foi descrito quando a paciente relatar início da percepção dolorosa através da frase “comecei a sentir dor”. Foi solicitado que as participantes repetissem exatamente essa frase para completa padronização do exame.

Resultados A Tabela I apresenta as características gerais da amostra. O grupo de mulheres com FM apresentou média de afeto positivo menor (27,7 ± 4,6) e média do afeto negativo maior (26,2 ± 5,9) que a média preconizada pela APA (33,3 ± 7,2/17,4 ± 6,2 respectivamente) (Tabela I). Tabela I - Descrição de dados demográicos e das variáveis do estudo. Variáveis Idade

Fibromialgia (n = 39) M/DP 53,1 ± 9,5

Estado civil (%) Casada Solteira Viúva Divorciada Não respondeu Renda (%) > 4 salários mínimos 2 a 3 salários mínimos até 1 salário mínimo FIQ Limiar de dor Afeto positivo Afeto negativo

56,41% 15,38% 10,25% 15,38% 2,56% 25,64% 41,02% 33,33% 63,5 ± 16,9 1,8 ± 0,6 27,7 ± 4,6 26,2 ± 5,9

M ± DP; dados dispostos em média e desvio padrão; FIQ: questionário de impacto da fibromialgia; Limiar de dor em kg/cm2.

Foi observada correlação negativa moderada entre o estado de afeto positivo e o limiar de dor (r = -0,32; p = 0,04) (Figura 1). O estado de afeto positivo apresentou correlação positiva moderada quando correlacionado ao estado afetivo negativo (r = 0,39; p = 0,01) (Figura 1). A análise dos dados demonstrou também correlação positiva forte entre o afeto negativo e o FIQ, indicando que quanto maior o impacto da FM sob a funcionalidade dos pacientes maior é o estado de afetividade negativa (r = 0,72; p < 0,0001) (Figura 1). O FIQ também apresentou correlação moderada negativa em relação ao limiar de dor (r = -0,43; p = 0,005), demonstrando que quanto menor o limiar de dor maior será o impacto sob a funcionalidade das mulheres com FM. Não foi observado correlação entre o afeto negativo e dor.

Análise estatística Discussão A análise estatística dos dados foi realizada através do uso do software estatístico SPSS versão 19.0 e GraphPad Prism 5. As variáveis quantitativas contínuas foram avaliadas segundo os seus valores médios e seus respectivos desvios-padrão. A normalidade de distribuição da amostra foi avaliada através do teste de Shapiro-Wilk. Para testar a correlação entre as variáveis foi utilizado o teste de correlação de Spearman. O nível de signiicância adotado foi de 5%.

O objetivo deste estudo foi avaliar o papel potencial de alterações na afetividade positiva e negativa em mulheres com FM e correlacioná-la com a saúde física mediante avaliação da dor e funcionalidade. Foram observados níveis baixos de afetividade positiva bem como níveis altos de afetividade negativa nas mulheres com diagnóstico clínico de ibromialgia. Essas alterações no estado afetivo se correlacionam com a

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sensibilidade dolorosa elevada, quantiicada a partir do limiar doloroso à pressão, e a funcionalidade das pacientes. Figura 1 - Correlações de Sperman signiicativas entre as variáveis de afeto positivo e negativo e sensibilidade dolorosa à pressão (limiar de dor em Kg/cm2) e impacto da ibromialgia na funcionalidade (FIQ). 4

r= -0,32 p=0,04

Dor em Kg/cm2

3 2 1 0 0 40

10

20 Afeto Positivo

30

40

10

20 Afeto Positivo

30

40

r=0,39 p=0,01

Afeto Negativo

30 20 10 0 0 100 r=0,72 p 0,05). O mesmo foi evidenciado para a relação idade e perda de urina (p > 0,05) que mostrou não ter associação entre mulheres mais velhas e perda de urina.

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A presença de IU em mulheres jovens e nulígestas que praticam atividades físicas e esportivas ocorrem com frequência, sendo não conclusiva a esse respeito, mas atividades físicas que exigem muito esforço e alto impacto podem ser um fator de risco para o desenvolvimento da IU [33]. Tal fato apresentou uma relação diretamente proporcional às relações obtidas por Nygaard et al. [32], ao veriicar a prevalência de perda de urina entre mulheres jovens, constataram que 11,8% das mulheres apresentaram perdas urinárias durante as atividades físicas. No estudo realizado por Santos [36], foi observado uma perda de 11,1% em mulheres que faziam musculação, uma vez que esse tipo de atividade é realizado através do levantamento de peso e é considerado um exercício que promove uma elevação considerável da pressão intra-abdominal, levando a episódios de perda de urina. Nygaard et al. [32] airma não ser conclusiva a esse respeito de modo que questionários não conseguem avaliar a intensidade do exercício, assim como o tipo de peso. Talvez possamos explicar tais achados devido a não realização de contração voluntária dos MAP’s durante a realização de exercícios que aumentem a pressão intra-abdominal. Como visto anteriormente, o presente estudo evidenciou perdas urinárias de 4,3% ao dirigir-se ao banheiro. Em estudo realizado por Freitas et al. [37] a prevalência desse tipo de perda foi de 18,8% dos casos. Segundo o mesmo autor, a IUU é caracterizada pelo desejo súbito de urinar (urgência), muitas vezes ocasionado quando a bexiga possui uma quantidade pequena de urina, porém a pessoa não consegue controlar o desejo e perde-a antes de chegar ao banheiro. A noctúria, por sua vez, caracteriza-se por mais de duas micções noturnas, devido a uma baixa capacidade funcional da bexiga. É um sintoma urológico bastante frequente que acomete aproximadamente em 15% das mulheres, sua prevalência aumenta em indivíduos com idade avançada [30]. No estudo realizado por Mourão [38] teve uma discordância com o estudo apresentado, uma vez foi observado que houve uma maior prevalência de sintomas urinários, dentre eles a noctúria com uma intensidade bastante signiicativa de 80,95%. Com relação à frequência de perda, a maioria das mulheres que apresentaram perdas urinárias relatou apresentar perdas escassas. Segundo Nygaard et. al [32] mulheres que apresentam sintomas severos de IU, e aquelas com frequentes episódios de perda de urina são as que apresentam menores índices de participação de atividade física.

Conclusão Conclui-se, portanto, que a prevalência de perdas urinárias foi de 9,1% em meio a praticantes de atividades físicas. Considerada baixa, porém signiicativa. Percebe-se, ainda, que não se exclui a presença de sintomas urinários em mulheres jovens, visto que as mesmas apresentaram um ou mais sintomas urinários, incluindo a noctúria, e percebeu-se então a prevalência de IU aos esforços.

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O elevado nível de desinformação em relação ao AP e à IU aliado à escassez de literatura acerca da temática em questão impossibilita o proissional de isioterapia de realizar um trabalho de prevenção e de consciência acerca da referida musculatura. Sabendo-se que negligenciar questões sobre IU pode acarretar diversos prejuízos às mulheres que praticam atividades físicas, vê-se necessário a orientação adequada desses proissionais no sentido de tornar a prática de atividades físicas um auxilio a prevenção para essa patologia. Sugere-se então que seja feita novas pesquisas a cerca desse tema, pois na literatura ainda se encontra poucos estudos que abordem o tema referido, e que os próximos estudos abordem os conhecimentos dessas mulheres em relação à perda urinária, pois muitas mulheres ainda evitam falar sobre esse tema, uma vez que as deixam constrangidas, ou acreditarem ser um processo normal.

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Artigo 14 Peril epidemiológico de mulheres em idade fértil com hepatites virais na região Trairí e Potengi, Rio Grande do Norte, Brasil

Epidemiological proile of women of reproductive age with viral hepatitis in the Trairí and Pontengi Regions, Rio Grande do Norte, Brazil Joelson dos Santos Silva*, Candice Simões Pimenta de Medeiros*, Vanessa Lopes Costa de Oliveira*, Diego de Sousa Dantas**, Damião Ernane de Souza, D.Sc.***, Adriana Gomes Magalhães, M.Sc.****, Karla Veruska Marques Cavalcante da Costa, D.Sc.***** *Estudante de graduação do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, **Graduado em Fisioterapia pela Universidade Federal da Paraíba – UEPB, ***Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Bahia –UFBA, ****Mestre docente do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, *****Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Resumo

Abstract

As hepatites virais são doenças silenciosas provocadas por diferentes vírus hepatotrópicos que apresentam características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais semelhantes, porém com importantes particularidades. Este estudo tem como objetivo descrever o peril epidemiológico de mulheres em idade fértil com hepatites virais na região Trairí e Pontengi no estado do Rio Grande do Norte. Dos 219 casos de hepatites virais notiicados apenas 22 casos de mulheres em idade fértil (MIF) foram investigados e caracterizam-se como amostra do estudo. 31,7% mulheres encontravam-se infectadas durante a gestação, a maioria possuía entre 10 a 15 anos, 40,9% apresentavam mais de 6 anos de estudo, 54,5% eram de cor parda e 22,7% eram estudantes. 62,8% apresentavam suspeita de hepatite do tipo A e não eram vacinadas. Torna-se importante traçar políticas públicas efetivas para reduzir o número de hepatites virais, com a utilização de ações preventivas. Além da prática adequada e efetiva de notiicação e do desenvolvimento de estratégias educacionais e permanentes nos proissionais de saúde.

Viral hepatitis is a silent disease caused by diferent hepatotropic viruses that have epidemiological, clinical and laboratory similar characteristics, but with important peculiarities. his study aimed to describe the epidemiological proile of women in reproductive age with viral hepatitis in the Trairí and Pontengi regions the state of Rio Grande do Norte. Of the 219 cases of viral hepatitis reported only 22 cases of women of childbearing age (WCA) were investigated and characterized as the study sample. 31.7% women were infected during pregnancy, most had between 10 to 15 years, 40.9% had more than six years of study, 54.5% were of mixed ethnicity and 22.7% were students. 62.8% had suspected hepatitis type A and were not vaccinated. It is important to have efective public policies to reduce the number of viral hepatitis, with the use of preventive actions. In addition to practice proper and efective reporting and the development of educational and permanent strategies in health professionals. Key-words: hepatitis, women, pregnancy, epidemiology.

Palavras-chave: hepatite, mulheres, gestação, epidemiologia.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47, Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail: [email protected]

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Introdução As hepatites virais são doenças silenciosas provocadas por diferentes vírus hepatotrópicos que apresentam características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais semelhantes, porém com importantes particularidades [1]. Com efeito, as hepatites mais encontradas no Brasil são as causadas pelos agentes etiológicos dos vírus A, B e C. Estes vírus têm em comum a predileção para infectar os hepatócitos, divergindo quanto à transmissão e consequências [2,3]. Sua distribuição é universal e elas possuem grande importância devido a sua grande prevalência, incidência e pela possibilidade de complicações das formas agudas e crônicas, podendo afetar qualquer ser humano, independente da idade, sexo, raça e estado sócio-econômico [4]. As hepatites virais são um grave problema de saúde pública no mundo e, inclusive no Brasil. Segundo estimativas da OMS (Organização Mundial de Saúde), bilhões de pessoas já tiveram contato com vírus das hepatites e milhões são portadores crônicos [1]. A Organização Mundial de Saúde estima que existam cerca de 325 milhões de portadores crônicos da hepatite B e 170 milhões da hepatite C no mundo [5], entretanto a prevalência da hepatite A varia de acordo com o grau de higiene e com as facilidades sanitárias disponíveis para as populações [6]. A hepatite viral A é uma doença infecciosa aguda, causada por um vírus (RNA), transmitida por via fecal-oral e que atinge mais frequentemente crianças e adolescente através da ingestão de água e alimentos contaminados ou diretamente de uma pessoa para outra [7]. A transmissão do vírus da hepatite viral B (HBV) ocorre principalmente através de exposição percutânea ou de mucosas a sangue ou luidos corpóreos contaminados com o vírus. As formas de contagio mais importantes são através das vias vertical, sexual e por inoculação percutânea [8,9]. Embora o vírus na hepatite C (VHC) seja transmitido por contato direto, percutâneo ou através de sangue contaminado, em percentual signiicativo de casos não se identiica a via de contaminação[10,7].A evolução das hepatites varia de acordo com o tipo de vírus e dependendo do estágio em que foi descoberta a maioria das pessoas desconhecem a sua sorologia, agravando ainda mais a cadeia de transmissão da infecção [2]. A população brasileira feminina constitui 51% da população do país e a população de mulheres em fase reprodutiva, entre 10 e 49 anos de idade, representa cerca de 62.110.637 milhões de indivíduos [11]. As mulheres em idade fértil representam uma parcela importante da população geral, constituindo uma fração considerável da força produtiva do país, para a constituição e manutenção da família [12], além de representarem um dos principais grupos usuários dos serviços de saúde [13]. As infecções adquiridas durante a gestação podem impactar tanto a saúde materna quanto a fetal, e no caso da hepatite a transmissão pode ocorrer no período gestacional, durante o parto e no pós-parto 14]. Apesar do Ministério da Saúde ter desenvolvido o Programa Nacional de Hepatites Virais com o objetivo de desen-

volver ações de promoção da saúde, prevenção e assistências aos pacientes com hepatites virais [5], no Brasil existem uma escassez de informações e poucos estudos epidemiológicos sobre a incidência de hepatites virais em mulheres em idade fértil através do rastreamento de casos notiicados e investigados através do Sistema Nacional de Notiicações de Agravos (SINAN), o que é fundamental para a implementação de medidas que visem reduzir o índice de transmissão e minimizar as consequências geradas pela instalação das hepatites virais [15]. Diante do exposto, o estudo teve como objetivo descrever o peril epidemiológico de mulheres em idade fértil com hepatites virais na região Trairí e Pontengi no estado do Rio Grande do Norte e caracterizar as notiicações, com base nas informações das ichas de investigação desse agravo através do Sistema de Informações de Agravos de Notiicações (SINAN).

Material e métodos O presente trabalho se refere a um estudo descritivo, ecológico da série temporal realizado nas regiões Trairí e Potengi no estado do Rio Grande do Norte. As regiões englobam aproximadamente 21 municípios com a cobertura de uma população de aproximadamente 180.000 habitantes [10]. A pesquisa foi realizada com os dados obtidos no Sistema de Informação de Agravos de Notiicação (SINAN) correspondendo aos dados da V Unidade Regional de Saúde Pública (URSAP) pertencente à Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte das regiões Trairí e Potengi onde foram coletadas amostras entre os anos de 2007 a Setembro de 2011 no período de outubro de 2011. A população de estudo constitui-se dos casos de Hepatites Virais (A, B e C) em Mulheres em Idade Fértil (MIF) adscritas nos municípios da região Trairí e Potengi - RN com casos notiicados e investigados. Foram excluídos os casos de indivíduos não residentes nessas microrregiões e idosos (idade superior a 65 anos), mulheres com casos apenas notiicados. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob parecer número 272/2011. Os casos suspeitos de hepatites virais são notiicados através da icha individual de notiicação (FIN) de cada município que é encaminhado pelos serviços de vigilância epidemiológica das Secretarias Municipais que devem realizar o repasse das ichas para as Secretarias Estaduais de Saúde. Quando não ocorre nenhuma notiicação suspeita da doença, o formulário de notiicação negativa é preenchido. Além disso, também é disponibilizado a Ficha Individual de Investigação (FII) possibilitando a identiicação da fonte de infecção e os mecanismos de transmissão da doença. Todos os casos notiicados eram reconhecidos pela vigilância, porém, não eram realizados nenhum tipo de identiicação. Enquanto isso, os casos investigados eram submetidos a total análise das características e fatores desencadeante. A coleta de dados ocorreu exclusivamente na URSAP, onde um proissional técnico que

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apresentavam domínio com o manuseio do sistema SINAN realizou a busca pelas mulheres que se encaixavam nos critérios de inclusão. Trabalhou-se com variáveis socioeconômicas e demográicas presentes nos registros do SINAN. Trabalhou-se com variáveis socioeconômicas e demográicas presentes nos registros do SINAN. As informações coletadas foram armazenadas e analisadas de forma descritiva pelo programa estatístico SPSS 16.0 com valores de frequência absoluta (n) e percentual (%) e estatísticas descritivas das variáveis contínuas, com valores de média e desvio padrão.

Resultados Dos 219 casos de hepatites virais notiicados para o período de interesse, foram excluídos 197, dos quais: 116 eram homens; 51 eram mulheres em fase não reprodutiva; 52 mulheres encontravam-se em idade fértil, entretanto, 30 casos foram somente notiicados e 22 casos notiicados foram investigados. Como resultado inal, 22 casos de hepatites virais investigados foram objeto do estudo. Das 22 ichas de hepatites virais investigadas que foram avaliadas, (31,7%) das mulheres encontravam-se infectadas durante a gestação, sendo (4,5%) no primeiro trimestre gestacional, (13,6%) no segundo trimestre, (4,5%) no terceiro trimestre e (9,1%) com idade gestacional ignorada (Tabela I). Tabela I – Casos notiicados e investigados de hepatites virais na região Trairí e Potengí/RN registrados no SINAN entre os anos de 2007 e setembro de 2011. Fichas das Hepatites Virais 2007 - 2011 Fichas notiicadas Homens Mulheres Total MIF notiicadas e investigadas - Anos 2007 2008

n

%

116 103 219

52,9 47,1 100

7 2

13,46 3,85

2009 2010 2011 Total MIF investigadas Total Gestante Primeiro trimestre Segundo trimestre Terceiro trimestre Idade gestacional ignorada Não Não se aplica

16 18 9 52

30,77 34,62 17,30 100

22

100

1 3 1 2 7 3

4,5 13,6 4,5 9,1 31,9 13,6

Ignorado Total

5 22

22,8 100

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

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Dos municípios da região Trairí e Potengi, apenas 7 apresentaram investigação dos casos notiicados, sendo São José do Campestre o mais acometido (36,4%), na distribuição por zona observou-se uma distribuição igualitária entre a zona urbana e rural de 50%. A faixa etária mais frequente foi de 10 a 15 anos (36,4%), com média de 18,36 anos (± 6,79) e de cor parda (54,5%). No tocante a escolaridade, observou-se uma elevada incidência para os casos de preenchimento ignorado (59,1%), seguida pela permanência de mais de 6 anos de estudo atingindo um percentual de 40,9% dos casos. Em relação ao tipo de ocupação 63,6% apresentavam informação ignorada e o maior percentual informado foi de 22,7% para os estudantes (Tabela II). A informação sobre o estado civil das mulheres avaliadas estava sem preenchimento em 100% dos casos dos MIF investigados. Tabela II - Distribuição das características das MIF dos casos investigados de hepatites virais nas regiões Trairí e Potengi/RN. Variáveis Município de Residência/notiicação Japi Lajes Pintadas Santa Cruz São José do Campestre Sítio Novo Ruy Barbosa Tangará Zona Urbana Rural Faixa Etária (anos) 10 a 15 16 a 20 21 a 25 26 a 30 31 a 35 36 a 49 Raça Branca Preta Parda Ignorado Escolaridade 4º série completa do ensino fundamental 5º a 8º série incompleta do ensino fundamental Ensino fundamental completo Ensino médio completo Ignorado Ocupação Dona de Casa Estudante Agropecuária Sem informação

% 9,1 9,1 9,1 36,4 4,5 18,2 13,6 50,0 50,0 36,4 27,3 27,3 0 9,1 0 27,3 4,5 54,5 13,6 13,6 9,1 13,6 4,5 59,1 9,1 22,7 4,5 63,6

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

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Em relação às variáveis referentes às características dos casos de hepatites virais (Tabela III), observa-se que 62,8% apresentavam suspeita de hepatite do tipo A, sendo 62,8% dos casos não vacinadas para hepatite A e 34,6% com vacinação completa para a hepatite B. Quanto à infecção por doenças como o HIV/AIDS e outras DSTs 68,2% dos casos não apresentavam as enfermidades, no entanto 31,8% dos demais foram ignorados. O 50% dos casos referiam não possuir contato com o portador de hepatite B ou C pela forma sexual, domiciliar ou ocupacional e os outros 50% os dados estavam ignorados. Tabela III - Distribuição dos casos, vacinações e outros agravos referentes as hepatites virais na região Trairí e Potengi/RN. Variáveis Suspeita de Hepatite A Hepatite B/C Tomou vacina para Hepatite A Não vacinada Ignorado Tomou vacina para Hepatite B Completa Incompleta Não vacinada Ignorado HIV/ AIDS Não Ignorado Outras DSTs Não Ignorado Contato com paciente portador de HBV ou HBC Sexual Não Ignorado Não Domiciliar (não sexual) Ignorado Ocupacional Não Ignorado

%

Tabela IV - Distribuição da exposição aos principais fatores agravantes para a contaminação das hepatites virais nas regiões Trairí e Potengí/RN. O paciente foi submetido/exposto: Medicamentos injetáveis Tatuagem/Piercing Acidente com material biológico Drogas Inaláveis ou Crack Acupuntura Transfusão de sangue/ derivados Drogas injetáveis Tratamento cirúrgico Tratamento dentário

% 31,8 4,5 0 4,5 0 0 4,5 4,5 22,7

Água/Alimento contaminado

22,7

Três ou mais parceiros sexuais Hemodiálise Transplantes

0 0 0

68,2 31,8

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

68,2 31,8

Tabela V - Distribuição da classiicação dos principais mecanismos de infecções para hepatites virais.

36,4 27,3 22,7 13,6 68,2 31,8 68,2 31,8

Mecanismos de infecção Sexual Transfusional Uso de drogas Acidentes de trabalho Hemodiálise Domiciliar Tratamento cirúrgico Tratamento dentário Água/Alimentos contaminados Ignorados

% 4,5 0 0 0 0 9,1 0 4,5 22,8 59,1

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

50,0 50,0 50,0 50,0 54,5 45,5

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Quando ao grau de exposição a fatores agravantes nos últimos seis meses, observou-se uma elevada incidência para os casos que referiam utilizar medicamentos injetáveis (31,8%), ter submetido a tratamento dentário (22,7%) e ter contato com água e alimento contaminado (27,2%) (Tabela IV). O principal mecanismo/fonte de infecção para a contaminação das hepatites virais registradas foi através do contato com água e alimentos contaminados (22,7%), no entanto em 59,1% dos casos esta informação foi ignorada (Tabela V).

Discussão O peril da MIF com hepatites caracterizam-se por mulheres com faixa etária variando entre os 10 e 25 anos, sendo a raça parda e o grau de escolaridade superior a seis anos de estudo, representando enquanto ocupação a categoria de estudantes. Observou-se também que pelo menos 31,7% das mulheres contaminadas estava na fase da gestação, podendo acarretar riscos e complicações para o binômio mãe/ilho. Adicionalmente a estes dados, quanto à contaminação pelo VHA, a ausência de vacinação anti-hepatite A e B foram dados relevantes, assim como o elevado grau de exposição a fatores de risco como: medicamentos injetáveis e água e alimentos contaminados, contribuindo para o aumento da incidência desse agravo. Os achados do presente estudo demonstraram uma tabulação insatisfatória por parte dos proissionais responsáveis pela vigilância e assistência epidemiológica da região do Trairí e Potengi no estado do Rio Grande do Norte. Não obstante, para garantir uma adequada prestação da assistência à saúde,

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é imprescindível a melhoria da prestação das informações epidemiológicas das regiões, através da prática adequada da notiicação, buscando implantar a utilização do SINAN, como um importante instrumento para facilitar a formulação e a avaliação das políticas públicas, planos e programas de saúde, subsidiando o processo de tomada de decisões, com vistas a contribuir para a melhoria da situação de saúde da população [27]. Durante o estudo encontrou-se uma taxa de 219 casos de hepatites virais notiicados na região Trairí e Potengi/RN no período de 2007 a setembro de 2011. A notiicação dos casos foi maior no gênero masculino (52,9%), quando comparado ao feminino com 103 (47,1%) casos notiicados, no entanto somente 52 casos correspondiam a MIF, e 22 destes casos foram investigados. Um estudo semelhante realizado no estado de Pernambuco, de 2002 a 2006, com o peril de hepatites virais em homens e mulheres encontrou-se uma predominância ao longo dos anos de casos, no sexo masculino, variando de (53,6% a 52,5%) enquanto o sexo feminino manteve a média de 40% em todos os anos. Além disso, o mesmo estudo considerou 9.721 casos conirmados (investigados) em um total de 19.533 notiicações [2]. Na avaliação do peril da síilis congênita em Natal/RN entre 2004 a 2007 através do SINAN, observa-se um elevado número de casos notiicados, porém não investigados, indicando uma necessidade de maior vigilância epidemiológica para melhorar, principalmente, a qualidade dos registros [16]. A prevalência da notiicação e investigação dos casos de hepatites virais em MIF encontradas no presente estudo, no ano de 2010, foi a mais elevada. Durante o período de investigação dos casos (31,7%) das mulheres estavam contaminadas durante a gestação. Em um estudo com a avaliação sorológica do pré-natal com testes para HIV, toxoplasmose, síilis e hepatite B foram avaliadas 5.191 mulheres onde 26 apresentavam resultado positivo para a contaminação da Hepatite B [8]. Um estudo semelhante no primeiro atendimento ambulatorial em Londrina demonstra uma positividade na contaminação de 0,9% para o vírus da hepatite B e 0,8% no vírus da hepatite C com uma amostra de 1.164 gestantes [17]. Dados do Programa Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde (MS) sobre a prevalência de algumas DST’s em população selecionada de seis capitais brasileiras mostram que entre 3.303 gestantes, a prevalência da infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) foi de 0,5% [14]. A contaminação do vírus da hepatite durante a gestação acarreta riscos para mãe e principalmente para o feto, onde o risco da transmissão para o ilho no primeiro e segundo trimestre é de 5 - 15%, sendo o terceiro trimestre responsável por 60% de risco de comprometimento do recém-nascido [18]. Dos 21 municípios da região Trairí e Potengi avaliados apenas 7 municípios (33,3%) apresentaram investigação de suas notiicações. Um aspecto semelhante foi observado em um estudo sobre os aspectos epidemiológicos das hepatites virais no norte de Minas Gerais através da investigação pelo

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SINAN onde se veriicou que dos 89 municípios que compõem essa região, apenas 28 (31%) realizavam a notiicação dos casos de hepatites [15]. De acordo com as características das MIF encontradas nesta pesquisa referentes à faixa etária, zona de moradia, raça, escolaridade e ocupação observou-se, respectivamente, resultados semelhante aos dados de Vieira et al. [15] onde a ocorrência de hepatites virais foi mais frequente na faixa de de 5 a 9 anos, enquanto isso, Perrim e Passos [8], ao avaliar gestantes com hepatite B encontrou um predomínio de mulheres jovens com 30% dos casos com idade até 20 anos; de acordo com o percentual divulgado no boletim epidemiológico de hepatites virais em 2010[19], observou-se uma maior proporção de casos de hepatite A entre homens e mulheres da raça/cor parda, tendo uma incidência de 58,6%, seguidos da branca com 34,0%; Araujo; Mayvane e Gonçalvez [2] também encontraram 60,7% de acometimento de hepatites virais na raça parda. Percebeu-se no presente estudo, que a faixa da adolescência e dos adultos jovens representam os segmentos da população com maior risco para a contaminação de hepatites virais em MIF, independente da zona de moradia. Além disso, esse fator está relacionado com o maior número de mulheres com maior grau de escolaridade, ou seja, no nosso estudo com mais de 6 anos de estudo [2]. A alta prevalência da hepatite A (68,2%) e baixa endemicidade ao vírus da hepatite B e C foram encontrados no estudo. Embora a maior ocorrência do VHA a hepatite B também se destaca por apresentar um importante problema de saúde pública e os resultados encontrados corroboram com os dados de Clemens et al. [20] que realizaram um estudo soroepidemiológico em 6 países latino-americanos sendo no Brasil 3.600 pessoas avaliadas entre 1 e 40 anos em 4 regiões diferentes (norte, nordeste, sudeste e sul) foram encontrados a soroprevalência geral para hepatite A de 64,7% e hepatite B de 7,9%, além dos estudos de Vieira et al. [15] que analisou os aspectos epidemiológicos das hepatites virais em 28 municípios do norte de Minas Gerais através do SINAN encontrando cerca de 75,79% de sua amostra infectada pelo vírus da Hepatite A. A análise da frequência dos diversos tipos de hepatite no Brasil, em 2000, mostrou que o vírus A continua sendo o principal causador da doença, representando 43% dos casos registrados de 1996 a 2000 [7,15]. Uma das principais vias de disseminação do VHA está relacionada ás condições de saneamento básico, nível socioeconômico e de higiene da população e grau de educação sanitária [21]. Observa-se ainda uma relação entre o percentual de casos de indivíduos suspeitos infectados com o vírus da hepatite A e o percentual de indivíduos não vacinados onde 68,2% da população estudada de MIF na região Trairí e Potengi não tiveram acesso à vacinação da Hepatite A e 50% das mulheres investigadas estavam com a vacinação ausente ou incompleta para a Hepatite B. Estudos prévios tem demonstrado que a vacinação é capaz de evitar a disseminação da doença durante surtos, além de proteger contratantes domiciliares. Dessa

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forma a vacinação contra o VHA e VHB é o meio bastante efetivo de controle da doença, além de ser um meio de saúde pública de fácil acesso evitando custos adicionais para os serviços públicos [5,20,22] e, o desenvolvimento de vacinas para prevenir essas infecções, por meio da indução de imunidade ativa contra os vírus das hepatites A e B, foi uma das maiores conquistas cientíicas [15]. Em relação ao percentual de preenchimento dos casos de HIV e outras DST do nosso estudo, observa-se que 31,8% dos casos, em ambos os itens são ignorados, assim como a forma de contato com algum portador de hepatite B ou C por via sexual, domiciliar ou ocupacional que também se encontra ignorado em quase 50% dos casos conigurando uma negligência do sistema ou um mau preenchimento da icha e aumento da incompletude do campo de preenchimento. Araujo, Mayvane e Gonçalvez [2] encontraram, durante a avaliação das hepatites virais através do SINAN, certa de 100% dos casos com ausência de preenchimento para a variável de exposição a DST. Para o risco a exposição de fatores agravantes as hepatites virais no estudo, observou-se que os medicamentos injetáveis e água/alimentos contaminados apresentaram elevado índice para a contaminação. No nosso estudo, a água e os alimentos contaminados foram observados como um dos maiores mecanismo de infecção (22,8%) para as hepatites virais em MIF. Vieira et al. [15] em seus estudos encontraram como a principal fonte de infecção/transmissão no ano de 2001 a sexual, transfusional, drogas injetáveis, domiciliar e outros; porém no ano de 2006 a via domiciliar predominou. E Clemens et al. [20] corrobora com os nossos achados quando defende que melhorias adicionais e, em particular, no suprimento de água a longo prazo, são medidas eicientes para reduzir os índices de VHA. A utilização de fontes oiciais de dados secundários sub-registros, sub-notiicações, erros de classiicação e preenchimento, traduzem-se em limitações ao estudo em questão, principalmente no que se referem a prováveis casos registrados, número de casos notiicados e não investigados, como também casos ignorados. A prática da notiicação e investigação de doenças constitui uma atitude fundamental para a melhoria da prestação da assistência à saúde e a ausência de estratégias idedignas nesse processo de notiicação encontrado nos casos de MIF na região Trairí e Potengi com a redução do número de casos investigados pode representar uma ampla negligência da notiicação e da atuação dos serviços de saúde prestados, mascarando, de certa forma, os resultados encontrados na pesquisa. Diante do exposto, constata-se que devido o baixo índice de casos investigados, fora possível apreender que houve uma determinada deiciência no que concerne a elaboração de dados seguramente concretos na investigação das MIF que foram investigadas, demonstrando que faz-se necessário outros estudos em anos posteriores que possam elucidar a matéria discutida.

Conclusão Percebe-se que, muito embora, o número de suspeitos de hepatites virais seja elevado, principalmente do tipo A, existe um percentual similar de mulheres não vacinadas contra esse tipo de hepatite, evidenciando que é de extrema importância traçar políticas públicas efetivas para viabilizar e reduzir o número de agravos das hepatites virais, com a utilização de ações preventivas e vigilância à saúde. Só assim, poderá ser reduzido o percentual de indivíduos suspeitos de hepatites virais, como também tentar diminuir o elevado grau de exposição a fatores de risco. Contribuindo para a redução do aumento da incidência desse agravo. Observou-se também uma insuiciência de estudos sobre o peril das hepatites virais em MIF, acarretando sem dúvidas, a necessidade de realizar mais trabalhos cientíicos nessa área, já que são casos de riscos extras para a transmissão, principalmente a partir da gestação. Dessa forma, devendo ser visado à prevalência dos vírus da hepatite e os determinantes do processo saúde-doença, o que possibilitará monitorização e planejamento de forma mais efetiva, quando se trata de ações de prevenção, controle e combate de agravos, em especial para hepatites virais.

Agradecimentos Secretaria de estado da Saúde do Rio Grande do Norte, Secretaria municipal de saúde do município de Santa Cruz/ RN e V Unidade Regional de Saúde Pública (URSAP).

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Artigo 15 Abordagem da sexualidade após a mastectomia The sexuality after mastectomy Nívea Adriano de Santana e Santos*, Socorro Maria Pinho da Silveira, M.Sc.** *Fisioterapeuta graduada pela Faculdade de Ensino e Cultura do Ceará (FAECE), Pós-graduada em Fisioterapia na Saúde da Mulher, Faculdades Nordeste(FANOR), Fisioterapeuta da Clínica Dr. Rubens Albuquerque, Fortaleza/CE, **Psicóloga, mestre em administração pela Universidade de Fortaleza(UNIFOR). Professora da Faculdades Nordeste(FANOR)

Resumo

Abstract

A mastectomia proporciona mudanças negativas no relacionamento sexual das mulheres, dentre elas a diiculdade em mostrar seu corpo para o companheiro. O presente estudo buscou identiicar como é a comunicação entre a mulher e o seu parceiro e entre a mulher e o médico de 50 mulheres mastectomizadas, com idades de 30 a 77 anos, a maioria com menos de um ano da cirurgia. Foram realizadas entrevistas estruturadas, as respostas inseridas em um banco de dados e as variáveis analisadas utilizando-se do programa estatístico SPSS para Windows versão 16.0. A pesquisa revelou que as mulheres mastectomizadas costumam falar para o companheiro assuntos ligados a sexualidade. Com relação à comunicação entre a paciente e o médico veriicou-se que boa parte não fala sobre sua intimidade com esse proissional, apesar da maioria das entrevistadas airmarem o contrário. Embora as mulheres procurem superar suas diiculdades na convivência após a cirurgia, se faz necessário uma abordagem mais efetiva da equipe multidisciplinar para que os medos e as angústias inerentes à doença e seus tratamentos possam ser amenizados e assim não interiram na vida sexual.

he mastectomy causes negative changes in the sexual relationship of the women as the diiculty in showing her body. he present study aimed to identify the communication between the woman and her partner and between the woman and her doctor in 50 mastectomized women, 30 to 77 years old, the majority with less of one year of surgery. his study disclosed what the mastectomized women usually are telling to partners about sexuality. In regard to the communication between the patient and the doctor it was veriied that good part does not speak about her privacy with this professional, although the majority of the women airm the opposite. Although the women look for to surpass their diiculties after the surgery, they need a more efective multidisciplinary team to take in charge for the fear and distress inherent to the illness and its treatments could be brightened up and do not intervene with the sexual life. Key-words: sexuality, mastectomy, body image.

Palavras-chave: sexualidade, mastectomia, imagem corporal.

Endereço para correspondência: Nívea Adriano de Santana e Santos, Rua 118, 86 Passaré 60744-570 Fortaleza CE

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Introdução Diante da crescente incidência de câncer de mama no Brasil, surgiu o interesse em conhecer como é realizada a abordagem da vivência da sexualidade e se a mulher compartilha suas dúvidas e/ou queixas sexuais com seu parceiro ou proissional da saúde. Os estudos a respeito da sexualidade da mulher mastectomizada vêm sendo cada vez mais desenvolvidos no meio acadêmico e proissional, o que demonstra haver uma preocupação com os efeitos psicológicos decorrentes do câncer e da mastectomia, porém, não há estudos suicientes que avaliem se esse assunto é abordado pelos proissionais que a acompanham ou pela própria paciente. Embora as pesquisas existentes sejam, na sua maioria, de abordagem qualitativa, através das mesmas é possível identiicar algumas questões que são afetadas com a retirada da mama tais como, a imagem corporal e a sexualidade da mulher. A interação entre a paciente e os proissionais de saúde representa uma importante ferramenta para a abordagem das alterações decorrentes da mastectomia, inclusive as de ordem sexual, pois permite que a mulher comunique de forma mais natural sua vivência sexual no momento em que se sentir pronta para tal, permitindo dessa forma o esclarecimento de suas dúvidas e alívio para suas angústias. No entanto, é necessário que o proissional conheça e entenda os sentimentos e as diiculdades enfrentadas por essa população para assim permitir uma assistência adequada capaz de contemplar em sua integralidade e não apenas o câncer e seus tratamentos. O câncer mamário vem apresentando um relevante peril epidemiológico e já pode ser considerado como um problema de saúde pública mundial. É o tipo de câncer que mais acomete as mulheres, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos sendo crescente o número de casos a cada ano. No Brasil, de acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer, são estimados para 2012, cerca de 52.680 casos novos de câncer da mama, com taxa de incidência de 52 casos novos para cada 100 mil mulheres [1]. Apesar dos avanços nos métodos de diagnóstico e tratamento, a incidência e a taxa de mortalidade ainda são alarmantes apesar de ser considerado um câncer de relativamente bom prognóstico se diagnosticado e tratado oportunamente. De acordo com as informações de mortalidade, segundo o grupo de causas (CID 10), em 2008 as neoplasias (tumores) representaram a segunda causa de óbito na população (15,57%), estando atrás apenas dos óbitos decorrentes de doenças do aparelho circulatório (29,51%). Já o câncer de mama representa a maior causa de óbito por câncer (16%) entre as mulheres no ano de 2008 [2]. O câncer mais frequente no sexo feminino é o carcinoma in situ. Pode ser lobular ou ductal e seu efeito tem um impacto clínico importante, sendo a mastectomia o tratamento padrão, com índices de cura em torno de 100%. A cirurgia constitui uma das etapas mais importantes no tratamento do câncer de mama, incluindo a remoção do tumor e dos tecidos adjacentes

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e, quase sempre, o esvaziamento axilar [3]. A mastectomia radical se constitui no tratamento tradicional e sua prática não se limita apenas a lesões físicas, mas também a danos emocionais, podendo gerar sentimento de perda, mutilação, dor, perda de atrativo sexual e impotência, o que poderá contribuir para diiculdades nas relações interpessoais [4]. A mama é tida como um símbolo da sexualidade no corpo feminino, o que nos leva a pensar que qualquer patologia que ameace este órgão poderá levar a uma perda da auto-estima e gerar sentimentos de inferioridade e rejeição. Com a retirada da mama a imagem corporal sofre uma alteração, não apenas na parte física, mas também na percepção do corpo, com sua integralidade e funcionalidade [5]. Após a mastectomia, a mulher poderá apresentar sentimentos de rejeição de si mesma por se sentir em desvantagem com a nova imagem que possui. Tais sentimentos poderão persistir até o momento em que ela consegue reelaborar a situação vivida passando e a aceitar essa nova condição. No decorrer dessa transição a mulher pode apresentar sentimentos de inferioridade e considerar-se menos feminina, o que a faz sentir-se excluída da sociedade e rejeitada sexualmente [4,6]. A perda da mama faz a mulher sentir diiculdades em expressar sua intimidade e em selecionar roupas, evitando roupas decotadas ou que evidenciam o corpo, passando a evitar esses modelos, pois é através da roupa que a mulher procura ocultar a cicatriz pós-cirúrgica. Com isso, a mulher constrói uma autoimagem negativa, o que poderá fazer com que a mulher não expresse sua sexualidade e seu poder de sedução, o que pode resultar em inércia e constrangimento diante da busca do parceiro pelo exercício sexual [7]. A sexualidade da mulher não se resume apenas a mama feminina. A sexualidade do ser humano é algo complexo que envolve um processo isiológico e outras dimensões mais subjetivas, como a capacidade de coniar e sentir-se valorizado. Diante disso, fatores interpessoais não sexuais podem ser determinantes para a prática ou não do exercício sexual, sendo que ainda outros fatores como comorbidades e a depressão poderão conduzir ou agravar uma disfunção sexual [8]. A qualidade no relacionamento é um dos fatores preditivos de satisfação sexual e deve ser mantida durante todo o tratamento e recuperação, já que essa fase é extremamente difícil, longa e limitante para o exercício da sexualidade. Outro aspecto importante é o medo do abandono pelo fato de pensar que podem estar privando seus parceiros de atividade sexual [9,10]. Já o distanciamento do casal pode ser uma diiculdade enfrentada após a mastectomia podendo repercutir diretamente no relacionamento sexual [10]. Nesse sentido é importante que a mulher mastectomizada possa expressar e viver sua sexualidade de forma plena e desfrutar de uma vida sexual boa e saudável, o que poderá favorecer condições melhores no enfrentamento diário da doença, do estigma social representado e na superação do tratamento [4]. Para tanto, a equipe de saúde em atenção ao paciente

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oncológico deve prover muito mais que cuidados médicos e cirúrgicos, e sim um acompanhamento que possa garantir um retorno a uma vida emocional e sexual normal [11]. Os proissionais de saúde que atuam em oncologia precisam estar mais conscientes de que cuidar de uma pessoa com câncer requer uma abordagem interdisciplinar, para que seja possível prestar assistência integral, que compreenda o paciente em múltiplos domínios, tendo como preocupação central a preservação da sua qualidade de vida. O psicólogo e o isioterapeuta são proissionais que podem se beneiciar na abordagem da sexualidade, pois dispõe de mais tempo em contato com a paciente em sua atividade terapêutica, sendo essa uma condição favorável para estabelecer um vínculo de amizade e coniança e com isso fazer com que a mulher possa expressar suas diiculdades sexuais naturalmente. Na maioria das vezes, apresentam-se alguns obstáculos para a abordagem da sexualidade. Conversar com o paciente sobre suas preocupações a cerca de sexo/sexualidade pode ser difícil e desconfortável para o proissional, talvez pelo fato de haver um desconhecimento das questões relativas à sexualidade humana. Para tanto, seria de grande valia um aprofundamento sobre o tema nas disciplinas e conteúdos curriculares de graduação de forma a fornecer conhecimentos especíicos de forma a desmistiicar o tema e assim reduzir os medos, preconceitos, constrangimentos do proissional, resultando em benefício mútuo: proissional e paciente [4]. As mulheres também podem se sentirem envergonhadas em falar sobre a sua intimidade, principalmente para um homem, mesmo que proissional de saúde. Alguns tabus, aspectos culturais ou religiosos também podem impedir uma comunicação aberta e clara, ou o estabelecimento de um diálogo sobre sexualidade, problemas ou dúvidas sexuais, fazendo com que esse assunto não seja abordado pela maioria das pessoas e nem mesmo pelos proissionais de saúde [12]. A falta de tempo também é um fator determinante na abordagem da sexualidade, pois impede um aprofundamento da relação entre o proissional de saúde e as pacientes, devido exigência à rapidez com que devem ser realizados os procedimentos, o grande número de pacientes, bem como a ausência de espaços físicos mais reservados para falar sobre o assunto e o despreparo para lidar naturalmente com a sexualidade dessas pacientes [11]. Além disso, de maneira brusca, a pessoa com câncer é “bombardeada” de novas informações e até mesmo termos médicos, ao mesmo tempo em que precisa aprender a administrar medicamentos e atender as inúmeras demandas que surgem com essa nova realidade. Entende-se que, se não houver um tempo aceitável para o atendimento, a compreensão dessas demandas estará comprometida. É necessária a realização de mais estudos envolvendo essa temática a fim de fortalecer as ações que buscam contemplar o universo feminino integralmente de modo que os proissionais não se detenham apenas na “falta do seio” e possam contemplar a sexualidade do indivíduo.

Frente ao exposto, o presente estudo tem como objetivo investigar se as mulheres falam de seus problemas ou dúvidas sobre sexualidade que venham a surgir após a mastectomia ou se são abordadas sobre o tema pelos proissionais de saúde.

Material e métodos Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa, cuja população alvo foi mulheres mastectomizadas atendidas no Centro Regional Integrado de Oncologia (CRIO), em Fortaleza, Ceará, no período de 17 de março a 11 de abril de 2011. O CRIO é um completo centro de assistência a pacientes oncológicos no Estado do Ceará e atende pacientes de convênios, particulares e provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS) tanto da capital quanto do interior do estado. A amostra estudada foi de conveniência e a escolha das participantes foi aleatória, não probabilística, entre as mulheres que aguardavam atendimento na sala de espera do setor de isioterapia. O instrumento utilizado foi uma entrevista estruturada que obedecia a um roteiro previamente estabelecido. Foram incluídas no estudo as mulheres submetidas à mastectomia radical e que tinham parceiros ixos, além da anuência em participar do estudo. Como critérios de exclusão, foram considerados, as pacientes com estado cognitivo alterado e/ou doenças neurológicas que impeçam a compreensão e as que haviam sido submetidas a outro tipo de cirurgia da mama que não seja a mastectomia radical. As entrevistas eram realizadas a sós com a mulher, após consentimento informado, sucessivamente até completar o número de cinquenta mulheres mastectomizadas, o que ocorreu vinte e cinco dias após seu início. Na primeira fase do trabalho realizou-se uma revisão de literatura a respeito do tema e a elaboração do roteiro de entrevista, composto de duas partes e que contava com perguntas fechadas. A primeira investigava dados pessoais como idade, estado civil, renda familiar, escolaridade, ocupação e tempo de cirurgia. Na segunda parte da entrevista foram realizadas perguntas pertinentes ao tema como: a senhora falaria sobre sexualidade com o seu companheiro; a senhora falaria espontaneamente suas queixas sobre sexualidade para o médico; a senhora foi orientada por algum proissional de saúde sobre a sexualidade após a mastectomia e qual foi esse proissional que abordou o assunto. Estas perguntas também eram fechadas, mesmo assim, a entrevistadora mantinha-se cuidadosa no sentido de não sugestionar as respostas, principalmente mantendo o foco nas respostas, retomando-o quando este era desviado. Na análise estatística das respostas às perguntas foi utilizado o programa estatístico SPSS (Statiscal Package for Social Sciences) para Windows versão 16.0. Como todos os indicadores adotados possuem uma margem de erro, visto que, esses se referem à amostra extraída e não ao verdadeiro valor populacional, será construído um intervalo de coniança no

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qual os valores populacionais possivelmente estarão situados. Intervalo de coniança é um intervalo em torno do indicador amostral, no qual os valores populacionais possivelmente se encontram. A construção desse intervalo é necessária porque nos fornece os possíveis valores que a população assume em relação ao indicador analisado, isso porque, a inferência feita a partir dos indicadores é feita para a população e não para as pessoas que foram extraídas como amostras. Fundamentalmente importante é estabelecer um grau de coniança suicientemente grande, para que nosso intervalo abranja os valores populacionais dos indicadores com uma “relativa certeza”. Adotaremos β=0.95, para a construção dos intervalos dos indicadores referentes às mulheres que passaram por mastectomia, ou seja, um nível de signiicância de 95%. O projeto de pesquisa foi previamente avaliado e autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Cearense de Oncologia do Instituto do Câncer do Ceará (ECO/ICC), tendo sido aprovado em 29 de abril de 2011 através do protocolo Nº 013/2011. O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado antes da entrevista.

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Viúva 0,0600 Separada/divorciada 0,0400 União estável 0,1000 Escolaridade* Não alfabetizada 0,0200 Fundamental 0,6400 Médio 0,2800 Superior 0,0200 Pós-graduação ou mais 0,0400 Ocupação Dona-de-casa 0,3400 Aposentada

Resultados

0,1000

Todas as entrevistas foram realizadas uma a uma e em local reservado. O tempo médio de duração de cada entrevista foi de 10 minutos. No total foram entrevistadas 50 mulheres. A média das idades foi de 53,5 anos, variando de 30 a 77 anos. A Tabela I mostra as características sócio-demográicas onde se pode constatar o predomínio da faixa etária de 51-60 anos (36%), a maioria casada (72%), donas-de-casa (34%), com baixa escolaridade, ou seja, não-alfabetizada e ensino fundamental completo ou incompleto (64%) e baixa renda familiar considerada em até um salário mínimo/mês (40%) e com menos de um ano de cirurgia (50%).

Costureira 0,1600 Agricultora 0,1000 Outras 0,3000 Renda familiar (SM**) 3 0,1200 Tempo de cirurgia (anos) 6 0,1000

0,05050,0695 0,03210,0479 0,08790,1121 0.01440.0256 0,62070,6593 0,26200,2980 0,01440,0256 0,03210,0479 0,32100,3590 0,08790,1121 0,14530,1747 0,08790,1121 0,28160,3184 0,38030,4197 0,32100,3590 0,12610,1539 0,10690,1331 0,47990,5201 0,22280,2572 0,14530,1747 0,08790,1121

*Grau de estudo completo ou incompleto; **Salário(s) mínimo(s).

De modo geral, no que se refere à capacidade de comunicação com o parceiro sobre sexualidade, a Tabela II mostra que as pesquisadas sentem-se seguras para falar sobre o assunto com o seu companheiro (56%) enquanto que outras não (12%). Já com relação à comunicação espontânea de suas queixas sexuais para o médico veriicou-se que a maioria falaria (48%) enquanto

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que outra parte das mulheres parece ter diiculdade em comunicar-se (38%), pois nunca falariam sobre sua sexualidade para este proissional. Dentre as mulheres que relataram nunca falar para o médico (19), um total de 17(89,47%) delas tem baixa escolaridade, ou seja, nível fundamental incompleto. No entanto, não podemos atribuir apenas a baixa escolaridade como fator determinante para a falta de comunicação das pacientes. Tabela II - Características da capacidade de comunicação Paciente-Parceiro e Paciente-Médico sobre sexualidade para as mulheres mastectomizadas atendidas no Centro Regional de Oncologia (CRIO) em Fortaleza/CE, 2011. Indicadores Paciente -Parceiro Nunca Raramente Às Vezes Sempre Paciente-Médico Nunca Raramente Às Vezes Sempre

Proporção

IC 95%

0,1200 0,1400 0,1800 0,5600

0,1069-0,1331 0,1261-0,1539 0,1646-0,1954 0,5401-0,5799

0,3800 0,0200 0,1200 0,4800

0,3605-0,3954 0,0144-0,0256 0,1069-0,1331 0,4599-0,5001

De acordo com os dados obtidos, menos da metade das mulheres pesquisadas foram orientadas sobre sexualidade após a mastectomia (34%) enquanto que a maioria não foi contemplada com essas orientações por nenhum proissional de saúde no decorrer de seu tratamento (Tabela III). Tabela III - Proporção de mulheres que receberam orientação sobre sexualidade atendidas no Centro Regional de Oncologia (CRIO) em Fortaleza/CE, 2011. Indicadores Recebeu Orientação Sexual Sim Não

Proporção

IC 95%

0,3400 0,6600

0,3210-0,3590 0,6410-0,6790

A Tabela IV mostra que o médico foi o proissional que mais abordou o assunto (64,7%), seguido pelo psicólogo e isioterapeuta (17,6%), ambos com o mesmo número. Tabela IV - Tipo de proissional que realizaram abordagem da sexualidade das mulheres mastectmizadas atendidas no Centro Regional de Oncologia (CRIO) em Fortaleza/CE, 2011. Tipo Médico Psicólogo Fisioterapeuta

Proporção 0,6470 0,1760 0,1760

IC 95% 0,6278-0,6662 0,1607-0,1913 0,1607-0,1913

Discussão Por meio da análise dos aspectos sociodemográicos, observou-se uma predominância de mulheres no período

do climatério ou na menopausa. Essas fases geralmente são marcadas por mudanças intensas na vida da mulher, podendo ser considerado um momento de muitas perdas: como a falta de menstruação, a separação dos ilhos, a aposentadoria e até mesmo a perda do companheiro [9]. Já com relação ao nível de escolaridade predominante, veriicou-se que um baixo nível de escolaridade diiculta o acesso as informações e orientações, além de menor nível de compreensão da doença. Em geral, as mulheres estão fortemente inseridas no mercado de trabalho, no entanto, houve um predomínio da amostra para as atividades do lar (donas-de-casa), função que muitas vezes é motivo de prazer e de grande valor, principalmente para aquelas de idade mais avançada. Atualmente a mulher tem uma preocupação muito grande com a atividade laboral pelo fato de muitas delas serem muitas vezes obrigadas a abandonar seu trabalho em função da doença, afetando diretamente a renda familiar, icando impossibilitadas ainda de cuidarem de seus ilhos e do seu lar [12]. Assim, passa a viver na dependência de outras pessoas, razão pela qual causa um grande sofrimento, além gerar um sentimento de impotência. No estudo de Sales [13], foi constatado que 36% da sua amostra exerciam atividade remunerada e destas, 14% tiveram que reduzir ou abandonar sua atividade. Outro fator importante é a renda, onde foi obtido na amostra um predomínio de baixa renda familiar. Baixos rendimentos não permitem uma boa manutenção da saúde da mulher, principalmente na condição de idosa, visto que muitas vezes outros parentes também dependem dessa renda. A pesquisa revelou que o sentimento de coniança é marcante na amostra, que evidencia a importância de um relacionamento baseado no companheirismo e no respeito mútuo. Para Silva et al. [14] uma relação bem estruturada dá apoio social e serve de barreira para os efeitos do estresse; enquanto que a perda do parceiro ou uma má relação pode ter efeitos negativos na vida da mulher. Nesse sentido, para a construção de uma relação saudável, o diálogo pode ser considerado como uma peça chave para a reabilitação. A diiculdade que o casal tem em obter um diálogo sincero e aberto pode resultar em distanciamento. Tal diiculdade pode ser justiicada devido à inabilidade de lidar com temas difíceis como a morte ou a recidiva da doença, passando a não comentá-los, evitando assim situações desconfortáveis [10]. A promoção da saúde através de orientações e esclarecimentos signiica um canal de comunicação aberto de grande relevância para assistência a mulher mastectomizada e seu companheiro [14]. A diiculdade em comunicar-se com o proissional de saúde denota existir ainda certo tabu e/ou a presença de sentimento de vergonha em relatar assuntos relacionados à intimidade ou sexualidade. Durante o tratamento, a mulher com câncer de mama é acompanhada por vários proissionais, destes, percebe-se que o tema é abordado pelos proissionais médicos. Abdo ,Oliveira Júnior e Projeto Prosex [15] pesquisaram 4.753 ginecologistas de todo o Brasil e concluiu

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que a maioria deles (36,2%) relatou que menos de 30% das mulheres atendidas em seu consultório trazem espontaneamente queixas sobre sexualidade e, para outra parcela de médicos (24,8%), menos de 10% das mulheres procedem da mesma forma. Os proissionais precisam dar a oportunidade para os pacientes expressarem suas preocupações, e ao identiicar questões que não podem ser tratadas localmente, estes deverão ser encaminhados para especialistas [11]. No estudo realizado por Serrano [16] com 46 proissionais de saúde (93% enfermeiros e 7% médicos), concluíram que os proissionais de saúde (50%) sentem diiculdade em abordar os assuntos da sexualidade referindo fatores proissionais como os principais motivos, ou seja, o receio da reação do doente (15,7%), a falta de iniciativa própria (12,9%) e do paciente (12,9%). Os fatores pessoais foram também atribuídos, como por exemplo, o fato de considerarem a sexualidade um assunto pessoal e da intimidade de cada um, além de muito constrangedor e difícil de abordar. Abdo, Oliveira Júnior e Projeto Prosex [15] constataram que 57,7% dos médicos ginecologistas se encontram “seguros” em responder às questões sexuais e pesquisam espontaneamente a vida sexual de suas pacientes, apenas 30,4% dos “pouco seguros” o fazem. Portanto evidencia-se que, quanto mais inseguro está o médico para o questionamento destes aspectos, tanto menor é a possibilidade de que os investigue. No estudo foi apontado pela maioria da amostra que o proissional médico está abordando a questão sexual. Não foi esclarecido no estudo em qual momento ocorreu esse contato, icando a dúvida de qual seria o momento ideal: antes ou após a cirurgia. Para os demais proissionais da equipe, espera-se que o psicólogo seja o grande precursor da temática. No entanto, a prática da interdisciplinaridade é algo que poderá vir beneiciar o paciente em um melhor enfrentamento das alterações decorrentes do câncer e seus tratamentos. Os autores Ramos e Patrão [5] corroboram com a pesquisa ao airmarem que quanto mais informados a cerca da doença, menores serão as diiculdades encontradas durante todo o seu processo.

Conclusão Neste estudo, de acordo com os dados coletados, percebeu-se que as mulheres estão expondo mais abertamente questões ligadas a sua sexualidade, principalmente para o parceiro, mas, também para o médico. No entanto, não podemos negar que algumas mulheres apresentam diiculdades em levantar essas questões ligadas a sua intimidade e que ainda não é data a atenção necessária a esse assunto por parte da equipe que a acompanha. Por outro lado, percebeu-se através da pesquisa que a abordagem médica está presente, no entanto, ainda não contempla toda a população que passa por esse problema. A pesquisa nos faz reletir que os proissionais envolvidos no tratamento do

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câncer de mama, integrantes de uma equipe multidisciplinar, precisam de um olhar mais focado para as questões ligadas a sexualidade. Também é necessário conhecer o assunto e incluir a abordagem no rol de cuidados a mulher mastectomizada e com isso superar os obstáculos que impedem essa atitude. Apresenta-se como alternativa para uma melhor abordagem, a criação de grupos de apoio, que possam estabelecer um vínculo com os proissionais de saúde e as demais mulheres que poderão compartilhar dos mesmos problemas, e dessa forma, possibilitar a troca de experiências de maneira mais descontraída e lúdica. Desta forma, esperamos que esse estudo possa contribuir para a relexão sobre a importância de criarem-se estratégias para possibilitar uma intervenção adequada dos aspectos da sexualidade na mulher no processo da doença, antes ou após a cirurgia, e assim agir em prol de um prognóstico favorável.

Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2011. [citado 2012 ago 23]. Disponível em URL: http://www.inca.gov.br/estimativa/2012/ estimativa20122 111.pdf. 2. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. ABC do câncer : abordagens básicas para o controle do câncer. Rio de Janeiro: INCA; 2012. [citado 2012 ago 23]. Disponível em URL: http://www1.inca.gov.br/ inca/Arquivos /livro_abc_2ed. pdf. 3. Silva HMS, Rocha MLL, Ferrari BL, Marinho RM, Considerações sobre as doenças da mama. In: Baracho E. Fisioterapia aplicada à saúde da mulher. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. p.387-99. 4. Souto MD, Souza IEO.Sexualidade da mulher após a mastectomia. Esc Anna Nery Rev Enferm 2004;8(3):402-10. 5. Ramos AS, Patrão I. Imagem corporal da mulher com cancro de mama: impacto na qualidade do relacionamento conjugal e na satisfação sexual. Anál Psicol 2005;3(23):295-304. 6. Madeira, AMF, Almeida, GBS, Jesus, MCP. Reletindo sobre a sexualidade da mulher mastectomizada. REME – Rev Min Enferm 2007;11(3):254-7. 7. Duarte TP, Andrade AN. Enfrentando a mastectomia: análise dos relatos de mulheres mastectomizadas sobre questões ligadas à sexualidade. Estud psicol (Natal) 2003;8(1):155-63. 8. Fleury H.As novas abordagens e teorias sobre a resposta sexual feminina. Arquivos H. Ellis 2004;1(1):18-21. 9. Cantinelli FS, Camacho RS, Smaletz O, Gonsales BK, Braguittoni E, Renno Júnior J. A oncopsiquiatria no câncer de mama – considerações a respeito de questões do feminino. Rev Psiq Clín 2006;33(3):124-33. 10. Bii RG, Mamede MV.Suporte social na reabilitação da mulher mastectomizada: o papel do parceiro sexual. Rev Esc Enferm USP 2004;38(3):262-9. 11. Ferreira SMA. A sexualidade no cuidado de enfermagem de mulheres com câncer ginecológico e mamário. [Dissertação]. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto; 2012.

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Artigo 16 Atuação do isioterapeuta na linha de cuidado à saúde da mulher com ênfase no apoio matricial The physical therapist practice in women’s health care with emphasis on support matrix Daiana Pereira Martins Costa *Fisioterapeuta, apoiadora matricial pelo Núcleo de Atenção à Saúde da Família, João Pessoa/PB

Resumo

Abstract

No município de João Pessoa, adota-se o modelo técnico-assistencial Em Defesa da Vida, que propõe a concepção de saúde como direito de cidadania, com base no acolhimento e humanização das relações. O Fisioterapeuta do Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF) está inserido neste modelo, atuando através do apoio matricial com ações de suporte técnico-pedagógico e assistencial. Na área de Saúde da Mulher, este proissional acompanha e auxilia na discussão de estratégias voltadas a integralidade do cuidado, participando do monitoramento das ações em saúde e contribuindo com o planejamento das Equipes de Saúde da Família e distritos sanitários. Adicionalmente, integra grupos de trabalho, promovendo discussões que busquem a garantia de resolutividade e qualidade do cuidado a partir da situação atual em saúde. Além disso, realiza visitas domiciliares com avaliações, orientações e encaminhamentos necessários para demandas identiicadas, como alterações gestacionais, disfunções uroginecológicas, alterações linfáticas pós-mastectomia e repercussões do climatério. Sua atuação tem proporcionado o fortalecimento do cuidado à saúde da mulher no território, visto que contribuições da sua formação tem fortalecido a construção de projetos de cuidado com bases na integralidade e estreitado a aproximação entre usuárias e equipe de referência.

he city of João Pessoa/PB Brazil was adopted the technical assistance model called Em Defesa da Vida, which proposes the concept of health as a right of citizenship, based on reception and humanizing relations. he physiotherapist at the Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) is inserted in this model, working through the actions of matrix support with technical, educational and health care support. In Women’s Health, this professional monitor and assist discussions of strategies to comprehensive care, participating in the monitoring of health initiatives and contributes to the planning of the family health teams and sanitary districts. Additionally, they integrate working groups, promoting and strengthening arguments that seek to guarantee resolution and quality of care from the current situation in health. In addition, the NASF Physiotherapist performs home visits with assessments, referrals and guidance to demands identiied as gestational changes, urogynecology disorders, post-mastectomy lymph changes and efects of menopause. His inclusion in the NASF has provided the strengthening of women’s health care in the territory, since contributions of their training has strengthened the construction of healthcare projects with bases in full and narrowed further rapprochement between users and staf reference.

Palavras-chave: isioterapia, saúde da mulher, saúde da família.

Key-words: physical therapy specialty, women’s health, family health.

Endereço para correspondência: Distrito Sanitário III, Rua Tenente Euclides Bandeira, S/N, Mangabeira 58056-330 João Pessoa PB, E-mail: daia_ [email protected]

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Introdução O Sistema Único de Saúde deve promover a atenção integral à saúde da mulher, contemplando a promoção, proteção, assistência e recuperação em seus diferentes níveis de atenção. O cuidado deve envolver a mulher em qualquer fase da vida, garantindo o acesso por meio de estratégias de descentralização, regionalização e integração das ações e serviços [1]. No município de João Pessoa, adota-se o modelo técnico-assistencial Em Defesa da Vida, partindo do reconhecimento da necessidade de transpor as deinições constitucionais de saúde. Esse modelo propõe a concepção de saúde como direito de cidadania, com base no acolhimento e humanização das relações. Através da reorganização dos serviços e do incentivo à mudança de práticas, busca a garantia de acesso para o usuário a partir de uma gestão democrática com controle social [2]. Assim, o modelo Em Defesa da Vida objetiva a efetivação do vínculo entre usuário e equipe, além de buscar maior resolutividade nas ações a partir da responsabilização em saúde. Neste cenário, permite-se a troca de saberes entre os sujeitos envolvidos com ampliação da clínica, estabelecimento de projetos terapêuticos e educação permanente em saúde [2,3]. Inserido neste modelo de atenção, está o Fisioterapeuta do Núcleo de Apoio de Saúde à Família (NASF), que desenvolve o processo de trabalho baseado na lógica do apoio matricial. Este utiliza saberes e práticas especializadas, atuando junto à equipe de referência, a im de promover o cuidado através de um enfoque transdisciplinar. Neste contexto, busca-se uma base para organizar e ampliar as ações em saúde [4]. O apoio matricial apresenta dimensões de suporte técnico-pedagógico e assistencial. Objetiva promover espaços de discussão e planejamento, além de atendimentos em sua especialidade ou interconsultas. É seu papel apoiar a Equipe de Saúde da Família (ESF) na constante reavaliação e reconstrução, quando necessário, de um processo de trabalho que seja mais resolutivo, baseando-se nas necessidades territoriais. Ou seja, devem ser utilizadas ferramentas que respeitem a estrutura e peril epidemiológico local para orientação das práticas em saúde [5-7]. Em João Pessoa, além da construção do cuidado junto a ESF, o apoiador matricial acompanha e auxilia na discussão de estratégias em âmbito municipal. Participa do monitoramento das ações em saúde contribuindo com o planejamento das ESF e distritos sanitários. Realiza a avaliação de indicadores em saúde e estimula a discussão junto aos proissionais para a melhoria do cuidado. Adicionalmente, integra grupos de trabalho em âmbito distrital e municipal, promovendo e fortalecendo discussões que busquem a garantia de resolutividade e qualidade do cuidado a partir da situação atual em saúde.

Metodologia Este trabalho apresenta um relato da atuação do Fisioterapeuta nas atividades voltadas à área de Saúde da Mulher, a

partir da tecnologia do apoio matricial. Para tal, será descrita a vivência da inserção deste proissional no NASF, através de sua inclusão no Distrito Sanitário III do município de João Pessoa/PB. Atualmente, entre os cinco distritos sanitários existentes no município, este abriga a maior população, e consequentemente, o maior número de ESF, com 53 ESF e 3 Programas de Agentes Comunitários de Saúde. O Fisioterapeuta atua em três cenários de gestão da saúde na função de apoiador matricial. Realiza o apoio às Equipes de Saúde da Família, participa de atividades relacionadas ao Distrito Sanitário no qual está inserido, assim como tem representatividade distrital em âmbito municipal. Desta forma, a construção deste trabalho dá-se a partir da descrição de atividades desenvolvidas nos três âmbitos em que este proissional se insere, quando relacionadas à linha de cuidado de Saúde da Mulher.

Apoio à Equipe de Saúde da Família No contexto da atenção à saúde da mulher, o Fisioterapeuta realiza visitas domiciliares com atendimento individual ou interconsulta com proissionais da ESF ou do NASF. Por se tratar de parte comum do planejamento das ESF, frequentemente avalia e acompanha mulheres em período gestacional e pós-parto, realizando orientações relacionadas à saúde materno-infantil. Além disto, realiza as avaliações, orientações e encaminhamentos necessários para demandas identiicadas por proissionais da ESF ou por outros pontos da rede de atenção, como disfunções uroginecológicas, alterações linfáticas pós-mastectomia e repercussões do climatério. Tais casos necessitam frequentemente da construção de um Projeto Terapêutico Singular, considerando as potencialidades e fragilidades existentes, a im de buscar estratégias resolutivas para enfrentamento de cada situação. O Fisioterapeuta contribui com seu conhecimento técnico-cientíico, seja na prevenção de agravos, promoção da funcionalidade ou recuperação da saúde, além de incentivar a problematização, efetivação e constante reavaliação dos projetos terapêuticos. Participa também de grupos operativos de mulheres. Atualmente os grupos são formados com maior frequência por gestantes. Assim, este proissional promove o diálogo sobre alterações isiológicas da gravidez, processo de parto, atividades de relaxamento, autocuidado, além da preparação para o parto e pós-parto. Junto à ESF, incentiva espaços de Educação Permanente, problematizando a situação em saúde do território. Avalia e discute a prevenção do câncer de mama e de colo uterino. Acompanha a captação das gestantes durante o primeiro trimestre para início do pré-natal e a conclusão do acompanhamento gestacional, de acordo com as estratégias e metas estabelecidas pelo Plano Municipal de Saúde [8].

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Distritos Sanitários Os grupos de trabalho (GT), existentes no âmbito distrital, realizam o monitoramento das linhas de cuidado de forma interdisciplinar. O GT em Saúde da Mulher constitui uma das ferramentas voltadas à atenção integral e humanizada. Este acompanha os indicadores locais relacionados à saúde da população feminina e discute estratégias de melhoria do cuidado, uma vez que tais indicadores reletem as ações efetivadas em nível territorial. A partir da avaliação das diiculdades existentes, serão construídos projetos de capacitação proissional e outros espaços julgados necessários; como os de educação permanente e elaboração de protocolos com a interlocução dos diferentes níveis de complexidade de atenção. Ao Fisioterapeuta cabe também propor atividades educativas nas unidades de referência, feiras de saúde ou nos diversos equipamentos sociais. Realiza desde uma abordagem especializada até a construção de atividades em parcerias com outros setores relacionados à saúde da mulher, como os centros de referência, maternidades, hospitais, centros de atenção integral e centros de diagnóstico.

Município A ação do GT em Saúde da Mulher se dá também em âmbito municipal com ampliação das discussões a partir do acompanhamento dos indicadores municipais e análise da situação local em saúde. Além disto, seus representantes participam das discussões do Comitê de Mortalidade Materna, analisando causas e fatores relacionados aos óbitos maternos. Propõem e constroem estratégias de confronto a este problema, com os representantes das secretarias municipais, conselhos proissionais, sociedades cientíicas, ministério público, ensino superior em saúde e Secretaria de Defesa dos Direitos da Mulher.

Discussão O apoio matricial deve subsidiar a estruturação de planos de ação que contemplem os vários objetivos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher de forma interdisciplinar. Tais objetivos englobam a prevenção do câncer de colo e da mama, planejamento familiar e pré-natal, redução de DST e AIDS, saúde mental e abordagem das vulnerabilidades e especiicidades das mulheres [1,5]. Estes são objetivos principais, porém o cuidado integral deverá considerar os ciclos da existência de cada mulher, assim como suas características biológicas e socioculturais. O Fisioterapeuta atua nos diversos aspectos inseridos nestes ciclos, como na abordagem das alterações durante a gestação, preparação para o parto, cuidados no puerpério, fatores relacionados ao climatério e menopausa, diversos tipos de incontinência, dores pélvicas, prolapsos pélvicos, além da

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assistência pré e pós-operatória em oncologia [1,8,9]. Este realiza a avaliação, orientação, encaminhamentos e a capacitação de cuidadores para qualiicar o acompanhamento da usuária em ambiente domiciliar. A intervenção poderá ser feita quando necessária, porém, dada a complexidade da atuação do apoio matricial, geralmente identiicam-se na rede os serviços que tenham foco assistencial, para garantir o tratamento com a frequência adequada a cada usuária [5]. Ou seja, o Fisioterapeuta exerce um importante papel nesta área, tanto pela atuação baseada no conhecimento técnico-cientíico quanto pela participação na construção de ações a partir do conceito ampliado de saúde. Logo, permite-se a proissional utilizar tecnologias além daquelas existentes nos procedimentos técnicos isioterapêuticos [5,6]. Algumas questões inseridas na atenção integral à saúde feminina ainda constituem um desaio, como a violência contra a mulher. Imagina-se que muitos casos de violência não são identiicados pelas ESF e quando há suspeita não chegam a ser conirmados. Em algumas circunstâncias familiares e sociais, a violência ainda é subestimada e tratada com silêncio, por parentes, amigos e pela própria mulher [1,10]. Outro desaio para as ESF e equipes de apoio matricial está na atenção à saúde mental feminina. Seja relacionada ao período gestacional, distúrbios alimentares, resultado de violência doméstica ou de demais fatores, a saúde mental ainda necessita de uma articulação efetiva da rede de atenção e inclusão participativa de todos os proissionais envolvidos [1]. No município de João Pessoa, o apoio matricial não estimula apenas a reorientação das práticas nas ESF, mas também de suas próprias práticas, buscando fortalecer a sua atuação na atenção básica. Apesar das diiculdades existentes, torna-se evidente o avanço alcançado nos espaços de discussão com as ESF, fortalecendo a problematização do processo de trabalho através de uma lógica usuário-centrada. O trabalho passa a ser norteado por uma construção coletiva que garanta que as decisões sejam compartilhadas, por meio de análises e avaliações construídas coletivamente [11]. Outro avanço veriicado na ampliação do cuidado está na implantação do acolhimento na maioria das Unidades de Saúde da Família, assim como na atual discussão realizada com aquelas ESF em processo de estruturação do acolhimento. Tal dispositivo busca a mudança na assistência a partir da relexão crítica sobre as relações no trabalho em saúde, os modelos de atenção e gestão e as relações de acesso aos serviços [12].

Conclusão A inserção do Fisioterapeuta no NASF proporciona o fortalecimento do cuidado à saúde da mulher no território, visto que permite a sua relação com as usuárias estreitando ainda mais a aproximação entre usuária e equipe de referência. Isto se dá através da realização de avaliações, consultas domiciliares, capacitação dos cuidadores, orientações especíicas a cada caso e do acompanhamento realizado junto às ESF.

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O acompanhamento realizado é singular, tendo em vista que o Fisioterapeuta passa a conhecer a realidade de cada usuária, suas relações familiares, suas redes de apoio e condições de vida, sendo muitas vezes compartilhadas angústias e alições de cada mulher. Assim como as demais especialidades do NASF, o Fisioterapeuta se insere no apoio às equipes a im de estimular uma relexão crítica a partir de uma visão ampliada do processo saúde-doença. Assim, busca a mudança da relação entre proissionais e usuários, enfraquecendo o modelo hegemônico assistencial e objetivando a reorientação das práticas voltadas à saúde. A importância de sua atuação na área de Saúde da Mulher está na contribuição nas discussões e planejamento das ações voltadas à esta população. Além disto, o compartilhamento de saberes de sua formação fortalece a construção de projetos de cuidado com bases na integralidade.

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Artigo 17 Importância da isioterapia na qualidade de vida em idosas institucionalizadas com diagnóstico de osteoartrose Importance of physical therapy in quality of life of institutionalized elderly with osteoarthrose Ana Letícia de Souza Pereira*, Cynthiane Louyse Menezes de Araújo*, Alianny Raphaely Rodrigues Pereira*, Lívia Braz de Carvalho**, Fernanda Diniz de Sá***, Karla Luciana Magnani***, Adriana Gomes Magalhães*** *Discentes do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Fisioterapeuta ***Docentes do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo

Abstract

O envelhecimento é um fenômeno mundial que acontece atualmente nos países em desenvolvimento e uma das doenças mais comuns nessa faixa etária é a osteoartrose, sendo responsável pela perda da independência funcional tornando um fator indicativo para a institucionalização. O objetivo do estudo foi avaliar a qualidade de vida de idosas institucionalizadas com osteoartrose, comparando as idosas quanto a participação ou não em programas isioterapêuticos. O estudo se caracteriza como de caráter quantitativo, de campo, realizado em duas Instituições de Longa Permanência através da aplicação do questionário WHOQOL-OLD. A amostra foi composta por 20 idosas que foram divididas em 2 grupos: idosas que recebiam assistência isioterapêutica e as que não recebiam. A análise da realidade estudada demonstra que o total da amostra apresentou uma qualidade de vida baixa com uma média de 52.2 em uma escala de 0 a 100. No entanto, foi observada diferença notória entre os grupos avaliados. As idosas atendidas pela isioterapia demonstraram uma melhor qualidade de vida quando comparadas as que não tinham essa assistência. Dessa forma, este trabalho comprova que a isioterapia apresenta benefícios indispensáveis na vida de idosas com osteoartrose, contribuindo satisfatoriamente para uma melhor qualidade de vida.

Ageing is a global phenomenon occuring today in developing countries and one of the most common diseases in this age group is osteoarthritis, accounting for the loss of functional independence becoming an indicative factor for institutionalization. he aim of this study was to evaluate the quality of life in institutionalized elderly woman with osteoarthritis, comparing the elderly in the participation or not in physical therapy programs. he methodological approach was made through a quantitative survey characterized as ield study, carried out in two long-stay institutions through the application of the WHOQOL-OLD. he sample consisted of 20 elderly women who were divided into 2 groups: women who received physical therapy and not receiving. he results demonstrated that the total sample showed a low quality of life with an average of 52.2 on a scale of 0 to 100. However, notable diferences were observed between the groups. he elderly group assisted by physiotherapy showed a better quality of life when compared to those who had no such assistance. hus, this study demonstrated that physical therapy has indispensable beneits in the life of elderly with osteoarthritis, contributing satisfactorily to a better quality of life. Key-words: physical therapy, quality of life, osteoarthritis.

Palavras-chave: isioterapia, qualidade de vida, osteoartrose.

Endereço para correspondência: Ana Letícia de Souza Pereira, E-mail: [email protected]

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Introdução O envelhecimento é um fenômeno mundial que atualmente acontece nos países em desenvolvimento, como o Brasil, devido ao crescimento da população e do aumento da longevidade nas sociedades [1]. Nos últimos anos, o Brasil vem apresentando na pirâmide etária um crescimento evidente da participação idosa, sendo caracterizado pelo alargamento do ápice que normalmente encontrava-se retangularizado. Isto demonstra que a população idosa torna-se expressiva como a jovem [2-3]. Esse envelhecimento apresenta especiicidades que variam de acordo com as condições socioeconômicas, isiopatológicas, educacionais, dentre outros fatores. Diante de tal fato, aumentarão também a prevalência de doenças crônicas comuns nos idosos, dentre as quais a osteoartrose encontra um lugar de destaque, tendo em vista seu caráter incapacitante e suas repercussões na independência funcional e qualidade de vida, que podem levar muitos idosos a institucionalização [4]. A osteoartrose (OA), conhecida também como doença articular degenerativa ou osteoartrite, é uma doença reumatológica comumente encontrada que atinge principalmente as articulações com maior suporte de peso nas pessoas da terceira idade. Esta doença é bastante evidente no envelhecimento, pois resulta do desgaste ou anormalidade da articulação [1, 5]. A OA representa grande parte das doenças articulares no idoso e é importante não apenas por ser a mais frequente em doenças reumatológicas, mas pelo fato de atingir um impacto socioeconômico por causar incapacidade [6]. A capacidade funcional está diretamente ligada ao envelhecimento, visto que na terceira idade os indivíduos estarão mais propensos há desenvolver algumas limitações visuais, auditivas, motoras, intelectuais, e principalmente surgem as doenças crônico-degenerativas, como por exemplo, a osteoartrose, que resultam em dependência nas atividades de vida diária e perda da autonomia [7]. A capacidade funcional do idoso comprometida implica em consequência considerável para a família, comunidade em que reside e para a própria vida das pessoas da mesma faixa etária, visto que as diiculdades e incapacidades resultam em uma maior dependência, interferindo diretamente na qualidade de vida do idoso [8]. Diante do exposto, a OA interfere diretamente na qualidade de vida dos idosos com esse diagnóstico, demonstrando a importância em analisar o estilo de vida que esses indivíduos adotam. Um dos componentes que se avalia na qualidade de vida é a autonomia, aspecto diretamente afetado e alterado nos idosos com diagnóstico de osteoartrose, visto que esses indivíduos frequentemente perdem a capacidade de realizar suas atividades de vida diária, tornando-se dependentes de terceiros em algumas tarefas cotidianas [9-10]. Para que se promova uma boa qualidade de vida a estes idosos acometidos pela OA, uma das mais importantes ações é o acesso a um tratamento isioterapêutico, uma vez que este

proporcionará uma manutenção ou mesmo uma melhora das condições funcionais associada ao controle do quadro doloroso apresentado por esta afecção. Dessa forma, a isioterapia contribuirá para a manutenção de uma QV adequada, através do controle dessa doença, principalmente nas crises dolorosas, promovendo melhoras nas atividades funcionais, assim como a redução da ingestão de medicamentos que controlem a dor. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa tratou-se de uma abordagem na qualidade de vida em idosas institucionalizadas com osteoartrose que participavam ou não de programas isioterapêuticos, a im de observar o impacto dessa intervenção na qualidade de vida das mesmas.

Material e métodos A presente pesquisa tratou-se de um estudo de campo e foi desenvolvida com idosas acima de 60 anos, residentes em Instituições de Longa Permanência (ILP) no município de João Pessoa/PB e com diagnóstico clínico de Osteoartrose. Inicialmente, foram identiicados 40 idosos dos gêneros masculino e feminino com idade acima de 60 anos, que possuíam diagnóstico clínico de osteartrose e tinham cognição preservada. Porém devido ao baixo desempenho cognitivo apresentado pelos residentes das ILP, participaram efetivamente 20 mulheres com idades entre 68 e 93 anos. A pesquisa foi realizada no período de 21/08/09 a 04/09/09 no turno da tarde sendo desenvolvida nas ILP Vila Vicentina Júlia Freire e Lar da Providência Carneiro Cunha na cidade de João Pessoa/PB. O instrumento utilizado foi o questionário sobre qualidade de vida proposto pelo World Health Organization Quality of Life Group (GRUPO WHOQOL) da OMS, o WHOQOL-OLD, aplicado na forma de entrevista direta. O WHOQOL-OLD foi criado para utilização de uma perspectiva transcultural, com o objetivo geral de desenvolver e testar uma medida genérica da qualidade de vida em adultos idosos. Esse método de avaliar foi desenvolvido para ser aplicado em pessoas da terceira idade, e é composto por seis facetas e 24 itens da Escala de Likert, gerando escores em cada uma das facetas e um escore geral, representados por: (1) Funcionamento do Sensório (FS), analisando o funcionamento sensorial e o impacto da perda de habilidades sensoriais na qualidade de vida; (2) Autonomia (AUT), independência na velhice, capacidade ou liberdade de viver de forma autônoma e tomar decisões; (3) Atividades Passadas, Presentes e Futuras (PPF), satisfação sobre conquistas na vida e coisas a que se anseia; (4) Participação Social (PSO), participação nas atividades cotidianas, especialmente na comunidade; (5) Morte e Morrer (MEM), preocupações, inquietações e temores sobre a morte e sobre o morrer; e (6) Intimidade (INT), capacidade de ter relacionamentos pessoais e íntimos. As facetas possuem 4 itens, no entanto todos os itens de uma faceta devem ser preenchidos. Em cada uma das facetas há o escore que pode variar de 4 a 20, sendo 4 o pior escore e

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20 o melhor. Através dos valores dos 24 itens ou das seis facetas se tem uma produção geral ou global da qualidade de vida em idosos. Por questões didáticas, os escores serão transformados em escala percentual, ou seja, 4 correspondendo ao percentual mais baixo (zero) e 24 o mais alto grau (cem). Além do questionário de qualidade de vida, foram realizadas perguntas referentes a indicadores sócio-demográicos abordando informações como: nome, idade, data de nascimento, gênero, estado civil, ocupação anterior ou atual e acerca da realização ou não de acompanhamento isioterapêutico. Após esta coleta, as respostas obtidas foram analisadas quantitativamente. No primeiro momento esses dados foram colocados no programa Excel e organizados de forma individualizada. Posteriormente, foi realizada uma leitura horizontal e interpretados a partir da literatura adotada. Para análise estatística dos dados, foi aplicada uma análise não-paramétrica, usando os procedimentos MED (média), DV (desvio padrão), FREQ (frequência) e CORR (correlação linear de Pearson), do aplicativo Excel for Windows, para inferir a correlação entre as facetas sócio-demográicas e os resultados apontados pelo WHOQOL-OLD sobre a qualidade de vida e suas facetas, a im de identiicar, caracterizar e comparar a qualidade de vida de ambos os grupos (que são assistidos pela isioterapia e os que não são), buscando a percepção dos benefícios que trazem a isioterapia.

Resultados e discussão A amostra desta pesquisa foi composta por 20 idosas, sendo 10 que recebiam assistência isioterapêutica e 10 que não recebiam esta assistência. Todos os participantes entrevistados foram do sexo feminino, e quanto à faixa etária, tinham idade entre 68 e 93 anos, totalizando uma média de 79,5 anos e um desvio padrão de 7,6. O estado civil foi variado em 9 solteiras, 9 viúvas, 1 divorciada e 1 casada. Com relação à realização ou não de tratamento isioterapêutico, a maioria das idosas não realizavam o tratamento. Porém, para que se pudesse ter uma amostra com resultados comparativos adequados foi realizada a entrevista com as 10 idosas que eram atendidas pela isioterapia e selecionadas apenas 10 idosas que não realizavam esse atendimento. A atuação da isioterapia em ILP é importante, visto que promoverá uma boa qualidade de vida aos idosos que apresentam diferentes necessidades de saúde, social e autonomia no seu cotidiano [11]. Ainda que esses residentes apresentem independência em suas AVD, precisam de estimulação para se manter nestas condições, conirmando assim a necessidade da isioterapia na promoção da capacidade funcional e prevenção de incapacidades [12]. Estudos comprovaram que o grupo de idosos atendidos pela isioterapia obteve uma melhora signiicativa no desempenho das atividades funcionais após a intervenção quando comparadas ao grupo controle que não tinha esse atendimento, concluindo que

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a isioterapia contribui para a redução das limitações desses idosos [13]. As respostas obtidas diante da aplicação do questionário WHOQOL-OLD foram primeiramente separadas por média geral da qualidade de vida, desvio padrão e correlação da idade com a qualidade de vida, para veriicar a importância dessa variável nos escores encontrados através do coeiciente de correlação de Pearson. Por im, foram separadas por domínios para comparar as que realizam a isioterapia e as que não recebem esta assistência. Os resultados de cada questão foram adquiridos pela soma das respostas de cada idosa. No que se refere à qualidade de vida, foi obtido que o total da amostra das idosas, que possuem diagnóstico clínico de OA, apresentou uma QV relativamente baixa, apresentando uma média de 52.2 em uma escala que varia de 0 a 100. A organização mundial da saúde (OMS) sugere que 25% dos idosos sofrem de dor e incapacidades relacionadas à OA, e isso vem a afetar diretamente a qualidade de vida dessas pessoas [14]. Para ins didáticos a correlação da idade com a qualidade de vida na amostra foi distribuída pela idade versus a QV e idade versus cada domínio, como mostra a Tabela I. Tabela I - Correlação da idade com a qualidade de vida. Variáveis correlacionadas Idade X QV (Considerando todos os domínios implicados) Idade X Domínio 1 (Habilidade sensório) Idade X Domínio 2 (Autonomia) Idade X Domínio 3 (Atividades passado, presente e futuro) Idade X Domínio 4 (Participação social) Idade X Domínio 5 (Morte e morrer) Idade X Domínio 6 (Intimidade)

P -0,021 -0,123 -0,137 -0,141 -0,284 -0,161 -0,049

O coeiciente de correlação de Pearson é medido pelo grau de relação linear em duas variáveis quantitativas. Este coeiciente pode variar entre -1 e 1, enquanto que o zero signiica que não existe relação linear, o 1 uma relação linear perfeita e o -1 também signiica uma perfeita porém inversa. Portanto quando as duas variáveis, uma aumenta e a outra diminui, e quanto mais perto dos valores 1 e -1, maior será a associação linear entre as duas variáveis [15]. Diante desse conceito a correlação de idade x qualidade de vida e idade x DOM 6 pode ser deinida como correlação negativa ínima. As correlações de idade x DOM 1, DOM 2, DOM 3, DOM 4 e DOM 5 são caracterizados como correlação negativa baixa. Ou seja, não houve nenhuma correlação que se associasse linearmente entre as variáveis na amostra. Em relação aos domínios, separamos individualmente para que se tenha uma observação melhor de como se encontra isoladamente a qualidade de vida nas idosas em estudo, de acordo com cada situação. O domínio Habilidade Sensório obteve a média de 42,2; no domínio 2 que refere-se a Auto-

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nomia totalizou uma média de 36,3; o domínio nomeado por Atividades Presentes, Passadas e Futuras obteve resultado de 47,2, enquanto que a Participação Social resultou em 66,3. O domínio de Morte e Morrer teve a média de 61,6 e por im, o último domínio cujo assunto é intimidade obteve uma média de 59,4. Foi observado no domínio 1 um nível muito baixo nas idosas institucionalizadas, visto que não obtiveram sequer a metade desse total que seria 50%. Segundo estudo realizado, esse domínio irá afetar diretamente a vida diária dessas idosas devido a limitação da capacidade de interação com as demais pessoas que são do seu convívio [16]. O processo de envelhecimento vai ser acompanhado pelas perdas do sistema sensorial e as mais evidentes são as diminuições da acuidade visual como também a redução da audição [17]. Os resultados obtidos no segundo domínio evidenciam uma diminuição da autonomia. A osteoartrose é uma doença que vai ter como sintoma inicial a dor, que é imediatamente relatada após o movimento e com o progredir da doença até mesmo em repouso, e as deformidades em casos mais avançados [18]. A diminuição dos movimentos articulares e rigidez matinal ou após longo período de inatividade caracterizam também sinais e sintomas da doença [10]. Todos esses sintomas apresentados na OA vão atingir a autonomia, diicultando assim a independência nas atividades de vida diária. Com relação ao domínio 3, estudos referentes a este assunto vão corroborar com os resultados obtidos por essa pesquisa, uma vez que descrevem o modo insatisfeito dos idosos com as tentativas de continuar alcançando realizações pessoais e também refere a insatisfação no que diz respeito ao reconhecimento familiar e com o que já foi alcançado ao longo de sua vida [16]. O domínio 4 obteve a melhor média encontrada nessa amostra. Os resultados obtidos vão de acordo com uma pesquisa a qual refere uma boa participação nas atividades da comunidade pelos idosos [19]. O resultado encontrado no domínio 5 foi uma média elevada, porém foi observado que uma grande quantidade das idosas não referiam medo da morte, mas sim medo de sofrer para morrer, como por exemplo icar acamada. Esse resultado condiz com outro estudo realizado, o qual enfatiza as questões de espiritualidade, visto que grande parte dos idosos acreditam que a morte é a única coisa certa que se tem na vida, portanto não se deve ter medo e sim aceitar [16]. Por im, o último domínio obteve uma pontuação razoável quando comparada com outros domínios. Estudos confrontam com a amostra em estudo, devido relatar níveis muito baixos quando se refere ao estado emocional das idosas e que essas variáveis vão reduzindo com o avanço da idade [20]. Em outro estudo as mulheres idosas também obtiveram escores bem baixos quando estudado o aspecto da função sexual e que com o progredir da idade essa atividade sexual diminui ainda mais [21]. A insatisfação no que diz respeito a vida sexual pode não

ter sido tão elevada nessa amostra, devido as idosas terem relacionado a função afetiva não apenas ao companheirismo conjugal, e sim ao tipo de companhia com os amigos internos e externos da instituição. O envelhecer não deve ser encarado apenas como uma fase de declínio e perdas, mas também como oportunidades de vitórias como adquirir uma visão maior da existência passando dessa possibilidade evolutiva da sexualidade [22]. Diante dos dados obtidos por cada questionário, foi analisado didaticamente os domínios isolados e comparando as respostas do grupo que participava da intervenção isioterapêutica (Grupo A ) e os que não tinham essa intervenção (Grupo B). No primeiro domínio a média observada foi relativamente baixa demonstrando que os sentidos das idosas estão relativamente preservados, uma vez que ambos os grupos não tiveram suas médias sequer em 50, ou seja as perdas sensoriais eram poucas e não interferiam em suas atividades. No segundo domínio observa-se que as idosas com OA apresentam um déicit signiicante na perda da capacidade funcional, pois o índice foi o menor de todo o questionário, não atingindo 40, porém as idosas do grupo A mantiveram um escore mais elevado do que o grupo B. Quanto ao terceiro domínio, o grupo B se sobressaiu um pouco do grupo A, ambos apresentando média próxima a 50. O quarto, quinto e sexto domínio obtiveram os maiores escores nessa amostra, e nos três domínios foi observado uma melhor qualidade de vida nas idosas que são atendidas pela isioterapia. Os resultados do domínio 1 mostrou que apesar de apresentarem alguma diiculdade nos sentidos como audição, visão, olfato, paladar e o tato, não afetaram diretamente no cotidiano dessas mulheres, e a comparação entre os grupos foi relativamente insigniicante, onde o Grupo A obteve total de 43,1 e o grupo B 41,3. Essas perdas em estudo corroboram com a literatura, visto que estudiosos conirmam que a visão está afetada nas pessoas da terceira idade devido a perda da gordura que se localiza ao redor do globo ocular, modiicando a aparência do olho, diminuindo a produção de lágrimas e a ixação da visão em objetos próximos [9]. Os mesmos autores destacam também a perda da audição, diicultando a distinção dos diferentes sons, além da diminuição no número das papilas gustativas e terminações olfativas, e por im uma redução da coordenação motora ina consequentemente tornando os dedos menos sensíveis [9]. No entanto, a isioterapia não atua diretamente na reabilitação dos sentidos da visão, audição, olfato e paladar, descritos nesse domínio, portanto não há porque encontrar diferença evidente entre os grupos. No segundo domínio foi notório o reduzido índice em ambos os grupos, no entanto pôde ser observado que o grupo A (38,8) obteve uma independência maior quando comparada ao grupo B (33,8). As maiores características da OA são a dor e a diminuição da força muscular, portanto se associa esses escores tão reduzidos aos sintomas encontrados nessa doença [23]. Nesse sentido, a isioterapia vai atuar melhorando essa

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limitação funcional da OA que leva a uma incapacidade, atingindo a qualidade de vida dessas pessoas. O terceiro domínio também obteve uma média muito baixa, porém destaca-se que o grupo B em único aspecto sobressaiu ao grupo A. Com relação as conquistas obtidas em sua vida as idosas que não fazem a isioterapia resultaram em 48,1 enquanto as que fazem correspondeu a 46,3. Esses dados relativamente baixos podem ser indicativos de insatisfações com seus familiares e até mesmo pelo modo que se vive nas ILP. No domínio 4 houve um elevado escore nos dois grupos, porém o grupo A obteve uma média de 73,8 enquanto que o grupo B de 58,8. Essa diferença signiicativa condiz com a literatura, uma vez que Marques e Kondo em sua pesquisa relatam que os exercícios realizados pela isioterapia vão ajudar na recuperação da força muscular e na reabilitação dos pacientes com AO [24]. Portanto demonstra a facilidade no retorno das atividades sociais mais precocemente quando comparado com aqueles que não estão tratando a dor, deformidades, entre outros sinais e sintomas. No quinto domínio, os escores obtidos foram relativamente altos havendo uma grande diferença entre o grupo A com total de 67,5 e o grupo B com 55,6. Curiati e Alencar airmam em seu estudo que o sedentarismo, vai contribuir para que os idosos tornem-se depressivos e então aumentem os pensamentos sobre a morte [25]. O estudo desses autores condiz com a amostra em estudo, visto que as idosas entrevistadas do grupo A, demonstravam ocupar seu tempo com coisas boas e não se preocupavam com a morte, diferentes das do grupo B que referiam muito medo e pensamentos de como e quando iriam morrer. Por im, o último domínio mostrou uma diferença signiicativa quando comparado as idosas que eram atendidas pela isioterapia, pois as em tratamento isioterapêutico apresentaram uma média de 78,1, enquanto que as que não participam dessa intervenção atingiu um total de 40,6. Os resultados encontrados na amostra corroboram com outros estudos os quais comprovam que idosos que não realizam a isioterapia e permanecem diminuindo as suas atividades do cotidiano tem tendência a adquirirem depressão, estando propensos a perdas, por exemplo, do desejo sexual [25]. No que se refere à média geral da qualidade de vida, foi obtido que as idosas que são atendidas pela isioterapia apresentaram um melhor resultado quando comparadas com as que não realizam esta intervenção. As que realizam a isioterapia tiveram uma média de 57.9 enquanto que o outro grupo alcançou a média de 46.4 em uma escala que varia de 0 a 100. Portanto, foi observada uma diferença notória entre os grupos das idosas institucionalizadas com diagnóstico de osteoartrose, comprovando que a isioterapia contribui satisfatoriamente para que essas mulheres tenham um melhor hábito de vida, adquirindo assim uma boa concepção sobre sua qualidade de vida.

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Conclusão Foi observado que a QV na amostra total foi relativamente baixa, visto que os resultados em geral não obtiveram uma resposta tão satisfatória, porém na maioria dos domínios analisados, com exceção do terceiro (que se trata das atividades do presente, passado e futuro), as idosas que são atendidas pela isioterapia mantiveram-se com suas respostas apresentando uma melhor qualidade de vida quando comparadas com as que não tinham essa assistência. É importante considerar que a concepção sobre a qualidade de vida, muitas vezes vem a ser mascarada e não associada aos benefícios que a isioterapia trás para essas idosas, pois se sabe que com o tratamento isioterapêutico o quadro doloroso presente na OA é reduzido e as deformidades adquiridas com o avançar da doença podem ser retardadas com essas sessões. No entanto a permanência nas ILP e os motivos pelos quais houve a institucionalização interferem no modo de viver dessas pessoas, e isso é um fato que pôde ser observado, que atingi diretamente o conceito delas sobre a qualidade de vida. Nos três últimos domínios que se referem à participação social, morte e intimidade foram obtidos os melhores resultados e o grupo que realiza a isioterapia mostrou boas respostas nesses aspectos. Pode ser considerado que a isioterapia ajuda as idosas a desenvolverem uma adequada interação social tanto com os proissionais quanto com os demais residentes das ILP e desperta uma coniança no tratamento, descartando os pensamentos associados à morte e desencadeando uma boa intimidade com as pessoas que convivem. Este trabalho veio comprovar que a isioterapia apresenta benefícios indispensáveis na vida dos idosos com diagnóstico de osteoartrose, percebendo-se também a importância da isioterapia no trabalho em grupo, pois visa condições favoráveis para melhoria efetiva da qualidade de vida dessas pessoas. Diante do exposto, é observada a importância do atendimento isioterapêutico nos idosos com diagnóstico de osteoartrose, visto que esse tratamento ajudará na melhora do seu quadro clínico, proporcionando assim uma melhora na qualidade de vida. Portanto, existi a possibilidade que a autoavaliação da QV desses idosos em acompanhamento isioterápico seja diferente quando comparados àqueles idosos que não têm acesso a este tipo de intervenção.

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Artigo 18 Incidência de episiotomia em partos normais em uma maternidade do SUS Incidence of episiotomy in natural childbirths in a public maternity Bárbara Rose Bezerra Alves Ferreira*, Eloá Mendes Silva Gomes** *Fisioterapeuta especialista em Fisioterapia em Urologia e Professora da Faculdade Estácio de Alagoas, **Graduanda de Fisioterapia Estácio-FAL

Resumo

Abstract

Fundamentação: O parto é um processo isiológico resultante da expulsão do feto, placenta e membranas do útero pelo canal de parto. A episiotomia é um procedimento que consiste em incisar a pele e mucosa vaginal, além dos músculos do assoalho pélvico, aumentando o diâmetro do canal de parto. O seu uso permanece de rotina, onde não se comprova cientiicamente os benefícios advindos de sua realização, assim, não minimiza as chances de lesões perineais graves, como também não previne o relaxamento pélvico. Métodos: Trata-se de um estudo observacional, do tipo transversal e prospectivo, baseado nos resultados obtidos com a coleta de dados realizada com as puérperas do Hospital Nossa Senhora da Guia. A amostra foi composta por 100 pacientes maiores de 18 anos. Para a análise dos dados, foi utilizada estatística descritiva, que quantiicou os dados obtidos com a população em estudo. Resultados: Foi encontrado um valor de 59% de puérperas que foram submetidas à realização de episiotomia, onde 54% destas não tiveram informações sobre o procedimento realizado, tampouco consentiram a realização do mesmo. Conclusão: Os resultados desse estudo demonstraram que a episiotomia ainda é um procedimento rotineiro na prática obstétrica, mesmo não tendo evidências cientíicas suicientes que comprovem o benefício de sua realização.

Background: he birth is a physiological process arising from the expulsion of the fetus, placenta and uterus of membranes through the birth canal. Episiotomy is a procedure that consists of incising the vaginal mucosa and skin beyond the pelvic loor muscles, increasing the diameter of the birth canal. his routine is common, but there is no scientiic evidence about the beneits of this procedure, and it not minimizes the risk of serious perineal injuries, as well as not increases pelvic relaxation. Methods: his was an observational, cross-sectional and prospective study, based on the results obtained from the collection of data between women at the Hospital Nossa Senhora da Guia. he sample consisted of 100 patients over 18 years old. For data analysis, was used as a descriptive statistics, who scored data obtained with a population study. Results: It was found a value of 59% of mothers submitted to episiotomy, where 54% of them had no information on the procedure, nor consented to completion. Conclusion: he results of this study showed that episiotomy is still a routine procedure in obstetrical practice, while not having enough scientiic evidence to prove the beneit of its realization. Key-words: natural childbirth, episiotomy, SUS.

Palavras-chave: parto normal, episiotomia, SUS.

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Introdução O processo isiológico do parto é resultado da expulsão do feto, placenta e membranas do útero pelo canal de parto [1]. Sendo este um processo natural, não deve sofrer nenhuma interferência no seu curso [2]. O Parto normal, também chamado vaginal é o parto onde ocorre a expulsão do feto através do canal de parto, ou seja, a vagina. Em alguns casos, esse tipo de parto é considerado como o parto a qualquer custo, ou sem a participação ativa da mulher, onde são realizadas várias intervenções desnecessárias, entre elas a episiotomia [3]. A episiotomia é deinida como um procedimento que consiste em incisar a pele e mucosa vaginal, além dos músculos contíguos (como o períneo), aumentando o diâmetro do canal de parto, permitindo assim a saída da cabeça do feto [4]. A episiotomia no parto normal está entre os temas mais discutidos ultimamente na área da obstetrícia, sendo consequentemente alvo de grandes polêmicas entre diversos proissionais envolvidos no assunto. Nos dias atuais, a episiotomia é um dos procedimentos mais corriqueiros em obstetrícia, sendo suplantado somente pelo pinçamento e corte do cordão umbilical [5]. A primeira menção à episiotomia foi feita por Ould, em 1741, como método para prevenir lacerações severas, e ser usado raramente. Todavia, esta intervenção passou a ser recomendada por dois exímios ginecologistas, De Lee e Pomeroy, na primeira metade do século passado, período que coincidiu com o início da prática da hospitalização para a assistência ao parto. De Lee (1915) indicou o uso da episiotomia de rotina, preferindo a incisão médio-lateral, enquanto Pomeroy (1918) expressou sua preferência pela episiotomia mediana, principalmente nas primigestas, para evitar roturas perineais extensas [6]. A episiotomia pode ser lateral, médio-lateral e mediana, neste caso, denominada de perineotomia. A episiotomia lateral está em desuso por suas complicações, pois essa região, além de muito vascularizada, ainda pode lesar os feixes internos do músculo elevador do ânus. A episiotomia médio-lateral é a mais usada, e a incisão abrange pele, mucosa vaginal, aponeurose supericial do períneo e ibras dos músculos bulbocavernoso e do transverso supericial do períneo e algumas vezes, ibras internas do elevador do ânus [7]. A episiotomia mediana apresenta grande facilidade de suturação e menor associação com dor no pós – parto e dispareunia. Contudo, é mais associada com as lacerações de 3º e 4º graus, ou seja, lesões mais graves [8]. Os danos que acometem o períneo, devido à realização da episiotomia, são classiicados de acordo com o comprometimento causado. É considerado de 1º grau quando atinge pele e mucosa apenas, 2º grau, quando afeta os músculos e fáscia do períneo, 3º grau, quando compromete o esfíncter anal e 4º, quando ocorre lesão da mucosa retal. As lesões de 1º e 2º graus são ditas lesões leves, enquanto as de 3º e 4º graus são consideradas severas [9,10].

A referida técnica é um procedimento comum que passou a fazer parte da prática clínica sem evidências cientíicas suicientes que comprovassem seu benefício. O seu uso permanece de rotina, embora não cumpra a maioria dos objetivos pelos quais sua realização é justiicada, ou seja, não minimiza as chances de lesões perineais graves, como também não previne o relaxamento pélvico [11]. Muito pelo contrário, de acordo com estudos, observa-se grandes complicações advindas da prática da episiotomia, onde as mais signiicativas são: incontinência urinária ou fecal, prolapsos e redução da força muscular do assoalho pélvico quando comparada com os casos que ocorrem lacerações espontâneas. A presença de episiotomia também aumenta as chances de dor, hemorragia pós-parto, infecções, hematomas e disfunções sexuais [12,13]. A Organização Mundial de Saúde recomenda que não se deve proibir a episiotomia, pois em alguns casos realmente é necessária a sua prática, mas é necessário restringir o seu uso. Porém não icou claro ainda em que situações é indispensável a sua realização, visto que até mesmo os partos instrumentais podem ser realizados sem a intervenção [12]. De acordo com uma revisão sistemática publicada pela biblioteca Cochrane em 2006, a episiotomia seletiva se comparada à usada de forma rotineira associa-se a menores riscos de traumas de períneo posteriores ao parto e diminui a necessidade de sutura e menos complicações, principalmente no que diz respeito à cicatrização, e que só é indicada em situações onde ocorra sofrimento fetal, feto em apresentação pélvica, progressão insuiciente de parto e nos casos em que ocorra uma ameaça de laceração perineal de terceiro ou quarto grau [14]. Existem algumas medidas de proteção perineal, que apresentam como objetivos a prevenção de traumas e o relaxamento pélvico, como por exemplo, a técnica de contenção do períneo e a massagem perineal respectivamente [15]. A técnica de contenção do períneo é executada da seguinte forma: no momento do parto, é oferecido um apoio no períneo com uma das mãos do proissional, enquanto a outra mão tenta controlar a velocidade da cabeça do feto no coroamento, tentando assim evitar ou reduzir os danos perineais [15]. Já a massagem perineal é realizada no período expulsivo por meio de movimentos circulares (em forma de “U”) utilizando o dedo médio e indicador introduzidos até a segunda falange na vagina da parturiente, promovendo assim um relaxamento da musculatura e evitando também danos perineais causados por uma provável rigidez muscular [16]. O objetivo geral do presente estudo foi analisar a incidência da episiotomia em partos normais acontecidos em uma maternidade SUS de Maceió, obtendo também resultados pertinentes à dor perineal no pós-parto imediato.

Material e métodos Trata-se de uma pesquisa observacional, do tipo transversal e prospectiva, baseada nos resultados obtidos pela

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coleta de dados do questionário aplicado nas puérperas do Hospital Nossa Senhora da Guia (HNSG), no período de dezembro a janeiro de 2011/12. A amostra foi composta por 100 pacientes, onde a idade variou entre 18 e 41 anos. A realização deste obedeceu aos princípios éticos para pesquisa envolvendo seres humanos, conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde (CNS/MS), sendo aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa (CEP) da Faculdade Estácio de Alagoas sob protocolo 201111/039. As voluntárias assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para participação na presente pesquisa. Os critérios de inclusão consistiram em puérperas com idade acima de 18 anos que tiveram parto normal e concordaram em participar da pesquisa voluntariamente, além da assinatura do documento TCLE, onde foi garantido o anonimato das participantes. Foram excluídas da pesquisa puérperas que não quiseram participar voluntariamente, com idade fora da faixa etária apresentada nos critérios de inclusão e puérperas submetidas à parto cesárea. A princípio foram analisados os prontuários e identiicados de acordo com o tipo de parto, sendo escolhidas para a entrevista apenas as que tiveram parto normal e se encontravam nas enfermarias do Hospital Nossa Senhora da Guia. A aplicação do questionário foi feita de forma breve, sem causar nenhum tipo de constrangimento, onde todas as perguntas foram explicadas de forma clara pelo pesquisador para que não persistisse nenhum tipo de dúvida, sendo assim alguns termos técnicos foram explicados de forma simples e objetiva para que as puérperas pudessem ter entendimento sobre o assunto. A análise estatística utilizada foi a descritiva, onde os dados obtidos com a população em estudo foram quantiicados, analisados em porcentagem, média e desvio padrão, sendo resumidos e expostos em tabelas e gráicos do tipo pizza, do programa Excel 2010 for Windows XP®.

Resultados e discussão No decorrer da pesquisa aconteceu um total de 479 partos na Maternidade Nossa Senhora da Guia, onde 258 foram partos cesáreas e 221 partos normais. Do total de partos normais citados, 165 ocorreram em mulheres acima de 18 anos e 56 nas menores de idade. Sendo o presente estudo realizado com 100 pacientes provenientes de parto normal, observa-se um número bastante signiicativo na amostra estudada. A idade média das voluntárias da pesquisa foi de 23,1 ± 4,9 anos, sendo a idade mínima 18 anos e a máxima 41 anos, dados esses utilizados apenas para descrever a presente amostra. De acordo com diversos ensaios clínicos, os quais discutem a taxa ideal para ser realizada a episiotomia, não se encontra um número exato, porém a OMS sugere que a frequência ideal deveria ser em torno de 10%, e não como acontece na

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maioria dos partos normais, onde o seu uso é realizado quase sempre de forma rotineira [9,17]. Os resultados obtidos no presente estudo demonstram que 59% dos partos normais foram realizados com a presença da episiotomia, conirmando que esse procedimento ainda é bastante usado na prática médica, apesar das recomendações da OMS. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), não recomenda o uso da episiotomia de rotina e ressalta a importância de que para ser realizada, deverão ser dadas todas as informações necessárias, e que como todo procedimento cirúrgico só deve ser realizado com o consentimento da paciente, uma vez que a episiotomia é um dos únicos procedimentos realizados sem o consentimento prévio da mesma [18]. Evidencia-se que 54% das parturientes não obtiveram informações sobre o procedimento realizado e que 46% foram informadas. Porém, vale ressaltar que todas as entrevistadas apenas foram informadas ou não informadas, mas nenhuma delas deu consentimento para a realização do procedimento como recomenda a FEBRASGO. Durante o parto normal, algumas mulheres podem sofrer algum tipo de lesão perineal, quer seja uma laceração espontânea quer seja uma incisão cirúrgica (episiotomia). Os estudos evidenciam que se ocorrer alguma iminência de laceração espontânea de primeiro ou segundo grau, não é indicação para a realização da episiotomia de rotina, pois é comprovado que não traz nenhum benefício demonstrável para mãe ou para o feto [19]. Como resultado do estudo mostra-se que 49% das mulheres que não sofreram episiotomia, tiveram laceração espontânea do períneo, sendo estas de primeiro ou segundo grau; e 51% mantiveram-se com períneo íntegro. De acordo com evidências cientíicas, as lacerações espontâneas apresentam melhores resultados que a episotomia no que diz respeito à perda sanguínea, dor, dispareunia, cicatrização e retomada da função muscular, ou seja, as lacerações provocam menos prejuízos para a mulher [20]. Em um estudo randomizado controlado que foi realizado com 61 puérperas que sofreram episiotomia, 65,5% referiram dor no pós-parto, contra 41,4%. Outro estudo realizado na Argentina contou com a presença de 2606 mulheres, onde também icou evidente que além da dor perineal, as complicações locais também estavam associadas à realização do procedimento. Demonstra-se assim, uma associação signiicativa entre dor perineal e episiotomia [21,22]. Em comparação com os estudos citados anteriormente, observa-se realmente no atual estudo que a presença de dor perineal tem uma grande prevalência nas mulheres vítimas de episiotomia, onde 58% das puérperas que sofreram episiotomia relataram a presença de dor perineal, enquanto que 42% não referiram presença de dor. A presença de algia perineal no período puerperal gera muitas diiculdades para a mulher, como por exemplo: a

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movimentação, a realização das atividades cotidianas, o cuidado com o recém-nascido, interfere na qualidade do sono, no repouso, na micção e evacuação, onde todas essas diiculdades acabam gerando problemas físicos e emocionais na vida da mesma, provocando assim uma experiência negativa do parto [23]. Andrews et al. [24] em seu recente estudo avaliou 241 mulheres no período do puerpério e identiicou que 92% apresentaram dor perineal após o parto independente do trauma perineal sofrido. Foi demonstrado na pesquisa que há presença de dor mesmo se tratando de ausência de episiotomia, sendo que em uma porcentagem menor, do que quando esse procedimento é realizado. O estudo evidenciou que 36% das pacientes apresentaram dor perineal, enquanto 64% não. Os dados acima apresentados corroboram com a literatura comprovando que uma mulher submetida à episiotomia apresenta uma experiência maior de dor. Podendo ainda estar sujeita a maiores complicações, como maior perda sanguínea, hematoma e infecções quando comparada com outros traumas perineias [25]. Existem algumas medidas de proteção perineal que são utilizadas na obstetrícia, como por exemplo, o suporte e a massagem perineal. Se tratando da técnica de suporte perineal, a mesma se mostra eicaz na prática, visando evitar que a musculatura sofra severos danos, todavia não existem evidências cientíicas suicientes que constatem a eicácia da referida técnica. Em um estudo experimental, randomizado e controlado concluiu que a ocorrência do trauma perineal, pode estar mais associada à posição da parturiente durante o parto, ao uso de ocitocina sintética, ao tipo de puxo realizado, ao suporte emocional oferecido e as orientações que são dadas a mulher no parto do que a prevenção ser realizada pela técnica de contenção propriamente dita [14]. No entanto, no que diz respeito à massagem perineal, alguns estudos vem demonstrando que a mesma está se tornando eicaz na redução de traumas perineais, como mostra em um estudo que ocorreu uma redução de 6,1% nas taxas de lacerações e episiotomias nas pacientes que realizaram a massagem [16]. Foi observado no presente estudo que de acordo com a literatura citada anteriormente, a técnica de suporte perineal não é utilizada com frequência pelos proissionais da área obstétrica como se pode observar a insigniicante porcentagem da realização da mesma, apenas 1%. Tendo em vista, de acordo com os resultados, que a não realização do procedimento pode realmente estar ligada ao fato de não possuir claras evidências na literatura que comprovem seu benefício. A posição adotada pela parturiente no momento do parto, na presente pesquisa, foi de 100% em posição supina. Estudos relacionados ao que diz respeito à posição da mulher durante o parto, mostram que as mulheres que evitaram a posição litotômica e adotaram a posição lateral esquerda apresentaram maior prevalência de períneo íntegro em comparação com as que optaram pela posição de litotomia, a qual foi associada

a maiores ocorrências de lacerações no períneo, aumento da duração do trabalho de parto e do risco de sofrimento fetal, pois na posição supina ocorre uma pressão na veia cava inferior, onde o luxo sanguíneo é diminuído para o feto [26-28]. No passado a episiotomia era usada como medida proilática com o objetivo de prevenir traumas perineais severos. No entanto evidencia-se o maior erro em relação ao uso da episiotomia, pois a mesma quando utilizada já é por si só uma lesão de segundo grau e responsável por severas complicações na vida da mulher, e deinitivamente não seria o uso da episiotomia uma maneira de prevenir ou minimizar um dano perineal, uma vez que esse procedimento já é uma lesão grave [29-31]. As complicações causadas pelo uso da episiotomia em primeiro momento podem ser dor e inlamação apenas, porém as complicações mais graves como incontinência urinária e fecal, prolapsos, dispareunia, dentre tantas outras, podem aparecer um pouco depois e não necessariamente imediatamente após o parto [29].

Conclusão De acordo com os resultados obtidos neste estudo, pode-se veriicar que a episiotomia ainda é um procedimento rotineiro na prática obstétrica, e que as parturientes não apresentam nenhum conhecimento sobre o mesmo, além de não terem o conhecimento de técnicas alternativas como o suporte perineal, as quais ainda são pouco utilizadas. Muitas vezes uma visão pessimista do parto é criada devido a intervenções como a episiotomia, que mesmo sem evidências cientíicas que comprovem seus benefícios ainda são utilizados como ferramenta para o processo do parto que é um ato natural e isiológico do organismo da mulher. Desta forma sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas, com foco, neste caso, nos proissionais envolvidos com o parto, para assim explicitar melhor o motivo pelo qual esta prática ainda é tão utilizada.

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Artigo 19 Qualidade de vida de mulheres na fase do climatério residentes no meio urbano e no meio rural Quality of life of women during the climacteric residents in urban and rural areas Carla Monique Ribeiro de Aquino*, Katheyrine Lorena Bráz Santos**, Maria hereza Albuquerque B. C. Micussi***, Elizabel de Souza Ramalho Viana****, Lílian Lira Lisboa***** *Graduanda do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Graduada em Fisioterapia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ***Doutoranda do Programa de pós-graduação em Ciências da Saúde - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ****Docente adjunta do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, *****Docente assistente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo

Abstract

Fundamentação: O parto é um processo isiológico resultante da expulsão do feto, placenta e membranas do útero pelo canal de parto. A episiotomia é um procedimento que consiste em incisar a pele e mucosa vaginal, além dos músculos do assoalho pélvico, aumentando o diâmetro do canal de parto. O seu uso permanece de rotina, onde não se comprova cientiicamente os benefícios advindos de sua realização, assim, não minimiza as chances de lesões perineais graves, como também não previne o relaxamento pélvico. Métodos: Trata-se de um estudo observacional, do tipo transversal e prospectivo, baseado nos resultados obtidos com a coleta de dados realizada com as puérperas do Hospital Nossa Senhora da Guia. A amostra foi composta por 100 pacientes maiores de 18 anos. Para a análise dos dados, foi utilizada estatística descritiva, que quantiicou os dados obtidos com a população em estudo. Resultados: Foi encontrado um valor de 59% de puérperas que foram submetidas à realização de episiotomia, onde 54% destas não tiveram informações sobre o procedimento realizado, tampouco consentiram a realização do mesmo. Conclusão: Os resultados desse estudo demonstraram que a episiotomia ainda é um procedimento rotineiro na prática obstétrica, mesmo não tendo evidências cientíicas suicientes que comprovem o benefício de sua realização.

