Estudos sobre as restrições de concordância de Objecto em Shimakonde

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ESTUDOS SOBRE RESTRIÇÕES NA MARCAÇÃO DE OBJETO EM SHIMAKONDE

ESTUDOS SOBRE AS RESTRIÇÕES DE CONCORDÂNCIA DE OBJETO EM SHIMAKONDE1 Lucas Dos Anjos Miguel Bonga Faculdade de Letras e Ciências Sociais-UEM [email protected] Resumo A presente comunicação tem por objectivo apresentar uma descrição geral das estratégias de marcação do objeto na língua Shimakonde (P23). Neste estudo, veremos que nessa língua os morfemas de marca de objeto são restritos às classes um e dois. Ou seja, esta marcação reflete o fato de o objeto carregar ou não o traço de animacidade. Por esta razão, a hipótese que buscamos desenvolver neste trabalho é a de que os prefixos de concordância das outras classes não desencadeiam a concordância de objeto na morfologia do verbo, diferentemente do que ocorre em outras línguas bantu, como por exemplo, na língua Changana (S53). Em casos de verbos de três lugares, observa-se que a concordância dar-se-á com o objeto que for mais alto na escala de animacidade. A consequencia desta análise é que, quando tivermos dois objetos introduzidos por uma extensão aplicativa, a concordância obrigatoriamente deve ocorrer com o objeto mais alto na escala de animacidade, ou seja, com o objeto beneficiário. Palavras-Chave: duplo objeto; concordância; Shimakonde

1 Agradeço ao professor Doutor Fábio Bonfim Duarte pelo apoio e orientação, durante o desenvolvimento desta pesquisa e a Capes-Brasil pela bolsa de estudo a mim fornecida, durante a minha estada na UFMG-Belo Horizonte, no primeiro semestre de 2014, período durante o qual pude desenvolver parte desta pesquisa.

Lucas Dos Anjos Miguel Bonga

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O presente trabalho faz parte do projeto “Descrição e Documentação de Línguas Moambicanas”, o qual é coordenado pelo Professor Doutor Fábio Bonfim Duarte (UFMG-Brasil) e pelo Professor Doutor Armindo Ngunga (UEM-Moçambique). Esse projeto é financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES/Brasil), por meio do edital 33/2012 (Programa Internacional de Apoio à Pesquisa e ao Ensino por meio da Mobilidade Docente e Discente Internacional # Pró-Mobilidade internacional).

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1. INTRODUÇÃO O presente artigo tem por objetivo realizar uma descrição sobre as restrições que regulam a concordância de objeto na língua Shimakonde. A presente pesquisa se insere na interface morfologia/sintaxe, por um lado, e na interface sintaxe/semântica, por outro. Tendo em conta a formulação acima, a hipótese que assumiremos neste trabalho é a de que as marcas de objeto, doravante (MO), têm sua ocorrência no verbo condicionada ao fato de o objeto carregar os traços [+humano, +animado] ou o traço [-humano, +animado]. Outra hipótese a ser testada é que a concordância de objeto, embora esteja relacionada aos traços semânticos de animacidade, pode ainda estar associada com a propriedade de definitude/especificidade do objeto em contextos em que o objeto pertence às classes 5 e 7. Os três contextos mencionados acima estão ilustrados abaixo: OBJETO [+HUMANO, +ANIMADO] (1)nangu ni-ndi-n-kanyol-a eu MS- PASS-MO-bater-VF ‘Eu bati na criança.’

[-HUMANO, +ANIMADO] nangu ni-ndi-n-jel-a eu MS-PASS-MO-meter-VF 'Eu meti o rato na latrina'

mwana criança

OBJETO

(2)

(3)

li-ngundu CL5-rato

mu-shoo CL18-latrina

OBJETO [-HUMANO, +ANIMADO, +DEFINIDO] n-kulumbata a-ndi-m-on-a         shingula CL1-caçador MS-PASS-MO-ver-VF CL7-coelho 'O caçador viu o coelho.'

