Estudo nacional de caracterização da sintomatologia músculo-esquelética em enfermeiros: resultados preliminares National study of MSDs symptoms in nurses: preliminary results

June 2, 2017 | Autor: T. Patrone Cotrim | Categoria: Occupational Health & Safety, Occupational Medicine, Work-Related Musculoskeletal Disorders
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Estudo nacional de caracterização da sintomatologia músculo-esquelética em enfermeiros: resultados preliminares National study of MSDs symptoms in nurses: preliminary results Serranheira, Florentinoa; Cotrim, Teresab; Rodrigues, Vitorc; Uva, Antóniod a

Escola Nacional de Saúde Pública/UNL, CIESP, CMDT-LA, [email protected] Faculdade de Motricidade Humana/UTL, , Secção de Ergonomia, [email protected] c Escola Superior de Enfermagem de Vila Real/CIDESD/UTAD, [email protected] d Escola Nacional de Saúde Pública/UNL, CIESP, CMDT-LA, [email protected] b

RESUMO As LMELT constituem um dos mais actuais e prevalentes problemas de saúde dos enfermeiros. O risco de LMELT resulta da actividade em enfermagem assentando, predominantemente, no levantamento, na movimentação ou no transporte e no (re)posicionamento de doentes, na repetitividade de gestos e na frequente adopção de posturas em ângulos intersegmentares extremos. A utilização de um sistema de autoreferenciação de sintomas pode constituir um meio de alerta na identificação das situações de risco de LMELT. Partiu-se de uma coorte constituída pela totalidade dos enfermeiros inscritos na Ordem dos Enfermeiros com os objectivos de (1) identificar, a nível nacional, a frequência de sintomas LMELT, considerando pertinentes os aspectos sócio-demográficos, assim como a caracterização de variáveis de exposição ocupacional relacionada com a sintomatologia nas diferentes unidades de saúde, e (2) caracterizar os factores etiológicos predominantes na ocorrência e distribuição dos sintomas músculoesqueléticos. Os resultados preliminares no final do mês de Agosto de 2010 (n=716), com representatividade nacional, denotam que a maioria dos enfermeiros respondentes é do sexo feminino (76,9%). A referenciação de sintomatologia músculo-esquelética distribui-se principalmente pelas regiões cervical (48,6%), dorsal (40,2%), lombar (58,6%), ombros (35,1%) e punhos (27,4%). Destacam-se como principais resultados a alusão a sintomas intensos (10,3%) a nível lombar e a presença de sintomas nos últimos 7 dias a nível da coluna vertebral (n=135 a 211), dos ombros (n=109) e dos punhos (n=75). O absentismo relacionado com as queixas nos últimos 12 meses é notório. Os sintomas estão muito ou totalmente relacionados com o trabalho de pé (59,8%), o inclinar o tronco (63,3%), o rodar o tronco (54,2%) e o levantar e deslocar cargas superiores a 10 Kg (58,6%), em particular a movimentação de doentes. De entre os enfermeiros, 67% refere sofrer de uma doença, destacando-se as hérnias discais (n=51), como a patologia mais frequente. Palavras-chave: Enfermeiros, Lesões músculo-esqueléticas; LMELT, Sintomas, Ergonomia, Epidemiologia

ABSTRACT MSDs are one of the most prevalent health problems of nurses. WRMSDs risks result from the work activity of nurses and are predominantly linked with handling, transportation and (re)positioning of patients, the frequent repetition and movements in extremes postures. The use of a self-reported symptoms questionnaire may be a way to identify MSDs risk workplaces. We started from a cohort of all nurses registered in the Nurses College with two main objectives of (1) identify at national level the frequency of MSDs symptoms, considering the socio-demographic concerns, as well as the characterization of occupational variables that determine the exposure-related symptoms in different health units, and (2) characterize the etiologic factors responsible for the occurrence and distribution of musculoskeletal symptoms. Preliminary results at the end of August 2010 (n=716) have a portuguese representativity, and show that most respondents nurses are female (76.9%). Referral of musculoskeletal symptoms is mostly at the cervical (48.6%), dorsal (40.2%), lumbar (58.6%), shoulder (35.1%) and wrists (27.4 %). Among them are (1) the reference of symptoms with