Background: he birth is a physiological process arising from the expulsion of the fetus, placenta and uterus of membranes through the birth canal. Episiotomy is a procedure that consists of incising the vaginal mucosa and skin beyond the pelvic loor muscles, increasing the diameter of the birth canal. his routine is common, but there is no scientiic evidence about the beneits of this procedure, and it not minimizes the risk of serious perineal injuries, as well as not increases pelvic relaxation. Methods: his was an observational, cross-sectional and prospective study, based on the results obtained from the collection of data between women at the Hospital Nossa Senhora da Guia. he sample consisted of 100 patients over 18 years old. For data analysis, was used as a descriptive statistics, who scored data obtained with a population study. Results: It was found a value of 59% of mothers submitted to episiotomy, where 54% of them had no information on the procedure, nor consented to completion. Conclusion: he results of this study showed that episiotomy is still a routine procedure in obstetrical practice, while not having enough scientiic evidence to prove the beneit of its realization. Key-words: natural childbirth, episiotomy, SUS.

Palavras-chave: parto normal, episiotomia, SUS.

Endereço para correspondência: Carla Monique Ribeiro de Aquino, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Rua Íris, 39, 59025-240 Natal RN, E-mail: [email protected]

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Introdução A partir dos anos 80, o envelhecimento populacional tornou-se um fenômeno global, inicialmente, observado nos países desenvolvidos e, mais recentemente, nos países em desenvolvimento. O Brasil passa por um processo de envelhecimento acelerado e intenso, podendo, a proporção de brasileiros com mais de 60 anos, em 2025, chegar a 14%. Uma vez que a expectativa de vida das mulheres geralmente ultrapassa a dos homens, isso justiica a maior procura nos serviços de saúde brasileiros com queixas relacionadas ao climatério. De acordo com o Ministério da Saúde, o limite etário estabelecido para o climatério é o período entre 40 a 65 anos de idade [1-5]. O climatério é a fase da vida da mulher em que ocorre a transição do período reprodutivo – menacme ao não reprodutivo- senectude e está dividido em: pré-menopausa – inicia, em geral, após os 40 anos, com diminuição da fertilidade em mulheres com ciclos menstruais regulares ou com padrão menstrual similar ao ocorrido durante a vida reprodutiva; perimenopausa- inicia dois anos antes da última menstruação e vai até um ano após (com ciclos menstruais irregulares e alterações endócrinas); pós-menopausa – começa um ano após o último período menstrual [2,5,6-8]. Nesse período, há uma regressão na produção de estrógenos causando alterações físicas hormonais, metabólicas, somáticas, psíquicas e sociais, sofrendo inluências do contexto sociocultural, da família, do ambiente e psiquismo; que se manifestam ou não por sinais e sintomas (instabilidade vasomotora, distúrbios menstruais, sintomas psicológicos, distúrbios cognitivos, insônia, atroia gênito-urinária e, no longo prazo, osteoporose e alterações cardiocirculatórias) que caracterizam a síndrome climatérica [1,2,3,6,9-11]. Na esfera cognitivo-comportamental, no climatério, não são raras mudanças comportamentais, maior labilidade emocional e até diiculdades com a memória. Dependendo da intensidade e da frequência, as ondas de calor podem interferir no sono e nas atividades cotidianas, causando irritabilidade e depressão. A maior ocorrência de depressão no climatério está relacionada ao medo de envelhecer, aliado a sentimentos de inutilidade, perda da juventude e carência afetiva. Todos esses aspectos são capazes de ocasionar impacto negativo sobre a qualidade de vida da mulher [1,2,12-14]. Diante do exposto, o propósito desse estudo foi comparar a qualidade de vida de mulheres residentes no meio rural e no meio urbano, de forma a compreender melhor a inluência do contexto sociocultural sobre a síndrome climatérica, empregando o UQOL (Utian quality of life) e o protocolo de pesquisa [17].

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as informações por meio de uma pesquisa populacional, sendo a subamostra urbana colhida no município de Natal e a subamostra rural em comunidades da cidade de São Rafael, no Estado do Rio Grande do Norte. O estudo foi realizado respeitando as normas éticas estabelecidas na resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, para pesquisa envolvendo seres humanos, e o estudo foi aprovado pelo comitê de ética, número 115/2004 em pesquisa da UFRN. Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A amostra do tipo intencional conta com um total de 30 mulheres climatéricas, entrevistadas no mês de abril/2011, sendo divididas em dois grupos: 15 do meio urbano e 15 do meio rural, as quais foram selecionadas por contatos nas comunidades ou por indicação de mulheres de seu convívio social. Os critérios de inclusão para ambos os grupos foram: idade entre 45 e 65 anos e capacidade cognitiva para responder aos questionamentos. Os critérios de exclusão compreenderam mulheres com história prévia de ooforectomia bilateral e histerectomia (menopausa artiicial). Foi utilizado um questionário semi-estruturado de dados sociais, demográicos, socioeconômicos e ginecológicos, adicionado ao questionário de qualidade de vida especíico para o climatério (UQOL), aplicados por estudantes do curso de isioterapia previamente treinados na aplicação dos instrumentos, de forma individualizada. O questionário semi-estruturado abrangeu questões referentes à idade, estado civil, escolaridade, ocupação, história reprodutiva, classe social, hábitos de vida e doenças associadas. O instrumento de avaliação de qualidade de vida especíico para o climatério (UQOL) [17] avalia as mulheres climatéricas em quatro domínios: ocupacional, emocional, saúde e sexual. Para quantiicar, os dados foram inseridos na tabela dos domínios, sendo caracterizados com valores distintos. Nos domínios ocupacional, saúde, emocional e sexual quanto mais próximos de 13, 11, 12 e 0, respectivamente, pior será a qualidade de vida. Já quanto mais próximos de 35, 31, 28 e 15, respectivamente, melhor será a qualidade de vida. Ao inal é feita soma de todos os domínios, tendo como base a pior qualidade de vida com escore de 48 pontos e a melhor com 100 pontos. Para análise estatística dos dados, foram utilizados o software SPSS for Windows 13.0 (SPSS, Chicago, IL), adotando-se nível de signiicância de 5% em todos os procedimentos estatísticos. Para analise da normalidade de dados foi utilizado o teste Kolmogorov-Smirnov. Para veriicar associações entre variáveis qualitativas foram empregados os testes qui-quadrado e o teste exato de Fisher. Na avaliação das variáveis quantitativas foi utilizado o teste t para amostras independentes para comparar os grupos.

Resultados Material e métodos Realizou-se um estudo observacional, analítico de corte transversal. A pesquisa realizada é do tipo clínico, colhendo-se

Essa pesquisa tratou-se de estudo de corte transversal, que teve como objetivo comparar a qualidade de vida de mulheres do meio urbano e do meio rural. A amostra analisada foi

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constituída por 60% das mulheres variando de 45 a 54 anos, sendo o grupo rural detentor de 40% das mulheres na faixa de idade entre 45-54, estando as demais entre 55-64 anos, com prevalência de 60%; o grupo urbano apresentou 80% na faixa etária entre 45-54 e as demais distribuídas nas faixas etárias de 35-44 anos e 55-64 anos com 6,7% e 13,3%, respectivamente.

População rural Na análise referente aos dados dos antecedentes obstetrícios, conclui-se que 11 delas (73,3%) tiveram de 1 a 3 ilhos, sendo a maioria submetida ao parto normal (76,9%). Nos dados socioeconômicos, observa-se que uma maior quantidade (53,3%) tem uma renda familiar mensal de 2 a 3 salários mínimos, onde 60% delas trabalham extradomiciliar, com grau de escolaridade igual ou superior a 9 anos de estudo. Em relação ao estado civil, 46,7% são casadas ou apresentam união estável. Observando-se os hábitos de vida, 60% das mulheres não são praticantes de atividade física regularmente (3 ou mais vezes por semana, pelo menos 40 minutos/vez). Em análise dos dados ginecológicos, 73,3% não apresentam mais menstruação e essa parou há mais de um ano. Ao analisar as doenças associadas, todas as mulheres apresentam algum tipo de doença que necessita de acompanhamento médico (diabetes, pré-diabetes, hipertensão, doença do coração, dislipidemia, osteoporose, outras). Dessa amostra, 80% não apresentam perda involuntária de urina associada a essas doenças.

População urbana Analisando-se os antecedentes obstetrícios, 93,3% dessas mulheres tiveram de 1 a 3 ilhos, sendo que a maioria (60%) tiveram seus ilhos de parto normal. Observando os dados socioeconômicos, a maior parte da amostra (80%) possui renda familiar mensal de 4 ou mais salários mínimos, tendo a maioria (66,7%) delas ocupação extradomiciliar. Quanto ao grau de escolaridade, 86,7% apresentam de 9 a mais anos de estudo e 53,3% são casadas ou tem união estável. Ao analisar os hábitos de vida, a maioria mulheres (73,3%) não pratica atividade física regularmente (3 ou mais vezes por semana, pelo menos 40 minutos/vez). Em relação aos dados ginecológicos, 46,7% apresentam menstruação regularmente. No que toca às doenças associadas, todas as mulheres apresentam algum tipo de doença que necessita de acompanhamento médico, sendo elas: diabetes, pré-diabetes, hipertensão, doença do coração, dislipidemia, osteoporose, outras. Desse universo, 80% delas não apresentam perda de urina involuntária associada a essas doenças.

Avaliação da qualidade de vida relacionada com a saúde Na avaliação da qualidade de vida das mulheres, não foi evidenciada diferença signiicativa nos domínios de ocupação,

emocional e saúde. No entanto, ao se comparar os dados, segundo a ocupação e ao emocional, constatou-se que as mulheres do grupo urbano apresentam melhor qualidade de vida; já ao se analisar os dados de saúde, as mulheres do grupo rural apresentam melhor qualidade de vida, igualmente para a sexualidade, sendo esse com diferença de valores signiicativos entre os grupos. Esses dados podem ser visualizados na Tabela I. Tabela I - Qualidade de vidadas mulheres na fase do climatério da população urbana e da população rural. DOMINIOS

UQOL ocupação UQOL emocional UQOL saúde UQOL sexual UQOL total

*P ≥ 0,05

Mulheres da população urbana (n = 15) 26,87 (± 3,85)

Mulheres da P valor população rural (n = 15) 26,33 (± 3,88) 0,709

17,87 (± 2,56)

17,67 (± 3,06)

0,848

17,00 (± 4,05) 8,07 (± 4,02) 69,80 (±9,22)

18,87 (± 3,72) 10,93 (± 0,88) 73,08 (± 7,59)

0,199 0,016* 0,206

Discussão É cada vez maior, o número de mulheres que se preocupam em ter vida saudável, livre de incapacidades, doenças e sintomas desagradáveis que prejudicam o lazer, os relacionamentos interpessoais e o trabalho, mais do que apenas ter vida longa. As características de uma vida saudável são a essência do que signiica qualidade de vida relacionada à saúde [9]. De acordo com o domínio de ocupação, não houve diferença signiicativa, mas houve uma pequena diferença nos valores em que foi demonstrado que mulheres do grupo urbano apresentaram melhor qualidade de vida, provavelmente por uma maior quantidade de mulheres trabalharem fora. Galvão et al. [3], mostrou signiicância estatística para esse mesmo domínio e fez um comentário adicional, que as mulheres que trabalham fora apresentaram melhor qualidade de vida no geral. Analisando os dados emocionais, não foi mostrado signiicância estatística. Porém, as mulheres do meio urbano apresentaram melhor qualidade de vida, o que pode ser explicado por uma maioria delas ser casada, o que vai de encontro com os dados da literatura que dizem que há uma melhor qualidade de vida quando se tem um relacionamento conjugal e que acreditam que a desarmonia familiar, falta de diálogo e desamor levam a tristeza e infelicidade. Tal fato, também pode ter relação com a idade, pois as mulheres do grupo urbano, em menor quantidade, possuem idade maior que 50 anos, o que é justiicado na literatura que a sintomatologia depressiva mostra-se altamente prevalente em indivíduos com idade acima dos 50 anos, em ambos os sexos [2,8].

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Em analise dos dados referentes à saúde, as mulheres da população rural apresentaram melhor qualidade de vida, apesar de não haver diferença signiicativa entre elas. Elavsky et al. [18], em seu estudo envolvendo 133 mulheres com idade concentrada de 44 a 60 anos, submetidas a atividades físicas, durante 12 meses, concluiu que, além de melhora da percepção de severidade dos sintomas menopausais, o sentimento de vigor físico atua positivamente na sensação psicológica de bem-estar, na vitalidade, na saúde mental, nos aspectos emocionais, ou seja na qualidade de vida de forma geral. No aspecto sexual, houve diferença signiicativa entre os grupos, sendo que o grupo das mulheres do meio rural apresentou uma melhor qualidade de vida. Em relação à idade as mulheres do meio rural, em sua maioria, possuem mais que 50 anos, o que contradiz o estudo realizado por Fernandes [19], em que foi veriicada correlação signiicativa entre sexualidade ruim e idade maior que 50 anos. Um estudo longitudinal australiano relatou efeito negativo da idade na frequência da atividade sexual, no interesse, e em aspectos da resposta sexual como excitação, prazer e orgasmo [19]. Além disso, em relação ao estado civil, uma menor quantidade é casada ou vive em união estável, o que é explicado por Pedro et al. [20], que diz que as mulheres que convivem com parceiro apresentam maior prevalência de queixas genitais do que as que não convivem. Ao inal desse estudo pode-se observar que os dois grupos apresentaram uma boa qualidade de vida em todos os domínios, por suas pontuações chegarem próximo a 100. Sendo que a população rural mostrou ter maiores escores quando comparada com a população urbana, o que pode ser justiicado por Silveira et al. [15], em que avaliando mulheres do meio urbano e rural quanto a sintomatologia climatérica e os fatores relacionados observou que as mulheres do meio rural apresentam menor prevalência de sinais e sintomas. Desse aprendizado, sugere perspectivas no campo da qualidade de vida das mulheres na fase do climatério, principalmente fazendo essa comparação entre população rural e urbana, por motivo da amostra utilizada no presente estudo ter sido relativamente pequena, não houve praticamente diferença signiicativa entre os dados, por isso também se sugere um maior número de mulheres contatadas. Sugere-se também que a amostra do meio rural seja contatada através do PSF (Programa da Saúde da Família), já que a amostra do presente estudo foi constituída por mulheres com alto grau de escolaridade.

Conclusão A qualidade de vida das mulheres da população rural é melhor em relação aos domínios sexual e saúde; já em relação aos domínios ocupação e emocional as mulheres da população urbana apresentaram melhor qualidade de vida.

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Artigo 20 Inluência da isioterapia no tratamento da constipação intestinal em mulheres com ibromialgia: estudo piloto

Inluence of physical therapy in treatment of constipation in women with ibromyalgia: pilot study Marjorie Ovídio Bezerra Galvão*, Fernanda de Lourdes Penha da Câmara*, Rodrigo Pegado de Abreu Freitas, M.Sc.**, Elisa Sonehara, M.Sc.***, Sandra Cristina de Andrade, D.Sc.****, Lilian Lira Lisboa, M.Sc.**** *Discentes da Universidade Potiguar, **Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ***Docente da Universidade Potiguar, ****Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universidade Potiguar

Resumo

Abstract

A ibromialgia é caracterizada por dor difusa e pontos sensíveis a palpação digital, ocorrendo principalmente no sexo feminino, tendo frequentemente no seu quadro clínico a constipação, que é caracterizada por frequência de evacuações menor do que três vezes por semana, esforço para evacuar, sensação de evacuação incompleta, fezes endurecidas, tempo de obstrução anorretal e manobras manuais. Veriica-se ainda um aumento da prevalência dessa disfunção na fase do climatério. A constipação pode ser tratada de diversas formas entre elas a isioterapia utilizando a estimulação elétrica intracavitária dos músculos do assoalho pélvico e a cinesioterapia com exercícios para fortalecimento destes músculos. Investigar a inluência da eletroestimulação intracavitária associada à técnica de balonnet, no tratamento da constipação intestinal em mulheres com ibromialgia na fase do climatério. Essa pesquisa se caracteriza como sendo estudo de casos de 7 mulheres na fase do climatério com idade variando entre 44 e 64 anos, apresentando constipação intestinal. Foram realizados 15 atendimentos de eletroestimulação intracavitária com tempo total de aplicação de 30 minutos, seguidas de 15 repetições da técnica do balonet associado ao treino respiratório. Os resultados mostraram melhora signiicativa da constipação em 6 das 7 pacientes quanto aos itens avaliados no Critério de Roma II, obtendo assim melhora em alguns domínios do SF-36. A eletroestimulação intracavitária associada à técnica do balonet parece ser uma terapia eicaz no tratamento da constipação intestinal em mulheres com ibromialgia.

Introduction: Fibromyalgia syndrome is a condition characterized by difuse pain and tender points digital palpation, occurring mainly in females, with constipation as a complication, characterized by frequency of bowel movements less than three times per week, straining, sensation of incomplete evacuation, hard stool, anorectal obstruction time and manual maneuvers, according to the Rome II criteria. here is also an increased prevalence of this disorder in the climacteric phase. Constipation can be treated in several ways including: medication, bowel retraining, behavioral habits, diet, exercise, physical therapy and intracavitary electric stimulation of the pelvic loor muscles and kinesiotherapy with these exercises for strengthening muscles. Objective: To investigate the inluence of electrical stimulation associated with intracavitary cuf technique in the treatment of constipation in women with ibromyalgia in the climacteric phase. Methods: his research is characterized as case studies of seven women in the climacteric phase, 44 to 64 years old, with constipation, submitted to 15 sessions with intracavitary electric stimulation of 30 minutes, followed by 15 repetitions of the technique of balloon associated with the respiratory training. Results: he results showed a cure for constipation in 6 of 7 evaluated items according to the Rome II criteria, thus achieving improvement in some domains of the SF-36. Conclusion: Electrical stimulation associated with intracavitary balloon technique may be an efective therapy in the treatment of constipation in women with ibromyalgia. Key-words: constipation, ibromyalgia, physical therapy.

Palavras-chave: constipação intestinal, ibromialgia, isioterapia.

Endereço para correspondência: Lilian Lira Lisboa, Departamento de Fisioterapia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Sen. Salgado Filho, 3000 Lagoa Nova 59075-000 Natal RN, E-mail. [email protected]

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Introdução A ibromialgia (FM) é uma doença reumatológica não inlamatória, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor difusa e pontos sensíveis a palpação digital (trigger points), ocorrendo principalmente no sexo feminino em torno dos 45 anos, embora possa ser diagnosticada em qualquer idade e no sexo masculino [1]. Estes sintomas são frequentemente associados à fadiga, distúrbios do sono, rigidez articular entre outros, o qual destacamos a constipação ou obstipação intestinal [2]. A constipação acomete 20% a 30% da população adulta ocidental, com predomínio em mulheres, chegando a interferir na qualidade de vida das mesmas [3,4]. Segundo os critérios de Roma II, a constipação intestinal é caracterizada por frequência de evacuações menor do que três vezes por semana, esforço para evacuar em mais de 25% das vezes, sensação de evacuação incompleta, fezes endurecidas e estímulos sem eliminação das fezes. São considerados constipados aqueles que apresentam dois ou mais desses sintomas, no mínimo em um quarto das evacuações, referidos por pelo menos três meses (não necessariamente consecutivos) no último ano, embora possam ser considerados os últimos três meses [4]. Considera-se como funcional a constipação que não se origina em alterações anatômicas do canal alimentar, nem motivada por doenças metabólicas, musculares ou neurológicas ou ainda do tecido conjuntivo, que possam interferir com a motricidade dos segmentos que compõem o canal alimentar, quando passa a ser classiicada como orgânica [5]. Entre os fatores que também podem aumentar a prevalência de constipação encontram-se danos causados à musculatura pélvica, e à sua inervação, decorrentes de partos e prolapsos genitais. Ocorre frequentemente na fase do climatério em decorrência da diminuição dos níveis de estrogênio, instalando-se um quadro de hipoestrogenismo associado a mudanças anatômicas e isiológicas, que comprometem o assoalho pélvico e os esfíncteres [4-5]. A constipação pode ser tratada de diversas formas, entre elas: tratamento medicamentoso, reeducação intestinal (tratamento cirúrgico), hábitos comportamentais, dieta, exercícios físicos e tratamento isioterapêutico. Com relação ao tratamento isioterapêutico o uso da eletroestimulação intracavitária dos músculos do assoalho pélvico e a cinesioterapia com exercícios para fortalecimento destes músculos são métodos terapêuticos que podem oferecer melhora signiicativa no quadro de constipação e na qualidade de vida [5,6]. Tendo em vista o impacto da FM e da constipação na qualidade de vida e a falta de literatura sobre tal assunto, o presente estudo tem como objetivo veriicar os efeitos da isioterapia uroginecológica no tratamento da constipação intestinal em mulheres com FM.

Material e métodos Foi realizado um estudo de casos, com mulheres com FM diagnosticada clinicamente com quadro de constipação e na

fase do climatério, encaminhadas para a Universidade Potiguar (UnP), no período de fevereiro de 2011 a maio de 2011. Foi selecionada uma amostra de 7 pacientes. Foram incluídas mulheres segundo os seguintes critérios de inclusão: diagnostico médico de FM, estar na fase do climatério com idade entre 35 e 65 anos e diagnosticadas com o quadro de constipação de acordo com o Critério de Roma II. Foram excluídas da amostra as pacientes que faltaram ao tratamento por mais de duas vezes consecutivas, tiveram constipação isiológica ou não funcional por transito colônico lento, apresentaram algum déicit cognitivo, tratamento isioterapêutico anterior ao estudo ou uso de medicamento prévio para constipação. O presente estudo respeitou as normas éticas estabelecidas na resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisa envolvendo seres humanos, em que foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Potiguar sob o número de protocolo 256/2010. Para coleta dos dados, foi utilizada uma icha de avaliação com dados sócio-demográicos (idade, ocupação, estado civil, nível de escolaridade) e clínicos (tempo de constipação, número de gestações e tipos de partos). Na avaliação da qualidade de vida foi utilizado o questionário Medical Outcome Study Short Form 36 Health Survey (SF-36), que avalia o estado geral de saúde, sob a perspectiva do próprio indivíduo. O SF-36 é um questionário multidimensional formado por 36 itens, englobados em 8 escalas ou componentes: capacidade funcional (10 itens), aspectos físicos (4 itens), dor (2 itens), estado geral de saúde (5 itens), vitalidade (4 itens), aspectos sociais (2 itens), aspectos emocionais (3 itens), saúde mental (5 itens) e mais uma questão de avaliação comparativa entre as condições de saúde atual e de um ano atrás. Avalia tanto aspectos negativos de saúde (doença ou enfermidade), como aspectos positivos (bem-estar). Os dados são avaliados a partir da transformação das respostas em escores numa escala de 0 a 100, de cada componente, não havendo um único valor que resuma toda a avaliação, resultando em um estado geral de saúde melhor ou pior. A constipação foi avaliada pelo questionário da constipação baseado nos critérios de Roma II, sendo estes: fezes endurecidas ou fragmentadas, menos de três evacuações por semana, sensação de diiculdade para evacuar em pelo menos 25% das evacuações, e sensação de evacuação incompleta em pelo menos 25% das evacuações [4]. Após avaliação as pacientes iniciaram o tratamento com duração de aproximadamente 40 minutos por sessão, sendo realizado duas vezes por semana, totalizando 15 atendimentos. As pacientes foram submetidas ao mesmo protocolo de tratamento realizado da seguinte forma: (1) nas primeiras cinco sessões, foi utilizada eletroestimulação com corrente bifásica no aparelho estimulador da marca Quark modelo Dualpex 961, eletrodo intracavitário anal compatível com o aparelho estimulador, nos seguintes parâmetros: frequência de 35Hz, largura de pulso de 250µs, com tempo on e of 1:1, intensidade de acordo com o limiar da paciente, tempo total de aplicação de 30 minutos, em seguida foram feitas 15 repetições da técnica do balonet; (2) as

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demais sessões iniciaram com 15 repetições da técnica do balonet ainda com tônus de base (sem aplicação da eletroestimulação), seguido de eletroestimulação associado a mais 15 treinos com a técnica de balonet. As pacientes também receberam orientações quanto ao treino respiratório (expiração forçada) no ato da defecação associada à orientação quanto á postura correta para evacuar, que é sentar com as pernas afastadas, antebraços sobre as coxas, costas retas ou levemente letidas e pés totalmente apoiados no chão. Essa é a posição que a musculatura interna entra em relaxamento e realiza o ato sem muito esforço. Ao inal do período de tratamento, as pacientes foram submetidas a uma reavaliação com os mesmos instrumentos iniciais para ins comparativos pré e pós intervenção. A normalidade dos dados foi analisada pelo método de Shapiro-Wilk. As variáveis quantitativas estão expressas em médias e desvio padrão (± DP) e mediana e percentis (2575). As variáveis categóricas estão expressas em frequências relativas e absolutas. Para análise da diferença entre o pré e pós-tratamento foi utilizado o teste t pareado. O pacote estatístico SPSS® 19.0 foi utilizado para esses ins, sendo adotado um p-valor < 0,05 como signiicância estatística.

Resultados Foram avaliadas 7 mulheres com FM e constipação, a idade das voluntárias variou de 44 a 64 anos com média (± DP) de 55,28 (± 6,67) anos. A maioria das pacientes 57,14% eram divorciadas ou solteiras. Em relação á escolaridade, 57,14% tinha escolaridade igual ou superior a 15 anos de estudo. Quanto á ocupação, 85,71% não possuíam ocupação extra-domicílio. Em relação aos dados clínicos veriicou-se que a mediana (25-75) do tempo de constipação foi de 3 (1-20) anos. Em relação ao número de gestações foi visto variação de 1 a 4 gestas com mediana (25-75) de 3 (1-3) gestações e que a mediana (25-75) do número de partos normais foi de 1 (1-2) parto. Na avaliação da constipação através dos critérios de Roma veriica-se na Tabela I que avaliação inicial 5 (71,4%) pacientes apresentavam 5 dos 6 critérios, e que 2 (28,5%) pacientes apresentavam os 6 critérios positivos. Os critérios fezes endurecidas, necessidade de esforço ao evacuar e sensação de evacuação incompleta foi relatado por todas as pacientes (100%). O item manobras manuais foi presente em 85,7% dos casos, seguido com 71,4% dos itens evacuações infrequentes e tempo excessivo. Após intervenção foi veriicado que 6 (85,7%) das pacientes não apresentaram mais constipação, segundo os critérios de Roma II. Ainda permaneceram presentes os critérios fezes endurecidas em 2 (28,5%) pacientes, necessidade de esforço ao evacuar e sensação de evacuação incompleta em 1 (14,3%) paciente cada critério. Em relação à avaliação da qualidade de vida, foi veriicado na avaliação inicial o grande impacto da ibromialgia em todos os domínios da qualidade de vida das pacientes com ibromialgia, tendo os piores escores os domínios: limitação por

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aspectos físicos 7,1 (± 18,9) e dor 24,0 (± 12,8). Observa-se ainda que após o tratamento da constipação houve melhora em seis dos oito domínios da qualidade de vida. No entanto, só foi veriicada diferença estatisticamente signiicante apenas no domínio estado geral de saúde (p = 0,0011). Estes dados são melhor visualizados na Tabela II. Tabela I - Distribuição das frequências relativas e absolutas dos critérios de Roma II em pacientes com ibromialgia e constipação no pré e pós tratamento. Pré-Tratamento N(%) Fezes endurecidas 7 (100%) Evacuações infrequentes 5 (71,4%) Necessidade de esforço 7 (100%) Sensação de evacuação incom- 7 (100%) pleta tempo excessivo 5 (71,4 %) Manobras manuais 6 (85,7%) Critérios de Roma II

Pós-Tratamento N(%) 2 (28,5%) 0 (0%) 1 (14,3%) 1 (14,3%) 0 (0%) 0 (%)

Tabela II - Distribuição e análise dos valores das médias (± DP) dos domínios da qualidade de vida (SF-36) em pacientes com ibromialgia e constipação pré e pós-tratamento. Variáveis

Qualidade de vida (SF-36) Domínios físicos Capacidade funcional Limitação por aspectos físicos Dor Estado geral de saúde Domínios mentais Vitalidade Aspectos sociais Aspectos emocionais Saúde mental

Valores Pacientes Pacientes com com ibroibromialgia mialgia (pré(pós-trata-tratamento) mento) Média (± DP) Média (± DP)

p valor

24,3 (± 21,1)

33,6 (± 27,2)

0,4171

7,1 (± 18,9)

21,4 (± 36,6)

0,4362

24,0 (± 12,8)

28,0 (± 19,2)

0,5791

26,3 (± 9,8)

53,3 (± 19,1)

0,0011*

31,4 (± 24,1) 27,14 (± 26,1)

0,6670

39,3 (± 15,2)

33,9 (± 36,0)

0,7272

28,6 (± 48,8)

42,9 (± 53,5)

0,3559

31,4 (± 18,4)

40,6 (± 27,9)

“Data 2”

Discussão No presente estudo foi veriicado que mulheres com ibromialgia podem apresentar quadro severo de constipação, bem

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como que através de técnicas de eletroterapia e cinesioterapia podem melhora o quadro de constipação. Foi observado ainda que o tratamento isioterápico da constipação pode interferir positivamente na qualidade de vida. Em estudo prévio foi veriicado que em pacientes com ibromialgia os escores de gravidade dos sintomas de constipação foram maiores do que em pacientes com artrite reumatóide e controles. Neste estudo também foi constatado que maior gravidade dos sintomas gastrointestinais em pacientes com ibromialgia podem ter efeitos negativos sobre a sua qualidade de vida [7]. Em relação aos principais sintomas encontrados na presente casuística foi veriicado em 100% da amostra necessidade de esforço ao evacuar, sensação de evacuação incompleta e fezes endurecidas ou fragmentadas, e 71,42% das pacientes relataram evacuações infrequentes e tempo excessivo. Estes dados são reforçados por estudo prévio sobre constipação, o qual evidencia que os sintomas relatados frequentemente pelas pacientes foram os mesmos encontrados no presente estudo, sendo o esforço ao evacuar presente em (91,9%), seguido da sensação de evacuação incompleta (83,8%), fezes endurecidas ou fragmentadas (81,1%), menos de três evacuações por semana e sensação de obstrução à evacuação com 62,2%, respectivamente. Manobras manuais para facilitar as evacuações foram referidas por 45,9% das participantes [4]. Vários fatores podem aumentar a prevalência da constipação, sendo citado na literatura mais frequentemente os danos causados à musculatura pélvica e à sua inervação decorrentes de partos ou cirurgias ginecológicas e os prolapsos genitais, mais frequente na pós-menopausa. Os distúrbios defecatórios  geralmente são resultado de algum problema no assoalho pélvico ou do esfíncter anal, em que os pacientes com defecação obstruída apresentam contração paradoxal do puborretal ou a inabilidade em relaxar o esfíncter anal, gerando consequentemente esforço excessivo ao evacuar e a sensação de eliminação incompleta das fezes. No tratamento isioterápico para constipação são utilizados vários métodos terapêuticos que podem oferecer melhora signiicativa, dos quais destacamos os exercícios e a eletroestimulação [4,5]. No entanto, é necessário durante o tratamento orientar os pacientes quanto a postura correta, pois também, é um fator importante, durante o ato evacuatório, a postura correta seria a pessoa sentada com os pés apoiados no solo, costas retas ou levemente letidas (aumento da pressão intra-abdominal). Exercícios especíicos dos músculos da região pélvica re-ensinam a paciente a controlar estes músculos e facilitar a evacuação. A cinesioterapia e a técnica do balonet auxiliam para melhorar a coordenação, força e endurance de ambos os tipos de ibras musculares. Quanto maior a conscientização da contração dos músculos do assoalho pélvico, isolada de musculaturas acessórias, maior será o recrutamento de unidades motoras , ganho de força muscular e a capacidade de relaxamento fundamental para a defecação. A técnica do

balonet é uma técnica que proporcionará uma reeducação do relexo reto- esincteriano estriado, em que o estímulo proporcionará uma resposta voluntária especíica [8,9]. A evacuação é um processo complexo que envolve a musculatura abdominal e pélvica e o esfíncter anal, por isso além de treinar a musculatura perineal, que promove o relaxamento do esfíncter, é importante trabalhar o músculo transverso do abdômen, que associado à respiração une as forças resultantes da contração do diafragma para a região abdominal, e projeta com intensidade máxima para área pélvica. Entre os tratamentos propostos para a constipação está a eletroestimulação dos músculos do assoalho pélvico que vem sendo utilizada promovendo a conscientização da contração muscular para aquelas pacientes que não apresentam boa percepção cinestésica, achado este bem frequente na prática clínica de pacientes com quadro de constipação terminal. A eletroterapia irá fornecer uma informação neuromuscular importante para a retomada da atividade consciente dos músculos do assoalho, promovendo uma contração do músculo elevador do anus e do esfíncter anal, pela estimulação direta do nervo pudendo [10]. A Fisioterapia aparece como um importante recurso por proporcionar uma reeducação perineal e abdominal conjuntamente com o rearranjo da estática lombo-pélvica, apresentando bons resultados. O uso das técnicas terapêuticas no tratamento da constipação intestinal em mulheres com FM parece melhor o quadro funcional das pacientes.

Conclusão A eletroestimulação intracavitária associada à técnica de Balonet, mostrou-se uma terapia eicaz no tratamento da constipação intestinal em pacientes com ibromialgia e interferiu positivamente na qualidade de vida. Há necessidade de investigações futuras, com estudo randomizado controlado.

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Artigo 21 Análise comparativa da capacidade funcional de idosas com e sem incontinência urinária Comparative analysis of functional capacity of elderly women with and without urinary incontinence Denise Almeida Santos*, Maíra Creusa Farias Belo, D.Sc.**, Klenio Lucena de Sena***, Gabriela Brasileiro Campos Mota, D.Sc.**** *Fisioterapeuta, Graduada pela UNESC Faculdades, **Fisioterapeuta, Profª Orientadora Esp.- UNESC Faculdades, Faculdade Maurício de Nassau (FMN); Universidade de Estadual da Paraíba (UEPB), ***Fisioterapeuta, Graduado pela UNESC Faculdades, ****Fisioterapeuta, Profa. Dra. Faculdade de Ciências Médicas (FCM-CG)

Resumo

Abstract

O envelhecimento é um processo contínuo, complexo, multifatorial e individual, levando a modiicações como a Incontinência Urinária (IU). Cerca de 60% das idosas são afetadas pela IU que pode contribuir para alterações no convívio social e atividades funcionais. O objetivo deste estudo foi analisar comparativamente a capacidade funcional de idosas com e sem IU. Foi um estudo transversal, quantitativo, descritivo, analítico, exploratório; realizado na Fundação São Januário. A amostra foi formada por 16 idosas. Foi aplicado um questionário referente à IU e a Medida de Independência Funcional Motor (MIFm). Os dados foram analisados pelo Programa SPSS 18.0. Os resultados mostram média de idade de 67,81 (±5,71) anos, casadas (50%). A perda urinária foi veriicada em 62,5%, com média de 68 meses; prevalência por pequenos esforços (60%), estresse (50%), 70% jato. Os principais sintomas: enurese noturna (27,6%) e sensação de resíduos (13,8%). Os valores da MIFm variaram de 80 a 92 com média de 83,5 nas idosas com IU e 89,83 sem. Nos domínios controle de urina 43,8% apresentaram dependência completa e subir escadas 68,8% não necessitou de ajuda. Conclui-se que é possível observar uma associação entre incontinência urinária e baixa capacidade funcional, trata-se, portanto, de um tema socialmente relevante.

Aging is a continuous, complex, multifactorial and individual process, leading to modiications such as Urinary Incontinence (UI). About 60% of the elderly are afected by UI that may contribute to changes in social and functional activities. he aim of this study was to analyze the functional ability of elderly women with and without UI. It was a cross-sectional study, quantitative, descriptive, analytical and exploratory, held at São Januário Foundation. he sample was comprised of 16 elderly. We administered a questionnaire relating to UI and Functional Independence Measure Motor (mFIM). he data was analyzed by using SPSS 18.0. he results show average of 67.81 (± 5.71) years old, mostly married (50%). he urinary loss was observed in 62.5%, with a mean of 68 months; prevalence of small eforts (60%), stress (50%), 70% lost as urine low. he main symptoms related were: nocturnal enuresis (27.6%) and feeling of residual urine (13.8%). he values of mFIM ranged from 80 to 92 with an average of 83.5 in the elderly with UI and 89.83 in the ones without it. In the areas of urine control, 43.8% showed complete dependence, and about climbing stairs, 68.8% required no help. It was concluded that it is possible to observe an association between urinary incontinence and poor functional capacity, it is, therefore, a socially important theme.

Palavras-chave: idosas, incontinência urinária, capacidade funcional.

Key-words: elderly women, urinary incontinence, functional capacity.

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Introdução O século XX foi marcado pelo fenômeno que modiicou o panorama demográico e o peril da população, referente ao incremento da parcela idosa [1]. No Brasil, os idosos já compõem 11,1% da população total do país, com um contingente de mais de 21 milhões de indivíduos [2]. Classiicam-se como idosas as pessoas com mais de 65 anos de idade em países desenvolvidos e com mais de 60 anos de idade em países em desenvolvimento [1]. Contudo, os indivíduos envelhecem não a partir dos 60 ou 65 anos, mas ao longo do seu desenvolvimento. O envelhecimento é um processo contínuo, complexo, multifatorial e individual, envolvendo modiicações do nível molecular ao morfoisiológico, principalmente após o período pós-reprodutivo [3]. É um processo progressivo, universal e intrínseco, e suas alterações ocorrem em diferentes taxas entre os vários órgãos de um indivíduo [4]. A biologia do envelhecimento é inexorável e as tentativas de entendimento de suas causas são limitadas pela complexidade do fenômeno. As modiicações do envelhecimento são caracterizadas por: mudança na composição bioquímica dos tecidos; diminuição progressiva na capacidade isiológica; redução na capacidade de adaptação aos estímulos; aumento na suscetibilidade e vulnerabilidade às doenças. Tal declínio inicia-se em torno dos 30 anos de idade cronológica [5,6]. As principais síndromes geriátricas, os chamados gigantes da geriatria são: imobilidade (que acentua a diminuição da massa magra, podendo levar à sarcopenia e às escaras de decúbito); a instabilidade postural (com um risco aumentado de quedas e, consequentemente, fraturas); insuiciência cerebral (alterações cognitivas); iatrogênica (maior susceptibilidade a reações colaterais e à intoxicação) e a incontinência urinária (IU) [7]. Para a International Continence Society (ICS) a IU é a incapacidade de controlar a passagem da urina, afetando aproximadamente 200 milhões de pessoas em todo o mundo e acarretando sofrimento em quem vivencia essa problemática [8]. Classiica-se em de esforço, urge-incontinência e mista. A mais comum é a IU por esforço, deinida como toda perda involuntária de urina através do canal uretral íntegro, quando a pressão vesical excede a pressão uretral máxima, na ausência de atividade do músculo detrusor [9]. Há diversos fatores de risco relacionados à IU. O avanço da idade, diabetes e infecções do trato urinário, etnia branca, aumento do índice de massa corporal (IMC), parto vaginal e parto traumático (com uso de fórceps e episiotomia) bem como multiparidade, gestação em idade avançada, diabetes e menopausa, atroia dos músculos e tecidos, queda funcional do sistema nervoso (SN) e circulatório e diminuição do volume vesical podem contribuir para o seu aparecimento [10]. Cerca de 60% das mulheres acima de 60 anos de idade que são afetadas pela IU tendem ao isolamento social por temerem a ocorrência das perdas urinárias em público e icam

119

dependentes da possibilidade de ter um banheiro por perto, evitam realizar atividades diárias junto a outras pessoas que possam evidenciar a IU [11]. Apesar de não ser uma condição de vida ameaçadora, a IU pode causar vários problemas, contribuindo para o surgimento de alterações psicológicas, de relacionamento pessoal, sexual, alterações físicas, econômicas, ocupacionais, domésticas, higiênicas, inluenciando negativamente na qualidade de vida (QV) dessa população e causando alta morbidade, estresse e debilidade, alterando, portanto, o convívio social e as atividades funcionais [12] Esse processo de transição epidemiológica que vem ocorrendo nos últimos anos e transformando o paradigma de saúde, fez com que, condições como a IU assumam papel de destaque. A capacidade funcional (CF) que pode ser afetada diretamente pela IU, tornou-se um importante meio de avaliar a autonomia e a independência do idoso [13]. Destarte, faz-se necessário veriicar a interferência causada pela IU na funcionalidade, e disponibilizar os resultados colhidos para que a sociedade possa fazer uso de eventuais descobertas, além disso, identiica-se a necessidade de uma pesquisa mais aprofundada acerca do assunto, por ser um tema socialmente relevante e com amplo espaço para novas abordagens voltadas para a área da saúde.

Objetivos O presente estudo foi realizado com o objetivo geral de analisar comparativamente a CF de idosas com e sem IU. E como objetivos especíicos foram avaliar a prevalência das idosas com IU; investigar através da comparação se a IU interfere na CF das idosas; analisar quais variáveis da CF mais sofreram interferência.

Material e métodos Este trabalho caracterizou-se por ser um estudo transversal, quantitativo, descritivo e analítico, com abordagem exploratória. A referida pesquisa foi realizada na Fundação São Januário, em Campina Grande-PB em 2011. A população foi formada por 30 (trinta) mulheres. A amostra foi do tipo não-probabilística e intencional, composta por 16 idosas. Foram incluídos na pesquisa: idosos do sexo feminino; entre 60 e 80 anos; que aceitaram participar da pesquisa por livre e espontânea vontade, através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE. Foram excluídos mulheres idosas com doenças incapacitantes ou sequelas neurológicas (Ex.: AVE). O trabalho foi submetido à apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Após a aprovação pelo CEP, com parecer CAAE 0477.0.133.000-11, teve início o referido estudo. Foi feito um único contato com cada idosa, e nesse momento foram explicados às participantes a justiicativa e

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objetivos da pesquisa de forma clara e concisa, e os procedimentos que seriam realizados com as mesmas, bem como apresentado o TCLE, enfatizando que a participação era voluntária e não-obrigatória, que não sofreriam nenhum dano ou prejuízo, e que a idosa teria plena liberdade de se recusar a participar da pesquisa ou retirar o consentimento a qualquer momento sem penalização alguma. Ainda foram garantidos sigilo e privacidade quanto aos dados conidenciais envolvidos na pesquisa. Para coleta dos dados foram utilizados dois questionários, um elaborado pelos pesquisadores abrangendo aspectos relacionados à IU, e o MIFm para avaliação da CF das idosas com e sem IU. O questionário sobre IU aborda questões socioeconômicas, doenças pré-existentes, sintomas urinários, perdas urinárias, tipos de perdas, bem como quantidade de perdas urinárias. A MIF é amplamente utilizada e aceita como medida de avaliação funcional internacionalmente. Ela veriica o desempenho do indivíduo para a realização de um conjunto de 18 tarefas, divididas em MIFm referentes às subescalas de auto-cuidados, controle esincteriano, transferências, locomoção e MIFcs referente às subescalas de comunicação e cognição social. Cada item pode ser classiicado em uma escala de graus de dependência de 7 níveis, sendo o valor 0 correspondente à dependência total e o valor 7 correspondente à normalidade na realização de tarefas de forma independente. Neste estudo foi utilizado apenas a MIFm, excluindo os itens de comunicação e cognição social. Os valores atribuídos as dimensões da MIFm são os seguintes: referente à escala auto-cuidados (alimentação, higiene pessoal, banho - lavar o corpo - vestir metade inferior, vestir metade superior, utilização de vaso sanitário) os valores variam de 6 a 42 pontos; referente à escala de controle dos esfíncteres (controle de urina e controle de fezes) os valores variam de 2 a 14 pontos, referente a escala transferências, os valores variam de 3 a 21 pontos, e na escala locomoção os valores variam de 2 a 14 pontos. Sendo a pontuação total do MIFm variando entre 13 a 91 pontos. Os dados foram analisados e apresentados através do Programa SPSS - Statistical Packadge for the Social Science, na sua versão 18.0. A análise quantitativa dos dados foi realizada por meio da classiicação das variáveis em categóricas e numéricas discretas, as quais foram reveladas em termo de distribuição de frequência, média e desvio-padrão da média, respectivamente. A análise inferencial para comparação de capacidade funcional entre as idosas com e sem incontinência procedeu-se através da execução do teste de Mann-Whitney para dados não-paramétricos e teste de Qui-Quadrado de Pearson para veriicar a associação entre doenças crônicas e incapacidade funcional. Para tanto, adotou-se um ≤0,05. Os pesquisadores assumiram a responsabilidade, em todas as etapas da pesquisa, em cumprir as diretrizes da Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – CNS e suas

Complementares, outorgada pelo Decreto nº. 93833, de 24 de janeiro de 1987, de acordo com o Termo de Compromisso dos Pesquisadores – TCP. Por se tratar de uma pesquisa envolvendo seres humanos, o estudo visou assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade cientíica e aos sujeitos da pesquisa, atendendo as determinações dessa resolução.

Resultados e discussão Esta pesquisa desenvolveu-se na Fundação São Januário em Campina Grande-PB, foi realizado com 16 idosas, com idade variando entre 61 à 80 anos e média de 67,81 (±5,71) anos. Houve um predomínio de mulheres casadas (50%) na amostra e uma prevalência de 4 ilhos ou mais em 56,3% das entrevistadas. Quando questionadas quanto à escolaridade, a amostra foi formada apenas por idosas analfabetas (47,3%) e com ensino fundamental incompleto (56,3%). Outros dados sociodemográicos podem ser visualizados na Tabela I. Tabela I - Dados sociodemográicos. Estado civil Casada Divorciada Viúva N° de filhos Nenhum 2 ou 3 filhos 4 ou mais filhos Escolaridade Analfabeta Fundamental Incompleto



%

8 1 7

50 6,3 43,7

2 5 9

12,5 31,3 56,3

7 9

43,7 56,3

Fonte: Dados da Pesquisa, 2011

No que concerne à idade, o estudo realizado por Souza [14] teve uma amostra semelhante formada por doze idosas, cujas idades variaram entre 61 e 83 anos, cinco idosas eram viúvas, quatro casadas, duas divorciadas e uma solteira. As informações sobre escolaridade revelaram que três idosas concluíram o 3º grau e três possuíam formação de nível técnico, duas idosas possuíam o curso normal e duas concluíram o 2º grau. O nível de escolaridade mais baixo foi o de 1º grau, concluído por duas idosas. Tais dados divergem com os encontrados na referida pesquisa como pode ser observado quando comparados aos visualizados na Tabela I. O envelhecimento da população brasileira tem ocorrido de forma rápida, com grande aumento na média de idade. No presente trabalho, veriicou-se que a média de idade das idosas entrevistadas foi bem próxima ao encontrado no estudo de Pereira [15] que teve uma média de 72,9 anos. Em relação ao estado civil das participantes, os resultados da presente investigação revelaram observações contrárias ao estudo realizado por Moraes [16] que encontrou percentual majoritário para a categoria de solteiras entre mulheres acima de 60 anos.

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Ao analisarmos a prática de atividades físicas, embora o conhecimento acerca dos seus benefícios já tenha sido apontado de diversas formas, as idosas participantes da pesquisa, não se encontravam inseridas em programas dedicados à prática de atividade física ou isioterapia fora da fundação onde a referida pesquisa foi realizada, sendo consideradas, portanto, mulheres sedentárias (56,3%). Analisando os dados referentes às doenças crônicas, 75% das idosas são hipertensas e apenas 25% diabéticas. Em relação à presença de doenças crônicas e a CF, o estudo não revelou nenhuma associação (p>0,05) tanto para hipertensão arterial como diabetes. No que concerne à prática regular de atividade física, os dados da pesquisa corroboram com o estudo realizado por Feliciano et al. [17] que veriicaram em seu estudo que cerca de 83% das idosas informaram não adotar essa prática. Ele airma, ainda, que a maior prevalência de sedentarismo ocorreu entre as mulheres que demonstraram dependência total ou parcial para as atividades de vida diária. Os resultados apontam que todas as idosas se encontravam no período de pós-menopausa. A menopausa é considerada um evento único que marca a transição do período reprodutivo para o não-reprodutivo, ocorrendo após 12 meses consecutivos de amenorréia, sem outra causa patológica ou psicológica [18]. Estudos epidemiológicos mostram que 30% a 40% das mulheres após a menopausa apresentam perda involuntária de urina [19]. A IU é deinida como qualquer perda involuntária de urina suiciente para gerar um problema social ou higiênico, sendo considerada, nesse sentido como um problema de saúde pública. Alguns fatores de risco podem estar associados ao aparecimento dos sintomas, entre eles o próprio envelhecimento natural das ibras musculares, a redução da função ovariana após a menopausa, a obesidade, a gravidez e os múltiplos partos vaginais [20]. Neste estudo a perda urinária foi veriicada em mais da metade da amostra, 62,5% das idosas entrevistadas, nas quais o tempo de acometimento variou de um mês até 240 meses, com média de 68 meses. A prevalência da perda urinária em idosas e a incidência da IU aumentam com a idade e é mais frequente no sexo feminino [21]. Estes dados assemelham-se com os encontrados no estudo de Karantanis et al. [22] que veriicou que das 22 participantes do estudo, 12 (54,54%) relataram perda urinária, ou seja, mais da metade da amostra. De forma semelhante, Gunnel et al. [23] airmou que a frequência de perda de urina ocorreu em 87% das idosas que participaram de seu estudo. Entre as idosas incontinentes, o principal tipo de perda urinária encontrado nesta pesquisa foi por pequenos (60%) e médios esforços (40%); no que diz respeito ao modo da perda, cerca de 50% foi por estresse, 20% de modo contínuo e 30% intermitente. Os valores encontrados na quantidade de perda urinária demonstram 70% em jato e 30% em gotas. O uso de protetores não é comum em 90% da amostra, sendo que apenas 10% utilizam proteção.

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Para Guarisi et al. [24] de todas as pacientes por eles entrevistadas, 35% referiram perda urinária aos médios esforços, o que difere do encontrado na pesquisa em questão em que a predominância foi a perda aos pequenos esforços. No que refere à quantidade de perda urinária, esta pesquisa vai contra o estudo realizado por Reis [10], em que nove idosas (40,9%) relataram pequena quantidade de urina perdida (gotas) e cinco (22,7%) relataram grandes perdas (jato). No que diz respeito ao uso de proteção três possíveis fatores podem estar relacionados: ou a população considera os sintomas irrelevantes, causando pequena interferência em sua qualidade de vida, já que consideram desnecessária a utilização dos protetores; ou os cuidados higiênicos não são levados em consideração, ou ainda o baixo poder aquisitivo pode diicultar a compra dos protetores, interferindo nos cuidados com a higiene. 30 a 50% das pessoas que sofrem de IU, não relatam espontaneamente esse fato, por acharem que a perda urinária é esperada com o evoluir da idade, como se ela fosse uma ocorrência natural e izesse parte dos problemas que as mulheres têm que aceitar ao se aproximar da velhice [25]. Os principais sintomas relatados pelas idosas participantes da pesquisa foram os seguintes: enurese noturna (27,6%), sensação de resíduos (13,8%), desejo pós-miccional (10,3%), dor pélvica (10,3%), noctúria (10,3%), urge-incontinência (10,3%), urgência (10,3%) e frequência (6,9%). Estes dados divergem com os resultados do estudo de Mourão et al. [26], no qual existiu uma maior prevalência dos sintomas de urgência (95,23%), frequência (90,47%), incontinência de esforço (85,71%) e noctúria (80,95%) todos com elevados níveis de impacto. Os demais sintomas apresentaram valores decrescentes seguindo a seguinte ordem: quadros de urge incontinência (61,90%) e de infecções urinárias frequentes (61,90%); quadros de enurese noturna (52, 38%), incontinência durante a relação sexual (52,38%); dor na bexiga (52,38%) e diiculdades para urinar (42,86%). A IU e os sintomas a ela relacionados, dentre outras coisas levam ao comprometimento da CF. A OMS estima que cerca de 10% da população mundial possua deiciências e que metade destas são físico-funcionais. A CF de indivíduos idosos surge como novo conceito em saúde, já que a presença de doenças não está relacionada à perda de sua autonomia. Envelhecimento bem-sucedido passa a ser o resultado da interação de fatores multidimensionais, os quais incluem questões relacionadas à saúde física, mental, independência na vida diária, aspectos econômicos e psicossociais [13]. A CF é um determinante da condição de saúde e bem-estar das pessoas. Na velhice, as funções orgânicas decorrentes do processo de envelhecimento em consequência dos agravos ao longo da vida passam a ser mais vulneráveis ao declínio funcional. A incapacidade na realização de uma dessas atividades instrumentais de vida diária, além de prejudicar a vida social do idoso, potencialmente implica em transtornos para ele e sua família, a qual, dependendo da atividade, terá que mobilizar

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maior tempo disponível, energia e recursos inanceiros para suprir as demandas existentes [27]. Na avaliação da CF das idosas, realizada através da MIFm, pode-se observar que os valores totais encontrados na MIFm das idosas, variam de 80 a 92. Existe uma pequena diferença entre a média da MIFm total da idosas com IU que foi de 83,5, com a média das idosas sem IU de 89,83, como visualizado na Tabela II. Porém, é possível observar uma associação entre IU e diminuição da CF (U=2,5; p=0,003). Tabela II - Funcionalidade dos grupos com e sem Incontinência Urinária. MIFm Total Idosas com IU Média DP 83,5 2,9

p = 0,003 Idosas sem IU Média DP 89,83 2,4

Fonte: Dados da Pesquisa, 2011

No que se refere à CF correlacionada à IU os dados desta pesquisa divergem dos encontrados no estudo de Pedrazzi et al. [28], que foi realizado com 69 idosas, das quais 25,5% tinham IU. As idosas com IU tiveram diiculdade em realizar as AVD’s, o que foi associado em seu estudo à maior diiculdade para realizar os serviços domésticos, fazer compras e usar os meios de transporte. No tocante a CF de idosas com e sem IU, os dados desta pesquisa também divergem dos encontrados por Schneider et al. [29] em seu estudo, que foi realizado com 148 idosas, em que veriicou-se uma grande diferença entre a funcionalidade das idosas com e sem IU. Ele demonstrou que em relação às idosas com IU, 32,2% tinha independência, 25,8% tinha dependência parcial e 41,9% dependência modiicada. Em relação às idosas sem IU percebe-se a grande discrepância no que diz respeito ao grau de independência que foi de 96,5%, e apenas 3.4% com dependência modiicada, p 0,05). Ocorreu diferença signiicativa na pressão arterial média dos grupos após uma hora de monitorização (p = 0,023). Conclusão: O exercício aeróbio de duração de 10 minutos parece não ser suiciente para causar efeito hipotensor agudo sobre a pressão arterial sistólica e diastólica em mulheres hipertensas.

Background: he high blood pressure is a major public health problem in Brazil. Its Prevention and early treatment should be a priority to reduce morbidity and mortality associated with cardiovascular disease. Studies show that a single session of moderate intensity and short-term exercises produce an efect on the blood pressure. Objective: To analyze the efects of a cardiac rehabilitation session through short-term aerobic exercise on blood pressure in hypertensive women. Methodology: he study was characterized as an almost experimental cross-sectional design with non-probability sampling. 14 sedentary hypertensive volunteers participated in the study, selected in the control group (G1) and the intervention group (G2) having their blood pressure monitored through ambulatory blood pressure measurement. G2 was held in a single session of aerobic training for 10 minutes on a stationary bicycle at a moderate intensity. Results: here were no statistically signiicant diferences between the systolic and diastolic blood pressures in both groups (p > 0.05). Signiicant diference occurred in the mean arterial pressure of the groups after one hour of monitoring (p = 0.023). Conclusion: Aerobic exercise with 10 minutes of duration does not seem to be enough to cause acute hypotensive efect on the blood pressure of hypertensive women. Key-words: cardiac rehabilitation, hypotension post-exercises, systemic arterial pressure.

Palavras-chave: reabilitação cardíaca, hipotensão pós-exercício, pressão arterial sistêmica.

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Introdução A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma condição clinica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial. Está associada frequentemente a alterações funcionais e estruturais dos chamados órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, representando um dos principais fatores de risco para morbidade e mortalidade cardiovascular [1]. O Brasil apresenta um alto percentual de HAS na população idosa. Afeta aproximadamente 60% dos idosos acima dos 65 anos, tendo prevalência maior em mulheres na mesma idade [2]. Segundo os indicadores de acesso a Serviços de Saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), a doença é auto-referida em número maior pelas mulheres do que pelos homens, o que demonstra uma maior preocupação das mulheres com a saúde e um conhecimento maior da condição da hipertensão [3]. Segundo o Seventh Report of the Joint Nacional Comittee (JNC VII) a HAS é deinida como pressão arterial maior ou igual a 140/90 mmHg com ou sem uso de medicação anti-hipertensiva [4]. Dentre as principais causas para o estabelecimento desse quadro destacam-se o sedentarismo, cada vez maior em razão da comodidade oferecida pela vida moderna e o excesso de gordura corporal, sobretudo em mulheres [5,6]. Diversos estudos indicam que a prática regular de exercícios físicos pode promover respostas favoráveis para prevenção e controle da hipertensão arterial, devido a ajustes autonômicos e hemodinâmicos [7-13]. O exercício aeróbio utilizado em programas de reabilitação cardíaca promove, quando realizados sob supervisão adequada, benefícios signiicantes e baixos riscos [14]. Entre os diversos efeitos benéicos do exercício aeróbio destaca-se a redução dos valores da pressão arterial comparado ao repouso pré-exercício, fenômeno denominado Hipotensão Pós-Exercício (HPE) [15-17]. Esse efeito vêm sendo amplamente estudado e os resultados demonstram variação tanto na sua magnitude, quanto na sua duração, o que pode estar relacionado a fatores como características dos indivíduos e do exercício [18,19]. Nos últimos anos, vários estudos têm demonstrado que não somente o exercício crônico, mas também uma única sessão de exercício aeróbio é suiciente para reduzir a pressão arterial sistólica e diastólica tanto em indivíduos normotensos como em hipertensos, sendo esse efeito maior nos hipertensos [20,21]. A intensidade, duração e o tipo do exercício têm grande inluência na pressão arterial pós-exercício. O efeito da intensidade e duração foi investigado por diversos autores [22-24]. Recomenda-se que programas direcionados para indivíduos sedentários e com fatores de risco para doença cardiovascular enfatizem exercícios aeróbios de intensidade moderada (50 a 70% da frequência cardíaca de repouso e níveis 12 a 13 na escala de Borg de percepção subjetiva de esforço) pelo fato de

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que maiores intensidades de exercício estão associados a maior risco cardiovascular e lesão ortopédica [25,26]. A duração da sessão do exercício físico tem sido sugerida como um dos fatores que inluenciam a HPE, porém os resultados ainda são controversos. Em hipertensos, Bennett et al. [27], sugeriram que a magnitude dos decréscimos na pressão arterial aumentam com longa duração do exercício, embora isto não se aplique aos normotensos. Entretanto, naquele estudo, a pressão foi mensurada durante 3 minutos de repouso após sucessivos 10 minutos de exercício. Forjas et al. [24], tem achado um maior decréscimo e longa duração da HPE após 45 minutos do exercício comparado a 25 minutos. Contrariamente, numa revisão realizada por Mac Donald [28], veriicou-se recentemente magnitude similar de HPE pós 15, 30 e 45 minutos de exercício moderado em normotensos e hipertensos limítrofes e examinando-se o tempo da hipotensão pós-exercício usando monitorização ambulatorial os resultados foram contraditórios e poderiam ser confundidos pelo fato do período pós-exercício não ter sido bem controlado em todos os estudos. Dessa forma o objetivo deste trabalho foi analisar os efeitos agudos de uma sessão de reabilitação cardíaca através do exercício aeróbio de curta duração sobre a pressão arterial de mulheres hipertensas.

