Etiqueta Social: O mau uso do aparelho celular em sala de aula Natal

June 1, 2017 | Autor: P. Azevedo | Categoria: Cidadania, Etiqueta Social, aparelho celular, Campanha
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Escola de Comunicação e Artes CST – Design Gráfico

Projeto Interdisciplinar

Etiqueta Social: O mau uso do aparelho celular em sala de aula

Natal, 14 de junho de 2012

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Etiqueta Social: O mau uso do aparelho celular em sala de aula Ana Cecilia Araujo da Nóbrega Arthur Morais Dantas Daniel Augusto do Nascimento Câmara Keline Cassiano Honorato Priscilla Kimie Urushima de Azevedo

INTRODUÇÃO Cavalcanti diz que “enquanto humanos, somos seres sociais e políticos, convivemos com outros indivíduos, temos uma vida pública”. A vida em sociedade fez com que o homem criasse uma série de normas e leis para que a convivência em grupo pudesse existir, sendo a cidadania o conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive. Criou-se, também, um código de normas sociais chamado etiqueta para que o entendimento entre as pessoas pudesse fluir com mais naturalizade. Com a finalidade de tornar nossa vida mais fácil, surgiram as tecnologias móveis. Podemos destacar como exemplo o celular, que no início de 2008 chegou a marca de 122 milhões de aparelhos em uso no Brasil e se transformou em algo indispensável para muitas pessoas. Já existe um projeto de lei municipal que proibe o uso de aparelhos celulares em sala de aula e pesquisas internacionais sobre a etiqueta para dispositivos móveis. A falta de conscientização do uso do aparelho celular, é um problema bastante repercutido, especialmente nos centros educacionais. SMS, redes sociais entre outras ferramentas, são grandes causadores da desatenção no ambiente acadêmico, e por isso se faz necesssário discutir valores didáticos, éticos e sociais com os atores desse embiente. Foi utilizado, além da revisão de literatura, questionários fechados e observação sistemática, a fim de obter dados comparativos dentro de uma amostra escolhida por conveniência, entre os alunos da Universidade Potiguar (UnP). O objetivo desse artigo é compreender esse fenômeno e conscientizar a população acadêmica sobre a problemática do mau uso do aparelho celular em sala de aula, a qual está bastante presente e recebe pouca atenção, uma vez que a quantidade de pesquisas sobre o assunto ainda é um pouco restrita. Espera-se, ainda, contribuir para o desenvolvimento dessa área de conhecimento e buscar formas para modificar o comportamento dos alunos e professores, além de trazer benefícios para as relações sociais no contexto de educação.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Cidadania e Etiqueta social De acordo com o dicionário Houaiss, cidadão é aquele que goza de direitos constitucionais e respeita as liberdades democráticas, ou seja, o indivíduo que, como membro de um Estado, usufrui de direitos civís e políticos garantidos pelo mesmo Estado e desempenha os deveres que, nesta condição, lhe são atribuídos. O conceito de cidadania (do latim, civitas, "cidade") tem origem na Grécia clássica, sendo usado então para designar os direitos relativos ao cidadão, aquele que vivia na cidade e ali participava ativamente dos negócios e das decisões políticas. Cidadania pressupunha, portanto, todas as implicações decorrentes de uma vida em sociedade (Stigar, 2010). A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social. (DALLARI, apud CAVALCANTI,)

Segundo Cavalcanti, a cidadania é construída e conquistada a partir da nossa organização, participação e intervenção na sociedade, ao fazermos isso, estamos contruíndo novas relações e novas consciências. Não é possível aprendê-la apenas com a teoria, através dos estudos e da leitura, é preciso exercitá-la no convívio diário, através das relações que estabelecemos com os outros, com o que é público e com o meio ambiente, perpassando por temas como a solidariedade, democracia, direitos humanos, ecologia e ética. Ética, do grego "ethos", quer dizer o modo de ser, o caráter. Os romanos traduziram para o latim como sendo “mos” – no plural, “mores” – que significa costume, sendo essa a origem da palava moral. As palavras “Ethos” (caráter) e “Mos” (costume), representam uma característica que é unicamente humana, um comportamento que não é natural, mas que é adquirido pelo hábito. Partindo da etimologia dessas palavras, a ética e a moral representam “uma realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem” (Cavalcanti). A vida do homem acontece a partir da convivência com outros, mas é nessa relação, também, que sugem os problemas e as questões morais, sobre como se portar ou agir em determinadas situações. Diariamente, nos deparamos com situações decorrentes de problemas morais a respeito das nossas decisões, escolhas, ações e comportamentos, sobre os quais realizamos “um juízo de valor entre o que socialmente é considerado bom ou mau, justo ou injusto, certo ou errado, pela moral vigente” (Cavalvanti). Porém, por não pensar criticamente a respeito das decisões tomadas, das escolhas,

