Estudo sobre mobilidade contemporânea: A relação entre turismo e migração

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UNIRIO CURSO DE TURISMO DEPARTAMENTO DE TURISMO E PATRIMÔNIO

MAÍRA TAVARES EUSTÁQUIO DE OLIVEIRA

ESTUDO SOBRE MOBILIDADE CONTEMPORÂNEA: A RELAÇÃO ENTRE TURISMO E MIGRAÇÃO

Rio de Janeiro 2012

MAÍRA TAVARES EUSTÁQUIO DE OLIVEIRA

ESTUDO SOBRE MOBILIDADE CONTEMPORÂNEA: A RELAÇÃO ENTRE TURISMO E MIGRAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Turismo da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Turismo. Orientador(a): Profª. Carla Fraga, M.Sc.

Rio de Janeiro 2012

MAÍRA TAVARES EUSTÁQUIO DE OLIVEIRA

ESTUDO SOBRE MOBILIDADE CONTEMPORÂNEA: A RELAÇÃO ENTRE TURISMO E MIGRAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Turismo da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________ Profª. Carla Fraga, M.Sc. (Orientadora) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

________________________________________________________ Profª. Maria Jaqueline Elicher, M.Sc. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

________________________________________________________ Prof. Luciano dos Santos Pereira Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Agradecimentos

À Deus, pela presença. Ao vô Sinézio in memorian, por sempre ter acreditado que eu chegaria até aqui. À minha mãe Célia Mara, meu pai Egídio Eustáquio, meu irmão Carlos Eduardo e minha avó Geny por todo amor e apoio em todos os dias. Ao meu noivo Oliver Pick por todo o amor e paciência nos momentos mais difíceis e aos seus pais Rachel e Martin Pick e irmã Katherine Pick pelo carinho em todas as horas. À amiga Fernanda Wendling, por toda a amizade, motivação e incentivo. À amiga Ellie Geater, por toda a amizade e pela contribuição do primeiro referencial teórico, ponto de partida para a realização deste trabalho. À minha querida orientadora Carla Fraga, meu sincero respeito, admiração e agradecimento por todo o incentivo e disponibilidade constante durante a realização deste trabalho.

Resumo Frente às dinâmicas da sociedade globalizada, tanto os deslocamentos turísticos quanto as migrações revelam-se formas emergentes de mobilidade, sendo cada vez maior o número de pessoas que viajam e migram internacionalmente. Embora as motivações para tais deslocamentos sejam complexas, turismo e migração constituem processos que se influenciam um ao outro. Estudar as ligações entre eles possibilita entender quais as condições para que uma destinação turística se transforme em um destino de imigração. Diante de tal constatação, o presente trabalho de caráter exploratório buscou analisar aspectos relativos à mobilidade no contexto contemporâneo, em especial a relação entre turismo e migração. Os resultados do estudo apontam para o fato que, apesar da pouca atenção voltada para o tema, o turismo pode ser considerado um dos fatores influenciadores de movimentos migratórios. Palavras-chave: Mobilidade contemporânea. Turismo. Migração. Globalização.

Abstract Amid the dynamics of the global society, both tourism and migration reveal themselves as emerging forms of mobility, while it is increasing the number of people travelling and migrating transnationally. Although the reasons for these movements are complex, tourism and migration are processes that influence each other. Considering the links between them allows us to understand how a tourist destination can turn into a destination for immigration. Given this statement, this exploratory study attempted to analyze aspects of contemporary mobility and, in particular, the relationship between tourism and migration. The results of this study point to the fact that, although little attention has been paid to the subject, tourism can be considered as one of the influencing factors of migration. Keywords: Contemporary mobility. Tourism. Migration. Globalization.

Lista de Figuras Figura 1 Principais destinos turísticos mundiais em 2011……………………………2 Figura 2 Gráfico da comparação da migração internacional e do turismo por números de chegadas, 1960 – 2005 (em milhões)…………………………………………………9 Figura 3 O retorno do emigrante no processo de migração……………………………13 Figura 4 Evolução do turismo mundial 1990-2010……………………………………18 Figura 5 Mão de obra direta empregada no setor do turismo………………………….20 Figura 6 Mão de obra total empregada no setor do turismo…………………………...20 Figura 7 Modelo da relação entre turismo e migração de amenidade…………………28 Figura 8 Fatores que influenciam a tomada de decisão em turismo segundo Swarbrooke e Homer (2001)…………………………………………………………………………35 Figura 9 Chegadas de turistas internacionais por principal motivação, 2011 (%)…….36 Figura 11 Faixa etária dos respondentes………………………………………………45 Figura 12 Cidade de origem dos respondentes………………………………………...45 Figura 13 Escolaridade dos respondentes……………………………………………...46 Figura 14 Tipos de programas de Intercâmbio Cultural realizados…………………...46 Figura 15 Duração do programa de intercâmbio………………………………………47 Figura 16 Principal motivação para a realização do intercâmbio……………………...48 Figura 17 Imigração permanente para o destino escolhido……………………………49 Figura 18 Destinações escolhidas dos intercâmbios…………………………………..52

Sumário

INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………………1 1. TURISMO E MIGRAÇÃO: REFERENCIAIS E DEBATES TEÓRICOS……………...8

1.1.

Os efeitos da Globalização na Mobilidade Humana……………………………..8

1.2.

A inter-relação entre o Turismo e a Migração………………………………….12

2. A PRODUÇÃO DO TURISMO E A GERAÇÃO DE FLUXOS MIGRATÓRIOS……18 3. O CONSUMO DO TURISMO E A GERAÇÃO DE FLUXOS MIGRATÓRIOS ……25

3.1. Turismo e Migração de Amenidade……………………………………………….25 3.2. Turismo Residencial……………………………………………………………….30 3.3. Turismo de Visitas a Familiares e Amigos………………………………………...36 4. ESTUDO ESPECÍFICO: INTERCÂMBIO CULTURAL………………………41 4.1. Metodologia………………………………………………………………………..43 4.2. Apresentação e Análise dos Dados………………………………………………...44 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES……………………………..54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………57 ANEXOS………………………………………………………………………………69

INTRODUÇÃO O estudo sobre mobilidade contemporânea, em especial sobre a relação entre turismo e migração é um tema atual que deve ser abordado tanto na teoria quanto na prática. Analisando dados da Organização Mundial do Turismo (OMT) e da Organização das Nações Unidas (ONU) é possível notar que os países França, Estados Unidos, Espanha, Reino Unido e Alemanha, respectivamente primeiro, segundo, quarto, quinto, sexto e sétimo maiores receptores mundiais de turistas1, ocupam também a sexta, primeira, oitava, sétima e terceira posição entre os países que mais receberam imigrantes internacionalmente nos últimos anos. Partindo deste fato, questiona-se por que metade dos países que aparecem nos recentes rankings dos dez mais visitados do mundo aparece também nos rankings dos maiores receptores de fluxos imigratórios internacionais? Nesse sentido, a hipótese, ou seja, a resposta provisória seria: O turismo é um dos fatores influenciadores de fluxos migratórios. Diferentes formas de mobilidade estão presentes em nosso dia-a-dia, seja em nosso tempo livre ou profissional. Hoje, com a globalização e as facilidades da movimentação social, a mobilidade torna-se um fenômeno crescente e cada vez mais pessoas viajam e migram ao redor do mundo. De fato, turismo e migração não são fenômenos novos e embora se diferenciem em alguns aspectos, ambos incluem deslocamento no espaço, mudança de lugar de residência e muitas vezes, obedecem ao desejo de evasão (BARRETTO, 2009). Estudos sobre os temas realizados por alguns estudiosos como Lasch, Urry e Kaplan (1996), Rojek e Urry (1997), Halle Williams (2002) e Barretto (2009) revelam que, apesar de serem diferentes, a experiência turística e a migratória se completam. Claramente, turismo e migração são elementos importantes da mobilidade contemporânea, porém, surpreendentemente pouca atenção tem sido voltada para a investigação da inter-relação existente entre os dois. Atualmente, a ONU estima que existem cerca de 214 milhões de imigrantes no mundo2, enquanto a OMT avalia que mais de 983 milhões de pessoas viajaram pelo 1

Conforme dados da OMT, disponíveis . Acesso em 16/04/2012.

em

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Segundo a International Organization for Migration (IOM, 2010), dos 214 milhões de imigrantes no mundo, um terço vive na Europa. Dados disponíveis em . Acessado em 15/08/ 2012.

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mundo no último ano (OMT, 2012). Neste mesmo ano, a França recebeu 79.5 milhões de turistas internacionais, permanecendo no topo do ranking dos países mais visitados mundialmente pela sexta vez consecutiva, enquanto os países Estados Unidos3, Espanha, Reino Unido e Alemanha tiveram, respectivamente, 62.3, 56.7, 29.2 e 28.4 milhões de chegadas internacionais de turistas (Figura 1).

Figura 1 Principais destinos turísticos mundiais em 2011. Fonte: Redesenhada pela autora a partir da fonte UNWTO World Tourism Barometer (2012).

Um dado curioso é que o aumento desses números ocorre em um momento em que cada vez mais estes mesmos países desenvolvidos criam medidas de restrição à entrada de estrangeiros, desde uma maior rigidez no instante em que o estrangeiro chega ao seu destino à construção de barreiras contra trabalhadores imigrantes e intensificação da expulsão de milhares diante da recessão, intencionando, dessa forma, manter imigrantes cada vez mais afastados de seus territórios. Neste contexto, a justificativa deste trabalho relaciona-se com a necessidade da realização de um estudo que foque a relação entre turismo e migração de maneira mais minuciosa. Apesar de ser clara a existência dessa ligação entre os fenômenos e embora existam alguns trabalhos sobre o tema, tais como os de Oigenblick e Kirschenbaum (2002), Harguindeguy (2007) e Barretto (2009), ainda é evidente a escassez de pesquisas nesta área de extrema importância para o mundo globalizado.

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Principal destino dos migrantes, com 42,8 milhões em 2010, cerca de 20% do número em todo o mundo.

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Para que seja possível compreender qualquer relação existente entre a atividade turística e o movimento de migração, é necessário discorrer inicialmente sobre alguns conceitos a fim de construir uma base teórica sólida. Devido à diversidade de definições existentes na literatura, conceituar o turismo torna-se uma tarefa complexa. Isto ocorre principalmente por conta de seus aspectos multidimensionais e de suas interações com outras atividades (GOELDNER; RITCHIE; MCINTOSH, 2002). Ademais, uma das principais particularidades do turismo é o fato de a ele ser concedidas as qualidades de fenômeno e, ao mesmo tempo, de atividade econômica. Estudiosos como Bukart e Medlik (1981), Mathieson e Wall (1982) e Tribe (2006) consideram o turismo um fenômeno. Segundo Panosso (2005): O turismo é um fenômeno e não uma indústria. Uma indústria pressupõe transformação de bens e nesse caso não se aplica ao turismo. A melhor forma de definir turismo é utilizando o termo fenômeno, que significa a ação objetiva e intersubjetiva que se manifesta em si mesma, que pode ser apreendida pela consciência e que possui uma essência em si (PANOSSO NETTO, 2005, p. 144).

Contudo, conforme Magalhães (2008), muitos estudiosos persistem em pensar o turismo simplesmente como prática ou técnica, “deixando de percebê-lo como um fenômeno social amplo, complexo e contraditório, que afeta todo o mundo e todas as camadas sociais, mesmo aqueles que não participam de forma direta de sua prática” (MAGALHÃES, 2008, p. 96). Ainda segundo o autor, existe um perigo nesta dualidade de sua natureza, uma vez que ela abre caminho para a redução da análise do turismo a uma perspectiva comercial, “marginalizando-o como meio de entendimento do real, ou como ciência” (MAGALHÃES, 2008, p. 96). Ao mesmo tempo, outros estudiosos, como Trigo (1995) e Oliveira (2005), não consideram o turismo apenas um fenômeno, nem como um simples conjunto de indústrias. Para eles, o turismo é uma atividade humana que envolve movimentos e comportamentos humanos, a utilização de recursos e a interação econômica, ambiental e social (BULL, 1995 apud CUNHA, 2010). Para Beni (1997), a atividade do turismo surge devido à existência prévia do fenômeno turístico, o qual o autor descreve como “um processo cuja ocorrência exige a

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interação simultânea de vários sistemas com atuações que se somam para levar ao efeito final” (BENI, 1997, p. 18). Diante de todas as características do turismo e dificuldades metodológicas, torna-se inevitável prosseguir o questionamento quanto a sua natureza (MALTA, 2011). Goeldner et al. (2002, p.24) afirma que “cada uma das muitas definições que surgem destina-se a uma situação específica ou a resolver um problema imediato”, enquanto Lickorish e Jenkins (2000 apud MALTA, 2011) ressaltam que a maioria dos autores acadêmicos que abordam o turismo acabam muitas vezes adaptando suas definições para assim melhor atender seus objetivos. Todavia, as muitas definições que têm sido propostas ao longo da história podem contribuir de modo inestimável no alcance de um consenso: Ao identificarmos as principais ou mais divulgadas ver-se-á que nelas se podem encontrar elementos ou denominadores comuns que revelam que as “rápidas e constantes mudanças” a que o turismo tem sido submetido, principalmente, ao longo dos últimos 50 anos, não constituem obstáculo intransponível (CUNHA, 2010, p. 9)

Apesar de evidenciar a ausência de definições conceituais claras que delimitem a atividade turística e a diferencie de outros setores econômicos (OMT, 2001 apud MALTA, 2011), a Organização Mundial do Turismo apresenta o conceito prevalecente na literatura da área. A OMT entende turismo como: [...] conjunto de atividades que as pessoas utilizam durante suas viagens e estadias em lugares diferentes ao de seu entorno habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano, com o objetivo de lazer, negócios ou outros motivos, não relacionados com uma atividade remunerada no lugar visitado (OMT, 2001 apud DIAS, 2008, p. 45)

Existem ainda autores que definem a atividade como qualquer plano de mudança de ida e volta, qualquer que seja a motivação, a distância percorrida e o tempo de duração (ESCALONA, 1993 apud IGNARRA, 2003), enquanto outros, como Joszef Borocz (1996 apud BARRETTO, 2009), a definem como uma migração de prazer (BARRETTO, 2009). De certa forma, o turismo se apresenta como um tipo de migração, considerando que migração é o movimento de pessoas, grupos ou povos de 4

um lugar para outro4. Segundo Barretto (2009), a atividade turística constitui uma migração temporária e o turismo de férias é um exemplo disto: Pode-se dizer também que o turismo constitui uma migração temporária, no caso do turismo de férias em que as pessoas passam longos períodos instalados numa casa, cumprindo algumas das rotinas da população local, tais como ir ao supermercado, contratar serviço doméstico, e muitas outras (BARRETTO, 2009, p. 7).