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2. CONSIDERAÇÕES SOBRE POVO E LÍNGUA Shimakonde é uma língua Bantu com a codificação P23, na classificação de Guthrie (1967-71). O censo de 1997 indica que, em Moçambique, existia cerca de 233.358 falantes desta língua. Já com base nos dados de 2001, estima-se que a população makonde, residente na Tazânia é estimada em cerca de 1.140.000 pessoas, totalizando 1.373.358 indivíduos nos dois países. Em Moçambique, Shimakonde é predominantemente falado nos distritos de Macomia, Meluco, Mocimboa da Praia, Mueda, Muidumbe, Nangade e Palma. As variantes geográficas mais referidas pelos falantes de Shimakonde são: 1. Shimakonde, a que cobre a parte planáltica dos distritos de Mocimboa da Praia, Mueda, Muidumbe e Nangade; 2. Shimwambe, a variante de Shimakonde falada no Planalto de Macomia e parte do distrito de Meluco; 3. Shimwalu, a variante predominantemente falada ao longo da bacia do rio Mwalu, abrangendo a região nordeste do distrito de Muidumbe, norte do distrito de Macomia e extremo Sul do distrito de Mocimboa da Praia; 4. Shiyanga, falada predominantemente na região central do distrito de Mocimboa da Praia. 5. Shindonde, falada a Nordeste do Planalto de Mueda, bem como a leste do distrito de Nangade, incluindo o extremo noroeste do distrito de Palma (Mpiuka & Liphola 2012).

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3. CONCORDÂNCIA COM OBJETOS [+HUMANO] Evidência de que objetos que carregam os traços [+humano, +animado] devem obrigatoriamente engatilhar o prefixo da classe 1 {-mu- ~ -m- ~ -n-} e o prefixo da classe 2 {-va-} advém do fato de que estes prefixos nunca podem deixar de ocorrer na morfologia

verbal.

Adicionalmente,

em

tais

contextos,

os

objetos

devem

necessariamente pertencer às Classes 1 e 2, as quais se constituem maioritariamente de nomes que apresentam as propriedades semânticas [+humano, +animado]. Note que esta hipótese está em consonância com a proposta de Liphola (2001:23), segundo a qual “verbs in Shimaconde only take OPs (object prefix) of classes 1 and 2, which have a feature [+human]”. Esta regra gramatical é tão forte que, se o prefixo de objeto não figurar na morfologia verbal, a frase torna-se agramatical, conforme se vê pelos dados em (b) a seguir: (4a)

nangu ni-ndi-n-kody-a MS-PASS.REC-MO-encontrar-VF CL1-eu 'Eu encontrei alguém dentro da casa'

*(4b) nangu ni-ndi-kody-a CL1-eu MS-PASS.REC-encontrar-VF 'Eu encontrei alguém dentro da casa' (5a)

nangu ni-ndi-va-kody-a CL1-eu MS-PASS-MO-encontrar-VF 'eu encontrei alguém dentro da casa'

*(5b) nangu ni-ndi-kody-a CL1-eu MS-PASS-encontrar-VF 'eu encontrei alguém dentro da casa'

munu CL1-alguém

munu CL1-alguém

n'ng'ande. dentro de casa

n'ng'ande. dentro de casa

vanu n'ng'ande CL2-pessoas dentro de casa vanu n'ng'ande CL2-pessoas dentro de casa

Outra evidência a favor da hipótese de que, de fato, a concordância de objeto está associada aos nomes que carregam as propriedades de [+humano] surge do fato de

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que os objetos, quando são de natureza pronominal [+EGO, +TU], singular ou plural, devem vir referidos na morfologia verbal por meio de prefixos de objeto, conforme indica o paradigma mostrado na tabela abaixo: Pessoa Gramatical 1ª singular 2ª singular 3ª singular 1ª plural 2ª plural 3ª plural

Marca de Objeto -ngu-ku-mu- (-m-, -n-) -tu-mu- (-m-, -n-) -va-

Exemplo u-ndi-ngu-tukut-a ‘você me fugiu’ ni-nda-ku-kanyol-a ‘vou te bater’ ni-nda-n-nyakat-a ‘hei-de carrega-lo’ a-ndi-tu-shum-a ‘ele/a venceu-nos’ tu-nda-n-kody-a ‘iremos alcançar-vos’ mu-nda-va-bya-a ‘vocês vão matá-los’

