Estudos de Segurança no Brasil e a aplicação da Escola de Copenhague

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REDEFININDO A DIPLOMACIA NUM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO 5º ENCONTRO NACIONAL DA ABRI (Associação Brasileira de Relações Internacionais)

29 a 31 de Julho, 2015 Belo Horizonte – MG – Brasil

Área Temática: Segurança Internacional, Estudos Estratégicos e Política de Defesa

ESTUDOS DE SEGURANÇA NO BRASIL E A APLICAÇÃO DA ESCOLA DE COPENHAGUE

Caroline Cordeiro Viana e Silva (UFPR / UNINTER) Andréa Benetti Carvalho de Oliveira (UFPR / UNINTER)

ESTUDOS DE SEGURANÇA NO BRASIL E A APLICAÇÃO DA ESCOLA DE COPENHAGUE Caroline Cordeiro Viana e Silva1 UFPR/UNINTER Andréa Benetti Carvalho de Oliveira2 UFPR / UNINTER

RESUMO. A chamada “Escola de Copenhague” tem sido utilizada cada vez mais para se estudar Segurança Internacional e Regional na academia brasileira. Por meio de um mapeamento do estado da arte na produção acadêmica de 2000 a 2014 (revistas indexadas com Qualis A1, A2 e B1 na área de Ciência Política e Relações Internacionais), analisa-se a forma como tem sido utilizada a Escola de Copenhague como embasamento teórico nas pesquisas nacionais. O problema de pesquisa de fundo é de que há no Brasil um “calcanhar metodológico” nas Relações Internacionais, e a hipótese que se trabalha é de que no Brasil se estuda Segurança Internacional com a abordagem proposta pela Escola de forma assistemática, com ausência de verificação dos conceitos centrais propostos pela Escola; tomando como base central três principais variáveis: 1. Identificação do setor que emerge o tema – ambiental, econômico, societal, militar ou político; 2. Identificação do agente securitizador; 3. Identificação do processo de securitização: não politizado, politizado e securitizado. Como hipótese secundária, afirma-se que nos estudos brasileiros prevalece apenas a confirmação do setor da questão, não apresentando o processo de securitização, bem como, o agente securitizador. Os resultados da pesquisa permitem inferir a confirmação das hipóteses propostas. Palavras-chave: Estudos de Segurança. Escola de Copenhague. Metodologia de Pesquisa. Securitização.

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Doutoranda em Ciência Política na UFPR e Mestre em Ciência Política pela UFPR. Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais (NEPRI/UFPR). Coordenadora do Núcleo de Prática em Relações Internacionais do UNINTER e Professora do Centro Universitário Internacional UNINTER nos cursos de Ciência Política e de Relações Internacionais. Endereço eletrônico: [email protected] . 2

Doutoranda em Políticas Públicas na UFPR e Mestre em Ciência Política pela UFPR. Pesquisadora dos Núcleos de Pesquisa Sociologia Política Brasileira (NUSP/UFPR) e de Pesquisa em Relações Internacionais (NEPRI/UFPR), assim como do Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil. Professora do Centro Universitário Internacional UNINTER nos cursos de Ciência Política e de Relações Internacionais. O resumo é parte de pesquisa realizada junto à UFPR, a qual conta com bolsa de pesquisa CAPES. Endereço eletrônico: [email protected] .

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INTRODUÇÃO

No ano de 2005 o cientista político Gláucio Ary Dillon Soares publicou artigo seminal na indagação do status quo e da forma de ensino e aprendizado e utilização da Ciência Política, em geral (considerando, o autor, as Relações Internacionais como área da Ciência Política), no Brasil, intitulado “O Calcanhar Metodológico da Ciência Política no Brasil” (Soares, 2005). O questionamento proposto no artigo era de se haveria no Brasil pesquisas que seguiriam a tendência científica internacional de qualidade, qual seja, de utilização de métodos cada vez mais rigorosos para verificação da realidade empírica fundamentada em teoria. No entanto, a ideia central da pesquisa acabou revelando que haveria, na produção nacional, uma tendência a “hostilidade” em relação aos métodos quantitativos ou estatísticos, associada à não utilização de métodos qualitativos rigorosos. O resultado? A produção nacional, em sua maioria, seria autodenominada qualitativa, porém, na realidade, seria assistemática. Utilizando-se, como base de fundo, o problema trazido por Soares (2005), propôs-se aqui verificar se, no campo dos Estudos de Segurança, esse chamado “calcanhar metodológico” estaria presente na produção brasileira.