Material e métodos Estudo experimental com amostragem não probabilística, realizado em uma clínica de reabilitação cardíaca e pulmonar na cidade de João Pessoa/PB. A população do estudo foi composto por indivíduos que procuravam a Clínica para realizar o exame de monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA). A amostra foi constituída por 14 mulheres na faixa etária entre 46 e 79 anos, diagnosticadas como hipertensas de acordo com o Joint National Committee [4], em uso de medicamentos anti-hipertensivos. Foram excluídas pacientes portadoras de doença pulmonar, problemas osteomioarticulares ou metabólicos, com quadro de infarto há pelo menos dois anos, angina instável, insuiciência renal (creatinina > 1,5); anemia (Hb < 10 g/dl), pressão sistólica > 200 mmHg e/ou pressão arterial diastólica > 100 mmHg em repouso , doença coronariana, participantes de algum programa regular de exercício. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba (CAAE-0362). Os voluntários foram esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa e assinaram o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido. Inicialmente foi aplicado um questionário contendo questões referentes a dados pessoais, hábitos de vida, uso de fármacos e doenças associadas. Foram mensuradas as medidas antropométricas ( peso, altura e IMC) com uso de balança portátil e trena. Os dados da pressão arterial de repouso foram aferidos de forma automática pelo aparelho de monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA Pró medic). A MAPA

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foi programada para obter as medidas da pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD), pressão arterial média (PAM) e frequência cardíaca (FC), a cada 15 minutos no período de 08:00 h às 22:00 h e a cada 30 min de 22:00 h às 08:00 h da manhã seguinte perfazendo 24 horas. Foram considerados válidos para interpretação os registros com 90% ou mais de medidas válidas. Após a colocação do aparelho, as participantes foram orientadas a manter, sempre que possível, o membro superior não dominante contendo o manguito, em posição solta e relaxada durante cada medida. As participantes foram divididas em 2 grupos: Grupo 1grupo controle e Grupo 2 – grupo intervenção. As participantes do grupo controle, permaneceram sentadas, durante três aferições da pressão arterial. Logo em seguida a 3ª aferição, e com o relaxamento total do membro aferido, foram liberadas. O grupo da intervenção, permaneceu em posição sentada até a 2ª aferição. Logo após, foi submetido a uma única sessão de treinamento aeróbico em bicicleta ergométrica (Reebok Power bike) com duração de 10 minutos, numa intensidade moderada (60-70% da frequência cardíaca máxima prevista para cada indivíduo e Escala de Esforço Subjetivo de Borg adaptada numa faixa de 12 a 13, veriicados a cada 2 minutos). Após a realização da atividade física, as pacientes se mantiveram na posição inicial de repouso, durante 5 minutos e liberadas após a 3ª aferição. A análise dos dados foi realizada por meio do programa estatístico Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 19.0. Inicialmente foi testada a normalidade dos dados por meio do teste Shapiro Wilks. Como os dados apresentaram distribuição normal foram empregados os testes t de Student para amostras pareadas e para amostras independentes. Foi estabelecido um nível de signiicância de 0,05 para todas as análises.

Resultados A amostra foi composta por 14 mulheres hipertensas e sedentárias. O grupo controle (G1) apresentou média de idade de 58,2 ± 10,1 anos e índice de massa corpórea) (IMC) em média 27,5 ± 2,5 kg/m2. O grupo intervenção (G2) apresentou média de idade de 67,7 ± 6,6 anos e IMC correspondendo em média a 28,7 ± 4,36 kg/m2, caracterizadas na faixa de sobrepeso (25 a 29,9 kg/m2) [29]. Todas as voluntárias faziam uso regular de medicação anti-hipertensiva. De acordo com as variáveis cardiovasculares apresentadas na Tabela I, no inicio do estudo, no G1 (grupo controle), a média da pressão arterial sistólica inicial (PASiG1) foi de 135,1 ± 15,4 mmHg e a média da pressão arterial diastólica (PADiG1) foi de 83,8 ± 25,6 mmHg. No G2 (grupo intervenção), inicialmente, a média da pressão arterial sistólica (PASiG2) correspondeu a 146,7 ± 15,4 e a média da pressão diastólica (PADiG2) a 85,5 ± 12,4 . Após 30 minutos da medição inicial pela MAPA, houve uma redução na média da pressão arterial sistólica inal (PASf )

em ambos os grupos, sendo encontrada maior redução (3,6 mmHg) no grupo submetido à intervenção (PASfG2). Tabela I - Medidas cardiovasculares dos grupos controle e intervenção no inicío e ao inal da monitorização (João Pessoa, 2012). Grupo PASi Contro- 135,1 le (G1) ± 15,4 Inter146,7 venção (G2) ± 15,4

Medidas cardiovasculares PADi FCi PASf PADf 83,8 75,0 124.8 73,2

FCf 77,7

± 25,6 ± 14,3 ± 17,9 ± 9,5 85,5 78,7 132,8 87,1

± 9,8 87,7

± 12,4 ± 18,4 ± 16,9 ± 10,2 ± 18,3

Valores expressos em média ± desvio padrão. PASi = Pressão arterial sistólica inicial; PADi = Pressão arterial diastólica inicial; FCi = frequência cardíaca inicial; PASf = Pressão arterial sistólica final;PADf = Pressão arterial diastólica final;FCf = frequência cardíaca final. PAS, PAD medidas em mmHg; FC medida em bpm.

No G1, a média da pressão arterial diastólica reduziu de 83,8 ± 25,6 mmHg para 73,2 ± 9,5 mmHg correspondendo a redução de 10,6 mmHg. Porém, ocorreu o inverso no G2, onde a média da pressão arterial diastólica aumentou de 85,5 ± 12,4 mmHg para 87,1 ± 10,2 mmHg correspondendo a um aumento de 1,5 mmHg. Com relação à frequência cardíaca ocorreu um aumento ao inal da monitorização em ambos os grupos, sendo constatado diferença maior no G2, onde a FC em média se elevou de 78,7 ± 18,4 bpm para 87,7 ± 18,3 bpm, aumento de 9 bpm. No entanto, apesar das alterações observadas nos valores das variáveis mencionadas, não foram consideradas diferenças estatisticamente signiicativas (p > 0,05). Após 60 minutos da monitorização, conforme gráico a seguir, observou-se que a pressão arterial média (PAM) do grupo controle foi 73,29 mmHg enquanto que, a PAM do grupo da intervenção apresentou uma valor superior ao grupo controle correspondendo a 87,14 mmHg. A Pressão arterial média entre os grupos apresentou diferença de 13,85 mmHg, valor considerado estatisticamente signiicativo (p = 0,023). Figura 1 - Pressão arterial média entre os grupos intervenção e controle, após 60 minutos de monitorização (João Pessoa, 2012). 90

87,14

85 80 75

73,29

70 65

Intervenção

Controle

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Discussão As reduções dos valores pressóricos é uma importante ferramenta na prevenção e tratamento da hipertensão arterial e de suas complicações subsequentes como as doenças cardiovasculares. Nesse sentido, vários estudos têm procurado investigar os benefícios de diversos tipos de exercício, procurando evidenciar resposta hipotensora pós-exercício [30,31]. Os efeitos agudos do exercício, sejam imediatos ou tardios, são as respostas do organismo a apenas uma sessão de exercícios [32]. O presente estudo analisou os efeitos de uma sessão de exercício aeróbio com duração de apenas 10 minutos na resposta pressórica imediata e tardia em mulheres hipertensas. Segundo Hagberg [7] a maioria das evidências indica que pacientes sedentários hipertensos, apresentam signiicante redução na pressão arterial, especialmente na PAS, após uma única sessão de exercício submáximo. Este achado corresponde em parte com o presente estudo, pois neste foi veriicada redução na PAS das pacientes, apesar de não ter sido de relevância estatística, porém foram encontradas reduções não somente no grupo que realizou o exercício como também no grupo controle. Talvez tal fato se justiique, devido ao grupo controle ter apresentado níveis pressóricos controlados (PAS ≤ 140 mmHg e PAD ≤ 90 mmHg) no momento inicial da pesquisa. Importante mencionar que apesar da PAS do grupo da intervenção não ter alcançado relevância estatística foram observadas reduções em média de 3 mmHg após 60 minutos da atividade física. Em estudo semelhante, Mac Donald [33] veriicou que 10 minutos de exercício moderado foram suicientes para eliciar uma diminuição da pressão arterial sistólica e diastólica pós exercício em indivíduos hipertensos mensurada em até 1 hora após realização do exercício. Whelton e colaboradores [34] postularam que pequenas modiicacaões na PA já são capazes de proporcionar um grande impacto na sobrevida cardiovascular de uma pessoa, pois, reduções na PAS de 3 e 5 mm Hg podem diminuir o risco de infarto em 8% e 14% e o risco de doença coronariana em 5% e 9%, respectivamente, bem como, reduzir a mortalidade por todas as causas em 4 e 7%, respectivamente. Analisando a pressão arterial diastólica, Pescatello et al. [35], mensurando a resposta da pressão arterial ambulatorial em relação ao exercício aeróbio agudo observaram contrariamente aos dados encontrados reduções signiicativas da PAD (8 mmHg) nos hipertensos. Respostas contrárias também ocorreu em relação aos estudos [36,37] os quais apresentaram reduções signiicativas desse parâmetro entre 2 e 6 mmHg. No presente estudo foi encontrado, diferentemente dos demais estudos, um aumento da média da PAD inal do grupo submetido ao exercício. Quanto à forma de duração escolhida para o exercício, Viecili et al. [38], demonstraram eicácia na diminuição da PA com tempo maior de duração em relação ao nosso estudo correspondendo a 20 minutos, apresentando resultados satisfatórios na redução da pressão arterial, já nos achados de

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Quinn et al. [39], foi evidenciada redução absoluta maior e mais duradoura da pressão arterial com 30 minutos de duração e intensidade elevada. Vários trabalhos [40,41] consideram a medida da frequência cardíaca como um parâmetro a mais na análise do comportamento das variáveis cardiovasculares obtidas através da monitorização ambulatorial. O comportamento da frequência cardíaca durante o período de recuperação do exercício tem apresentado resultados controversos na literatura. Suas variações, após o exercício físico, também foram observadas no trabalho de Forjaz et al. [24] o qual veriicou que as diferenças parecem estar relacionadas à intensidade do exercício, pois os autores veriicaram que, após 45min de exercício aeróbio leve (30% do consumo máximo de oxigênio), observava-se sua queda, após exercício moderado (50% do consumo máximo de oxigênio), seu aumento e, após exercício mais intenso (80% do consumo máximo de oxigênio), seu aumento transitório, resultado semelhante ao estudo em questão. Os resultados demonstraram os efeitos agudos do exercício aeróbio sobre o sistema cardiovascular, em uma única sessão de exercícios. Porém, optou-se pela análise até uma hora da realização dos exercícios, já que ao longo do dia a pressão arterial sofre inluência de inúmeros fatores que não poderiam ser controlados. Em revisões sobre o tema, são encontrados resultados contraditórios pelo fato do período pós hipotensão não ser bem controlado em muitos estudos. Algumas limitações do estudo devem ser levadas em consideração. O número pequeno de participantes que preenchiam os critérios de inclusão, a falta de controle da dieta alimentar das voluntárias, bem como das atividades exercidas ao longo do dia da realização da pesquisa pode inluenciar a resposta hipotensora.

Conclusão Com base nos resultados obtidos no presente estudo, pode-se concluir que o exercício aeróbio de duração de 10 minutos parece não ser suiciente para causar efeito hipotensor agudo sobre a pressão arterial de mulheres hipertensas veriicados durante o transcorrer de uma hora seguinte a pesquisa. Além disso, os dados demonstraram comportamento da pressão arterial semelhante entre o grupo controle e o grupo submetido ao exercício. Sugere-se a realização de novos estudos especialmente em função de investigar modalidades diferentes de exercício em função da magnitude e da duração da hipotensão pós-exercício, pois possibilita a descoberta de novas formas de estratégias não farmacológicas de prevenção e tratamento da hipertensão arterial.

Referências 1. Sociedade Brasileira de Hipertensão Arterial, Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI

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Artigo 23 Fisioterapia na incontinência fecal: uma revisão integrativa Physical therapy in fecal incontinence: an integrative review B.B. Camilo*, J.M.A. Cruz**, M.S. Magalhães, M.Sc.***, A.A.B. Façanha, M.Sc.*** *Fisioterapeuta, Graduada pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR, **Fisioterapeuta, Graduado pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE e Pós-Graduando Latu Senso em Fisioterapia em Uroginecologia e Obstetrícia pela Faculdade Redentor/RJ, ***Fisioterapeuta, Docente da Universidade de Fortaleza – UNIFOR

Resumo

Abstract

Introdução: A Incontinência Fecal (IF) é caracterizada por impossibilidade de controlar a eliminação fecal, resultando em perda involuntária, com ou sem sensibilidade do paciente, de fezes líquidas ou sólidas e gases. Podendo acarretar prejuízos físicos, psicossociais e emocionais, além de representativos custos econômicos. No âmbito da isioterapia listam-se diversos recursos a serem utilizados para seu tratamento. Diante do exposto e frente ao aumento da expectativa de vida da população brasileira, veriica-se a necessidade de delinear a atuação da Fisioterapia na IF. Objetivo: Analisar atuação da Fisioterapia, como tratamento para incontinência fecal, sua utilização e seus resultados. Método: Estudo descritivo de revisão integrativa da literatura. Utilizou-se como pergunta norteadora: “O que está publicado na literatura, nos últimos oito anos, sobre tratamento isioterápico da IF?”. Para a pesquisa foram utilizados nove artigos publicados no período de 2002 a 2009. Resultados: Foram encontrados poucos artigos sobre o assunto, a grande maioria enfatizava o uso do biofeedback, mas sem muitos critérios para seleção de pacientes e escolha do método. Nenhum artigo randomizado comparando as técnicas isioterapêuticas foi encontrado. Conclusão: Os estudos, embora com resultados positivos, necessitam de mais especiicidade durante as coletas.

Introduction: Fecal incontinence (FI) is characterized by inability to control fecal elimination, resulting in involuntary loss of liquids or solids faeces and gases, with or without sensitivity of the patient. his may cause physical damage, psychosocial and emotional, and economic costs representative. Within the physiotherapy we list several resources to be used for its treatment. Given the above and due to increased life expectancy of the population, there is a need to delineate the role of physical therapy in the FI. Objective: To analyze the performance of Physical herapy as a treatment for fecal incontinence and also its use and its results. Method: A descriptive study of integrative literature review. Was used a guide question: “What is published in literature in the past eight years on physical therapy treatment for FI?”. For the study, we analyzed nine articles published between 2002 to 2009. Results: We found a few articles about the subject, the majority emphasized the use of biofeedback, but without many criteria concerning the patient selection and choice of method. Conclusion: No randomized article comparing the physical therapy techniques was found. Although the studies have positive results, they require more speciicity during the collections. Key-words: fecal incontinence, physical therapy modalities.

Palavras-chave: incontinência fecal, isioterapia.

Endereço para correspondência: Milena Sampaio Magalhães, Av. Washington Soares, 1321 Edson Queiroz Fortaleza CE, E-mail: [email protected] / [email protected].

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Introdução A Incontinência Fecal (IF) é caracterizada por impossibilidade de controlar a eliminação fecal, resultando em perda involuntária, com ou sem sensibilidade do paciente, de fezes líquidas ou sólidas e gases [1,2]. A IF pode acarretar prejuízos físicos, psicossociais e emocionais, além de representativos custos econômicos, referentes ao uso de proteção, cuidados especializados, recuperação funcional e medicamentos [3]. A Incidência da IF ainda é desconhecida, contudo estima-se que esta pode variar de 0,1 a 5% [04]. Outros autores sugerem ainda que a IF pode incidir em até 24% da População adulta [05]. Visto que a ocorrência da IF está relacionada com o aumento da idade, observa-se na comunidade idosa uma incidência de 2,2%, sendo que destes 30% tem 65 anos ou mais; 63% são mulheres; e 36% dos pacientes podem apresentar-se incontinentes para fezes sólidas e 60% para gás. Contudo, esses números podem ser ainda maiores, em virtude do grande número de subnotiicação, onde se veriicou que apenas 34% dos indivíduos com IF chegam a relatar tal queixa para o seu médico [4]. No âmbito da isioterapia listam-se na literatura diversos recursos a serem utilizados no tratamento da IF, com destaque para o Biofeedback, uma vez que atualmente este vem sendo adotado e reconhecido como o recurso de primeira escolha para o tratamento conservador da IF [2]. Diante do exposto e frente ao reconhecido aumento da expectativa de vida da população brasileira [6], veriicou-se a necessidade de delinear a atuação da Fisioterapia na IF. E a partir da realidade constatada, implementar estratégias que favoreçam o trabalho multi e interdisciplinar aos pacientes com esta disfunção, melhorando assim a qualidade do tratamento clínico funcional.

Objetivo Analisar atuação da Fisioterapia, como tratamento para incontinência fecal, sua utilização e seus resultados.

Metodologia Trata-se de um estudo descritivo de revisão integrativa da literatura. Essa abordagem metodológica contempla melhor as temáticas da área da saúde, quando comparadas aos outros tipos de revisão. Essa revisão obedece às seguintes etapas: 1 – elaboração da pergunta norteadora; 2 – busca da literatura; 3 – coleta de dados; 4 – analise crítica dos estudos selecionados; 5 – discussão dos resultados; e 6 – apresentação [7]. Neste estudo, utilizou-se como pergunta norteadora: O que está publicado na literatura, nos últimos oito anos, sobre tratamento isioterápico da IF? A busca na literatura foi realizada sem restrição de idiomas, utilizando os descritores incontinência fecal/fecal incontinence

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e/andFisioterapia/Physioterapy,nas bases de dados AcademicSearch Elite, Fuente Académic, Medline, Health Source, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientiic Eletronic Library Online(SciELO),Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) e Bireme. Os critérios de exclusão foram publicações que não estivessem disponíveis na integra e/ou que não interligasse a patologia IF e o tratamento isioterápico. Ao im da pesquisa obtivemos nove artigos e uma dissertação, publicados nos períodos de 2002 a 2011. Para análise dos artigos foi utilizado um instrumento de coleta de dados, contendo informações sobre o ano de publicação, abordagem metodológica e resultados com enfoque na assistência isioterapêutica. A análise dos dados ocorreu de forma organizada e crítica, à medida que se realizou leitura aprofundada dos conteúdos, buscando esclarecimentos a respeito do tema proposto.

Resultados e discussão Foram encontrados nove (9) artigos, apresentados no Tabela I conforme autor e ano de publicação, abordagem metodológica e principais resultados relacionados ao tema. Destes, três artigos apresentam uma abordagem de estudo de caso, um estudo retrospectivo, um estudo coorte prospectivo, um análise retrospectivo, um estudo observacional comparativo à longo prazo, duas revisões da literatura, e uma revisão sistemática Os estudos de casos auxiliam o esclarecimento de uma decisão, o motivo pelo qual tais decisões foram adotadas e os resultados obtidos com as mesmas [8]. Os artigos com esta metodologia abordam quatro casos ao todo. Costa e Santos [9] apresenta o relato de caso de duas mulheres com quadro de IF com mais idade de 63 e 55 anos, onde a mais velha não possui histórico de gravidez, e a segunda realizou três partos normais. Ambas submetidas ao tratamento isioterápico, com uso de biofeedback, cinesioterapia e bola suíça em 16 atendimentos. A avaliação das pacientes se deu antes e depois do tratamento e foi através do protocolo isioterapêutico utilizando a avaliação funcional do assoalho pélvico (AFA), o biofeedback, e o índice de incontinência anal (IIA). A paciente de 63 anos apresentava latulência e urgência antes do tratamento. Após os 16 atendimentos, a paciente relatou voluntariedade na eliminação das mesmas e melhoras nos resultados da AFA, biofeedback e IIA, a frequência de acidentes que era de pelo menos uma vez por dia, tornou-se ausente. A paciente de 55 anos apresentava IF em momentos de estresse e nervosismo. Após os 16 atendimentos relatou não apresentar mais incontinência a estes momentos. Apresentou melhora no biofeedback e no IIA, mas não apresentou melhora evolução da AFA [9]. O relato de caso feito por Cofey et al. [10], apresentava o uso do biofeedback e cinesioterapia (exercícios progressivos), á serem realizados em casa, em uma paciente mulher, de 30 anos

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com histórico de um parto normal. A paciente se submeteu à um atendimento por mês, durante três meses, totalizando 4 atendimentos. Este estudo enfatizou mais nos exercícios domiciliares. A avaliação pré e pós tratamento, para comparação dos resultados foi feita através de uma pontuação para seis categorias de atividades funcionais, onde as pontuações variam de 0 à 5, sendo 0 nenhuma limitação e 5 signiicando que a IF impede totalmente a realização da função. Ao inal dos atendimentos havia ausência de perda de fezes involuntárias e signiicativa melhora, em algumas categorias a pontuação chegou a 0, após o tratamento [10]. Souza; Suter; Tonon [11] relata o quadro de IF de uma mulher de 67 anos, com história de três partos normais e uma cesariana, submetida ao tratamento com uso de estimulação elétrica do nervo tibial posterior (EENTP) e cinesioterapia, durante 20 atendimentos realizados duas vezes por semana. Ao inal dos atendimentos observou-se uma signiicativa melhora através de uma avaliação subjetiva do tratamento a escala visual analógica de 0 à 10. Onde inicialmente a paciente relatou nota 0 para o controle da evacuação e ao inal do tratamento, atribuiu nota 7 [11]. As revisões encontradas abordadas em três (03) artigos [5,12,13] utilizaram-se de publicação que variam de 2004, 2008 e 2009. O artigo de Rao [3], apresenta 25 artigos totalizando 846 pacientes, com idades entre 5 e 97 anos e na grande maioria mulheres. O tratamento utilizado englobava biofeedback, orientação para exercícios em domicílio, eletroestimulação do nervo sacral e canal anal e manometria. Os índices de melhora variaram de 41-92%, e não houve padrão na quantidade de atendimentos dos artigos, variando de 1 a 11 atendimentos no período de um mês a um ano. Neste estudo, artigos com um número mínimo de atendimentos, menos que três, mostrou ser menos eicaz que os estudos que calcularam o número de atendimentos com base no desempenho dos pacientes. Em estudos controlados, a melhora subjetiva tem sido relatada em 40-85% dos pacientes. Nenhum dos artigos era randomizado e comparava o uso do biofeedback e outros tratamentos. O autor sugere que os critérios de seleção, motivação do indivíduo, o entusiasmo do terapeuta e a gravidade da IF podem afetar o resultado de cada paciente. Os artigos de revisão enfatizam o fato de o tratamento isioterápico ser considerado antes do cirúrgico, devido seus benefícios. Seja ele com eletroestimulação, biofeedback ou treinamento muscular do assoalho pélvico [5,12,13]. As outras metodologias abordadas neste estudo é o estudo de coorte prospectivo, onde 281 pacientes (89% mulheres), com média de 59 anos, foram submetidos a nove atendimentos, onde foram utilizadas eletroestimulação e treinamento do assoalho pélvico com biofeedback. Os resultados foram analisados através da pontuação de Vaizey. Entre os 281 pacientes, 239 inalizaram o tratamento e 143 apresentaram melhora [14]. O estudo retrospectivo, artigo com maior amostra documentado sobre biofeedback no tratamento da IF, analisou

retrospectivamente 513 pacientes, 445 mulheres, com média de idade de 61,9 anos, submetidos ao tratamento com biofeedback. Dentro deste número, 385 pacientes, ou seja, 75% concluíram o tratamento.Para avaliação, foram utilizadas a pontuação da IF, a avalição da enfermagem (pois se tratou de uma população dentro de um hospital), e escalas de auto-avaliação analógica, qualidade de vida e medidas de função isiológica do esfíncter anal. Trinta por cento dos que concluíram o tratamento foram considerados continentes, e 38% apresentaram melhora de no mínimo 70% da função. Os melhores resultados eram da percepção do paciente [15]. O estudo comparativo foi realizado com 79 pacientes, que foram avaliados no inicio e 1; 6; 36 e 60 meses após o tratamento, para avaliar os resultados a longo prazo do biofeedback, os atendimentos aconteceram inicialmente, duas vezes na semana, e a frequência foi alterada para uma vez no mês, mas foram orientados exercícios domiciliares. Utilizaram-se questionários para avaliar os sintomas e gravidade da IF, além da classiicação de Miller para determinar a frequência de episódios de IF. Os resultados mostraram que, mais de 80% dos pacientes tratados recuperaram a continência. Ao inal da última avaliação (60 meses) observou-se que 86% dos pacientes mantinham a funcionalidade, ou melhoraram signiicativamente o quadro de IF, comprovando a eicácia do biofeedback á longo prazo [16].

Conclusão A partir deste estudo, percebemos a eicácia do tratamento isioterápico para o tratamento da IF, principalmente quando utilizado o biofeedback e a cinesioterapia. Os números de atendimentos necessários variaram bastante dentre todos os estudos achados. Então, como resposta da nossa pergunta norteadora, faz-se necessário, estudos mais precisos e criteriosos, para especiicar melhor os tipos de biofeedback, e quais pacientes seriam mais beneiciados com a técnica quanto os tipos de IF. Percebemos que o tratamento conservador isioterapêutico pode evitar intervenções cirúrgicas, evitando assim maiores transtornos às pessoas portadoras dessa disfunção (IF), além de se tratar de um procedimento menos dispendioso e que não gera transtornos equivalentes ao de um pós-operatório.

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Tabela I - Descrição dos artigos pesquisados, no período de 2002 a 2011, sobre assistência isioterapêutica na IF. Artigos Autor Estudo prospectivo da respos- Costa; Santos, ta terapêutica ao biofeedback 2008 e cinesioterapia em pacientes portadoras de incontinência anal: relato de dois casos. [09]

Métodos Estudo de caso com 2 mulheres. Utilizado biofeedback, cinesioterapia e bola suíça em 16 atendimentos.

The effects of a progressive exercise program with surface electromyographic biofeedback on an adult with fecal incontinence.[10] Tratamento fisioterapêutico em incontinência fecal com estimulação elétrica do nervo tibial posterior e cinesioterapia: relato de caso.[11] Diagnosis and management of fecal incontinence.[12]

Coffey SW et al, 2002

Estudo de caso, mulher, 30 anos, cinesioterapia (exercícios progressivos), e biofeedback, 04 atendimentos.

Souza; Suter; Tonon, 2011

Estudo de caso, mulher de 67 anos. Uso de cinesioterapia e EENTP, no total de 20 atendimentos.

Rao, 2004

Physiotherapy and surgery in fecal incontinence: an overview.[05]

Bols et al., 2008

Revisão de literatura. 31 artigos, abordaram biofeedback e eletroestimulação do nervosa sacral e canal anal. Estudo de revisão sistemática, com 14 artigos analisados através da lista de Delphi.

Biofeedback therapy in fecal Enck; Van incontinence and constipation. Der Voort [13] ;Klosterhalfen, 2009

Eletric stimulation and pelvic Terra et al., floor muscle training with bio- 2006 feedback in patients with fecal incontinence: cohort study of 281 patients.[14] Biofeedback for fecal incontinence; short-term outcomes of 513 consecutive patients and preditors of successful treatment.[15] Long-term results of biofeedback treatment for faecal incontinence: a comparative study with untreated controls. [16]

Byrne et al., 2007

Lacima et al, 2010

Revisão de literatura, com 19 artigos, sendo 11 de estudo randomizado, sobre tratamento da IF com uso do biofeedback e exercícios terapêuticos, de 1984 à 2007. Estudo de coorte prospectivo, no período de 2001 à 2005. Realizado com 281 pessoas. Utilizando eletroestimulação e biofeedback. Avaliação feita através da pontuação de Vaizey. Estudo de análise retrospectiva de 513 pacientes; uso de biofeedback. Em até 5 atendimentos.

Resultados Paciente A: AFA antes 3, depois 4. Biofeedback: 8mmH, depois 11mmHg. IIA: 11 e depois 6. Ausência de sintomas e maior controle de flatos e fezes após os atendimentos. Paciente B: AFA antes 2, depois 2. Biofeedback antes de 4 mmHg e depois de 8mmHg. IIA: antes de 12, depois 5. Após os atendimentos apresentou ausência dos sintomas Ausência de perda de fezes involuntárias no último mês de tratamento. Ausência de limitação em três categorias do questionamento, e significativa melhora das outras três categorias, significando melhora no quadro como um todo. Através de uma avaliação subjetiva do tratamento a escala visual analógica de 0 a 10, a paciente avaliou inicialmente sua capacidade de controle das evacuações como 0, e ao final dos atendimentos 7. Significando uma melhora de 70%. Apesar da falta de abordagem uniforme, a maioria das técnicas de biofeedback parece conferir benefícios, e deve ser oferecida antes de tratamentos cirúrgicos e à pacientes mais frágeis. Nos artigos analisados, os resultados foram promissores, embora sua eficácia tenha que ser mais bem verificada devido a grande diferença de tipos de pacientes e causas da patologia, ou seja, não há um estudo que unifique tais questões para um resultado mais fidedigno. Resultados foram positivos em todos os artigos, mas conclui-se que o se sabe, ao certo, se os benefícios são exclusivos do biofeedback, ou se há um efeito placebo, um estimulo psicológico por parte do paciente. Segundo pontuação de Vaizey, houve melhora em 143 pacientes. São necessários estudos para identificar que grupo de pacientes se beneficiaria mais com a reabilitação do assoalho pélvico.

385 pacientes completaram o tratamento, o índice de melhora de cada paciente foi maior que 70%. Nenhum outro tratamento foi utilizado. 30% dos que terminaram o tratamento foram considerados totalmente continentes. Estudo comparativo à longo Ao final da última avaliação (60 meses), obserprazo, com 79. 40 pacientes vou-se que 86% dos pacientes tratados mantiforam avaliados, mas não foram veram a continência adquirida, ou melhoraram submetidos ao tratamento com significativamente, o quadro de incontinência. biofeedback. Comprovando a eficácia do biofeedback à longo prazo.

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Artigo 24 Repercussão da incontinência urinária na qualidade de vida de mulheres idosas institucionalizadas Repercussion of urinary incontinence on the quality of life in institutionalized elderly women Joelson dos Santos Silva*, Fernanda Diniz de Sá**, Maria das Graças Costa***, Kamila Brena Almeida de Oliveira*, Adriana Gomes Magalhães** *Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, **Docente mestre do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, ***Fisioterapeuta graduada pelo Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ

Resumo

Abstract

A presente pesquisa tem como objetivo investigar a qualidade de vida de idosas com incontinência urinária, residentes em uma instituição de longa permanência para idosos do município de João Pessoa, PB. Trata-se de um estudo descritivo, de corte transversal, cuja população foi composta de mulheres com idade igual ou superior a 60 anos, conscientes e orientadas no tempo e no espaço, capazes de interagir em uma entrevista. A coleta dos dados foi feita através de entrevista e o instrumento King’s Health Questionnaire - KHQ foi utilizado para avaliar a qualidade de vida das idosas incontinentes. A análise estatística dos dados foi feita em forma de média, desvio padrão, valores mínimos e máximos para cada variável. Encontrou-se um total de 30 idosas cujos episódios de incontinência, relatados como muito frequentes, foram assim distribuídos na amostra: 30% apresentou noctúria, 33% incontinência de urgência e 17% incontinência de esforço. Na análise dos domínios da qualidade de vida no KHQ, observou-se que o domínio Percepção Geral da Saúde apresentou maior valor médio quando comparado aos outros resultados, seguido pelo Impacto da IU e as Medidas de Gravidade. Os demais domínios apresentaram uma avaliação decrescente seguindo a seguinte ordem: Sono e Disposição; Limitações Físicas; Limitações Sociais; Emoções; e Limitações de Atividades Diárias. Concluiu-se que a incontinência urinária tem prevalência importante entre idosas institucionalizadas, entretanto não compromete a qualidade de vida das mesmas. Diante disso, medidas de intervenção devem ser adotadas, para que o problema não seja minimizado e entendido como sendo próprio do envelhecimento normal.

his study aimed to investigate the quality of life of elderly women with UI, all living in a philanthropic health care in João Pessoa/PB. It was a cross-sectional descriptive study with a population of elderly women (≥ 60 years old), well-oriented and able to be interviewed. Data collection was done through a survey with a questionnaire to evaluate the quality of life of incontinent elderly. Was used the King’s Health Questionnaire - KHQ. he statistical data analysis included average, standard deviation, minimum and maximum values to each variable. Were interviewed 30 elderly women. he woman reported urinary loss: bedwetting (30%), urge incontinence (33%), efort incontinence (17%). he analysis of the quality of life’s domains in KHQ showed that the general health perception domain showed higher mean value, followed by the UI impact and severity degrees. Other areas showed a decreasing evaluation according to the following order: sleep and disposition; physical limitations, social limitations, emotions, and daily activities limitations. We concluded that the Urinary Incontinence has important prevalence among institutionalized elderly and can compromise their quality of life. So we believe that intervention measures should be taken in an attempt to reduce this syndrome. Key-words: quality of life, urinary incontinence, women’s health, aged

Palavras-chave: qualidade de vida, incontinência urinária, saúde da mulher, idoso.

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Introdução

Metodologia

A incontinência urinária (IU) é deinida como toda e qualquer perda involuntária de urina, de origem multifatorial e pode ocorrer em diversas situações, causando constrangimento social e problema higiênico, independentemente do sexo e idade, com predominância no sexo feminino e idade acima dos sessenta anos [1]. Não é considerada uma doença, mas um conjunto de sinais e sintomas que restringem alguns indivíduos, interferindo na vida relacional e psicológica do mesmo, diicultando as relações sociais devido às situações de constrangimento que a incontinência pode lhe trazer [2]. Existe crescente preocupação, não somente na determinação da ocorrência de incontinência, mas também no fato de que esse problema pode interferir na qualidade de vida dos indivíduos. A Prevalência da IU entre mulheres jovens é de 10 a 20%, e de 30 a 40% naquelas com idade igual ou superior a 65 anos. No Brasil, estima-se que 11 a 23% da população feminina seja incontinente, embora muitas mulheres não relatem essa condição [3]. Estudos revelam que a prevalência da incontinência urinária no idoso varia de 8 a 34%. Essa variação da prevalência pode ser parcialmente explicada pelos diferentes tipos de questionários aplicados, pelas amostras populacionais distintas e pela falta de uniformização nas deinições [4]. O conceito de qualidade de vida (QV), abordado na literatura, está relacionado ao bem- estar e a auto-estima das pessoas de forma geral e envolve uma série de aspectos como o estado emocional, a interação social, a atividade intelectual, o nível socioeconômico, o próprio estado de saúde, seus valores éticos e a religiosidade, o estilo de vida, a satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e o ambiente em que se vive. Portanto o conceito de qualidade de vida varia de autor para autor, apresenta várias deinições, e além disso, é subjetivo, dependente da idade e do nível sociocultural e de cada pessoa [5]. O interesse em mesurar a qualidade de vida em relação aos cuidados com a saúde tem aumentado nos últimos anos [6]. Entende-se que os funcionamentos físicos e emocionais repercutem diretamente sobre a QV, e indiretamente a incapacidade física é inluenciada por anormalidades biológicas, devido sua relação causal com a incontinência urinária. A IU relaciona-se a comprometimento físico e psicossocial e há evidências de que a maioria dos incontinentes passam por situações onde os sentimentos de solidão, tristeza e depressão se tornam muito evidentes e preocupantes, mas que a inluência da mesma na QVRS varia de acordo com o tipo de incontinência e com a percepção individual do problema [7]. Diante do exposto, a presente pesquisa teve como objetivo geral investigar a repercussão da IU na qualidade de vida de idosas que vivem em instituições de longa permanência.

O presente trabalho corresponde a um estudo de campo, descritivo do tipo transversal. A pesquisa foi realizada agosto a setembro de 2011 em uma instituição de longa Permanência para Idosos (ILPI), localizado em João Pessoa/PB sendo caracterizada como uma instituição ilantrópica que abrigava 123 idosos. A população do estudo foi constituída por todas as idosas (60 anos ou mais de idade) moradoras na ILPI já mencionada. A amostra foi composta por 30 idosas que corresponderam aos seguintes critérios de inclusão: idade igual ou superior a 60 anos, ser do sexo feminino, ser capaz de ouvir, compreender e se expressar verbalmente, aceitar participar voluntariamente da pesquisa, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta de dados foi feita mediante entrevista, utilizando um questionário que buscou informações referentes aos dados sociodemográico. Posteriormente foi aplicado um instrumento utilizado para avaliar a qualidade de vida de indivíduos com incontinência urinária, o King’s Health Questionnaire - KHQ que é validado no Brasil [8]. O KHQ está organizado em 9 domínios que tratam respectivamente da Percepção da Saúde (1 item); Impacto da Incontinência Urinária (1 item); Limitações no Desempenho de Tarefas (2 itens); Limitação Física (1 item); Limitação Social (3 itens); Relações Pessoais (3 itens); Emoções (3 itens); Sono/ Disposição (2 itens); Medidas de Gravidade (4 itens). Além disso, o instrumento apresenta uma escala de sintomas que compreende os seguintes itens: frequência urinária, noctúria, urgência, hiperrelexia vesical, incontinência urinária de esforço, enurese noturna, incontinência no intercurso sexual, infecções urinárias e dor na bexiga. O instrumento é classiicado conforme quatro possibilidades de respostas: “nem um pouco, um pouco, moderadamente, muito”; “nunca, às vezes, frequentemente, o tempo todo”. Exceto o domínio percepção da saúde que apresenta cinco possibilidades de respostas: muito boa, boa, regular, ruim, muito ruim e ao domínio ‘relações pessoais’ ”não aplicável, nem um pouco, um pouco, moderadamente e muito”. Nesse instrumento, há uma escala tipo Likert que avalia o quanto a incontinência urinária interfere na vida diária das pessoas, cuja pontuação varia de zero a dez, sendo que zero interfere pouco na vida do sujeito e dez, muito. A análise dos dados coletados no KHQ foi feita através dos escores inais calculados pelas respostas adquiridas nos questionários aplicados. As pontuações variam de 0 a 100 e quanto maior a pontuação obtida, pior é a QV relacionada àquele domínio. A análise estatística dos dados foi apresentada na forma de média, desvio padrão, valores mínimos e máximos para as variáveis numéricas. O programa Microsoft Windows 98 com Excel 1998 foi utilizado para a análise dos dados. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de João Pessoa de acordo com

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as disposições da resolução 196/96, que regula as pesquisas com seres humanos.

Resultados Entre as mulheres izeram parte da pesquisa, 40% delas consideraram a saúde atual como boa, enquanto que 10% muito boa, 37% airmam ter saúde regular, 10% classiicaram como ruim e 3% muito ruim. A tabela I ilustra a prevalência e intensidade dos sintomas na amostra. Em relação a prevalência e os sintomas da polaciúria, observou-se que 13% apresentaram essa queixa e 10% não sofreram alteração de frequência no ato de urinar. Referente a noctúria, 9% relataram que levantam muitas vezes a noite para urinar, 20% considera a frequência moderada e 17% apresentaram esse problema (Tabela I). Tabela I - Distribuição da amostra de acordo com a Escala de Presença e Intensidade dos Sintomas - King’s Health Questionnaire (KHQ). Características

Frequência Noctúria Urgência Urge-Incontinência Incontinência de Esforço Enurese Noturna Durante a Relação Sexual Infecções Urinárias Frequentes Dor na Bexiga Dificuldade para Urinar *N/A: não se aplica

Prevalência de Sintomas (%) ModeUm Não radaMuito Pouco -mente 10 44 33 13 17 33 20 30 34 10 23 33 37 20 23 20 53

10

20

17

87

3

7

3

97

-

-

3

77

20

3

-

97

3

-

-

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77% não apresentaram, 20% apresentaram um pouco de dor e 3% relataram dor moderada. De acordo com a análise dos domínios representados na Tabela II, observou-se que limitações das atividades diárias não foram relatadas pela maioria das idosas, 97%, sendo que apenas 3% delas sentem “um pouco” de tais limitações no que corresponde aos afazeres e atividades. Tabela II - Distribuição da amostra de acordo com as limitações das atividades diárias - King’s Health Questionnaire (KHQ). Variáveis

Problemas de bexiga afeta seus afazeres Afeta seu trabalho/ suas atividades

Prevalência de Sintomas (%) ModeUm Não radaMuito pouco -mente 97

3

-

-

97

3

-

-

Fonte: Dados do pesquisador, 2011.

No domínio relacionado às limitações físicas e sociais (Tabela III), foi observado que em 93% das idosas o problema na bexiga não interferia (nem um pouco) na realização das atividades físicas. Tabela III - Distribuição da amostra de acordo com as limitações físicas e sociais - King’s Health Questionnaire (KHQ). Variáveis

(N/A)* Atrapalha suas atividades físicas Atrapalha suas viagens Limita sua vida social Limita encontro com amigos

Prevalência de Sintomas (%) ModeUm Não radaMuito pouco -mente 93

7

-

-

73 77

20 20

4 -

3 3

90

7

3

-

Fonte: Dados do pesquisador, 2011.

Fonte: Dados do pesquisador, 2011.

No que diz respeito a urgência, 33% apresentaram diiculdade de controlar a vontade de urinar, 34% não apresentaram esse sintoma e 23% apresentaram-no moderadamente. Com relação à urge-incontinência 37% das entrevistadas não relataram perda de urina antes de chegar ao banheiro, 23% relataram perda moderada, 20% pouca perda e 20% referiram perder muita urina. Essa sintomatologia esteve presente num total de 63% das entrevistadas Em relação à incontinência urinária de esforço (IUE), caracterizada pela perda de urina com a prática de atividades físicas, 17% relataram uma perda acentuada, 20% perda moderada, 10% pouca perda e 53% não apresentaram perda de urina durante a prática de atividades físicas. Referente a enurese noturna, o sintoma prevalece em 13% da amostra, e a frequência de infecções urinárias foi relatada por apenas 3% das idosas. No que concerne à intensidade de dor na bexiga,

No domínio relacionado às “emoções” demonstrada na Tabela IV, mostra que, quando as mulheres foram questionadas sobre o fato de a IU deixá-las deprimidas, 97% relataram que “não” e 3% airmam que “um pouco”. Tabela IV - Distribuição da amostra de acordo com as emoções King’s Health Questionnaire Variáveis

Sente-se deprimida Ansiosa ou nervosa Sente-se mal consigo

Prevalência de Sintomas (%) ModeUm Não radaMuito pouco -mente 97 3 90 7 3 90 4 3 3

Fonte: Dados do pesquisador, 2011.

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Com a análise dos resultados inerentes ao domínio das alterações do sono e energia (Tabela V) houve maiores índices entre as idosas 53% com relação ao sono e 17% com relação ao cansaço/ esgotamento. Pelos inconvenientes da IU foi observado que 13% das idosas têm o sono afetado “o tempo todo” e 10% “frequentemente”. Tabela V - Distribuição da amostra de acordo com as alterações no sono/ energia - King’s Health Questionnaire (KHQ). Variáveis

Afeta seu sono Sente-se esgotada/ cansada

Prevalência de Sintomas (%) FreO quenÀs tempo Não tevezes todo -mente 47 30 10 13 83

14

3

-

Fonte: Dados do pesquisador, 2011.

De acordo com as medidas e gravidades (Tabela VI) avaliadas pelo KHQ, houve relato de uso de forros ou absorventes por 33% da amostra (com intensidades que variam entre: às vezes, frequentemente e o tempo todo). Percebe-se que o fato de tomar cuidados com a quantidade de líquido para redução da perda de urina, 87% das idosas nunca se preocupam com esse fator, e 13% “às vezes” tomam cuidado com isso. Observa-se que há uma inluência negativa na qualidade de vida dessas idosas, uma vez que, há uma preocupação das mesmas em cheirar a urina sendo relatado por 47% delas, e o fato de sentirem-se envergonhadas com o problema 50%. Tabela VI - Distribuição da amostra de acordo com as medidas de gravidade - King’s Health Questionnaire (KHQ). Variáveis

Usa forros/ absorventes Cuidado com a quantidade de líquido que bebe Troca as roupas quando estão molhadas Preocupa-se com a possibilidade de cheirar a urina Envergonha-se com o problema de bexiga

Prevalência de Sintomas (%) FreO Às quenNão tempo vezes tetodo -mente 67 6 7 20 87

13

-

-

40

17

13

30

53

13

7

27

50

33

10

7

Fonte: Dados do pesquisador, 2011.

Discussão A maioria dos idosos residente em instituição apresentam condições precárias de saúde, que envolve sedentarismo, carência afetiva, diminuição de atividades físicas e mentais, seja pela idade ou incapacidade funcional, perda de autonomia, distanciamento de familiares que não consegue manter o idoso sobre seus cuidados, ou devido a falta de recursos inanceiros para ajudá-lo [9]. Estes fatores podem desencadear sintomas depressivos no idoso, devido o isolamento social que afeta sua saúde e impacta sobremaneira sua qualidade de vida [10]. Em relação à presença de IU observam-se variações na intensidade do impacto negativo que causam nas pacientes. De acordo com a análise dos domínios a qualidade de vida no KHQ, observou-se que o domínio Percepção Geral da Saúde apresentou maior valor médio quando comparado aos outros resultados, seguido pelo Impacto da IU e as Medidas de Gravidade. Os demais domínios apresentaram uma prevalência decrescente seguindo a seguinte ordem: Sono e Disposição; Limitações Físicas; Limitações Sociais; Emoções; e Limitações de Atividades Diárias. Na análise dos domínios especíicos de qualidade de vida, propostos pelo instrumento, observou-se uma grande variabilidade de resultados, médias com o desvio padrão relativamente baixos. Por meio do questionário também se pôde mostrar quais os fatores que afetam a qualidade de vida das pacientes com incontinência urinária, em relação ao domínio percepção geral da saúde. Assim, a frequência de micções diurnas e noturnas, a urgência e a urge-incontinência foram os fatores que mais impactaram a percepção da qualidade de vida das idosas. Da mesma forma, o uso de forros absorventes, a necessidade de trocar as roupas quando molhadas e a preocupação de cheirar a urina, demonstram o impacto das medidas de gravidade na QV das idosas. Ortiz em seus estudos, observou que na maior parte das mulheres uma frequência de perda de urina várias vezes ao dia prevalecendo às queixas entre pequena e moderada. Seu estudo revelou também a grande preocupação das mulheres em icarem restritas às atividades sociais pelo cheiro da urina [11]. Quanto à intensidade dos sintomas, os maiores índices foram constatados nos sintomas relacionados à noctúria, a urgência e a urge-incontinência. Resultados semelhantes foram apresentados na amostra em pesquisa de Silva e Santos [12], que demonstraram os mesmos sintomas dentre os que mais interferiram na negativamente sobre a qualidade de vida. O relato de perda urinária durante as atividades físicas foi de 37%, corroborando com estudos realizados por Guarisi et al., [13]. O esforço é a causa mais frequente de incontinência urinária, com incidência variando de 14 a 52% nas mulheres, aumentando de acordo com a idade [14]. A infecção do trato urinário é considerada como um dos fatores causais da IU tais problemas no trato urinário podem resultar em distúrbios do sono contribuindo para problema

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dermatológico, à medida que piora o comportamento da bexiga já instável, ao aumentar o número e a frequência de suas contrações involuntárias [12]. A dor referente a bexiga, que foi relatada por 23% das entrevistadas, é um sintoma que pode ser um sinal de infecção urinária, tipo cistite, descrita pela a aderência da bactéria à bexiga leva ao quadro de cistite bacteriana, ou infecção do trato urinário inferior, o que também representa risco para o surgimento da IU [15]. No que diz respeito a limitações das atividades diárias, apenas 3% delas relataram que sentem “um pouco” tais limitações em ambos os aspectos (afazeres/ atividades). Neste contexto, estudos realizados por Silva e Lopes [16], demonstraram que 50% das pacientes acometidas pela IU, reportam que o problema afeta “um pouco” a vida cotidiana, considerando que desvalorizam o fato de perder urina, pois acham normal ou ainda que o problema não seja importante. Sobre o domínio relacionado às limitações físicas e sociais, icou evidente que o problema na bexiga na sua maioria não atrapalha as atividades físicas (caminhadas) de 93% das idosas. A maior prevalência foi veriicada em relação às viagens e vida social, apresentando também maior intensidade dos sintomas. A IU se caracteriza como um problema comum sem risco de vida, contudo os sintomas relacionados podem interferir adversamente no bem-estar físico, social e psicológico das pessoas afetadas por ela. O impacto da IU diminui seriamente a qualidade de vida das pessoas [17]. O impacto da incontinência causa situação constrangedora na vida das pessoas incontinentes apresenta afastamento das atividades do dia a dia, restrições quanto à frequentar lugares públicos, perda da autoconiança. É evidente que os fatores relacionados à vida social estão diretamente ligados a qualidade de vida (QV). Paschoal [18], em seu estudo sobre a qualidade de vida do idoso, airma que a avaliação pessoal, envolve um processo complexo onde o indivíduo faz um balanço a partir de valores, princípios e critérios assimilados ao longo da vida. De acordo Lopes e Higa [19], em pesquisas realizadas com idosas, a limitação social foi relatada por 33,5%, onde 18,9% relataram não sair de casa por vergonha de perder urina em ambiente público e em relação aos fazeres doméstico, o que não corrobora com os resultados da amostra estudada. De acordo com Guimarães e Caldas [20] a IU gera repercussões nos aspectos sociais, restringe a capacidade de interagir com o ambiente, impede as mulheres de viajar, de sair de casa, isso reforça o isolamento na velhice. Ao questioná-las sobre o fato do problema de IU deixá-las deprimidas, 97% relataram que “não”. De acordo com Abreu [21] os incontinentes icam constrangidos com seus sintomas e muitas vezes vivenciam sentimentos de solidão, tristeza e depressão mais alorados que os que não são acometidos pela IU, o que não corresponde a realidade da amostra. A IU pode reduzir a capacidade física, e a consequente diminuição nas tarefas de casa, impactando a vida de maneira diferente para cada idosa, podendo resultar em estresse e

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redução de boa parte da qualidade de vida. Os sintomas da incontinência trazem desordem no convívio e nas limitações das pacientes e uma queda da auto-estima [22]. Ao analisar o domínio das alterações do sono e energia, os sintomas foram evidenciados na amostra, com prevalência em relação ao sono em 53% das idosas e em relação ao cansaço/ esgotamento, em 17% das mesmas. Há que se considerar que 13% das idosas têm o sono afetado “o tempo todo” e 10% “frequentemente” pelos inconvenientes da IU. Esses sintomas são referenciados nos estudos de Reis et. al. [4], airmando que a IU traz mudanças associadas aos distúrbios do sono. O número de micções noturnas pode provocar um grande impacto na vida das pacientes onde muitas delas evitam ingerir líquidos por medo de não controlar os atos miccionais, e as micções noturnas podem atrapalhar o sono e as emoções das idosas incontinentes [23,24]. Sendo este um dos fatores que mais prejudicou a qualidade de vida da amostra. O uso de forros ou absorventes foi relatado por 33% da amostra (com intensidades que variam entre: às vezes, frequentemente e o tempo todo). Autores como Auge et al. [25] airmam que a necessidade do uso de forros ou absorventes e a troca de roupas, afetam a QV. Falar sobre a ingestão diária de líquidos faz-se necessário, já que inluencia nas condições urinárias por parte do paciente. Sobre isso, o que se percebe é que grande parte das pessoas que sofrem de incontinência urinária acaba diminuindo o volume de consumo de água, pelo medo de interferir no aumento das perdas de urina [26]. O que se observou, no entanto, foi que 87% das idosas da amostra nunca se preocuparam com esse fator, e apenas 13% relataram dar um pouco de importância a isso. Cabe ressaltar que a maioria das idosas relatou que a perda da urina é normal e faz parte do envelhecimento. Para Lopes e Higa [19] a IU não pode ser considerada patologia comum do envelhecimento natural, embora algumas alterações no trato urinário possam favorecer seu aparecimento.

Conclusão De uma maneira geral, a qualidade de vida foi considerada pior quando o tipo de queixa era o impacto da IU, ou seja, como ela inluência a vida diária das idosas, embora o maior escore obtido foi em relação a percepção geral de saúde. Em conjunto, os resultados demonstram que a QV foi negativamente impactada, mas não apresentou pontuação tão elevada ao ponto de comprometer a qualidade de vida das idosas em sua totalidade, considerando que os demais domínios apresentaram escores relativamente baixos. O que preocupa é que a despeito de as idosas da amostra relatarem sintomatologia compatível com quadros de incontinência urinária, essas não parecem perceber isso enquanto um problema, o que pode levar essas mulheres a não procurarem tratamento adequadado por achar que isso é algo comum ao envelhecimento. Portanto, é de grande interesse que se estude

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os impactos dos problemas incidentes na terceira idade em relação à QV, para o desenvolvimento de ações que contribuam para um envelhecimento saudável (prevenção) e com melhor qualidade de vida para portadores de IU. Ao abordar a repercussão da incontinência urinária na qualidade de vida de idosas institucionalizadas, não se objetivou aqui esgotar todas as questões referente a incontinência urinária e como esta afeta a percepção da qualidade de vida das idosas. Buscou-se trazer à tona discussões acerca desse problema e estimular a continuidade da pesquisa em relação à temática proposta, que venha abordar práticas que possibilitem a prevenção nos cuidados com a saúde, para que se possa desfrutar de uma velhice com qualidade.

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Artigo 25 Estudo fenomenológico sobre a percepção masculina das transformações da mulher no período gestacional e suas implicações afetivo-sexuais Phenomenological study on male perception of women’s transformations in gestational period and affective-sexual implications Neyliane Sales Chaves Onofre, M.Sc.*, Georges D. Janja Bloc Boris, D.Sc.** *Docente Mestre da FANOR/DeVry (CE). Especialista em Fisioterapia na Saúde da Mulher, **Docente Doutor do Programa de Mestrado e Doutorado de Psicologia da UNIFOR (CE)

Resumo

Abstract

A mulher no período gravídico-puerperal exige adaptações anatômicas, funcionais e emocionais, que repercutem em mudanças corporais, no bem-estar, no humor, nos relacionamentos e na sexualidade. O que torna importante investigar sobre as vivências masculinas neste período, para buscar compreender os aspectos afetivo-sexuais que permeiam o casal no ciclo gravídico-puerperal. Adotou-se, neste estudo, uma escuta fenomenológica da subjetividade masculina, visando a discutir o depoimento de 12 homens. Estes eram adultos de classe média-alta, com média de idade de 36 anos, todos em união estável. Os resultados indicam a ocorrência de adaptações na relação conjugal, desencadeando um processo de reestruturação e de readaptação do homem. Os desconfortos gestacionais e as transformações do corpo feminino ensejaram adaptações no ato sexual, que repercutiram na redução da libido e na frequência sexual. A afetividade está mais fortalecida com a chegada do ilho. Deve-se criar e fortalecer políticas públicas, que estimulem ações educativas, a atenção e a promoção da saúde de forma integral, englobando informar sobre os aspectos físicos, psicoemocionais e culturais para desmistiicar mitos e os orientar ao casal. O proissional da saúde, nem sempre está preparado para informar, esclarecer e orientar adequadamente as dúvidas e as indagações do homem.

he woman during gravidic-puerperal cycle presents anatomical, functional and emotional adaptations, which relect in body changes, well-being, mood, relationships and sexuality. What makes it important to investigate the experiences of men in this period, seeking to understand the afective-sexual aspects during this period. Was adopted in this study a phenomenological listening of male subjectivity in order to discuss the testimony of 12 men. he subjects of the study were of middle and upper class, average 36 years old, all living a stable union. he results indicate the occurrence of adaptations in the conjugal relationship, triggering a process of restructuring and re-adaptation of the man. he discomforts of pregnancy and the transformations of the female body gives raise to changes in the sexual act that impact on the reduction of libido and sexual frequency. he afection is stronger with the arrival of the child. Public policies must be created and strengthened to encourage educational, care and health promotion holistically, encompassing report on the physical, psycho-emotional and cultural myths to demystify and guide the couple. he healthcare professional is not always prepared to inform, clarify and properly orient the doubts and questions of man.

Palavras-chave: ciclo gravídico-puerperal, subjetividade masculina, sexualidade, afetividade.

Key-words: gravidic-puerperal cycle, male subjectivity, sexuality, affectivity.