Tabela 1: Paradigma de marcas do objeto no verbo (adaptado de Mpiuka & Liphola 2013: 9)

Evidência de que, realmente, os prefixos de objeto podem e devem referir-se a objetos [+humano] surge de contextos, em que o objeto vem representado pelos pronomes fortes nangu “eu”; wako “tu”; nae ‘ele’; wetu ‘nós’; mwenu ‘vós’; vanao ‘eles”. Note que, em tais contextos, os prefixos de objeto podem co-ocorrer com esses pronomes, conforme abaixo: (6)

wako u-ndi-ngu-tukut-a tu MS-PASS-MO-fugir-VF ‘Tu me fugiste.’

(7)

wako u-ndi-ngu-tukut-a tu MS-PASS-MO-fugir-VF ‘Tu me fugiste.’

nangu eu

Nota-se que não pode haver uma situação em que o prefixo de objeto {ngu-} falte e apenas o pronome de primeira pessoa permaneça na frase, conforme se vê pela agramaticalidade da frase abaixo: *(8)

wako u-ndi-∅ ∅-tukut-a MS-PASS.REC-fugir-VF tu ‘Tu me fugiste.’

Lucas Dos Anjos Miguel Bonga

nangu eu

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Em suma, a agramaticalidade dos exemplos (4b), (5b) e (8) acima reforça uma vez mais a nossa hipótese, segundo a qual a marca de objeto é estritamente obrigatória, quando este sintagma retoma um referente que carrega os traços [+humano, +animado]. 4. CONCORDÂNCIA COM OBJETOS [-HUMANO, +ANIMADO] Além dos contextos arrolados acima, em que a ocorrência dos prefixos de concordância de objeto estão diretamente relacionados ao traço semântico [+humano], por codificarem nomes das classes 1 e 2, encontramos exemplos em que esses prefixos podem também referenciar objetos que não sejam [+humano]. Este fato demonstra que precisamos refinar um pouco mais a análise proposta acima, no sentido de alargarmos o escopo de alcance dos prefixos de concordância de objeto. Neste sentido, adotaremos uma análise um pouco diferente da que foi inicialmente desenvolvida por Liphola (2001:23), segundo a qual os prefixos de objeto das classes 1 e 2 carregam o traço [+HUMANO]. Todavia, uma maneira de ajustar esta proposta aos dados empíricos colhidos até o momento será sustentar a hipótese de que a concordância de objeto pode sim fazer referência a objetos que pertençam a outras classes nominais. No entanto, isto é possível, desde que o objeto carregue o traço [+animado], fato que sinaliza que não só objetos [+humano], mas também objetos [+animado] podem engatilhar a concordância de objeto no complexo verbal da língua Shimakonde. Tal fato explica a razão por que itens lexicais das classes 5, 7 e 9 sistematicamente exigem a ocorrência do prefixo de objeto da classe 1 {-mu- ~ -m- ~ -n-}, conforme os dados de (9) a (11) abaixo, enquanto os itens nominais da classe 10 acionam o prefixo da classe 2 {-va-}, conforme o dado em (12). Comparem-se os exemplos a seguir:

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(9)

CLASSE 5 Nangu ni-ndi-n-nivat-a CL1-eu MS-PASS-MO-pisar-VF 'Eu pisei a borboleta' CLASSE

(10)

(12)

7

nangu ni-ndi-n-kang'an-a shiboko CL1-eu MS-PASS-MO-catanar-VF CL7-hipopótamo 'Eu catanei o hipopótamo com uma catana' CLASSE

