Estudos acadêmicos de reconfiguração do skyline original das antigas \"14 casas\" da Rua Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo, Santa Maria/RS

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ANAIS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp

Estudos acadêmicos de reconfiguração do skyline original das antigas Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo, Santa Maria/RS Maurício Martini263 Ana Júlia Scortegana Socal264 Diego Dilly Both265 Filipe Bassan Marinho Maciel266 Leonora Romano 267

Resumo

Este trabalho apresenta quatro estudos acadêmicos para reconfiguração do skyline original de um conjunto residencial de quatorze sobrados em fita, construído na década de 1940 em Santa Maria, RS. No final do século XX, parte desse conjunto foi substituído por edificações de diferentes tipologias, volumetrias e proporcionalidades, subtraindo a ideia de conjunto e destituindo-o da paisagem urbana. Os estudos objetivam a liberação destas edificações descaracterizantes, o retrofit das casas remanescentes, a reconfiguração do conjunto de quatorze casas através da inserção de sete novos volumes e a apropriação do interior do quarteirão dando suporte ao empreendimento. Palavras-chave: Retrofit. Skyline. Patrimônio. Conjunto residencial.

Introdução Este trabalho é resultado dos estudos acadêmicos da disciplina de Ateliê de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo IX, do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), durante o primeiro semestre de 2013. A disciplina tem como temática o Patrimônio Cultural, especificamente as intervenções em edificações e espaços públicos de valor cultural. O objeto escolhido para estudo na disciplina é o conjunto remanescente de casas em fita da Rua Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo (FIGURA 1), no Centro Histórico de Santa Maria (RS). FIGURA 1 O conjunto remanescente de casas em fita da Rua Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo, no Centro Histórico de Santa Maria (RS). Fonte: os autores.

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Autor/Apresentador. Acadêmico de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSM, [email protected] 264 Co-autor. Acadêmica de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSM, [email protected] 265 Co-autor. Acadêmico de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSM, [email protected] 266 Co-autor. Acadêmico de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFSM, [email protected] 267 Orientadora. Arquiteta e Urbanista UFSM, Me. Teoria, História e Crítica PROPAR/ UFRGS, Docente DAU/ UFSM [email protected] 455

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Além de constituírem parte do patrimônio edificado do Centro Histórico do município, esses sobrados possuem importante valor cultural para a cidade, devido à personagem de seu empreendedor: o Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo. Nascido em 30 de janeiro de 1867, em Porto Alegre, Azevedo foi uma figura importante na história de Santa Maria, tendo atuado como médico e político. No ano de 1889, formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Aos 23 anos de idade, voltou ao Rio Grande do Sul, abrindo uma clínica particular em Santa Maria. Em julho de 1898, junto com alguns amigos, fundou e foi o primeiro presidente da Sociedade de Caridade Santa-Mariense, responsável por lançar a pedra fundamental do primeiro e principal hospital da cidade, inaugurado em 07 de dezembro de 1903. Azevedo trabalhou ainda como superintendente do Serviço de Profilaxia da Peste, em 1912, e em 1916 foi eleito Intendente Municipal, onde se dedicou principalmente ao saneamento urbano. Mesmo em idade avançada, nunca abandonou completamente sua clínica e visitava com frequência o hospital, o qual hoje é chamado de Hospital de Caridade Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo. Azevedo faleceu em 22 de maio de 1946, aos 79 anos. O conjunto de casas em fita foi construído na década de 1940, iniciando suas obras um mês após a abertura da via Marquês de Maricá, atual Rua Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo. Na época havia uma grande demanda por habitações para alugar e um crescente número de militares que chegavam à cidade junto com suas famílias. O projetista do conjunto foi o engenheiro Luiz Bollick, responsável por outras edificações relevantes para a cidade, como o Edifício Mauá, um do Branco e Rua Silva Jardim. Originalmente o conjunto residencial era constituído por quatorze sobrados em fita, construído no alinhamento, sem recuos frontais, mas com grandes pátios de fundo. O programa era distribuído em dois pavimentos, com pequenos cômodos, totalizando cerca de noventa metros quadrados cada unidade autônoma. As casas possuíam telhado cerâmico aparente, fachada com ornamentação Art déco, com frisos arrematando as aberturas, detalhes geométricos na platibanda central, paredes em tijolos maciços cozidos, janelas venezianadas em madeira, porta de acesso recuada em relação à fachada, conformando um pequeno pórtico escalonado e vitral colorido para iluminação da escada. No interior, piso em tacos ou assoalho de madeira e ladrilhos hidráulicos e forro de madeira. O conjunto das casas conferiu valor simbólico na paisagem urbana local, pelo menos até o final do século XX, quando parte deste conjunto foi destruído, mutilado ou descaracterizado. A crescente expansão imobiliária deu lugar a edificações de diferentes 456

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tipologias, volumetrias e proporcionalidades, subtraindo a ideia de conjunto e destituindo-o da paisagem urbana (FIGURA 2). Hoje as sete edificações remanescentes do conjunto possuem uso comercial ou de serviço, em conformidade com a predominância do setor terciário no Centro Histórico da cidade. FIGURA 2 Edificações de diferentes tipologias, volumetrias e proporcionalidades que substituíram parte das casas do conjunto, hoje descaracterizado. Fonte: os autores.