DESENHO DA PESQUISA

A fim de testar a hipótese de pesquisa do presente artigo, de que a Escola de Copenhague é utilizada de forma assistemática nos estudos acadêmicos brasileiros publicados em revistas indexadas no Qualis-Capes, optou-se por analisar os artigos de periódicos indexados nos três melhores estratos Qualis: A1, A2 e B13. Primeiramente, verificou-se quais das publicações indexadas eram nacionais. Em um segundo momento, analisou-se dentre as publicações nacionais, quais eram da subárea de Relações Internacionais, dentro da grande Áreas Capes “Ciência Política e Relações Internacionais”. O critério utilizado para desagregar em Ciência Política e em Relações Internacionais foi a proposta editorial da revista, se voltada mais à subárea de Ciência Política ou se voltada mais à subárea de Relações Internacionais. Por Ciência Política entendeu-se os estudos direcionados à compreensão de história política ou de conjuntura política (Keinert e Silva, 2010); por Relações Internacionais entendeu-se estudos direcionados

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Vide anexo.

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à história diplomática, às relações exteriores ou às relações econômicas internacionais (Almeida, 2006, p. 16). Ao todo, foram verificadas a existência de 41 revistas nacionais na área Ciência Política e Relações Internacionais indexadas como A1, A2 e B1. Destas, 5 são A1, 8 são A2 e 28 são B1. Separando as revistas conforme as subáreas de Ciência Política e de Relações Internacionais, a distribuição ficou apresentada conforme Gráfico 1. Gráfico 1 – Revistas de Ciência Política e de Relações Internacionais nacionais nos estratos Qualis-Capes A1, A2 e B1.

Contagem de Qualis 30 25 20 15 10 5 0 Ciência Política

Relações Internacionais A1

Ciência Política

Relações Internacionais A2

Ciência Política

Relações Internacionais B1

Fonte: elaboração própria.

Nota-se, da distribuição das revistas nos estratos Qualis, que a maioria das publicações nacionais se concentram na subárea de Ciência Política: 1 revista A1 em Relações Internacionais, contra 4 revistas A1 em Ciência Política; 7 revistas A2 em Ciência Política contra 1 revista A2 em Relações Internacionais; e, por fim, 27 revistas B1 em Ciência Política contra 1 revista B1 em Relações Internacionais. Esta separação por subáreas foi necessária de ser feita pelo fato de que os chamados Estudos de Segurança, em especial os Estudos de Segurança Internacional propostos pelo o que se chama de Escola de Copenhague, fazem parte do campo de estudo interdisciplinar, porém mais afeto às Relações Internacionais (Walt, 1991). Por Estudos de Segurança entende-se estudos sobre percepções de ameaça a atores internacionais (Buzan e Hansen, 2010). Feita esta separação por subáreas (Ciência Política e Relações Internacionais), passou-se à coleta de dados sobre Estudos de Segurança nas 3 revistas de Relações Internacionais brasileiras com Qualis mais elevado: Revista Brasileira de Política Internacional (A1), Contexto Internacional (A2) e Carta Internacional (B1). A delimitação temporal utilizada

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por 2000 a 2014, por ter sido por volta do início dos anos 2000 que as ideias da Escola de Copenhague começaram a chegar na academia brasileira, após o lançamento do livro Security: a new framework for analysis (Buzan, Waever e Wilde, 1998). Como variáveis de análise para testar se há ou não estudo de forma sistemática, nessas publicações, da denominada Escola de Copenhague, utilizaram-se os critérios essenciais considerados pela Escola, apresentados no Quadro 01. Quadro 01 – Principais variáveis sistematizadas pela Escola de Copenhague Variável Descrição da Variável Setor Ambiental Identificação do setor do qual o tema percebido como ameaça é proveniente Econômico Societal Militar Político Agente Identificação de quem é (ou quem são) o(s) agente(s) securitizador(es) Processo Não Politizado Identificação do em que fase do processo não politização – securitização se encontra o tema Politizado Securitizado Fonte: elaboração própria.