Endereço para correspondência: [email protected]

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Introdução

Metodologia

O homem e a mulher contribuem igualmente para a concepção do ilho, mas é a mulher que vivencia as transformações físicas, senti o bebê crescer em seu corpo. É fato que alguns homens sentem sensações semelhantes às das gestantes, como aumento de apetite, problemas digestivos, intestinais e aumento de sono [1], ou seja, sofrem da síndrome de couvade, que é a expressão somática da ansiedade que envolve todo o processo e demonstra a identiicação do pai com a mãe, ou, uma ambivalência em relação à paternidade e a adaptação à nova situação, o que demonstra que as implicações da gravidez e do puerpério ocorrem também no homem [2]. Portanto, as mudanças que ocorrem neste período ensejam a necessidade de uma série de adaptações também por parte do homem [3]. Consequentemente, com a chegada do bebê, inicia-se outro período de desaios e transformações que interferem, direta ou indiretamente, na conjugalidade [4]. As modiicações ocasionadas pela gravidez alteram o relacionamento conjugal, ou seja, o casal é alvo modiicações no apoio dado e recebido, na preocupação sentida, nos conlitos vivenciados, nas prioridades do casal e na sexualidade [3]. Muitos fatores levam a alterações que, se forem compreendidas, poderão auxiliar na obtenção da felicidade sexual pelo casal. Desta forma, a gravidez pode alterar o comportamento afetivo-sexual, em virtude das inluências psicológicas e socioculturais.

A pesquisa fenomenológica constitui abordagem descritiva, partindo da ideia de que se pode deixar o fenômeno falar por si mesmo, com o objetivo de alcançar o sentido da experiência, ou seja, o que a experiência signiica para as pessoas que a vivenciaram [5]. O pesquisador faz uma descrição das experiências vividas dos sujeitos-colaboradores sobre um conceito ou fenômeno. Os discursos e seus signiicados foram analisados seguindo os passos que se resumem a: transcrição da entrevista; divisão do texto original em seções; análise descritiva dos signiicados que emergiram de cada seção; e sair dos “parênteses” [6]. A análise é realizada, com base naquilo que se manifesta por si mesmo, pois a fenomenologia procura tornar explicita a estrutura e o signiicado implícito da experiência humana é uma expressão do mundo vivido. O estudo foi realizado na Harmonia Materno Infantil Clínica Interdisciplinar, em Fortaleza/CE. A pesquisa foi realizada nos meses de julho e agosto de 2011, com 12 homens. Todos eram adultos com idade entre 31 e 46 anos, em união estável com tempo de relacionamento variando entre 2 a 16 anos. Os entrevistados eram da classe média-alta, com renda familiar acima de quinze salários-mínimos e todos tinham o nível superior. No momento da entrevista, as parceiras se encontravam entre dois meses a um ano após o parto. Após a seleção as entrevistas fossem realizadas no consultório da clínica, foram esclarecidos, de forma breve, os objetivos da pesquisa e informamos os seus critérios éticos, enfocando e assegurando-lhes o sigilo. Foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Academia Cearense de Odontologia / Centro de Educação Continuada – ACO, Processo No253.

Objetivos Durante muitos séculos, o homem foi afastado das vivências relacionadas com a gravidez, parto e pós-parto, mas hoje se observa a procura de conhecimento e participação paterna neste período. As modiicações sociais relacionadas com a emancipação da mulher vieram proporcionar um envolvimento do pai em todo o processo. A gravidez passou a ser um projeto de vida e uma experiência partilhada pelo casal, em que a ligação pré-natal se inicia cada vez mais precocemente, facilitada pela visualização da imagem do bebê por meio da ultrasonograia, o que possibilita a construção da paternidade ainda no ventre materno. Nesta perspectiva, esta pesquisa busca, então, compreender sobre as percepções masculinas acerca das transformações gestacionais objetivando orientar casais de forma multiproissional e interdisciplinar, e propor atendimento no ciclo gravídico-puerperal abrangente, envolvendo o casal, já que as repercussões da gravidez e do puerpério atingem a ambos [5]. Para alcançar os objetivos propostos deste estudo, busquei realizar uma pesquisa qualitativa, pois esta busca a compreensão dinâmica do ser humano. Sua força metodológica é atribuída à alta validade dos dados achados/colhidos, e seu objeto de estudo são os fenômenos apreendidos. Optei pela pesquisa qualitativa com abordagem fenomenológica, busca a interpretação das relações de signiicados referidos pelos sujeitos colaboradores entrevistados.

Resultados Durante o período gestacional a mulher passa por um processo de transformações que proporciona mudanças e adaptações bio-psico-sociais, onde a gestante vivencia modiicações no seu corpo oriundas da gravidez. O homem-pai também experiência este universo, com seus múltiplos contornos, como a sua personalidade, a cultura da masculinidade e o seu contexto familiar. Desta forma, as modiicações que ocorrem no corpo feminino no ciclo gravídico-puerperal e os desconfortos gestacionais repercutem em adaptações no ato sexual e interferem na sexualidade do casal. Todos os sujeitos colaboradores entrevistados falaram sobre as suas percepções com relação às mudanças do corpo da gestante no período gravídico-puerperal. O abdômen grávido pode ser um empecilho para as práticas sexuais e afetar a intimidade do casal. Portanto, as mudanças do corpo tornam-se muitas vezes obstáculos para prática sexual. Quando a afetividade e a sexualidade no relacionamento são bem exercidas, proporcionam elementos que favorecem a vinculação do casal [7]. A gravidez enseja uma reorganização conjugal em que o casal busca adaptações em todas as áreas, inclusive afetivo-sexuais [8]. Nos

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depoimentos dos meus colaboradores foi evidenciado que a frequência e a libido diminuem no ciclo gravídico-puerperal, podendo trazer consequências importantes na vida do casal. Pode-se perceber que, de forma geral, a afetividade tende a aumentar, talvez para equilibrar o declínio da sexualidade no ciclo gravídico-puerperal, quando o casal tem promovido uma crescente conjugalidade antes e após a gravidez.

Discussão Discutiram-se as falas significativas dos informantes sobre como vivenciaram a gravidez, suas impressões sobre a subjetividade masculina, a percepção do corpo gravídico e suas implicações no comportamento afetivo-sexual do casal. É inquestionável o fato de que ocorrem intensas mudanças na vida conjugal e que estas ocasionam adaptações no ato sexual. Vale salientar que as mudanças oriundas da gestação, se inscrevem tanto no corpo quanto no plano afetivo. Todos os fatores, sejam no âmbito físico ou emocional, estão intrinsecamente conectados e inluenciam, em maior ou menor grau, a própria percepção ou o signiicado que a pessoa atribui a eles. Onde destaca José: O corpo muda? Muda, porque era,... Quando há o crescimento, a expansão do útero, você visualiza e sente que há um “stop”. Você toca e você vê essa preocupação. É diferente. É diferente, por quê? Fica, em você, a ideia de que há uma gestação. Mas, essa mudança ocorreu, principalmente, no começo do crescimento do útero...

oscilações de humor8. A sexualidade é afetada em alguns aspectos, principalmente no terceiro trimestre, pela necessidade de se adaptar a novas posições e pela disposição da gestante para a atividade sexual [10]. Percebe-se que os desconfortos oriundos da gestação repercutem no desempenho sexual, para isso é fundamental o entendimento do companheiro, pois quando ele compreende tais mudanças adapta-se melhor. Onde Emanuel depõe que desconfortos gestacionais modiicaram o ritmo do casal, e expõe: Nos primeiros meses vem os enjoou, mudanças de humor, mudanças hormonais, tudo isso dando um certo desconforto para o casal, mas considero que a gente levou bem. No inalzinho ela sentia-se muito casada com as pernas inchadas, ai vem outra fase do próprio desconforto gestacional que prejudica até essa aproximação.

A sexualidade é afetada em alguns aspectos, principalmente no terceiro trimestre, pela necessidade de se adaptar a novas posições e pela disposição da gestante para a atividade sexual. Neste sentido, exponho, aqui, a fala de Manasse: Na gravidez, realmente, a vontade diminui, pelo próprio desconforto da mulher, por causa da barriga. (...) Aquela história toda, então: realmente, diminui a vontade.

Percebe-se que os desconfortos oriundos da gestação repercutem no desempenho sexual, para isso é fundamental o entendimento do companheiro, pois quando ele compreende tais mudanças adapta-se melhor, como percebo em Benjamin:

Na fala de Daniel, evidencia-se a percepção das transformações do corpo da mulher, e suas repercuções na sexualidade do casal: [...] a gestação é um processo meio camaleônico, “tipo” que a gente vai vendo experiências e fases, durante a própria gestação. (...) Eu estava inseguro: eu sabia que ela é que ia passar por muitas transformações e mudar o corpo e, talvez, ela ique... talvez ela se sinta diminuída porque ela vai icar com o corpo deformado, digamos “né”? Será que o meu marido vai me querer depois dessa mudança?

O entrevistado refere que este momento é transformador, cheio de fases. As modiicações ocorridas do corpo da mulher no ciclo gravídico-puerperal ensejam incomodo físico e emocional, podendo levar ao desinteresse sexual tanto no homem como na mulher [9]. Alguns depoimentos destacam as repercussões dos desconfortos gestacionais na sexualidade do casal, onde Ruben refere: Os desconfortos gestacionais interferem um pouco na sexualidade, tem dia que ela está mais cansada; outros dias ela está mais sensível. (...). Aí conversamos: hoje, num tá legal. Deixa pra amanhã (sexo)

Tais mudanças de comportamento são esperadas na gravidez e no pós-parto, como o aumento da sensibilidade e

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Toda mulher tem uma gravidez diferente. Todas icam diferentes: umas, mais chorosas; outras icam mais nervosas. Enim, eu sabia dos desconfortos. Eu percebi mudanças e incômodos nela principalmente no inalzinho, com a barriga muito grande, ela se sentia mais cansaço e desconforto pra dormir (...). Eu tinha um pouco de receio e tal de machucar a barriga: então, diminuímos de forma natural um pouco a relação sexual.

Ocorrem expressivas mudanças na trilogia biológica e psicossocial, que repercutem, direta ou indiretamente, nas relações afetivo-sexuais do casal, produzindo um ajustamento decorrente das alterações físicas que acontecem na mulher, como o crescimento abdominal, a sensibilidade mamária, as náuseas, os vômitos, alteração na lubriicação vaginal, a lombalgia gestacional, o edema, entre outros.

Conclusão Os pais precisam elaborar afetivamente o cuidado materno/paterno com o qual irão proteger e amparar a criança que está por vir. Devem também, buscar originalidade, espontaneidade e criatividade no período gravídico-puerperal. Os afagos e as atitudes podem se tornar enrijecidas, empobrecendo as trocas cotidianas, levando ao comprometimento nas rela-

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ções afetivas do casal, principalmente quando o ajustamento conjugal está comprometido. Deste modo, a afetividade é um grande inluenciador no comportamento sexual entre homens e mulheres, o que depende da vontade e do desprendimento do casal. Só encontra a afetividade quem a ediica, quem a distribui. É preciso haver a decisão de amar, e a vontade de constituir e aprender essa arte do dia a dia. Querer amar, no entanto, não é querer ser amado pelos outros. Querer amar é pretender amar a partir de si mesmo, é tencionar oferecer de si próprio. É importante investir na cumplicidade e no companheirismo conjugal, para fortalecer os laços afetivos e emocionais, à medida que o casal vivencia a transição da conjugalidade para parentalidade. A afetividade entre o casal no ciclo gravídico-puerperal aumenta principalmente se a gestação é planejada e muito esperada. Mas é fato, que ocorre uma diminuição da frequência do ritmo sexual que é perfeitamente compreensível pelas as mudanças e adaptações físicas e emocionais que perfazem o casal neste momento. O casal deve ser preparado para viver a parentalidade de forma plena e adaptar a vida conjugal à nova realidade, pois o nascimento de um ilho não implica só dar a vida a um novo ser, mas também a um novo casal. Desta forma, é indispensável preparar e orientar os pais, mediante ações de cuidado que envolvam valores e compromissos com a pessoa e com a vida humana, pois as adaptações orgânicas, funcionais e emocionais da mulher grávida interferem na sexualidade masculina no ciclo gravídico-puerperal.

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Artigo 26 Géis lubriicantes são bons agentes de acoplamento para estimulação transvaginal do assoalho pélvico? Lubricant gels are good agents for transvaginal stimulation of the pelvic loor? Jairo Domingos de Morais*, Mallison da Silva Vasconcelos**, Maria Francilene Leite***, Eleazar Marinho de Freitas Lucena****, Welligton da Silva Lyra, D.Sc.***** *Fisioterapeuta, Discente de Pós-graduação do Núcleo e Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal da Paraíba, **Fisioterapeuta, Prof. Assistente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba, ****Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão em Saúde da Universidade Federal da Paraíba, ****Fisioterapeuta, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão em Saúde da Universidade Federal da Paraíba, *****Químico, Doutor em Química Analítica pela Universidade Federal da Paraíba

Resumo

Abstract

Introdução: A utilização da estimulação elétrica transvaginal no tratamento das disfunções do assoalho pélvico feminino tem sido recomendada pela literatura, porém com evidências cientíicas insuicientes em relação a sua eicácia. O uso de géis lubriicantes está indicado para facilitar a introdução dos eletrodos intracavitários utilizados neste procedimento, mas acredita-se que o seu uso pode modiicar os resultados terapêuticos ou a aplicação dos parâmetros elétricos devido a sua impedância no circuito estimulador/paciente. Objetivo: Avaliar a condutividade elétrica de géis e compará-los com gel condutor de eletroterapia e ultrassom. Métodos: Cinco amostras de géis lubriicantes (G1 a G5) e uma de gel condutor de eletroterapia e ultrassom (G6) disponíveis no mercado foram avaliadas através de condutimetria em condições adequadas de temperatura. Foram excluídos géis lubriicantes que continham óleo em sua composição. Resultados: Observou-se que o gel condutor de eletroterapia e ultrassom possui maior condutividade em relação aos géis lubriicantes (42,0 µS/cm). Dentre os lubriicantes testados o gel o G3 foi aquele de maior condutividade (34,1µS/cm) enquanto o gel G5 apresentou menor condutividade (3,7 µS/cm). Conclusão: Os géis condutores de eletroterapia e ultrassom devem ser recomendados para introdução dos eletrodos cavitários e em caso de desconforto em relação a sua viscosidade o terapeuta poderá optar por um lubriicante de maior condutividade.

Background: he use of transvaginal electrical stimulation in the treatment of female pelvic loor dysfunction has been recommended in the literature, but with insuicient scientiic evidence regarding their efectiveness. he use of lubricant gels is indicated to facilitate insertion of intra cavity probes used in this procedure but it is believed that its use may modify the outcome of therapy or application of electrical parameters due to its impedance in device/ patient circuit. Objective: To evaluate the electrical conductivity of gels and compare them with conductive gel for electrotherapy and ultrasound. Methods: Five samples of lubricating gels (G1-G5) and a conductive gel for electrotherapy and ultrasound (G6) available in the market were evaluated through conductometry under suitable temperature. We excluded gels containing lubricating oil in its composition. Results: It was observed that the conductive gel electrotherapy and ultrasound has a higher conductivity compared to lubricant gels (42.0 µS/cm). Among the lubricant gels tested, G3 gel has a greater conductivity (34.1 µS/cm) while the G5 gel had a lower conductivity (3.7 µS/cm). Conclusion: Condutive gel for electrotherapy and ultrasound should be recommended for introduction of intra cavity probes and in case of discomfort with its viscosity, the therapist may choose a lubricant of higher conductivity. Key-words: electrical conductivity, electrolyte, electrical stimulation therapy, pelvic loor.

Palavras-chave: condutividade elétrica, terapia por estimulação elétrica, diafragma da pelve.

Endereço para correspondência: Prof. Mallison S. Vasconcelos, Departamento de Fisioterapia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da Paraíba, Campus I, 58051-900 João Pessoa PB, E-mail: [email protected]

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Introdução A utilização da estimulação elétrica transvaginal através de sondas intracavitárias tem sido proposta como recurso adjuvante no tratamento das disfunções do assoalho pélvico desde os experimentos realizados por Godec e Cass na década de 70 [1]. Sua indicação consiste na conscientização muscular, fortalecimento de músculos fracos e inibição das contrações vesicais [2]particularly in cases of urinary incontinence with no irst-degree uterine prolapse, with poor-quality perineal testing results or inverted perineal command. Prescription of 15 sessions should suice to evaluate the possibilities of improving the incontinence. he sessions can be continued if the patient feels she is progressing but has not reached suicient results. With no progression despite properly conducted rehabilitation, the question of whether to continue the physical therapy arises. Currently, therapists determine the number of sessions. hey are better apt to know whether sessions should be pursued and should relay a report to the prescribing physician. his type of rehabilitation is within the domain of physical therapists. Midwives can be responsible for postpartum rehabilitation. On the other hand, the importance of the patient’s role in the results and their maintenance is well known. Occasionally a few sessions some time after the initial sessions can serve to verify the acquisitions and motivate the patient in her personal contribution to this rehabilitation. he work of the physical therapist cannot be substituted with Keat-type home electrostimulation. he physical therapist plays an important role in the overall management of this condition. Currently, in absence of demonstrated eicacy, self-administration of electrostimulation is not recommended. In urge incontinence, the rehabilitation approach will be used concomitantly with prescription of anticholergics with behavioral therapy and bladder biofeedback work. In addition, low-frequency electrostimulation can be done during the session. Starting with 10-12 sessions is suicient. In all cases, rehabilitation should take a multidisciplinary approach and be integrated into a medical and/or surgical management plan.”, “author” : [ { “family” : “Leriche”, “given” : “B” }, { “family” : “Conquy”, “given” : “S” } ], “container-title” : “Progr\u00e8s en urologie : journal de l’Association fran\u00e7aise d’urologie et de la Soci\u00e9t\u00e9 fran\ u00e7aise d’urologie”, “id” : “ITEM-1”, “issued” : { “date-parts” : [ [ “2010”, “2” ] ] }, “page” : “S104-8”, “publisher” : “Elsevier”, “title” : “[Guidelines for rehabilitation management of non-neurological urinary incontinence in women].”, “type” : “article-journal”, “volume” : “20 Suppl 2” }, “uris” : [ “http://www.mendeley.com/documents/?uuid=c74021d0-bcf4-4191-a438-ceeed04f8e77” ] } ], “mendeley” : { “previouslyFormattedCitation” : “(2. Embora o uso de sondas intracavitárias terem sido relatadas como efetivas no tratamento destas alterações [3], as evidências relacionadas à sua eicácia ainda é conlitante devido a carência de artigos com bom rigor metodológico e

a falha na descrição dos parâmetros e métodos utilizados em sua aplicação [4]. Dentre os procedimentos relacionados á estimulação elétrica transvaginal no tratamento das disfunções do assoalho pélvico, a referência acerca dos meios de acoplamento ainda é negligenciada nos estudos que abordam este tema. Neste contexto, os agentes de acoplamento merecem uma consideração especial já que estabelecem o contato entre as sondas e o paciente e, portanto, suas características poderiam inluenciar os resultados do procedimento [5]. A utilização de gel lubriicante é indicada em casos de atroia vaginal devendo ser aplicado apenas na extremidade da sonda para facilitar sua introdução. Como os géis constituem resistências à passagem de corrente não devem ser usados sobre os anéis metálicos para não aumentarem a impedância do circuito elétrico estimulador/paciente [3,6]. Contudo, estima-se que durante a introdução da sonda na cavidade vaginal uma ina camada de gel possa cobrir os anéis metálicos funcionando como meio de acoplamento podendo facilitar ou diicultar a distribuição da corrente elétrica na mucosa vaginal. Ainda não existe um consenso sobre qual tipo de gel deve ser utilizado para a aplicação da eletroterapia com uso de sondas intracavitárias. Estima-se que um bom produto ofereça uma boa condutibilidade e uma composição próxima a secreção vaginal para não causar desconforto a paciente durante e depois de sua utilização. Sabe-se que a resistência à passagem da corrente oferecida pelos agentes de acoplamento depende da sua composição [5], o que pode variar de acordo com cada fabricante. A boa escolha destes produtos é importante, pois podem interferir nos resultados terapêuticos e no conforto da paciente por exigirem uma intensidade maior na carga elétrica oferecida durante o tratamento. Baseado neste pressuposto, questionamos se os lubriicantes íntimos podem ser utilizados como meios de acoplamento para a estimulação elétrica transvaginal nas disfunções do assoalho pélvico. O objetivo deste estudo foi avaliar a condutividade elétrica dos lubriicantes íntimos disponíveis no mercado local e compará-lo com um gel condutor disponível para uso em eletroterapia e ultrassom, como recomendar o melhor produto a ser utilizado como gel de acoplamento para a estimulação transvaginal.

Material e métodos Trata-se de um estudo experimental, realizado entre Janeiro a Março de 2012 no Laboratório de Automação e Instrumentação em Química Analítica, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no município de João Pessoa/PB. Foram analisados cinco géis lubriicantes à base de água passíveis de serem empregados na estimulação endocavitária e um gel condutor recomendado para uso em eletroterapia e ultrassom, todos disponíveis comercialmente. Os dados comerciais e composição química dos produtos são demonstrados na tabela I. Não foram testados lubriicantes que continham óleos em sua formulação.

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Tabela I - Identiicação do nome comercial, composição e fabricante dos géis lubriicantes analisados. Gel G1

Nome K-Y ®

G2

EROS ®

G3

K-MED ®

G4

OLLAGEL ®

G5

INTRAGEL ®

G6

Gel Condutor Mercur ®

Composição Água, Glicerina, Propilenoglicol, Hidroxietilcelulose, Fosfato monobásico de sódio, Metil parabeno, fosfato dibásico de sódio e propilparabeno Hidrocietilcelulose, EDTA, Propilenoglicol, Glycereth-26, Metilparabeno, Água, Glycereth-26, Metilparabeno, Água, Propilparabeno. Água, Glicerol, Propilenoglicol, Hietelose, Fosfato de sódio dibásico, Fosfato de Sódio monobásico, Metilparabeno, Propilparabeno Água Desmineralizada, Propilenoglicol, Hidroxietilcelulose, Sequestrante e Conservante. Extrato de Aloe Vera, Extrato de Camomila, Glicerina, Metilparabeno, Hidroxietilcelulose, Água e Propilparabeno. Polímero vinílico, TEA (trietanolamina), PPG (poli glicol propilênico) e conservante

Fabricante Johnson & Johnson, Rod. Presidente Dutra, Km 156, São José dos Campos SP Trade Center Comercial, Estrada do Encanamento, 1379, Casa Forte Recife/PE CIMED-Indústria de Medicamentos

Indústria Nacional de Artefatos de Látex Caixa Posta 213, CEP 18130-170 São Roque SP Eurofarma, Av Ver. José Diniz, 3465, São Paulo SP Mercur S.A.

As amostras se encontravam dentro do prazo de validade e foram seguidas as recomendações de armazenamento indicadas pelo fabricante, mantendo os produtos à temperatura ambiente e abrigados da luz. Durante os experimentos, todo material utilizado como: pipeta volumétrica e vidros relógios para pesagem dos géis, foram lavados com água destilada e secados em estufa. Em seguida cada amostra foi pesada em balança analítica (Bioprecisa - FA2104N – Elerdonic Balance) obtendo o peso de 3,0g de cada gel seguindo de diluição em 50 ml de água destilada sendo colocada em seis recipientes separados. Após esta etapa cada amostra foi avaliada pelo condutímetro marca Konduktometer Schott, TYP CG853 (igura 1), o qual foi calibrado antes da amostragem em temperatura ambiente.

condutividade com valor de 42,0 µS/cm, seguido pelo gel lubriicante (G3) com condutividade de 34,1 µS/cm enquanto o gel lubriicante G5 foi o de menor condutividade obtendo 3,7 µS/cm.

Figura 1 - Aparelho de mensuração da condutividade (condutímetro) das amostras em estudo.

Para haver condução de corrente elétrica, o agente de acoplamento deve formar ou apenas separar íons quando em solução (ionização ou dissociação), ou seja, pode tanto ser composto iônico (bases e sais) como molecular (ácidos). Com base nos valores de condutividade elétrica dos géis, pôde-se constatar que todos permitem transmissão da corrente elétrica, característica garantida pela presença de um ou mais agentes ionizantes na sua composição como, por exemplo, os sais fosfato monobásico e dibásico de sódio, o EDTA, o metil parabeno, e agente sequestrante. Nas amostras G1 e G3 os valores de condutividade moerada são decorrentes da estimada presença de sais fosfato monobásico de sódio e fosfato dibásico de sódio, encontrado nas duas amostras, os quais em solução aquosa formam um tampão com pH em torno de 7,0, considerado normal para células epiteliais ou mucosas do corpo humano o que pode facilitar a condução da corrente elétrica [7]. Na amostra G2 a presença do EDTA após terceira ionização também produz uma solução tampão com pH em torno de 7,0, que aproxima os valores de condutividade elétrica aos encontrados em G1 e G3 [8].

Resultados Durante a análise dos géis, a temperatura ambiente variou entre 23,7ºC e 25,7ºC (24,7 ± 0,78) e os valores das condutividades analisados foram expressos na tabela II. Observou-se que o gel condutor para eletroterapia e ultrassom (G6) foi o gel de maior

Tabela II - Valores de condutividade das amostras. Gel G1 G2 G3 G4 G5 G6

Condutividade 24,5 µS/cm 27,1 µS/cm 34,1 µS/cm 28,9 µS/cm 3,7 µS/cm 42,0 µS/cm

Temperatura 25,1 ºC 23,7 ºC 24,0 ºC 25,3 ºC 25,7 ºC 24,4 ºC

Discussão

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Estima-se que a condutividade moderada encontrada em G4 e G6 possa estar associada a presença de conservantes presentes na formula do produto. Esta estimativa é hipotética e não foi possível confrontá-la por não conhecermos o tipo de substância relacionada a este componente sem a necessidade de quebra de patente ou concessão do nome da substância utilizada como conservante pelo fabricante. Acreditamos que o tipo de conservante utilizado seja diferente em cada composição sendo o de G6 o que confere uma melhor condutividade ao associar-se com o TEA que é utilizado para corrigir o PH da formula, o que nos faz elegê-lo como o melhor condutor para a aplicação da estimulação transvaginal. A amostra G5 apresentou menor condutividade. O baixo valor de condutância encontrado durante nosso experimento pode ser explicado pela composição do gel lubriicante que não relata a presença de nenhum composto iônico que facilite a condução da corrente elétrica. Outro fator limitante na explicação dos valores de condutibilidade dos géis lubriicantes é a possível diferença de concentração dos componentes de sua formulação, particular de cada fabricante e não relatado no produto. Quanto maior for a quantidade de íons por volume ou concentração presente em cada componente, menor a oposição ao luxo elétrico e assim maior a condutividade. A viscosidade elevada do gel condutor de eletroterapia e ultrassom G6 é atribuída ao polímero vinílico presente na maioria dos géis condutores disponíveis no mercado como também da substância denominada carbopol também presente em algumas marcas destinadas a este im. Estes espessantes são também umidiicantes (auto-molhantes) conferindo uma sensação de vagina molhada, que pode ser desconfortável ou constrangedora para algumas pacientes. Neste caso, a recomendação de um lubriicante íntimo de maior condutividade como o K-med ® ou Olla gel ® podem ser uma boa opção para se utilizar durante a terapia com sondas intracavitárias.

Conclusão Géis condutores de eletroterapia e ultrassom são melhores recursos para auxiliar na introdução dos eletrodos intracavitários sem comprometer a condução de corrente elétrica por possuírem uma maior condutividade em relação aos géis lubriicantes. Em caso de desconforto devido a viscosidade dos primeiros, os lubriicantes íntimos podem substituí-los tendo o terapeuta o cuidado na escolha da marca que oferece uma melhor condutividade.

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Artigo 27 Resistência elétrica de géis lubriicantes utilizados na reabilitação uroginecológica Electrical resistance of lubricant gels used in urogynecologic rehabilitation Jairo Domingos de Morais*, Mallison da Silva Vasconcelos**, Eleazar Marinho de Freitas Lucena***, Maria Francilene Leite****, Welligton da Silva Lyra, D.Sc.***** *Fisioterapeuta, Discente de Pós-graduação do Núcleo e Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal da Paraíba, **Fisioterapeuta, Prof. Assistente do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba, ***Fisioterapeuta, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão em Saúde da Universidade Federal da Paraíba, ****Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão em Saúde da Universidade Federal da Paraíba, *****Químico, Doutor em Química Analítica – Universidade Federal da Paraíba

Resumo

Abstract

Introdução: Géis de acoplamento são acessórios importantes na efetividade do tratamento de algumas disfunções uroginecológicas através do emprego da estimulação elétrica contudo, estudos acerca de suas propriedades são escassos e limitam a evidência sobre seu emprego. Objetivo: Avaliar a resistência elétrica dos géis lubriicantes e de um gel condutor e veriicar a inluência da frequência do estímulo sobre a resistência elétrica dos mesmos. Metodologia: Foram analisados seis géis lubriicantes à base de água e um gel condutor para uso em eletroterapia e ultrassom. O experimento constou de um circuito composto por um osciloscópio analógico, um gerador de corrente elétrica com dois programas uroginecológicos e dois eletrodos entre os quais foi depositado o agente de acoplamento. A resistência elétrica foi calculada indiretamente, pela Lei de Ohm e os dados foram analisados através de testes estatísticos não paramétricos. Resultados: A oposição à corrente elétrica oferecida pelo gel condutor só foi maior que uma marca de gel lubriicante íntimo. Observou-se que não houve diferença estatística entre os programas utilizados durante a avaliação da resistência dos géis. Conclusão: Géis condutores de eletroterapia e ultrassom possuem menor resistência que a maioria dos géis lubriicantes e não são inluenciados pela frequência do estímulo elétrico.

Background: Condutive gels are important accessories in the effectiveness of treatment of some urogynecological disorders through electrical stimulation, however, studies evaluating their properties are scarce and limited the evidence of its use. Objective: To evaluate the electrical resistance of lubricant gels and a conductive gel and the inluence of frequency of stimulation on its electrical resistance. Methods: We analyzed six water-based lubricant gels and a conductive gel for use in electrotherapy and ultrasound. he experiment consisted of a circuit consisted of an analog oscilloscope, a generator of electric current with two urogynecological programs and two electrodes between which was deposited the coupling agent. he electrical resistance was calculated indirectly using Ohm’s Law and the data were analyzed using nonparametric statistical tests. Results: he opposition ofered by the electric current in conductive gel alone was greater than one type of intimate lubricant gel. It was observed that there was no statistical diference between the programs used during the evaluation of gels´ resistance. Conclusion: Condutive gels for electrotherapy and ultrasound have lower resistance than most lubricants gels tested and they are not inluenced by the frequency of the electrical stimulus.

Palavras-chave: Terapia por estimulação elétrica, diafragma da pelve, incontinência urinária, incontinência fecal.

Key-words: Electric stimulation therapy, pelvic loor, urinary incontinence, fecal incontinence.

Endereço para correspondência: Prof. Mallison S. Vasconcelos, Departamento de Fisioterapia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da Paraíba, Campus I, 58051-900 João Pessoa PB, E-mail: [email protected]

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Introdução A aplicação da estimulação elétrica é um meio utilizado para propiciar a contração passiva da musculatura do assoalho pélvico, aumentar o luxo sanguíneo na região estimulada, reduzir a dor pélvica e inibir as contrações involuntárias da bexiga [1,2particularly in cases of urinary incontinence with no irst-degree uterine prolapse, with poor-quality perineal testing results or inverted perineal command. Prescription of 15 sessions should suice to evaluate the possibilities of improving the incontinence. he sessions can be continued if the patient feels she is progressing but has not reached suicient results. With no progression despite properly conducted rehabilitation, the question of whether to continue the physical therapy arises. Currently, therapists determine the number of sessions. hey are better apt to know whether sessions should be pursued and should relay a report to the prescribing physician. his type of rehabilitation is within the domain of physical therapists. Midwives can be responsible for postpartum rehabilitation. On the other hand, the importance of the patient’s role in the results and their maintenance is well known. Occasionally a few sessions some time after the initial sessions can serve to verify the acquisitions and motivate the patient in her personal contribution to this rehabilitation. he work of the physical therapist cannot be substituted with Keat-type home electrostimulation. he physical therapist plays an important role in the overall management of this condition. Currently, in absence of demonstrated eicacy, self-administration of electrostimulation is not recommended. In urge incontinence, the rehabilitation approach will be used concomitantly with prescription of anticholergics with behavioral therapy and bladder biofeedback work. In addition, low-frequency electrostimulation can be done during the session. Starting with 10-12 sessions is suicient. In all cases, rehabilitation should take a multidisciplinary approach and be integrated into a medical and/or surgical management plan.”, “author” : [ { “family” : “Leriche”, “given” : “B” }, { “family” : “Conquy”, “given” : “S” } ], “container-title” : “Progr\u00e8s en urologie : journal de l’Association fran\u00e7aise d’urologie et de la Soci\u00e9t\u00e9 fran\u00e7aise d’urologie”, “id” : “ITEM-2”, “issued” : { “date-parts” : [ [ “2010”, “2” ] ] }, “page” : “S104-8”, “publisher” : “Elsevier”, “title” : “[Guidelines for rehabilitation management of non-neurological urinary incontinence in women].”, “type” : “article-journal”, “volume” : “20 Suppl 2” }, “uris” : [ “http://www.mendeley.com/documents/?uuid=c74021d0-bcf4-4191-a438-ceeed04f8e77” ] } ], “mendeley” : { “manualFormatting” : “[1,2”, “previouslyFormattedCitation” : “(1,2]. O resultado terapêutico esperado para este recurso adjuvante consiste na recuperação da continência urinária ou fecal através da aquisição de força e coordenação dos músculos fracos, estimulação de vias relexas associadas ao controle da micção e diminuição do limiar álgico do paciente [3].

O emprego de eletrodos de superfície ou intracavitários têm sido recomendado para tratar as disfunções do assoalho pélvico através do uso de correntes eletroterapêuticas e neste contexto, o tamanho, a polaridade, a resistência e a distância dos eletrodos são propriedades importantes que devem ser tomados em conta [4]. Os agentes de acoplamento também merecem uma consideração especial já que estabelecem o contato entre o eletrodo de superfície e o paciente e, portanto, suas características poderiam inluenciar os resultados do procedimento [5]. O agente ideal deve ter uma baixa impedância (resistência) comparada ao tecido do paciente de forma que minimize a dissipação de energia fora do paciente e potencialize a introdução da energia transferida ao paciente [6]. Apesar da suposição de que a magnitude da oposição à corrente elétrica, oferecida pelo agente de acoplamento pode alterar o conforto do paciente durante a terapia, a escolha do mesmo e seu comportamento durante a passagem do estímulo elétrico são pouco estudados, podendo-se considerar que a passagem de correntes elétricas terapêuticas pelos diferentes meios de acoplamento altera a sua resistência elétrica[5]. Os géis condutores compostos por polímeros são os mais utilizados para a estimulação elétrica transcutânea através de eletrodos de silicone impregnados de carbono. Estes eletrodos são comumente disponíveis pelos fabricantes de estimuladores elétricos usados em uroginecologia por manterem suas propriedades condutivas por um longo período de tempo e serem de baixo custo devido a repetição de seu uso [7]. A utilização de gel lubriicante durante a estimulação intracavitária é indicada em casos de atroia vaginal ou para a estimulação anorretal devendo ser aplicado apenas na extremidade da sonda para facilitar sua introdução [8]. Como os géis constituem resistências à passagem de corrente, não devem ser usados sobre os anéis metálicos para não aumentarem a impedância do circuito elétrico estimulador/paciente [9]. Contudo, estima-se que durante a introdução da sonda na cavidade vaginal ou no ânus uma ina camada de gel possa cobrir os anéis metálicos funcionando como meio de acoplamento podendo facilitar ou diicultar a distribuição da corrente elétrica na mucosa. Apesar dos avanços tecnológicos e produção de conhecimento no que diz respeito ao uso da correta forma de onda e dos parâmetros de estimulação adequados, o estudo da interação dos estimuladores com o meio biológico e principalmente dos acessórios utilizados para a sua aplicação no campo da isioterapia uroginecológica, não tem acompanhado esse avanço. Além disso, a carência de artigos envolvendo os agentes de acoplamento usados na estimulação endocavitária limita a evidência cientíica para seu correto uso. Baseado neste pressuposto objetiva-se avaliar a resistência elétrica dos géis lubriicantes e de um gel condutor, disponíveis no mercado local, através do calculo da lei de ohm e veriicar a inluência da frequência do estímulo sobre a resistência elétrica dos mesmos.

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Material e métodos Trata-se de um estudo experimental, realizado no período de setembro de 2011 a março de 2012 no Núcleo de Estudos e Tecnologia em Engenharia Biomédica (NETEB) localizado no Campus I da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/ PB. Foram analisados seis géis lubriicantes à base de água e um gel condutor recomendado para uso em eletroterapia e ultrassom, todos disponíveis comercialmente e passíveis de serem empregados na reabilitação uroginecológica através do emprego de estimulação elétrica de baixa frequência. Os dados comerciais e composição química dos produtos são demonstrados na Tabela I. As amostras encontravam-se dentro do prazo de validade e foram seguidas as recomendações de armazenamento indicadas pelo fabricante, mantendo os produtos à temperatura ambiente e abrigados da luz. O experimento seguiu o protocolo descrito por Ward (1984) e Bolfe e Guirro (2009) que constou de um sistema para a avaliação da tensão elétrica (voltagem) através de um osciloscópio analógico (2205 GM – Tektronix, 40MHz pico a pico), um gerador de corrente elétrica (Dualpex 961) com intensidade constante, e parâmetros elétricos ixados através dos programas de inibição do detrusor (F=20Hz, T=300µs, I=10mA) e fortalecimento muscular (F=50Hz, T=250µs, I=10mA) e dois eletrodos metálicos. O agente de acoplamento foi depositado na área circunscrita de PVC (36 mm de diâmetro e 5 mm de altura) colocada sobre um dos eletrodos, sendo o circuito fechado em série com outro eletrodo sobre o qual era aplicado uma força constante de 5,5 N para uniformizar o acoplamento. Foram coletados os valores instantâneos da tensão elétrica observados no osciloscópio a cada cinco minutos durante o

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tempo de estimulação proposto pelo programa de tratamento (20 min) e a partir desses, calculada a resistência elétrica, indiretamente, pela Lei de Ohm (V= R x I, onde V = tensão elétrica, R = resistência e I = intensidade). A avaliação dos valores de tensão elétrica para cada gel foi realizada inicialmente no modo de inibição do detrusor e posteriormente no modo de fortalecimento muscular. Para cada nova amostra os eletrodos foram lavados com esponja e água corrente para remover os resíduos e posteriormente secados com papel absorvente. A Figura 1 mostra o sistema de aferição, o local de deposição do agente de acoplamento e o gerador de corrente elétrica utilizado. Figura 1 - Sistema de mensuração da resistência elétrica.

Para a análise estatística adotou-se o nível de signiicância de 5%. Foi aplicado o teste de Kolmogorov-Smirnov para constatar a normalidade dos dados. Como os dados não apresentam distribuição normal foi utilizado o teste de Mann-Whitney para veriicar se houve diferença signiicativa entre os protocolos da eletroestimulação. O teste de Kruskal-Wallis foi usado para veriicar se houve diferença signiicativa entre as resistências dos géis e

Tabela I Identiicação do nome comercial, composição e fabricante dos géis lubriicantes analisados. GEL G1

G2

G3

G4

G5 G6 G7

NOME K-Y ®

COMPOSIÇÃO Água, Glicerina, Propilenoglicol, Hidroxietilcelulose, Fosfato monobásico de sódio, Metilparabeno, fosfato dibásico de sódio e Propilparabeno EROS ® Hidrocietilcelulose, EDTA, Propilenoglicol, Glycereth-26, Metilparabeno, Água, Glycereth-26, Metilparabeno, Água, Propilparabeno. K-MED ® Água, Glicerol, Propilenoglicol, Hietelose, Fosfato de sódio dibásico, Fosfato de Sódio monobásico, Metilparabeno, Propilparabeno AMORÁVEL® Água, Glicerina, Propilenoglicol Sorbitol, Óleo de mamona hidrogenada, PEG-40,Hidroxietilcelulose, Metil-parabeno, Orbignya oleífera, Óleo de semente de Babaçu, Propilparabeno Gel Condutor Polímero vinílico, TEA (trietanolamina), PPG (poli glicol Mercur ® propilênico) e conservante INTRAGEL ® Extrato de Aloe Vera, Extrato de Camomila, Glicerina, Metilparabeno, Hidroxietilcelulose, Água e Propilparabeno. OLLAGEL ® Água Desmineralizada, Propilenoglicol, Hidroxietilcelulose, Sequestrante e Conservante.

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FABRICANTE JOHNSON & JOHNSON, Rod. Presidente Dutra, Km 156, São José dos Campos – SP TRADE CENTER COMERCIAL, Estrada do Encanamento, 1379, Casa Forte – Recife/PE CIMED- INDÚSTRIA DE MEDICAMENTOS.

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posteriormente o teste de Mann-Whitney foi aplicado como pós-teste para identiicar os géis responsáveis pela diferença.

Resultados Os valores da resistência elétrica dos géis lubriicantes e do gel condutor de eletroterapia e ultrassom, mensurados a cada cinco minutos durante o tempo de terapia estabelecido nos dois tipos de programa de tratamento estão descritos nas Tabelas II e III. Durante a realização do teste não paramétrico observamos que o gel KY® apresentou a menor média dos postos e o Olla gel ® a maior média. Ao comparar as resistências dos géis lubriicantes, veriicamos uma diferença estatisticamente signiicativa entre os mesmos (p-valor < 0,01) os quais são demonstrados através da Tabela IV. A resistência do gel condutor de eletroterapia e ultrassom Mercur® foi comparada com os demais géis lubriicantes sendo veriicada a diferença entre eles através do teste de Mann Whitney. A resistência do gel condutor Mercur® é maior apenas do que a resistência do lubriicante Ky®. Esta constatação é observada por meio das médias dos postos. Ao nível de 5% de signiicância, apenas o lubriicante Kmed® não diferencia signiicativamente do gel condutor da eletroterapia em relação à resistência elétrica (p-valor = 0,075). Observamos que o gel Mercur® tem resistência menor que os géis: Eros®, Amorável®, Intragel® e Olla® ambos com p-valor = 0,004. A resistência dos géis testados neste estudo não sofreu inluência da frequência do estímulo elétrico dos protocolos escolhidos para análise (Tabela V). Não houve diferença estatisticamente signiicativa entre as resistências dos protocolos da eletroestimulação (p-valor = 0,459).

Discussão Com base nos valores de resistência elétrica dos géis testados neste estudo, pôde-se constatar que o gel condutor de eletroterapia e ultrassom da marca MERCUR® foi o mais eiciente na transmissão da corrente elétrica em relação a maioria dos géis lubriicantes. Bolfe e Guirro [5] ao testar diversos agentes de acoplamento usados em eletroterapia constataram uma menor resistência entre os géis condutores de eletroterapia e ultrassom. Baseado nesta airmativa, testamos apenas uma marca de gel disponível comercialmente e bastante utilizada em nosso meio. Para os autores acima citados, a menor oposição o luxo elétrico deve-se a característica garantida pela presença de um ou mais agentes ionizantes na sua composição como, por exemplo, a dibromoglutatonitrila, o carbopolímero (carboximetil celulose sódica), o metilparabeno, o agente sequestrante, entre outros. As diferentes concentrações destas substâncias podem conferir diferentes valores de resistência que foram encontrados por eles para cada tipo de gel condutor as quais podem ser modiicadas ao longo do tempo de acordo com a polaridade da corrente elétrica utilizada. A corrente contínua aumenta a resistência nos géis de acoplamento ao longo do tempo, bem como na água potável, mineral e água deionizada devido à ionização dos seus componentes [5]. Veriicamos que apenas o lubriicante KY® apresentou menor oposição a corrente elétrica que o gel condutor MERCUR®. Acreditamos que a presença dos sais fosfato de sódio em concentração maior que os outros lubriicantes íntimos podem ser os responsáveis por este achado, contudo, esta informação não pode ser testada neste estudo. Embora cada fabricante tenha sua própria fórmula para aumentar a condutibilidade, os géis são compostos, basica-

Tabela II - Programa de Inibição do Detrusor – Paramêtros F = 20 Hz :T = 300 µs I = 10mA. Géis/Nome comercial G1 – KY G2 – EROS G3 – KMED G4 – AMORAVEL G5 – GEL CONDUTOR MERCUR G6 – INTRAGEL G7 – OLLA

T0 20 240 70 100 50 380 500

T5 20 235 70 100 70 390 550

T10 24 235 70 110 75 390 560

T15 24 235 60 110 75 390 560

T20 24 235 60 110 75 390 560

Média 22,4 236 66 106 69 388 546

Mediana 24 275 70 110 75 390 560

T20 29 84 80 120 40 275 275

Média 29,8 84,8 87 115,6 39,6 270 280

Mediana 29 85 80 114 40 275 275

Tabela III - Programa de Fortalecimento Muscular – Parâmetros: F = 50 Hz T = 250 µs I = 10mA. Géis/Nome comercial G1 – KY G2 - EROS G3 - KMED G4 - AMORAVEL G5 – GEL CONDUTOR MERCUR G6 - INTRAGEL G7 - OLLA

T0 32 85 100 110 39 250 300

T5 30 85 95 114 39 275 250

T10 29 85 80 114 40 275 275

T15 29 85 80 120 40 275 300

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Tabela IV - Veriicação da diferença entre as resistências dos géis testados no estudo. Tipo de Gel

Resistência dos Géis

N 10 10 10 10 10 10 10 70

KY EROS KMED AMORÁVEL GEL CONDUTOR MERCUR INTRAGEL OLLA Total

Média dos postos 5,5 39,50 24,75 40,40 17,35 58,85 62,15

Teste estatístico a,b Chi-square 63,887 df 6 p- valor 0,000

Teste de Kruskal Wallis; b. Agrupamento das variáveis: tipo de gel.

Tabela V - Efeito da frequência do estímulo sobre as resistências dos géis testados no estudo. Protocolo de tratamento Resistência dos Géis

ID – 20 Hz FM – 50 HZ Total

N 35 35 70

Média dos postos 37,30 33,70

Soma dos postos 1305,50 1179,50

Teste estatístico Mann-Whitney U Wilcoxon W Z p- valor

a

549,500 1179,500 -0,741 0,459

a = Agrupamento das variáveis: Protocolo de tratamento; ID = Inibição do detrusor, FM = Fortalecimento muscular.

mente, por água desionizada e íons [7]. Normalmente, esses íons são cloreto de potássio e de sódio, por não desencadearem reações tóxicas na pele [10]. Estes componentes podem ser encontrados nos géis lubriicantes e confere de certa forma, a permissão de sua utilização como agente de acoplamento no tratamento das disfunções do assoalho pélvico através da eletroterapia. O tipo e a concentração de cada composto presente na fórmula dos géis lubriicantes também atribui a cada produto uma resistência elétrica diferenciada, fato que pode ser comprovado em nosso estudo em um valor estabelecido para 5% de signiicância. Os parâmetros elétricos aplicados durante a terapia podem inluenciar a absorção da corrente elétrica pelos tecidos biológicos [7,10,11]. Alguns autores destacam a frequência do estímulo como modiicadores da impedância tecidual. Veriicamos que a frequência utilizada pelos parâmetros elétricos estabelecidos na literatura [8] para fortalecimento muscular e inibição do detrusor não inluenciaram os resultados encontrados nas resistências dos géis testados neste estudo.

Conclusão Géis de acoplamento para eletroterapia possuem menor resistência que a maioria dos lubriicantes íntimos devendo ser recomendado seu uso. Os géis testados não se opõem ao luxo de corrente elétrica sob inluência da frequência do estímulo empregado.

Referências 1. Correia GN, Bossini PS, Driusso P. Eletroestimulação intravaginal para o tratamento da incontinência urinária de esforço : revisão sistemática. Femina. 2011;39(4):223–30. 2. Leriche B, Conquy S. [Guidelines for rehabilitation management of non-neurological urinary incontinence in women]. Prog Urol 2010;20 (Suppl2):S104–8. 3. Moreno AL. Fisioterapia em uroginecologia. 2a. ed. São Paulo: Manole; 2009. p. 240. 4. Bajd T. Surface Electrostimulation Electrodes. In: Akay M, ed. Wiley Encyclopedia of Biomedical Engineering. 1st ed. Indianapolis, USA: Wiley; 2006. p. 4152. 5. Bolfe VJ, Guirro RRJ. Resistência elétrica dos géis e líquidos utilizados em eletroterapia no acoplamento eletrodo-pele. Rev Bras Fisioter 2009;13(6):499–505. 6. Ward AR. Electode coupling media for transcutaneous electrical nerve stimulation. Aust J Physiother 1984;30(3):82–5. 7. Robinson AJ, Snyder-Mackler L. Clinical Electrophysiology: Electrotherapy and Electrophysiologic Testing. 1st ed. Pennsylvania, USA: Lippincott Williams & Wilkins; 2007. p. 555. 8. Grosse D, Sengler A. Reeducação perineal. 1a ed. São Paulo: Manole; 2002. p. 146. 9. Palma P. Uroisioterapia: Aplicações clínicas das técnicas isioterapêuticas nas disfunções miccionais e do assoalho pélvico. 1a edição. Palma PCR, editor. Campinas, São Paulo: Personal Link Comunicações; 2009. p. 524. 10. Gerleman DG, Barr JO. Instrumentação e segurança do produto. In: Nelson R, Hayes K, Currier D, eds. Eletroterapia Clínica. 3a ed. São Paulo: Manole; 2003. p. 15–53. 11. Olson W. Electrical safety. In: Webster J, editor. Medical Instrumentation Applications and Design. 1st ed. Boston, EUA: Houghton Milin; 1978. p.667–707.

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Artigo 28 Associação da hipertensão arterial com as medidas antropométricas em mulheres assistidas no programa Hiperdia Association of hypertension with anthropometric parameters in women assisted by the Hiperdia program Iza Neves de Araújo Nascimento*, Iara Medeiros de Araújo**, Maria Elma Souza Maciel Soares***, Neir Antunes Paes**** *Docente de Fisioterapia do UNIPÊ/JP, **Doutoranda de Ciências da Saúde da UFRN, ***Docente de Fisioterapia do UNIPÊ, ****Docente da UFPB

Resumo

Abstract

Introdução: A hipertensão atualmente é considerada um dos maiores problemas da Saúde Pública no Brasil e no mundo. Fatores genéticos, ambientais e comportamentais, estão intimamente ligados a sua evolução. Entre eles, a obesidade tem sido investigada pelos pesquisadores como um indicador de risco a hipertensão. Objetivo: O presente trabalho procurou investigar a associação da hipertensão arterial com as medidas antropométricas em mulheres no programa Hiperdia. Metodologia: A amostra constou de 270 hipertensas cadastradas residentes no município João Pessoa/PB no período de 2011. As medidas antropométricas aferidas foram: peso, altura, circunferência da cintura, circunferência do quadril, IMC, RCQ. Considerou-se a pressão arterial como variável dependente. Os dados foram coletados através de entrevistas, processados e analisados pelo programa SPSS versão 13.0. Utilizou um modelo de regressão logística dos indicadores de obesidade com a pressão arterial e nível de signiicância p 88 cm. Para identiicação do tipo de distribuição de gordura segundo a RCQ (relação cintura/quadril), utilizaram-se níveis de corte para risco de doenças cardiovasculares, acima do recomendado, o gênero feminino ≥ 0,85. A classiicação da medida da pressão arterial foi segundo a OMS: indivíduos com pressão arterial sistólica (PAS) menor que 120 mmHg e pressão arterial diastólica (PAD) menor que 80 mmHg – normal; (PAS) 120-139 mmHg e (PAD) 80-89 mmHg - pré-hipertensão; acima desses valores denotam Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) [11]. Foram realizadas duas aferições da pressão arterial no inicio da entrevista com as pessoas sentadas, sendo repetido após cinco minutos de repouso e admitido a média dessas medidas. A aferição da PA em mmHg foi obtida com um esignomanômetro com coluna de mercúrio, modelo DS44 e marca Welch Allyn. Os aparelhos foram aferidos periodicamente para comprovação da precisão. Os dados foram processados e analisados pelo programa SPSS versão 13.0. A associação entre os diferentes índices an-

tropométricos e a prevalência de hipertensão arterial sistêmica foi analisada através de regressão logística. Este estudo seguiu a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisa envolvendo seres humanos [12], incluindo e garantindo o sigilo das informações, privacidade e seu consentimento livre e esclarecido. Foi apresentado e aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina Nova Esperança, em sua 8a Reunião Extraordinária realizada em 10/09/2009, protocolo CEP FACENE/FAMENE 174/2009, CAAE n.5001.0.000.351-09.

Resultados Foram entrevistadas 270 mulheres com idade média de 58,64 ± 13,85. Foram encontradas informações importantes sobre hipertensão e obesidade, tendo em vista, ser o sexo feminino considerado mais presente nos consultórios médicos e por cuidar mais da saúde em relação ao sexo masculino. É possível observar que valores médios da idade, IMC, RCQ, CC e PA apresentaram dados acima do considerado normal. Ao analisar as informações relativas aos antecedentes cardiovasculares familiar e a falta de atividade física, observa-se um percentual elevado, compatível ao aumento da pressão arterial das mulheres pesquisadas como mostra a Tabela I. Tabela I - Médias, desvio-padrão, número e percentagem das variáveis selecionadas das mulheres, João Pessoa/PB 2011. Características Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) IMC (kg/m2) Razão Cintura-quadril Circunferência da cintura (cm) Antecedente cardiovascular (n e %) Escolaridade < 5 anos (n e %) Não pratica atividade física (n e %) PAS (mmHg) PAD (mmHG) HAS (maior ou igual 130/90) (n e %)

Mulheres (n = 270) 58,64 ± 13,85 68,75 ±14,45 151,9 ± 6,67 29,7 ± 5,78 0,96 ± 0,07 98,98 ± 12,2 151 (60,2) 166 (66,4) 172 (69,1) 143 ± 23,5 85,8 ± 14,0 207 (69,1)

IMC = Índice de massa corporal; PAS = Pressão arterial sistólica; PAD – Pressão arterial diastólica; HAS = Hipertensão arterial sistêmica.

Dados da Tabela II, a seguir, mostram a associação dos indicadores de obesidade com a pressão e idade das mulheres.

Tabela II - Diferença entre as Médias, Desvio-Padrão das variáveis antropométricas e a pressão arterial e a prevalência do peso e a idade entre as mulheres. João Pessoa/PB 2011.

PAS (mmHg) PAD (mmHG) HAS (%) Idade (anos)

IMC (≥ 26) 144 ± 23* 87 ± 14* 81,6* 58,1 ± 13,4*

(kg/m2) (< 25) 140 ± 22 81 ± 13 18,4 60,2 ± 15,2

Cintura/Quadril (≥ 0,80) (< 80) 144 ± 23* 141 ± 30 86 ± 14* 83 ± 14 81,9* 18,1 59,3 ± 13,8* 50,3 ± 13,1

Cintura (≥ 90) (< 90) 144 ± 23* 137 ± 33 86 ± 14* 77 ± 13 81,9* 18,1 58,6 ± 13,8* 59,2 ± 13,4

IMC = Índice de massa corporal; PAS = Pressão arterial sistólica; PAD = Pressão arterial diastólica; HAS = Hipertensão arterial sistêmica; * p < 0,05.

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Nota-se elevada associação entre o IMC, RCQ, CC com a hipertensão arterial. Em se tratando de chances de acometimento da presença da hipertensão, a Tabela III identiica o risco relativo estimado da hipertensão arterial associado às medidas antropométricas das mulheres. Na análise, o Índice de massa corpórea aumentou em 4,23 vezes a chance de hipertensão arterial, o mesmo acontecendo com a razão cintura e quadril com 4,27. Para a cintura, as chances aumentaram 10,51. Tabela III - Risco relativo estimado de hipertensão arterial associado às medidas antropométricas das mulheres. João Pessoa/PB 2009.

IMC RCQ Cintura

Hipertensão arterial Beta P Exp B (IC) 1,442 0,001 4,23 ( 2,12 - 12,26) 1,453 0,002 4,27 (1,65 - 14,58) 2,353 0,001 10,51 (2,39 - 54,59)

IMC = Índice de massa corporal; RCQ = Relação cintura/quadril.

Discussão O presente estudo permitiu avaliar o controle da hipertensão e obesidade das usuárias cadastradas nos serviços primários de saúde no município de João Pessoa. Sabendo-se da extrema importância do reconhecimento de que hipertensão apresenta-se como uma das principais doenças mais prevalentes no Brasil, a obesidade torna-se um fator mais relevante para sua evolução, principalmente por conter características padrão como ausência de sintomatologia e cronicidade, diicultando o tratamento o mais prévio possível. Trabalhos consideram que características como idade avançada, gênero feminino, nível de escolaridade baixo e falta de atividade física contribuem para o aumento da hipertensão arterial [13-15]. O presente estudo identiicou diferenças entre as médias e desvio padrão dos valores antropométricos e a hipertensão nas mulheres com aumento de peso estatisticamente signiicante. Consumo exagerado de alimentos calóricos, fatores psicológicos (estresse, depressão, ansiedade, insônia, solidão, ociosidade) também tem contribuído para elevação da Pressão arterial [16,17]. As medidas do IMC, RCQ e a circunferência da cintura permitiram avaliar a real magnitude da associação com a hipertensão. O risco relativo mostrou-se como uma estimativa negativa para aumentos pressóricos. Estudos airmam a importância da análise da circunferência abdominal aumentada, CC e IMC com a PA, pois sua associação representa risco para agravos coronarianos [18-22]. Diante dos resultados, puderam-se perceber fragilidades na dinâmica proposta pelo Hiperdia. Fornecimento da medicação e orientação proissional acerca de hábitos saudáveis não estão apresentando valores satisfatórios para o controle da hipertensão. Não se esquecendo de avaliar na

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usuária do serviço questões relativas sobre as diiculdades do controle. Estudos longitudinais são sugestivos para avaliar com mais clareza tais parâmetros assistenciais.

Conclusão As medidas antropométricas apresentaram alta associação com a pressão arterial sistêmica, onde os indicadores de obesidade, entre eles: índice de massa corporal, relação cintura/ quadril e circunferência da cintura alterada podem favorecer um aumento do risco para as doenças cardiovasculares, o que sugere um maior envolvimento das autoridades acerca deste agravo e um maior incentivo aos pesquisadores no desenvolvimento de estudos que visem à compreensão e melhoria da saúde pública, especialmente no combate a hipertensão e a obesidade. Apesar dos programas oriundos do Ministério da Saúde proporcionar acesso as medicações especiicam para o controle da PA, as formas executadas pelas equipes de saúde demonstram a necessidade de discutir melhorias no atendimento a esta população. Valores como observação e escuta do público assistido para este agravo deve produzir melhorias no atendimento e na avaliação do tratamento previsto.