Na verdade, turismo e migrações possuem motivações semelhantes, sendo estas motivações deslocamentos simbólicos, nos quais está presente o desejo de evasão ou o desejo de auto-realização, e proporcionam similares efeitos nas sociedades a que se dirigem, seja para uma visita temporária ou para residir permanentemente (BARRETTO, 2009). Entretanto, o turismo como tipo de migração envolve a intenção de retorno por parte daquele que migra, ao contrário do movimento de migração. Embora tratar de imigração por um lado seja o mesmo que tratar de emigração pelo outro, neste trabalho será utilizado somente o conceito de imigração. Segundo o Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH) 5, imigração é o movimento de pessoas ou de grupos humanos, provenientes de outras áreas, que entram em determinado país, com o intuito de permanecer definitivamente ou por período de tempo relativamente longo. Atualmente, tanto o turismo quanto os movimentos imigratórios têm aumentado significativamente nas últimas décadas, sendo cada vez maior o número de pessoas que viajam e imigram internacionalmente. Até a segunda metade do século XX, turismo e migração vinham sendo estudados independentemente um do outro (BELL; WARD, 2000). Gheasi et al. (2009) argumenta que esta falta de atenção para as inter-relações entre migração e turismo poderia ser devido à falta de dados adequados e a ausência de uma sólida estrutura teórica. No estudo The Geography of Tourism and Recreation: environment, place and space, Hall e Page (1999 apud DWYER; FORSYTH; KING; SEETARAM, 2010) 4

De acordo com o Glossário do Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH). Disponível em . Acessado em 24 Fevereiro 2012. 5

INSTITUTO DE MIGRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO HUMANO. Disponível em . Acessado em 24 Fevereiro 2012.

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afirmam que, apesar de já relatado anteriormente em outros estudos, a ligação turismo/migração permanece amplamente inexplorada e não tem sido reconhecida como uma importante agenda de investigação em recentes sínteses da geografia do turismo. Os estudiosos Hall e Williams (2000 apud GHEASI; NIJKAMP; RIETVELD, 2009) caracterizam a relação entre turismo e migração em duas formas: os fluxos conduzidos pela produção do turismo, ou seja, as migrações laborais geradas pelos serviços turísticos, e os fluxos conduzidos pelo consumo da atividade, aqui os turistas residenciais, as migrações sazonais e as migrações permanentes. Com base nesta breve apresentação de parte dos conceitos que contribuirão na realização deste estudo, é possível compreender que existe uma ligação entre turismo e migração e perceber ainda que, embora ainda pouco explorada, esta ligação é um tópico digno de estudo. O objetivo geral deste trabalho é analisar aspectos relativos à mobilidade no contexto contemporâneo, em especial a relação entre turismo e migração. E, os objetivos específicos são: (1) Caracterizar o turismo; caracterizar os movimentos migratórios; (2) avaliar e compreender os fluxos migratórios de pessoas para destinos turísticos; (3) investigar de que maneira a atividade turística pode influenciar o movimento migratório em um destino turístico; (4) qualificar o turismo como um dos fatores influenciadores de movimentos migratórios. A pesquisa possui caráter exploratório e descritivo e foi realizada através de levantamento bibliográfico, revisão de literatura sobre os temas em questão e levantamento de dados por meio de documentos estatísticos e informações relevantes a este trabalho. Realizou-se ainda, um estudo de caso através de entrevistas junto a estudantes que já participaram de algum tipo de programa de intercâmbio, objetivando traçar um perfil destes intercambistas, estabelecer quais foram suas motivações para a realização da viagem e, finalmente, compreender de que maneira o programa de intercâmbio pode ser inserido na relação entre o fenômeno do turismo e da migração, tornando-a mais explícita. O presente estudo está organizado em quatro capítulos, após esta introdução onde são trabalhados a contextualização da problemática, a metodologia, a justificativa e os objetivos da pesquisa. No primeiro capítulo são analisados conceitos, idéias e percepções de importantes autores, buscando através deles, compreender como a globalização modificou a mobilidade no mundo contemporâneo e caracterizar, a partir disto, as 6

formas de mobilidade turismo e migração. No segundo capítulo, são avaliados os fluxos migratórios gerados pela produção do turismo, procurando depreender de que forma as migrações laborais geradas pelos serviços turísticos ocorrem. Seguir-se-ão, no capítulo seguinte, as maneiras que o consumo da atividade turística gera movimentos migratórios, para assim chegarmos ao quarto capítulo, onde, a partir do estudo específico sobre programas de intercâmbio cultural, se buscará qualificar o turismo como um dos fatores influenciadores de movimentos migratórios. Por fim, são apresentadas as considerações finais, onde estão expostos as conclusões e os resultados obtidos com o desenvolvimento da pesquisa, encerrando o presente estudo e proporcionando uma contribuição para outros futuros acerca do tema.

1. TURISMO E MIGRAÇÃO: REFERENCIAIS E DEBATES TEÓRICOS

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Os efeitos da Globalização na Mobilidade Humana Uma das características da espécie humana seria sua grande mobilidade. Desde sua origem, o homem se desloca de um lugar para outro e seus deslocamentos pelo mundo lhe permitiram evoluir para assim se adaptar ao ambiente onde vivia (LANQUAR, 2007). Lévy (2000 apud LANQUAR, 2007) aponta que a mobilidade pode ser apresentada como uma relação social, uma mudança de lugar. Ou seja, o conjunto de meios em que membros de uma comunidade vêem a possibilidade de ocupar sucessivamente vários locais (LANQUAR, 2007). Desta consideração provém então a interpretação de que os fenômenos turismo e migração podem ser definidos como duas formas de mobilidade no mundo contemporâneo. De acordo com Hall e Williams (apud LANQUAR, 2007), as novas tendências do turismo e das migrações dificultam determinar onde vivemos, qual é nossa identidade e por que estamos aqui, desenhando-se, assim, um continuum de mobilidade pessoal entre o turismo e as migrações, onde estas duas variáveis se fundem uma na outra. A globalização pode ser considerada responsável por este fato, uma vez que esse processo implica no aumento da mobilidade e na melhoria e facilidade da acessibilidade a diferentes lugares no mundo. Inicialmente, torna-se necessária uma revisão sobre as implicações do fenômeno da globalização na mobilidade humana a fim de se compreender a relação existente entre os fenômenos turismo e migração. A globalização é um processo dinâmico de crescente e complexa integração entre questões econômicas, sociais, políticas, culturais e ambientais que acontecem em uma escala global (SILVA; CHRISTINE; CARVALHO, 2009). A Organização Mundial do Turismo (2009) compreende o crescimento da atividade turística e dos movimentos migratórios como duas das atuais expressões mais significativas da globalização (Figura 2). Indiscutivelmente, esse fenômeno é responsável pela mudança nas formas de mobilidade humana ao redor do mundo. Na verdade, a mobilidade internacional dos povos se apresenta como uma constante no desenvolvimento capitalista, sendo as transformações econômicas, políticas e sociais fundamentais para que seja possível compreender as motivações desses movimentos populacionais (ORLANDI, 2009).

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Figura 2 Gráfico da comparação da migração internacional e do turismo por números de chegadas, 1960 – 2005 (em milhões). Fonte: Redesenhada pela autora a partir da fonte World Tourism Organization (2009).

Com a introdução de novas tecnologias, a globalização interligou e integrou o mundo, redimensionando tempo e espaço, reduzindo distâncias e fomentando os deslocamentos espaciais da sociedade. Baseado neste desenvolvimento tecnológico, o custo dos transportes, das redes de telecomunicações e das viagens caiu drasticamente nos últimos tempos. Somente entre 1930 e 1990, a receita média do custo de quilômetros por passageiros diminuiu em mais de 80% (de US$0,68 para US$0,11). No passado, enquanto uma chamada telefônica de três minutos entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha custava cerca de US$ 12, hoje custa apenas US$0,48 (OBALADE, 2011). Estes dados mostram como o avanço da tecnologia teve um grande impacto sobre a mobilidade populacional no mundo. A evolução e o barateamento da rede de telecomunicações e dos meios de transportes fazem com que as informações circulem em proporções mais rápidas e implicam no aumento das possibilidades de acessibilidade a diferentes lugares, tornando viagens e migrações cada vez mais comuns. Entende-se que, as distâncias já não importam mais, ao passo que a idéia de uma fronteira geográfica é cada vez mais difícil de ser sustentada no “mundo real” (BAUMAN, 1999). Os processos da globalização e a compressão tempo-espaço levaram a um aumento da sensação de que o mundo é um lugar "menor", ou que todos os lugares do mundo são acessíveis a muitos de seus cidadãos, gerando, assim, uma compulsão à mobilidade. Os níveis crescentes de mobilidades em todo o mundo, incluindo o desenvolvimento e a evolução do turismo, têm surgido deste sentimento e, ao mesmo tempo, contribuído para sua propagação (TORKINGTON, 2010).

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Bookmann (apud RODE, 2008) argumenta que o turismo é um motor de deslocamentos múltiplos e, portanto, uma das principais forças motrizes por trás do fenômeno da globalização. Na interpretação de Soares (2007), ele é comumente associado à globalização, à intensificação dos fluxos turísticos internacionais e à queda das fronteiras culturais promovidas pelo encontro entre o visitante e o visitado, somando-se, ainda, a outras constantes relações, como a influência da tecnologia da informação e dos transportes. A atividade turística é claramente influenciada pela globalização, considerando o modo em que fluxos de informação interferem na tomada de decisão do turista ou também considerando a maneira em que fluxos de investimentos globalizados criam cadeias de hotéis e atrativos turísticos, promovendo, desta forma, fluxos turísticos mundiais (SHAW; WILLIAMS, 2004). Posto isso, percebe-se que a globalização tem fortes implicações tanto na atividade turística quanto nos movimentos migratórios, principalmente ao permitir a migração temporária e os estilos de vida itinerantes (HALL; WILLIAMS, 2002). Na realidade, a migração foi o principal motor da globalização durante a última parte do século XIX e início do século XX, e, hoje em dia, é importante novamente. Conforme Martine (2005), a globalização é o principal fator que ativa e determina os contornos dos movimentos migratórios entre países. Cerca de 3% da população mundial (mais de 200 milhões de pessoas) já migraram para outras regiões, entretanto, esta percentagem é transmitida de forma desigual, pois esse número é muito maior em alguns países do que em outros (OBALADE, 2011). Uma das teorias mais tradicionais para as migrações no mundo é baseada nas transformações econômicas conseqüentes do capitalismo e do fenômeno da globalização. Como bem explica Martine (2005), a globalização apresenta dificuldades e morosidades no cumprimento de suas promessas e desta forma acaba acentuando a desigualdade entre países. Muitos acabam crescendo pouco ou nada e, ao mesmo tempo, as disparidades entre ricos e pobres aumentam. Essas desigualdades contribuem para o aumento do desejo e até mesmo da necessidade de migrar para outros lugares. Apesar disto, os motivos que estimulam as pessoas a migrar são inúmeros e funcionam de maneiras complexas e interativas, em nível individual, familiar e sócio-econômico (IOM, 2008). Em uma perspectiva histórica, a era pós-Segunda Guerra Mundial foi marcada pelo progresso na diminuição de exigências em relação a vistos e outras barreiras contra deslocamentos entre lugares distantes do mundo. Neste mesmo período, a grande 10

revolução tecnológica, notadamente no setor industrial, resultou em uma aceleração da geração de riqueza e em uma grande facilidade para o deslocamento, antes acessível apenas para poucos afortunados, colocando-o, desta forma, ao alcance de grande parte da população (BARRETTO, 2009). Um aumento consecutivo do produto interno bruto (PIB), de 3% ou mais ao ano nos países da Europa ocidental, proporcionou um crescimento de 6% ao ano das viagens no mundo (IGNARRA, 2003). Assim, enquanto antigamente ter um passaporte era considerado um privilégio, no presente é algo considerado como um direito no mundo capitalista desenvolvido. No entanto, como defende Bauman (1999), uma parte integrante dos processos de globalização é, contraditoriamente, a progressiva segregação espacial, a progressiva separação e exclusão. Hoje, a liberdade de circulação é a exceção, enquanto a regulação e a restrição é o padrão (ARANGO, 2007). O controle de passaportes e a atual combinação da anulação dos vistos de entrada com o aumento dos controles de imigração nos países têm uma profunda significação simbólica, podendo ser considerada uma metáfora para a nova estratificação emergente: Ela deixa a nu o fato de que agora o “acesso à mobilidade global” é que foi elevado à mais alta categoria dentre os fatores de estratificação. Também revela a dimensão global de todo privilégio e de toda privação, por mais localizados. Alguns desfrutam da nova liberdade de movimentos sans papiers. Outros não têm permissão para ficar nos seus lugares pela mesma razão. (BAUMAN, 1999, p.94-95).

Segundo a OMT (2009), a regra geral é quanto mais pobre for o país, mais difícil será para seus habitantes conseguir uma autorização administrativa, basicamente por meio de visto de entrada, para acessar outros países. Seja para ali estabelecer uma vida nova, seja apenas para consumo turístico. Em outras palavras, as restrições de vistos de entrada afetam tanto o turismo quanto a migração econômica populacional. Entrementes, instrumentos e medidas mais eficazes foram concebidos internacionalmente em vista à liberalização dos movimentos internacionais de pessoas e equilibrando, deste modo, custos e benefícios políticos, econômicos e sociais nestes aspectos (OMT, 2009). Uma vez que a globalização leva a movimentos populacionais, instituições internacionais e supranacionais criam novos regimes para o movimento

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ordenado de pessoas (RODE, 2008). O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)

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eo

Acordo de Schengen7 entre a maioria dos Estados-membros da União Européia (UE)

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são muito expressivos por afastar não somente controles de fronteiras nas divisas entre os países signatários, mas também a necessidade de se carregar passaportes nos deslocamentos entre os mesmos (HALL; WILLIAMS, 2002), e por facilitar, dessa forma, a atividade turística e os movimentos migratórios nas regiões envolvidas. Diante disto, os efeitos imediatos da globalização nos movimentos populacionais globais têm sido pouco fáceis de serem determinados. O crescimento da mobilidade humana é uma das características da globalização do mundo moderno, sendo o turismo e a migração formas híbridas da mobilidade humana (TARAN; GERONIMI, 2003). Neste âmbito de globalização contemporânea e dos processos políticos que regulam a circulação de pessoas e capital pelo mundo, a relação entre migração e turismo tem se tornado um segmento crescente e importante para o turismo global (GHEASI; NIJKAMP; RIETVELD, 2009). Cumpre, então, investigar os conceitos e definições desses fenômenos para que seja possível estabelecer a análise desejada de sua interrelação.

A inter-relação entre o Turismo e a Migração A princípio, embora se pareça óbvio que turismo e migração são formas de mobilidade distintas, poucos estudos e pesquisas estabelecem uma análise comparativa entre ambos (LANQUAR, 2007). Até a metade do século XX, tanto o turismo quanto a migração vinha sendo estudado de modo independente um do outro, a exemplo do que defendem autores como Bell e Ward (2000 apud GHEASI et. al, 2009). Esta falta de atenção pode ser devido à ausência de dados apropriados e de um sólido arcabouço teórico, o que torna as relações entre turismo e migração difíceis de serem compreendidas (GHEASI; NIJKAMP; RIETVELD, 2009).

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União aduaneira entre os países sul-americanos: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela.