O significado da securitização reside no seu uso e, por isso, não é algo que possa ser definido analiticamente ou filosoficamente de acordo com o que seria melhor. O significado não está no que as pessoas conscientemente acham que o conceito significa, mas na forma como ele implicitamente é usado ou como implicitamente ele não é usado, ou seja, a securitização de um tema é uma construção social. O tema é designado como uma questão de segurança e é aceito por sua audiência como uma questão de segurança por meio de uma construção entre atores. Por ser uma construção social, sem a possibilidade de ser definido analiticamente, identificar a securitização dependerá de uma análise sistêmica de fatos empíricos. Apenas desta forma é possível comprovar a securitização.

ESTUDOS DE SEGURANÇA E ESCOLHA DE COPENHAGUE

A Escola, inicialmente liderada por Barry Buzan, Lene Hansen, Ole Waever e Jaap de Wilde, surgiu da insatisfação com o engessamento da teoria tradicionalista, a teoria realista que mantinha apenas o Estado e suas questões militares como foco das questões de segurança. Essa insatisfação foi estimulada pelas agendas internacionais ambientais e

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econômicas durante as décadas de 1970 e 1980. O argumento chave dos pensadores da escola era que a teoria tradicional era mantida por precaução. Existia a preocupação de que questões não militares se tornassem questões de segurança e gerassem efeitos indesejáveis e contraproducentes nas relações internacionais (Buzan, Waever e Wilde, 1998). Na teoria, qualquer assunto público pode ser alocado no espectro de não politizado, politizado ou securitizado, podendo variar entre eles. Não politizado quando o Estado não é envolvido na questão e não é, em nenhuma forma, uma questão de debate ou decisão pública. Politizado significa que o assunto faz parte da política pública do Estado e requer decisões governamentais, alocação de recursos ou qualquer outra forma de governança. E por securitizada entende-se que a questão é apresentada como uma ameaça existencial, exigindo uma medida de emergência e justificativa para ações fora dos limites normais dos procedimentos políticos (Buzan, Waever e Wilde, 1998). Ou nas palavras dos autores: In theory, any public issue can be locate on the spectrum ranging from nonpoliticized (meaning the state does not deal with it and it is not in any other way made an issue of public debate and decision) through politicized (meaning the issue is part of public policy, requiring government decision and resource allocations or, more rarely, some other form of communal governance) to securitized (meaning the issue is presented an existential threat, requiring emergency measures and justifying actions outside the normal bounds of political procedure). (Buzan, Waever e Wilde, 1998)4

A securitização, no início de seu processo, trata-se de uma argumentação sobre o futuro, sobre alternativas futuras, na maioria das vezes hipotéticas e contrafactuais. Os argumentos sempre envolvem duas predições: o que irá acontecer se não for tomada uma ação securitizante e o que ocorrerá se a ação for tomada. Sendo assim, conclui-se que estudos de securitização são basicamente estudos qualitativos. Com esta análise teórica chega-se ao seguinte quadro. Quadro 2 – Securitização, a proposta da Escola de Copenhague Não Politizado Politizado

Securitizado

- Estado não é envolvido - Não existe debate ou decisão pública - há uma política Pública - há decisões governamentais - há alocação de recursos - É uma ameaça existencial - Exige uma medida de emergência - Justifica ações fora dos procedimentos políticos normais

Fonte: (Silva, 2013) “Em teoria, qualquer questão pública pode ser localizar no espectro que vai de não politizada (ou seja, o Estado não lida com isso e não é, em qualquer outra forma, uma questão de debate público ou decisão pública) para o politizado (significando que o assunto faz parte da política pública, exigindo decisão do governo e alocação de recursos ou, mais raramente, alguma outra forma de governo comunal) para securitizado (significando que o problema é apresentado como uma ameaça existencial, exigindo medidas de emergência e justifica ações fora dos limites normais de procedimento político).” Tradução das autoras. 4

