Estudos de Conjuntura Política 8, \"Confronto e negociação: o Brasil na corda-bamba\", Blog do CEE Fiocruz, 17/03/2016

June 6, 2017 | Autor: J. Domingues | Categoria: Brasil, Impeachment, Luiz Inácio Lula de Silva, Dilma Rousseff, Sérgio Moro
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Opinião – Confronto e negociação: o Brasil na corda bamba Março 19, 2016 - 12:12 Publicado em: CONJUNTURA 0 comments

José Maurício Domingues * Chegamos quase ao ponto de não retorno. A velocidade com que a crise brasileira se aprofunda é vertiginosa e seu desenlace se faz cada vez mais complicado. Após as grandes manifestações de domingo 13 de março, veio a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ministro da Casa Civil da presidência da república. No mesmo dia em que sua nomeação ocorre, o juiz Sergio Moro tira o sigilo da investigação sobre ele e divulga os áudios de sua conversa, diretamente ao que parece pondo-os

nas mãos das Organizações Globo. Esta os leva ao ar e, como de hábito, dirige por horas sua programação para atacar o governo de Dilma Rousseff, a Lula e ao PT. O caos se acerca. Manifestações contra Dilma, Lula e o PT têm lugar, assim como confrontos esporádicos, no momento mesmo em que no histórico teatro da PUC de São Paulo um ato em defesa da democracia e da legalidade ocorre. O país vai dormir sob grande tensão. O amanhã parece cada vez mais incerto. Seja qual for o grau de legalidade ou ilegalidade dos atos de Sergio Moro, e ele parece ter decidido andar cada vez mais no fio da navalha, a irresponsabilidade de seu comportamento e a forma como se presta aos atos da direita mais golpista assumiram proporções inacreditáveis. Pode-se supor que no começo das investigações – assim como no caso daquela sobre o Banestado, bloqueada em 2003 ao que parece por movimentos de cima – ele teria motivações republicanas. Mas é patente que à medida que a investigações resvalava para embates políticos abertos sua atuação foi adquirindo viés claramente político. O STF não pode deixar de tomar as providências cabíveis no caso, sob o risco de desmoralizar-se, em momento em que vem tendo atuação decisiva e positiva na conjuntura conturbada e difícil por que passa o país. Guardião da Constituição, é o papel que tem que cumprir. Incendiar o país é em si ato condenável e, à luz dos princípios da Constituição, inaceitável, não importa a popularidade que o juiz tenha conquistado, propositalmente ou não, junto à classe média que acabou, por erros evidentes do PT e de seus governos, conquistada pela direita.

Moro parece ter decidido andar cada vez mais no fio da navalha, a irresponsabilidade de seu comportamento e a forma como se presta aos atos da direita mais golpista assumiram proporções inacreditáveis Mas, para além disso, a conjuntura segue e seguirá extremamente intrincada. O fato de Lula aceitar, após muito relutar, por razões absolutamente pertinentes, em assumir a Casa Civil, não diminui em nada a complexidade e os perigos da situação atual. Será muito difícil concertar a economia a esta altura, debatendo-se com Dilma e com uma receita que não se mostra convincente. Isso se agrava por ter o governo hoje o empresariado totalmente contra si, como se vê pelo apoio aberto da Fiesp

ao golpe que, sem qualquer prova de crime de responsabilidade, a direita tenta dar contra o governo Rousseff. Além disso, satisfazer o PMDB do presidente do Senado, Renan Calheiros, e de Michel Temer, vice-presidente da república, significa antes de tudo abafar a operação Lava-Jato, a preocupação fundamental desses políticos que há tempos vampirizam o Brasil, do que obviamente os membros do MPF e o próprio Sergio Moro já se deram conta. Parece coisa muito improvável, a menos que o PMDB conquiste, via impeachment ou eleição indireta pelo Congresso do presidente da República já em 2017, caso a chapa Dilma-Temer seja impugnada no STF, e se estabeleça feroz controle sobre a PF e o MPF, deslocando igualmente Moro da investigação. Para completar, com o conflito político se aguçando, as delações e as informações delas derivadas se acelerarão, permanentemente criando dificuldades para Dilma e Lula ao longo dos próximos meses, isso se o impeachment não for efetivamente votado pelo Congresso brevemente. Caso isso ocorra, é difícil imaginar qual será a reação de vários dos movimentos sociais ligados ao PT, sobretudo de seus setores mais jovens, que se sentirão justamente traídos pela institucionalidade democrática, que será ferida ela mesma profundamente por essas manobras. Imagina-se o que pode acontecer se for definitivamente aprovada – e certamente o será, caso venha o impeachment – a legislação antiterrorismo que a própria Dilma enviou ao parlamento! Assim, é preciso lutar contra o golpe, seja na forma com que ele vier, sem pretender parar as próprias investigações em curso. Não será assim que sairemos da crise, nem será possível detê-las a esta altura, a não ser por um conchavo por cima que será ele mesmo profundamente desmoralizante para a democracia, após ter atingido deforma muito profunda o PT, o principal partido popular brasileira nas últimas décadas. Isso não quer dizer que não se devam buscar pontes para evitar o pior, para evitar que a democracia seja ainda mais profundamente ferida. Não se trata de buscar somente o confronto, nem de negociar de mãos vazias, ou seja, sem apoio popular, mas tampouco de buscar acordos por cima, cujos resultados de acomodação serão rejeitados pela população brasileira. É preciso lutar, mas, ao mesmo tempo, tentar baixar a temperatura em que se frita o Brasil. Nem a esquerda tem força para impor suas políticas e ganhar realmente esta parada, nem terá a direita condições de governar se apostar tudo em um confronto que nos jogará no abismo. Podemos pagar muito caro, por muitos anos, pelos passos que dermos hoje. Juntar os cacos será

muito difícil. Estamos chegando aos últimos momentos em que, andando na corda bamba, o vazio ainda não nos mira nos olhos. - See more at: http://www.cee.fiocruz.br/?q=node%2F122#sthash.Y7ej1mzL.dpuf

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