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Convenção entre países europeus sobre uma política de abertura das fronteiras e livre circulação de pessoas entre os países signatários. O Acordo inclui todos os países integrantes da União Européia (EU) – com exceção da Irlanda e Reino Unido – e três países não-membros da UE (Islândia, Noruega e Suíça). 8

União econômica e política de 27 Estados-membros independentes que estão localizados principalmente na Europa.

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Conforme Hall e Williams (2000 apud GHEASI et. al, 2009), esta dificuldade vem da essência desses dois temas, uma vez que há uma complexidade em se defini-los. Assim como existem variadas definições de turismo e turista por diversos estudiosos, o mesmo ocorre com as definições de migração e migrante, dando origem muitas vezes a interpretações equivocadas dos termos (OMT, 2009). Para alguns pesquisadores que estudam a inter-relação entre o turismo e a migração, como Hall e Williams (2002), O’Reilly (2003) e Bookman (2006) por exemplo, o turismo pode ser considerado como uma parte integral dos movimentos migratórios (TORKINGTON, 2010). Knafou et al (1997 apud STOCK, 2005) afirma que o turismo é um deslocamento, uma mudança de local, onde o turista deixa temporariamente seu lugar de vida habitual por um ou vários outros lugares situados fora de seu domínio de vida quotidiana. Este deslocamento permite outro modo de habitar pelo turista. Já a “migração implica um determinado movimento no espaço, movimento geralmente percebido ao atravessar uma fronteira de separação entre duas unidades territoriais” (CIRINO, 2008, p.63). Visto isso, nota-se que o turismo responde quase aos mesmos princípios que a migração, já que um determinado indivíduo é considerado turista quando existe um deslocamento para um local não visitado todos os dias por ele (MÜLLER, 2002 apud CIRINO, 2008). A diferença existente entre estes dois fenômenos não está, portanto, no movimento no espaço, mas sim no caráter permanente ou não desse movimento, tal como no comportamento daquele que se movimenta (CIRINO, 2008). Dessa forma, o turismo assume um caráter temporário afirmado, inferior a doze meses, ao passo que os movimentos migratórios são representados como uma experiência que possui um caráter permanente, embora alguns autores defendam, na maior parte dos casos, a existência de um objetivo final que consiste no regresso ao país de origem do imigrante (CIRINO, 2008).

Figura 3 O retorno do emigrante no processo de migração Fonte: Redesenhada pela autora a partir da fonte Silva et al (1984 apud CIRINO, 2009, p.69).

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Entretanto, estes critérios de diferenciação se mostram problemáticos na medida em que a definição da duração do movimento no espaço torna-se algo complexo. Warnes (1991 apud DRAPER, 2009) observa que os demógrafos consideram como mudanças permanentes de residência normalmente aquelas que duram mais do que o período de seis meses, enquanto Jordan e Duvell (2003 apud DRAPER, 2009) alegam que migração envolve estadias com duração superior a um ano. Conforme Draper (2009), esta estipulação de tempo foi criada levando em consideração a definição do turismo segundo a OMT, a qual determina que as estadias em lugares diferentes ao da residência habitual devem ser por um período de tempo consecutivo inferior a um ano. As estatísticas do turismo internacional são freqüentemente criticadas por não definirem com precisão esta questão. Lanquar (2007) exemplifica essa problemática da seguinte maneira: Por exemplo, um emigrante pode começar sendo classificado como turista, com um visto que o identifica como tal. Porém, depois de alguns meses surge o problema de como defini-lo, se turista ou imigrante, segundo os critérios utilizados no país onde se encontra residindo, ainda que as Nações Unidas e sua Agência, a Organização Mundial do Turismo, o considerem turista durante um ano. (LANQUAR, 2007, p.224, tradução nossa).

Além disso, a noção de “permanência” passa a ser cada vez mais contestada, pois muitas vezes viagens de curta duração para determinado local se tornam residências a maior prazo ou, até mesmo, transformam-se em um projeto de migração (HALL; WILLIAMS, 2002 apud CIRINO, 2008). Estudos como o de Cuba (1989 apud DRAPER, 2009) e McHugh (1990 apud DRAPER, 2009) mostraram que a visita a uma comunidade pode resultar em uma tendência ou possibilidade de migração. As experiências turísticas proporcionam ao visitante a oportunidade de comparação entre o destino turístico e seu lugar de residência atual, demonstrando que “vazios” existentes seriam então preenchidos no destino, caso o visitante resolvesse se fixar permanentemente ali (HAUG et al, 2007 apud DRAPER, 2009). Hall e Williams (2000) sugerem uma análise destas duas formas de mobilidade que consiste em diferenciar os movimentos migratórios em dois processos. O primeiro processo são os movimentos migratórios baseados na produção do turismo. Estes movimentos envolvem a existência de um objetivo de contribuir com uma atividade econômica no destino, isto é, bem como Cirino (2008) exemplifica, as migrações de 14

trabalhadores e o turismo de negócios. Com o crescimento dos destinos turísticos, a migração relacionada ao trabalho pode se tornar necessária em lugares onde a mão-deobra local não dá conta de servir o fluxo de turistas (HALL; WILLIAMS, 2000 apud DRAPER, 2009). Valiente e Romero (2009) revelaram como o setor do turismo se apresenta como um nicho de possibilidades para a mão-de-obra imigrante nas principais regiões turísticas da Espanha, como Múrcia, Ilhas Canárias, Comunidade Valenciana e Andaluzia, que se caracterizam por ter um crescimento destacado no setor turístico, no setor de construção, vinculado a segunda residência, e uma agricultura demandante de mão-de-obra. Os autores concluíram que as regiões espanholas com os maiores atrativos turísticos são também as que tradicionalmente mais têm oferecido trabalho para os imigrantes, seja tanto no setor turístico quanto no da construção e da agricultura. Estes ramos de atividades são ocupados por mão-de-obra estrangeira devido ao fato de os trabalhadores locais encontrarem melhores postos de trabalho em setores diferentes. Na Austrália, Jarvis e Peel (2011) observaram o impacto do visto Working Holiday Maker9 (WHM) na economia do turismo de Mildura, cidade localizada no estado de Victoria. Os visitantes ficam na cidade por, em média, dois meses, enquanto trabalham e contribuem significativamente para a economia doméstica da região. Os agricultores também se mostraram beneficiados com os visitantes, interessados em permanecer em empregos do ramo para o período total de sua estadia. Contudo, problemas também foram identificados. Foram descobertos casos de pessoas tentando tirar proveito do número crescente de backpackers através de habitações ilegais. Além disso, o estudo identificou uma falta de atividades turísticas na área para os backpackers, durante sua estadia na cidade. O segundo processo discutido por Hall e Williams (2000) é baseado no consumo da atividade turística. Os movimentos migratórios são motivados “pela necessidade de aceder a certas formas de consumo, sendo o principal motivo a busca de prazer”, e podem assumir diversas formas dependendo da duração e das motivações da migração, incluindo aqui o turismo residencial, as visitas a amigos e parentes e as migrações de amenidades (CIRINO, 2008, p.65). Oigenblick e Kirschenbaum (2002) analisaram os fatores alternativos que afetam a probabilidade de um turista tomar uma decisão de imigrar para Israel. A primeira 9

Visto que permite a jovens viajantes internacionais de dezenove países, com idades entre 18 e 30 anos, o direito de trabalhar e viajar na Austrália por um período de até doze meses.

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visita ao país se revela o mais importante fator influenciador na decisão de migrar. A Agência Judaica oferece tours aos potenciais imigrantes, sendo uma das motivações turísticas

a

verificação

de

oportunidades

de

migração

e

de

perspectivas

socioeconômicas. Ademais, o turismo se apresenta também como elemento fundamental para a formação de redes de migrantes no país e como um contato com a diáspora. Os resultados do estudo mostraram que a probabilidade da decisão de migrar está mais ligada ao capital social e ao turismo do que as abordagens tradicionais de atração e repulsão da migração. Bowen e Schouten (2008 apud DRAPER, 2009) investigaram a relação existente entre a satisfação do turista e a migração subseqüente. O estudo foi feito através de uma pesquisa de caráter qualitativo, por meio da realização de entrevistas, questionários e dados do governo local da região de Calvià, município da Espanha localizado na província das Ilhas Baleares. Os resultados do estudo revelaram que a satisfação do turista desempenha um importante papel na tomada de decisão de migrar para a região estudada. No Brasil, Harguindeguy (2007) avaliou o fluxo migratório de argentinos para o município de Armação dos Búzios, localizado no Estado do Rio de Janeiro, objetivando compreender as conseqüências do processo de reterritorialização dos imigrantes e sua implicação na formação das redes sociais no novo ambiente. Foram realizadas entrevistas de caráter qualitativo objetivando traçar o perfil do imigrante, a motivação de seu movimento migratório e a formação de redes sociais. Os resultados demonstraram um fluxo migratório não proveniente de rede social, mas sim do turismo, uma vez que todos os imigrantes conheceram o município através da atividade: Uma característica marcante nessa imigração é o fato de que os imigrantes primeiro vêm ao Brasil e a Búzios por facilidade turística, é este contato imediato que lhes passa a primeira impressão do ambiente. Por se tratar de um lugar não muito distante do local de origem esse turismo geralmente é reincidente. (HARGUINDEGUY, 2007, p.85).

Desta forma, as características das migrações internacionais têm sofrido profundas modificações com conseqüências tanto no desenvolvimento socioeconômico quanto na atividade turística dos países. De acordo com o Dehoorne (2002 apud CIRINO, 2008), existem cinco casos distintos que explicam as crescentes interligações 16

entre os fluxos turísticos e os movimentos migratórios, como é possível observar na Tabela 1 a seguir. Os destinos turísticos, sejam os já desenvolvidos ou emergentes, atuam como um ponto de encontro entre fluxos turísticos e migratórios, constituindo, portanto, importantes laboratórios para a análise das “lógicas das mobilidades contemporâneas e suas recomposições” (2002, p.14 apud CIRINO, 2008, p.65). No presente estudo são destacados quatro segmentos de mercado de suma importância na relação turismo-migração, sendo merecedores de análise: a migração de trabalhadores induzidas pelo turismo, as migrações de amenidades, o turismo residencial, o turismo de visitas a familiares e amigos. Tabela 1 – Interligações Turismo/Migrações Turismo e Mercado: um apelo à mão-deobra

A criação de um mercado turístico implica, em primeiro lugar, a necessidade de mão-de-obra. Num primeiro tempo, a estruturação do mercado é apoiada pela chegada de uma primeira geração de migrantes. Num segundo tempo, o mercado estabelecido continua fortemente ligado às migrações devido à importância da

Turismo e

renovação do pessoal. Nos anos sessenta e setenta, vários estudos conduzidos nas zonas meridionais da

retorno dos

Europa permitiram evidenciar a filiação existente entre o retorno dos emigrantes e

emigrantes

os investimentos realizados localmente na atividade turística. A mobilidade crescente das populações reflete-se no turismo e mais particularmente

Turismo, multiresidência e transferência da atividade

nos aposentados, com todo o tempo livre. Estes turistas transferem parcial ou totalmente suas atividades para o destino turístico e acabam, em muitos casos, por emigrar. Estas formas complexas de mobilidade inscrevem-se numa série contínua entre deslocações turísticas, mobilidade residencial e transferência de atividade. São estabelecidas ligações entre as lógicas dos fluxos turísticos e os territórios migratórios. Estas deslocações são associadas ao turismo VAP, ou seja, às visitas

Turismo e

aos amigos e parentes no país de origem. Keng e Page (2000) estudaram o turismo

diáspora

dos coreanos do sul residentes na Nova Zelândia e provaram que as suas práticas turísticas com destino ao país de origem são significativas traduzindo numa mais

Turismo como pretexto migratório

valia para o turismo na Coréia o Sul. Num contexto de encerramento das fronteiras, os destinos turísticos dos países mais desenvolvidos como dos países menos desenvolvidos, servem de ponte para as migrações diretas ou indiretas em direção aos mercados fechados dos países do

Norte. Fonte: Dehoorne (2002 apud CIRINO, 2008, p.66) [Adaptada pela autora]

2. A PRODUÇÃO DO TURISMO E A GERAÇÃO DE FLUXOS MIGRATÓRIOS

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Historicamente, a atividade turística é uma das primeiras atividades econômicas do mundo. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, as receitas geradas pelo turismo aumentaram constantemente10 e, hoje, o faturamento anual da atividade supera o valor de 3,5 trilhões de dólares (IGNARRA, 2003). O desempenho do segmento do turismo é freqüentemente analisado através da observação do total de turistas e da receita gerada por eles. Em 2010, o número de turistas internacionais no mundo aumentou 6,6%, em relação ao ano anterior, chegando então a 940 milhões (Figura 4). Estima-se que a receita gerada mundialmente neste mesmo ano tenha atingido o valor de 919 bilhões de dólares, ou seja, 4,7% maior do que em 2009 (UNWTO, 2011). Em comparação aos anos 1990, reflete-se também um expressivo aumento de aproximadamente 250% das receitas geradas pelo segmento (Figura 4).

Figura 4 Evolução do turismo mundial 1990-2010 Fonte: Redesenhada pela autora a partir da fonte UNWTO (2011)

Evidentemente, a movimentação global de turistas gera divisas e empregos nos países. Isto ocorre principalmente devido a algumas características particulares da atividade turística, como o fato de ela ser constituída por um enorme conjunto de diferentes prestadores de serviços, os quais, por sua vez, possuem um grande número de fornecedores, causando, dessa forma, grande impacto na economia mundial (IGNARRA, 2003). Bookman (2006 apud RODE, 2009) afirma que quanto maior for o 10

Conforme Lanquar (2007), as receitas geradas pelo turismo atingiram um volume total de negócios de cinco mil milhões de dólares em 2005.

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número de fornecedores locais em um destino turístico, maior será o efeito multiplicador do turista para a economia local: Como um resultado do seu consumo de serviços e produtos locais, turistas e viajantes têm efeitos estimulantes sobre a economia local. Eles trazem capital estrangeiro tanto diretamente através de gastos, quanto indiretamente através da indução de investimento. No processo, o setor de serviço doméstico é desenvolvido, e seus efeitos multiplicadores e de articulação se espalham por toda a economia. Portanto, o principal impacto econômico do turismo está nas divisas, no PIB e no emprego. (BOOKMAN, 2006, p.33 apud RODE, 2009, p.46, tradução nossa)

Somente em relação ao número de empregos produzidos pelo turismo, estima-se que a cada 11 trabalhadores pelo menos um está empregado nesta área (IGNARRA, 2003). Cerca de 220 milhões de pessoas no mundo todo estão empregadas, seja de forma direta ou indireta, neste setor que gera entre 10 e 12% da riqueza mundial (LANQUAR, 2007). Como bem afirma Lickorish (2000): O turismo tende a ser uma atividade altamente geradora de empregos. Embora essa generalização não seja verdadeira em todos os países, uma vez que o turismo é essencialmente uma atividade de serviços, tende a criar mais empregos por unidade de investimento do que outras atividades mais voltadas para o capital. A criação de empregos é uma das necessidades econômicas e políticas mais importantes no mundo em desenvolvimento, e muitos governos mantêm o turismo a fim de criar oportunidades de emprego (LICKORISH, 2000, p.276).