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O desenvolvimento da questão de um estágio para o outro dependerá do sucesso do discurso do agente securitizador e de seu poder político. O sucesso do discurso dependerá de dois pontos principais: um ponto interno, que é linguístico e gramatical, e envolve uso de linguagem apropriada. E um ponto externo, que é relacionado ao contexto social, ou seja, deter uma posição a partir da qual o ato pode ser feito, uma posição de autoridade. O sucesso do discurso é uma combinação entre linguagem e sociedade, combinação de características intrínsecas tanto do discurso como do público ouvinte que autoriza e reconhece o discurso. Para compreender o processo de securitização é importante seguir o formato proposto de securitização. Conforme os autores, trata-se da gramática da securitização e construir uma trama que inclua a ameaça existencial, o ponto de não retorno e uma possibilidade de saída.

ESCOLA DE COPENHAGUE NAS REVISTAS INDEXADAS BRASILEIRAS

A coleta de dados foi realizada nas 3 revistas de Relações Internacionais brasileiras com Qualis mais elevado: Revista Brasileira de Política Internacional (A1), Contexto Internacional (A2) e Carta Internacional (B1). Para coleta de dados foram usadas duas palavras-chave: Securitização e Escola de Copenhague. O resultado dessa busca foi: Revista Brasileira de Política Internacional: 1 artigo; Contexto Internacional: 8 artigos; Carta Internacional: 1 artigo, totalizando 9 artigos. Tendo em vista o objetivo do presente artigo, ou seja, verificar a existência do suposto calcanhar metodológico na aplicação da teoria de securitização, separamos os trabalhos acadêmicos em dois grandes grupos, 1. Artigos de Aplicação; 2. Artigos teóricos. O grupo 1 são os artigos que aplicaram a teoria, os quais nos ajudaram a atingir o objetivo do trabalho e o grupo 2 são os artigos que apenas explicam a teoria da Escola, não apresentando a aplicação teórica, e dessa forma, não contribuindo para o presente trabalho. Outro ponto importante a ser salientado é que em momento algum pretende-se avaliar a qualidade da aplicação teórica, ou julgar se correta ou incorreta sua aplicação, sendo o objetivo apenas verificar se a aplicação teórica contém as variáveis pré-definidas e identificadas.

Revista Brasileira de Política Internacional

A Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI) publicou, entre os anos de 2000 e 2014, apenas um artigo que tinha como palavra-chave securitização.

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Quadro 3 – artigo sobre Escola de Copenhague na RBPI Artigo Publicação Autor Explorando a interação entre 2014 Vânia Carvalho Pinto Enquadramento e a teoria de Securitização: o caso dos protestos da Primavera Árabe em Bahrain Fonte: elaboração própria

Sendo esse um artigo de aplicação teórica, levando em consideração as variáveis propostas, chega-se ao quadro descrito abaixo e explicado na sequência. Quadro 4 – aplicação teórica da Escola de Copenhague na RBPI Artigo Explorando a interação ...

Setor Societal

Agente securitizador Governo Mídia

Processo de securitização Securitizado

Fonte: elaboração própria

O artigo buscou a integração teórica entre a teoria da securitização e a abordagem de enquadramento. Da teoria de securitização optou por utilizar a variável de aceitação do público alvo para a securitização do tema. O texto argumenta que a securitização parte do governo mas também da sociedade civil, quando a mídia discursa a favor. Comprova a securitização com a aplicação das forças armadas contra os manifestantes em Bahrain. A abordagem de enquadramento fornece as variáveis necessárias para entender o processo, pensando: ação do agente securitizador, ameaça existencial e aceitação do público alvo, quando analisada dentro do setor societal.