Assim, o objetivo primeiro do trabalho acadêmico da disciplina foi justamente a liberação destas edificações descaracterizantes, reconfiguração do conjunto de quatorze casas e a devolução do skyline original. O objetivo segundo do trabalho diz respeito à apropriação do espaço livre e verde de meio do quarteirão como suporte à revitalização do espaço, visando à melhoria ambiental da região e proporcionando novos usos e uma nova identidade ao conjunto.

Metodologia O trabalho compreendeu duas etapas distintas: o registro material do bem cultural imóvel e posterior elaboração das propostas de intervenções arquitetônicas. O registro foi feito através de pesquisa documental e levantamento cadastral. A primeira foi realizada em acervos públicos e privados, buscando compilar documentos relevantes relacionados ao conjunto arquitetônico. O seu projeto original não foi obtido, sendo inexistente nos arquivos da Prefeitura Municipal de Santa Maria. Entretanto, nele foram obtidas plantas baixas executivas de duas reformas realizadas em uma das casas mostrando as mudanças na articulação original dos ambientes da residência. O acervo particular da Casa de Memória Edmundo Cardoso forneceu três fotografias em preto e branco retratando o conjunto em etapa avançada de construção

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(FIGURA 3), na década de 1940, servindo como base para a identificação dos elementos arquitetônicos originais do conjunto. MARCHIORI (2008) ilustrou através de fotografias aéreas diferentes perspectivas do entorno imediato ao conjunto, permitindo uma caracterização da sua ambiência urbana ao longo dos últimos setenta anos. FIGURA 3 Conjunto em etapa avançada de construção, na década de 1940. Fonte: Acervo da Casa de Memória Edmundo Cardoso

Foram consultadas publicações sobre o município, a fim de se obter um embasamento histórico do desenvolvimento do bairro Centro, do logradouro do conjunto das quatorzes casas e as contribuições do Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo, enquanto médico e intendente municipal, para com Santa Maria. Complementando a pesquisa documental, a neta do Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo, Marina de Azevedo Klumb Dallasta forneceu um relato memorial com informações relevantes da época de construção e do processo de ocupação das casas. O levantamento cadastral consistiu na tomada das medidas planimétricas e altimétricas in loco. O grande grupo de vinte e nove acadêmicos da disciplina foi dividido em equipes responsáveis pelas medições para posterior elaboração de uma base de desenhos técnicos para a realização da etapa de projeto. Por este ser um trabalho acadêmico e o levantamento um processo demorado, a metodologia adotada foi realizar as medições in loco de uma casa (módulo) e reproduzir o conjunto através da replicação de quatorze módulos. O grupo obteve acesso a duas edificações. A primeira com uso atual de comércio, e a segunda, residencial. A edificação comercial já não apresentava mais seu pavimento térreo com a compartimentação original, porém o segundo pavimento ainda conservava a distribuição dos ambientes original. Sua fachada, embora descaracterizada, mantinha alguns elementos originais, como ornamentos e esquadrias. Já a edificação residencial conservou com poucas alterações a compartimentação do-se as medidas obtidas in loco e a observação da compartimentação dos ambientes nas plantas históricas, gerou-se uma planta baixa de uma unidade residencial, mais próxima da original, a partir da 458

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qual foi recriado o conjunto das quatorze casas. Processo semelhante foi realizado para construção das fachadas, através da observação dos elementos arquitetônicos remanescentes e comparação com fotografias de época. A etapa do levantamento cadastral gerou uma base digital com as plantas baixas, cortes, fachadas, plantas de piso, plantas de forro e detalhamentos de esquadrias (FIGURA 4), para o projeto de intervenção. FIGURA 4 Exemplos dos desenhos gerados no levantamento para o projeto de intervenção: planta baixa do segundo pavimento de unidade autônoma (1); planta baixa do térreo de unidade autônoma (2); corte longitudinal do conjunto (3); corte transversal de unidade autônoma (4) e fachada principal de unidade autônoma (5). Fonte: os autores