Conforme dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, 2012) 11, em 2011, o setor turístico gerou diretamente 98.031,500 trabalhos (3,3% do total existente no planeta) e avalia-se que no ano de 2012 este número aumente em 2,3%. Nesta porção estão incluídos os trabalhos em hotéis, agências de viagens, companhias aéreas e outros tipos de serviços de transporte de passageiros (com exceção dos serviços de viagens diárias), além de atividades nos setores de alimentação e lazer, suportados diretamente pelos turistas. Ainda segundo a WTTC (2012), em 2022 o setor será

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Disponível em < http://www.wttc.org/>. Acesso em 20/05/2012.

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responsável por 120.470,000 empregos diretos, ou seja, um aumento de 1,9% ao ano nos próximos dez anos (Figura 5).

Figura 5 Mão de obra direta empregada no setor do turismo Fonte: Redesenhada pela autora a partir da fonte WTTC (2012)

Ao mesmo tempo, a contribuição total (direta, indireta e induzida) do turismo na contratação de mão de obra, em 2011, foi a produção de 254.941,000 trabalhos (8,7% do total de empregos no mundo). A previsão é que este número aumente em 2% no ano de 2012 e que, até 2022, ocorra ainda um aumento de 2,3% ao ano no setor durante o período (Figura 6).

Figura 6 Mão de obra total empregada no setor do turismo Fonte: Redesenhada pela autora a partir da fonte WTTC (2012)

Contudo, a distribuição das oportunidades de trabalho no setor turístico não ocorre de forma uniforme ao redor do globo, pois, claramente, existem países que investem e se beneficiam mais da atividade turística do que outros, como, por exemplo, 20

o caso da França, Espanha e Estados Unidos, grandes economias que valorizam a renda e os empregos garantidos pelo turismo (FILHO; COUTO, 2004). Na literatura do turismo, o primeiro grande debate sobre a mobilidade de trabalhadores para áreas turísticas e suas conseqüências ocorreu nos anos 1970, tendo como contexto o Caribe. Conforme Brown (1974 apud SZIVAS; RILEY, 2002), o desenvolvimento do turismo na Jamaica afetava a agricultura em duas maneiras. Primeiro, ao acelerar a migração de trabalhadores rurais para centros urbanos e segundo, pelo fato de as habilidades necessárias para os trabalhos no setor turístico serem facilmente adquiridas, tornando o setor um grande destino para os trabalhadores migrantes vindos do ramo de agricultura. Porém, foram também encontradas evidências de que muitos dos trabalhadores que saíram da agricultura buscando um trabalho no crescente setor turístico não obtiveram sucesso (SZIVAS; RILEY, 2002). Partindo-se destas considerações, uma grande maioria de estudos mostra que os grandes destinos turísticos são freqüentemente habitados, em sua maioria, por imigrantes atraídos pelas imensas oportunidades geradas pela atividade turística (LANQUAR, 2007). Segundo Dehoorne (2002 apud LANQUAR, 2007) estes estrangeiros chamam uns aos outros e, conseqüentemente, um local antes isolado acaba se tornando um lugar de interseção nas novas lógicas migratórias internacionais. Modelo disso é a migração de trabalhadores poloneses para o Reino Unido. Esses migrantes mantêm relações com seu país de origem, ocasionando a migração em cadeia, onde membros de sua família e de seu ciclo social são também atraídos ao novo país por aqueles que ali já imigraram anteriormente (JANTA et al., 2011). Gormsen (1997 apud DRAPER, 2009) expõe que o número de residentes em Cancun, cidade localizada no México, aumentou de 426 habitantes, em 1970, para cerca de 177 mil, em 1990. Este fato ocorreu como resultado dos fluxos migratórios conseqüentes do desenvolvimento da infraestrutura turística. Já em Kiwengwa, Zanzibar/Tanzania, os fluxos migratórios induzidos pelo turismo resultaram no dobro do número de habitantes locais e contribuíram para a alteração do ambiente costeiro, através de construções de habitações, padrões de pesca não sustentáveis e eliminação de lixo (GÖSSLING, 2001 apud GÖSSLING; SCHULZ, 2005). Em âmbito nacional, conforme os dados do IBGE, censo/2000, o crescimento populacional das áreas litorâneas do Brasil deve-se especialmente ao incremento da atividade turística em regiões como Porto Seguro (BA), litoral fluminense, litoral

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paulista e litoral dos estados nordestinos (GONÇALVES, 2001). Gonçalves (2001) explica este fato da seguinte maneira: Como sabemos, o turismo abre um número considerável de postos de trabalho no campo dos serviços em geral, o que se torna fator de grande atração para os migrantes. Além disso, a presença de turistas amplia o chamado mercado informal, atraindo grande número de “trabalhadores autônomos” ou vendedores ambulantes (GONÇALVES, 2001, p.176).

Lanquar (2007) afirma que os fluxos do capital internacional conduzem o setor do turismo, na medida em que pequenos investidores locais impulsionam projetos empresariais, ou até mesmo trabalhadores expatriados investem suas economias em suas novas áreas de residência. Estes investimentos tornam possível a criação de empregos, tanto formais quanto informais, em todos os continentes. As empresas de pequeno e médio porte, incluindo as microempresas, são, por exemplo, particularmente ativas em regiões de turismo recente onde existe a presença de um setor informal generalizado. Bookman (2006 apud RODE, 2008) avalia que os países que dependem do turismo são também dependentes do influxo de imigrantes tanto altamente quanto pouco qualificados, uma vez que este setor requer uma grande quantidade de prestadores de serviços. A OMT (2009) aponta que, atualmente, uma proporção significativa de trabalhadores imigrantes está empregada no setor de hospitalidade, viagens e turismo. A relação contínua entre o turismo e as migrações impulsionadas pelas ofertas de trabalhos geradas por sua cadeia produtiva ocorre, em parte, devido aos imigrantes oferecerem uma solução à escassez de mão de obra em lugares onde a força de trabalho local não tem interesse em exercer funções de baixo status, baixa remuneração e caráter temporário (WILLIAMS; HALL, 2000). Compreende-se que, se um país com uma economia desenvolvida apresenta um setor turístico influente, o mesmo certamente contará com um grande número de imigrantes trabalhando em posições menos qualificadas, como cozinheiros, motoristas, garçons, arrumadeiras, porteiros, ambulantes etc., ou então, nos ramos de construção e manutenção de instalações turísticas, como hotéis, casas de férias, resorts, e assim por diante. A exemplo disto tem-se países como o Canadá e a Austrália, onde tanto a população local quanto a maioria dos imigrantes não estão dispostos a preencher os postos de trabalho de baixa qualificação disponíveis no setor de recreação turística (RODE, 2008). Conseqüentemente, é possível concluir que “o crescimento econômico 22

gerado pelo turismo cria uma demanda para diversas habilidades que não podem ser preenchidas totalmente pela população local” (RODE, 2009, p.46). De acordo com Valiente e Romero (2009), na Espanha deve-se destacar a importância que os movimentos imigratórios têm como força de trabalho e fonte de receitas, sendo justamente nesta linha que o setor turístico e hoteleiro se manifesta, levando em consideração o caráter imprescindível da mão de obra imigrante. A Federação Espanhola de Hotelaria afirma que os trabalhadores estrangeiros são necessários devido aos problemas que tradicionalmente tornaram este setor pouco atrativo à mão de obra local: os baixos salários, os horários complexos, as férias fora do período de verão, entre outros (VALIENTE; ROMERO, 2009). Os autores argumentam ainda que esse desprestígio social geralmente associado à indústria turística acaba funcionando como uma “válvula de escape” para milhares de imigrantes, que vêem o setor turístico como uma oportunidade de passar futuramente para outros setores, seja para regularizar sua condição de imigrante no país ou para conseguir um emprego melhor e assim poder ali se instalar permanentemente. No entanto, em relação às condições que tornam o setor turístico pouco atraente àqueles que procuram um trabalho permanente e de tempo integral, com estruturas de carreira claras, existe também outro lado a ser considerado: os trabalhos temporários e de tempo parcial que podem ser atrativo para alguns trabalhadores. A literatura sobre a relação entre o turismo e a migração de trabalhadores freqüentemente ignora o fato de que o grau de desenvolvimento econômico do país e a estrutura de sua economia influenciam fortemente a atratividade econômica e não econômica dos empregos da área do turismo (SZIVAS; RILEY, 2002). Cukier-Snow e Wall (1994 apud SZIVAS; RILEY, 2002) chamam atenção para a percepção predominante das pesquisas de que o turismo tem como qualidades as baixas remunerações, as baixas qualificações e a indústria de baixo valor acrescentado, e apontam para o fato de que isto pode não ser verdade absoluta em países em desenvolvimento. Os autores descrevem como na Indonésia, nos anos 1970, o desenvolvimento do turismo em massa atraiu a população para as áreas de resort em Kuta, Sanur e Nusa Dua, através, principalmente, dos salários mais altos comparados aos dos setores tradicionais. Em Bali, os empregados diretamente no turismo obtiveram rendimentos maiores do que aqueles empregados nos setores primários e secundários da economia (SZIVAS; RILEY, 2002).

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Na costa do sul do estado de Nayarit, México, o Governo do Estado estima que apenas cerca de 7% dos postos de trabalhos destinados à mão-de-obra qualificada são cobertos por profissionais locais, enquanto o resto da demanda é preenchida por imigrantes de outros estados, como, por exemplo, Jalisco, Zacatecas e Baja California, e países como Estados Unidos e Espanha. À mão de obra local de baixa qualificação são destinadas as atividades relacionadas com construção e restauração, as baixas remunerações e a más condições de trabalho, muito inferiores aos dos profissionais migrantes (OCEGUEDA; MEDINA, 2010). Sendo assim, o turismo é uma atividade que gera renda e emprego, atualmente muito visado por diversos governos como saída estratégica na obtenção de recursos e equilíbrio da sua balança e pagamentos (COBRA, 2005). Em um primeiro momento, a migração de trabalhadores atraídos pelo setor turístico se torna necessária em países onde a mão de obra local rejeita ou não é suficiente para preencher todas as oportunidades de trabalho geradas pela atividade. Contudo, num segundo momento, surge a questão quanto às motivações que fazem estas pessoas se deslocarem para áreas turísticas em busca de emprego. Questiona-se se elas o fazem como uma contingência ou por falta de uma alternativa melhor e se permanecerão no setor ou mudarão para outro na primeira oportunidade que lhes surgir (SZIVAS; RILEY, 2002). O influxo de trabalhadores vindos das mais diferentes áreas levanta a questão de como o próprio turismo é afetado por esse nível de diversidade em sua força de trabalho. Estes trabalhadores trazem consigo experiências muito diferentes dos requisitos de seus novos empregos no setor turístico e, por isso, são necessários estudos sobre os efeitos psicológicos da sua adaptação nesses novos trabalhos (SZIVAS; RILEY, 2002). Conforme Riley (1997 apud SZIVAS; RILEY, 2002), as conseqüências de uma força de trabalho no processo de adaptação do serviço são, possivelmente, a má qualidade do serviço e a falta de competência. Entretanto, isto continuar a ser um assunto a ser estudado em futuras pesquisas.

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3. O CONSUMO DO TURISMO E A GERAÇÃO DE FLUXOS MIGRATÓRIOS A maioria dos estudos atuais reconhece que as migrações internacionais ocorrem em função de uma dinâmica econômica, onde a presença e o incremento dos fluxos migratórios são interpretados como uma expressão significativa das manifestações atribuídas ao sistema econômico e sua fase global atual (VALIENTE; ROMERO, 2009), fato analisado no capítulo anterior. Apesar disto, nem todos os movimentos migratórios têm como principal motivação as causas econômicas, e isto pode ser visto, principalmente, em trabalhos como os dos autores Jackson (1990), Hall e Williams (2000), Backer (2007), Nakayama e Marioni (2007), O’Reilly (2007), Cirino (2008), Cobuci (2009), Draper (2009), Ness (2009) e Almeida (2010), a serem abordados a seguir.

3.1. Turismo e Migração de Amenidade Nos últimos anos, diversos destinos turísticos têm sido protagonistas de um novo fenômeno social e econômico de tendência mundial. Denominado pelos estudiosos como migração de amenidade (HALL; WILLIAMS, 2000; BACKER, 2007; NAKAYAMA; MARIONI, 2007), este tipo de movimento migratório está associado ao fenômeno turístico na medida em que o crescimento e desenvolvimento da atividade em comunidades que possuem altos recursos de qualidade de vida acabam atraindo muitos habitantes de outras regiões para estas áreas. Como bem alega Hunter et al. (2005 apud NESS, 2009), áreas dotadas de riquezas naturais tendem a experimentar níveis mais elevados de atividades turísticas e, subseqüentemente, níveis mais altos de fluxos migratórios. Assim, entende-se que as atratividades que atraem visitantes temporários são também as mesmas que atraem migrantes às destinações (CHIPENIUK, 2004 apud NESS, 2009). Benson e O’Reilly (2009) argumentam que a migração de amenidade pode ser também considerada como um fenômeno ainda maior: a migração como estilo de vida. De acordo com estas autoras, os migrantes desenvolvem um gosto por certo estilo de vida enquanto estão de férias em uma região e, posteriormente, acabam decidindo imigrar, encorajados pela imaginação de um lugar oferecedor de melhor qualidade de 25

vida. Dessa forma, destinações turísticas acabam se tornando, muitas vezes, destinos de imigração. Em alguns casos, o destino da imigração continua a ser socialmente construído em termos de férias e seus significados simultâneos (SHIELDS, 1991 apud BENSON e O’REILLY, 2009), pois freqüentemente os imigrantes evitam ter suas vidas estruturadas e rotineiras como costumavam ter anteriormente em seus antigos domicílios (O’REILLY, 2000 apud BENSON; O’REILLY, 2009). Considera-se que o turismo tem como algumas de suas propriedades a fuga da rotina e a procura pelo exótico. Para alguns, é a “base perfeita para uma migração antimoderna em busca de uma comunidade, segurança, lazer e tranqüilidade” (BENSON; O’REILLY, 2009, p.6, tradução nossa). Logo, a procura por uma vida melhor que caracteriza a migração, como MacCannell (1976 apud BENSON; O’REILLY, 2009) bem infere, é simultaneamente a procura do turista por uma experiência autêntica. Em relação à definição de migração de amenidade, Moss (2006 apud SÁNCHEZ; GONZÁLEZ, 2011) determina como aquela realizada por pessoas que após visitarem um determinado destino como turistas decidem regressar a ele como habitantes. Embora os turistas visitem as destinações por um período temporário, os migrantes de amenidade ali residem tanto permanentemente quanto sazonalmente ou de forma

intermitente

NAKAYAMA;

(MOSS,

MARIONI,

2006 2007).

apud Todavia,

SÁNCHEZ; Moss

GONZÁLEZ,

(2006

apud

2011;

SÁNCHEZ;

GONZÁLEZ, 2011), através de sua definição, proporciona as seguintes características para que seja possível identificar a migração de amenidade: •

É migração, uma vez que existe um abandono de seu lugar de residência habitual para adoção de uma nova residência em um novo lugar.