Contexto Internacional

A revista Contexto Internacional publicou, entre os anos de 2000 e 2014 o total de 8 artigos que tinham como palavras-chave ou securitização ou Escola de Copenhague. Os artigos são os seguintes. Quadro 5 – artigos sobre a Escola de Copenhague na Contexto Internacional Artigo Publicação Autor As Implicações do 11 de Setembro para as 2002 Barry Buzan Relações Internacionais (Marisa Gandelman – trad) A contribuição da Escola de Copenhague 2003 Grace Tanno aos Estudos de Segurança Internacional

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O Papel de Síntese da Escola de Copenhague nos Estudos de Segurança Internacional Securitização das mudanças climáticas: o papel da União Europeia A Hidropolítica Platina no Contexto do Complexo Regional de Segurança da América do Sul: Entre o Conflito e a Cooperação (1960-1979) Terrorismo e política Internacional: Uma aproximação à América do Sul A Sociologia Política Internacional Distante da Grande Síntese: Como articular Relações entre as disciplinas de Relações Internacionais, Sociologia e Teoria Política O Paradoxo da Macrosecuritização: Quando a Guerra ao Terror não securitiza Outras "Guerras" na América do Sul Fonte: elaboração própria

2009

Mariana G. Duque

2010 2012

Luciana M. Barbosa Matilde de Souza Fábio A. Queiroz

2012

Marcial A. G. Suarez

2013

Didier Bigo

2014

Rafael D. Villa

Primeiramente é importante deixar claro que entre os artigos selecionados está a tradução do artigo de Barry Buzan. Por ser um dos principais autores da Escola de Copenhague, e por levar em consideração o objetivo do presente trabalho, seu artigo não foi analisado. Destes 7 artigos restantes, 3 foram considerados como artigos teóricos, sendo eles: Tanno, Duque e Bigo, os quais explicam as três variáveis propostas por esse trabalho, sendo que o trabalho do Bigo apresenta uma crítica aos estudos da Escola. Conforme apontado por um autor, é preciso “ir até a varanda”: conhecer os atores nas ruas, questioná-los e respeitar sua lógica e raciocínio quando de volta à poltrona e ao computador (ECKL, 2008).O pesquisador de poltrona de Relações Internacionais, olhando para o mundo a partir de sua tela como uma criatura divina capaz de ver simultaneamente todas as facetas do mundo, precisa desaparecer. Seu ego e vontade de subsumir o mundo em uma metanarrativa merecem apenas ironia. A reflexividade deve envolver um esforço em explicar a lógica dos autores e os aspectos discursivos e materiais de práticas específicas. (Bigo, 2013)

O autor, Bigo, publicou em revistas internacionais diversas críticas a Escola de Copenhague e a disciplina de Relações Internacionais de forma geral. O autor traz uma contribuição ao presente trabalho por criticar, principalmente, a metodologia de análise dos acadêmicos de Relações Internacionais, também apontando para o que aqui denominamos, calcanhar metodológico Por fim, 4 artigos foram analisados por serem de aplicação teórica. Sendo eles os de Barbosa e Souza, Queiroz, Suarez e Villa. Levando em consideração as variáveis determinadas, chega-se ao seguinte quadro.

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Quadro 6 – aplicação teórica da Escola de Copenhague na Contexto Internacional Artigo Setor Agente Processo de securitizador securitização Securitização das mudanças ... Ambiental União Europeia Securitizado A Hidropolítica Platina ... Ambiental Estado Securitizado Terrorismo e política ... Societal 0 Securitizado O Paradoxo da ... Societal EUA Securitizado Fonte: elaboração própria