Resultados Os resultados fazem referência a quatro das vinte nove propostas de intervenção no conjunto arquitetônico e de apropriação do espaço livre e verde de meio do quarteirão, elaboradas pelos alunos na disciplina. A primeira proposta mantém o caráter estabelecido no entorno imediato ao aproveitar o objeto de intervenção para um empreendimento comercial, remetendo ao campo das artes plásticas. O conceito cria uma identidade para a Rua Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo, caracterizandoAs sete casas em fita preexistentes são transformadas em estabelecimentos comerciais e de serviço voltados à pintura, patchwork, escultura ou usos afins, com lojas no térreo e oficinas de arte no segundo pavimento. Para a nova edificação, ao lado das sete casas preexistentes, propõe-se uma grande galeria de arte: um espaço destinado à exposição dos produtos das oficinas realizadas no local ou mesmo outros objetos artísticos. A última das sete 459

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casas preexistentes tem configuração em planta diferenciada das demais, pois serve como apoio à galeria, contendo os sanitários para uso do público e uma área para depósito. Dando suporte ao empreendimento, a área livre no interior do quarteirão mantém o caráter onde possam ser realizadas oficinas de pintura ao ar livre, apresentações culturais, entre outros. Para atrair o público e proporcionar segurança, vias internas locais conectam o interior do quarteirão ao sistema viário externo e são criados novos lotes comerciais, voltados à área verde. Em um dele, uma nova edificação em formato de U, abraça a área verde, com salas comerciais de tamanhos variados. Seguindo o conceito do restante do projeto, essas salas comerciais tem uso restrito e relacionado a outros tipos de arte como fotografia, dança, arquitetura, teatro, música, etc. A reconfiguração do skyline local (FIGURA 5) ocorre através de uma fachada marcada por um jogo de volumes que ora avançam, ora retrocedem. Esse jogo de volumes, recuado em relação ao limite do passeio, remete a um "escalonamento" das sete casas, em função da inclinação da rua, fazendo com que elas tenham diferentes alturas. A fim de obter unidade, uma cobertura envolve os volumes, acompanhando a inclinação da rua. Essa avança até o limite do passeio da Rua Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo, bem como sobre parte do passeio da rua projetada para acesso da edificação e para interior de quarteirão. Devido ao desnível de três metros entre um extremo e outro da edificação, e ao comprimento de rampa necessário, propõe-se um volume na fachada posterior da edificação para a rampa de acessibilidade. Além de liberar espaço dentro da galeria, o volume envidraçado auxilia na integração entre interior com exterior e deixa passar iluminação natural (que por ser voltada a sul será uma iluminação indireta, sem a incidência direta dos raios solares). Nas edificações existentes há a substituição da edificação. Além disso, para resgatar a unidade entre as edificações existentes, propõe-se a pintura de todas as fachadas na cor branca. FIGURA 5 Primeira proposta de reconfiguração do skyline original do conjunto das quatorze casas. Fonte: os autores.

A segunda proposta de intervenção tem sua conceituação baseada no potencial local, incorporando e reafirmando o caráter comercial de pequeno porte adquirido pelas casas preexistentes nos últimos anos. O fato de que todas as casas que tiveram seu uso original modificado transformaram-se em pequenas lojas, demonstra certa uniformidade de caráter e uso. Este fator torna-se determinante para a proposta de um empreendimento que objetiva tornar o conjunto uma referência em comércio de rua para a cidade. Cria-se assim uma nova identidade para o local: um espaço diversificado que pode abrigar cafés, bares, bistrôs, padarias, confeitarias, lojas de vestuário, calçados, joias, entre outras. A conformação de pórtico na porta de acesso das casas preexistentes inspirou tanto a forma quanto a funcionalidade das novas edificações reconfiguradoras do skyline do conjunto. Nessas, a releitura do pórtico original demarca o acesso através de um eixo perpendicular à fachada, que dispõe as lojas em fita e as rebate, conformando galerias. As galerias permitem o acesso ao interior do quarteirão, onde foi proposta uma área verde. A relação das novas edificações com as preexistentes traduz-se na disposição em fita e nas alturas proporcionais (FIGURA 6). 460

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FIGURA 6 Segunda proposta de reconfiguração do skyline original do conjunto das quatorze casas. Fonte: os autores.