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comportamentos e valores, naturalizamos a realidade social, política, econômica e cultural em que estamos inseridos, pelo hábito, costumes e tradições. A partir da noção de ética, o homem evoluiu em suas relações interpessoais, adaptando-se a sociedade e moldando-se ao ambiente. Isso pode ser visto nos bons modos, educação, gentileza, respeito, regras de etiqueta, indispensáveis para a convivência humana. Nas situações que esses elementos não se apresentam, é gerado um ambiente de hostilidade e aquele que foi o provocador tende a ser excluído, afastado do convívio social, pelos outros. De acordo com Ribeiro, a ética abrange três aspectos: a moral, a conduta e os costumes. A moral diz respeito a um conjunto de valores, de normas e de noções do que é certo ou errado, proibido e permitido, dentro de uma cultura; diz respeito a uma consciência coletiva e a valores que são construídos por convenções, as quais são formuladas por uma consciência social, o que equivale dizer que são regras validadas pela sociedade, pelo grupo. A conduta é o comportamento, ou procedimento, como o indivíduo age de fato; e os costumes estão relacionados as convenções sociais, são normas seguidas pela sociedade, mas que não tem um fundamento legal. Abrangem, entre outras, as normas de cortesia, de decência, de linguagem e as normas de etiqueta. Destacamos, aqui, a etiqueta social, que seria uma expressão dos principios e noções acima citados e está baseada no respeito ao próximo, na delicadeza, no bom senso, bons modos; um código que beneficia a convivência em grupo, a torna agradável. Historicamente, foi a partir do conceito de civilidade que a etiqueta social pôde ser observada e interpretada. Segundo Ossege, a etiqueta, a civilidade e os bons costumes levariam ao autocontrole nas relações, tornando-se um princípio de saúde intelectual e física. Erasmo de Roterdan foi o primeiro a perceber a necessidade e importância das regras de convivência, registrando o primeiro tratado sobre o tema no início do Século XVI. Esta obra foi considerada um marco na história do controle dos comportamentos e das emoções, “um manual de boas maneiras que contém um conjunto de regras e normas de conduta que regulam o comportamento entre os cidadãos, a fim de orientar e servir de indicativo de refinamento e civilidade” (Ossege, 2009). Durante o Século XIV, Versailles foi como uma escola de boas maneiras, a etiqueta era utilizada como instrumento do rei para manipular a corte, separando as pessoas desta classe das restantes. Na França do Século XVII, o conceito de civilidade significava o conjunto de atitudes e de comportamentos aceitos socialmente. A partir das sociedades democráticas, o termo etiqueta passou a significar normas sociais, regras de comportamento, boas maneiras, que é o conceito mantido até hoje (Pilla, apud Ossege, 2009). Observando as transformações pelas quais as sociedades passaram até agora, percebemos que cultura civilizada, bem-educada, é um processo cíclico de readaptação de normas e de códigos de

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conduta e as regras de etiqueta são uma parte indispensável para esse processo. Assim como as civilizações estão em constantes transformações, não existe um código de etiqueta definitivo. A etiqueta social é sinônimo de boas-maneiras, estilo e distinção. E, embora seja sua característica promover uma vida cotidiana mais harmoniosa, bem-estar nos ambientes sociais, domésticos e profissionais, a ela é dada pouca importância. Muitos ainda a vêem como fútil, pois tem uma visão muito superficial do que ela representa. Esta é uma oportunidade para mostrar que a cidadania e a etiqueta estão muito próximas, pois ambas nasceram com o intuito de promover uma melhor convivência entre as pessoas e que é possível seguir as regras de etiqueta social, uma vez que estas não são mais do que bom-senso e respeito para com o próximo e que ao aplicarmos no nosso dia a dia, poderemos melhorar nossas relações com as pessoas e com o ambiente que nos cerca.