(11)

lipuluputu. CL5-borboleta

na com

upanga. CL14-catana

9

nangu ni-ndi-n-gang'ol-a CL1-eu MS-PASS-MO-empurrar-VF 'eu empurrei o cabrito' CLASSE 10 Nangu ni-ndi-va-gang'ol-a MS-PASS-MO-empurrar-VF CL1-eu 'eu empurrei os cabritos'

mbudi CL9-cabrito

vambudi CL10-cabritos

Em suma, o que os dados acima demonstram é que os prefixos das classes 1 e 2 se especializaram a codificar argumentos na posição de objeto que carregam essencialmente as propriedades semânticas de [+humano, +animado]. Todavia, a ocorrência do prefixo nos exemplos acima não é totalmente obrigatória, como ocorre com a concordância, quando o objeto pertence às classes 1 e 2. Nestes últimos contextos, o prefixo não pode faltar, conforme o exemplo (4b), repetido abaixo como (13b): (13a) nangu ni-ndi-n-kody-a CL1-eu MS-PASS.REC-MO-encontrar-VF 'Eu encontrei alguém dentro da casa' *(13b) nangu ni-ndi-kody-a CL1-eu MS-PASS.REC-encontrar-VF 'Eu encontrei alguém dentro da casa'

munu CL1-alguém

munu CL1-alguém

n'ng'ande. dentro de casa

n'ng'ande. dentro de casa

No entanto, há sim contextos em que o prefixo de concordância pode faltar, particularmente quando o objeto pertence à classe 5, 7, 9 e 10. Tais situações sintáticas serão examinadas em detalhe na próxima seção. Lucas Dos Anjos Miguel Bonga

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5. CONTEXTOS EM QUE O PREFIXO DE CONCORDÂNCIA PODE FALTAR Até o momento, postulamos que o filtro que regula a ocorrência do prefixo de concordância está diretamente condicionado à natureza semântica do objeto, mais precisamente se este é [+ANIMADO] ou [+HUMANO]. Contudo, observamos que há contextos em que, embora o objeto carregue os traços semânticos referidos acima, o prefixo de objeto pode ou não vir realizado no complexo morfológico do verbo. Para tal, comparem-se os contextos a seguir: CLASSE 5 (14a) Nangu ni-ndi-n-nivat-a CL1-eu MS-PASS-MO-pisar-VF 'Eu pisei a borboleta'

lipuluputu. CL5-borboleta

(14b) Nangu ni-ndi-livat-a CL1-eu MS-PASS-pisar-VF 'Eu pisei uma borboleta'

CL5-borboleta

lipuluputu.

CLASSE 7 (15a) nangu ni-ndi-n-kang'an-a shiboko CL1-eu MS-PASS-MO-catanar-VF CL7-hipopótamo 'Eu catanei o hipopótamo com uma catana'

(15b) nangu ni-ndi-kang'an-a shiboko CL1-eu MS-PASS-catanar-VF CL7-hipopótamo 'Eu catanei um hipopótamo com uma catana' CLASSE 9 (16a) nangu ni-ndi-n-gang'ol-a CL1-eu MS-PASS-MO-empurrar-VF 'eu empurrei o cabrito'

mbudi CL9-cabrito

(16b) nangu ni-ndi-gang'ol-a CL1-eu MS-PASS-empurrar-VF 'eu empurrei um cabrito'

CL9-cabrito

na com

upanga. CL14-catana

na com

CL14-catana

upanga.

imbudi

O leitor atento pode indagar-se como é possível que a concordância de objeto não tenha sido efetuada nos exemplos acima, uma vez que estamos a assumir que os

