Ética, estética e consumos possíveis: Notas etnográficas sobre turismo em uma favela carioca . OS URBANITAS, REVISTA DE ANTROPOLOGIA, ano 5, vol. 5, n. 7, 2008.

July 5, 2017 | Autor: B. Freire-Medeiros | Categoria: Cultura Material, Turismo, Consumo, Favelas
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OS URBANISTAS, REVISTA DE ANTROPOLOGIA, ano 5, vol. 5, n. 7, 2008.

Ética, estética e consumos possíveis: Notas etnográficas sobre turismo em uma favela carioca Bianca Freire-Medeiros* Palloma Menezes** Fernanda Nunes*** Resumo Este artigo trata de importantes questões que surgem a partir da elaboração e consumo da “favela” da Rocinha como destino turístico. O objetivo é analisar, por um lado, quais os dilemas éticos enfrentados pelos turistas que optam por consumir a pobreza como atração turística e de que modo utilizam essa experiência como elemento de distinção social. Por outro, discute a produção e comercialização de objetos cuja existência está diretamente ligada à invenção da favela turística: os souvenires. A metodologia envolve diferentes estratégias de pesquisa: observações de campo, entrevistas com informantes qualificados, análise de blogs e fotologs de turistas e registro foto-etnográfico. Palavras-chave: turismo, favela, Rio de Janeiro. I. Introdução Viajamos não apenas porque nos interessa conhecer determinado destino, mas igualmente para nos posicionarmos face à lógica de atribuição de status da classe ou do grupo social a que pertencemos. “Trata-se de uma aprendizagem relacional”, argumentam Carneiro e FreireMedeiros, “em que a transação cultural com o outro permite estabelecer uma melhor definição de *

Pesquisadora do CPDOC/FGV. Coordenadora dos projetos de pesquisa “Touring Poverty in Buenos Aires, Johannesburg and Rio de Janeiro” (financiado pela Foundation for Urban and Regional Studies --FURS) e “A Construção da Favela Carioca como Destino Turístico” (financiado pelo CNPq). E-mail: [email protected] ** Mestranda em Sociologia pelo Iuperj. Sua dissertação aborda as tentativas de implementação do turismo no Morro da Providência onde um Museu a Céu Aberto foi inaugurado pela Prefeitura do Rio de Janeiro em agosto de 2005. Foi bolsista PIBIC (2003-2004) no projeto “A Construção da Favela Carioca como Destino Turístico”. E-mail: [email protected] *** Graduanda em Ciências Sociais pelo CPDOC/FGV. Bolsista de Iniciação Científica do CNPq no projeto “A Construção da Favela Carioca como Destino Turístico”. E-mail: [email protected] Data de realização: fevereiro/2008 Entrega: março/2008

si e reforçar o sentimento de pertencimento ao seu próprio grupo” (2004: 105). Se a possibilidade de deslocar-se tendo o lazer como motivação principal sempre operou como elemento de distinção, com o processo de especialização e segmentação do mercado turístico, a experiência de viagem tornou-se um veículo ainda mais poderoso de comunicação dos princípios de pertencimento e diferença. John Urry (1990) afirma, nesse sentido, que vivemos a Era Pós-Fordista na indústria do turismo: já não basta sermos capazes de viajar durante as férias -- é preciso que o “para onde” e o “com quem” viajamos garantam que não seremos confundidos com a desprezada classe dos turistas de massa. As distinções de status devem ser garantidas, assim, por meio de uma equação equilibrada entre os atributos da localidade e de seu público consumidor: Tirar férias é uma forma de consumo evidente, na qual as atribuições de status são feitas na base de onde uma pessoa ficou e depende, em parte, de como são as outras pessoas que também vão para o lugar que se escolheu. A atração exercida por um lugar e, em conseqüência, sua localização na hierarquia [de destinos] também depende de quantas pessoas estão no mesmo lugar, sobretudo de quantas pessoas se assemelham ao viajante. (Urry, 1990: 43) Reproduz-se, no âmbito do turismo, aquilo que vemos ocorrer em tantos outros campos: uma vez que os grupos de mais baixo status se apoderam da viagem de lazer como um bem de distinção, resta aos demais segmentos “investir em novos bens a fim de restabelecer a distância social original” (Featherstone, 1995: 38). No processo, localidades “marginais” ao mercado convencional são retoricamente reinventadas como destino turístico e disponibilizadas para consumo de um público ávido por experiências que o coloquem em um degrau acima na hierarquia de status dos “world travelers” (Hutnyk, 1996; Freire-Medeiros, 2007b). Hoje, um número cada vez maior de turistas visita Soweto e Cape Flats (África do Sul), Dharavi (a maior “favela” da Índia), Cova da Moura (bairro “africano” em Portugal) e a “Favela” da Rocinha1 (Zona Sul do Rio de Janeiro). Esses tours vêm sendo promovidos por ONGs, agências de turismo e/ou agentes públicos, os quais defendem a prática do turismo em áreas de pobreza com base em sua suposta capacidade de levar ao desenvolvimento econômico e a uma interação positiva entre sujeitos com diferentes backgrounds. Aqueles que se opõem a esta prática apontam para o fato de que, muitas vezes, os moradores das localidades visitadas não usufruem em pé de igualdade dos benefícios gerados com o turismo e que as visitas motivam atitudes voyeuristas diante da pobreza e do sofrimento (Freire-Medeiros, 2007a; 2007b). Não é nosso objetivo, neste artigo, discutir a viabilidade econômica dos tours de pobreza, mas examinar-lhes as dinâmicas de produção e consumo. Para tanto, convidamos nossos leitores