Quanto à linguagem das novas edificações, foram adotadas linhas retilíneas puras e uma materialidade que refletisse a contemporaneidade e demarcasse o novo e o antigo. Utilizam-se vidro e chapas de alumínio composto, que conformam vitrines e possibilita a visualização dos espaços internos, estratégia adequada para edificações comerciais. Ficando abertas permanentemente e conectando o logradouro e área verde, as galerias tornam o espaço mais permeável e qualificado, ao agregar áreas de permanência e lazer para a comunidade. A terceira proposta de reconfiguração do skyline do conjunto é centrada em um empreendimento âncora: casas de comércio e de serviço relacionadas às necessidades de estudantes universitários e um residencial de apartamentos de um dormitório. Justifica-se a temática por Santa Maria ser um pólo universitário que atrai estudantes de várias partes do país e também do exterior, sendo que a maioria reside no campus da universidade federal ou nos bairros centrais. É constatada uma demanda permanente por habitações de baixo custo em áreas servidas por infraestrutura e com facilidades de comércio, serviços e lazer, nas quais se insere o Centro Histórico de Santa Maria. O projeto foi direcionado pelos seguintes condicionantes do local: outras edificações de valor patrimonial preexistentes na Rua Astrogildo Cezar de Azevedo a serem valorizadas; microclima agradável em função da vegetação arbórea consolidada no interior do quarteirão a ser conservado; orientação solar e eixo visual da Rua Roque Calage (oblíqua à Rua Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo) a ser estendido para acessar o interior da quadra. Para o empreendimento âncora define-se um grande lote de 5.841,88 m², voltado para a Rua Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo e que engloba o conjunto preexistente das casas em fita. Para o uso do interior do quarteirão, criam-se três novos acessos através de uma via prioritária para pedestres. Voltados para essa via interna, seis novos lotes comerciais de pequeno porte e duas áreas verdes são propostos para estimular a circulação e a apropriação do espaço pela população. As casas de comércio e de serviço do empreendimento apropriam-se do conjunto preexistente de casas em fita, voltado para a rua. Para isso, a intervenção arquitetônica libera as edificações descaracterizantes do conjunto, faz o retrofit das sete casas originais remanescentes e insere sete novas edificações reconfiguradoras do skyline original. Os usos sugeridos das casas, que se relacionam com as necessidades estudantis são: livraria, sebo, cyber store, loja de conveniência 24 horas, loja de presentes, café, bistrô, academia, entre outros. O partido adotado para as novas inserções na testada do lote para a Rua Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo mantém a volumetria básica e alinhamento das preexistências em 461

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fita, porém, diferencia o novo e o antigo através da linguagem. Os elementos de referência das casas antigas nas novas inserções são: tipologia em fita; cobertura inclinada aparente, porém com vegetação ao invés de telhas cerâmicas; a marcação na fachada de sete unidades através da modulação da estrutura e também na cobertura segmentada. Um contraponto entre novo e antigo configura-se na relação entre cheios e vazios: as casas novas recebem panos de vidro para funcionar como vitrine. O tratamento da fachada principal (FIGURA 7) busca a unidade do conjunto através da restauração dos elementos descaracterizados das casas originais (vãos, ornamentos, beirais), porém substituindo as esquadrias por vidro. FIGURA 7 Terceira proposta de reconfiguração do skyline original do conjunto das quatorze casas. Fonte: os autores.

O residencial é concebido como três edifícios de volume prismático retangular, localizados nos fundos do conjunto de casas em fita e mimetizados à vegetação existente no interior do lote. Para ressaltar esse efeito mimetizado, revestem-se os volumes com madeira de pínus autoclavado, com acabamento natural que envelhece com o passar do tempo. O caráter urbano e contemporâneo dos edifícios ressalta-se com o núcleo central de circulação com estrutura e fechamentos (telas vazadas) metálicos na cor preta, criando um contraste entre o industrial do aço e o natural da madeira. Para que os prédios não interferissem na reconstituição do skyline da Rua Dr. Astrogildo Cezar de Azevedo, determinou-se a altura máxima das edificações através de um estudo das visuais dos pedestres para o conjunto das quatorze casas: seis pavimentos. A implantação dos três blocos no terreno seguiu o eixo das sete novas inserções na testada do lote. Cada edifício conta com dezesseis apartamentos, totalizando quarenta e oito unidades. Na quarta e última proposta de intervenção apresentada, o conceito de revitalização baseia-se prioritariamente na reconfiguração do skyline original, mas também na leitura do lugar. Busca-se revitalizar e valorizar outros elementos do quarteirão com interesse patrimonial, com a residência modernista localizada ao lado do conjunto das quatorze casas. A residência de traços modernistas possui importância histórica e se configura como marco na paisagem. É ela quem dita uma importante diretriz para o projeto: deixar um espaço livre ao seu lado, de forma a valorizar sua visual e a do conjunto, funcionando também como acesso para a área livre que se estabelece no interior do quarteirão. Nesse é proposto a implementação de espaços para comércio e convivência, privilegiando a presença de ambientes abertos e livres, de forma a criar vivências e apropriações pelos transeuntes e comerciantes em um espaço seguro para os pedestres. Assim, são previstos quatro grandes acessos para pedestres, dois acessos para veículos e acesso a partir das quatorze volumes edificados. Nos volumes antigos, estes acessos se dão através dos estabelecimentos comerciais, já nos novos volumes, através de um corredor de circulação que encaminha para uma passarela ao fundo da edificação. O uso proposto para as edificações (antigas e novas) orienta muito sobre o conceito do projeto: o uso comercial favorece a composição dos quatorze volumes através da implementação de quatorze estabelecimentos. A dinâmica da atividade comercial favorece a 462