Os dispositivos móveis hoje: o celular A partir de meados da década de 60, rápidas transformações tecnológicas, econômicas e sociais vêm ocorrendo na história mundial. A configuração atual coloca a informação e o conhecimento como principal riqueza desta nova sociedade. Durante a década de 70, a informatização da sociedade se estabelecia nas principais cidades ocidentais desenvolvidas e a popularização da internet, na década de 80, dá início a uma nova fase da sociedade informacional, fundamentada a partir do desenvolvimento da computação sem fio, popularizada pelos telefones celulares. As tecnologias de informação dão uma nova configuração à sociedade pós-moderna e a Era da Informação, caracterizada pela centralidade dos processos informacionais, passa agora por uma nova fase, proporcionada pelas tecnologias móveis digitais. Hoje, o mundo se conecta através de sistemas de redes que possibilitam melhor fluxo da informação e que modificam as formas de interação entre os indivíduos por meio de conexões sem fio, constituindo, assim, a Era da mobilidade (BRAGA, apud, SILVA 2009). O termo mobilidade, do latim mobilis, possui vários significados, entre os quais “fácil de mover”, “livre”, “não fixo”, “flexível”, “ágil”, “rápido”. O recurso da mobiblidade, associado as demais facilidades e conveniências obtidas com o uso dos aparelhos de comunicação sem fio, colocou o celular no centro da existência humana. Esse fato é é corroborado pelo crescimento explosivo da telefonia móvel em todas as regiões do globo, com alto índice de adoção nos mais diferentes países e camadas sociais, independente de sexo ou idade. Destacamos o celular como principal dispositivo móvel de comunicação e o que mais se expande em todo o mundo. De acordo com Moura Fé (2008), o telefone celular já superou o número de habitantes em várias regiões do planeta. Em 2007, havia um celular para cada dois indivíduos no

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mundo e, no mesmo período, o Brasil ultrapassou o Japão em número absoluto de unidades por pessoa, colocando-se como quinto maior mercado mundial. “A Tecnologia tem contribuído de forma ímpar para a evolução da Era da Mobilidade” e o celular, devido as suas características de conectividade e interatividade, têm contribuido para a mobilidade dos indivíduos (SILVA, 2009). Ele elimina as barreiras de tempo e espaço, tornando-se um elemento agregador, uma vez que possibilita que os indivíduos permaneçam num estado de conexão quase permanente. A invenção do celular, em 1947 nos Estados Unidos, mudou a forma como as pessoas passaram a se comunicar. Sua capacidade de ser portátil permitiu que essa comunicação se dê a partir de qualquer lugar que o indivíduo estiver, dentro de uma rede estabelecida por uma operadora de telefonia móvel, com outra pessoa que tenha algum aparelho de comunicação, seja ele portátil ou não. No Século XXI a internet se popularizou e os recursos oferecidos apenas para computadores e microcomputadores passaram então a ser disponibilizados para os aparelhos celulares, tornando esses dispositivos agora mais conhecidos pela sua multifuncionalidade, nos permitindo fazer videoconferências, ser usado como GPS, acessar a internet, instalar aplicativos – que estão constante atualização e disponíveis para os mais diversos modelos de aparelhos oferecidos no mercado atualmente; o que amplia ainda mais as possibilidades de entretenimento e comunicação. A conectividade se espalhou pelos diversos espaços urbanos, públicos e privados e está levando a rede para onde seus usuários estão, intensificando a interatividade social, antes restrita aos ambientes frequentados e às pessoas pertencentes a eles. “A disseminação de informações via telefone celular e a possibilidade de se manter permanentemente conectado à rede social alteraram de forma significativa a maneira como as pessoas convivem e trabalham na sociedade pós-moderna” (SOUZA e SILVA, apud SILVA, 2009). Pesquisas apontam para o fato de que o uso e o significado associado ao celular é determinado pelo ambiente social e cultural. Especificidades locais, dentre as quais as práticas e comportamentos relacionados ao consumo, que vai além da posse de bens, estabelecem modos de ser e de viver que interagem com a construção da subjetividade e geram a apropriações e reapropriações dessa tecnologia. Como exemplo dessas especificidades, Silva (2007) apresenta observações realizadas por Lasen, numa pesquisa realizada em três capitais européias – Madri, Londres e Paris – em que os ingleses usam o celular no modo silencioso com maior frequência que os espanhóis e que os motociclistas parisienses carregam o celular encostado ao rosto, dentro dos capacetes. É interessante destacar que em todas as cidades pesquisadas, foi observado que , mesmo sem usá-los, os indivíduos costumavam carregar seus aparelhos celulares a mão. Este comportamento, nos permite colocar o celular sob uma nova perspectiva, a da corporalidade, do aparelho como extenção do próprio corpo.