Os migrantes foram anteriormente turistas que vivenciaram por alguns dias o ambiente local do destino e, através dessa vivencia, decidiram imigrar.



Os migrantes se estabelecem em seu novo destino com a idéia de ali permanecer. Moss (1994 apud GRIPTON, 2009) também identifica duas forces motrizes da

sociedade que causam a migração de amenidade:

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1. “A maior valorização do ambiente físico ou cultural e/ou a maior valorização da

aprendizagem, do lazer e da espiritualidade” (GRIPTON, 2009, p.61, tradução nossa); 2. “A maior facilitação da mobilidade devido ao aumento do tempo livre, da riqueza e

da melhoria do acesso através dos avanços na tecnologia de comunicação e transporte, bem como os níveis mais elevados de conforto em lugares historicamente remotos.” (GRIPTON, 2009, p.61, tradução nossa); Nakayama e Marioni (2007) apontam para o fato dos componentes da definição de Moss (2006 apud SÁNCHEZ; GONZÁLEZ, 2011) darem também lugar a existência de outras características deste fenômeno migratório: •

A eleição do destino recai, geralmente, sobre uma localidade muito conhecida e situada dentro do país.



A eleição de uma localidade turística abrange fortemente a atividade dos migrantes no destino. Por exemplo, se recebem algum tipo de renda de seus lugares de origem e vivem como turistas permanentes ou se geram sua renda no local de destino e se dedicam a atividades relacionadas com o comércio ou com os serviços turísticos.



A força relativa do seu capital econômico e social permite que os migrantes assumam, quase imediatamente, papéis importantes nos destinos, gerando conseqüências significativas na gestão do desenvolvimento local. Segundo Sánchez e González (2011), os migrantes de amenidade buscam suas

residências temporárias ou permanentes em locais onde possam elevar sua qualidade de vida, sendo principalmente atraídos por lugares que apresentam maiores qualidades ambientais e culturais que as disponíveis em seus domicílios anteriores. Ao mesmo tempo, acabam freqüentemente exigindo no novo domicílio outras amenidades adicionais, como oportunidades de crescimento cultural e artístico, infraestrutura variada para compras e recreação, serviços de saúde de qualidade e, em alguns casos, opções de emprego, resultando então em grandes mudanças também para a população residente local (WILLIAMS; GILL; MOORE, 1993 apud SÁNCHEZ; GONZÁLEZ, 2011; NESS, 2009).

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Nesse âmbito, Gill e Williams (2008 apud NESS, 2009) construíram um modelo (Figura 7) que conecta as várias características interdependentes da gestão do destino turístico com os impactos e implicações das realidades emergentes nos paradigmas da migração e da mobilidade, contribuindo, principalmente, como um avanço nas pesquisas das relações entre turismo e migração, já que recentemente só haviam sido apresentados estudos relacionados à compreensão teórica ou prática de gestão (NESS, 2009).

Figura 7 Modelo da relação entre turismo e migração de amenidade Fonte: Redesenhada pela autora a partir da fonte Gill e Williams (2008 apud NESS, 2009)

O modelo de Gill e Williams (2008 apud NESS, 2009) identifica as partes interessadas (stakeholders) e os resultados e as questões de gestão comumente associadas com a migração de amenidade, permite que as muitas características da relação entre turismo e migração sejam avaliadas de maneira integrada, promove a formação de política e respostas de gestão melhores informadas, além de possibilitar 28

pesquisas que possam avaliar os impactos potenciais e as oportunidades decorrentes da promoção das atrações e amenidades de um destino (NESS, 2009). Como stakeholders considerados, Gill e Williams (2008 apud NESS, 2009) compreendem os burocratas, representantes da indústria turística, membros da sociedade civil, membros da comunidade, grupos de interesse, ONGs e migrantes de amenidade temporários e permanentes a longo prazo. Estes stakeholders negociam os usos e significados dos espaços locais e, como resultado, tem-se efeitos potencialmente transformadores na comunidade, incluindo: (…) mudanças no desenvolvimento territorial/valores dos imóveis, nos valores e nas redes sociais, no ambiente e nas paisagens, na diversificação econômica e no mercado de trabalho, no acesso, no sentido de lugar e imagem, bem como nas estruturas de poder e políticas (NESS, 2009, p.13, tradução nossa).

Ou seja, entende-se que as políticas locais e as circunstâncias ambientais, econômicas e sociais que operam no destino determinado acabam se modificando e sendo modificadas pelas partes interessadas locais (NESS, 2009). Visando estas transformações, muitas comunidades têm adotado cada vez mais a migração de amenidade a fim de estimular sua vitalidade e crescimento econômico. Como exemplo disto tem-se o estado da Flórida, popular destinação turística localizada nos Estados Unidos, onde, em 2002, o então governador John Ellis Bush anunciou a criação da Destination Florida Comission com dois propósitos: 1) avaliar a posição competitiva do estado em termos de atração e retenção de migrantes aposentados 12; 2) recomendar formas de tornar a Flórida mais amistosa a estes migrantes 13, priorizando assim a migração de amenidade como uma estratégia econômica (SCROW, 2003 apud NESS, 2012). De acordo com Moss (2006a apud GRIPTON, 2009), os migrantes passam por uma progressão onde são primeiro turistas, depois proprietários de residências secundárias e, finalmente, residentes permanentes. Isto ocorre, principalmente, por conta das amenidades locais provocarem no turista o desejo de se obter uma residência 12

Os migrantes aposentados, em geral, possuem 55 anos ou mais e decidem se deslocar (internamente ou internacionalmente) em busca de amenidades, permanecendo no local de destino por pelo menos metade do ano (KING et al., 1998, 2000; RODRÍGUEZ et al., 1998; O’REILLY, 2000; CASADO-DÍAZ, 2006 apud SAMPAIO, 2011). 13

Dados disponíveis em . Acesso em 22/06/2012.

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sazonal ou permanente no destino. Para Godbey e Bevins (1987 apud KUENTZEL; RAMASWAMY, 2003), este processo de conversão de residência secundária para primária representa, neste caso, tanto o estágio inicial quanto o final de um ciclo evolutivo que corresponde aos estágios do ciclo de vida de uma área turística. Portanto, o crescimento das amenidades gera o desenvolvimento de residências sazonais e a compra de residências sazonais gera a conversão para as residências permanentes (KUENTZEL; RAMASWAMY, 2003). Neste contexto, um leque de literatura sobre turismo residencial tem como enfoque os migrantes de amenidade de tempo parcial ou alternado (GLORIOSO; MOSS, 2007 apud GRIPTON, 2009). Esta mesma literatura identifica também a importância das amenidades físicas e culturais como influencias de atração (HALL; MULLER 2004, MCINTYRE et al. 2006 apud GRIPTON, 2009). Hall e Williams (2002) identificaram como contribuição para a migração de amenidade a extensão dos direitos de propriedade para além das fronteiras pelas residências secundárias ou casas de férias, a mudança nos padrões de trabalho e lazer, as mudanças demográficas da sociedade, e as transformações estruturais nas economias (GRIPTON, 2009). Em suma, o turismo residencial torna-se freqüentemente conseqüência da migração de amenidade, uma vez que sua premissa é a procura de amenidades e novos estilos de vida (WARNES, 2001, 2004, WILLIAMS, KING; WARNES, 2004, SALVÀ-TOMÀS, 2005, O’REILLY, 2007, STONE; STUBBS, 2007, GOSNELL; ABRAMS, 2009 apud SAMPAIO, 2011).

3.2. Turismo Residencial O turismo residencial constitui uma das vertentes mais desconhecidas da atividade turística, pouco caracterizada estatisticamente, mas com uma diversidade de definições e conceitos por diferentes autores. A análise do turismo residencial baseada em diferentes percepções acaba gerando definições cujos limites reais são confusos e, muitas vezes, subjacentes a uma experiência pessoal (COLÁS, 2003 apud ALMEIDA, 2010). Essa complicação ocorre devido ao fato deste segmento não ser um objeto de pesquisa limitado apenas ao turismo, mas também a outras disciplinas, como, por exemplo, a geografia rural e populacional, a economia e a sociologia (HALL; MÜLLER, 2004).

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Apesar de a temática do turismo residencial vir sendo debatida um pouco por todo mundo há várias décadas, pouca atenção foi dada a esse fenômeno até o final dos anos 80 e início dos anos 90, quando o tema passou a ser estudado com mais profundidade, surgindo então diversas publicações sobre tal (HALL; MÜLLER, 2004 apud ALMEIDA, 2010). Conforme Hall e Müller (2004 apud ALMEIDA, 2010), o crescimento da migração dos aposentados em termos inter-regionais e internacionais, o aumento do reconhecimento das implicações econômicas, sociais e ambientais do turismo pelos governos e a utilização deliberada das segundas residências como elemento de desenvolvimento econômico são fatores responsáveis para o ressurgimento do interesse dos estudiosos neste segmento turístico. Uma grande variedade tanto de definições quanto de conceitos para o turismo residencial existe dentre diversos estudos (Tabela 2). Enquanto alguns autores utilizam os termos residência e moradia secundária, outros se referem ao segmento como segunda residência e turismo de segundas casas. Investigadores como Shaw e Williams (1994 apud SAMPAIO, 2011) e Rodriguez (2001, apud SAMPAIO, 2011), por exemplo, associam o conceito de turismo residencial a um grupo concreto, como o dos aposentados, que assume um padrão de comportamento particular (incluindo-se aqui, as migrações permanentes e temporárias). Já Breuer (2005, apud SAMPAIO, 2011) e Salvà Tomàs (2005) preferem associar o mesmo conceito a um comportamento turístico caracterizado por períodos de estadia descontínuos ao longo do ano e a uma relação baseada no consumo do destino. É possível ainda identificar autores, como O’Reilly, (2000) e Balkir e Kirkulak (2007 apud SAMPAIO, 2011), que analisam o turismo residencial como um continuum de situações dificilmente mensuráveis estatisticamente, fato que prejudica a distinção simples entre “turista” e “residente”. Embora normalmente os estudiosos definam o processo turístico-residencial a partir da caracterização de seus protagonistas (os supostos turistas residenciais), alguns pesquisadores, como Tomás Mazón e Antonio Aledo (2005 apud NIEVES et. al, 2008, o definem a partir de outro foco: a oferta. Mazón e Aledo (2005 apud NIEVES et. al, 2008) definem o segmento da seguinte forma: (…) atividade econômica que se dedica a urbanização, construção e venda de habitações que compõem a indústria extra-hoteleira, cujos usuários as utilizam como alojamento para passar as férias ou residir, de forma permanente o semipermanente, fora de seus locais de residência habitual, e que respondem a

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novas formas de mobilidade e residência das sociedades avançadas (MAZÓN; ALEDO, 2005: 18-19 apud NIEVES et. al, 2008, p.103, tradução nossa).

As definições e conceitos divergentes sobre turismo residencial acabam por se tornar um problema, pois ocasionam uma falta de possíveis dados comparativos sobre o tópico. Para Cobuci (2009) e Almeida (2010), esta problemática prova a urgência em se criar consensos e estabelecer fronteiras entre o que pode ou não ser classificado como turismo residencial. Tabela 2 – Quadro resumo das definições propostas para Turismo Residencial CONCEITO

TURISMO RESIDENCIAL

DEFINIÇÃO PROPOSTA Pressupõe o movimento de pessoas do seu local de residência para outro onde adquiriram ou alugaram uma moradia, comum no caso de pessoas na idade de aposentadoria, originando um movimento migratório das classes mais idosas para novos locais de residência e lazer que se situam

(MAZÓN MARTINEZ,

normalmente nos destinos litorais do Sul da Europa, onde é possível usufruir

2006)

de um clima ameno ao longo do ano e que lhes oferece uma boa qualidade de vida.

RESIDÊNCIA SECUNDÁRIA (BARBIER, 1969 apud

Alojamento pertencente a uma pessoa que já possui uma residência principal e que reside numa cidade ou pelo menos longe da sua casa de campo, que visita ao fim-de-semana ou nas férias.

OLMEDO; GOMEZ, 1989) Utilização de segundas casas como forma de recreação por parte dos seus TURISMO DE SEGUNDAS CASAS

proprietários, amigos ou familiares dos mesmos, ou turistas que lhes alugaram a casa. Tendo em conta relacionamentos, comportamentos e ações que resultam da viagem e da estada numa segunda casa. As residências

(TAUBAMANN, 1973;

permanentes nas segundas casas não são consideradas como atividade

JAAKSON, 1986;

turística. No entanto, os autores ressalvam que todos os grupos de pessoa

GARTNER, 1996; TRESS,

que viajam das suas residências principais para segundas casas são

2000 apud TRESS, 2002)

considerados turistas, sejam eles os proprietários, amigos ou familiares ou

MORADIA SECUNDÁRIA (INE-ESPAÑA, 1994; 1995 apud COLÁS, 2003)

até mesmo as pessoas que aluguem estas mesmas casas. Uma moradia é secundária quando utilizada somente em determinado período do ano, de forma sazonal, periódica ou esporádica e não constitui uma residência habitual de uma ou várias pessoas. Pode ser, portanto, uma casa de campo, praia ou cidade, utilizada nas férias, verão, fim-de-semana, trabalho temporário ou em outras ocasiões.

Fonte: Almeida (2010, p.162-163) [Adaptado]

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Huete e Mantecón (2010) argumentam que o conceito do turismo residencial tem sido utilizado desde os anos 70 para explicar as mudanças sociais e ambientais provocadas pelo aumento do turismo e da migração no mundo contemporâneo. No entanto, a problemática em se conceituar esta vertente da atividade turística reside, principalmente, no fato de as novas formas e padrões de mobilidade e habitação nas sociedades modernas se situarem entre a mobilidade temporal e a migração permanente (BELL; WARD, 2000; HALL; WILLIAMS, 2000). O entendimento da questão semântica do turismo residencial é bastante complexo, pois como bem infere Patuleia (2011), a própria expressão é em si contraditória: Se não vejamos, logo à partida a própria expressão em si é contraditória porque se pressupõe que o alojamento turístico seja por si próprio um alojamento temporário, e o alojamento residencial, por regra permanente (PATULEIA, 2011, p.8).

De acordo com Andreu (2005 apud COBUCI, 2009), o turismo residencial faz parte de uma vasta realidade que são as segundas residências. Para o autor, quando houver turismo residencial, este com certeza conduzirá a uma segunda residência, porém, nem sempre a utilização de uma segunda residência poderá ser considerada como turismo (COBUCI, 2009). Neste âmbito, torna-se cada vez mais complexo diferenciar o turista residencial do turista comum e do imigrante. O turista residencial, segundo Mellado e Rochel (2002 apud COBUCI, 2009), reúne as mesmas características atribuídas ao turista comum, devendo aqui ser utilizado os mesmos critérios de identificação como na definição apresentada pela OMT de “entorno habitual”, considerando-se: “uma distância mínima percorrida; uma duração mínima fora do lugar da residência habitual; e uma mudança de localidade ou de unidade territorial administrativa mínima” (COBUCI, 2009, p.6). Além disso, deve-se considerar também a estadia média anual para que seja possível qualquer distinção: se o período foi entre 1 a 6 meses ou mais de 6 meses e menos de 1 ano. Entretanto, para Cobuci (2009) esta abordagem parece contraditória, pois se a maior parte do ano é passada pelo turista no destino da segunda residência, este fenômeno seria melhor definido por alguns autores como migração temporária ou permanente (GUSTAFSON, 2002 apud COBUCI, 2009).