Todos os artigos indicam qual é o setor de origem da ameaça e todos identificam o estágio da ameaça dentro do processo de securitização. Porém, a indicação do estágio de securitização não indica a comprovação desse estágio. O trabalho de Barbosa e Souza (2010), comprova a securitização dentro da União Europeia, mostrando dados de aceitação da audiência (eurobarômetro), porém colocam como objetivo pensar em escala mundial, pensar a EU como agente securitizador do tema dentro da ONU. Apesar de colocar o tema como securitizado as autoras afirmam que é necessário repensar o conceito de segurança quando o tema é meio ambiente, principalmente pela necessidade em pensar em uma sociedade global e com isso, repensar o conceito de atos de segurança. Desta forma, conclui-se que as autoras não apresentam dados empíricos que comprovem a securitização, falam da necessidade de uma ação extrema, mas não indicam qual foi. Porém, apresentam uma crítica à teoria que corrobora com o objetivo dessa presente pesquisa, Ao tentar compreender as diferentes concepções de segurança que informam os discursos dos atores securitizadores do clima, este trabalho se deparou com uma multiplicidade de práticas, que colocaram em evidência as possibilidades e os limites referentes à teoria de securitização e ao próprio objeto, bem como os dilemas que os percorrem. (Barbosa e Souza, 2010)

O trabalho de Queiroz (2012) além de abordar a securitização também lança mão da teoria do Barry Buzan de complexos regionais de segurança. O autor mostra a possibilidade de aplicação teórica com um estudo já feito na área, mas quando parte para o seu objeto referência não aplica a teoria. Desta forma, não apresenta quem é o agente securitizador e não apresenta qual é o ponto de ação extremada para a securitização. Suarez (2012) explica a teoria, mostra como pode ser aplicada ao tema terrorismo, utiliza o próprio Buzan para comprovar a securitização do terrorismo, porém, quando chega ao seu objeto - terrorismo na américa do sul - não aplica a teoria, não comprovando a securitização. Mas, assim como as autoras Barbosa e Souza (2010), Suarez apresenta uma crítica relevante: Por outro lado, o modelo de análise da Escola de Copenhague possui deficiências, entre as quais se podem destacar:

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a) Como mensurar o processo de securitização, se este é basicamente um processo discursivo e político? b) De que maneira seria possível delimitar os momentos de transição entre um estágio e outro, isto é, de não securitizado para politizado e securitizado? c) Em que medida essa modalidade de análise torna possível tangenciar questões de ordem sistêmica? (Suarez, 2012)ua