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Artigo 29 Avaliação isioterapêutica do comportamento ventilatório de parturientes durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto Physiotherapeutic evaluation of ventilatory behavior of pregnant women during active expansion phase of labor hâmara Pequeno de Paiva*, Emília Sampaio Rocha, Ft.**, Gabriela Brasileiro Campos Mota, M.Sc.***, Marília Sampaio Rocha Campos de Souza, Esp.****, João Paulo Campos de Souza, M.Sc.*****, Edilânia Cristina Féliz de Souza, Ft.**, Italo Morais Torres, Esp.****** *Discente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciência Médicas (FCM), **Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), ***Docente do Curso de Fisioterapia e coordenadora da Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia na Saúde da Mulher da Faculdade de Ciências Médicas, Doutoranda em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande, Coordenadora do PRASM, ****Fisioterapeuta Especialista em Dermato-Funcional pela Gama Filho, *****Docente do Curso de Fisioterapia e coordenador da Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia em Traumo-ortopédica funcional e desportiva da Faculdade de Ciências Médicas, Doutorando em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande, ******Mestrando em Saúde Materno-Infantil do IMIP

Resumo

Abstract

O trabalho de parto inicia-se com o período de dilatação, com ele uma série de alterações podem ocasionar disfunções cardio-respiratórias maternas e comprometimento da circulação útero-placentária, o que pode favorecer o sofrimento fetal. Avaliar o comportamento ventilatório durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto, traçar o peril sócio demográico e avaliar a saturação de oxigênio (SaO2) através da oximetria de pulso. A população foi composta por 21 parturientes na fase ativa do trabalho de parto admitidas no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA) - Campina Grande/ PB, no período de abril a maio de 2012. Estas foram avaliadas através do Protocolo de Avaliação Cinético-Funcional no Trabalho de Parto, durante toda a fase ativa, sendo realizado o exame físico a cada hora, até o início da fase expulsiva. O peril sócio-demográico teve índice elevado de gravidez na adolescência, baixo nível de escolaridade e famílias uniparentais. Ocorreu discreta diminuição da SaO2, aumento da frequência cardíaca (FC) e frequência respiratória (FR) materna e diminuição da frequência cardíaca fetal (FCF). O conhecimento do comportamento ventilatório durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto permite uma melhor compreensão da funcionalidade do sistema respiratório nesta fase.

Labor begins with the period of dilation, with it a number of changes can cause cardio-respiratory dysfunction and impaired maternal uteroplacental circulation, which can lead to fetal distress. To assess the ventilatory behavior during the dilation phase of active labor, socio demographic proil and evaluating oxygen saturation (SaO2) by pulse oximetry. he population consisted of 21 pregnant women in the active phase of labor admitted to the Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA) - Campina Grande/ PB in the period April-May 2012. hese were assessed using the Assessment Protocol Functional Kinetic-in Labor, throughout the active phase, and a physical examination performed every hour, until the early expulsive phase. he socio-demographic proile had high rate of teenage pregnancy, low educational level and single-parent families. here was a slight decrease in SaO2, increased heart rate (HR), respiratory rate (RR) reduction of maternal and fetal heart rate (FHR). Knowledge of ventilatory behavior during the active phase of dilatation of labor allows better understanding of the functionality of the respiratory system at this stage. Key-words: childbirth, physical therapy, ventilation.

Palavras-chave: parto, isioterapia, ventilação.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47, Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail: [email protected]

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Introdução Durante a evolução do ciclo grávido-puerperal, são inúmeras as alterações e adaptações anatômicas, isiológicas e bioquímicas que se realizam para a perfeita interação entre a formação do embrião e o desenvolvimento do feto e, o relacionamento isiológico dos mesmos, com o organismo materno que os mantêm. Essas trocas funcionais iniciam-se com a fertilização do ovócito materno, interagem durante toda a gravidez, desaparecendo de forma quase completa após o término da lactação. O organismo da mulher desenvolve, com a fecundação e a implantação do ovo durante todo o ciclo, uma verdadeira síndrome de adaptação e regulação circulatória e metabólica funcional, através de modiicações gerais e locais, para prover o relacionamento harmônico, anatômico, imunológico e funcional com o alo-enxerto embrionário em desenvolvimento e, mesmo até a sua completa expulsão da cavidade uterina ao se ultimar o parto [1]. O ciclo grávido-puerperal normal compreende três fases: a primeira evolutiva representada pela gestação, a segunda é a resolutiva através do trabalho de parto ou expulsão fetal e de seus anexos e, inalmente, a última é representada pelo puerpério ou fase involutiva, durando até o retorno às condições maternas pré-gravídicas [2]. Durante a gestação ocorrem modiicações isiológicas que envolvem todos os sistemas temporariamente. Tais alterações são suicientes para criar situações biológicas, corporais, mentais e sociais que devem ser diferenciadas entre achados normais e patológicos, que necessitam ser diagnosticados e tratados durante a gravidez [3]. As alterações anatômicas do sistema respiratório durante a gravidez, provocadas pelo crescimento uterino em direção cranial, alteram a posição de repouso do diafragma e a coniguração da caixa torácica. Mecanismos bioquímicos e mecânicos promovem alterações isiológicas, no sistema respiratório da mulher, induzidas pela gravidez. Estas alterações visam promover maior aporte de nutrientes e de oxigênio ao embrião/feto [4]. O oxigênio (O2) é transportado combinado à hemoglobina e dissolvido no plasma sanguíneo. Na curva de dissociação da hemoglobina, ocorre um aumento da porcentagem da saturação à medida que o O2 se combina com a hemoglobina. Esse percentual é conhecido como percentual de saturação da hemoglobina ou, simplesmente, saturação de O2 (SaO2) [5]. A ainidade da hemoglobina pelo oxigênio e um fenômeno dinâmico que pode ser afetado por diversos mecanismos levando a alterações da saturação e da liberação do oxigênio nos tecidos [6]. A oximetria de pulso é reconhecida como um método preciso, simples e não invasivo de avaliar a saturação de oxigênio (SaO2), tida por isso como um dos maiores avanços médicos em monitorização da função respiratória, dada a simplicidade e coniança de como este método a determina,

muitos já contam a SaO2 como quinto sinal vital e um indicador clinicamente signiicativo da oxigenação dos doentes [7]. A isioterapia obstétrica é a mais nova área da saúde disponível para as mulheres que querem se preparar para uma gestação e pós-parto saudáveis. Possui como objetivo cuidar do corpo da mulher, que sofre transformações isiológicas, estruturais e emocionais durante os nove meses oferecendo uma melhor qualidade de vida nesse período tão importante na vida da mulher [8]. Com a escassez de textos e estudos sobre o tema parturientes e os desconfortos ventilatórios, surge à necessidade de maiores informações, pelo motivo desta etapa ser importantíssima na vida de uma mulher e serem inúmeras as dúvidas clínicas, tanto teóricas quanto práticas. É notório, portanto, que com a chegada do momento do parto, o organismo materno sofre alterações para dar condições favoráveis de desenvolvimento ao bebê. E, dentre estas condições pode-se destacar a elevação do diafragma, o que reduz sua capacidade de ação/contração, ocasionando desconfortos ventilatórios. Apesar de a respiração ser uma atividade normalmente involuntária, que varia dependendo da tarefa que se esteja realizando ou até mesmo em repouso, ela pode ser uma ferramenta voluntária podendo ser utilizada de forma consciente na melhora do padrão ventilatório, e consequentemente na SaO2. Além de promover o acompanhamento isioterapêutico da parturiente nessa hora tão dolorosa, mas tão grandiosa, que é o nascimento de um ser que a habitou durante semanas, tem-se a possibilidade de discutir os desconfortos ventilatórios, e sua repercussão sobre a saturação de oxigênio, vivenciados pela parturiente na fase de dilatação ativa do trabalho de parto. Portanto, pretendendo-se contribuir com as pesquisas voltadas para a assistência obstétrica no trabalho de parto, o presente trabalho possui como objetivo geral: avaliar funcionalmente o comportamento ventilatório de parturientes durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto e como objetivos especíicos: traçar o peril sócio-demográico e obstétrico das parturientes pesquisadas, avaliar a SaO2 através da oximetria de pulso durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto e avaliar comparativamente a dor durante o trabalho de parto e as repercussões ventilatórias.

Material e métodos A pesquisa foi realizada nas dependências do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), localizado na cidade de Campina Grande – PB, durante o período de abril a maio de 2012. A população selecionada para este estudo foi composta por parturientes na fase ativa do trabalho de parto, admitidas no ISEA, onde estas receberam os devidos esclarecimentos sobre a inalidade e o trajeto metodológico que o estudo visou seguir. A amostra foi do tipo não-probabilística e por acessibilidade, composta por 21 gestantes, que aceitaram participar da pesquisa.

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Os critérios de inclusão do presente estudo foram: parturientes admitidas no serviço no período da coleta de dados, na fase ativa do trabalho de parto, de baixo risco, com idade gestacional entre 38 e 42 semanas, e que aceitaram constituir a amostra. Foram adotados como critério de exclusão: gestantes com estado clínico que direta ou indiretamente diicultasse ou contra-indicasse a avaliação proposta e histórico de doença cardiopulmonar. Para coleta de dados foram utilizados como instrumentos o Protocolo de Avaliação Cinético-Funcional no Trabalho de Parto, para obtenção dos dados pertinentes a pesquisa, estetoscópio marca Premium e esigmomanômetro da marca Becton Dickinson para mensuração da pressão arterial, oxímetro de pulso marca DigitTM para veriicação da SaO2 e FC. O projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro de Ensino Superior e Desenvolvimento – CESED. Após aprovado, autorizado e obtendo parecer sob CAAE 00709212.0.0000.5175 a pesquisa foi iniciada. As gestantes admitidas no ISEA que atenderam aos critérios de inclusão do presente estudo foram esclarecidas quanto aos objetivos, importância e procedimentos da pesquisa, e mediante aceitação foram solicitadas a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo garantida a participação voluntária, sem danos e prejuízos, o sigilo, o anonimato e a privacidade dos dados dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Em seguida, a parturiente foi avaliada através do Protocolo de Avaliação Cinético-Funcional no Trabalho de Parto, durante toda a fase ativa do trabalho de parto, sendo sequencialmente realizado o exame físico destas a cada hora, até o início da fase expulsiva, por meio do protocolo proposto, a partir do qual foram coletadas as informações pertinentes aos objetivos do estudo. Para mensuração dos parâmetros de avaliação do exame físico, PA, FC, FR, SaO2 mensuração da altura de fundo de útero, circunferência abdominal, Manobra de Leopold e FCF as gestantes foram posicionadas adequadamente em decúbito dorsal e decúbito lateral esquerdo, respeitando a vontade da gestante no momento da avaliação. Tais mensurações foram realizadas no intervalo entre as contrações uterinas, bem como, durante essas contrações. Os resultados foram apresentados através da análise descritiva de números absolutos e percentuais, aplicando e apresentando-os por meio de tabelas e gráicos.

Resultados e discussão Este capítulo apresenta os resultados e as discussões dos dados da pesquisa, distribuídos e dispostos por meio de gráicos e tabelas, ressaltando o peril sócio demográico, o peril gineco-obstétrico, e o comportamento ventilatório durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto das gestantes atendidas no ISEA, onde os respectivos dados foram coletados.

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Perfil sócio-demográfico Através da identiicação das gestantes em estudo, pôde-se analisar o peril sócio-demográico das mesmas, apresentado na Tabela I. Tabela I - Peril Sócio-demográico das parturientes avaliadas. Variável

Frequência Absoluta (N)

Frequência Relativa (%)

15 |—| 20

6

28,57%

21 |—| 26

9

42,85%

27 |—| 32

4

19,05%

33 |—| 38 Estado civil Casadas Solteiras Ocupação/Proissão Do lar Estudante Outros Grau de Instrução Ensino F. incompleto Ensino F. completo Ensino M. incompleto Ensino Médio completo Procedência Campina Grande Munic. circuvizinhos

2

9,53%

8 13

38,09% 61,91%

16 1 4

76,19% 4,76% 19,05%

12 3 2 4

57,15% 14,28% 9,52% 19,05%

9 12

42,85% 57,15%

Idade

Fonte: Dados da Pesquisa, 2012.

Em relação à idade das gestantes, foi possível analisar que 28,57% da amostra inserem-se na faixa etária entre 15 a 20 anos, 42,85% entre 21 e 26 anos, 19,05% entre 27 a 32 anos e com mais de 33 anos de idade 9,53% (Tabela I). Desta forma, pode-se observar uma predominância de gestantes com idade entre 21 e 26 anos que participaram da amostra da pesquisa. No entanto, outro dado relevante refere-se à alta porcentagem de mulheres com idade inferior a 20 anos, em relação às demais faixas etárias, o que sugere um índice signiicativo de gravidez na adolescência. A gravidez na adolescência tem sérias implicações biológicas, familiares, emocionais e econômicas, além das jurídico-sociais, que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade, limitando ou mesmo adiando as possibilidades de desenvolvimento e engajamento dessas jovens na sociedade [9]. Para Silva [10] a gestação nessa fase da vida pode trazer repercussões de ordem variável, com complicações para a mãe e ilho; pode ocorrer hipertensão especíica da gravidez, anemia, sofrimento fetal crônico, desproporção entre o tamanho do feto e a bacia materna, parto prematuro e cesárea. Existem evidências de que a gestação nesse período interrompe o crescimento pessoal e proissional da jovem e de seu parceiro.

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Dados sobre a gravidez na adolescência vêm mostrando um aumento na taxa de fecundidade para esta população quando comparada a mulheres adultas, especialmente nos países mais pobres, como é o caso da América Latina. A gravidez nesse momento da vida oferece implicações no desenvolvimento tanto para o adolescente quanto para aqueles envolvidos nessa situação, como: pais, avós, tios, irmãos. A literatura tem tratado a gravidez na adolescência como um problema de saúde pública, especialmente pelo fato de propiciar riscos para o desenvolvimento da criança gerada e para a própria adolescente gestante [11]. O aumento da gravidez na adolescência em países em desenvolvimento como o Brasil tem despertado o interesse de pesquisadores e proissionais de saúde, tendo em vista a associação desse evento com pobreza, baixa escolaridade e piores resultados perinatais. O assunto é polêmico, e discute-se a possibilidade de que os efeitos de um pré-natal inadequado nesse grupo sejam mais pronunciados porque a gravidez na adolescência é um fenômeno muito mais presente nas jovens de grupos sociais excluídos, frequentemente desprovidas do apoio da família, do pai do bebê e da sociedade. É preciso, pois, orientar as adolescentes sobre o signiicado da gravidez e o momento de planejá-la. Diante da necessidade de intervenção para redução da gravidez na adolescência, os proissionais devem adotar ações educativas para mudar esta realidade [12]. No que se refere ao estado civil, os resultados mostram que 61,91% das gestantes que compuseram a amostra são solteiras e 38,09%, são casadas, demonstrando ainda um alto índice de ausência de companheiro durante a evolução da gravidez (TABELA I). Estes dados corroboram com os estudos de Ribeiro et al [13] que mostram que a proporção de gestantes sem um companheiro estável atualmente é crescente, o que pode tornar a gestação pouco aceita socialmente e diicultar a evolução da gestação e até mesmo a aceitação da futura mãe à nova condição, podendo ser um fator desfavorável a saúde materno-fetal. Constata-se, nas sociedades ocidentais, um número cada vez maior de famílias uniparentais, que tem, na maioria dos casos, a mãe como progenitor responsável. Tal fato pode ser explicado em função dos altos índices de divórcio e da opção de mulheres por terem um ilho enquanto solteiras. Aproximadamente 25% dos lares brasileiros estão sob a responsabilidade de mulheres, sendo estas solteiras, separadas, divorciadas ou viúvas. Independente das razões, a mudança que deixa a família a cargo de um só progenitor constitui um signiicativo reordenamento do sistema familiar [1]. Os dados obtidos, e expressos na Tabela 4.1 mostram, quanto à proissão/ocupação, que 76,19% das mulheres da amostra são do lar, 4,76% são estudantes e 19,05% outros. Bem como, em relação ao grau de instrução, 57,15% apresentam ensino fundamental incompleto, 14,28% ensino fundamental completo, 9,52% ensino médio incompleto e 19,05% ensino médio completo, não sendo referido o ensino superior.

Analisando comparativamente os resultados supracitados, estes sugerem um baixo nível de escolaridade associado a uma alta taxa de evasão escolar. Este fato, segundo Oliveira [14], justiica-se, devido à gestação favorecer fatores como a vergonha e o preconceito, os quais inluenciam a adolescente a deixar de frequentar a escola, ato que após o nascimento do bebê é justiicado pela necessidade de trabalho para o sustento do ilho, uma vez que, em geral, a paternidade não é assumida, e quando é, submetem pai e mãe ao abandono escolar e ingresso no mercado informal e mal remunerado. A dedicação total que exige um bebê leva muitas mulheres a deixarem a escola, e até mesmo não retornarem às atividades escolares após o nascimento do bebê, ou seja, ocorre a evasão escolar como consequência da gravidez. Embora existam leis e respaldos legais que garantam o direito à amamentação, ainda há ineiciência da escola em relação a esse novo ritmo de vida da adolescente. Muitas não se sentem à vontade e nem motivadas a continuar os estudos [15]. Já em relação à procedência 42,85% residem em Campina Grande enquanto que 57,15% em cidades circunvizinhas (TABELA I), o que demonstra a importância da maternidade pública da cidade como referência também para parturientes de cidades próximas que não apresentam tal serviço.

Comportamento ventilatório durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto Com base nos dados obtidos nesta pesquisa, o Gráico 1 apresenta os valores médios referentes à Frequência Respiratória (FR) Materna, fora e durante as contrações no decorrer das avaliações realizadas durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto. Gráico 1 - Frequência Respiratória Materna apresentada pelas parturientes no decorrer das avaliações, fora e durante as contrações. FR (ipm)

162

30 27 24 21 18 15 12

26,26 19,6

18

18

17,26

17



2ª 3ª Avaliações Fora Durante

20,73

16,13 4ª

Os dados referentes a FR materna na primeira avaliação fora da contração mostram uma média de 18irpm, na segunda avaliação 18 irpm, na terceira avaliação 19,6irpm e na quarta avaliação uma média de 26,26 irpm. Já em relação à FR durante a contração, a média na primeira avaliação foi de 17,26 irpm, na segunda de 17irpm, na terceira 16,13irpm e a média na quarta avaliação foi de 20,73 irpm (Gráico 1). Os resultados demonstram que a FR materna aumentou no decorrer das avaliações ao longo da fase de dilatação ativa, tanto fora quanto durante as contrações. Porém, analisando compa-

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rativamente, essa hiperventilação ocorreu mais evidentemente fora da contração, com uma diferença média de 5,53irpm ao inal da fase, o que pode ser explicado pela realização de apnéias durante a contração uterina, em detrimento da dor, bem como, devido ao ínicio do puxo e relexo de Ferguson, ao inal da fase de dilatação ativa e início da fase expulsiva. Os dados corroboram com Carli et al. [16] ao veriicar em seus estudos que o estímulo doloroso durante o trabalho de parto leva a repercussões no binômio materno-fetal, como hiperventilação materna e consequente aumento do consumo de oxigênio pela mãe, além de diminuição do luxo sanguíneo útero-placentário e períodos de apnéia materna associados à hipóxia do binômio e, com aumento da ainidade da hemoglobina pelo oxigênio. A hiperventilação acentuada pela dor durante o trabalho de parto determina alcalose respiratória, o que reduz o luxo sanguíneo uterino e desvia a curva de dissociação da hemoglobina para a esquerda, fatores que contribuem para hipoxemia fetal [17]. O Gráico 2 apresenta os valores médios referentes à Saturação de Oxigênio (SaO2) Materna, fora e durante as contrações no decorrer das avaliações realizadas durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto.

Destarte, é possível observar, ainda, através de análise comparativa, que o comportamento da SaO2 tende a ser menor durante a contração (0,6%), ao longo da fase de dilatação ativa do trabalho de parto, do que fora da contração. Machado, Machado e Zin [4] explicam que durante o trabalho de parto pode ocorrer um aumento acentuado da ventilação minuto de até 300%, de maneira voluntária (como método de autocontrole da dor e relaxamento) e involuntária (em resposta a dor e a ansiedade). A hiperventilação resulta em hipocapnia e alcalose respiratória. Provoca também desvio para a esquerda na curva de dissociação de oxigênio que propicia aumento da ainidade de hemoglobina pelo oxigênio e menor oxigenação materna. Após os episódios de hiperventilação, podem sobrevir períodos de hipoventilação com retorno ao normal de taxas de PaCO2. O Gráico 3 apresenta os valores médios referentes à Frequência Cardíaca (FC) Materna, fora e durante as contrações no decorrer das avaliações realizadas durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto. Gráico 3 - Frequência Cardíaca Materna apresentada pelas gestantes no decorrer das avaliações, fora e durante as contrações. 106

SaO2 (%)

97,5 97 96,5

96,93

96,93

96,66

94

90,13

90 89,66 1ª

96,66 96,4 2ª 3ª Avaliações Fora Durante



Em relação ao comportamento da SaO2 nas parturientes avaliadas, os resultados mostraram valor médio de 96,66% na primeira avaliação fora da contração, na segunda avaliação 96,66%, na terceira avaliação 96,4% e na quarta avaliação média de 97%. Já em relação à SaO2 durante a contração, a média na primeira avaliação foi de 96,93%, na segunda de 96,93%, na terceira 96% e a média na quarta avaliação foi de 97% (Gráico 2). Baseado nos dados obtidos após análise, veriicou-se que os percentuais de saturação no decorrer das avaliações, tanto durante quanto fora das contrações, apresentaram discretas alterações. Durante as avaliações foi observado que as gestantes variam sua ventilação minuto, com certos momentos de hipoventilação e em outros com hiperventilação, porém a saturação permanece constante e dentro dos parâmetros de normalidade. De acordo com Carrara [18] os valores normais para a saturação de oxigênio se encontram entre 95% e 100%.

102,93

99,13

85,73 88,06

82

96 1ª

101,93

100,33

98

86 96,4

96 95,5

97

FC (bpm)

102

Gráico 2 - Saturação de Oxigênio Materna apresentada pelas parturientes no decorrer das avaliações, fora e durante as contrações.

163

2ª 3ª Avaliações Fora Durante



No que se refere a FC materna fora da contração observou-se na primeira avaliação uma média de 89,66 bpm, na segunda avaliação 90,13 bpm, na terceira avaliação 85,73bpm e na quarta avaliação uma média de 88,06 bpm. Já em relação à FC durante a contração, a média na primeira avaliação foi de 100,33bpm, na segunda de 99,13bpm, na terceira 101,93bpm e a média na quarta avaliação foi de 102,93bpm (Gráico 3). Os resultados encontrados estabelecem que durante as contrações ocorreu um aumento signiicativo da FC em comparação com a FC fora da contração. Observou-se que em vários momentos, durante a contração, conigurou-se taquicardia nas parturientes. Com relação ao sistema cardiovascular, então, ocorre um estado hiperdinâmico no organismo materno, com aumento do volume de sangue, na água corpórea total e no sódio, devido à elevação de concentração de estrogênio e decorrente retenção daqueles. Isso gera um débito cardíaco em torno de 30% maior, com maior volume de ejeção e posterior aumento de frequência cardíaca [19]. Nas mulheres grávidas, por razões isiológicas, a frequência cardíaca aumenta em média cerca de 15 batimentos/minuto

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(bpm) (ou aproximadamente 20% acima da frequência cardíaca basal), atingindo seu máximo a partir da 32ª semana, até o inal da gestação. Já durante o trabalho de parto, as contrações uterinas, ocasionam alterações da FC materna durante e na ausência de contrações uterinas [20]. A mais importante modiicação funcional sobre o sistema cardio-circulatório produzida durante o trabalho de parto é, sem dúvida, o signiicativo aumento do débito cardíaco. A elevação do débito cardíaco deve-se a um aumento conjunto da frequência cardíaca e do volume sistólico. Cada contração uterina eleva o débito em torno de 10 - 25%. Durante o trabalho de parto ocorre aumento do débito em torno de 30% durante a fase ativa e 45% no período expulsivo, quando comparado aos valores iniciais [21]. Com base nos dados obtidos nesta pesquisa, o Gráico 4 apresenta os valores médios referentes à Frequência Cardíaca Fetal (FCF), fora e durante as contrações no decorrer das avaliações realizadas durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto. Gráico 4 - Frequência Cardíaca Fetal apresentada no decorrer das avaliações, fora e durante as contrações. 141

139

138,66

BCF (bpm)

139 137

133,86

135 131 129

132,13

135,33

133 130,2 1ª

132,8 2ª 3ª Avaliações Fora Durante

131,33 4ª

com as avaliações posteriores identiicou-se uma diminuição progressiva. Segundo Ralph [23], isso ocorre devido a diminuição da oxigenação fetal que se inicia e o feto começa uma taquicardia compensatória a im de continuar a perfundir os tecidos. É uma fase muito rápida e difícil de ser percebida porque, como a hipóxia continua, o achado seguinte passa a ser uma queda da FCF. Durante o trabalho de parto a monitorização da FCF deve ser feita de forma intermitente, antes, durante e por pelo menos 30 segundos após a contração. É considerado sinal de alarme valores de FCF, entre as contrações, inferiores a l00bpm e taquicardia (FCF > l60bpm) durante três ou mais contrações [24]. De acordo com Misodor [25] o sofrimento fetal agudo é uma injuria fetal que ocorre durante o trabalho de parto. Tem como principais alterações bioquímicas: a hipoxia, a acidose e a hipercapnia. Qualquer fator que interira nas trocas metabólicas materno-fetais pode virar uma causa de sofrimento fetal agudo. Na maioria dos casos isso acontece durante o trabalho de parto, quando as mudanças anatômicas e isiológicas acabam inluenciando negativamente as circulações uteroplacentária e fetoplacentaria. O acompanhamento da FCF é um bom teste para acompanhar um possível sofrimento fetal, principalmente através da cardiotocograia (CTG) [23], uma vez que, de acordo com [24] a CTG permite o registro contínuo e simultâneo da FCF, contratilidade uterina e movimentação fetal, no período anteparto ou intra-parto, podendo ser de repouso ou de esforço. Assim, possibilita a avaliação da integridade dos mecanismos do sistema nervoso central (SNC) envolvidos no controle da FC e da cinética fetal.

Conclusão Os resultados mostram para a FCF, na primeira avaliação fora da contração uma média de 139 bpm, na segunda avaliação 138,66 bpm, na terceira avaliação 133,86 bpm e na quarta avaliação uma média de 132,13 bpm. Já em relação à FCF durante a contração, a média na primeira avaliação foi de 130,2 bpm, na segunda de 135,33 bpm, na terceira 132,8 bpm e a média na quarta avaliação foi de 131,33 bpm (Gráico 4). Analisando o gráico pode-se observar que ocorreu uma diminuição dos batimentos cardio-fetais nas avaliações ao longo da fase de dilatação ativa do trabalho de parto, tanto fora quanto durante as contrações. No entanto, durante a contração uterina estes parâmetros de avaliação fetal se mostraram inferiores quando comparados ao período de ausência de contração, com maior e signiicativa diferença no ínicio da fase (8,8bpm) do que no inal (0,8 bpm), possivelmente explicada devido a evolução da dinâmica das metrossístoles. Porém, os valores obtidos, mesmo com a involução, encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade (120 – 160 bpm), segundo Ranciaro e Mauad Filho [22]. Observou-se também que durante a contração, na 2ª avaliação, ocorreu um aumento da FCF em relação a 1ª, e

O ciclo gravídico-puerperal compreende três fases, dentre elas, o trabalho de parto. Essa fase é marcada pelas contrações uterinas dolorosas e pela alteração cervical, que evidencia o início do período de dilatação, e com ele uma série de alterações isiológicas, envolvendo diversos aparelhos e sistemas, destacando-se o respiratório. Tais alterações podem ocasionar disfunção cardiorrespiratória materna, bem como, o comprometimento da circulação útero-placentária, o que pode favorecer o sofrimento fetal. Nesta perspectiva, avaliar adequadamente e conhecer os parâmetros de vitalidade, durante o trabalho de parto, fornecem subsídios para a atuação da isioterapia nesse período na busca da minimização dos transtornos e consequente saúde materno-fetal. De acordo com os resultados obtidos, o peril sócio-demográico caracteriza-se com um elevado índice de gravidez na adolescência, baixo nível de escolaridade e famílias uniparentais. Esses fatores possivelmente causam sérias implicações biológicas, familiares, emocionais e econômicas; fazendo com que a gestante abandone a escola, com vergonha da sociedade e/ou por falta de um parceiro. Com relação ao comportamento

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ventilatório e a SaO2, foi possível observar que ocorreu uma discreta diminuição da SaO2, aumento da FC e FR materna e diminuição da FCF, ao longo da fase de dilatação ativa. O conhecimento do comportamento ventilatório durante a fase de dilatação ativa do trabalho de parto permite uma melhor compreensão da funcionalidade do sistema respiratório nesta fase, possibilitando assim o surgimento de mais estudos que venham a colaborar nesse sentindo, melhorando a abordagem isioterapêutica voltada para tais alterações, no intuito de minimizar os desconfortos ventilatórios e proporcionar melhor qualidade de vida ao binômio mãe-ilho. Entretanto há necessidade de mais estudos voltados à temática abordada na intenção de favorecer a melhor adaptação da gestante as alterações isiológicas promovidas, de forma a atenuar desconfortos instalados. Por im, acredita-se ter contribuído para uma melhor avaliação do comportamento ventilatório durante o trabalho de parto, objetivando tornar a gestação e o trabalho de parto, fases ainda mais prazerosas.

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Artigo 30 Peril clínico, qualidade de vida e nível de independência funcional de pacientes submetidas à mastectomia radical modiicada Clinical proile, quality of life and functional level of independence of patients submitted to the modiied radical mastectomy

Leila Maria Alvares Barbosa*, Camilla Carneiro Leão Sampaio Carvalho**, Caroline Wanderley Souto Ferreira, D.Sc.*** *Mestre em Fisioterapia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), **Professora substituta da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ***Fisioterapeuta graduada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ****Professora adjunta da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Resumo

Abstract

A mastectomia radical modiicada é a conduta terapêutica mais utilizada para o câncer de mama, porém pode causar sequelas físicas e psicológicas que interferem na qualidade de vida (QV) das mulheres. O objetivo deste estudo foi avaliar o peril clínico (amplitude de movimento - ADM e presença de linfedema no membro superior homolateral à cirurgia), a QV e o nível de independência funcional de pacientes submetidas à mastectomia radical modiicada, atendidas no Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco. Trata-se de um estudo de corte transversal, no qual 14 voluntárias foram submetidas a uma avaliação isioterapêutica e responderam aos questionários Health Survey Short Form – 36 e Índice de Katz. Não foi observado déicit signiicativo da ADM do ombro (p > 0,05). Veriicou-se presença de linfedema (p < 0,05) na extremidade distal do membro superior homolateral à cirurgia. Os melhores escores de QV foram obtidos nos domínios relacionados aos aspectos sociais e saúde mental, com médias de 77,67 e 73,71, respectivamente. A maioria das mulheres (92,85%) foi considerada totalmente independente nas atividades avaliadas. Conclui-se que a isioterapia desempenha um papel fundamental na recuperação funcional do membro superior homolateral à cirurgia e na proilaxia de complicações decorrentes do tratamento cirúrgico para o câncer de mama.

Modiied radical mastectomy is the most used therapeutic approach for breast cancer, but it can cause physical and psychological disorders that afect women’s quality of life (QOL). he aim of this study was to evaluate the clinical proile (range of motion - ROM and presence of lymphedema in the ipsilateral upper limb surgery), QOL and level of functional independence of patients who underwent modiied radical mastectomy, treated at the Department of Physical herapy, Federal University of Pernambuco. his is a cross-sectional study in which 14 volunteers were subjected to a physical therapy evaluation and responded to Health Survey Short Form - 36 and Katz Index. here was no signiicant limitation of shoulder ROM (p > 0.05). It was veriied the presence of lymphedema (p < 0.05) in the distal upper limb ipsilateral to surgery. he best QOL scores were obtained in areas related to social and mental health, with averages of 77.67 and 73.71, respectively. Most women (92.85%) were considered fully independent in activities evaluated. We concluded that physiotherapy plays a key role in the functional recovery of the upper limb ipsilateral to surgery and in the prophylaxis of complications of surgical treatment for breast cancer. Key-words: Breast neoplasms, mastectomy, modiied radical, quality of life, functional independence, physical therapy modalities.

Palavras-chave: Neoplasias da mama, mastectomia radical modiicada, qualidade de vida, independência funcional, modalidades de isioterapia.

Endereço para correspondência: Caroline Wanderley Souto Ferreira, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco, Avenida Professor Moraes Rego, 1235 Cidade Universitária 50670-901 Recife PE, E-mail: [email protected]

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Introdução O câncer de mama (CM) é uma doença complexa e heterogênea, que consiste na formação de um tumor maligno a partir da multiplicação exagerada e desordenada de células anormais que invadem o tecido mamário, podendo se espalhar para outras regiões do corpo [1]. Segundo tipo mais frequente no mundo, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres. Estima-se que entre os anos de 2012/2013, no Brasil, o número de novos casos de CM seja de aproximadamente 52.680 [2]. Atualmente, existem várias opções de tratamento para o câncer de mama, e a sobrevida dessas mulheres tem aumentado devido ao avanço tecnológico e ao tratamento. O tratamento envolve uma abordagem múltipla, que inclui radioterapia, quimioterapia, reposição hormonal e intervenção cirúrgica [3]. A cirurgia ainda é o processo mais comum para prevenir a disseminação da doença e a técnica a ser utilizada dependerá da gravidade do quadro, podendo ser desde uma técnica mutiladora, como a mastectomia radical, até técnicas chamadas de conservadoras, como as quadrantectomias [4]. A mastectomia radical modiicada é o procedimento cirúrgico mais utilizado para o tratamento do câncer de mama. Esse tipo de tratamento, principalmente associado à radioterapia, pode acarretar em complicações físicas, imediatas ou tardias, tais como limitação da amplitude de movimento (ADM) do ombro e do cotovelo, linfedema, fraqueza muscular, infecção, dor e parestesia, alterações da sensibilidade e funcionalidade homolateral à cirurgia, colocando em risco o desempenho das atividades de vida diária (AVD) da mulher [5,6]. A capacidade funcional, conceituada como a habilidade para a realização de atividades que permitam ao indivíduo cuidar de si próprio e viver independentemente, pode encontrar-se comprometida nessas mulheres [7]. Além disso, a ausência ou alteração da mama traz efeitos psicossociais, sexuais e emocionais que irão afetar diretamente a qualidade de vida (QV) da mulher mastectomizada, produzindo impacto negativo na sua autoestima e autoimagem por se tratar de um órgão repleto de simbolismo – feminilidade, sexualidade e maternidade. As consequências dessas disfunções superam o marco individual e estendem-se aos familiares, amigos e relações proissionais e isso implica em uma sobrecarga emocional para a paciente [8,9]. Considerando-se a alta incidência do câncer de mama, a grande possibilidade de uma longa sobrevida e a desestruturação que o diagnóstico e o tratamento de CM acarretam na vida da mulher, maior ênfase tem sido dada às pesquisas de medidas da QV e capacidade funcional relacionada à saúde de mulheres com CM nos últimos anos [10]. Este estudo teve como objetivo avaliar o peril clínico (amplitude de movimento e presença de linfedema do membro superior homolateral à cirurgia), bem como a qualidade de vida e o nível de independência funcional das pacientes submetidas à mastectomia radical modiicada, atendidas no

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Departamento de Fisioterapia (DEFISIO) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo, observacional, de corte transversal, realizado no período de agosto a outubro de 2010, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, sob CAAE – 0304.0.172.000-09. As mulheres mastectomizadas que participaram do estudo foram selecionadas pela consulta às ichas de avaliação das pacientes que tinham sido submetidas à mastectomia radical modiicada e atendidas no ambulatório de isioterapia do DEFISIO da UFPE, no período de 2006 a 2010. Se encaixaram nos critérios de inclusão, as pacientes submetidas à mastectomia radical modiicada após tratamento de radioterapia e quimioterapia. Foram excluídas aquelas portadoras de doenças musculotendíneas, osteoarticulares ou neurológicas de membros superiores e as submetidas à reconstrução mamária. Foram identiicadas sessenta pacientes, porém apenas vinte e nove foram contatadas. As demais pacientes (n = 33) não foram informadas sobre a realização do estudo devido à mudança de residência ou número de telefone e falecimento. Das vinte e sete pacientes contatadas, quatorze participaram da pesquisa obedecendo aos critérios de inclusão. Treze pacientes foram excluídas por: não comparecer ao departamento de Fisioterapia da UFPE (n = 8), negar-se a participar (n = 2), ser portadora de ibromialgia (n = 2) e ter realizado reconstrução mamária (n = 1). Inicialmente a paciente recebeu esclarecimentos sobre o estudo e após concordar em participar da pesquisa deveria assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em seguida, foi realizada avaliação isioterapêutica elaborada pelas pesquisadoras contendo anamnese, análise da ADM da articulação do ombro [11] com a utilização de goniômetro (CARCI ®) e avaliação da perimetria nos membros superiores, com a ita métrica (CARCI ®), em 7 pontos: região axilar, 7cm e 14 cm acima e abaixo do olécrano, punho e articulação metacarpofalangeana. Em seguida, a QV foi avaliada através do questionário Health Survey Short Form – 36 (SF-36), traduzido e validado para o português [12]. O SF-36 é composto por 11 questões e 36 itens que englobam oito domínios: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais, saúde mental e percepção atual da saúde. O indivíduo recebe um escore em cada domínio, que varia de 0 a 100, sendo zero o pior escore e cem o melhor. Por im, foi aplicada a Escala de Katz, traduzida para o português [13] e composta pela avaliação de seis atividades: tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro, transferência, continência e alimentar-se. Para a análise foi utilizado o Índice de Katz e a escala de 0 a 6 de independência.

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Os dados sociodemográicos, a ADM da articulação do ombro, a perimetria dos membros superiores e os escores dos questionários foram inseridos no programa SPSS versão 13.0 e submetidos à análise descritiva, por meio dos cálculos das médias e dos desvios-padrões. Na análise estatística da ADM e da perimetria foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov para veriicar a distribuição das variáveis. No caso de distribuição normal, foi utilizado o teste t-Student e no caso de não normal, foi realizado o teste de Wilcoxon, ambos para comparar o membro superior homolateral e o contralateral à cirurgia. Adotou-se um nível de signiicância de p < 0,05.

à cirurgia. Apenas nos pontos 5 e 6 (14 cm abaixo do olécrano e punho, respectivamente) houve diferença estatística (Tabela I). Com relação à QV, de acordo com as respostas obtidas através do questionário SF-36, os escores mais altos foram observados nos domínios relacionados aos aspectos sociais e saúde mental, enquanto que o pior escore foi obtido na variável referente à limitação física (Tabela II). Ao avaliar o nível de independência funcional pelo Índice de Katz, 13 pacientes (92,85%) apresentaram índice 0, que corresponde a completa independência nas seis atividades estudadas e apenas uma paciente (7,15%) obteve índice 1, que corresponde a dependência em uma atividade (diiculdade ao se vestir) e independência nas outras cinco.

Resultados Dentre as 14 voluntárias que participaram do estudo, veriicou-se que a maioria (71,42%) foi submetida à mastectomia radical modiicada no lado direito. A média e o desvio-padrão da idade dessas mulheres foi de 56,14 ± 8,91 anos, com idade mínima de 42 e máxima de 69 anos. Com relação ao estado civil, no período da pesquisa, sete eram casadas (50%), seis eram solteiras (42,85%) e apenas uma era viúva (7,14%). Em relação às ocupações, 35,71% das mulheres entrevistadas continuavam exercendo atividades extradomiciliares, seguida daquelas que realizavam trabalhos domésticos. As médias e os desvios-padrões da ADM foram analisados separadamente, de acordo com o ombro homolateral e o ombro contralateral à cirurgia. Em nenhum dos movimentos analisados foi encontrada diferença estatística entre o membro superior homolateral e o contralateral à cirurgia (Tabela I). As médias e os desvios-padrões das medidas da perimetria dos membros superiores também foram analisados separadamente, de acordo com o membro superior homolateral e o contralateral

Tabela II - Valores dos domínios do Health Survey Short Form – 36 (SF-36) na amostra das mulheres mastectomizadas. Domínio

Média

Capacidade funcional Limitação física Dor Estado geral de saúde Vitalidade Aspectos sociais Limitação emocional Saúde mental

58,92 25* 48,21 64,14 62,14 77,67 69,04 73,71

Desvio-padrão 27,18 41,27 25,15 25,90 27,08 32,58 40,22 22,22

*mediana.

Discussão A maioria das mulheres do presente estudo foi submetida à mastectomia radical modiicada no lado direito, corroborando

Tabela I - Caracterização da amostra das mulheres mastectomizadas quanto à amplitude de movimento e perimetria dos membros superiores homolateral e contralateral à cirurgia. Variável

Membro superior Homolateral à cirurgia Média (DP)

Contralateral à cirurgia Média (DP)

p-valor

145,21 (22,77)

157,07 (21,23)

0,113*

Extensão

53,07 (8,59)

53,14 (12,64)

0,985*

Abdução

Flexão Goniometria (graus)

Perimetria (cm)

145,42 (35,80)

157,92 (21,66)

0,157*

Rotação interna

84,57 (9,46)

85,14 (12,44)

0,892**

Rotação externa

85,42 (11,85)

84,85 (13,36)

0,715**

Ponto 1

42,97 (5,74)

43,22 (6,54)

0,460*

Ponto 2

32,72 (6,67)

32,15 (6,89)

0,129*

Ponto 3

30,10 (5,88)

29,59 (5,94)

0,070*

Ponto 4

26,47 (3,50)

25,76 (3,68)

0,069*

Ponto 5

22,03 (3,33)

21,03 (3,14)

0,013*

Ponto 6

17,87 (1,76)

17,37 (1,67)

0,047*

Ponto 7

20,25 (1,45)

20,15 (1,46)

0,723*

Ponto 1 = região axilar; ponto 2 = 14 cm acima do olecrano; ponto 3 = 7 cm acima do olecrano; ponto 4 = 7cm abaixo do olecrano; ponto 5 = 14 cm abaixo do olécran; ponto 6= punho e ponto 7 = articulação metacarpofalangeana; *Teste t-Student; **Teste de Wilcoxon.

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com os estudos de Gouveia et al. [14] e Greve et al. [15]. A média de idade das mastectomizadas foi de 56,14 anos, concordando com dados do Ministério da Saúde de que o CM é relativamente raro antes dos 35 anos de idade, mas acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. Isto ocorre, provavelmente, porque o envelhecimento desencadeia mudanças celulares que elevam a suscetibilidade à transformação maligna, além do fato das pessoas idosas terem sido expostas por mais tempo aos diferentes fatores de risco preditores do câncer [16]. Não foi observada diminuição da ADM do ombro homolateral à cirurgia, fato que discorda de outros estudos que mostram que dentre as complicações pós-operatórias, a de maior ocorrência é a restrição da ADM desta articulação [6,17]. Isto pode ser o resultado do encaminhamento precoce ao setor de isioterapia, uma vez que todas as pacientes que participaram do estudo haviam realizado ou estavam em atendimento isioterapêutico. O tratamento isioterapêutico desempenha um papel fundamental por proporcionar desde a recuperação funcional da cintura escapular e membro superior até a proilaxia de complicações como aderência cicatricial, ibrose, linfedema, que são responsáveis pela diiculdade de realização das atividades de vida diária [18,19]. Veriicou-se que as pacientes apresentavam linfedema apenas na extremidade distal do membro superior homolateral à cirurgia, discordando dos achados de Panobianco e Mamede [20]. Provavelmente isso ocorreu pelo fato das pacientes terem sido submetidas ao tratamento isioterapêutico precoce e por seguirem as orientações quanto aos cuidados com o membro superior, além de não apresentarem limitação na ADM do ombro, enquanto que as pacientes estudadas por Panobianco e Mamede [20], não possuíam informações para a prevenção do linfedema e apresentavam limitação de amplitude do membro edemaciado, adicionando-se o fato de que não realizavam exercícios com o braço do lado operado. Com relação à QV geral, os domínios que tiveram melhores escores foram os referentes aos aspectos sociais e saúde mental. Lee et al. [21] veriicaram que o fator social, mais especiicamente, o apoio familiar, foi o maior escore obtido, representando o domínio de maior importância e satisfação na QV de mastectomizadas. Isto pode ser resultado de um suporte adequado oferecido pela família e amigos à paciente. O pior escore foi veriicado no domínio limitação física, o que pode estar relacionado ao receio que as pacientes tenham em desenvolver complicações em decorrência do esforço empregado em atividades com o membro superior. Em relação à independência funcional, 92,85% das mulheres foram consideradas totalmente independentes, o que contraria o estudo realizado por Granja [22]. Esta autora constatou que 91,67% das 12 pacientes avaliadas referiam algum grau de limitação na execução de atividades proissionais ou pessoais, com um quinto das mulheres pesquisadas referindo diiculdade em vestir-se. Provavelmente, isso se deve ao fato de que as mulheres avaliadas por Granja [22] apresentavam

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alteração biomecânica do ombro, com limitação do arco de movimento, ao passo de que as pacientes do presente estudo não apresentaram alterações na mobilidade do ombro.

Conclusão A idade mínima das mulheres mastectomizadas foi de 42 anos e a maior parte foi submetida à mastectomia radical modiicada no lado direito. Não foi encontrada alteração signiicativa na amplitude de movimento do ombro e a presença de linfedema só ocorreu na extremidade distal do membro superior homolateral à cirurgia. Além disso, a maioria das pacientes foi considerada como totalmente independente na execução das seis atividades avaliadas. Diante do exposto, percebe-se a importância que o tratamento isioterapêutico precoce desempenhou na reabilitação funcional do membro homolateral à cirurgia e na prevenção de complicações tardias que podem interferir na qualidade de vida e independência funcional das pacientes mastectomizadas.

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Artigo 31 Repercussões ventilatórias impostas pelo ciclo gestatório: uma abordagem isioterapêutica sobre a saturação de oxigênio Repercussions ventilatory obstetrical imposed by pregnancy: physical therappy approach on oxygen saturation

Pâmella Carolline Araújo Batista*, Karenn Araújo Barros, Esp.**, Gabriela Brasileiro Campos Mota, M.Sc.***, Juliana Carvalho Cordeiro****, Aliuska Souza Santos ****, Denise Almeida Santos, Esp.*, Ângela Maria Targino de Alcântara***** *Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba, **Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), ***Docente do Curso de Fisioterapia e coordenadora da Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia na Saúde da Mulher da Faculdade de Ciências Médicas, Doutoranda em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande, Coordenadora do PRASM, ****Discente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciência Médicas (FCM), *****Docente do Curso de Medicina da Faculdade de Ciência Médicas (FCM)

Resumo

Abstract

A gravidez distingue-se por vários ajustes isiológicos e endócrinos direcionados à criação do ambiente ideal para o feto. Uma das adaptações decorrentes da gravidez esta no sistema respiratório e consequentemente na função pulmonar. O objetivo foi analisar as repercussões ventilatórias sobre a saturação de oxigênio durante o período gestacional. Os dados foram coletados no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, em 2011. As gestantes foram esclarecidas sobre os procedimentos a serem realizados, foi realizada anamese e em seguida o exame físico, composto desde sinais vitais, até medidas de altura do fundo uterino e circunferência abdominal. Os dados analisados mostram que as modiicações na altura do fundo de útero e na circunferência abdominal apresentam uma correlação com a diminuição da saturação de oxigênio, e que as alterações na frequência cardíaca e respiratória demonstram a tentativa de manter o equilíbrio da oferta de oxigênio necessária para a vitalidade fetal e bem-estar materno. Sabendo que a Fisioterapia tem uma importante contribuição no sentido de prevenir e melhorar as alterações previstas nessa mudança de comportamento postural, isiológico e social, essa pesquisa contribuirá para uma melhor assistência a gestante e melhorar a qualidade de vida da mesma.

Pregnancy is characterized by various endocrine and physiological adjustments aimed at creating an ideal environment for the fetus. One of the most important adjustments resulting from the pregnancy is on the respiratory system and consequently on lung function. he objective was to analyze the efects on ventilatory oxygen saturation during pregnancy. Data were collected at the Institute of Health Elpidio de Almeida in 2011. Pregnant women were informed about the procedures to be performed, was achieved anamnese and physical examination, life signs and measures of uterus and abdominal circumference. he data analyzed show that changes in the height of the bottom of the uterus and abdominal circumference have a correlation with decreased oxygen saturation, and changes in heart rate and respiratory demonstrate the attempt to maintain the balance of oxygen supply needed to the fetal and maternal well-being. Knowing that physical therapy has an important contribution for the prevention and improves the postural changes occurring in the pregnancy, this research will contribute to improve care for pregnant women and the quality of life of the same. Key-words: pregnancy, oxygen saturation, ventilatory effects.

Palavras-chave: gestação, saturação de oxigênio, repercussões ventilatórias.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47 Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail: [email protected]

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Introdução A gestação está associada a adaptações isiológicas e anatômicas, acarretando acentuadas mudanças no organismo materno, algumas delas iniciando no momento da nidação, acompanhando todo o período gestacional até o inal da lactação. Essas modiicações decorrem de uma intensa transformação como resposta às demandas hormonais próprias dessa fase, em especial, o alto nível de progesterona, que deve ser mantido, para dar condições isiológicas para o desenvolvimento do feto e preparar o corpo feminino, criando condições físicas adequadas para o parto [1]. Nessa perspectiva, esse conjunto das alterações pode levar a incapacidades funcionais, bem como a evoluções patológicas limitantes, interferindo na realização das atividades de vida diárias (AVD´s) e assim diminuindo a qualidade de vida da gestante. As alterações isiológicas impostas pelo ciclo gestatório ocorrem em nível micro e macroestrutural repercutindo sistêmica e funcionalmente, destaque-se as principais adaptações do sistema respiratório. O sistema respiratório é responsável pela expiração, caracterizada pelo transporte do oxigênio e do gás carbônico, fazendo as trocas gasosas destes gases no sangue, o qual depende da integridade das diversas estruturas anatômicas envolvidas [2]. O crescimento contínuo do útero comprime o diafragma aumentando sua atividade, que associado ao aumento de 5 a 7,5 cm da cavidade torácica, tornam a respiração mais abdominal que diafragmática. Além disso, a gestante respira mais rápido de forma compensatória as necessidades materno-fetais, favorecendo o aumento da frequência respiratória [3]. Tais alterações advindas desse período de transição para a maternidade necessitam de uma atenção qualiicada por parte dos proissionais de saúde que devem identiicar essas adaptações bem como suas consequências já que estas podem tornar-se fontes de limitação para a mulher [4]. Destarte, visando uma melhora na qualidade de vida das gestantes no período gravídico e evitar complicações maternas e neonatais, o presente estudo tem como objetivo analisar as repercussões ventilatórias sobre a saturação de oxigênio durante o período gestacional, propiciando aos proissionais da área de saúde uma melhor visão a respeito dos desconfortos respiratórios apresentados durante a gestação, favorecendo uma assistência pré-natal de alta qualidade e assim garantindo o bem-estar materno-fetal.

Material e métodos Esta pesquisa tratou-se de um estudo de natureza aplicada, descritiva exploratória, por observar, registrar, analisar, descrever e correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los, buscando descobrir com exatidão a frequência em que um fenômeno ocorre e sua relação com outros fatores, descrevendo as características, propriedades ou relações existentes no grupo ou da realidade em que foi realizada a pesquisa.

A pesquisa realizou-se durante o período de maio a junho de 2011, nas dependências do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), localizado na cidade de Campina Grande/ PB, em parceria com Programa de Atenção à Saúde da Mulher – PRASM. A população escolhida para esta pesquisa foi composta por gestantes atendidas pelo serviço de pré-natal do ISEA. As mesmas receberam esclarecimentos sobre a inalidade e o curso metodológico que o estudo visou adotar. A amostra foi composta por 30 gestantes assistidas pelo serviço de pré-natal do ISEA, que aceitaram participar da pesquisa. Foram inclusas as gestantes no período da coleta de dados, admitidas pelo PRASM, que se apresentaram sem restrições de qualquer caráter para a realização da avaliação proposta e que aceitaram constituir a amostra. Foram exclusas as gestantes, que participam de acompanhamento isioterapêutico aplicada à obstetrícia anteriormente ao inicio do estudo, com estado clínico que direta ou indiretamente diicultaram ou contraindiquem a avaliação proposta, histórico de doença cardiopulmonar, fumo e índice de massa corpórea (IMC) acima de 40 kg/m2, ou que se recusaram a participar da pesquisa. Os instrumentos utilizados foram: Protocolo de Avaliação Cinético-Funcional na Gestação para obtenção dos dados pertinentes a pesquisa, oxímetro de pulso OX P10 da marca EMAI para avaliação da saturação de oxigênio e frequência cardíaca, ita métrica para avaliação de circunferência abdominal e altura do fundo de útero e cronômetro para mensuração da frequência respiratória. A modalidade exploratória exigiu técnica constituída por observação e através da icha de avaliação que foi montada de acordo com os questionamentos mais relevantes enfatizados nos objetivos da pesquisa e presentes no formulário para coleta de dados. As gestantes admitidas no PRASM que atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa foram informadas quanto aos objetivos, importância e procedimentos da pesquisa, e mediante aceitação foram requeridas a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em seguida, realizou-se a avaliação da gestante através do Protocolo proposto, no qual foram coletadas as informações pertinentes aos objetivos da pesquisa. Para coleta de dados as gestantes foram posicionadas adequadamente sentadas - com os pés e as costas apoiados no chão e no encosto da cadeira, respectivamente, os MMSS apoiados sobre os MMII, para a realização da oximetria e veriicação da frequência respiratória. Em decúbito dorsal foram avaliadas a mensuração da altura de fundo de útero e circunferência abdominal. Os dados coletados nesta pesquisa foram direcionados para a quantiicação estatística no software Excel 2007, possibilitando além do cálculo de médias e percentagens, a investigação da correlação estatística entre os dados coletados e os resultados obtidos. Por se tratar de uma pesquisa envolvendo seres humanos, o estudo seguiu a recomendação da Comissão Nacional de

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Ética em Pesquisa – CONEP, expresso na Resolução 196/96 (Conselho Nacional de Saúde). Antes de dar início à pesquisa, o projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida – ISEA, e posteriormente apreciação pelo Comitê de ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, que aprovou a pesquisa com CAAE Nº 0173.0.133.000-11, pois constatou a relevância do estudo no âmbito de mulheres gestantes e atendeu ao check-list do protocolo do CEP/UEPB. O responsável pelo local de desenvolvimento da pesquisa assinou o termo de autorização institucional, assim como o pesquisador responsável assinou o termo de compromisso do pesquisador. Atendendo as determinações da Resolução 196/96 para pesquisa em seres humanos, foram solicitadas as participantes a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, através do qual são informados sobre os riscos e benefícios da pesquisa e tendo preservada sua participação voluntária, tendo a liberdade de se retirar do estudo, antes, durante ou após a inalização da coleta de dados, sem risco de qualquer penalidade.

Resultados e discussão Através da identificação das gestantes em estudo, pôde-se analisar o peril de distribuição etária das gestantes avaliadas na pesquisa por trimestre gestacional. A maioria das gestantes avaliadas encontra-se na faixa etária da adolescência, fato este preocupante pela falta de informação e orientação sexual, imaturidade, falta de desejo pela gravidez, instabilidade emocional e inanceira, predominantes nesta fase. O que pode ser conirmado através dos resultados de Quadros et al. [5], que ao realizar sua pesquisa composta por 76 gestantes com idades entre 14 e 19 anos mostrou que 72,3% das adolescentes entrevistadas airmaram que a gravidez não foi planejada e 52,6% delas não faziam uso de métodos contraceptivos. A maioria de a amostra ser estudante faz referência ao grande número de adolescentes no estudo, onde cerca de 70% das gestantes avaliadas encontrava-se em idade escolar, dado que corrobora com pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde que mostram que 81% dos adolescentes com idades entre 15-17 anos encontram-se matriculadas na escola. 50% das gestantes estão solteiras e 50% apresentam-se casadas. Analisando comparativamente, sugere-se que a situação conjugal das gestantes avaliadas tem correlação com a ocupação das mesmas, onde mostra que no segundo e terceiro trimestres os valores se invertem, no segundo trimestre a maioria delas são solteiras, por esse motivo a maioria delas ou são estudantes ou tem emprego remunerado, no terceiro trimestre os valores se invertem passando a maioria ser casada, por esse motivo os valores referidos a ocupação estão bem divididos a 60% das gestantes são estudantes e 20% do lar e 20% emprego remunerado.