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Enquanto isso, Duval (2004 apud COBUCI, 2009) não considera nem a dimensão espaço-tempo nem o sistema de motivações que determinam a mobilidade suficiente para diferenciar o turismo residencial de algumas formas de migração. O autor supõe a identificação do turista residencial com base na própria definição da identidade de cada indivíduo e do seu próprio sentido de lar como necessária para que seja possível tal distinção (COBUCI, 2009). No geral, os turistas residenciais apresentam algumas características particulares, como o retorno ao mesmo local para períodos mais curtos de lazer (fins-de-semana) e o grande conhecimento, fidelização e valorização do destino (HALL; MÜLLER, 1993 apud COBUCI, 2009). Torres Bernier (2003 apud COBUCI, 2009) aponta a fidelidade como favorável ao turismo residencial, pois dificilmente uma pessoa ou grupo familiar adquire o caráter de turista residente sem ter sido um turista comum assíduo anteriormente. As segundas residências têm crescido muito nas últimas décadas na Europa, principalmente em países como a Espanha, Portugal, França e Itália, que possuem amenidades naturais bastante atraentes aos migrantes (HALL; MÜLLER, 2004; O’REILLY, 2007). Este fato pode ser explicado pelo desenvolvimento da Comunidade Econômica Européia (CEE)

14

e da União Européia (UE), na medida em que os

europeus podem facilmente adquirir propriedades, residir, trabalhar e circular livremente dentre os Estados-membros da UE. Assim, a CEE e a UE, junto à globalização, podem ser consideradas como os principais fatores que contribuíram para a expansão do turismo residencial no continente europeu (O’REILLY, 2007). A decisão da aquisição de uma segunda residência é considerada como uma resolução relativamente simples pelos estudiosos e surge como uma necessidade que se traduz em motivações turísticas, gerando no consumidor a procura por informações que permitam avaliar as diferentes alternativas para a satisfação de suas necessidades (COBUCI, 2009). Diante disso, é possível então fazer uma relação entre a classificação dos fatores que influenciam a aquisição de produtos turísticos (Figura 8), apresentada por Swarbrooke e Horner (2001 apud COBUCI, 2009), com os fatores que influenciam a aquisição da segunda residência, tendo em vista a semelhança dos dois processos (COBUCI, 2009).

14

Organização internacional criada por um dos dois Tratados de Roma de 1957, com a finalidade de

estabelecer um mercado comum europeu.

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Figura 8 Fatores que influenciam a tomada de decisão em turismo segundo Swarbrooke e Homer (2001). Fonte: Redesenhada pela autora a partir da fonte Swarbrooke e Homer (2001 apud COBUCI, 2009)

Apesar de a segunda residência ser, normalmente, uma casa de férias utilizada durante fins-de-semana prolongados e períodos longos, muitas vezes ela pode atuar como um elemento de atração de migrantes permanentes. Sampaio (2011) salienta precisamente a importância da prévia experiência turística como um elemento determinante na escolha do destino dos migrantes aposentados, podendo ser designado, porventura, como um processo turístico-migratório. Na Suécia, Müller (2002) identificou grupos de migrantes alemães que adquiriram segundas residências no país e depois de algum tempo decidiram se estabelecer permanentemente no território, após terem atingido a aposentadoria ou até mesmo apenas na intenção de começar uma vida nova em outro lugar. Já na costa do sul da Europa, especialmente na Espanha, estrangeiros aposentados freqüentemente chegam como turistas residenciais, se estabelecendo mais tarde permanentemente no território (CASADO-DIAZ, 2000 apud COBUCI, 2009; RODRÍGUEZ, 2004). Conforme O’Reilly (2007), desde os anos 80 os norte-europeus, britânicos e alemães em particular, têm migrado cada vez mais para as cidades costeiras da Espanha. Esses migrantes são atraídos por fatores como clima, custo de vida relativo e estilo de vida calmo e têm sua migração facilitada pela existência e desenvolvimento de rotas de transportes regulares e a preços razoáveis, companhias aéreas baratas e uma boa infraestrutura local desenvolvida inicialmente para a atividade turística. O turismo residencial começa no momento em que um indivíduo adquire ou aluga uma segunda residência em algum lugar que apresenta amenidades atraentes, ou 35

que ele ou algum conhecido tenha visitado previamente como turista (O’REILLY, 2007). Normalmente, estes migrantes que se estabelecem no local da segunda residência foram, provavelmente, visitantes sazonais em um momento anterior. Ao mesmo tempo, quanto mais migrantes decidem se fixar de modo permanente em um destino, mais povoado este se torna. E com isso surgem mais problemas para a comunidade local, como, por exemplo, mais tráfego nas ruas e estradas e mais poluição, além de o destino acabar por se tornar menos afastado e exótico aos olhos dos turistas em potencial (O’REILLY, 2007). Por fim, à medida que o turista residencial decide se tornar um residente permanente cria-se então a possibilidade do surgimento de outro tipo de segmento turístico: o turismo de visita a familiares e amigos.

3.3. Turismo de Visitas a Familiares e Amigos O turismo de visitas a familiares e amigos (VFA) é um segmento relativamente recente do fenômeno turístico, embora já seja considerável e importante em todo o mundo. No último ano, as visitas a familiares e amigos representaram, junto a algumas outras razões, 27% das principais motivações das viagens internacionais (Figura 9) e atualmente este segmento é o principal mercado turístico de muitos países (BACKER, 2008; CIRINO, 2008).

Figura 9 Chegadas de turistas internacionais por principal motivação, 2011 (%) Fonte: Redesenhada pela autora a partir da fonte UNWTO (2012)

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O grande interesse acadêmico nesta forma de turismo se desenvolveu a partir da metade dos anos 90, com o estudo de Jackson (1990)

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que mostrava como o segmento

era, na verdade, muito maior do que as estimativas oficiais sugeriam. Normalmente, a duração média da permanência de um turista VFA em um destino é o dobro da de um turista de lazer, bem como quase o triplo da duração da permanência de um turista de negócios. Ademais, a importância do mercado é fortemente subestimada em virtude da definição limitada deste tipo de turista (POEL; MASUREL; NIJKAMP, 2004). Segundo Gheasi et. al., o turismo VFA é resultado da expansão geográfica das redes familiares e de amigos pelo mundo. A internacionalização de diferentes formas de migração faz com que amigos e parentes mantenham contato uns com os outros, independente da distância que houver entre eles (GHEASI; NIKJAMP; RIETVELD, 2009). Backer (2007) define este segmento da seguinte maneira:

O turismo VFA é uma forma de viagem que implica em uma visitação onde tanto a finalidade da viagem quanto o tipo de acomodação (ou ambos) envolve a visita a amigos e/ou familiares (BACKER, 2007, p.369, tradução nossa).

Duval (2002 apud CIRINO, 2008) admite que, devido ao fato das motivações que movem os turistas VFA serem bastante dispersas, torna-se difícil elaborar estratégias de marketing eficazes para este segmento relativamente ainda desconhecido. Em conseqüência disto, o mercado VFA é muitas vezes entendido como um segmento de baixo impacto econômico, onde os turistas contribuem menos para a economia local do destino devido ao fato de não utilizarem os restaurantes, as atrações locais e as unidades de alojamento para pernoitarem com a mesma intensidade que os turistas convencionais. Diante disso, as visitas a familiares e amigos não se revelam tão atrativas aos gestores de marketing por não possibilitarem receitas turísticas tão elevadas, ficando então a salvo das técnicas tradicionais de marketing do turismo (POEL; MASUREL; NIJKAMP, 2004; CIRINO, 2008). Para Gheasi et al. (2011), é necessário que o mercado VFA seja compreendido a partir de uma perspectiva mais ampla das tendências de imigração e de consumo, para que assim se possa descobrir o tamanho e importância deste segmento. 15

JACKSON, R. (1990). VFR Tourism: Is It Underestimated? The Journal of Tourism Studies, 1(2), 10-17. Disponível em . Acesso em 13/08/2012.

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Como bem reconhecem Hall e Williams (2002), a migração é uma pré-condição para que o turismo VFA ocorra, embora algumas vezes esta ligação aconteça de modo indireto, baseada em gerações familiares anteriores. Os migrantes permanentes efetuam freqüentemente viagens com destino aos seus países de origem objetivando visitar familiares e amigos e, em face disso, o crescimento das migrações permanentes gera um potencial significativo para o turismo VFA. Krakover e Karplus (2002 apud CIRINO, 2008) apontam o fato de que o migrante potencial tem muito em comum com o turista VFA, uma vez que ambos obtêm informações através de fontes similares antes de viajar e, ao chegar ao destino, apresentam a mesma propensão em se hospedar em residências de amigos e familiares. Boyne et al. (2002) argumenta que as visitas a familiares e amigos podem ser classificadas como uma forma de turismo gerado por fluxos migratórios. Entende-se que, cada imigração temporária ou permanente cria um novo arranjo espacial de redes de amizade e parentesco, os quais podem ser potencialmente transformados em fluxos de visitas no futuro. Além disso, estudiosos como Noordewier (2001 apud POEL et al., 2004) e Hu e Morrison (2002 apud POEL et al., 2004) revelam que, devido a sua relação com seus amigos e familiares, os turistas VFA são mais propensos a fazer viagens fora de períodos de alta temporada e a repetir a visita ao destino do que outros tipos de turistas. Sob a perspectiva de Jackson (1990), o turismo VFA é associado à migração internacional permanente, sendo tanto a causa quanto o efeito desta, pois primeiramente, ao se mudarem para um segundo país, são os próprios imigrantes que proporcionam acomodação para visitantes não-imigrantes ou visitantes retornando a seu país de origem. No entanto, em um segundo momento, estas visitas podem freqüentemente se transformar em uma imigração permanente. Ainda de acordo com o autor, sabe-se que a entrada através do visto de turista em países como os Estados Unidos, Canadá e Austrália é um fenômeno bastante comum. Estes países encorajam a imigração permanente apenas para pessoas selecionadas e aquelas que não se enquadram nestes critérios acabam utilizando o visto de turista como uma forma ilícita para imigrar. Esta migração ilegal não poderia ocorrer, na maioria dos casos, a menos que tais imigrantes recebessem auxílio de amigos e parentes que anteriormente já houvessem alcançado o status de imigrante legal no país (JACKSON, 1990).

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Na Austrália, o segmento do turismo de visitas a familiares e amigos representou, em 2008, 55% das viagens domésticas, ou seja, a maior forma de viagens domésticas no país (CIRINO, 2008). Dwyer et. al. (2010) ressalta em seu estudo16 que a migração em busca da reunião familiar estimula o turismo VFA na região, o qual pode levar, posteriormente, a uma migração mais duradoura por parte do visitante. Destarte, quanto maior o número de imigrantes permanentes na Austrália, maior é o número de amigos e parentes no país de origem com um incentivo maior para visitar o lugar. Ao mesmo tempo, ao visitar suas redes sociais em seus países de origem, imigrantes permanentes podem promover a Austrália, seja de forma implícita ou explícita, chamando atenção para suas atrações e estimulando, por conseguinte, visitas e migrações (DWYER; KING; SEETARAM, 2010). Diante do exposto, existem várias maneiras em que o fenômeno da migração pode influenciar o turismo internacional. Conforme Jackson (1990) sugere, a relação entre migração e turismo VFA está diretamente ligada ao fluxo de imigrantes no lugar, pois eles são capazes de desempenhar um papel determinante na escolha dos destinos das viagens de suas redes sociais, fazendo com que estes turistas em potencial tenham uma razão a mais para visitar seu novo país de residência (SEETARAM, 2010). Por este prisma, o imigrante age muitas vezes como uma espécie de patrocinador da visita, apoiando-a financeiramente ou lhe oferecendo serviços gratuitos como hospedagem, traslados e passeios locais, reduzindo de modo considerável o custo da viagem de seus familiares e amigos. (SEETARAM, 2010). Por outro lado, o próprio imigrante pode promover seu país de origem em seu novo país de residência, ao mesmo tempo em que também pode promover seu país de residência a seus arranjos familiares e de amigos em seu antigo país (SEETARAM, 2010). Torna-se necessário, portanto, compreender que ao expandir o leque de potenciais visitantes, os fluxos imigratórios são capazes de impulsionar o turismo em um destino. Explorar as viagens de regresso ao país de origem dos imigrantes e as visitas de suas redes sociais em seu país de residência é entender algumas das diversas formas em que o processo de migração se envolve com o fenômeno do turismo, e vice versa. Contudo, são poucos os países que possuem um sistema detalhado de dados que relacione a atividade turística aos movimentos migratórios. Esta falta de informações 16

DWYER, Larry; FORSYTH, Peter; KING, Brian; SEETATAM, Neelu. Migration-related determinants of Australian inbound and outbound tourism flows, CRC for Sustainable Tourism Pty Ltd, Australia (Gold Coast, Queensland), 2010. Disponível em . Acesso em 14/08/2012.

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dificulta a análise com maior exatidão da amplitude do turismo VFA, um mercado turístico indiscutivelmente importante para muitos países, principalmente para os relativamente empobrecidos, característica da grande parte dos locais de origem dos emigrantes (CIRINO, 2008).

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4. ESTUDO ESPECÍFICO: INTERCÂMBIO CULTURAL O segmento dos programas de intercâmbio cultural vem apresentando um crescimento acelerado nos últimos anos no Brasil e em todo mundo. Através de um caderno de orientações básicas 17, o Ministério do Turismo (2006) delimitou o conceito do Turismo de Estudos e Intercâmbio do seguinte modo: Turismo de Estudos e Intercâmbio constitui-se da movimentação turística gerada por atividades e programas de aprendizagem e vivências para fins de qualificação, ampliação de conhecimento e de desenvolvimento pessoal e profissional. (BRASIL. Ministério do Turismo. Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais. Brasília: Ministério do Turismo, 2006 apud Ministério do Turismo, 2006, p.15)

Neste contexto, jovens de programas de intercâmbio compõem um caso particular a ser estudado: o turista-trabalhador. Como Williams e Hall (2002) bem exprimem, as motivações deste tipo de turista são uma mistura de interesses econômicos e de lazer e o destino escolhido por ele é baseado em suas atrações turísticas. Além disso, muitas vezes sua estadia é parcialmente ou totalmente financiada pelo trabalho realizado na destinação. Os intercambistas se encaixam nesta definição de turista-trabalhador na medida em que assentam moradia no país de destino por um período de no mínimo alguns meses, trabalham para pagar seus estudos, freqüentemente em funções de baixa qualificação junto a outros imigrantes, e se engajam em atividades turísticas nos fins de semana. Por todos estes motivos, podem ser considerados estudantes, trabalhadores migrantes e turistas, ou tudo ao mesmo tempo. Ou então, podem passar de uma categoria para a outra em momentos diferentes (BOOKMAN, 2006 apud RODE, 2008). Em vista disso, diversos países perceberam estas tendências e, a partir da criação de variados programas de intercâmbio cultural, passaram a convocar ativamente jovens viajantes como trabalhadores imigrantes (RODE, 2008). Através do programa de intercâmbio Working Holiday-Maker (WHM), os países Nova Zelândia e Austrália atraem viajantes internacionais com idades entre 18 e 30 17

Caderno de Orientações Básicas do Turismo de Estudos e Intercâmbio. Disponível em . Acesso em 26/05/2012.