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revitalização, uma vez que esta quadra se localiza em região central, já caracterizada pela atividade comercial. Para as preexistências são admitidos o uso de bares de pequeno porte, respeitando as disposições da norma de saídas de emergência. Os novos volumes propostos adjacentes a preexistência tem o uso comercial voltados para empresas com produtos relacionados ao design. No interior do quarteirão é proposto um edifício corporativo com a função de receber escritórios. As salas comerciais serão vendidas/alugadas para empresas voltadas ao design, como Agências de Comunicação, Publicidade, Design e Escritórios de Arquitetura. O volume das novas edificações reconfiguradoras do skyline original (FIGURA 8) é quebrado em duas formas: pórtico e moldura. O pórtico ergue-se da esquerda para a direita (fachada frontal) atingindo a altura de oito metros, mesma dimensão da testada utilizada para cada unidade que compõe os sete novos volumes. Porém, como este é um elemento pórtico e, portanto aberto, vazado, este não configura um volume profundo como poderia se sugerir, pelo contrário, o pórtico delgado e vertical ressalta o sentido de verticalidade dado ao volume, em contraponto a característica mais horizontal que a preexistência possui. Já a moldura se configura como um quadro, um volume projetado da fachada. Presente no segundo pavimento da edificação, a moldura representa mais um elemento de destaque. Pintada em diferentes cores, segue uma relação de simetria (laranja azul verde vermelho verde azul laranja) criando assim uma referência à simetria encontrada na preexistência. FIGURA 8 Quarta proposta de reconfiguração do skyline original do conjunto das quatorze casas. Fonte: os autores.

Na composição destes dois elementos marcantes na volumetria, é estabelecida uma relação de proporção entre eles, fazendo referência a preexistência, uma vez que as janelas frontais da casa possuem dimensões diferentes. Assim, essa relação de proporção é a mesma apresentada na relação do tamanho das janelas das casas existentes.

Conclusão Cada vez mais as cidades estão preenchidas de arquiteturas. A renovação destas é eminente e necessária no passar do tempo. Enquanto as obras estão fixas, estagnadas no tempo em que foram concebidas, a cidade evolui. Surgem novas pessoas, novas demandas, novos hábitos e a atualização torna-se necessária e deve ser feita com cautela, principalmente em casos semelhantes ao objeto de estudo desse trabalho. A revitalização de edificação de valor cultural torna-se complexa, pois o trabalho a ser feito vai muito além de questões técnicas, mas sim trabalha com a questão simbólica, desde a inserção no lugar, dos aspectos compositivos da forma e a materialidade empregada e até mesmo os usos pelas quais passaram. O trabalho apresentado reflete esta atualização da arquitetura na cidade, em que o condicionante principal a ser considerado em projeto é a preexistência consolidada e marcante na paisagem. Embora as propostas tenham usos e caráteres diferenciados, elas tem em comum o resultado harmonioso na articulação entre novo e antigo, traduzido através da 463

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valorização do conjunto e na ausência de uma competição entre as partes. Alcança-se assim o objetivo primeiro do trabalho, que foi reconfigurar o skyline original do conjunto das quatorze casas. Além disso, o trabalho desenvolvido na disciplina trouxe à tona a questão dos quarteirões subutilizados e a viabilização de um maior aproveitamento do solo urbanizado e da infraestrutura existente em áreas de valor imobiliário. Alcança-se o objetivo segundo do trabalho através de propostas de remembramentos e desmembramentos que compatibilizam a preservação de bens de valor cultural com a especulação imobiliária controlada. Esta possibilidade pode ir muito além da esfera patrimonial, uma vez que os vazios em meio de quarteirão não é um fato isolado ao exemplo do quarteirão do conjunto das quatorze casas.

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