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Os resultados mostraram que 60% da amostra eram primigestas, acredita-se que isto esteja associado a faixa etária entre 14 e 19 anos. Destas 60% encontrando-se no primeiro trimestre, 40% no segundo e 80% no terceiro trimestre. Já 33,3% eram classiicadas como multigestas, se encontrando 40% no primeiro trimestre, 40% no segundo e 20% no terceiro trimestre. Ainda 6,6% foram classiicadas como grande multigesta, sendo todas encontradas no segundo trimestre gestacional. Os resultados supracitados mostram que no primeiro trimestre gestacional 40% das gestantes adotaram um padrão ventilatório do tipo misto, 30% diafragmático e 30% torácico. No segundo trimestre, por sua vez, 60% das gestantes apresentaram o padrão misto para ventilação, 20% diafragmático e 20% torácico. No terceiro trimestre gestacional, 30% da amostra apresentaram um padrão misto, 20% diafragmático e 50% padrão torácico. Os dados mencionados possibilitam observar que, para a amostra em estudo, ao longo dos trimestres gestacionais há uma modiicação da predominância do tipo de padrão ventilatório adotado pelas gestantes, notando-se que inicialmente no primeiro trimestre ocorre uma regularidade entre os percentuais dos padrões, já no segundo trimestre não ocorre, sendo perceptível a predominância do padrão ventilatório misto, seguido no terceiro trimestre gestacional do maior percentual para o padrão ventilatório do tipo torácico. No que se refere à medida de AFU, os resultados mostraram que, no primeiro trimestre média de 12±1,7cm, no segundo média de 24±4,4cm e no terceiro trimestre média de 31±2,7cm. Em relação à FR, foi possível observar no primeiro trimestre uma média de 19,7±2,3irpm, durante o segundo trimestre uma média de 19,5±2,1irpm e no terceiro trimestre uma média de 20,2±2irpm. Analisando os dados estatisticamente, foi possível observar que houve um aumento gradativo das duas variáveis avaliadas durante os três trimestres gestacionais, com exceção de uma pequena redução média da FR entre o primeiro e segundo trimestre gestacional, pouco signiicativa baseado no desvio padrão. Os dados analisados foram submetidos ao teste estatístico de Pearson, para avaliar a correlação entre as variáveis, demonstrando de acordo com Santos [6] uma forte correlação positiva uma vez que apresentou um valor de ρ = 0,74 (0,5 ≤ ρ < 0,8) entre AFU e a FR. O que sugere que o aumento da AFU inluencia no aumento da FR ao longo dos trimestres, possivelmente como uma forma compensatória na manutenção da SatO2 e, consequentemente, do bem-estar materno-fetal. Com o aumento do tamanho do útero a capacidade residual funcional e o volume residual diminuem e essas alterações podem resultar no rápido desenvolvimento de hipoxemia em consequência da hipoventilação [7]. A correlação média da altura de fundo de útero (cm) e media de saturação de oxigênio (%), as médias da AFU encontradas no primeiro, segundo e terceiro trimestres, res-

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pectivamente, foram de 12 ± 1,6 cm, 24 ± 4,3 cm, 31 ± 2,6 cm. Já no que diz respeito à média da SatO2, nos mesmos trimestres, foram de 98% no primeiro trimestre, 97% no segundo e 98% no terceiro trimestre gestacional . Analisando os dados acima citados, veriica-se o aumento contínuo da AFU e a adaptação discreta da SatO2 na tentativa de manter uma boa troca gasosa necessária para a vitalidade fetal e bem-estar materno. Os valores indicam que com o aumento da AFU ocorre uma leve queda na SatO2 durante o segundo trimestre, mas que isso é corrigido de tal forma que no terceiro trimestre ocorre um aumento da mesma. No decorrer da gestação, ocorre um aumento do volume abdominal, reduzindo a eiciência dos movimentos respiratórios e diminuindo a expansibilidade pulmonar, levando a modificações importantes no sistema respiratório [8], destaque-se a SatO2. Estes dados demonstram o aumento da circunferência abdominal observada de forma comparativa entre os três trimestres gestacionais, ocasionada pelo crescimento uterino e consequente distensão abdominal. No que se refere à dinâmica respiratória, é possível constatar um aumento signiicativo entre o inicio e inal da gestação, de 2 incursões por minuto, possivelmente causado pela diminuição do espaço de expansão pulmonar pela contração do diafragma durante o movimento de inspiração. De acordo com o teste de Pearson, existe uma fraca correlação entre as variáveis analisadas, (ρ = 0,16) que segundo Santos [6] essa correlação se enquadra em fraca correlação positiva, pois se apresenta entre o intervalo de coniança 0,1 ≤ ρ < 0,5, o que representa que a MCA não apresenta correlação signiicativa com a FR. Essa fraca correlação pode estar associada às adaptações isiológicas ocorridas no corpo da gestante durante esta fase. Machado et al. [9] corroboram com o estudo, nesse sentido, airmando que com o útero em crescimento ocorre modiicação na posição de repouso do diafragma e na coniguração do tórax. O diafragma eleva-se cerca de 4 a 5 cm acima da posição de repouso habitual, enquanto a caixa torácica, para acomodar esse músculo, se amplia nos diâmetros ântero-posterior e transverso em torno de 2 cm., aumentando também o ângulo subcostal de 68,5º para 103,5º, resultando em aumento de 5 a 7 cm na circunferência torácica. Foram vistos as medias trimestrais das circunferências abdominais e da saturação de oxigênio. Durante os três trimestres as variáveis apresentaram as seguintes médias, 80 ± 7,7cm de circunferência abdominal e 98% de SatO2 no primeiro trimestre, 91 ± 9,2 cm de circunferência e 97% de SatO2 no segundo e, no terceiro trimestre gestacional 96 ± 6 cm de circunferência abdominal e 98% de SatO2. Os resultados demonstram o comportamento das variáveis analisadas, possibilitando a visualização de um decréscimo na saturação de oxigênio durante o segundo trimestre e logo em seguida um aumento no terceiro trimestre da mesma variável, em detrimento da MCA que segue uma evolução crescente durante todo o período gestacional.

Aplicado o teste estatístico de Pearson foi possível detectar uma moderada correlação positiva inicialmente (ρ = 0,53), (0,5 ≤ ρ < 0,8), ou seja, no primeiro trimestre, no segundo essa relação passa a ser moderada negativa apresentando uma relação inversa demonstrando que com o aumento da circunferência abdominal ocorre uma diminuição pouco signiicante da saturação de oxigênio (ρ = - 0,57) (-0,8 < ρ ≤ 0,5), e no terceiro trimestre gestacional essa relação é considerada ínima negativa, que sugere que a relação tem uma mínima chance de ter correlação (ρ = -0,07), pois se apresenta no intervalo de coniança de -0,1 < ρ < -0,5. Assim é possível veriicar que inicialmente essa correlação tem um grau de signiicância moderado, mas que ao inal da gestação ela não é mais signiicante, pois provavelmente as adaptações isiológicas ocorridas na gestante tenta minimizar essa alteração, promovendo o bem-estar materno-fetal. As modiicações pulmonares anatômicas e isiológicas nas pacientes gestantes conduzem basicamente a um aumento da capacidade inspiratória às custas de um decréscimo do volume residual funcional, como necessidade crescente para facilitar o maior transporte de oxigênio para a unidade feto-placentária [1]. A circunferência abdominal aumenta devido ao crescimento fetal dessa forma a altura de fundo uterino também sofre alterações, os altos níveis de hormônio como estrógeno e progesterona fazem com que haja o crescimento uterino no primeiro trimestre, isso porque o útero dá início às suas modiicações juntamente com a concepção, estas relacionadas à consistência, volume, peso, forma, posição e coloração [10]. Com a necessidade de absorver mais oxigênio a gestante passa a respirar mais vezes por minuto, devido aos níveis de hormônios secretados no corpo da mesma, ocorrendo uma sensibilização que estimula a ventilação, acrescendo um ligeiro aumento da frequência respiratória [11]. Quanto a correlação das medias de saturação de oxigênio e frequência cardíaca dos trimestres gestacionais resultados obtidos demonstram uma média de 79 ± 7,6bpm para a FC e 98% de SatO2 no primeiro trimestre. No segundo trimestre apresenta uma média de FC de 83,2 ± 7,2 bpm e 97% de SatO2, e no terceiro trimestre gestacional uma média de 83,7 ± 6,3 bpm para a FC e 98% de SatO2. A manutenção da SatO2 durante o período gestacional, enquanto a FC apresenta um discreto aumento. Sugere-se que esse aumento demonstrado durante os trimestres gestacionais está relacionado com a manutenção da vitalidade materno-fetal através da concentração adequada de oxigênio na corrente sanguínea, em decorrência do aumento do débito cardíaco que favorece o transporte de oxigênio pela hemoglobina circulante, em detrimento da hemodiluição sanguínea gestacional. Com o crescimento do útero e o aumento do consumo de oxigênio, a gravidez induz a uma hipervolemia, sendo necessária para proteger a mãe e consequentemente o feto dos efeitos deletérios da diminuição do retorno venoso na posição supina e ereta, e os efeitos do parto [11]. Corroborando com os resultados Wolfe et al. [12] relata que a frequência cardíaca de repouso aumenta abruptamente

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no primeiro trimestre de gestação, seguido de aumento moderado até o inal da gestação. Os valores médios obtidos para FR durante o primeiro, segundo e terceiro trimestres foram de 19,7 ± 1,7 irpm, 19,5 ± 2 irpm e 21 ± 1,8 irpm, respectivamente. A média de SatO2 apresentou-se em 98% para primeiro e terceiro trimestre e 97% para o segundo trimestre gestacional. Os dados mostram que ocorre um aumento gradual na média da frequência respiratória durante o período gestacional e que a manutenção da SatO2 é mantida entre 97% e 98%, saturação essa, eicaz para uma boa manutenção da vitalidade fetal Submetendo os dados a teste estatístico de Pearson, foi possível veriicar moderada correlação positiva (ρ = 0,68 0,62; 0,73; variando 0,5 ≤ ρ < 0,8), airmando que existe uma relação de dependência entre as variáveis, observando que o aumento da FR favorece uma boa manutenção da SatO2. Guyton et al. [13] airmam que devido ao aumento da taxa metabólica basal da gestante ela necessita de mais oxigênio, aumentando a FR, de forma que uma quantidade de dióxido de carbono é proporcionalmente formada. Leocadio [14] descreve que o trabalho respiratório é aumentado e por volta da 20° semana de gestação a dispnéia é frequente durante exercícios leves, os valores de progesterona circulantes aumentam durante a gestação ocasionando uma sensibilidade do centro respiratório na medula para o dióxido de carbono agindo em conjunto com a maior necessidade de oxigênio agem como leves estimulantes à ventilação da gestante.

Conclusão Os resultados mostraram um peril sócio-demográico com alto índice de gravidez na adolescência. Em relação às pressões respiratórias máximas foi possível observar, possivelmente que as alterações anatômicas e isiológicas impostas pelo período gestatório levaram a diminuição das pressões respiratórias máximas, além do surgimento de desconfortos ventilatórios, tal como a dispnéia, que esteve frequente na maioria das gestantes e comprovadas através da Escala de Borg. A correlação entre os dados mostrou que existe correlação positiva entre a AFU e a MCA e AFU e FR. Em relação à FR, que esteve aumentada em poucas incursões, esta, teve uma correlação positiva com a SatO2 normal. A PImáx teve uma correlação negativa com a AFU, sugerindo que as alterações anatômicas do útero favorecem a diminuição da força muscular inspiratória. Além disso, a PEmáx mostrou-se correlação inversa positiva quando relacionada com o aumento da MCA. Ainda foi possível veriicar diminuição da cirtometria, indicando que as alterações impostas pela gestação predispõem a diminuição da complacência pulmonar. Com base no estudo realizado a partir da coleta de alguns dados que possivelmente teriam correlação com a saturação de oxigênio, pode-se observar que, a altura do fundo de útero, a circunferência abdominal, a frequência respiratória e cardíaca, demonstram correlação com os valores de saturação de oxigênio,

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apesar das modiicações do corpo materno tentarem promover um equilíbrio materno-fetal adaptando o corpo para receber o feto, de modo a promover o bem-estar do binômio. Assim, foi possível observar que as alterações isiológicas impostas pela gestação geram repercussões ventilatórias que interferem no comportamento da SatO2, imprescindível para manutenção da vitalidade materno-fetal, de modo a predispor possíveis intercorrências. Essas alterações apesar de ser uma tentativa de manter a homeostase, provocam nas gestantes desconfortos respiratórios, e isso mostra que a atuação da isioterapia é de grande relevância na tentativa de diminuir esses desconfortos, favorecendo uma melhor qualidade de vida para a gestante. Espera-se que os resultados forneçam subsídios para a avaliação do comportamento ventilatório gestacional e para identiicação de pontos estratégicos para possíveis intervenções, contribuindo para a redução das situações indesejadas de sofrimento, morbidade e mortalidade que se contrapõem à alegria esperada do nascimento. Destarte, se faz necessário mais estudos referentes ao assunto para que demonstre a importância da atuação isioterapêutica nesse período tão sublime para maioria das mulheres.

Referências 1. Baracho E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, urologia e aspectos de mastologia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. 2. Silva LCC et al. Condutas em pneumologia. Rio de Janeiro: Revista internacional de pneumologia; 2001. 3. Ricci SS. Enfermagem materno-neonatal e saúde da mulher. 1ª edição, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 4. Silva SCF. Ansiedade da mulher durante o último trimestre de gravidez. [TCC]. Porto; 2008. 5. Quadros VF, Terra AC, Ramos CV. Peril sócio demográico de parturientes adolescentes atendidas no hospital universitário de Rio Grande/RS. X Salão de Iniciação Cientíica – PUCRS; 2009. 6. Santos C.  Estatística descritiva - Manual deauto aprendizage. Lisbo: Sílabo; 2007. 7. Lapinsky S. Cardiopulmonary complications of pregnancy. Crit Care Med 2005. 8. Yeomans ER, Gilstrap LC: Physiologic changes in pregnancy and their impact on critical care. Crit Care Med 2005. In:Chicayban LM, Dias SAAN. Análise da função pulmonar em gestantes e não-gestantes. Perspectivas online 2010;4(15). 9. Machado MGR, Aroeia RMC. Alterações no sistema respiratório na gravidez. In Baracho E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia. Aspectos de ginecologia e neonatologia. 3a ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2002. 10. Barros SMO. Enfermagem no ciclo gravídico puerperal. 1ª ed. São Paulo: Manole; 2006. 11. Soare S, Fortunato S, Moreira AL. Adaptações morfo-funcionais na mulher grávida. Porto; 2002. 12. Wolfe LA, Davies GAL. Canadian guidelines for exercise in pregnancy. Clin Obstet Gynecol 2003. 13. Guyton AC, Hall JE. Tratado de Fisiologia Médica - 11ª Ed. Editora Elsevier. 2006. 14. Leocadio AS. Enfoque respiratório no período gestacional. [TCC]. Rio de Janeiro: Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida Rio de Janeiro; 2007.

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Artigo 32 Incontinência urinária na prática esportiva: uma revisão sistemática Urinary incontinence in sports: a systematic review Priscylla Helouyse Melo Angelo*, Rossânia Bezerra*, Maria hereza Barbosa Cabral Micussi, D.Sc.**, Rodrigo Pegado de Abreu Freitas*** *Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, **Doutora pelo Programa de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Bolsista CAPES, ***Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Campus Santa Cruz

Resumo

Abstract

A incontinência urinária (IU) é deinida como a perda involuntária de urina pela falta de controle da bexiga, que não retém a urina adequadamente, sendo considerado um problema social e higiênico. A pesquisa consistiu em uma revisão sistemática, abordando a relação de perda urinária com exercício físico. Os artigos encontrados entre os anos de 1992 e 2012, foram procurados através do bando eletrônico do Pubmed, Scielo e PEDro, utilizando os descritores ‘urinary incontinence’ e relacionando com ‘exercises’, ‘itness’, ‘physical activity’, ‘sports’ e ‘woman’. Foram encontrados 25 artigos e após os critérios de inclusão foram selecionados estudos, sendo oito trabalhos clínicos e 6 do tipo experimental. Os artigos cientíicos mantém uma forte relação entre exercício físico e IU, principalmente em atividades de alto impacto. A incontinência urinária de esforço pode ser encontrada em mulheres atletas, em maior frequência nas ginastas, provavelmente, devido a elevação da força abdominal aplicada nos componentes estruturais do assoalho pélvico.

Urinary incontinence (UI) is deined as the involuntary loss of urine due to lack of bladder control, which does not retain the urine properly, is considered a social and hygienic problem. his study consisted of a systematic review addressing the relationship of urinary loss with exercise. Articles found between the years 1992 and 2012 were searched through Pubmed, Scielo and PEDro using the keywords ‘urinary incontinence’ and relating with ‘exercises’, ‘itness’, ‘physical activity’, ‘sports’ and ‘woman’. Were found 25 articles and after the inclusion criteria were selected studies, eight clinical study and six trials type. he papers maintain a strong relationship between exercise and UI, especially in high-impact activities. he efort urinary incontinence can be found in female athletes at greater frequency in gymnasts, probably due to increase in abdominal strength applied to the structural components of the pelvic loor. Key-words: urinary incontinence, physical exercise, woman.

Palavras-chave: incontinência urinária, exercício físico, mulher.

Endereço para correspondência: Maria hereza Albuquerque Barbosa Cabral Micussi, Avenida General Gustavo Cordeiro de Farias, s/n Petropólis 59010-180 Natal RN, E-mail: [email protected]

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Introdução A International Continent Society (ICS) [1] deine a incontinência urinária (IU) como a perda involuntária de urina pela falta de controle da bexiga, que não retém a urina adequadamente, sendo considerado um problema social e higiênico. A prevalência da IU ocorre entre 17 e 55% das mulheres com mais de 30 anos de idade. Contudo, acredita-se que a IU seja subdiagnosticada, visto que muitas mulheres não relatam a perda de urina, por constrangimento ou por considerarem parte do processo natural de envelhecimento [2-4]. De acordo com as diretrizes da ICS [1], a IU pode ser classiicada conforme os critérios sintomáticos ou urodinâmicos, na forma de urgência, de esforço e mista. A IU de urgência (IUU) é deinida como a incapacidade de postergar a micção por mais alguns minutos, ocasionada pela hiperatividade vesical e doenças neurológicas, as quais interferem na capacidade do cérebro de inibir a contração vesical inapropriada. Onur et al. [5], através de estudo de base populacional realizado na Turquia, observou que a prevalência da IU em mulheres com idade entre 17 e 80 anos foi equivalente a 46,3% (n = 2275). Dessas mulheres que apresentaram a queixa da perda de urina, 46% apresentavam IU em decorrência de esforços físicos e 43% IU considerada de urgência. A média de idade das mulheres com IU nesse estudo foi de 44,57 anos (DP ± 11,04). Alguns fatores podem contribuir para o surgimento e agravamento no quadro da perda urinária. Esses representam, na realidade, fatores de risco e incluem a idade avançada, partos vaginais, deiciência estrogênica, constipação intestinal, doença pulmonar crônica, obesidade, doenças do colágeno, histerectomia, uso de alguns medicamentos e exercícios físicos [6]. A IU em mulheres atletas é bastante frequente devido a alta intensidade da prática de exercícios físicos, entretanto pouco discutida. Além da perda de urina, a presença dessa sintomatologia implica num impacto negativo na qualidade de vida das atletas jovens, devido às situações de constrangimento que afetam o convívio social e geram transtornos emocionais [713]. Assim, diante da importância desta disfunção, essa revisão teve o propósito de examinar as publicações mais recentes relacionadas a IU em atletas do sexo feminino, levantando os aspectos mais relevantes que envolvem essa afecção.

Material e métodos Esta pesquisa consiste em uma revisão de literatura, abordando a relação da perda urinária em mulheres atletas. Através do banco eletrônico do Pubmed e Scielo, foi realizado um busca em publicações nos idiomas português, inglês e espanhol utilizando o descritor ‘urinary incontinence’ e relacionando com ‘exercises’, ‘itness’, ‘physical activity’, ‘sports’ e ‘woman’. Foram inclusos os artigos publicados no período entre 1992 e 2012, independente da modalidade esportiva e do tipo de

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delineamento do estudo. Todos os artigos encontrados foram lidos e analisados.

Resultados Os dados foram coletados dos bancos de dados do Pubmed e Scielo. Foram encontrados 25 artigos e após os critérios de inclusão, foram selecionados 14 artigos no período de 1992 a 2012 (Fluxograma 1). Fluxograma 1 - Seleção dos artigos cientíicos encontrados na base da dados do Pubmed e Scielo. 25 artigos Excluído: 1 (Publicação antes de 1992) 24 artigos Excluído: 10 (Não abordava a IU) 14 artigos

Dentre os 14 artigos selecionados, seis trabalhos são do tipo de revisão e oito são estudos clínicos. Os nove estudos clínicos relacionaram a perda urinária em atletas como sendo do tipo de esforço. Desses, apenas um estudo abordou a repercussão da incontinência urinária em mulheres ex-atletas e o tipo de exercício variou em diversas modalidades (Quadro 1).

Discussão Foi possível observar que a IU do tipo de esforço é a forma mais frequente em mulheres atletas e ex-atletas. Corroborando com um estudo de inquérito populacional realizado em São Paulo, Guarisi et al. [14] concluíram que a IUE é a forma mais comum entre as mulheres, mostrando uma prevalência equivalente a 35% de mulheres incontinentes. A fuga de urina denominada “IU de esforço” (IUE) ou de estresse consiste na perda involuntária da urina resultante de qualquer atividade que gere um aumento da pressão intra-abdominal excedendo a pressão de fechamento uretral [1]. A principal causa da IUE é o aumento súbito da pressão abdominal. Parazzini et al. [15] descrevem que o aumento crônico na pressão intra-abdominal predispõe ao surgimento das disfunções no assoalho pélvico, uma vez que sobrecarrega os tecidos, principalmente, os ligamentares e musculares. Outra causa de importante relevância para o surgimento da IUE é representada pela realização de exercícios físicos sem ativação da musculatura do assoalho pélvico. A IUE está presente em esportistas cujas atividades envolvem aumento abrupto da pressão intra-abdominal em contraposição à

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Quadro 1 - Investigação sobre a ocorrência da incontinência urinária em mulheres atletas baseado em artigos clínicos publicados no período de 1992-2012. Nº 1

Autores Nygaard et al. [13]

2

Nygaard [14] 104 Ex-atletas olímpicas Grupo 1 = baixo impacto IM = 42,4 anos Grupo 2 = alto impacto IM = 46,2 anos Bø e Borgen Atletas do time nacional [15] da Noruega IM = 27 anos Grupo 1 – atletas (660) Grupo 2 – controle (765)

3

4

5 6

Atletas 156 universitárias atletas IM = 19,9 anos

Exercício Ginástica Tenistas Basquete Hockey Voleibol Natação

Grupo 1 – natação Grupo 2 – ginastas e Corrida cross

G1 Técnico G2 Endurance G3 Atlético G4 Peso G5 Jogos de bola G6 Força G7 Gravidade Thyssen et al. 291 frequentadoras de 08 Ginástica [16] clubes na Dinamarca Ballet IM = 22,8 anos Atividades aeróbicas Badminton Voleibol Handebol Basquete

Eliasson et al. 35 ex-atletas [17] IM = 15 anos Carls [18] 421 atletas jovens de esportes de alto impacto IM = 17,5 anos

7

Caylet [19]

8

Araújo et al. [17]

Grupo 1 – atletas (127) Grupo 2 – controle (426) IM = 26,5 anos 37 atletas IM = 35,4 anos

Trampolim Basquete Corrida Softball Voleibol Cheerleading* Levantar de peso Dança NI

Corrida de longa distância

Resultados 28% apresentaram algum episódio de perda urinária durante A prática ou competição esportiva 42% apresentaram perda de urina durante as atividades diárias Atletas que referiram perda durante o esporte: - 67% ginastas - 50% tenistas - 44% jogadoras de basquete - 32% jogadoras de hockey - 9% jogadoras de voleibol - 6% nadadoras Continentes 50% Grupo 1, 41,1% Grupo 2 Incontinente 8,3% Grupo 1, 10,7% Grupo 2

Grupo 1 – IUE 41% Grupo 2 – IUE 39%

51,9% afirmam ter algum episódio de perda de urina 43% apresentaram IU durante a prática esportiva 42% apresentaram IU durante as atividades diárias Atletas que referiram perda durante o esporte: - 56% ginastas, - 43% ballet - 40% atividades aeróbicas - 31% badminton - 30% voleibol - 21% handebol - 17% basquetebol 80% apresentaram IUE durante o treinamento 25% apresentaram IU durante a prática esportiva 11,6 % afirmaram IU durante a tosse 9,3% afirmaram a IU durante a corrida 6,9% afirmaram a IU durante o espirro 6,9% afirmaram a IU durante o pulo 2,3% afirmaram a IU durante o levantamento de peso Grupo 1 – 28% apresentaram IUE Grupo 2 – 9,8% apresentaram IUE 62,2% (n=23) apresentaram IU

IM – Idade média; NI – não informado; IU – incontinência urinária; IUE – incontinência urinária de esforço; *líder de torcida – Grupo de mulheres que dançam seguindo uma coreografia para torcer por um time; G1 Técnico (Golfe, snowboard); G2 Endurance (natação, corrida); G3 Estético (dança, ginástica, aeróbica); G4 Peso (Karate, judô, levantamento de peso); G5 Jogos de bola (voleibol, basquete, handebol, futebol); G6 Força (corrida de velocidade); G7 Gravidade (escalada).

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resistência do assoalho pélvico, componente do denominado selo uretral, o qual não está sendo contraído [5,16]. Esportes competitivos de alto impacto como, por exemplo, a ginástica olímpica, demonstram ter um efeito negativo no aparelho urogenital feminino, como foi encontrado nos estudos de Nygaard [7] e hyssen [10] com seus respectivos colaboradores. Nygaard et al. [7] tiveram como objetivo investigar a perda urinária aos devida a esforços durante a prática de esportes, em episódios de espirro e tosse, e durante o levantamento de peso. Os resultados mostraram que a IU está presente durante o treino de esportes como também nas atividades de vida diária, numa fração de 28% e 42%, respectivamente, e que 38% das mulheres se sentiam constrangidas devido a perda de urina. Os autores deiniram o quadro como um problema comum em mulheres jovens nulíparas, principalmente nas que realizam atividade de alto-impacto. Para determinar a relação da prática de exercícios físicos com IUE, Nygaard [8] comparou ex-atletas que realizavam trabalhos de alto-impacto (ginástica) com aquelas que participaram de atividades de baixo-impacto (natação). Os resultados mostraram uma maior frequência de mulheres incontinentes (10,7%) praticantes de atividades de alto-impacto, entretanto não houve signiicância estatística ao comparar as atividades, ginástica e natação. Ainda, os dados relativos à prevalência do sintoma foram confrontados com as idades, índices de massa corporal e com a paridade. Concluiu-se que essas variáveis são fatores de risco para o desenvolvimento da IU. Na abordagem das atletas de natação Nygaard et al. [7] sugeriram que esse esporte de baixo-impacto não é um fator de risco para o surgimento da IUE, uma vez que a pressão intra-abdominal não ultrapassa a pressão vesical, porém, esta modalidade poderia estar relacionada com a IUU. Além disso, normalmente essas atletas exercitam a musculatura abdominal, por vezes de modo inadequado, e essa atividade, quando não realizada apropriadamente, pode ocasionar uma fraqueza dos músculos do assoalho pélvico produzindo a IUE aos grandes esforços. Os autores sugerem que a continência nessas atletas mostra-se no limiar e qualquer esforço adicional pode ocasionar a perda urinária. Bø e Borgen [8] avaliaram a prevalência da IUE em atletas de elite (n = 660) de várias modalidades esportivas, comparando com um grupo controle (n = 765). Os resultados mostraram que a perda de urina variou entre 37,5% em esportes técnicos e de peso a 52% em esportes atléticos, o qual inclui a ginástica. Não foi identiicada diferença estatisticamente signiicativa entre a frequência do sintoma no grupo de atletas e essa frequência no controle. Ainda, foi analisada a interferência negativa da IU na qualidade de vida das atletas: 15% das participantes da pesquisa apontaram a perda urinária como um problema de ordem social e higiênico. Em um estudo realizado por hyssen et al. [10], na Dinamarca, foram entrevistadas 291 atletas participantes

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de oito clubes esportivos com o intuito de conhecer a prevalência da IU durante a prática esportiva e nas atividades diárias. Foi observado que, no momento da realização dos exercícios, as fugas de urina ocorreram “às vezes” em 44% e “frequentemente” em 9,6% das mulheres. Já durante as atividades diárias, a IU mostrou-se presente “ás vezes” em 61,7% e “frequentemente” em 0,8% dessas atletas. Em decorrência do sintoma, 60% das incontinentes airmaram utilizar um protetor higiênico. Em seu trabalho, Eliasson et al. [11] estudou a IU de 35 ex-atletas de trampolim durante o treinamento, competição ou atividades diárias. Os dados mostraram que a perda de urina ocorreu em 80% das atletas apenas durante o treino e que 51,4% delas airmaram isto representar a incontinência uma situação de constrangimento. Foi encontrado também, a partir do relato dessas mulheres, que o primeiro episódio de fuga urinária ocorreu, em média, 2,5 anos após treinamento, sendo este valor estatisticamente signiicativo. Para avaliar a prevalência da IUE em mulheres atletas e em sedentárias, Caylet [12] aplicou um questionário auto-avaliativo abordando às queixas da incontinência. Os resultados, embora sem signiicância estatística, apresentaram uma tendência para signiicância entre exercícios com impacto e perda urinária (28%). Um estudo mais recente buscando a prevalência da IUE em um grupo de 421 atletas de esportes de alto impacto mostrou que 25% das pesquisadas airmaram ter apresentado o sintoma durante a prática de exercícios. Além disso, 90% delas nunca comentaram com outra pessoa sobre o problema e desconhecem sobre medidas preventivas para o problema, e 16% airmaram que a IU inluencia negativamente na qualidade de vida [13]. Através da avaliação de corredoras de longa distância, Araújo et al. [17] encontraram que 62,2% das atletas apresentavam IU. Os principais episódios da perda de urina ocorreriam em 65,2% dos casos durante as competições, 60,9% nos treinos e 47,8% nas atividades diárias. Os autores alegam que essa modalidade esportiva não representa grande impacto nas estruturas do assoalho pélvico, atribuindo a presença de IU à fadiga muscular. Esse tipo de atividade ocasiona um catabolismo muscular generalizado, principalmente quando há treinos longos, em solo acidentado, repetidas várias vezes e sem tempo de repouso. Zhang et al. (2009) desenvolveram um modelo computadorizado com o objetivo de correlacionar os padrões de atividade muscular da pelve feminina com a presença de IUE em suas atividades diárias e esportivas. Nesse estudo, foi observado que saltos abaixo de 1 metro de altura não são capazes de promover perda urinária em mulheres saudáveis. No entanto, os mesmos testes mostraram ainda que os saltos com altura superior a 1 metro podem promover a deformação da porção anterior e posterior da pelve, e desta forma causar a abertura da uretra, favorecendo a fuga de urina.

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Conclusão Os artigos cientíicos apontam uma forte relação entre exercício físico e IU, principalmente em atividades de alto impacto. A incontinência urinária de esforço pode ser encontrada em mulheres atletas, em maior frequência nas ginastas, sendo a principal causa à elevação da força abdominal aplicada nos componentes estruturais do assoalho pélvico. A faixa etária das atletas pesquisadas nos estudos descritos revela que a idade parece não ser um fator determinante para o surgimento da IU, e sim um agravante para o quadro da perda involuntária de urina. As formas preventivas e reabilitadoras da IU são desconhecidas e/ou não praticadas. É importante conscientizar sobre o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, ou seja, do selo uretral, sendo efetuado concomitantemente aos exercícios físicos.

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Artigo 33 Mortalidade materna: peril sociodemográico do Brasil no ano de 2010

Maternal mortality: socio demographic proile of the year 2010 in Brazil Érika Rayane de Medeiros Silva*, Jéssica Danielle Medeiros da Fonsêca*, Camila Maria Medeiros de Araújo*, Maria José Medeiros da Fonsêca** *Discente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, **Preceptora do Projeto de Educação pelo Trabalho e para Saúde (PET/PróSaúde)

Resumo

Abstract

Introdução: A mortalidade materna se apresenta como violação dos direitos humanos e poderia ser evitada em 92% dos casos. Essas mortes são consideradas como um bom indicador da realidade socioeconômica da população e da sua qualidade de vida. Objetivo: Analisar e construir o peril sociodemográico de óbitos materno, no ano de 2010. Metodologia: Trata-se de um estudo ecológico de prevalência com caráter descritivo quantitativo de corte retrospectivo. Os dados analisados foram obtidos pelo Datasus/2012 - Banco de dados do Sistema Único de Saúde, referente ao ano 2010, analisando esses dados através das informações oferecidas pelo Ministério da Saúde/ Cenepi através do SIM (Sistema de Informações de Mortalidade) e do Sinasc (Sistema de Informações de Nascidos Vivos). Resultados: Esse trabalho mostrou que ocorreram 1.719 óbitos maternos no ano de 2010 e destes apresentaram uma porcentagem dessas mulheres, sendo solteiras (60%), com faixa etária de 20 a 39 anos (77%), de cor/raça branca (48%) e com escolaridade abaixo de 8 anos (45%). Conclusão: O estudo evidencia o peril sociodemográico da mulher brasileira no período de 2010, esse fato é de grande relevância para as organizações estatais, para que possam implementar políticas de saúde direcionada para esse agravo.

Background: Maternal mortality is presented as a human rights violation and could be avoided in 92% of cases. hese deaths are considered a good indicator of the socio economic reality of the population and its quality of life. Objective: To analyze and construct the sociodemographic proile of maternal deaths in the year 2010. Methodology: he research is treated of an ecological study with quantitative descriptive character of retrospective cut. he analyzed data were obtained by Datasus/2012 - database of the unique system of Health - regarding the year 2010, analyzing the data through information of the Ministry of Health/Cenepi through the SIM (Systems of information about Mortality) and of Sinasc (System of Information on been Born Alive). Results: his work showed that there were 1,719 maternal deaths in 2010 and these showed a percentage of these women, being unmarried (60%), aged 20-39 years (77%), color/Caucasian (48%) and with schooling below 8 years (45%). Conclusion: he study shows the sociodemographic proile of Brazilian women during 2010, this fact is of great importance to the state organizations so that they can implement health policies directed to this condition. Key-words: mortality, woman’s health, epidemiology.

Palavras-chave: mortalidade, saúde da mulher, epidemiologia.

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Introdução O surgimento da globalização e o aparecimento de novas tecnologias facilitaram e capacitaram proissionais da área da saúde a realizar seu trabalho de maneira eicaz, sem prejuízo para vida das pessoas. Entretanto, os índices de mortalidade materna e neonatal continuam em crescimento abundante preocupando ainda mais as instituições governamentais [1]. Segundo CID-10, a mortalidade materna pode ser deinida como: ‘’Morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez, devida a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais’’ [2]. O índice de mortalidade materna nos países subdesenvolvidos é expressivamente maior do que nos países desenvolvidos. Tal fato pode ser explicado devido à má distribuição de renda entre os países e baixa qualidade de vida nesses países. Nota-se também que em países desenvolvidos a locação dos sistemas saúde público são melhores distribuídos de acordo com a gravidade da doença e dessa forma, não há supersaturação durante a indigência de atendimento, abordando a todos os necessitados [3]. Atualmente, o Ministério da Saúde vem adotando uma série de medidas preventivas em relação à mortalidade materna, promovendo uma atenção especializada na obstetrícia a im de melhorar a atenção na saúde da mulher, aumentando a qualidade de vida da mesma durante o seu período pré e pós-gestacional [14]. No Brasil há uma preocupação extrema por partes das organizações governamentais tanto no âmbito federal, estadual e municipal quanto aos serviços de saúde devido ao elevado crescimento da morte materna, constituindo-se como uma grave questão de saúde pública [4]. Segundo Laurenti, o Brasil (2004): “No primeiro semestre de 2002, constou 7.332 mortes de mulheres de 10 a 49 anos de idade, das quais 458 (6,2%) ocorreram no ciclo gravídico puerperal ampliado, com mortes ocorridas na gestação, no parto e até um ano depois deste. O maior número de óbitos ocorreu nas Regiões Norte (8,4%) e Nordeste (8,2%), em relação ao Sul (6,4%), Centro-Oeste (6,4%) e Sudeste (5,1%)” [5]. Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar e construir um peril sociodemográico em relação aos índices de mortalidade materna levando em consideração as sub-regiões brasileiras, no ano de 2010.

Metodologia A pesquisa trata-se de um estudo ecológico de prevalência com caráter descritivo quantitativo de corte retrospectivo, visando analisar a inluência dos fatores sociodemográicos sobre a mortalidade materna do Brasil no ano de 2010. Os dados

analisados foram obtidos pelo Datasus/2012 - Banco de dados do Sistema Único de Saúde, referente ao ano de 2010 [6]. A pesquisa teve inicio com a investigação de dados sobre os índices de mortalidade materna através do DATASUS, respeitando os seguintes passos: Informações de Saúde < Estatísticas Vitais < Mortalidade de óbitos de mulheres em idade fértil e óbitos maternos, pela CID-10 (Classiicação Internacional de Doenças – 10ª Revisão) < Abrangência Geográica (Brasil por região e Unidade de Federação), selecionando os seguintes pontos (Linha por região; coluna por faixa-etária, cor/raça, escolaridade e estado civil; e conteúdo por óbitos maternos), todos referentes ao ano de 2010; e por im, eleger ‘’mostrar’’. Esses passos nos deram a tabela de informação necessária para o incremento da pesquisa. A relevância da coleta desses dados é para que a partir deles possamos estimar o quanto os fatores sócio-demográicos inluenciam na porcentagem da mortalidade materna referentes ao ano de 2010, no Brasil.

Resultados No Brasil no ano de 2010 foram notiicados 1.719 óbitos maternos – Mortalidade Materna (MM), caracterizando a Razão de Mortalidade Materna (RMM) de 60,07 óbitos maternos para cada 100.000 nascidos vivos (NC), dados estes encontrados no DATASUS. Esse estudo apresenta a divisão das características desses óbitos a im de observar o peril do mesmo. O Gráico 1 mostra a MM relacionada ao estado civil dessas mulheres, onde se tem que, 60% (n = 1036) era solteira, 30% (n = 560) casada, 0,5% (n = 8) viúva, 2% (n = 28) separada judicialmente, 1% (n = 17) outro e 7% (n = 117) ignorado. Gráico 1 - MM relacionada ao estado cível dessas mulheres no Brasil, ano de 2010. 1200 1000 800 600 400 200 0

Nº de mortes maternas

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Separado

Solteira Casada Viúva judicialmente Outro Ignorado Série 1 1036

513

8

28

17

117

Fonte: DataSUS 2012.

Quando relacionamos a MM no mesmo período, com a faixa etária dessas mulheres, observamos que de 10 a 14 anos se teve 2% (n = 26) de MM, de 15 a 19 anos 14% (n = 247), de 20 a 29 anos 43% (n = 731), 30 a 39 anos 34% (n = 583), de 40 a 49 anos 7% (n = 128), de 50 a 59 anos 0,2% (n = 3) e idade ignorada 0,06% (n = 1). (Gráico 2).

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Nº de mortes maternas

Gráico 2 - MM relacionada à faixa etária dessas mulheres no Brasil, ano 2010. 800 700 600 500 400 300 200 100 0 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 Ignorada anos anos anos anos anos anos

Série 1

26

247

731

583

128

3

1

fonte: datasus 2012.

Quando selecionamos o dado da MM relacionada à cor/ raça, observamos que a parda apresenta o maior índice com 48%, seguindo-se pela branca, preta, ignorada, indígena e amarela, que tem valores respectivos de: 35%, 11%, 5%, 1% e 0,2%. Esse mesmo dado em relação ao nível de escolaridade apresentou mulheres que não tiveram nenhuma escolaridade com 4% desses óbitos, as que estudaram de 1 a 3 anos 11%, de 1 a 7 anos 30%, 8 a 11 anos 23%, de 12 anos a mais 10% e essa característica estava ignorado 22% dessa população (Tabela I). Tabela I - MM no ano de 2000, no Brasil, relacionada à cor/raça e anos de escolaridade. Características Cor/Raça Branca Preta Amarela Parda Indígena Ignorada Escolaridade Nenhuma 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 11 anos 12 anos e mais Ignorado

n° de mortes maternas (%) 595 (35%) 181 (11%) 4 (0,2%) 831 (48%) 18 (1%) 90 (5%) 65 (4%) 186 (11%) 510 (30%) 399 (23%) 175 (10%) 384 (22%)

Fonte: DataSUS 2012.

Discussão Considera-se a média do Coeiciente de Mortalidade Materna de 20 a 49 óbitos para cada 100.000 Nascidos Vivos (NV), sendo considerado elevado quando este parâmetro estiver entre 50 a 149. Quando o número ultrapassa os 150 óbitos por 100.000 NV, diz-se que o Coeiciente de Mortalidade Materna é muito alto [7] No ano de 2002, o Centro Brasileiro de Classiicação de Doenças da Organização Mundial de Saúde, estimou a

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razão de mortalidade materna (RMM) no Brasil em 75,9 por 100.000 NV [8]. Em nosso estudo que avaliou a RMM no ano de 2010 foi observado à redução dessa taxa, chegando a 60,07 por 100.000 NV. Quando relacionamos o estado civil aos óbitos maternos, as mulheres solteiras apresentam elevados índices nessas mortes. Foi observado no município do Rio de Janeiro, no intervalo de tempo de 1996 a 2004, que 67,3% dos óbitos maternos, foram mulheres solteiras [9]. Outro estudo realizado em Sorocaba/SP no ano de 2000 mostrou que 61,5% dos óbitos maternas eram mulheres solteiras [10]. Essa mesmo relação foi observada em nosso estudo que mostrou a porcentagem de 60% dos óbitos maternos como sendo de solteiras. Estudo realizado sobre a mortalidade materna nos anos se 2000 a 2004, no estado da Paraíba, observou os óbitos maternos relacionados à faixa etária e apresentou porcentagem de 16,5% para mulheres ≤ 19 anos, de 59,7% entre 20 e 34 anos e 23,8% para ≥ 35 anos [11]. Em outro estudo também foi observada a ocorrência de uma elevada porcentagem de mortes maternas 40,8% na faixa etária de 30 a 39 anos [9]. Esses autores vêm a corroborar nosso estudo, que aponta que no ano de 2010 óbitos de mulheres com idade ≤ 19 anos retrata 16%, entre 20 e 34 anos, 77% e ≥ 35 anos 7%, valendo salientar que apesar da faixa etária de 20 a 34 anos nos dois estudos se apresentou bastante elevados, no ano de 2010 esse aumento foi expressivamente maior. Já na pesquisa em que realizou a investigação de óbitos maternos no Distrito Federal nos anos de 2001 a 2005 [12], refuta nosso estudo, mostrando que a maior número de mortalidade materna ocorre quando em faixas etárias mais elevadas de 40 a 49 anos. Em relação à variável cor/raça, autores relataram haver signiicante prevalência de morte materna em mulheres não brancas (parda e negra) [12]. Sendo observado esse mesmo dado no presente estudo, onde a prevalência de cor/raça de morenas e negras somadas representam 59%. Também foram observadas que 76,9% de mortes maternas eram mulheres brancas [10]. Outros autores relataram não observaram diferenças na distribuição das mortes maternas nessa variável [9]. O Ministério da Saúde apresentou essa relação por região relatando que no Sul o número de óbitos maternas em mulheres se sobressaiu, no Norte e Nordeste o número de mortes maternas em mulheres pardas foram maiores e no Sul e Sudeste apresentou em maior proporção as mulheres negras Isso aponta que a relação da cor/raça com os óbitos maternos, apresenta-se de forma bastante controversa na literatura e sofrem dentre outras inluência o fator regional [13]. No que se referi à escolaridade, as referências apontam haver uma maior taxa de mortes em mulheres com escolaridade abaixo de 8 anos [11,12]. Esses autores corroboram o presente estudo, que obteve que 45% dos óbitos maternas foram em mulheres com escolaridade abaixo de 8 anos, valendo salientar que 22% desse dados foi informado.

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Conclusão Com base no que foi discutido esse estudo evidencia o peril sociodemográico da mulher brasileira no período de 2010, onde se observa que a maioria das mulheres concentrava-se entre 20 a 29 anos de idade, a grande parte era solteira, apresentava coloração parda e estudaram apenas oito anos. Tal fato é de grande relevância para as organizações estatais, tanto as municipais quanto estaduais e federal; pois há uma limitação de renda desperta principalmente nas regiões mais pobres, onde os índices de escolaridade e o suporte a informação é mais obstado. Portanto, é necessária a participação dos mesmos na formação de estratégias de intervenção que busquem amenizar o quadro de mortalidade materna brasileira e fornecer mais orientação em saúde para as mulheres com baixo nível estudantil e baixa renda.

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Artigo 34 Análise da relação entre idade gestacional e qualidade de vida em gestantes atendidas em unidades básicas de saúde da cidade do Natal/RN Analysis of relationship between gestational age and quality of life in pregnant women attended at Basic Health Units of Natal/RN

Laiane Santos Eufrásio, Acd*, Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Ft., M.Sc.**, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Ft., D.Sc. *Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), **Professora Assistente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí (UFRN/FACISA), ***Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da UFRN

Resumo

Abstract

Introdução: A gravidez corresponde a um período de inúmeras transformações que interferem na qualidade vida das gestantes, podendo ser inluenciada por diversos fatores. Objetivo: Analisar a relação entre idade gestacional e qualidade de vida de gestantes atendidas em Unidades Básicas de Saúde do município de Natal/ RN. Material e métodos: Participaram do estudo 82 gestantes, com faixa etária entre 18 e 37 anos e idade gestacional entre a 2ª e a 40ª semana. A qualidade de vida foi avaliada através do Índice de Qualidade de Vida (IQV) de Ferrans e Powers. Para análise estatística utilizaram-se os testes de Kolmogorov-Smirnov e o de correlação de Pearson. Resultados: A média da idade cronológica da amostra foi de 24,5 (± 5,6) anos e da gestacional 25,3 (± 10,4) semanas. Analisando a relação entre o IQVFP e a idade gestacional (IG), no 1° trimestre houve correlação moderada (r = 0,571; p = 0,03) e positiva indicando melhora da qualidade de vida com o avançar da IG, e no 3° trimestre, correlação fraca (r = -,371; p = 0,01) e negativa entre as variáveis, sugerindo uma diminuição da qualidade de vida com o progredir da gestação. Conclusão: Durante o primeiro trimestre há melhora da QV, enquanto que no terceiro, observou-se diminuição nos escores desta variável.

Introduction: Pregnancy is a period of many changes that afect the quality of life of the pregnant women, and may be inluenced by several factors. Objective: To analyze the relationship between gestational age and quality of life of pregnant women attended at Basic Health Units of Natal/RN. Material and methods: he study included 82 pregnant women, 18 to 37 years old and gestational age between 2 and 40 weeks. Quality of life was assessed using the Quality of Life Index (QLI) of Ferrans and Powers. For statistical analysis we used the Kolmogorov-Smirnov test and Pearson correlation. Results: he mean chronological age of the sample was 24.5 (± 5.6) years and gestational 25.3 (± 10.4) weeks. Analyzing the relationship between IQVFP and gestational age (GA) in the 1st quarter there was a moderate correlation (r = 0.571, p = 0.03) and positive indicating better quality of life with advancing gestational age, and in 3th quarter a weak correlation (r = -, 371, p = 0.01) and negative correlation between the variables, suggesting a decreasing quality of life with advanced gestation. Conclusion: In irst quarter there was improvement in QL, whereas in third, there was decrease in scores of this variable. Key-words: pregnant women, prenatal care, quality of life.

Palavras-chave: gestantes, cuidado pré-natal, qualidade de vida.

Endereço para correspondência: Laiane Santos Eufrásio, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Fisioterapia, Av. Senador Salgado Filho, 3000 caixa postal: 1524, 59072-970 Natal RN, E-mail: [email protected]

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Introdução A gravidez corresponde a um período de inúmeras transformações no corpo da mulher, tanto isicamente, considerando as alterações hormonais e estruturais, quanto psicológica e socialmente, uma vez que a mulher deixa de ser, apenas, ilha e passa a ser mãe. Certamente, em nenhuma outra fase do ciclo vital, haja maior mudança na forma e no funcionamento do corpo humano, em tão curto espaço de tempo. Tais mudanças vão desde o momento da nidação até todo o período da gestação e o inal da lactação [1]. Como airma Souza [2], desde o início da gravidez, o organismo materno sofre mudanças que afetam o funcionamento habitual dos sistemas digestivo, circulatório, respiratório e da biomecânica postural. Enim, ocorre um processo de transformações e adaptações, necessárias ao perfeito crescimento e desenvolvimento fetal. Essas mudanças geralmente vêm acompanhadas de medos, dúvidas, angústias, insegurança e fantasias. A gestação dura normalmente cerca de 280 dias, o que equivale a 40 semanas após a última menstruação, e pode ser dividida em três trimestres, sendo o 1° trimestre abaixo de 13 semanas, o 2° trimestre de 14 a 27 semanas e o 3° trimestre acima de 28 semanas. Nesse período, faz-se necessário um acompanhamento médico especíico, o pré-natal, com o objetivo de avaliar a evolução da gravidez, bem como promover a saúde da gestante e do seu concepto, por meio de procedimentos clínicos e educativos [3]. O serviço pré-natal tem fundamental importância uma vez que prevê possíveis complicações que possam existir no período gestacional e no parto. Além disso, permite traçar medidas preventivas por meio de informações e assistência interdisciplinar à gestante, e ainda prepará-la para o parto e o nascimento humanizado sem intercorrências. Nesse período, as trocas de informações sobre as diferentes vivências são ideais que aconteçam entre as mulheres e os proissionais de saúde, uma vez que essa possibilidade de intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação. Tudo isso contribui para a redução da mortalidade materno-infantil e garante à gestante uma maternidade mais segura, com uma melhor qualidade de vida [4]. Dessa forma, é aconselhável que o controle pré-natal seja iniciado o mais precocemente possível e que a mulher se consulte com frequência determinada por seu obstetra, sendo bem mais rigorosa em casos de gravidez de alto risco ou em gestações múltiplas. Nota-se assim, que toda a rotina da mulher precisa ser adaptada à nova realidade em que se encontra [5]. A gestante está sujeita a vários fatores que interferem em sua qualidade de vida, como: alterações hormonais, de humor, grau de aptidão física, distúrbios no sono, mudanças na aparência, cuidados com dieta e imunidade [6]. O nível de interferência destes fatores pode variar de acordo com o grau

de instrução, antecedentes pessoais patológicos e obstétricos, antecedentes familiares, nível socioeconômico e até com a personalidade de cada uma [7]. Assim, é importante considerar que a qualidade de vida, conceituada como a percepção subjetiva de cada indivíduo, está relacionada ao estado de saúde em que a pessoa se encontra, reletindo ou não em seus comportamentos relacionados à sua funcionalidade, sua socialização e suas atividades habituais [8]. Sendo assim, o presente estudo busca investigar a qualidade de vida e sua relação com a idade gestacional. A necessidade de maior aprofundamento sobre o tema é reforçada pela escassez de estudos na literatura que contemplem o assunto.

Material e métodos O estudo realizado foi analítico, descritivo e transversal com gestantes em atendimento pré-natal de quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Natal/RN, com dados coletados em agosto de 2012. O processo de amostragem foi do tipo não-probabilístico, gerando, assim, uma amostra por conveniência. O grupo amostral foi composto por gestantes usuárias do serviço de atendimento pré-natal de quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Natal/RN, escolhidas aleatoriamente. A amostra foi composta por 82 mulheres, que aderiram voluntariamente ao estudo. Como critérios de inclusão, adotou-se que as grávidas estivessem em acompanhamento pré-natal nas UBS’s escolhidas, tivessem capacidade de leitura e entendimento da língua portuguesa. A recusa da participante em responder o questionário e/ou concluir seu preenchimento foi considerada como critério de exclusão. O referido estudo foi submetido e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Onofre Lopes sob protocolo 329/09. Além disso, foi solicitada autorização formal aos diretores de cada Unidade Básica para a realização da coleta de dados. Todas as voluntárias foram informadas a respeito dos objetivos e procedimentos da pesquisa e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Para caracterização da amostra foi utilizada uma icha de identiicação sócio-demográica e clínica, composta pelas seguintes variáveis: idade, ocupação, renda familiar, escolaridade, situação conjugal, planejamento gestacional, idade gestacional, histórico obstétrico, hábitos e vícios. Para análise da qualidade de vida das gestantes foi utilizado o instrumento de Ferrans & Powers. Este questionário foi traduzido para a língua portuguesa e validado por Kimura [9] e adaptado para aplicação com gestantes por Fernandes; Narchi; Cianciarrullo [10]. O Índice de Qualidade de Vida (IQV) de Ferrans e Powers é um instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida que agrupa 34 itens em

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Resultados As médias das idades cronológica e gestacional na amostra estudada foram, respectivamente, de 24,5 (± 5,6) e 25,3 (± 10,4). Os demais dados socioeconômicos e obstétricos encontram-se apresentados na Tabela I. Tabela I - Frequências absoluta e reativa das variáveis socioeconômicas e obstétricas para a amostra estudada (n = 82). Variáveis Estado civil Não tem companheiro Casada Tem companheiro Escolaridade Ensino fundamental Ensino médio Ensino superior Pós-graduação

(n = 82) N

%

6 18 58

7,3 22 70,7

24 54 3 1

29,3 65,9 3,7 1,2

Renda familiar (Salários mínimos) 1a2 3a4 Mais de 4 Não respondeu Trimestre gestacional Primeiro Segundo Terceiro Paridade Multípara Nulípara Gravidez planejada Sim Não

70 8 3 1

85,4 9,8 3,7 1,2

14 22 46

17,1 26,8 56,1

38 44

46,3 53,7

29 53

35,4 64,6

A média e desvio-padrão do Índice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers para a amostra estudada encontram-se na Tabela II. Tabela II – Média, desvio-padrão, p-valor e mínimo – máximo do escore total e dos domínios do IQVFP para a amostra estudada (n = 82). Variáveis IQVFP Saúde e f unção Socioeconômico Psicológico e espiritual Família

média (DP) 22,7 (± 4,6) 21,1 (± 4,7) 21,8 (± 5,4) 24,4 (± 5,4) 24,5 (± 6,0)

Min – Máx (0 - 30) 6,2 – 29,7 7,3 – 29,5 7,4 – 30 2,5 – 30 3 - 30

IQVP – Índice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers.

Dividindo-se a amostra por trimestre, analisou-se a relação entre a idade gestacional (IG) e a média dos escores do Índice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers (IQVFP). Obteve-se uma correlação moderada (r = 0,571; p = 0,03) e positiva entre a IG e o IQVFP, indicando que há uma melhora da qualidade de vida com o avançar da gestação durante o primeiro trimestre (Figura 1). Figura 1 - Correlação entre os escores do Índice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers e a idade gestacional, considerando o primeiro trimestre (n = 14). Índice de qualidade de vida de Ferrans e Powers

quatro domínios inter-relacionados: saúde e funcionamento composto por 14 itens, psicológico e espiritual composto por 7 itens, socioeconômico composto por 9 itens e família composto por 4 itens. O instrumento utilizado nessa pesquisa, adaptado para gestantes, icou constituído de 36 itens distribuídos nos quatro domínios da seguinte forma: saúde e funcionamento com 17 itens, psicológico e espiritual com 6 itens, socioeconômico com 9 itens e família com 4 itens, mensurando satisfação e importância nas várias áreas da vida da grávida. Os escores do Índice de Qualidade de Vida (IQV) de Ferrans e Powers, em cada item varia de uma escala de 6 pontos, sendo na parte I de 1 a 3 níveis decrescentes de insatisfação e de 4 a 6 níveis crescentes de satisfação, variando de “muito insatisfeito” (1) a “muito satisfeito” (6), e na parte II de “sem nenhuma importância” a “muito importante”. A pontuação total pode variar de 0 a 30 pontos, sendo ponderado cada item de satisfação com o seu correspondente de importância. Os maiores escores correspondem à alta satisfação e importância, e os menores escores a baixa satisfação e importância. Com isso, pressupõe-se que as gestantes que estão satisfeitas com áreas que consideram importantes desfrutam de uma melhor qualidade de vida. A análise estatística foi de caráter descritivo, com os respectivos valores absolutos e relativos, através das medidas de tendência central e de dispersão e os respectivos intervalos de coniança. Para análise estatística dos dados foi utilizado o software Statistical Pachage for the Social Science (SPSS) for Windows, versão 17.0. Foram utilizados os Testes de Kolmogorov-Smirnov para avaliar a normalidade dos dados e o teste de correlação de Pearson para analisar a associação entre as variáveis estudadas.

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30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 R2 Linear = 0,326

5,00

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2

4 6 8 10 Idade Gestacional (em semanas)

12

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Para o terceiro trimestre, observou-se correlação fraca (r = -,371; p = 0,01) e negativa entre as variáveis, sugerindo que há uma diminuição da qualidade de vida com o avançar da IG durante o terceiro trimestre (Figura 2). Para o segundo trimestre, não foram observadas relações signiicativas.

Índice de qualidade de vida de Ferrans e Powers

Figura 2 - Correlação entre os escores do Índice de Qualidade de Vida de Ferrans e Powers e a idade gestacional, considerando o terceiro trimestre (n = 46). 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 R2 Linear = 0,137

5,00 26

28 30 32 34 36 38 Idade Gestacional (em semanas)

40

Discussão O início e o desenvolvimento de uma gestação são percebidos como fenômenos complexos, por ser esta uma fase do ciclo vital feminino em que a mulher desfruta do privilégio de gerar um novo ser. Durante esse estágio, ocorrem profundas alterações psicológicas, orgânicas e isiológicas, repercutindo psíquica e socialmente na vida da mulher e de seus familiares. Isto pode ser considerado um episódio de crise no ciclo evolutivo de muitas mulheres [11]. Alterações como aumento de peso, das mamas e do abdômen são as modiicações corporais mais relatadas pelas mulheres no período gravídico, porém experimentadas de maneira distinta por cada uma de acordo com o período gestacional. Nesse contexto, o segundo e terceiro trimestres são ressaltados como períodos em que essas alterações são mais signiicativas [11]. A qualidade de vida, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) [12], é conceituada como sendo a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores nos quais ele vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Considerando as alterações do período gravídico, a qualidade de vida das mulheres parece ser inluenciada por tais modiicações [13]. Observou-se, através dos resultados dessa pesquisa, que as gestantes apresentam boa qualidade de vida, contradizendo estudo realizado nos EUA, com 125 gestantes, conirma que as mudanças da gravidez alteram a qualidade de vida, principalmente no estado funcional dessas gestantes [14].

Os resultados desse estudo mostram que há relação entre a idade gestacional e a qualidade de vida durante o primeiro e terceiro trimestres. No primeiro, observou-se melhora da qualidade de vida com o avançar da gestação. Esse resultado é corroborado por Fernandes [15] que, utilizando o mesmo instrumento adaptado, relata que houve diferença estatística entre essas mesmas variáveis comparando as gestantes do 1° trimestre com às do 2°, notando que as gestantes do 1° trimestre apresentaram índices maiores de qualidade de vida. Já no terceiro trimestre, houve diminuição da QV, contradizendo os resultados da pesquisa realizada por Fernandes [16] que comparou a média dos escores do IQVFP e, por domínio, no 2° e 3° trimestres gestacionais não observando diferença estatisticamente signiicativa, concluindo que a média da qualidade de vida nos três trimestres gestacionais foi relativamente a mesma. Enquanto que um estudo realizado em São Paulo com 202 gestantes, relacionando idade gestacional com domínios de qualidade de vida, como capacidade funcional, aspectos físicos e dor, apresentou que quanto mais avançada a gestação menor os escores desses domínios [17]. Permitindo concordar com o que o presente estudo apontou no último trimestre da gestação. Diante dos resultados desta pesquisa, pode-se inferir que as gestantes do terceiro trimestre apresentam um declínio da qualidade de vida, devido a proximidade do parto, o aumento dos seios e da barriga, limitações físicas, distúrbios do sono, ganho de peso, mudanças na marcha, alterações respiratórias, dor lombar e inchaços. O fator psicológico relacionado à espera do bebê, ansiedade e preocupação para o parto também pode interferir na qualidade de vida [18]. No primeiro trimestre, mesmo com a ocorrência de enjoos e náuseas, a felicidade e a euforia de poder gerar uma nova vida e as modiicações corporais menos marcantes podem justiicar a melhora da qualidade de vida neste período [18,19]. Este estudo destacou a importância de se avaliar a qualidade de vida das gestantes durante cada período gestacional, levando em consideração as várias alterações comuns e normais que sofre o corpo dessa gestante, assim como outros fatores emocionais e sociais. Logo, entende-se que os níveis de qualidade de vida das gestantes muitas vezes decaem por essas grandes alterações modiicarem seus sentimentos, suas ações, seus relacionamentos interpessoais, e sua relação com seu próprio corpo. Em consequência disto, a qualidade de vida da gestante se altera com a progressão da idade gestacional, podendo até diminuir signiicativamente [17].