41

anos para trabalhar enquanto visitam o país por um período de até 12 meses. Já nos Estados Unidos, são comuns os programas de trabalho temporário (Work Experience, também chamado Work and Travel) e os que misturam trabalho e estudo (Work and Study), onde os jovens trabalham para um empregador norte-americano por um período máximo de quatro meses e podem viajar pelo país, ao fim deste tempo, por no máximo 25 dias. Nas universidades americanas é cada vez maior o número de estudantes intercambistas, este fato constitui uma importante via para a migração de mão de obra qualificada para os Estados Unidos (SZELENYI, 2003). De acordo com Szelenyi (2003), tanto as instituições americanas de ensino superior quanto diversos setores da economia e indústria dependem de talentos estrangeiros, o que acaba resultando em um fator de forte atração para a imigração ao país. A maioria dos estudantes entra nos Estados Unidos portando vistos de não-imigrantes e geralmente continuam com o mesmo status até o final de seus estudos. Este período de migração e estabelecimento no país de destino é conceituado como um período intermediário entre a migração temporária e permanente, pois durante o curso de vários anos, estes alunos estão engajados em um ambiente pré-migratório, onde vivem e trabalham no cenário que possivelmente irão selecionar no futuro para se estabelecer definitivamente (SZELENYI, 2003). Conforme Santos (2010), os deslocamentos de estudos podem ser considerados no contexto dos movimentos migratórios devido às três seguintes razões: o fator espacial está presente na migração estudantil, uma vez que se deixa o local de origem e dirigir-se a outro de uma região diferente; os deslocamentos não são esporádicos, mas sim um período longo cuja duração varia em função do nível e tipo de ensino; aos estudantes, presume mudanças sociais e culturais significativas no entorno, visto que a sociedade em que estudarão apresenta características que a diferencia da anterior. O Au Pair é outro tipo de programa de intercâmbio muito comum e procurado por jovens do mundo inteiro. Segundo Newcombe (2004), o número de Au Pairs internacionais não pertencentes à União Européia no Reino Unido aumentou, de 7.720, em 1991, para 12.900 em 2001, e com o passar dos anos continua a se intensificar cada vez mais. Ainda assim, este tipo de imigrante é ausente em debates acadêmicos devido ao seu perfil específico e papel que desempenha (NEWCOMBE, 2004). Neste programa, o intercambista freqüenta cursos de idiomas e vive no lar de uma família estrangeira, onde, em troca, auxilia cuidando de suas crianças. 42

Os Au Pairs que entram no Reino Unido são definidos como jovens de idade entre 17 e 27 anos, solteiros, sem dependentes, que possuem o desejo de viver no exterior como membros de uma família, por um período máximo de dois anos. No lar, eles não são considerados hóspedes, nem trabalhadores ou membros da família, mas sim uma combinação de todos estes personagens, dependendo das circunstâncias e situação. (NEWCOMBE, 2004). Na sociedade, Au Pairs não estão na categoria de estudantes e nem de trabalhadores, eles estão em uma categoria especial que possui características tanto de um quanto de outro (Council of Europe, 1969 apud NEWCOMBER, 2004). Já em termos de migração, são visitantes que portam um visto comum de turismo como todos os outros turistas no país (NEWCOMBE, 2004). O presente trabalho propõe analisar aspectos relativos à mobilidade no contexto contemporâneo, em especial a relação entre turismo e migração. Tendo como base os conceitos aqui apresentados, é nesta perspectiva que se pretendeu realizar um estudo específico sobre intercâmbio cultural, pois os intercambistas podem, porventura, ser inseridos nos quatro segmentos de mercado de suma importância na intersecção turismo-migração apresentados neste estudo: a migração de trabalhadores induzidas pelo turismo, as migrações de amenidades, o turismo residencial e o turismo de visitas a familiares e amigos.

4.1. Metodologia Em virtude da complexidade e importância do tema em questão e, sobretudo, da escassez de estudos prévios relacionados ao assunto, este trabalho foi subdividido em duas partes complementares entre si. A primeira constitui em uma pesquisa bibliográfica onde se procurou analisar as contribuições culturais e científicas sobre o determinado assunto e a segunda constitui em uma pesquisa exploratória de caráter quali-quantitativo,

com

o

objetivo

de

proporcionar

maior

conhecimento

e

aprofundamento do fenômeno investigado, tornando-o mais explícito. A pesquisa exploratória foi realizada por meio de um questionário estruturado online (Anexo A), exclusivo àqueles que já realizaram algum programa de intercâmbio cultural, buscando desse modo levantar informações a respeito de suas experiências no exterior. Para a coleta de dados foi utilizada uma amostra não probabilística, escolhida pela facilidade de acesso aos respondentes. 43

O questionário foi elaborado na plataforma Google Docs

18

e disponibilizado

online durante o período de 25 de julho a 25 de agosto de 2012, podendo ser respondido por

usuários

da

internet

através

do

endereço

eletrônico

. Sua divulgação se deu por meio de convites via e-mail, a partir da lista de contatos desta autora pesquisadora, e de uma mensagem (Anexo B) publicada nos perfis das agências de intercâmbio CI19, EF20, IE21, Nexus Intercâmbio22 e STB23 na rede social Facebook, solicitando a participação dos intercambistas na pesquisa. O questionário apresentava 12 perguntas envolvendo, dentre elas, o perfil do participante (sexo, faixa etária, escolaridade e cidade de origem), a duração e o tipo do programa de intercâmbio, além das motivações para sua realização. No final, obteve-se um total de 43 respostas recebidas. Foi informado aos entrevistados que o estudo fazia parte desta pesquisa de conclusão de curso sobre o tema turismo e migração. O preenchimento do questionário tinha duração aproximada de 5 minutos e a identidade dos participantes foi preservada, sendo o uso dos resultados exclusivamente para este fim educacional e científico. Os dados apurados nas entrevistas possibilitaram complementar as informações introduzidas durante a revisão bibliográfica, apresentada nos capítulos anteriores, pois a partir deles foi possível investigar empiricamente aspectos previamente abordados e questionados.

4.2. Apresentação e Análise dos Dados Foram entrevistados 14 homens e 29 mulheres, ou seja, 33% dos entrevistados eram do sexo masculino e 67% do sexo feminino. A faixa etária (figura 11) com maior concentração de respondentes foi a de 18 a 25 anos (60%), seguida por abaixo de 18 18

Pacote de produtos gratuito do Google que permite criar diferentes tipos de documentos, trabalhar neles

em tempo real com outros usuários e armazená-los juntamente a outros arquivos. Disponível em: . 19

Disponível em: www.facebook.com/CI.Intercambio>. Acesso em: 25/07/2012.

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22

Disponível em: . Acesso em: 25/07/2012.

23

Disponível em: . Acesso em: 25/07/2012.

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anos (21%) e entre 26 a 35 anos (19%). Nenhum entrevistado revelou ter acima de 35 anos.

Figura 10 Faixa etária dos respondentes

A cidade de origem (figura 12) que apresentou o maior percentual de respondentes foi o Rio de Janeiro, com 61%, e consecutivamente São Paulo (7%), Niterói (7%), Brasília (7%), Porto Alegre (3%), Guaratinguetá (2%), Curitiba (2%), Maceió (2%), Cuiabá (2%) e Leopoldina (2%). Verificou-se também que 5% dos entrevistados são oriundos de cidades localizadas fora do país.

Figura 11 Cidade de origem dos respondentes

45

Os dados da figura 13 apresentam o grau de escolaridade dos entrevistados:

Figura 12 Escolaridade dos respondentes

Observa-se que 42% possuem o ensino superior completo e 39% possuem o ensino superior incompleto, o que pode ser explicado pelo fato de a maioria dos respondentes ter entre 18 a 25 anos. Enquanto isso, 12% têm o ensino fundamental completo e 7% incompleto. Assim sendo, pode-se constatar que a maioria da amostra é jovem, do sexo feminino, oriunda da cidade do Rio de Janeiro e possui o ensino superior completo.

Figura 13 Tipos de programas de Intercâmbio Cultural realizados

46

Sobre os tipos de programas de intercâmbio cultural já realizados pelos respondentes (figura 14), apurou-se que quase vinte entrevistados já estudaram alguma vez em um curso de idiomas no exterior, enquanto quatorze já participaram alguma vez do programa Study and Work e treze do Work Experience, também conhecido como Work and Travel. Oito pessoas responderam já ter cursado o ensino médio (High School) fora do país e apenas dois disseram ter realizado algum programa de estágio. No entanto, somente uma pessoa mostrou ter participado de algum programa de Au Pair. Dos entrevistados, quatro apontaram ter realizado alguma vez algum outro tipo de intercâmbio não listado no questionário, como os programas de mobilidade acadêmica que proporcionam aos alunos professorem e técnicos administrativos a possibilidade de cursar uma universidade no exterior. De acordo com os resultados das entrevistas realizadas, a duração da maioria dos programas de intercâmbio (figura 15) foi de 1 a 6 meses (63%), seguida por 6 meses a 1 ano (28%). Somente 7% dos respondentes permaneceram na destinação por um período de 1 a 2 anos e 2% ultrapassaram este período. Levando em conta as definições de turismo e migração de Warnes (1991 apud DRAPER, 2009), de Jordan e Duvell (2003 apud DRAPER, 2009) e da OMT apresentadas anteriormente neste estudo, 91% dos respondentes se enquadram na definição de turistas, pois não permaneceram mais de 6 meses na destinação, enquanto 9% podem ser considerados migrantes temporários, uma vez que ultrapassaram este período mas retornaram a seus países ao fim do intercâmbio. Contudo, estes critérios se revelam problemáticos se observarmos o fato de que todos os intercambistas trabalharam, estudaram, realizaram atividades turísticas e assentaram moradia na destinação durante seu programa de intercâmbio. Portanto, todos os respondentes podem ser considerados tanto turistas residenciais quanto migrantes temporários.

Figura 14 Duração do programa de intercâmbio

47

Do total de entrevistados, 21% estenderam a duração do intercâmbio e 79% não prorrogaram o tempo previsto do programa. Quando questionados os motivos para o prolongamento da viagem, alguns entrevistados relataram: “Medo de voltar para realidade.” “A oportunidade de estar aqui no Canadá me fez pensar que dificilmente voltarei aqui, logo, tenho que aproveitar a chance para estudar e trabalhar.” “Pois achei o período de 6 meses pouco pelos planos que havia feito e principalmente resolvi estender por gostar e me adaptar muito ao país.” “Pois gostei da experiência e queria continuar estudando, trabalhando e morando lá.” “Decidi fazer meu degree 24.” A partir da análise de dados, foi possível detectar como principal incentivo para a realização dos intercâmbios as seguintes motivações, em ordem consecutiva (figura 16): conhecer a cultura de outros países (35%), vivenciar o dia a dia em outro país (26%), adquirir conhecimento em escolas internacionais pela qualidade de ensino (23%) e obter experiência de trabalho em outro país (16%). Nenhum dos entrevistados apontou a visita a familiares e amigos como principal motivação para a realização do intercâmbio.

Figura 15 Principal motivação para a realização do intercâmbio 24

Título acadêmico (tradução nossa).

48

Dessa forma, percebe-se que os principais incentivos apontados para a realização dos intercâmbios são as mesmas causas que eventualmente levam ao turismo internacional e ao movimento migratório. Embora nem todos os movimentos migratórios tenham como principal motivação as causas econômicas, muitos pesquisadores freqüentemente apontam a procura por trabalho em outro país como uma das principais causas das migrações no mundo contemporâneo, sejam elas temporárias ou permanentes. Atualmente, tanto o turismo quanto as migrações apresentam motivações semelhantes, já que “constituem deslocamentos simbólicos, nos quais está presente, em alguns casos, o desejo de evasão (do quotidiano, no caso dos turistas e de questões estruturais da história de vida da pessoa no caso dos imigrantes) e, em outros, o desejo de auto-realização” (BARRETTO, 2009, p.8). Conforme Ignarra (2003), mais que apenas conhecer e admirar um novo lugar, o turismo se caracteriza pela motivação do turista em vivenciar uma experiência. Por vezes, as motivações turísticas podem também ser classificadas como diretas e indiretas, uma vez que dificilmente exista apenas uma causa para o deslocamento turístico, como bem infere Barretto (2008). Em geral, as pessoas viajam para fazer diversas coisas, sendo um exemplo de motivação direta o deslocamento dos intercambistas em busca de adquirir conhecimento em uma escola internacional e de motivação indireta o contato com a comunidade local do país hospedeiro e sua cultura (BARRETTO, 2008). Em relação à visitação de familiares e amigos, 30% dos pesquisados disseram terem sido visitados por seus familiares ou amigos durante seu programa de intercâmbio. Williams e Hall (2000) afirmam que migrantes, sejam temporários ou permanentes, podem se tornar pólos de atração de fluxos turísticos, uma vez que seus amigos e parentes vão visitá-los nas destinações em que se encontram. Por conseguinte, os pesquisados representaram um papel importante na escolha dos destinos das viagens de suas redes sociais, portando-se como uma razão a mais para a visita ao local em que se encontravam (JACKSON, 1990; SEETARAM, 2010).