high intensity (10.3%) at the lumbar level, (2) the presence of symptoms in the last 7 days at spine level (n=135 to 211), shoulder (n=109) and wrist (n=75). Absenteeism related with complaints in the last 12 months is remarkable. The relation of symptoms with the activity is linked with the standing work (59.8%), the inclination of the trunk (63.3%), the rotating of the trunk (54.2%) the raising or moving loads exceeding 10 kg (58.6%), particularly patients. Among nurses, 67% report suffering from an illness, highlighting the disc herniations (n=51). Keywords: Nurses, MSDs, WRMSDs, Symptoms, Ergonomics, Epidemiology

1. INTRODUÇÃO As Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao Trabalho (LMELT) constituem um dos mais actuais e prevalentes problemas de saúde dos trabalhadores. Em Hospitais e outras Unidades de Saúde observa-se uma elevada prevalência de LMELT entre os enfermeiros, comparativamente com a população geral (Jensen, 1990; (Pheasant & Stubbs, 1992). De entre os principais factores de risco de LMELT, nesse grupo profissional, encontram-se o levantamento, a movimentação ou o transporte e o (re)posicionamento de doentes, a repetitividade de gestos e a frequente adopção de posturas em ângulos intersegmentares extremos (Fonseca & Serranheira, 2006). A utilização de um sistema de auto-referenciação de sintomas pode constituir um meio de alerta na identificação das situações de risco de LMELT, uma vez que permite conhecer a sintomatologia músculo-esquelética auto-referida nesse grupo profissional (Serranheira, Pereira, Santos, & Cabrita, 2003). Existem diversos estudos sobre LMELT realizados em enfermeiros que se centram na avaliação das situações de risco como primeiro passo para uma efectiva gestão desses mesmos riscos. Incluem-se entre esses, e para além dos já referidos, também estudos transversais de caracterização do estado de saúde dos enfermeiros relacionado com a actividade profissional (Ando et al., 2000; Hignett, 1996; Josephson, Lagerstrom, Hagberg, & Wigaeus Hjelm, 1997; Lagerstrom, Wenemark, Hagberg, & Hjelm, 1995; Lipscomb, Trinkoff, Brady, & Geiger-Brown, 2004; Mehrdad, Dennerlein, Haghighat, & Aminian, 2010) que, de resto, são mais frequentes. Entre nós existem igualmente estudos que, no essencial, apresentam características regionais ou locais (Fonseca & Serranheira, 2006, Martins, 2008, Faria, 2008, Cotrim & Simões, 2009). Com o presente estudo pretendeu-se fazer uma caracterização nacional da sintomatologia músculoesquelética ligada ao trabalho em enfermeiros para conhecimento da prevalência de sintomas e da sua relação com aspectos sócio-demográficos e da actividade de trabalho. 2. POPULAÇÃO E MÉTODOS A coorte do presente estudo foi constituída pela totalidade dos enfermeiros inscritos na Ordem dos Enfermeiros. Tal população permite um sólido ponto de partida para avaliações comparativas no futuro, quer em grupos de risco elevado, quer como apreciação de eventuais alterações das queixas referidas. Assim, os principais objectivos do estudo passaram por: (1) identificar, a nível nacional, a frequência de sintomas LMELT, considerando pertinentes os aspectos sócio-demográficos, assim como a caracterização de variáveis de exposição ocupacional relacionadas com a sintomatologia nas diferentes unidades de saúde, e (2) caracterizar os factores etiológicos predominantes na ocorrência e distribuição dos sintomas músculoesqueléticos. Trata-se, assim, de um estudo epidemiológico de prevalência de sintomas de LMELT em enfermeiro(a)s com o propósito de conhecer melhor o fenómeno em estudo. Utilizou-se o portal da Ordem dos Enfermeiros para a divulgação do estudo e criou-se um link para a anuência à participação (realizada através do envio do email pessoal de cada enfermeiro respondente). O estudo foi igualmente divulgado pela Escola Nacional de Saúde Pública e pela Direcção Geral da Saúde. A todos os enfermeiros que anuíram participar no estudo foi enviado o referido link, também individual e por via electrónica (internet), do questionário de caracterização da sintomatologia de LMELT. O questionário, previamente validado, é constituído por quatro grandes grupos de questões (ICaracterização socio-demográfica, II- Sintomatologia músculo-esquelética, III- Relação das queixas com a actividade de trabalho e IV- Avaliação do estado de saúde). O questionário foi concebido para que o preenchimento fosse efectuado por via electrónica. O preenchimento e consequente submissão foram da inteira responsabilidade dos respondentes. Foram garantidos aos participantes no estudo critérios de não divulgação dos dados individuais. As respostas, também obtidas por via electrónica, foram registadas numa base de dados sem elementos de identificação pessoal dos respondentes. A colheita de respostas iniciou-se em Julho de 2010 e terminará em Janeiro de 2011. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO No final do mês de Agosto de 2010 existiam 716 respondentes. Desses 24,7% (n=175) eram da região Norte do país, 29,3% (n=208) do Centro, 26,8% (n=190) de Lisboa e Vale do Tejo, 4,5% (n=32) do Alentejo, 4,9% (n=35) do Algarve, 7,3% (n=52) da Madeira e 2,4% (n=17) dos Açores (os sete restantes foram não respondentes). A distribuição, relativamente ao local de trabalho, foi maioritariamente hospitalar (61,3%), seguindo-se os Cuidados de Saúde Primários (24,9%). Observou-se uma boa representação dos diferentes serviços hospitalares sendo a medicina interna (11,4%), a pediatria (7,1%), a cirurgia geral (6,6%), a