a um passeio pela Rocinha -- favela turística por excelência -- que nos levará a confrontar duas questões: a) quais os dilemas éticos recorrentemente vivenciados pelos que optam por consumir a pobreza como atração turística; b) como se dão os rituais de produção e consumo dos objetos que materializam, em grande medida, a tensão entre ética e estética na experiência da favela turística -- os souvenires. II. A favela turística e seu público consumidor: estratégias de distinção e dilemas éticos Produções televisivas e cinematográficas, tanto brasileiras quanto estrangeiras, têm utilizado a favela como parte fundamental da narrativa (Freire-Medeiros, 2007b). Nem mesmo o produto de entretenimento mais bem-sucedido do mercado televisivo brasileiro -- a famosa “novela das oito” da Rede Globo2 -- escapou a essa tendência: em Duas Caras, o “núcleo pobre” foi deslocado do tradicional subúrbio para a favela da Portelinha. Na fictícia favela não é permitido tráfico de drogas nem pessoas desempregadas, e comerciantes locais devem pagar uma “taxa” à Associação de Moradores para a tranqüilidade seja garantida. Embora estejamos nos referindo a uma favela cenográfica, construída no Projac, é possível perceber proximidades estruturais e espaciais entre Portelinha e Rio das Pedras, uma favela plana, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde o tráfico de drogas foi coibido por autoridades locais, conhecidas como milícias3. Em fevereiro de 2008, Duas Caras surpreendeu ao incluir a Portelinha no circuito turístico. Tudo começa quando uma personagem “de fora” da favela, pertencente ao núcleo da classe média, decide levar um grupo de amigos estrangeiros à Portelinha. Ao pedir autorização à liderança local para realizar passeios regulares à favela, argumenta que o turismo também pode ser rentável para os vendedores da região -- durante o tour experimental os visitantes consumiram caipirinha, frutas e souvenires (com destaque para as bandanas estampadas com a bandeira do Brasil). E os argumentos da personagem vão além: “Safári urbano é o que há de mais up em matéria de passeio turístico hoje em dia. Roteiro previamente agendado, selecionado e organizado para grupos pequenos de, no máximo, dez pessoas por vez. Essa é definitivamente a melhor favela para trazer os gringos”. O líder comunitário concede sua autorização, mas determina que uma parte dos lucros deve ser revertida para a Associação de Moradores. Após uma passagem de tempo, o turismo na Portelinha aparece sendo promovido pela agência Viver Favela/Favela Living, que utiliza um jipe como meio de transporte. Além de passeios por vielas e informações sobre o líder comunitário, o roteiro inclui visitas à Escola de Samba Nascidos na Portelinha, à Associação de Moradores e a uma ONG que combate o tráfico internacional de mulheres. Nesse local, os visitantes são esclarecidos sobre a rede ilegal de

exportação de mulheres e fazem doações em dinheiro. Em outras cenas, os turistas aparecem em casas de shows da favela e em ensaios na Escola de Samba durante o carnaval. Um incêndio destrói parte das moradias da Portelinha -- é a deixa para que a dona da agência possa enfatizar, a um só tempo, o autêntico e o inusitado: mais do que simples visitantes, agora os turistas são voluntários que trabalham, junto com os moradores do local, nas obras de recuperação da favela. A personagem, visivelmente entusiasmada, repete em inglês e português simultaneamente: “Agora vocês poderão dizer que no Brasil todo mundo se ajuda”. Outras vezes diz aos turistas que não se separem de suas câmeras fotográficas: “Tirem fotos, mas não deixem de trabalhar!”. Os moradores da favela parecem receptivos às fotos e, obviamente, aceitam a ajuda. Se coube à favela de Rio das Pedras inspirar a fictícia Portelinha em suas estruturas de organização social, é sem dúvida a Rocinha que serve de referência quando o assunto é turismo4. No Rio de Janeiro, outras favelas vêm, com maior ou menor sucesso, buscando desenvolver seu potencial turístico (Freire-Medeiros, 2007a), mas é apenas na Rocinha que podemos falar em um mercado turístico consolidado. Em conjunto, as agências atendem a uma média de 3 mil turistas por mês, os quais se dispõem a pagar algo em torno de U$35,00 por um passeio que dura entre três e quatro horas. Os donos das agências concordam que o marco inicial do mercado turístico na Rocinha remete ao episódio da Eco-92 (Rio Conference on Environment and Sustainable Development). Não há, entretanto, qualquer consenso sobre quem de fato teria inaugurado o mercado turístico na localidade. Contendas acirradas pela “paternidade” da idéia marcam, ainda hoje, o convívio entre as agências. Hoje o mercado turístico na Rocinha é disputado não apenas por agências de turismo5, mas também por guias particulares6 e taxistas. Além de deter o título de “maior favela do Brasil”, a Rocinha está perto dos principais hotéis da cidade e conta com duas vias de saída (o que garante deslocamento ágil em caso de deflagração de conflitos armados). Do alto do morro, o visitante tem uma vista privilegiada tanto de vários pontos turísticos (Corcovado, Pão de Açúcar, Praia de São Conrado), como também do contraste social marcado pelas edificações luxuosas dos bairros adjacentes. Os jipes verde musgo tornaram-se, de certa forma, ícones do turismo na Rocinha, inspirando seus críticos a rotulá-lo de “safári de pobres” – ou “safári urbano”, como anunciado pela personagem de Duas Caras --, mas nem todas as agências utilizam-se desse meio de transporte. Be a Local, por exemplo, inovou ao aderir ao aluguel de motos-táxi da própria favela, garantindo a preferência dos mais jovens. As demais agências atendem a um