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Essa idéia é reforçada por Pellanda (apud MOURA FÉ, 2008) que apresenta que a ligação estabelecida pelos indivíduos com o celular é maior e mais individual que com o computador pessoal, uma vez que o aparelho está constantemente sendo “carregado junto ao corpo”. Mas ele vai além quando apresenta que a informação se torna “potencialmente onipresente”, num mundo onde todos querem se tornar oniscientes e, por consequência, onipotentes com a possibilidade de ter as informações em suas mãos. O celular se tornou capaz de convergir em um único dispositivo, comunicação, mídia, informação, entretenimento, que podem ser acessados em qualquer hora, de e em qualquer lugar. A facilidade de acesso a esses meios e a velocidade na qual estão sendo atualizados e trasnformados, estão deixando os usuários cada vez mais dependentes desses dispositivos: Agora, os indivíduos vivem numa espécie de phonespace (espaço do telefone), onde podem interromper e ser interrompidos a qualquer hora ou lugar e não têm possibilidade de voltar atrás, porque se tornam dependentes da conectividade e da flexibilidade que o celular representa. Em muitos casos, reestruturam suas vidas e hábitos pessoais ao redor do aparelho, que se torna a principal ponte para a rede de relacionamentos ‘temporária e espacialmente fragmentada’ que criaram via dispositivo. (Townsend,2000, apud MOURA FÉ, 2009)

O celular e a sala de aula A cultura digital (do latim, digitus, dedo), coloca nosso acesso ao conhecimento, ao lazer, ao trabalho e à comunicação, literalmente através dos dedos, pelo simples teclar, ou clicar. É possível que estejamos levando para nossas relações interpessoais, a maneira como nos relacionamos com a tecnologia. Da mesma forma que se troca de um canal de televisão para outro quando o interesse em determinado programa acaba, os alunos estão trocando de canal quando a fala do professor parece desinteressante, passando a conversar com o colega, ou se distraindo com alguma outra atividade, ou mesmo divagando em pensamentos, muito provavelmente distantes do assunto da aula. A democratização do uso do telefone celular é demonstrada pelo alto índice de aparelhos presentes em sala de aula. Ainda que as instituições de ensino proibam o seu uso em sala, muitos alunos mantêm seus telefones ligados, no modo silencioso ou não. “Como, em geral, os alunos universitários podem sair e entrar na sala quando querem, o telefone celular passou a ser uma variável importante no entra-e-sai dos alunos, com prejuízo evidente da qualidade das aulas e do seu aproveitamento pelos alunos” (PENA, 2002).

Alguns municípios brasileiros criaram e implantaram leis que proibem o uso do aparelho celular no ambiente de ensino, a fim de sanar problemas como comprometimento da concentração; diminuição do rendimento escolar; distrações; exibicionismo; trocas de mensagens, jogos, colas eletrônicas que afetam o desempenho escolar; desrespeito aos professores. Entretanto, o controle de todos os aparelhos que são utilizados pelos alunos não se mostrou muito viável na prática. O que podemos aproveitar