Figura 16 Imigração permanente para o destino escolhido

49

Ao examinar os resultados da entrevista relativos à imigração permanente para o destino escolhido (figura 17), foi possível constatar que 47% dos respondentes considerariam imigrar permanentemente para a destinação do intercâmbio, 37% talvez levariam em consideração a imigração permanente e apenas 16% não admitiriam a opção de imigrar de modo definitivo. Alguns entrevistados que considerariam imigrar de forma permanente justificaram suas motivações das seguintes maneiras: “Se por acaso recebesse uma oferta de emprego dentro dos conformes legais, que de certa forma garantisse estabilidade, consideraria.” “Somente se houver uma oportunidade única de emprego por aqui.” “Melhores condições de trabalho e de pagamento; oportunidade de crescimento e profissional ao voltar para o país de origem.” “Busca de um melhor salário.” “A cidade é super tranquila e receptiva, o custo de vida e baixo, para a minha profissão oferece boas oportunidades e as estações do ano são bem marcadas.” Estes discursos revelam que as motivações desses respondentes para a imigração permanente estão relacionadas a uma dinâmica econômica. Uma grande maioria de estudos aponta para o fato de que, geralmente, o imigrante desloca-se em busca de novas oportunidades de emprego e melhor remuneração, motivados pelo desequilíbrio entre perspectivas de futuro no país de origem e no país de destino. No entanto, outros entrevistados apontaram fatores relacionados à amenidade do local como incentivo para a imigração permanente: “Buscar novas possibilidades, vivenciar de forma "permanente" o que vivenciei ao longo da minha estada no país. Custo de vida mais barato.” “Eu amei morar nos Estados Unidos, uma vida completamente diferente e com mais facilidades.” 50

“Mesmo custo de vida da minha cidade natal - Rio de Janeiro - com qualidade de vida absolutamente melhor.” “Qualidade de Vida; Qualidade no Ensino; Povo Hospitaleiro.” “Um país mais organizado, mais justo, digno e respeitoso para com seus cidadãos. Verdadeiramente “um país de todos” na pratica, e não na teoria.” “Bom, apesar de ser uma escolha difícil, vejo que lá encontrei a minha felicidade. Penso que o local escolhido é a minha cara. Temos que viver nossa vida e procurar coisas reais de nossos interesses, como essa de morar fora com o pensamento de se mudar permanente por alguns anos.” “É uma cidade incrível e tem muito a ver comigo, além de possuir uma cultura fantástica.” “Qualidade de Vida: segurança, organização da cidade, mobilidade urbana, etc.” “Qualidade de vida, baixo índice de criminalidade e as oportunidades naturais de lazer que a cidade oferece (praia, montanha, ilhas, etc).” Estes discursos atestam que migrantes são capazes de desenvolver um gosto por certo estilo de vida enquanto estão de férias em uma destinação e, conseqüentemente, podem vir a optar por imigrar permanentemente, motivados pela busca de uma melhor qualidade de vida. Desse modo, destinações turísticas podem acabar se tornando destinos de migração (Benson; O’Reilly, 2009). Ao serem indagados se conheciam alguém que imigrou para a destinação a partir do programa de intercâmbio, 60% dos respondentes afirmaram conhecer alguma pessoa, enquanto 40% negaram. Este resultado corrobora a teoria da pesquisadora Reis (2003), na qual ela infere que embora os intercambistas estejam circunscritos a um fluxo migratório temporário, tendo um compromisso perante a lei de retornar ao seu país de origem no final do programa, alguns acabam permanecendo no país que os acolhe ou encontrando novas oportunidades de estudo em países do primeiro mundo que oferecem 51

melhores condições de vida e trabalho. Segundo Silva (1997 apud SILVA, 2005), podese afirmar que tal fato não é um fenômeno recente, visto que, no início da década de 50, bolivianos vinham ao Brasil na condição de estudantes estimulados pelo programa de intercâmbio cultural Brasil-Bolívia e, após o término do programa, muitos acabavam permanecendo na cidade de São Paulo, em razão das várias ofertas de emprego oferecidas pelo mercado de trabalho paulistano naquele momento. Finalmente, em relação às destinações escolhidas para a realização dos programas de intercâmbio (figura 18), constatou-se que os países Canadá, Estados Unidos e Reino Unido foram os mais procurados para a realização dos intercâmbios, citados por 51%, 33% e 16% dos entrevistados. Já os países Austrália, Espanha e Portugal foram mencionados por 5% dos respondentes, enquanto 2% apontaram como destinos a África do Sul, a Áustria, o Chile, a Itália e a Nova Zelândia.

Figura 17 Destinações escolhidas dos intercâmbios

Visto que quase metade dos respondentes apontou já ter realizado algum tipo de programa de intercâmbio relacionado a cursos de idiomas no exterior, pode-se entender o porquê de os países de língua inglesa Canadá, Estados Unidos e Reino Unido terem sido os principais destinos citados. Contudo, deve-se considerar também que, embora as agências de intercâmbios desenvolvam suas ofertas de destinos levando em consideração fatores como preço competitivo, produto inovador (um novo destino) e programa adequado ao perfil do cliente, os intercambistas, assim como os turistas em geral, buscam destinações que apresentem uma boa hospitalidade (ser bem recebido),

52

qualidade de serviços, segurança (estrutura, serviços e ambiente social) e autenticidade de sua cultura (Ministério do Turismo, 2006). Em síntese, a aplicação dos questionários com pessoas que já participaram de programas de intercâmbio cultural foi de fundamental importância para a reflexão e análise da relação existente entre os fenômenos turismo e migração, permitindo então sua caracterização, tal como a ilustração dos conceitos abordados nos capítulos anteriores deste trabalho. A partir deste estudo específico foi possível perceber que o turismo pode ser qualificado como um dos fatores influenciadores de movimentos migratórios. Os intercambistas pesquisados mostraram que os principais incentivos apontados para a realização dos intercâmbios são as mesmas causas que eventualmente levam ao turismo internacional e ao movimento migratório. É também inquestionável que os pesquisados representaram um papel importante na escolha dos destinos das viagens de suas redes sociais, estimulando a visita às destinações de seus intercâmbios. Baseado nos dados obtidos através dessa pesquisa foi possível observar que as motivações para a imigração permanente a partir do intercâmbio estão relacionadas não só a uma dinâmica economia, mas também às amenidades que o destino apresenta. Além disso, as durações dos programas de intercambio realizados pelos respondentes evidenciaram a complexidade dos critérios de diferenciação entre turismo e migração, revelando, então, a inter-relação existente entre estes dois fenômenos.

53

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES Com a introdução e desenvolvimento de novas tecnologias, a globalização modificou as noções de tempo e espaço no mundo, suscitando a mobilidade e os deslocamentos espaciais da sociedade. Diante deste cenário, é possível perceber que o processo da globalização causou grandes implicações no turismo e nos movimentos migratórios através dos avanços tecnológicos, como, por exemplo, a evolução e o barateamento dos meios de transportes e da rede de telecomunicações. No entanto, trata-se de uma tarefa complexa apontar os motivos que levam as pessoas a se deslocarem pelo globo, principalmente se considerarmos que estes motivos podem ser diretos e indiretos ou até mesmo passar de um para outro em momentos diferentes. Desse modo, partiu-se do pressuposto de que é imprescindível analisar as relações existentes entre o turismo e as migrações temporárias e permanentes a fim de desdobrar a conceitualização e as abordagens teóricas sobre a mobilidade contemporânea. Como bem pressupõe Cirino (2008), associar os conceitos de turismo e migração resulta em considerar que o turismo é capaz de gerar migrações e que as migrações são capazes de gerar turismo. Em princípio, nota-se que os fenômenos turismo e migração apresentam razões semelhantes, pois ambos abrangem o deslocamento no espaço, a mudança de lugar de residência e freqüentemente o desejo de evasão como motivação. Assim, a distinção entre estes dois fenômenos está no caráter permanente ou não do deslocamento e no comportamento do indivíduo que se desloca. Entretanto, pôde-se observar que estes critérios de diferenciação entre os dois temas mostram-se problemáticos na medida em que a definição da duração do movimento no espaço torna-se algo complexo. No desenvolvimento bibliográfico do presente trabalho, foi possível diferenciar os movimentos migratórios relacionados ao turismo em dois processos distintos. Primeiramente, verificaram-se os movimentos migratórios baseados na produção do turismo. O turismo é uma atividade fortemente geradora de renda e emprego, revelandose então atraente à mão de obra imigrante. Ao mesmo tempo, enquanto atividade econômica, o turismo usufrui destes trabalhadores imigrantes em destinações onde a mão de obra local rejeita ou se mostra incapaz de preencher todas as oportunidades de emprego geradas pela atividade.

54

Contudo, frente às dinâmicas da sociedade globalizada, atualmente os movimentos migratórios não podem ser explicados apenas pelas tradicionais dinâmicas econômicas e logo devem ser levadas também em consideração outras diversas questões culturais e sociais. Por conseguinte, foram também analisados os movimentos migratórios baseados no consumo da atividade turística. Neste processo, as motivações para os deslocamentos ocorrem devido a necessidade de aceder a certas formas de consumo. Dentre estes tipos de movimentos migratórios apresentam-se: as migrações de amenidades, em que o turista após visitar um determinado destino decide regressar a ele como habitante; o turismo residencial, cujo conceito está associado a um comportamento turístico caracterizado por períodos de estadia descontínuos ao longo do ano e a uma relação baseada no consumo do destino; e, por fim, o turismo de visitas a amigos e familiares, forma de viagem que envolve uma visitação onde tanto a finalidade da viagem bem como o tipo de acomodação implica na visita a amigos e/ou familiares. Por um lado, o presente trabalho buscou qualificar o turismo como um dos fatores influenciadores de movimentos migratórios. Por outro, conduziu à análise e compreensão dos fluxos migratórios de pessoas para destinos turísticos. Logo, os dados recolhidos através do estudo específico sobre os programas de intercâmbio cultural realizados por jovens permitiram mensurar pressupostos enunciados nesta pesquisa. Os resultados do estudo específico apontaram a dificuldade em se diferenciar turismo e migração se considerada apenas a duração do deslocamento. Apesar da maioria dos entrevistados não ter permanecido fora de sua residência habitual por um período maior que seis meses, alguns revelaram ter ultrapassado o período de um ano. Visto isso, a análise do comportamento do indivíduo durante seu deslocamento torna-se fundamental para caracterizá-lo como turista ou imigrante, pois ainda que os a maioria dos entrevistados não tenha permanecido fora de sua residência por mais de seis meses, ela também se engajou em atividades além das turísticas, como estudos em cursos de idiomas e trabalhos remunerados. Em relação aos motivos que levaram os entrevistados a realizarem os programas de intercâmbios, foram citadas motivações como conhecer a cultura de outros países e obter experiência de trabalho no exterior. Percebe-se, então, que estas são as mesmas causas que eventualmente levam ao turismo internacional e à migração. Através do estudo específico sobre os programas de intercâmbio foi possível compreender a magnitude em se repensar os fenômenos do turismo e dos movimentos 55

migratórios dentro da pesquisa científica. Evidentemente, os intercambistas se inserem nos segmentos de mercado de suma importância na intersecção turismo-migração, apresentados no capítulo dois e três deste estudo: a migração de trabalhadores induzidas pelo turismo, na medida em que os intercambistas buscaram trabalho nas destinações de seus intercâmbios; as migrações de amenidades, se consideradas as motivações apontadas nas entrevistas para uma possível imigração permanente ao destino; o turismo residencial, uma vez que todos os intercambistas assentaram moradia na destinação durante seus programas de intercâmbio; e o turismo de visitas a familiares e amigos, já que os intercambistas representaram um papel importante na escolha dos destinos das viagens de suas redes sociais, estimulando a visita às destinações de seus intercâmbios. O estudo empírico da relação entre os fenômenos do turismo e da migração ainda é um desafio para qualquer investigador devido ao fato de ainda existir uma grande escassez de estudos e dados que a avaliem com suficiente precisão e detalhamento, possibilitando um conhecimento mais aprofundado sobre os dois temas em questão. Além disso, poucos são os países que possuem um rico banco de dados com informações sobre imigrantes e turistas como, por exemplo, o Reino Unido (GHEASI; NIJKAMP; RIETVELD, 2009). Durante a realização deste trabalho foram encontradas outras limitações que dificultaram uma análise mais profunda da temática aqui exposta, como a escassez de tempo para a aplicabilidade de uma maior quantidade de entrevistas com intercambistas, tal como a impossibilidade em se entrevistar um maior número de intercambistas não oriundos do Brasil. Estes fatos podem ser considerados em futuros estudos sobre o assunto para a possível obtenção de resultados mais precisos. Nesta perspectiva, espera-se que o presente trabalho seja uma contribuição a uma área pouco explorada e ainda recente, servindo de ponto de partida para futuros aprofundamentos sobre o assunto. Sugere-se também, um maior detalhamento sobre aspectos aqui pouco explorados, como os impactos sócio-culturais causados pelos turistas e imigrantes nas comunidades locais das destinações. Por fim, espera-se então que este trabalho estimule interesse sobre o desenvolvimento de novas pesquisas acerca do tema.

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68

ANEXOS ANEXO A MODELO DE QUESTIONÁRIO

Olá, meu nome é Maíra Eustáquio, este questionário é destinado exclusivamente para respondentes que já realizaram intercâmbio. Este instrumento faz parte da pesquisa de conclusão de curso sobre o tema turismo e migração, realizada como parte do trabalho de conclusão de Curso de Turismo na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, sob a orientação da professora Dra. Carla Fraga. O preenchimento do questionário tem duração aproximada de 5 minutos. Sua identidade será preservada e o uso dos resultados será exclusivamente para fins educacionais e/ou científicos. Os resultados estarão disponíveis após a defesa e aprovação do trabalho na Escola de Turismologia da UNIRIO. Agradeço a sua colaboração!

1. Assinale todos os tipos de programas de Intercâmbio Cultural que você já realizou: ( ) Au Pair ( ) Curso de Idiomas ( ) Estágio ( ) High School ( ) Study and Work ( ) Work Experience/Work and Travel ( ) Outros. Especifique:________________________________________ 2. Cite o(s) destino(s) escolhido(s) do(s) Intercâmbio(s):

______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3. Duração do programa (no caso de mais de um tipo de programa de Intercâmbio

realizado, responda de acordo com o de maior duração): ( ) 1 a 6 meses ( ) 6 meses a 1 ano ( ) 1 a 2 anos

( ) acima de 2 anos

4. Estendeu a duração inicial do programa? 69

( ) Sim. ( ) Não. Em caso afirmativo, especifique os motivos: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 5. Marque o principal motivo para a realização do intercâmbio: ( ) Adquirir conhecimento em escolas internacionais pela qualidade de ensino ( ) Conhecer a cultura de outros países ( ) Obter experiência de trabalho em outro país ( ) Visitar amigos e parentes ( ) Vivenciar o dia a dia em outro país 6. Algum amigo ou familiar te visitou no destino durante seu programa de intercâmbio?

( ) Sim. ( ) Não. 7. Consideraria imigrar de modo permanente para o destino escolhido?

( ) Sim.

( ) Não.

( ) Talvez.

Explique os principais motivos: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 8. Conhece alguém que a partir do Programa de Intercâmbio imigrou para o destino?

( ) Sim.

( ) Não.

9. Sexo?

( ) Masculino ( ) Feminino 10. Faixa etária: ( ) Abaixo de 18 anos ( ) 18 a 25 anos ( ) 26 a 35 anos 70

( ) Acima de 35 11.

Cidade de Origem: _______________________________

12.

Escolaridade:

( ) Ensino Fundamental – completo ( ) Ensino Fundamental – incompleto ( ) Ensino Superior – incompleto ( ) Ensino Superior – completo

71

ANEXO B MENSAGEM PARA SOLICITAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO NA COLETA DE DADOS

Olá, meu nome é Maíra Eustáquio e venho aqui divulgar meu breve questionário sobre Intercâmbio Cultural àqueles que puderem me ajudar. O questionário é destinado exclusivamente para respondentes que já realizaram intercâmbio. Este instrumento faz parte da pesquisa de conclusão de curso sobre o tema turismo e migração, realizada como parte do trabalho de conclusão de Curso de Turismo na UNIRIO, sob a orientação da professora Dra. Carla Fraga. O preenchimento do questionário tem duração aproximada de 5 minutos. Sua identidade será preservada e o uso dos resultados será exclusivamente para fins educacionais e/ou científicos. Os resultados estarão disponíveis após a defesa e aprovação do trabalho na Escola de Turismologia da UNIRIO. O link do questionário é: Agradeço muito a sua colaboração!

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