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prefixo da classe 1 {-m- ~ -m- ~-n-~} e da classe 2 {-va-} são necessários quando o objeto é [+animado]. A solução que encontramos para resolver este problema é hipotetizar que a alternância na ocorrência do prefixo de objeto nos dados acima está diretamente relacionada ao fato de que a concordância aqui não marca exatamente só animacidade, mas também informações pragmáticas, tais como definitude, ênfase ou especididade. Tal hipótese se sustenta no fato de que nos exemplos em (a) acima o objeto é visto como sendo já dado no discurso anterior, enquanto que, nos exemplos em (b), o objeto é indefinido, pois não constitui exatamente uma informação veiculada em algum contexto pragmático anterior. Tal assunção, por sua vez, está diretamente em consonância com a hipótese de Duarte (2014), segundo a qual o aparecimento do prefixo de concordância de objeto na língua Changana “implica que o referente do objeto precisa necessariamente já ter sido mencionado anteriormente no contexto discursivo. Desse modo, este sintagma deve constituir o tópico discursivo para ser referido no complexo verbal por meio do afixo de concordância de objeto.” 6. RESTRIÇÕES NA MARCAÇÃO DE OBJETO Como podemos ver até aqui, apenas objetos carregando os traços semânticos [+/-humano, +animado, +definido/enfâtico] podem engatilhar, na morfologia do verbo, a marca de objeto. Assim, podemos seguramente afirmar que, de uma forma geral, objetos que contenham os traços semânticos [-humano, -animado] nunca serão codificados por meio dos prefixos de objeto na estrutura morfológica do verbo. Comparem-se os seguintes exemplos:

CLASSE 3

(17a) Nangu CL1-eu

ni-ndi-kody-a MS-PASS-encontrar-VF

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nandi CL3-árvore

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mulugwani. no quintal

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'Eu encontrei uma árvore no quintal' (17b) *Nangu ni-ndi-n-kody-a CL1-eu MS-PASS-encontrar-VF 'Eu encontrei uma árvore no quintal'

nandi CL3-árvore

mulugwani. no quintal

(18a) Nangu ni-ndi-kody-a CL1-eu MS-PASS-encontrar-VF 'eu encontrei umas ávores no quintal'

milandi CL3-árvores

mulugwani. no quintal

(18b) *Nangu ni-ndi-va-kody-a MS-PASS-encontrar-VF CL1-eu 'eu encontrei umas árvores no quintal'

milandi CL3-árvore

mulugwani. no quintal

CLASSE 4

CLASSE 9

(19a) Nangu ni-ndi-papul-a MS-PASS-rasgar-VF CL1-eu 'Eu rasguei uma carta'

ibalugwa CL9-carta

(19b) *Nangu ni-ndi-m-papul-a CL1-eu MS-PASS-rasgar-VF 'Eu rasguei uma carta'

ibalugwa CL9-carta

CLASSE 10

(20a) Nangu ni-ndi-papul-a CL1-eu MS-PASS-rasgar-VF 'Eu rasguei umas cartas'

dibalugwa CL9-carta

(20b) *Nangu ni-ndi-va-papul-a CL1-eu MS-PASS-rasgar-VF 'Eu rasguei uma carta'

dibalugwa CL9-carta

No entanto, é preciso realçar que há objetos carregando os traços semânticos [-humano, +animado] que não podem ser marcados na morfologia do verbo. Referimonos aos objetos das classes 6, 8 e 9 e 10, quando estes itens carregam os prefixos (i-) e (di-) respetivamente. Observemos os seguintes exemplos:

CLASSE 6 (21a) Nangu ni-ndi- jel-a CL1-eu MS-PASS-meter-VF ‘Eu meti ratos na latrina’

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mangundu CL6-ratos

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mushoo. na latrina

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(21b) *Nangu ni-ndi-va-jel-a CL1-eu MS-PASS-MO-meter-VF ‘Eu meti ratos na latrina’

mangundu CL6-ratos

mushoo. na latrina

CLASSE 8

(22a)

Nangu ni-ndy-eng-a CL1-eu MS-PASS-cortar-VF 'Eu cortei coelhos com uma faca'

vingula CL8-coelhos

na com

shipula. CL7-faca

(22b)

*Nangu ni-ndi-v-eng-a CL1-eu MS-PASS-MO-cortar-VF 'Eu cortei os coelhos com uma faca'

vingula CL8-coelhos

na com

shipula. CL7-faca

CLASSE 9 (23a) Nangu ni-ndi-gang'ol-a CL1-eu MS-PASS-empurrar-VF 'Eu empurrei um cabrito'

imbudi. CL9-cabrito

(23b) *Nangu ni-ndi-n-gang'ol-a MS-PASS-MO-empurrar-VF CL1-eu 'Eu empurrei um cabrito' (23c) Nangu ni-ndi-n-gang'ol-a MS-PASS-MO-empurrar-VF CL1-eu 'Eu empurrei o cabrito'

imbudi. CL9-cabrito mbudi. CL9-cabrito

mbudi. CL9-cabrito

(23d) *Nangu ni-ndi-gang'ol-a CL1-eu MS-PASS-empurrar-VF 'Eu empurrei o cabrito' CLASSE 10