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dessas leis, é chamar ainda mais atenção dos alunos sobre o quanto esse assunto é sério e que assim deve ser tratado. O uso do aparelho de comunicação móvel em ambiente educacional vem sendo discutido entre os educadores. Por um lado, o uso indevido dentro da sala de aula, tira a atenção e gera incômodo aos outros alunos e ao professor. Mas por outro, pode contribuir para o aprendizado dos alunos, permitindo que eles gravem a aula do professor, acessem a internet para pesquisa, se constituindo, dessa forma, como ferramenta pedagógica e contribuindo para o processo ensino-aprendizagem (ROSA, 2011). A Intel, companhia líder mundial em inovação informática, realizou entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011 uma pesquisa survey online sobre o estado da mobile etiquette (em tradução livre: etiqueta para dispositivos móveis) nos Estados Unidos. A partir de uma amostra de representação nacional de dois mil adultos com idades a partir de dezoito anos, sendo parte destes professores e parte pais de crianças com idades entre oito e dezessete anos, eles investigaram como a tecnologia estava sendo usada no ambiente educacional e o impacto da etiqueta moderna no que diz respeito aos estudantes. Aproximadamente a totalidade dos professores concordaram que, se usada de forma apropriada, a tecnologia amplia a experiência educacional dos estudantes; três quartos concordaram que, devido a rápidas transformações da tecnologia atualmente, aprender sobre etiqueta para tecnologias móveis está se tornando tão importante quanto aprender matemática ou ciências. A grande maioria dos professores gostaria que os estudantes praticassem a “etiqueta móvel” e unanimamente acreditam que os pais precisam ensinar a seus filhos melhores maneira para usar os dispositivos móveis. Por outro lado, a grande maioria dos pais afirma que a escola deve prover aos estudantes, aulas sobre como e quando a tecnologia deve ser usada. O telefone celular é a personificação da comunicação pós-moderna, entretando ocupa um lugar modesto na literatura. A seguir, discutiremos alguns dados levantados a fim de corroborar com as informações levantadas a partir de uma revisão de literatura e até aqui discorridas.

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METODOLOGIA A partir de observações informais em sala de aula na instituição de ensino superior Universidade Potiguar, os pesquisadores puderam perceber que alguns dos colegas de classe não usavam o modo silencioso em seus celulares. Alguns chegavam a atender as chamadas dentro de sala, durante a aula e na presença do professor. Era considerável o número de vezes que os alunos mexiam em seus aparelhos, para checar a hora, responder a mensagens, entre outros. Percebido que o fato de que usar o celular durante a aula é um dos principais causadores da desatenção no ambiente acadêmico, iniciou-se uma pesquisa sobre o uso do celular em nesse ambiente, a fim de investigar, na literatura atual, se esse comportamento ocorria de forma generalizada ou se seria uma caracteristica local. Constatou-se que esse tipo de comportmento está sendo relevantemente estudado, tendo como objeto principal, os alunos do ensino fundamental e médio. A pesquisa no âmbito da etiqueta social foi bastante restrita, já que o material disponível sobre como melhor utilizar o celular é bem generalista e resumido. A fim de corroborar com os dados encontrados a partir do levantamento bibliogáfico, foi aplicado um questionário fechado (anexo 1), com respostas de sim ou não relacionadas ao uso do aparelho celular dentro da sala de aula, para uma amostra, escolhida por conveniência, de alunos da Universidade Potiguar. Uma observação sistemática (anexo 2) também foi realizada em duas turmas, na busca de verificar as informações obtidas através dos questionários. A primeira aplicação do questionário, com 9 alunos e 1 professor, serviu de teste para avaliar a relevância, compreenção e qualidade das perguntas escolhidas. Com essas informações, o questionário foi reescrito e, então, aplicado com 50 alunos – estudantes dos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Design Gráfico, Direito, Gastronomia, Psicologia, Relações Internacionais, de diferentes períodos, com uma média de 21 anos de idade, variando de 17 a 53 anos – que foram abordados na praça de alimentação da Universidade, durante o intervalo do turno da manhã. O questionário continha 8 perguntas sobre como o aluno usava o celular enquanto estava na instituição e em sala de aula e sobre o comportamento de seus colegas de classe. Unanimamente, os respondentes possuíam aparelho celular e praticamente todos o levavam para a faculdade e o mantinham ligado enquanto estavam em aula; 88% usavam o telefone no modo silencioso, Praticamente todos já presenciaram um telefone tocar durante a aula; Pouco mais da metade (54%) já atendeu o celular em sala, durante a aula; Todos disseram ter visto alguém atender o telefone em sala durante a aula; e 30% dos respondentes disseram se sentir incomodados com o fato do telefone tocar e/ou alguém atendê-lo em sala de aula.