E por fim, Villa (2014), que dentre os 4 autores é o único que comprova as 3 variáveis aqui analisadas e comprova a politização do tema. O autor utiliza em seu artigo o conceito de macrosecuritização, o ponto chave que diferencia a macrossecuritização de um processo normal de securitização é dado pela escala, ou seja, é um conceito sistêmico. E ao pensar em como a macrosecuritização do narcotráfico e do terrorismo atinge a américa latina, analisa o processo de securitização subsequente, e chega a conclusão que mesmo com a macrosecuritização dos temas, esses não são securitizados na américa latina. Sendo assim, dos 4 artigos da revista Contexto Internacional, apenas 1 comprova a securitização. A análise dos artigos publicados nas três revistas trazem importantes indicadores para a presente pesquisa. Primeiramente foi possível comprovar a hipótese proposta, ou seja, no Brasil se estuda Segurança Internacional com a abordagem proposta pela Escola de forma assistemática, com ausência de verificação dos conceitos centrais propostos pela Escola, dos 6 artigos de aplicação, 4 não comprovam a securitização. Porém, pensando na hipótese secundária, se faz necessário refutar a hipótese de que nos estudos brasileiros prevalece apenas a confirmação do setor da questão, não apresentando o processo de securitização, bem como, o agente securitizador. Todos os artigos apresentam o a etapa do processo, bem como o agente, a grande dificuldade é comprovar a etapa do processo de securitização. Além disso, a pesquisa mostrou outro ponto relevante, dos 4 artigos que não conseguiram comprovar a securitização, 3 deles apresentaram uma crítica ao modelo proposto pela Escola de Copenhague, dando indicativos de que é o modelo da Escola que apresenta debilidades metodológicas. Como também afirma o artigo teórico do autor Bigo (2013). Por fim, outra constatação relevante é de o único artigo que conseguiu confirmar a securitização, da autora Vânia Carvalho Pinto (2014), o comprovou mostrando que a ação extrema que caracteriza a securitização foi a intervenção militar. Dando indícios de que a forma de comprovação da securitização está vinculada ao tradicional setor militar.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo objetivou verificar se, no campo dos Estudos de Segurança, o chamado “calcanhar metodológico” estaria presente na produção brasileira, ao aplicar a teoria de securitização proposta pela Escola de Copenhague. Atingiu seus objetivos confirmando a hipótese de que no Brasil se estuda Segurança Internacional com a abordagem proposta pela Escola de forma assistemática, com ausência de verificação dos conceitos centrais propostos pela Escola. E conclui-se também de que a hipótese secundária do presente artigo pode ser, portanto, confirmada, ou seja, não há nos estudos brasileiros identificação de como se dá o processo de securitização, tampouco agente securitizador, apenas prevalecendo nos estudos a confirmação do setor em questão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, P. R. DE. O estudo das relações internacionais do Brasil. 2. ed. Brasília: LGE Editora, 2006. BARBOSA, L. M.; SOUZA, M. DE. Securitização das mudanças climáticas: o papel da União Europeia. Contexto Internacional, v. 32, n. 1, p. 121–153, 2010. BIGO, D. A Sociologia Política Internacional distante da grande síntese: como articular relações entre as disciplinas de Relações Internacionais, Sociologia e Teoria Política. Contexto Internacional, v. 35, n. 1, p. 173–195, 2013. BUZAN, B.; HANSEN, L. Beyond The Evolution of International Security Studies? Security Dialogue, v. 41, n. 6, p. 659–667, 2010. BUZAN, B.; WAEVER, O.; WILDE, J. DE. Security: a new framework for analysis. Boulder: Lynne Reinner, 1998. KEINERT, F. C.; SILVA, D. P. A gênese da Ciência Política Brasileira. Tempo Social, v. 1, n. 22, p. 79–98, 2010. QUEIROZ, F. A. DE. A hidropolítica platina no contexto do complexo regional de segurança da América do Sul: entre o conflito e a cooperação (1960-1979). Contexto Internacional, v. 34, n. 2, p. 573–616, dez. 2012. SILVA, C. C. V. E. Segurança Internacional e Novas Ameaças: a securitização do narcotráfico na fronteira brasileira. [s.l.] Universidade Federal do Paraná, 2013. SOARES, G. A. D. O calcanhar metodológico da Ciência Política no Brasil. Sociologia, Problemas e Práticas, n. 48, p. 27–52, 2005. SUAREZ, M. A. G. Terrorismo e política internacional: uma aproximação à América do Sul. Contexto Internacional, v. 34, n. 2, p. 363–396, dez. 2012. VILLA, R. D. O Paradoxo da Macrossecuritização: quando a Guerra ao Terror não securitiza outras “Guerras” na América do Sul. Contexto Internacional2, v. 36, n. 2, 2014. WALT, S. M. The Renaissance of Security Studies. International Studies Quaterly, v. 35, p. 211–239, 1991.

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Anexo – Quadro de revistas brasileiras indexadas no Qualis em Ciência Política e Relações Internacionais Qualis A1 A1 A1 A1 A1 A2 A2 A2 A2 A2 A2 A2 A2 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1 B1

Revista Brazilian Review of Social Sciences Dados Opinião Pública Revista Brasileira de Ciências Sociais Revista Brasileira de Política Internacional Brazilian Administration Review Cadernos de Saúde Pública Contexto Internacional Estudos Avançados Lua Nova Revista de Administração Pública Revista de Economia Política Revista de Sociologia e Política Ambiente e Sociedade Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais Caderno CRH Cadernos Pagu Carta Internacional Ciência e Saúde Coletiva Estudos Históricos Gestão e Produção História Interface Nova Economia Novos Estudos CEBRAP Perspectivas: Revista de Ciências Sociais Religião e Sociedade Revista Brasileira de Ciência Política Revista Brasileira de Ciências Criminais Revista Brasileira de Estudos da População Revista Brasileira de História Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política Revista de Estudos Feministas São Paulo em Perspectiva Saúde e Sociedade Sociedade e Estado Sociologias Tempo Tempo Social Teoria & Sociedade Varia História

Subárea Predominante Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Relações Internacionais Ciência Política Ciência Política Relações Internacionais Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Relações Internacionais Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política Ciência Política

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