público consumidor bastante heterogêneo em termos de nacionalidade, país de moradia e faixa etária. As observações de campo realizadas no contexto da pesquisa “A Construção da Favela Carioca como Destino Turístico”7, iniciada em fevereiro de 2005, as entrevistas com 56 turistas, bem como a análise de seus blogs e fotologs8, nos permitem desenhar um quadro geral desse público: como os visitantes da ficcional Portelinha, os turistas da Rocinha são, em sua quase absoluta maioria, estrangeiros. Encontram-se inseridos profissionalmente no setor terciário e já tiveram experiências de viagem em circuitos “alternativos” mundo afora. E se tivéssemos que apontar-lhes uma característica comum, diríamos, sem medo de errar: a ansiedade em diferenciar-se. A fala de M., inglesa de 34 anos, ilustra o complexo sistema de hierarquias de distinção que está em jogo: People living in Ipanema or fancy areas of Rio fear people in the favela -- those are the ones that need to change, not the favela people. I am not visiting a Zoo. I am here to understand a culture and a country. (…)Those who are in the business just to make money for themselves should be eliminated by Rio Tourism Bureau. (…) I don‟t think that you should be taking up groups of old age rich pensioners from America. It needs to be sold as a mind opener, not as a zoo or a museum. Sob o prisma da distinção, não é a simples satisfação das necessidades que orienta e organiza a hierarquia dos bens, mas a escassez destes bens e a impossibilidade de que outros os possuam (Bourdieu, 2007). Para M., assim como para muitos dos nossos entrevistados, não deveriam ter acesso à favela turística nem os que dela se apropriam motivados apenas pelo desejo do lucro, nem os que a consomem sem o desejo genuíno de fazer daquela visita uma experiência de transformação do self. Esta experiência de autotransformação, é importante retermos, deve encontrar um fino equilíbrio entre gozo e comiseração. Como nos lembra Bourdieu, a “nova burguesia” – universitários que atingiram posições de poder ainda jovens nas empresas mais importantes e modernas do setor privado -- constrói o cerne de sua identidade contrapondo-se à burguesia de tradição, que baseia sua vida na moralidade do dever. Se a velha burguesia passa suas “férias nas cidades hidrominerais” e sente “medo do prazer”, a nova burguesia propõe uma moral do “dever de prazer que leva a experimentar como um fracasso, propício a ameaçar a autoestima, qualquer impotência em „divertir-se‟, to have fun” (Bourdieu, 2007: 345). O prazer, além de autorizado, é exigido, ainda ele que derive da contemplação da miséria alheia. Nesse sentido, vale observar que, não raro, os turistas justificam sua presença na favela com base tanto nos benefícios que adviriam para a localidade, quanto nos efeitos positivos daquela experiência para suas vidas:

Rocinha had the welcoming atmosphere of real and honest people; innocent lives plagued with the volatility of the drug world. (…) I now feel I understand the people of Rio on a much deeper level (…). The tour manages to obtain the perfect balance, between educating and spreading awareness and providing genuine benefit where it is needed most. A definite must-do when visiting Rio, it will enlighten your life and provide a unique insight into a fascinating place. Mas, num momento em que cidadania e consumo se atravessam e se encompassam de maneira tão contundente (Canclini, 1999), exige-se do sujeito uma atitude reflexiva diante do objeto que deseja consumir e das práticas sociais que envolvem sua aquisição. O inglês P., Gerente de Website de 37 anos , é um desses visitantes que reflete criticamente sobre sua experiência na favela turística: I have decided to take the tour because I wanted to gain understanding of life in the favelas and to break down stereotypes. (…) I believe the tour is important to open the eyes of tourists whose image of life in the favelas would be otherwise dictated by the mainstream Brazilian media and films, as well as providing financial aid and economic support and encouragement to those who want to engage with the outside world. (…) Still, I got this slight feeling of unease because I wasn‟t sure if I was walking around in some sort of human zoo, and how much of the route that we took actually represented the true favela. Estereótipo, autenticidade, representação. A ansiedade em torno dessa tríade, tão presente na fala de P., encontra espaço particularmente fértil de elaboração em uma das práticas que mais caracteriza o consumo da favela como destino turístico: o ato de fotografar. Há muito se sabe que fotografias de viagem não são simples registros daquilo que os olhos vêem, mas resultado de processos cognitivos que selecionam elementos, os hierarquizam e colaboram, em diálogo com outras fontes – guias de viagem, websites, revistas especializadas, filmes --, na criação de uma determinada “geografia imaginativa” (Freire-Medeiros, 2002). De que é composta, então, essa favela imaginativa que os turistas fazem circular por meio de seus blogs? De ruelas e valas, de fios emaranhados, de uma vista deslumbrante para o mar, de plantas e bichos “exóticos” como galinhas e cachorros. Mais do que qualquer outro elemento, porém, são as casas – tijolos desalinhados e paredes coloridas -- e os moradores – invariavelmente negros e preferencialmente crianças -- os que mobilizam sua atenção fotográfica (Menezes, 2007). Ilustração 1 - Do alto de uma laje, uma jovem fotografa com seu celular a Rocinha, reproduzindo uma das imagens mais recorrente nos blogs de estrangeiros que visitaram a favela: o “mar” de barracos que se derrama aos pés do turista.

Capturar e consumir a favela por meio da fotografia, pelo que nos foi relatado pelos turistas, nem sempre é tão simples quanto a velocidade de seus cliques pode nos levar a crer. Não há regras claramente estabelecidas pelas agências ou associações de moradores em relação ao que pode ou não ser fotografado: a única norma que costumam explicitar aos turistas é que eles não devem fotografar pessoas armadas ou os lugares onde comércio de drogas ilícitas se dá de forma mais ostensiva9. No mais, o limite acaba sendo aquele que o próprio turista estabelece. J. nos contou, em tom quase confessional, que o que mais a preocupava em relação ao turismo na favela era justamente a questão da fotografia. Misturavam-se em sua fala dilemas éticos e práticos: por um lado, se fosse pedir autorização para todos que quisesse fotografar, suas fotos ficariam “all posed and artificial, not really authentic”; por outro, não queria sair fotografando sem pedir autorização, “desrespecting people and hurting their feelings”. Durante a visita, ficava entre perguntar se podia tirar fotos -- e agir da maneira que lhe parecia correta --, ou não falar nada e obter imagens mais espontâneas e esteticamente mais interessantes. Quando soube da nossa pesquisa, K., que fazia o passeio em favela pela segunda vez, veio nos indagar como os moradores se sentiam quando fotografados. Diante do lapso de silêncio – o que caberia lhe dizer? --, explicou as motivações da pergunta: em sua primeira viagem ao Rio, havia feito um passeio de van, com um guia particular, pela favela. A turista, que era negra, relatou que essa tinha sido uma das piores experiências de sua vida, pois se sentira extremamente constrangida ao ver “all that those white foregners riding on a Jeep, taking pictures non-stop without knowing the first thing about Brazil, about racial and social issues”. Para K., “tourists don‟t seem to realize that people in the favela are humans, they treat them like animals in a zoo”. Perguntas como essas – e a nossa reação surpresa lacônica diante delas –, são “boas para pensar”. Fazem-nos avaliar que os limites éticos relacionados ao turismo na favela, e especialmente à questão das fotografias, parecem estar sendo construídos e negociados a cada encontro entre moradores e visitantes. Os turistas nem sempre sabem como agir e nós, pesquisadoras, não sabemos o que lhes dizer. Pensamos, por exemplo, na positividade das fotos, na sua capacidade de gerar visibilidade para a favela, de atuarem como contra-estigma das imagens midiáticas que associam a favela à violência espetacularizada. Mas nem por isso nos deixa de incomodar o fato de ser aquele contato, intermediado pela câmera, uma das poucas formas de interação que se dá entre “hosts and guests”. A outra forma de interação é aquela que envolve a compra e a venda de souvenires, como examinamos a seguir.