Conclusão Devido à importância do tema, tornam-se cada vez mais necessários estudos que avaliem a qualidade de vida dessa população, considerando um maior número amostral. Adicionalmente, devem-se analisar os vários fatores que

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interferem na qualidade de vida das gestantes de modo que se obtenha uma avaliação idedigna de tal aspecto. Tais informações serão úteis na elaboração de programas de saúde e isioterapêuticos especíicos para prevenção e/ou reabilitação das queixas cinético-funcionais e clínicas que interferem na QV das gestantes.

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Artigo 35 Avaliação do desconforto respiratório em gestantes: uma abordagem isioterapêutica Assessment of respiratory distress in pregnancy: physical therapy approach Jéssica Costa Leite*; Saulo Patrício Gonçalves, Ft.**, Gabriela Brasileiro Campos Mota, M.Sc.***, Denise Almeida Santos, Esp.**, Maíra Creusa Farias Belo, D.Sc.****, Tércio de Sousa Mota, M.Sc.*****, Matheus Brasileiro Campos** *Discente de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba e Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), **Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), ***Docente do Curso de Fisioterapia e coordenadora da Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia na Saúde da Mulher da Faculdade de Ciências Médicas, Doutoranda em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande, Coordenadora do PRASM, ****Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas, **** Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Maurício de Nassau/Unesc Faculdades/Universidade Estadual da Paraíba, *****Docente do Curso de Direito da Faculdade de Ciências Socias e Aplicadas, Doutorando em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande, Pesquisador do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM)

Resumo

Abstract

Na gestação há adaptações no sistema respiratório, decorrentes das mudanças mecânicas e bioquímicas que afetam a função respiratória. O objetivo deste estudo foi avaliar a mobilidade torácica e grau de dispneia em gestantes, como também identiicar os principais desconfortos ventilatórios inerentes a este período. Trata-se de um estudo tranversal, de caráter descritivo exploratório, com abordagem quantitativa realizado com 45 gestantes admitidas no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, no período de outubro a novembro de 2011. O processamento dos dados foi feito através do Oice Excel 2000 bem como a utilização do Teste de Pearson para veriicação do grau de correlação linear entre as variáveis contínuas. A presença da dispneia foi a maior queixa referida pelas gestantes, conirmada através da Escala de Borg, onde 74% tinham seu desempenho ventilatório prejudicado e também pela moderada correlação existente entre altura do fundo uterino (AFU) e frequência respiratória (FR), fazendo com que no decorrer dos trimestres pelo aumento da AFU haja um aumento da FR, como mecanismo compensatório. Sugere-se novas pesquisas com esta temática na intenção de favorecer a melhor adaptação da gestante às alterações existentes, atenuando assim os desconfortos instalados e promovendo uma melhor qualidade de vida.

During pregnancy there are signiicant adjustments in the respiratory system, resulting from mechanical and biochemical changes that interact and afect respiratory function. herefore, the aim of this study is to evaluate the thoracic mobility and degree of dyspnea in pregnant women, as well as identify key discomforts inherent ventilatory this period. his was a transversal, exploratory, descriptive and quantitative study conducted with 45 pregnant women admitted at the Institute for Health Elpidio de Almeida, Campina Grande/PB in the period October-November 2011. Data processing was done using Oice Excel 2000 and the use of the Pearson test to determine the degree of linear correlation between continuous variables. he presence of dyspnea was the most frequent complaint among pregnant women, conirmed by Borg scale, where 74% had impaired ventilatory performance and also by moderate correlation between the height of the uterine fundus and respiratory rate (RR), suggesting a compensatory mechanism between the increase in height of the fundus and the increase in FR. It is suggested further research on this topic in an attempt to adapt the pregnant women to the existing changes, thereby decreasing the discomforts installed and promoting a better quality of life. Key-words: physical therapy, pregnancy, dyspnea.

Palavras-chave: isioterapia, gravidez, dispnéia.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47 Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail: [email protected]

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Introdução A gravidez tem uma duração de 40 semanas, sendo esta dividida em três trimestres, onde a mulher passa por diversas adaptações anatômicas, isiológicas e bioquímicas. Muitas alterações começam logo após a fertilização e continuam durante a gestação, sendo a maioria em resposta de estímulos isiológicos produzidos pelo feto ou pelos tecidos fetais [1]. O sistema respiratório, dentre outros, sofre alterações signiicativas, modiicando a função respiratória e o intercâmbio gasoso [2]. E devido às modiicações anatômicas há o aumento da capacidade inspiratória, por diminuição do volume residual funcional, como meio de promover maior suporte de oxigênio para feto-placenta [1]. O diafragma é uma musculatura responsável por grande parte do processo respiratório, cerca de 70% da capacidade vital [3]. Durante o processo gravídico, o mesmo se desloca aproximadamente quatro centímetros a cima da sua orientação normal, sendo isto em decorrência do crescimento uterino e do alargamento das costelas inferiores. O mesmo favorece uma distensão do diâmetros ântero-posterior e transverso do tórax da gestante em cerca de 2 cm, além de elevar o ângulo subcostal, que passa de 68°, no início da gestação para 103° no decorrer dela [4]. Devido a tais adaptações isiológicas, a dispnéia tem sido relatada como o principal desconforto vivenciado pela mulher durante o processo gestatório, ocorrendo em cerca de 60%-70% das gestantes, de forma mais intensa no terceiro trimestre [5]. A diiculdade ou desconforto respiratório é provavelmente o fator isolado mais importante, na limitação da capacidade do indivíduo nas funções básicas do dia-a-dia, existindo diversos instrumentos destinados para avaliação da intensidade da dispnéia, dentre eles a Escala Modiicada de Borg, onde sua aplicação é feita de forma direta, no momento em que o paciente está apresentando a dispnéia [6]. Para a avaliação das disfunções torácicas com o objetivo de fornecer o diagnóstico cinético-funcional para atuação terapêutica preventiva ou curativa e provável prognóstico do paciente, torna-se necessário um exame especíico que inclui a avaliação da mobilidade torácica, conhecido como cirtometria [7]. Desta forma, torna-se importante compreender as alte7rações que acometem o sistema respiratório, no que se refere à isiologia e mecânica ventilatória da mulher durante o período gestacional [8], uma vez que, a isioterapia surge como alternativa, no intuito de favorecer a saúde materno-fetal e atenuar os desconfortos decorrentes da gestação, uma vez que, têm se mostrado um excelente proposta terapêutica na prevenção e tratamento das disfunções ventilatórias inerentes ao processo gestatório. Destarte, frente às modificações corporais vivenciadas pelas gestantes para que a função pulmonar se ajuste à

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nova situação, a pesquisa apresentou como objetivo avaliar a mobilidade torácica e grau de dispneia em gestantes ao longo dos trimestres, como também identificar os principais desconfortos ventilatórios inerentes ao período gravídico.

Material e métodos Trata-se de um estudo tranversal, de caráter descritivo exploratório, com abordagem quantitativa. A amostra foi composta por gestantes admitidas pelo serviço de pré-natal do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), localizado na cidade de Campina Grande/PB, em parceria com o Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), realizado no período de outubro a novembro de 2011. A amostra foi do tipo não-probabilística e por acessibilidade, composta por 45 gestantes admitidas no PRASM, que aceitaram participar da pesquisa e que se adequaram aos critérios de inclusão da mesma, sendo divididas em três grupos correnpondentes ao trimestre de 15 grávidas.

Critérios de inclusão e exclusão De acordo com os critérios de inclusão, participaram as gestantes admitidas no PRASM durante o período da coleta de dados, sem restrições de qualquer caráter para a realização da avaliação, que não houvessem realizado nenhum tratamento isioterapêutico anterior a avaliação, e que aceitem constituir a amostra. Sendo excluídas, aquelas com estado clínico que direta ou indiretamente diiculte ou contra-indique a avaliação proposta, histórico de doença cardiopulmonar, fumo e índice de massa corpórea (IMC) acima de 40 kg/m2, e que se recusem a participar. Antes de dar início à pesquisa, o projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética e Pesquisa do ISEA e da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, sendo aprovado e tendo CAEE 0651.0.133.000-11, e ulterior assinatura do Termo de Autorização Institucional pelo responsável pelo local de desenvolvimento da pesquisa. Atendendo as determinações da Resolução 196/96 para pesquisa em seres humanos, foi solicitada as participantes a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Sendo as gestantes que compuseram a amostra avaliadas de acordo com o protocolo de avaliação cinético-funcional da gestação, para obtenção dos dados sócio-demográicos e referentes a gestação, como medida da Altura do Fundo Uterino (AFU) e circunferência abdominal, idade gestacional, dentre outros. Posteriormente, foi realizada a cirtometria como técnica de avaliação da mobilidade torácica a partir na mensuração de três regiões: axilar, xifóide e basal. Ainda durante a avaliação foi veriicado a saturação de O2 das pacientes, como também questionamentos sobre o nível de esforço percebido por elas nas atividades diárias relacionando com a fadiga e dispneia

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após o referido esforço, utilizando para este im a Escala de Borg Modiicada. Os dados coletados nesta pesquisa forma direcionados para a quantiicação estatística, possibilitando além do cálculo de médias e percentagens, através do método estatístico descritivo do Programa Oice Excel 2000 e apresentados em forma de gráicos, o cálculo do desvio padrão para análise da dispersão, bem como, realizado o Teste de Pearson para veriicar o grau de correlação linear entre as variáveis contínuas em estudo.

Figura 2 - Avaliação da Escala Modiicada de Borg, ao longo dos trimestres. 44% 0,40 0,35

30%

0,30 0,25

20%

0,20 0,15 0,10

6%

0,05 0,00

Muito leve

Leve

Moderado Pouco severo

Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.

Os valores da relação entre a evolução do crescimento da Altura do Fundo Uterino (AFU) e da Frequência Respiratória (FR), ao longo dos trimestres gestacionais presente na Figura 3 indica que à AFU, para as gestantes que se correspondiam ao 1º trimestre da gestação a média foi de 13,6 ± 1,2 cm, das gestantes que se encontravam entre no 2º trimestre a média foi de 24,4 ± 2,8 cm e para as gestantes que se encontravam no terceiro trimestre da gestação a média foi 32,4 ± 2,5 cm. Já em relação à FR, para as gestantes do primeiro trimestre a média foi de 14,53 ± 0,5 irpm, para as gestantes representantes do segundo trimestre a média foi também de 17,6 ± 0,9 irpm e para as gestantes do terceiro trimestre a média foi de 19,06 ± 0,79 irpm. Figura 3 - Correlação entre AFU e FR. Número de incursões (irpm)

Sobre o peril das gestantes, foi possível analisar sobre a idade que 23% da amostra insere-se na faixa etária entre 13 a 15 anos, 65% entre 16 e 18 anos, 12% com mais de 19 anos de idade. Desta forma, podendo-se observar uma predominância de gestantes com idade entre 16 e 18 anos de idade que realizam pré-natal e participaram da amostra da pesquisa. Referente aos valores dos desconfortos ventilatórios relatados pelas gestantes ao longo dos três trimestres gestacionais, a Figura 1, mostra que dentre as gestantes que se encontravam no 1º trimestre de gestação, apenas 40% delas relataram que não queixava-se de desconforto ventilatório, enquanto que 60% relataram. Nas pacientes enquadradas no segundo trimestre, 30% não relataram queixa de desconforto e 70% relataram alguma queixa de desconforto. E nas pacientes que se encontravam no terceiro trimestre de gestação, apenas 15% relataram nenhuma queixa de desconforto, enquanto que 85% relataram alguma queixa de desconforto ventilatório.

25

Figura 1 - Desconfortos ventilatórios apresentados pelas gestantes no decorrer dos três trimestres.

Amostra (%)

100,00%

60,00% 40,00%

60,00%

70,00%

40,00%

20,00%

15 10

85,00%

80,00%

20

30,00%

14,53

24,7 17,6

13,6

5 0

1º trimestre 2º trimestre Idade gestacional FR

15,00%

32,4 35 30 19,06 25 20 15 10 5 0 3º trimestre

Mensuração (cm)

Resultados

AFU

Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.

0,00 1 2 3 Idade Gestaacional (Trimestres) Apresentam Não apresentam

A Figura 4 apresenta os dados referentes aos valores médios da Saturação de Oxigênio (SatO2) e FR das gestantes, durante os trimestres, de maneira a possibilitar a correlação entre as respectivas variáveis.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.

Quando aplicada a Escala Modiicada de Borg nestas gestantes, os dados mostram que 6% da amostra relataram esforço muito leve, 20% relataram esforço leve, 30% relataram esforço moderado e 44% das gestantes relataram esforço pouco severo (Figura 2).

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25

97,86

17,6

20 15

97,53

14,53

10 5 0

1º trimestre 2º trimestre Idade gestacional FR

Discussão

98 19,06 97,8 97,6 97,4 97,2 97,2 97 96,8 3º trimestre

Saturação (%)

Número de incursões (irpm)

Figura 4 - Correlação entre FR e SatO2.

SaT. DE o2

Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.

Os resultados explicitam para a SatO2 no primeiro trimestre uma média de 97,8±0,3%, para as gestantes no segundo trimestre, 97,5 ± 0,7% para as gestantes dentre o terceiro trimestre estabelece uma média de 97,2 ± 0,6%. Já em relação à FR, para as gestantes no primeiro trimestre a média foi de 14,53 ± 0,5 irpm, para as gestantes referentes ao segundo trimestre a média foi também de 17,6 ± 0,9 irpm e para as gestante no terceiro trimestre de gestação a média foi de 19,06 ± 0,7 irpm. A Figura 5 apresenta os dados referentes à cirtometria, ao longo dos trimestres gestacionais, analisando comparativamente a variação média entre a inspiração e expiração das gestantes avaliadas, e a correlação entre tais variáveis.

Mensuração (cm)

Figura 5 - Cirtometria Torácica. 83 82 81 80 79 78 77 76

82,6 80,5

80,8

80,3 79

193

78,8

1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre Idade Gestacional (Trimestres) Inspiratória Expiratória

Fonte: Dados da Pesquisa, 2011.

Na mensuração das medidas pela cirtometria torácica obteve-se que a média para as gestantes comprieendidas no primeiro trimestre foi de 82,6 ± 6,7 cm para inspiração e 80,5 ± 6,4 cm para expiração, para as gestantes do segundo trimestre a média foi 80,8 ± 4,6 cm para inspiração e 79 ± 4,7 cm para expiração, já para as gestantes do terceiro trimestre a média foi de 80,3 ± 3,3 cm para inspiração e 78,8 ± 3,5 cm para expiração.

Por meio dos resultados expostos pode-se observar uma predominância de gestantes com idade variando entre 13 e 18 anos de idade, o que sugere a ocorrência, em maior percentual da amostra em estudo, de gravidez na adolescência. Isto torna-se um dado preocupante em relação a saúde materno-fetal, pois até os 21 anos de idade observa-se a maturação dos órgãos sexuais [9]. Quanto ao questionamento sobre o desconforto respiratório (Figura 1), conhecido cientiicamente como dispnéia, tanto sua mensuração quanto sua interpretação são de forma subjetiva [6]. Os dados encontrados na presente pesquisa corroboram com os achados de Moretti [10] quando airma que a dispneia é uma queixa referida de 60 a 70% das grávidas durante o período gestacional. A mesma ainda acrescenta que isiologicamente ocorre um aumento de 20 a 30% no consumo de oxigênio, sendo dessa forma compensado por uma respiração mais profunda, que aumenta o esforço respiratório. Por sua vez, Lemos et al. [5] discutem que a presença da dispnéia é signiicativamente presente na população de gestantes, estando associada às alterações da caixa torácica e da musculatura abdominal, podendo sugerir interferência no funcionamento biomecânico da bomba muscular respiratória durante este periodo. Em contra partida, alterações na função pulmonar são provavelmente pequenas demais para explicar o surgimento da dispnéia, mas que as alterações da caixa torácica poderiam inluenciar o surgimento desse sintoma/queixa [11]. Quando aplicada a Escala de Borg Modiicada (Figura 2), os resultados direcionam que a maioria das pacientes 74%, relataram esforço de moderado a pouco severo, sugerindo que o desempenho ventilatório das mesmas apresenta-se prejudicado decorrentes das adaptações do período gestatório, levando assim a desconfortos ventilatórios como a queixa de dispneia veriicada através da escala modiicada de Borg. Analisando a Figura 3 podemos observar uma correlação crescente entre a AFU e a FR, uma vez que com o avançar dos trimestres gestacional houve um crescimento paralelo de ambas. De acordo com o Teste de Pearson (p = 0,9), existe uma moderada correlação entre estas, sugerindo que com o aumento gradativo da AFU, no decorrer dos trimestres e mais acentuado no terceiro trimestre, há uma diminuição da expansibilidade e complacência pulmonar, levando a um aumento consequente da frequência respiratória, na tentativa de manter a SatO2. Já que o útero ganha aproximadamente 6 Kg até o im da gestação, levando a consequências como o deslocamento superior do diafragma [1]. A gestante de forma compensatória respira mais profundamente, e sua frequência respiratória aumenta aproximadamente em duas respirações por minuto ao mais, causando um aumento de 40% no volume respiratório por minuto [12], clinicamente ocorrendo uma hiperventilação, para o isso o hormônio pelo qual contribui relevantemente para este efeito é a progesterona que se apresenta aumentada [5].

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Alguns pesquisadores [13] consideram que o volume total da frequência respiratória é aumentado durante a gestação, e há uma diminuição cerca de 25% da tensão de dióxido de carbono do sangue materno, favorecendo consequentemente a sensação de dispnéia referida pelas gestantes principalmente no último trimestre e durante atividade, corroborando com os dados da pesquisa. Os dados relacionados na Figura 4 demonstram que a frequência respiratória aumenta em poucas incursões por minuto, garantindo assim valores normais para saturação de oxigênio. Ao serem analisados estatisticamente, através do teste de Pearson (p=-0,9) os dados mostram uma correlação positiva, apesar de pequena, entre as variáveis. Os valores encontrados sugerem que este evento venha a ser justiicado, conforme a literatura, pelo fato de que a maior demanda de oxigênio (cerca de 20% no terceiro trimestre) mantenha os níveis normais de sua saturação. Os altos níveis de progesterona aumentam a sensibilidade do centro respiratório ao gás carbônico, resultando num aumento da ventilação minuto em cerca de 50% e uma diminuição da pressão de gás carbônico arterial. A frequência respiratória não se altera, mas a profundidade da respiração é aumenta [14]. Em detrimento da cirtometria, os dados apresentados demonstram uma elevação da cirtometria realizada durante o movimento inspiratório, analisando comparativamente a evolução dos trimestres, bem como, o aumento gradual da cirtometria durante a expiração. Isto sugere a diminuição da expansibilidade pulmonar, tanto inspiratória quanto expiratória, favorecendo o aumento da FR como possível compensação para suprir a demanda de oxigênio necessária para a saúde materno-fetal.

Conclusão De acordo com os resultados obtidos, notou-se que o conhecimento das alterações decorrentes do período gestatório permite um uma melhor compreensão da funcionalidade da musculatura respiratória, possibilitando assim o surgimento de mais estudos que venham a colaborar nesse sentindo, melhorando a abordagem isioterapêutica voltada para tais alterações.

Existindo a necessidade de mais estudos voltados à temática abordada na intenção de favorecer a melhor adaptação da gestante as alterações isiológicas promovidas, de forma a atenuar desconfortos instalados e assim proporcionar uma melhor qualidade de vida ao binômio mãe-ilho.

Referencias 1. Baracho E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia, uroginecologia e aspectos de mastologia. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. 2. Machado MGR, Aroeira RMC, Assumpção JA. Alteração do sistema respiratório na gravidez. In: Baracho E. Fisioterapia aplicada à obstetrícia. Aspectos de ginecologia e neonatologia. 3a ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2002. 3. Tarantino AB. Doenças pulmonares. 5a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 4. Guyton AC, Hall JE. Tratado de isiologia médica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1997. 5. Lemos A, Caminha MA, Melo Jr EF, Andrade AD. Avaliação da força muscular respiratória no terceiro trimestre de gestação. Rev Bras Fisioter 2005;9(2):151-6. 6. Cavallazzi TGL, Cavallazzi RS, Cavalcante TMC, Bettencourt ARC, Diccini S. Avaliação do uso da Escala Modiicada de Borg na crise asmátia. Acta Paul Enferm 2005;18(1):39-45. 7. Okoshi MP, Campana AO, Godoy I. Exame Físico do Tórax – Aparelho Respiratório. A Rev Clín Méd 1997;30(9):33-53. 8. Almeida LGD, Constâncio FL, Santos CVS. Análise comparativa das pe e pi máximas entre mulheres grávidas e não-grávidas e entre grávidas de diferentes períodos gestacionais. Rev Saúde Com 2005;1(1):91-7. 9. Guimarães EB. Gravidez na adolescência: fatores de risco. In: Saito MI, Silva EV. Adolescência – Prevenção e Risco. São Paulo: Atheneu; 2001. 10. Moretti E. Problemas comuns da gravidez: cuidados planejados. 2a ed. Passo Fundo:UPF; 2000. 11. Field SK, Bell SG, Cenaiko DF, Whitelaw WA. Relationship between inspiratory efort and breathlessness in pregnancy. J Appl Physiol 1991;71:1897-902. 12. Barros SMO. Enfermagem no ciclo gravídico puerperal. 1a ed. São Paulo: Manole; 2006. 13. Polden M, Mantle J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia. São Paulo: Santos; 2002. 14. Konkler CA, Kisner BS. Princípios de exercícios para a paciente obstétrica. In:, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 3a ed. São Paulo: Manole; 1998

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Artigo 36 Avaliação do grau de satisfação de gestantes usuárias do serviço de isioterapia de uma maternidade pública Evaluation of satisfaction of pregnant women using a physical therapy service in a public hospital André Gustavo Marcolino Leal*, Lidyane Ferreira de Oliveira, Esp.**, Gabriela Brasileiro Campos Mota, M.Sc.***, hâmara Pequeno de Paiva****, Denise Almeida Santos, Esp.**, Matheus Brasileiro Campos**, Tércio de Sousa Mota, M.Sc.***** *Discente de Fisioterapia da Universidade Estadual da Paraíba e Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), **Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), **Docente do Curso de Fisioterapia e coordenadora da Pós-graduação Lato Sensu em Fisioterapia na Saúde da Mulher da Faculdade de Ciências Médicas, Doutoranda em Engenharia de Processos pela Universidade Federal de Campina Grande, Coordenadora do PRASM, ****Discente de Fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas e Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), *****Docente do Curso de Direito da Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas, Doutorando em Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande, Pesquisador(a) do Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM)

Resumo

Abstract

A inadequada qualidade dos serviços públicos de saúde repercute diretamente no nível de satisfação. O objetivo desta pesquisa foi identiicar o grau de satisfação de gestantes usuárias do serviço de Fisioterapia de uma maternidade pública. O estudo foi transversal, quantitativo e descritivo exploratório, não-probabilístico e intencional, composto por 30 gestantes que admitidas no Programa de Atenção a Saúde da Mulher- PRASM desenvolvido no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, de outubro a novembro de 2011. A avaliação foi feita através do questionário e os dados analisados e distribuídos através de variáveis numéricas. Os resultados caracterizaram a amostra com faixa etária de 12 a 36 anos, com baixo nível sócio-econômico (53,3%), baixa escolaridade (43,3%) com ensino fundamental incompleto e que nunca realizou tratamento isioterapêutico prévio (76,7%). Sobre a avaliação do grau de satisfação da relação terapeuta-paciente a amostra relatou inexistência de insatisfação. Quanto á localização da unidade, as gestantes apresentaram respostas negativas, porém 63,3% com certeza recomendaria o serviço. Pode-se concluir que é alto o nível de satisfação perante o atendimento isioterapêutico recebido, sugerindo, que uma boa relação terapeuta-paciente propicia bem estar físico intervindo positivamente na satisfação das pacientes, de modo a favorecer o desenvolvimento do tratamento.

he inadequate quality of public health services directly afects the level of satisfaction. he objective of this study was to identify the degree of satisfaction of pregnant women who received service from a physical therapy service of a public hospital.  his study (cross-sectional, exploratory, descriptive, quantitative, probabilistic and non-intentional), included 30 pregnant women who were part of the Program for Women’s Health (PRASM) conducted at the Health Institute Elpidio de Almeida, from October to November 2011. he evaluation was performed using the questionnaire. Data were analyzed and distributed via numeric variables. he results characterized the sample aged 12-36 years with low socioeconomic status (53.3%), low education (43.3%) with incomplete primary education (76.7%) never performed physical therapy prior. On the evaluation of the degree of satisfaction of the therapist-patient reported no dissatisfaction. For the location of the unit, the patients showed negative responses. (63.3%) would recommend the service for sure. We concluded that is high level of the satisfaction with the received physical therapy, suggesting that, besides the improvement, a good therapist-patient relationship promotes physical well being and intervene positively in patient satisfaction in order to foster the development of treatment. Key-words: pregnancy, satisfaction, physical therapy.

Palavras-chave: gestação, satisfação, isioterapia.

Endereço para correspondência: Gabriela Brasileiro Campos Mota, Rua Adolfo José Amaral, 47 Catolé 58410-870 Campina Grande PB, E-mail: [email protected]

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Introdução A gravidez vista como processo isiológico é compreendida pela sequencia de adaptações ocorridas no corpo da mulher a partir da fertilização, que são necessárias ao desenvolvimento fetal [1]. Tais alterações ocorrem em todos os sistemas corporais maternos, tais como o sistema genital, endócrino, tegumentar, urinário, hematológico, músculo-esquelético, gastrointestinal, respiratório, cardiovascular e nas mamas [2]. Ao longo da história os benefícios de um estilo de vida mais ativo durante o período gestacional foram sendo reconhecidos, despertando o interesse de muitos proissionais da área de saúde. Um grande número de gestantes tem procurado diversos meios para obtenção de uma gravidez mais segura e saudável, visando o bem-estar próprio e do feto. A isioterapia aplicada à obstetrícia se encaixa nesse tipo de abordagem, pois trabalha a qualidade de vida das mulheres em atividades pré e pós-natais, com condutas especíicas de suporte às gestantes e puérperas [3]  Na perspectiva de favorecer a qualidade de vida materno-fetal, de forma indiscriminada as gestantes de todas as classes sociais e com níveis de renda distintos, o Sistema Único de Saúde (SUS) vem, de forma crescente, disponibilizando serviços de atenção a Saúde da Mulher, destaque-se a obstetrícia. Atualmente, o SUS representa o maior empregador de trabalhadores em saúde e pelo Ministério da Saúde, mais de 90% da população brasileira é usuária de alguma forma dos serviços de saúde do SUS [4]. Entretanto, reconhece-se a baixa qualidade dos serviços oferecidos em termos de equipamentos e proissionais, a ausência de participação da população na formulação e gestão das políticas de saúde e a falta de mecanismos de acompanhamento, controle e avaliação dos serviços. A inadequada qualidade de tais serviços repercute diretamente no nível de satisfação de seus quanto aos sistemas e serviços de saúde e políticas públicas [5]. A satisfação está totalmente relacionada à qualidade técnica e relete na adesão e sucesso do tratamento. Pacientes insatisfeitos oferecem menor adesão ao tratamento prestado. Com relação ao domínio da saúde, satisfação entende-se as reações do usuário de serviços de saúde aos aspectos do serviço recebido. Sendo assim, a satisfação é caracterizada como de natureza multidimensional uma vez que o mesmo sujeito pode mostrar-se insatisfeito com alguns aspectos em torno do seu tratamento e, no entanto, mostrar-se extremamente satisfeito com outros [6]. A avaliação da satisfação do usuário sobre a assistência de saúde oferecida é um componente muito importante de ser avaliado, no que se refere à qualidade de atendimento recebido. A participação do usuário na avaliação da satisfação relaciona-se à maior adequação na utilização dos serviços de saúde, englobando tanto à estrutura, como com relação ao processo do cuidado da saúde [7].

Faz-se necessário avaliar a satisfação do usuário, pois pacientes insatisfeitos apresentam menor adesão ao tratamento, diicultando a melhora do quadro e possível sucesso do tratamento. Apesar da prevalência dessas alterações isiológicas na gestação existem poucos dados que constatam a satisfação das gestantes sobre a eicácia da atuação isioterapêutica aplicada à fase gestacional, justiicando a valia de maiores estudos sobre o tema. Acredita-se, assim, que o planejamento e o redirecionamento das políticas públicas, particularmente daquelas relacionas à saúde, tenderão mais ao acerto quanto mais estiverem justiicados pelo respeito às perspectivas e às necessidades dos usuários, as quais parecem passíveis de detecção e análise. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo geral avaliar o grau de satisfação de gestantes usuárias do serviço de Fisioterapia de uma maternidade pública. E como objetivos especíicos traçar o peril sócio-demográico das gestantes avaliadas e estabelecer quais os aspectos mais importantes que determinam a satisfação do paciente.

Material e métodos Trata-se de um estudo transversal de natureza aplicada, que objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigido a solução de problemas especíicos; do tipo quantitativo, por traduzir em números, opiniões e informações para classiicá-las e analisá-las, requerendo o uso de recursos e de técnicas estatísticas; e descritivo exploratório tratamento dos dados através de técnicas estatísticas. Inicialmente, o projeto foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), obtendo aprovação e parecer sob CAAE 0640.0.133.000-11, a partir da qual se deu inicio a pesquisa. A referida pesquisa foi realizada nas dependências do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), localizado na cidade de Campina Grande/PB, em parceria com Programa de Atenção à Saúde da Mulher (PRASM), em 2011. O responsável pelo local assinou o Termo de Autorização Institucional. A população selecionada para este estudo foi composta por gestantes admitidas pelo serviço de pré-natal do ISEA, onde estas receberam os devidos esclarecimentos sobre a inalidade e o trajeto metodológico que o estudo visava seguir. A amostra foi do tipo não-probabilística e por acessibilidade, composta por 30 gestantes admitidas no PRASM, que aceitaram participar da pesquisa e que se adequaram aos critérios de inclusão e exclusão. Foram adotados como critério de inclusão: gestantes admitidas no Programa no período da coleta de dados, sem restrições de qualquer caráter para a realização da avaliação, que estivessem realizando ou realizado tratamento isioterapêutico na gestação no serviço anterior a avaliação, e que aceitassem constituir a amostra. Foram adotados como critério de exclusão: gestantes com estado clínico que direta ou indiretamente diicultasse ou contra indicasse a avaliação proposta.

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Foi utilizado na coleta de dados, um questionário composto por questões objetivas, o “Questionário sobre a satisfação dos usuários com a Fisioterapia na rede pública de saúde” validado por Moreira et al. [5]. O questionário contém 32 questões e está dividido em 2 partes: uma descritiva, com 11 questões para caracterizar a amostra, e outra objetiva, para avaliar a satisfação do usuário. Este está dividido em 6 dimensões: relação terapeuta-paciente (16 questões), marcação de consulta (2), ambiente físico (8), acesso (2), e estrutura física (2) questões. Todas apresentavam 5 opções de respostas: péssimo, ruim, bom, ótimo e excelente. As 2 últimas questões objetivas avaliavam: se o usuário retornaria ao serviço e se ele o recomendaria. Também com 5 opções de respostas: nunca, não, talvez, sim, e com certeza. Para analisar as respostas atribuiu-se valores a elas: péssimo/nunca valor 1, ruim/ não 2, bom/talvez 3, ótimo/sim 4 e excelente/com certeza 5; e atribuiu- se um descritor para a satisfação As gestantes admitidas no PRASM que atenderam aos critérios de inclusão do presente estudo foram esclarecidas quanto aos objetivos, importância e procedimentos da pesquisa, e mediante aceitação foram solicitadas a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo garantida a participação voluntária, sem danos e prejuízos, o sigilo, anonimato e privacidade dos dados envolvidos na pesquisa. Em seguida, as gestantes que compuseram a amostra foram avaliadas individualmente através do “Questionário sobre a satisfação dos usuários com a Fisioterapia na rede pública de saúde”, com perguntas pertinentes ao objeto do estudo. A coleta dos dados se deu na forma de entrevista, mediada pelas pesquisadoras. Os dados foram analisados de forma estatística descritiva e inferencial, através do software Microsoft Oice Exel, sendo adotado um valor de p13 meses Classiicação da IU IUE Urgeincontinência IU mista IMC Normal Sobrepeso Obesidade grau I Tipo de parto Vaginal Cesariana Vaginal e cesariana Nenhum

N

%

1 1 12

7,2% 7,2% 85,6%

5 4 5

35,7% 28,6% 35,7%

2 10 2

14,2% 71,6% 14,2%

9 1 2 2

64,4% 7,2%

14,2% 14,2%

Legenda: IU = Incontinência urinária; IUE = Incontinência Urinária de Esforço; IMC: normal (entre 18,5 e 24,9 kg/m2); sobrepeso (25-29,9 kg/m2); Obesidade grau I (30-34,9 kg/m2).

A Tabela II apresenta os valores médios dos escores obtidos para os domínios da KHQ individualmente. A média de valores obtida a partir do Inventário de Depressão de Beck foi de 7,7 ± 5,2. Tabela II - Valores dos escores obtidos para os domínios do King’s Health Questionnaire (média – DP). Domínios do KHQ Percepção geral de saúde Impacto da incontinência urinária Limitações de atividades diárias Limitações físicas Limitações sociais Relacionamento pessoal Emoções Sono/disposição Medida de gravidade

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Média 42,8 35,6 7,1 14,2 6,3 6,6 21,4 10,6 22,8

DP 18,1 30,5 6,5 7,1 5,2 4,8 19,3 6,8 17,1

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média de idade acima dos 59 anos entre as mulheres com IU [3]. Isto decorre do processo de envelhecimento, em que a força de contração do músculo detrusor, a capacidade vesical e habilidade de adiar a micção encontram-se diminuídas. Além do que é comum observar a diminuição das ibras colágenas, a substituição de tecido muscular por tecido adiposo e a diminuição de estrógeno, hormônio este que é responsável pela coaptação da mucosa uretral [3,6]. A escolaridade da maior parte da amostra concentrou-se entre o ensino fundamental completo ou incompleto e há evidências de que a baixa escolaridade é considerada um fator de risco para o desenvolvimento da IU [26]. Quanto à raça, a maior parte da amostra foi composta por mulheres brancas. É provável que existam diferenças anatômicas ou na resistência uretral e nas estruturas de suporte do assoalho pélvico que causem essa diferença entre brancas e negras [12,27]. Quanto ao início da apresentação dos sintomas, 85,6% das mulheres tiveram os primeiros indícios de IU há mais de um ano, fato esse que também ocorreu em outro estudo, no qual o tempo variou de 1 a 23 anos [28]. Esse achado revela a diiculdade das mulheres com IU em relação ao acesso à informação sobre o assunto e até mesmo atendimento proissional especializado, e esse tempo de acometimento é diretamente proporcional ao desgaste físico e psíquico. Observou-se que a maioria da amostra apresentou sobrepeso. Existem indícios de que a IU é uma situação que se associa com o grau de obesidade. Um estudo mostrou que 30,7% das mulheres com sobrepeso, referiram IU, assim como 37,5% das que tinham obesidade grau I, devido ao aumento da sobrecarga sobre o assoalho pélvico [29]. Estudos sugerem que quanto maior o número de partos, maior o risco de desenvolver IU [4,26]. O tipo de parto também interfere neste processo e o parto vaginal pode estar associado a um aumento do número de casos de IU, apesar de não poder ser considerado isoladamente como um fator de risco, mas quando relacionado a traumas e lesões do assoalho pélvico [30]. Com relação aos sintomas urinários, as mulheres que apresentam sintomas de urgeincontinência tornam-se incapazes de exercer o controle sobre a micção; já um sintoma como a noctúria, apesar de presente não afeta tanto a vida da população [15]. Quando avaliada a percepção geral da saúde através da KHQ, foi veriicado um maior escore, demonstrando o déicit de satisfação com a saúde das mulheres com IU no momento da avaliação e estando de acordo com pesquisas anteriores. Outro resultado notório é o impacto da IU, onde revela que a disfunção afeta diretamente a qualidade de vida da paciente. Esses resultados concordam com estudo semelhante que também avaliou a qualidade de vida de mulheres com IU [1]. A avaliação dos domínios especíicos de qualidade de vida, segundo o KHQ, permitiu observar uma variação de resultados nos diversos aspectos avaliados. Em relação à interferência dos sintomas da IU nas atividades da vida diária, atividades sociais

e nas relações pessoais, a maioria das mulheres relatou não afetar ou ter a vida pouco comprometida pela disfunção [1]. O impacto que a incontinência causa na vida social, provoca restrições quanto à ação de frequentar lugares públicos, viajar, dormir fora de casa e até mesmo fazer visitas aos amigos. Isto está relacionado ao fato de as mulheres evitarem sair de casa, pois além de icarem constrangidas e com medo do odor que a urina pode causar, sentem-se inseguras quando cogitam a possibilidade de não ter disponível local adequado para realizar a micçãol [32]. Esses problemas não foram relatados de forma relevante no presente estudo, acredita-se que o escore reduzido para este domínio deve-se ao tratamento isioterapêutico oferecido as participantes da pesquisa pelo serviço onde foi realizado o estudo. Essa hipótese apoia-se nos resultados de um estudo que objetivou avaliar a qualidade de vida em mulheres após tratamento da incontinência urinária de esforço com isioterapia, obtendo melhora signiicativa para as atividades sociais associadas ao tratamento [31]. Quando considerado o domínio das emoções, a pesquisa apresentou um escore negativo relevante. Pode-se perceber que a qualidade de vida com relação a este aspecto é consideravelmente afetada, quando comparada aos demais avaliados, conforme relatado em estudo anterior [15]. Quanto às medidas de proteção e higiene relacionadas a severidade da IU (uso de forros ou absorventes e troca de roupas), veriicou-se que as mulheres referiram uma diminuição da qualidade de vida quando necessitavam fazer uso dessas desses artifícios. No estudo citado anteriormente, encontrou-se resultado semelhante, sendo a qualidade de vida pior em mulheres que utilizavam absorventes e forros [15]. Infere-se, dessa forma, que o impacto sobre o estilo de vida varia muito entre as mulheres, visto que o desvio-padrão das médias dos escores avaliados manteve-se elevado em todos os domínios, fato semelhante ao que aconteceu em uma pesquisa que avaliou também a qualidade de vida em mulheres com IU [31], sugerindo o caráter subjetivo da avaliação da qualidade de vida. Com relação ao quadro depressivo, ao aplicar o Inventário de Depressão de Beck, não foram encontrados valores que indicassem depressão, justiicado pelo fato de o questionário ser inespecíico para o problema ou por expressar níveis de depressão e não de ansiedade e nervosismo, sendo estes últimos mais comuns na mulher incontinente. Quanto as limitações do estudo, apesar das variadas repercussões sobre qualidade de vida das mulheres com IU, envolvendo alterações físicas, econômicas e psicossociais e que interferem no dia-a-dia, nos âmbitos social, proissional, sexual e familiar, no presente estudo estas airmações apresentam-se restritas, assim como a conclusão deinitiva acerca da qualidade de vida dessa população, já que a pesquisa teve um caráter transversal e descritivo. Além de constituir uma amostra reduzida, fazendo com que os dados expressem resultados incipientes.

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Conclusão Nesse estudo, a IU apresentou inluência negativa sobre a qualidade de vida das mulheres, com destaque para a percepção geral de saúde e o impacto da IU como fatores relevantes para a amostra estudada, apesar da subjetividade encontrada em torno do tema. Quanto à avaliação de depressão não foi expresso resultado que indicasse alerta acerca da instalação clínica da depressão. Sugere-se que novos estudos sejam realizados com uma amostra mais homogênea e robusta e que seja feita a comparação entre grupos diferentes submetidos e não submetidos a tratamento isioterapêutico, a im de se estabelecer a concreta importância desse tratamento.

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Artigo 38 Inluência de um protocolo de exercícios cinesioterapêuticos sobre a qualidade do sono de mulheres grávidas: ensaio clínico randomizado controlado

Inluence of an exercise protocol on sleep quality in pregnant women: randomized controlled trial Silvia Oliveira Ribeiro, Acd*, Vanessa Patrícia Soares de Sousa, Ft., M.Sc..**, Dayse Aleixo Bezerra, Ft.***, Bárbara Emmily Cavalcanti Vale, Acd****, Gabriele Natane de Medeiros Cirne, Acd****, Elizabel de Souza Ramalho Viana, Ft., D.Sc.***** *Aluna de Iniciação Cientíica do Curso de Fisioterapia da UFRN, **Professora Assistente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí (UFRN/FACISA), ***Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação Infantil, Natal/RN, ****Acadêmicas do curso de Fisioterapia da UFRN/FACISA, *****Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia da UFRN

Resumo

Abstract

Introdução: A gravidez é um período em que o corpo da mulher passa transformações as quais podem inluenciar na qualidade do sono durante a gestação. O exercício físico parece beneiciar a mulher grávida, promovendo sensação de bem estar, da qualidade de sono e de dores. Objetivo: Analisar a inluência de exercícios cinesioterapêuticos sobre a qualidade do sono de gestantes. Metodologia: A pesquisa caracterizou-se por ser um ensaio clínico controlado randomizado, com amostra de 44 grávidas, divididas em Grupo Experimental (GE – n=20) e Grupo Controle (GC – n = 22). Ambos os grupos foram avaliados através do Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQPS) antes e após 12 sessões de Fisioterapia. O GE foi submetido a um protocolo de exercícios especíicos. Na análise estatística utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk e os Testes T de Student pareado e para amostras independentes. Resultados: Para o GE, antes dos exercícios, obteve-se média do IQPS de 7,3 e, ao inal, 5,2 (p = 0,001). As médias para o IQPS, após as 12 sessões, para os GC e GE foram, respectivamente, 5,2 e 8,9 (p = 0,001). Conclusão: Os resultados deste estudo sugerem que o exercício durante a gravidez promove melhora da qualidade subjetiva do sono.

Introduction: Pregnancy is a period in which the woman’s body is transformed which can inluence the quality of sleep during pregnancy. Exercise seems to beneit pregnant women, promoting a sense of well being, improving quality of sleep and pain. Objective: To analyze the inluence of exercise sleep quality of pregnant women. Methodology: his survey was a randomized controlled trial with a sample of 44 pregnant women divided into experimental group (EG - n = 20) and control group (CG - n = 22). Both groups were assessed using the Pittsburgh Quality Sleep Index (PSQI) before and after 12 sessions of physiotherapy. he GE was submitted to a speciic exercise protocol. Statistical analysis used the Shapiro-Wilk test and Student’s t paired and independent samples. Results: he GE, before exercise, obtained PSQI average of 7.3 and, inally, 5.2 (p = 0.001). he averages for the PSQI, after 12 sessions, for EG and CG were, respectively, 5.2 and 8.9 (p = 0.001). Conclusion: he results of this study suggest that exercise during pregnancy promotes improvement in subjective sleep quality. Key-words: sleep, pregnancy, physiotherapy

Palavras-chave: sono, gestação, isioterapia.

Endereço para correspondência: Vanessa Patrícia S. de Sousa, Departamento de Fisioterapia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Senador Salgado Filho, 3000 Caixa postal: 1524, 59072-970 Natal RN, E-mail: [email protected]

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Introdução A gravidez é um período em que o corpo da mulher passa por profundas transformações hormonais e biomecânicas [1]. Estas, por sua vez, resultam em modiicações nos sistemas corporais, que ocorrem para permitir o desenvolvimento normal e seguro do feto [2]. O aumento do peso corporal da gestante, mudanças no centro de gravidade e estabilidade articular, além de alterações no alinhamento musculoesquelético, podem resultar no aparecimento de sintomatologia dolorosa e inluenciar na qualidade do sono durante a gestação [3]. O sono é uma atividade altamente estruturada e bem organizada, que segue um ritmo circadiano e é regulada pela interação entre fatores biológicos e ambientais. Este processo é dividido em: a) sono não-REM (rapid eye movement), caracterizado pela diminuição progressiva do tônus muscular, inatividade cerebral e relativa regulação da atividade corporal e b) sono REM, momento no qual ocorrem os movimentos rápidos dos olhos e representa 20% do ciclo total do sono que é de 90 minutos. Atualmente, atribui-se o controle do ciclo sono-vigília aos sistemas hipotalâmicos e suas respectivas interações funcionais com o sistema temporizador circadiano [4]. As alterações do sono são prevalentes em mulheres grávidas. No entanto, estas têm sido consideradas características normais da gestação, não sendo alvo de avaliação e/ou tratamento por parte dos proissionais da saúde [5]. Dentre os principais distúrbios, característicos do período gravídico, destacam-se: modiicações na arquitetura e padrão do sono, insônia, sonolência diurna excessiva, distúrbios respiratórios e síndrome das pernas inquietas [6]. Pesquisas analisando as características do ciclo sono-vigília, ao longo da gestação, sugerem que há diminuição da duração média e qualidade do sono com o avançar da gravidez [7,8], que, por sua vez, podem inluenciar no tipo de parto, duração da parturição [9] e surgimento de depressão pós-parto [10]. Na literatura estão relatados os benefícios físicos decorridos da prática de exercício na gravidez. Dentre os benefícios do exercício na gestação, destacam-se: a sensação de bem estar, melhora do cansaço, da qualidade de sono e de dores nas costas [11], melhor controle de peso, além do melhor controle glicêmico em gestantes diabéticas [12]. Quanto à melhoria da qualidade de sono através do exercício, três hipóteses podem explicar esta questão: a) o aumento da temperatura corporal, em virtude do exercício, facilitaria o disparo do início do sono, através dos mecanismos de dissipação do calor e de indução do sono, ambos controlados pelo o hipotálamo; b) o aumento do gasto energético promovido pelo exercício durante a vigília aumentaria a necessidade de sono para alcançar um balanço energético positivo e c) a alta atividade catabólica durante a vigília reduz as reservas energéticas, aumentando a necessidade de sono e contribuindo para a atividade anabólica. É importante ressaltar que, em virtude desse aumento do gasto energético promovido pelo o

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exercício, o estágio 4 é ampliado, propiciando um sono mais profundo e restaurador isicamente [13]. Apesar dos benefícios decorrentes do exercício físico sobre a qualidade do sono, ainda é escasso o número de ensaios clínicos controlados randomizados, avaliando os efeitos da atividade física sobre o sono em populações de gestantes. Dessa forma, esta pesquisa objetivou analisar a inluência de um protocolo de exercícios cinesioterapêuticos sobre a qualidade do sono de mulheres grávidas.

Material e Métodos O estudo realizado tratou-se de um Ensaio Clínico Controlado Randomizado e teve como objetivo avaliar a inluência de protocolo de exercícios isioterápicos sobre a qualidade subjetiva do sono em mulheres grávidas. A pesquisa foi realizada no laboratório de Atendimento Materno-Infantil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no período de jul/2007 a jul/2008, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes, sob o protocolo de número 157/07. A população do estudo constituiu-se de gestantes inscritas no Curso Preparatório para a Gestação, Parto e Pós-parto (CPGPP), promovido semestralmente pelo Departamento de Fisioterapia da UFRN. O processo de amostragem caracterizou-se por ser do tipo não-probabilístico, resultando em número amostral de 44 voluntárias, divididas (aleatoriamente, por meio de sorteio simples) em duas condições experimentais: (1) Participação no CPGPP associada a realização do protocolo de exercícios cinesioterapêuticos - Grupo Experimental (GE = 20) e (2) Participação no CPGPP – Grupo Controle (GC = 24), dispostos no luxograma do estudo (Figura 1). As voluntárias foram selecionadas de acordo com os seguintes critérios: (1) está entre a 16ª e 37ª semanas gestacionais; (2) ter entre 19 e 38 anos; (3) não apresentar complicações obstétricas, tais como: risco de aborto, hipertensão arterial grave induzida pela gravidez (HAIG), toxemia gravídica, anemia grave e placenta prévia; (4) apresentarem qualidade subjetiva do sono ruim, reletida por escores acima de 5, de acordo com o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQSP). Foram excluídas do estudo gestantes que se desligaram voluntariamente da pesquisa e aquelas que excederam o número de três faltas durante a aplicação do protocolo de treinamento. Todas as voluntárias assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Inicialmente, foi realizada a divulgação do Curso Preparatório para a Gestação, Parto e Pós-parto (CPGPP) através da mídia escrita e visual. As gestantes interessadas entravam em contato direto com as pesquisadoras responsáveis e, então, eram inscritas no curso. Posteriormente, foi realizada a aplicação do Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQPS). Este questionário contém 19 questões, divididas em

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7 domínios, pontuados separadamente. A soma destes escores (variação: 0-21) provê uma medida global da qualidade do sono, com altas pontuações indicando sono insuiciente (> 5 é indicativo de distúrbios do sono). Os domínios avaliam vários componentes relacionados à qualidade do sono, tais como: duração, latência, frequência e gravidade de problemas especíicos relacionados ao sono e impacto do sono ruim sobre a funcionalidade durante o dia [14]. As voluntárias que apresentaram escores maiores do que 5 foram selecionadas e randomizadas por meio de um sorteio simples. Após esse procedimento, todas passaram por uma avaliação clínica e obstétrica, realizada por meio de icha de avaliação previamente estruturada. Figura 1 - Fluxograma do estudo. Gestantes inscritas no CPGPP (n=50) Voluntárias selecionadas (n=47)

Excluídas (n=3): - Inelegíveis

(3)

Randomização (n=47) Avaliação (n=47)

Grupo Experimental (GE) n=23

Grupo Controle (GC) n=24

Excluídas (n=3) Excesso de falta Grupo Experimental (GE) n=20

Grupo Controle (GC) n=24

As gestantes participaram de 12 encontros, que aconteceram 3 vezes por semana, ao longo de um mês, com a duração de 1h30min. Em tais ocasiões eram ministradas palestras com temas relacionados à gestação, parto e pós-parto. As voluntárias do GC foram orientadas a realizarem exercícios domiciliares de alongamento e fortalecimento para membros superiores (MMSS) e inferiores (MMII), respiratórios e de mobilidade pélvica. As gestantes do grupo de experimental (GE), além de participaram das palestras, realizaram um programa de exercícios que seguiu uma sequencia pré-estabelecida para dias alternados, preservando o mesmo horário para todos os encontros e grupos formados, com a inalidade de evitar alterações no ritmo circadiano das gestantes. Esta sequencia era realizada a cada encontro, de forma a contemplar todas as atividades físicas durante o programa. Foram realizados

exercícios para a musculatura do assoalho pélvico na bola suíça, exercícios respiratórios (padrões diafragmático, costal e misto), alongamento e fortalecimento de membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII). Para fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico, as gestantes foram orientadas a sentar sobre a bola suíça e realizarem anterversão, retroversão, inclinação lateral e circundução da pelve, associadas a contrações rápidas e, posteriormente, lentas. Realizou-se 3 séries de 10 repetições e, estabeleceu-se um tempo médio de 6 segundos para as contrações sustentadas. Para a musculatura de MMSS e tronco, foram realizados exercícios de alongamento para deltóide posterior, tríceps braquial, peitoral e grande dorsal, sendo realizadas 3 repetições com 15 segundos de sustentação, para cada exercício. Para fortalecimento da musculatura, foram feitas 3 séries de 10 repetições para os músculos: tríceps braquial, bíceps braquial, peitoral e deltóide, com as gestantes na posição sentada na bola suíça ou colchonete durante a atividade. A carga variou de 1 a 2 kg, selecionados de acordo com a resistência individual das voluntárias. O tempo de repouso entre as séries foi de 1 minuto. Os exercícios de alongamento e fortalecimento de MMII e tronco enfocaram os seguintes músculos: cadeias anterior e posterior, grupo adutor e paravertebrais, sendo mantida a mesma metodologia utilizada para MMSS e tronco. Os exercícios foram realizados em ambiente ventilado e iluminado. A pressão arterial das gestantes foi veriicada antes, durante e após os exercícios. Após os 12 encontros, todas as gestantes foram reavaliadas. Para a análise estatística, utilizou-se o programa Statistical Package for Social Science for Windows (SPSS) versão 17.0, sendo realizada a análise descritiva, com seus respectivos valores absolutos e relativos, através de medidas de tendência central e dispersão. Foram selecionadas as seguintes variáveis para análise: (1) categóricas – estado civil, escolaridade, paridade e trimestre gestacional; (2) quantitativa – qualidade do sono, representada pelo escore do Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh, antes (IQPSA) e após (IQPSD) as 12 sessões CPGPP. Foi realizado o teste de Shapiro-Wilk para testar a normalidade das variáveis quantitativas. Para a comparação das médias, antes e após o programa de exercícios pré-natais no GE, foi utilizado o teste t de Student para amostras pareadas. Para comparar a média do IQPSD entre o GE e o GC foi usado o teste t de Student para amostras independentes. Adotou-se um nível de signiicância de 5% de probabilidade (p < 0,05). Para o cálculo do tamanho da amostra foram utilizados dados obtidos do estudo-piloto, considerando como variável principal a qualidade do sono nos grupos de estudo, a saber: média e desvio-padrão do GE = 5,2 ±1,9; média e desvio-padrão do GC = 8,9 ± 2,9; poder do teste = 0,8 e nível alfa = 0,05. Esses valores foram adicionados ao programa Bioestat, versão 5.3, e, assim determinou-se uma amostra de 14 sujeitos para cada grupo (n total = 28).

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Resultados

Discussão

As médias das idades cronológica e gestacional da amostra estudada foram, respectivamente, 27,9 (± 4,1) anos e 23, 5 (± 6,7) semanas. Os dados sócio-demográicos e clínicos são apresentados na Tabela I, de acordo com os grupos de estudo (GE – Grupo Experimental e GC – Grupo Controle).

Este estudo de intervenção se propôs a avaliar a efetividade da cinesioterapia sobre a qualidade do sono em gestantes. Em décadas passadas, as gestantes eram aconselhadas a reduzirem suas atividades, especialmente durante os meses inais da gestação, por acreditar-se que o exercício aumentaria o risco de trabalho de parto prematuro por meio de estimulação da atividade uterina. No entanto, em meados da década de 90, o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) reconheceu que a prática da atividade física regular no período gestacional pode ser desenvolvida desde que a gestante apresente condições apropriadas [11]. Na amostra estudada, observou-se que as gestantes submetidas ao protocolo de exercícios, apresentam melhor qualidade do sono, quando comparada ao período anterior ao começo da cinesioterapia. Estudo de revisão conduzido por Babbar et al. [18] mostrou que a yoga é eicaz na atenuação de desconfortos gestacionais e distúrbios do sono. Essa modalidade de exercício apresenta semelhanças com o protocolo proposto nesta pesquisa. Sabe-se que os distúrbios do sono podem começar já no primeiro trimestre gestacional e, ao inal do segundo, observa-se alteração na quantidade do sono [5]. Desta forma, tais modiicações parecem aumentar signiicativamente com o avançar da gestação [6] e acabam sendo queixas frequentes nesse público [8]. Os distúrbios do sono podem culminar em desfechos obstétricos negativos, a saber: aumento do risco de parto pré-termo, pré-eclâmpsia e diabetes gestacional [17]. Porém, os resultados desta pesquisa sugerem que a prática de atividade física especíica e orientada exerce um efeito protetor contra as modiicações na qualidade do sono. Nesta pesquisa, quando comparadas as gestantes do GE e GC, observou-se melhora signiicativa da qualidade do sono no GE. Isto pode ser explicado por dados da literatura que airmam que o sono de pessoas ativas é melhor quando comparadas as inativas. Além disso, o exercício físico melhora o sono da população em geral, principalmente de indivíduos sedentários [13]. Estudo de revisão conduzido por Uchida et al. [19] mostrou que o exercício inluencia positivamente as funções dos sistemas somático, autônomo e endócrino, levando a melhora na qualidade do sono. Embora a eicácia do exercício físico sobre o sono tenha sido demonstrada e aceita pela American Sleep Disorders Association como uma intervenção não-farmacológica para a melhoria do sono, poucos proissionais da área de saúde têm recomendado e prescrito o exercício físico com este intuito [13]. Entretanto, ainda são escassos os estudos que analisem a inluência da prática da atividade física e do sono em mulheres grávidas. Variáveis relacionadas ao exercício físico, tais como: a intensidade e o volume, são extremamente importantes, pois quando a sobrecarga é aumentada até um nível ideal, existe uma melhor resposta na qualidade do sono. Por outro lado, quando a sobrecarga imposta pelo exercício é

Tabela I - Valores absolutos e relativos das variáveis sócio-demográicas e obstétricas para a amostra estudada (n=44), divididas de acordo com as condições experimentais. Variáveis

GE (n = 20) n %

Estado Civil Solteira Casada Divorciada União estável Escolaridade Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior Paridade Nulípara Primípara Trimestre gestacional Segundo Terceiro

GC (n = 24) n %

8 11 1 -

40 55 5 -

5 16 3

28 66 12,5

1 9 10

5 45 50

10 14

41,7 58,3

18 2

90 10

19 5

79,2 20,8

13 7

65 35

15 9

62,5 37,5

GE- Crupo Experimental; GC – Grupo Controle.

Com relação à qualidade subjetiva do sono, medida por meio do IQPS, observou-se melhora do sono no GE, após as sessões de cinesioterapia, sendo esta, estatisticamente significativa. No GC, obteve-se médias superiores a 5, indicando qualidade do sono ruim. As médias, desvio-padrão e significância do IQPS são apresentados na Tabela II.

Tabela II – Média, desvio-padrão e nível de signiicância da qualidade subjetiva do sono na amostra estudada (n = 44), divididas de acordo com as condições experimentais. GE (n = 20) GC (n = 24)

IQPSA 7,3 (± 2,1) 8,8 (± 3,0)

IQPSD 5,2 (± 1,9) 8,9 (± 2,9)

p-valor 0,001* 0,32

GE- Crupo Experimental; GC – Grupo Controle; *estatisticamente significativo (p
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