ginecologia (5,9%) e a ortopedia (5,0%) os mais representativos. A maioria dos enfermeiros é do sexo feminino (76,9%) com uma média de tempo de serviço de 18,83 anos. A referenciação de sintomatologia músculo-esquelética distribui-se pelos diferentes segmentos anatómicos, destacando-se as regiões cervical (48,6%), dorsal (40,2%), lombar (58,6%), ombros (35,1%) e punhos (27,4%). Nos segmentos referidos a intensidade e frequência das queixas são moderadas e muito frequente, respectivamente. Apesar disso, destaca-se a referência de sintomas com intensidade elevada (10,3%) a nível lombar. A presença de sintomas nos últimos 7 dias é destacada a nível da coluna vertebral nos diversos níveis (n=135 a 211), dos ombros (n=109) e dos punhos (n=75). O absentismo relacionado com as queixas nos últimos 12 meses é evidente a nível da região cervical (n=39), lombar (n=66), ombros (n=30) e punhos (n=26). Da actividade descrita pelos enfermeiros evidencia-se como muito frequente o trabalho informatizado (n=238), a administração de medicação (n=174) e a avaliação da tensão arterial/glicémia/outros (n=177). O posicionamento de doentes na cama (n=252) e a transferência ou transporte de doentes sem ajuda mecânica (n=289) são efectuados até 5 vezes por dia. A realização de levante de doentes com ajuda mecânica até 5 vezes diárias é relevante (n=252). Relativamente à relação da actividade com os sintomas destaca-se como muito ou totalmente relacionado o trabalho de pé (59,8%), o inclinar o tronco (63,3%), o rodar o tronco (54,2%) e o levantar e deslocar cargas superiores a 10 Kg (58,6%). De entre os enfermeiros 67% refere sofrer de uma doença, destacando-se as hérnias discais (n=51). A sintomatologia músculo-esquelética referida pelos enfermeiros (resultados preliminares) é semelhante à sintomatologia referida em outros estudos, quer nacionais, quer internacionais. Nesse contexto destacam-se os estudos realizados por Fonseca e Serranheira (2006) nos hospitais da região do Porto, por Cotrim nos hospitais da região de Lisboa, por Martins (2008) realizado nos serviços de medicina, ortopedia e cirurgia de uma unidade hospitalar do norte de Portugal, por Faria (2008) realizado numa instituição hospitalar também do Norte de Portugal abrangendo os enfermeiros que tiveram acidentes de trabalho no período compreendido entre 2000 e 2004 e por Gurgueira, Alexandre & Filho (2003) no Brasil. No essencial, a frequência de queixas é elevada, em particular na região da coluna vertebral, o que provavelmente está relacionado com a actividade de trabalho e com as elevadas exigências de manipulação, movimentação e mobilização de doentes sem ajuda mecânica.