III. Goffman na favela: o ritual dos souvenires Durante a experiência de consumo, é estabelecido um conjunto de rituais que rege padrões de comportamento responsáveis pela conformação da identidade de determinado grupo consumidor. No caso da favela turística, um importante ritual cotidiano é aquele que envolve a produção, venda e compra de souvenires. Na Rocinha, há quatro pontos em que a venda de produtos para turistas se dá de forma menos ou mais organizada10, porém é na Rua 1, na parte alta da Rocinha, onde se dá efetivamente o comércio de souvenires. Foi para lá que dirigimos, durante o verão de 2007, o nosso trabalho de campo. A Rua 1 marca a primeira parada da maioria das agências e seu espaço funciona como uma espécie de “palco pedagógico de apresentação”: explicações básicas sobre condições de moradia, renda, saneamento, etc., disponibilizadas oralmente pelo guia no trajeto entre os hotéis e a favela, são ali “confirmadas” pelos turistas por meio da interação visual com o lugar. Esse “ritual de apresentação”, que começa com informações gerais sobre a favela e a sociedade brasileira, é complementado, em seguida, por explicações sobre os souvenires ali dispostos: o guia passa rapidamente em frente de cada barraca, apresenta alguns produtos e assegura aos turistas de que não precisam se precipitar porque lhes será dado tempo suficiente -- entre 15 e 30 minutos -para comprar o que gostarem e também para tirar fotos. Concluído o ritual de apresentação, os turistas se dispersam e cada um se dirige para a barraca que mais lhe chamou a atenção. As compras são feitas, geralmente, pagando-se em real, mas aceitam-se também dólares ou euros e até mesmo pagamentos “fiados” que, segundo nossos informantes, é prática freqüente e ocorre quando o turista vai ao passeio sem a quantia suficiente para comprar determinado produto. Com consentimento prévio dos vendedores, o guia sugere ao turista que leve o souvenir desejado e pague-o depois, no hotel. Os vendedores, por sua vez, deverão anotar o endereço da hospedagem do cliente e ir ao local para receber a quantia referente ao objeto. Quando percebem que os turistas já compraram o que queriam, que não vão comprar ou que o tempo do passeio está apertado, os guias reagrupam os turistas e seguem o passeio. Se em torno do mito de fundação da Rocinha turística há controvérsias as mais calorosas, como visto acima, as explicações sobre a transmutação da Rua 1 no “point” privilegiado dos souvenires convergem para o que nos foi relatado por uma de nossas informantes: Quem começou a reparar a presença dos turistas aqui primeiro foi meu ex-marido e ele que foi o mentor desse projeto. Começou levando as crianças para o fundo do quintal para ensinar a pintar. (...) Então ele resolveu começar a vir para rua aos domingos para ensinar os meninos a pintar na rua. (...) Os turistas vinham e, para

ajudar o projeto, compravam o trabalho das crianças (...) Meu ex-marido escolheu montar a barraca aqui na Rua 1 porque já era um ponto em que os turistas param para olhar a vista. Mas não tinha ninguém ainda, não tinha nada. Quando nós começamos, era muito precário, não tínhamos essa estrutura. Hoje, cada vendedor tem uma barraca em um ponto fixo e todas são enfileiradas lado a lado. É preciso chegar sempre um pouco antes de 9:00h, quando se iniciam os primeiros tours, para montar as barracas e arrumar os produtos. A jornada de trabalho só termina depois que passa o tour da tarde (por volta das 16:00h), quando então são desmontadas as barracas que permanecem com as lonas amarradas no próprio local. As ferragens e as mercadorias são guardadas no entorno, num “cantinho” que cada vendedor aluga. Durante os tours, a Rua 1 converte-se, nos termos de Goffman, em uma região de fachada para duas equipes de representação: a dos turistas e a dos vendedores de souvenir. Ambas trazem para a interação informações prévias e estereótipos sobre a outra e desejam transmitir, reciprocamente, boas impressões. Quando na presença dos turistas, os vendedores interagem de maneira harmônica, mantêm uma aparência alegre e, não raro, simulam a execução de algum tipo de trabalho manual como estratégia para atrair a atenção de seu público consumidor. Ilustração 2 - Morador da Rocinha que atua no comércio de souvenires encena a pintura do quadro para atrair atenção dos turistas que passam pela Rua 1.

Na Rua 1, moradores encenam a autenticidade que acreditam ser de interesse dos turistas e turistas desempenham o papel do visitante simpático, sensível às diferenças culturais. Na condição de “pessoas de fora”, os turistas frequentemente exprimem reações de surpresa – as mãos em concha levadas à boca e a exclamação “ohhh” diante de certos produtos. Essas reações encenadas pelos turistas são pragmaticamente importantes para os vendedores, funcionando como “pistas” que inspiram a produção de certos souvenires. S., moradora da Rocinha há 29 anos e vendedora há dois, explica: “O Cristo [Redentor] aparece [nos quadros] porque eu percebo que essa é uma paisagem que, sempre que eles chegam aqui, o guia chama „come on, come on‟. Os turistas vêem e falam „ohhhh‟. Então tem que ter, faz parte”. Os turistas tendem a se aproximar e estabelecer contato com vendedores por meio de palavras soltas em seu idioma de origem ou por gestos que substituem a fala. Nem sempre essa tentativa de comunicação se dá a contento, como recorda a pesquisadora Fernanda Nunes em seu diário de campo:

“Em uma das barracas em que se vendem quadros, uma turista mostra para a outra um LP (disco) pintado com imagens da Rocinha. Concordam entre si que a idéia é muito interessante e observam o produto com calma. Quando uma das turistas resolve perguntar a R. como é feito o quadro, há uma confusão de idiomas -- a turista pergunta em inglês e a vendedora responde em português. Quando a estrangeira pergunta o preço do objeto, a artista faz os números com as mãos, intercalando com seu inglês precário: “four, five...”. A turista não entende e chuta o preço em inglês. As duas seguem fazendo números com as mãos, mas a gringa não compra nada. Ao final, nem eu mesma entendi qual era o preço do produto”. A barganha e as encenações que ela envolve são parte do cotidiano da Rua 1. Quando os turistas se interessam por um produto, geralmente pedem desconto ao vendedor, que muitas vezes concede. Nos bastidores dessa cena, ambas as equipes representaram, para as pesquisadoras, o papel de injustiçados: turistas disseram saber que os preços são inflacionados “só porque somos estrangeiros”; vendedores justificaram os preços altos devido à “mania que os gringos têm de pechinchar. Como a gente sabe que eles vão pedir desconto, a gente já põe algum em cima”. Na fachada, a negociação é aparentemente pacífica e testemunhamos apenas uma transação ser interrompida no processo de barganha. Na ausência dos turistas, a Rua 1 converte-se em região de bastidor e a dinâmica se altera. Após meses de observação de campo, a impressão de convivência amistosa entre os vendedores foi desconstruída. Foram-nos relatadas desavenças em torno de produtos ou da utilização do espaço e tornou-se clara a existência de algumas “panelas”. É, então, nos bastidores que os atores interrompem a sua representação e assumem uma conduta mais descontraída, se segregam e tecem comentários sobre as vendas, as relações pessoais e as impressões que têm dos turistas. Brigas mais acirradas, segundo nos informaram os próprios artistas locais, seriam apaziguadas pelas lideranças do tráfico de drogas. A partir de pesquisa realizada em lojas de souvenir do sudeste dos Estados Unidos, Kristen Swason (2004) observa que a preferência dos turistas tende a convergir para os objetos que têm evidente relação com a localidade visitada, que são considerados autênticos (i.e. não industrializados, feitos à mão) e originais. São levados igualmente em conta atributos que dizem respeito não apenas ao objeto em si, mas também às condições de trânsito e uso. No caso do turismo em favela, a essas variáveis somam-se aquelas relativas à complicada dialética entre “ética” e “estética”, entre “atributos morais” e “qualidades visuais” dos produtos. Quando lhe perguntamos por que havia decidido comprar um dos quadros comercializados na Rua 1, J. justificou: “I chose this for its colors, the sun, the Christ. Although some people don‟t consider this as art, I do. At home, I got paintings and drawings from all the places I‟ve visited and I also wanna have this painting of Rocinha”.

Não raro, os turistas buscam equilibrar uma postura “politicamente correta” com o desejo de levar consigo algo que lhes parece “de bom gosto”. Como argumentou S.: “I‟d rather buy something here than in town (sic) because here I can have first-hand contact with the producer. Besides, this bracelet made of green seeds matches perfectly with the green earrings I‟m wearing!”. A ansiedade que mobiliza os turistas diante dessa complicada equação não passa despercebida aos vendedores. M, que atua na Rua 1 há 18 meses, observa: “Quando o vendedor é criança, o gringo (...) pensa: „ah, é uma criança pintando!‟. Aí eles acham que qualquer coisa tá bom! Mas quando o vendedor é adulto, eles compram pelo objeto mesmo.” Como nos lembra Turner (2005: 50), “cada tipo de ritual tem seu símbolo „sênior‟ ou (...) seu símbolo dominante”, que é encarado “pelo consenso geral como tipificando ou representando ou lembrando algo através da posse de qualidades análogas ou por meio de associações em fatos ou pensamentos.” Os souvenires produzidos com material reciclado podem ser tomados como símbolo dominante no ritual de trocas da Rua 1: bolsas e cintos de anel de alumínio; imãs e mini-maquetes feitas com caixas de remédio, de fósforo e com fios de telefone; bolsas e chapéus de sacolas plásticas. Ilustração 3 – Turista fotografa os souvenires que mais despertam a atenção e a curiosidade dos estrangeiros: aqueles produzidos com material reciclado.

Taco, madeira reaproveitada e vinil transformam-se em quadros que oferecem imagens do Cristo, da paisagem que se vê do alto do morro, das casas da favela. Não estão disponíveis para venda livros, postais ou quaisquer outras mercadorias produzidas em série; mesmo o CD comercializado por I. tem uma dimensão artesanal na medida em que cada um traz um encarte diferente desenhado à mão pelo artista. A capacidade de reaproveitar materiais, de reciclar o que já foi descartado, é tomada por muitos consumidores como símbolo do que a favela é: a escassez criativa, a penúria colorida, a pobreza sorridente. Como resumiu uma das turistas com quem conversamos: “For me being here, the favela has changed from being a sad, scary place to be to an incredible community that has its serious problems but that survives in the way it knows how, with laughter and friendships, music and painting”. Escassez, penúria e pobreza, “símbolos de estigma” (Goffman, 1998) tantas vezes relegados às favelas, se convertem então em seus “símbolos de prestígio” pela via do turismo.