(24a) Nangu ni-ndi-gang'ol-a CL1-eu MS-PASS-empurrar-VF 'Eu empurrei uns cabritos'

dimbudi. CL9-cabrito

(24b) *Nangu ni-ndi-va-gang'ol-a MS-PASS-MO-empurrar-VF CL1-eu ‘Eu empurrei os cabritos’ (24c) Nangu ni-ndi-va-gang'ol-a CL1-eu MS-PASS-MO-empurrar-VF ‘Eu empurrei os cabritos’ (24d) *Nangu CL1-eu ‘Eu empurrei os cabritos’

dimbudi. CL9-cabritos

vambudi. CL9-cabritos

ni-ndi-gang'ol-a

vambudi.

MS-PASS-empurrar-VF

CL9-cabritos

Portanto, como podemos ver pelos exemplos acima, há objetos que mesmo

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contendo em si os traços semânticos [-humano, +animado] não engatilham na estrutura do verbo a marca morfológica de objeto. Uma hipótese plausível para explicar esta irregularidade no engatilhamento do prefixo de concordância de objeto nesses itens seria propormos que isto reflete uma idiossincrasia do léxico, um tipo de exceção à regra geral proposta neste artigo. Por limitação de espaço e tempo, detalhes desta proposta serão aprofundadas em versão futura deste artigo.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suma, em vista dos dados colhidos até o momento, ficamos em condições de propor, pelo menos, três restrições, para explicar o mecanismo gramatical que regula o engatilhamento da concordância de objeto na língua Shimakonde, a saber: 1- Objetos [+humano, +animado] sempre engatilham a concordância no verbo; 2- Objetos [-humano, +animado] podem ou não engatilhar a concordância no

verbo. A não concordância ocorre quando o objeto [-humano, +animado] é indefinido e não enfático; 3- Objetos

[-humano, -animado] nunca engatilham independentemente da classe nominal a que pertencem.

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a

concordância,

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REFERÊNCIAS AISSEN, Judith. 2003. Differential Object Marking: Iconicity vs. Economy. Natural Language and Linguistic Theory 21,435-483 DUARTE, Fábio Bonfim. 2011. Tense Encoding, Agreement Patterns, Definiteness and Relativization Strategies in Changana. In Selected Proceedings of the 40th Annual Conference on African Linguistics, ed. Eyamba G.Bokamba et al., 80-94. Somerville, MA: Cascadilla Proceedings Project. www.lingref.com, document #2567 DUARTE, Fábio Bonfim. 2014. Marcação diferencial de objeto em bantu em Tupi-Guarani. Revista Eletrônica Língua Viva, Guajará-mirim, Rondônia, v. 4, n.1, 2014. LIPHOLA, Marcelino. 2001. Aspects of Phonology and Morphology of Shimakonde. Dissertation; The Ohio State University ORMAZABAL, Javier & ROMERO, Juan. 2007. The Object Agreement Constraint, Natural Language and Linguistic Theory 25: 315-347. MPIUKA, Davety & LIPHOLA, Marcelino. 2013. Pequeno dicionário de ShimakondePortuguês e Português Shimakonde. Associação Progresso; Maputo. SILVERSTEIN, M. (1976). Hierarchy of features and ergativity. In R. M. W. Dixon (Ed.), Grammatical categories in Australian languages (pp. 112–171). Canberra: Australian Institute of Aboriginal Studies. [Reprinted in P. Muysken, & H. van Riemsdijk. (1986). Features and projections, Foris, Dordrecht, pp. 163–232.]

“Não me envergonho de mudar de ideia por que não me envergonho de aprender” (Pascal)

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