4. CONCLUSÕES O presente estudo permitiu identificar uma elevada prevalência de queixas músculo-esqueléticas associadas à actividade de trabalho do(a)s enfermeiro(a)s, o que justifica a necessidade imediata de elaboração dos decorrentes planos e programas de prevenção, como uma das formas eficazes de obtenção de ganhos em saúde. A manutenção da actual situação será, por certo, uma potencial causa de absentismo-doença ou mesmo de incapacidade permanente caso não se invista em acções de prevenção da doença e de promoção da saúde naquele grupo profissional.

5. AGRADECIMENTOS Agradece-se a colaboração da Ordem dos Enfermeiros.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS •

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Faria, A. (2008). Caracterização e Análise dos Acidentes de Trabalho com Profissionais de Enfermagem numa Unidade Hospitalar. Dissertação de Mestrado em Engenharia Humana. Escola de Engenharia. Universidade do Minho.



Fonseca, R., & Serranheira, F. (2006). Sintomatologia músculo-esquelética auto-referida por enfermeiros em meio hospitalar. Revista Portuguesa de Saúde Pública, Volume Temático, 37-44.



Gurgueira, G., Alexandre, N., & Filho, H. (2003). Prevalência de sintomas músculo-esqueléticos em trabalhadoras de enfermagem. Ver. Latino-Am Enfermagem 11(5), 608-13.



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Lipscomb, J., Trinkoff, A., Brady, B., & Geiger-Brown, J. (2004). Health care system changes and reported musculoskeletal disorders among registered nurses. Am J Public Health, 94(8), 1431-1435.



Martins, J. (2008). Percepção do risco de desenvolvimento de lesões músculo-esqueléticas em actividades de enfermagem. Dissertação de Mestrado em Engenharia Humana. Escola de Engenharia. Universidade do Minho.



Mehrdad, R., Dennerlein, J. T., Haghighat, M., & Aminian, O. (2010). Association between psychosocial factors and musculoskeletal symptoms among Iranian nurses. Am J Ind Med, 53(10), 1032-1039. doi: 10.1002/ajim.20869



Pheasant, S., & Stubbs, D. (1992). Back pain in nurses: epidemiology and risk assessment. Appl Ergon, 23(4), 226-232.



Serranheira, F., Pereira, M., Santos, C., & Cabrita, M. (2003). Auto-referência de sintomas de LME numa grande empresa em Portugal. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 2, 37-48.



Cotrim, T. & Simões, A. (2009). Evolução da Idade e Capacidade de Trabalho em Enfermeiros. Ed. by Arezes, P., Baptista, J.S., Barroso, M., Carneiro, P., Cordeiro, P., Costa, N., Melo, R., Miguel, A.S., Perestrelo, G., Proccedings Book of the International Symposium on Occupational Safety and Hygiene, ISBN 978-972- 99504-5-2, Guimarães, Portugal, 5-6 February.

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