IV. Para concluir Daniel Miller (2007), em um balanço bastante crítico dos estudos sobre o consumo no campo das ciências sociais, aponta para o caráter “inusitadamente moral ou normativo” que essas análises tendem a assumir. Autores de filiações ideológicas e disciplinares diversas encontram no consumo – em seu exagero ou em sua impossibilidade – uma chave para difamar a sociedade contemporânea de signos e superficialidades. Na mesma proporção em que sobejam críticas a respeito de um consumidor genérico, observa Miller (2007), faltam estudos que nos ajudem a perceber, para além dos julgamentos morais, como sujeitos concretos vivenciam suas práticas de consumo. O tratamento acadêmico dado ao turismo não chega a diferir muito do quadro delineado por Miller. As tensões entre a procura supostamente genuína do desconhecido (viagem) e férias pré-programadas (turismo) marcam grande ponto de debate desde o artigo de H.M. Enzensberger (1958), no qual a idéia do turismo como uma prática corruptora já se encontra presente. O turismo -- ao lado do cinema, do rádio, da televisão, do mercado da moda, e da religião -- era visto pelo pupilo de Adorno e Horkheimer como um dos principais produtos da indústria da consciência destinada a encorajar o escapismo e a nostalgia (Freire-Medeiros, 2002). Passado meio século, a importância e legitimidade do turismo como campo de investigação já não se encontra sobre contenda, mas ainda não foi possível estabelecer uma área de investigação unificada (Pearce, 1993; Nash, 1996). Interpretações dicotômicas e reducionistas em torno do fenômeno turístico, por um lado, o recusam devido a seu suposto caráter corruptor; por outro, o celebram sem restrições como alternativa de desenvolvimento econômico. A dimensão normativa das investigações é facilmente perceptível em ambos os casos. Se consumo e turismo são temas de investigação dados a controvérsias e acusações morais, o que dizer do consumo da favela turística? Nesse caso, como buscamos demonstrar aqui, as contradições intrínsecas a construção, comercialização e manutenção de localidades turísticas complexificam-se. Visto que o mercado – território das relações impessoais e da lógica instrumental por excelência -- não é naturalmente concebido como lugar adequado à expressão da comiseração ou da solidariedade (Illouz, 1997; Zelizer, 2004), fazer da pobreza uma mercadoria, uma atração turística pela qual se cobra e se paga um preço fixo pode ser facilmente avaliado como algo abjeto. Não surpreende, portanto, que aqueles que optam por consumir a favela turística se esforcem para convencer – a si e aos demais -- que sua visita não é um exercício voyeristico, mas um ato ético e solidário. Neste sentido, os entrevistados destacam a geração de renda e as doações, bem como a produção de representações concorrentes àquelas

que estigmatizam a favela como lócus da violência. Infelizmente, a maioria desconhece que o valor pago pelo passeio é retido pelas agências de turismo e que não reverte diretamente para os moradores da Rocinha. Se, como acertadamente o fazem Barbosa e Campbell (2007), admitirmos que o consumo é um instrumento de mediação para fins múltiplos, já não cabe impor um único sentido ao consumo da favela turística. E porque esse produto – favela turística – não está dado de antemão, não se coloca disponível na prateleira, não podemos circunscrevê-lo como unidade. Trata-se de um objeto – tanto turístico quanto intelectual – cuja construção depende de uma série de variáveis, tangíveis e não tangíveis, que procuramos, ao menos em parte, identificar aqui. Nosso objetivo não foi, por certo, dar conta de todas as motivações, interesses e sentimentos que mobilizam os envolvidos na elaboração da Rocinha turística, mas desenvolver indagações mais amplas, mostrando as ambigüidades, as zonas cinza de significação de onde emerge a favela como atração e seus souvenires como objetos de consumo.

Notas 1

A Rocinha, que adquiriu o status oficial de bairro em 1993, possui cerca de 50 mil habitantes

(Fonte: Armazém de Dados - IPP). Segundo as associações de moradores, contudo, a Rocinha já teria ultrapassado a marca dos 200.000. Há na favela serviços como agência dos correios, duas agências bancárias, provedor de internet e de TV a cabo – com um canal de TV exclusivo, a TV Roc. Grande parte das lojas da favela aceita cartões de crédito, o que “atesta o poder de compra da população local e sua participação no mercado brasileiro e internacional de consumo” (Valladares , 2005). 2

A Rede Globo de Televisão, fundada em 1965, cobre 98,53% do território nacional,

atingindo 5.482 municípios e 99,47% da população. Além de diversas afiliadas, a Rede Globo possui cinco sedes principais (Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Recife). No entanto, é no Projac, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que se encontram as produções de dramaturgia. A unidade, construída em 1995, ocupa mais de 1 milhão de metros quadrados e abriga diversos estúdios de gravação e cidades cenográficas. Vale lembrar que as produções da Rede Globo são exportadas em larga escala para vários países, o que irá

contribuir, por certo, para a circulação global da “marca favela” e para o desejo de consumila. 3

O tráfico de drogas ilícitas a varejo nas favelas cariocas consolidou-se em meados dos anos

80, quando a venda de cocaína passa a ser controlada pela facção “Comando Vermelho (CV)”. Ao longo dos anos 90, houve um crescimento rápido desse mercado ilegal de drogas e armas, ocasionando inúmeros fracionamentos que deram origem a mais facções criminosas rivais. Em geral, os traficantes de drogas – jovens, majoritariamente do sexo masculino - são organizados hierarquicamente, havendo sempre o dono da “boca de fumo” (sinônimo utilizado para representar o mercado local de drogas). Além dos conflitos entre os diferentes comandos, que disputam o domínio de territórios, o cotidiano dos moradores de grande parte das favelas cariocas também é marcado pela arbitrariedade das forças policiais. Nesse sentido, parece haver um consenso entre os especialistas no tema de que não é possível compreender a estrutura organizada do tráfico nas favelas sem antes reconhecer os focos de corrupção, em diferentes níveis, nas instituições públicas. Cf. Zaluar,2004; Misse, 2007; Machado da Silva, 1994. 4

No site oficial da novela Duas Caras, Aguinaldo Silva, o autor da trama, afirma: “A idéia

das excursões turísticas me surgiu por causa da quantidade de turistas que fazem visitas à Favela da Rocinha”. Porém, equivoca-se ao falar sobre a redistribuição dos lucros das agências: “o benefício [para os que vivem na Portelinha] será concedido através da associação de moradores, aliás, como acontece na própria Rocinha na vida real”. 5

Agências atuando na Rocinha cadastradas na RioTur: Be a Local, Don´t Be a Gringo; Exotic

Tours; Favela Tour; Forest Tour; Jeep Tour; Indiana Jungle Tour; Private Tours; Rio Adventures. 6

Entre os guias particulares, destaca-se Paulo César Martins Vieira -- mais conhecido como

Amendoim. Morador e liderança da Rocinha, atua como guia turístico na favela e como professor de práticas esportivas. Seu passeio, recomendado pelo prestigioso guia Lonely Planet, é realizado a pé, mas não passa pelas partes mais pobres do local e a duração depende da vontade do turista.

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A pesquisa examina o processo de conversão da favela em atração turística do ponto de vista

dos agentes promotores, dos moradores locais e dos turistas. Além das autoras, participaram em diferentes momentos da pesquisa: Alexandre Magalhães, André Salata, Andréia Santos, Cesar Teixeira, Flávia dos Santos, Joni Magalhães, Lidia Medeiros, Lívia Campello, Mariana Mendonça e Sylvia Leandro. Agradecemos a todos e, em particular, à socióloga Juliana Farias pela interlocução inspiradora. 8

Turistas têm utilizado blogs e fotologs como uma espécie de álbum de viagens virtual. Ali

postam fotos, legendas e textos relatando suas experiências turísticas. Em nossa pesquisa selecionamos e examinamos 50 fotologs de turistas que visitaram a Rocinha com diversas agências nos últimos anos. Para uma análise mais detida desse material, ver Menezes (2007). 9

Esse aviso não impede que ocorram problemas. Como nos contou o ex-presidente de uma

das principais associações de moradores da Rocinha, diversas vezes ele ou outras pessoas que trabalham na associação tiveram que paralisar seus afazeres para resolver problemas de turistas que tentaram fotografar traficantes. O ex-presidente reclamou dos guias que não conhecem bem a “comunidade” ou deixam os turistas ficarem “andando soltos pelos becos”. 10

Um desses locais é o “Centro de Artes Geisa Gonçalves”, que comercializa quadros,

roupas, bijuterias e enfeites feitos de material reciclado por artesãos da Rocinha. Poucas agências visitam o espaço, que está fora do circuito das agências. Outro ponto é o “Centro Comunitário Alegria das Crianças”. Freqüentada apenas pela agência Exotic Tour, a creche reserva uma sala para produção e venda de tapetes, panos de prato, cestas, bonecas de pano, bolsas e quadros. Também com exclusividade, a agência Be a local, Don´t be a gringo leva turistas a outras duas áreas de comércio de artesanatos: na Roupa Suja (uma das partes mais precárias da favela, onde crianças e jovens vendem de forma bastante informal, bijuterias e pequenos quadros feitos por eles) e um ateliê (onde artistas locais comercializam quadros mais elaborados e mais caros).

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