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No espaço destinado a comentários, obtivemos, na maioria das vezes referente a última questão, respostas do tipo: “Acho que todos deveriam ter consciência de desligar seus aparelhos não só em sala de aula como tbm [sic] qualquer local público”; “O fato de atenderem, ou deixarem tocar os celulares em sala de aula, atrapalham a aula pois sempre desviam a atenção. Também acho um desrespeito aos alunos e professores”; “Quanto a última questão, acho que o telefone tocar em sala é um encomodo [sic], mas atender a ligação pode não ser desde que a pessoa se retire e fale fora da sala, é preciso ser discreto”; “Só se a pessoa for muito incoveniente, chegando a atrapalhar a aula”. Das observações, uma ocorreu na turma de Publicidade e Propaganda do primeiro período, no turno noturno, com aproximadamente 40 alunos presentes em sala, realizada por dois pesquisadores do grupo. A segunda foi com uma turma de Psicologia, também no turno da noite, com aproximadamente 15 alunos em sala, realizada por um dos pesquisadores do grupo. É necessário fazer uma ressalva sobre a segunda observação, pois a professora comentou o assunto da pesquisa e da atividade da pesquisadora ao apresentá-la para a turma, o que pode ter gerado uma contaminação nos resultados dessa observação. A inesperiência dos pesquisadores com a pesquisa científica, não os preparou para minimizar os efeitos de variáveis nessa atividade. Dos resultados das observações, percebeu-se que grande parte dos alunos, de ambas as turmas, mantém seus aparelhos sobre a carteira, utilizam o aparelho para conversar com colegas de classe escrevendo mensagens e passando uns para os outros e, com frequencia, utilizam o aparelho como relógio, checando a hora várias vezes durante a aula. É possível que eles também tenham respondido a mensagens recebidas ou que tenham acessado redes sociais, mas nenhuma pergunta sobre essas ações foi feita para os alunos observados. Com base nesses dados, foi constatado que a maioria das respostas se aproxima muito do que foi encontrado na literatura e que, de fato, o celular é muito utilizado durante as aulas e pode atrapalhar o desempenho não só do aluno que se utiliza dele, mas também do professor e dos outros colegas de classe. A proposta que originou a pesquisa era criar uma peça gráfia, cujo tema geral era cidadania. Para solucionar a problemática discorrida neste artigo, foi criada uma campanha com o slogan “Silencioso Já!”, cujo objetivo é alertar sobre o uso do celular em sala de aula e conscientizar os alunos e professores da UnP. A peça escolhida como meio de comunicação foi o cartaz, já que este poderia ser exposto dentro do ambiente da instituição.

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A PEÇA GRÁFICA O cartaz, além de ser um meio de divulgação comum no cotidiano, também é um marco na história da propaganda. O primeiro registro data de 1454, feito em manuscrito e sem imagens. Com o passar do tempo, ele se tornou o principal meio de divulgação de idéais, acontecimentos e venda de produtos. A introdução das cores e imagens ocorreu em 1893. Hoje, sua eficência não fica atrás de veículos como revistas, jornais e televisão. Segundo Moles, o cartaz possui seis funções básicas. Para esse estudo, destacamos as funções de propaganda e de educação. Na função de propaganda, ele se propõe a convencer através da argumentação e é explícito em sua linguagem, seja pela imagem ou pelo texto. A função educadora é responsável por transmitir elementos da cultura para a massa e tem o poder de possibilitar ao indivíduo uma autoformação através da comtemplação, ainda que esteja num nível fraco, praticamente passivo. Dito isso, justificamos a escolha do formato de cartaz para veicular a campanha. A campanha “Silencioso Já!” foi criada a partir dos dados obtidos com a pesquisa dentro da instituição. Percebeu-se a necessidade de concientizar os alunos da instituição, de forma que eles pudessem se mobilizar e incentivar uma mudança de comportamento com relação ao uso do celular em sala de aula. Sabendo que mudanças no comportamento das pessoas, não ocorre de forma rápia, pensou-se que essa conscientização poderia acontecer por etapas, mostrando, inicialmente que o celular no silêncioso favorece um melhor aproveitamento do momento de aprendizagem e, a partir daí, novos insights poderiam surgir fazendo com que, gradativamente, fosse possível obter uma melhor relação com a tecnologia nos ambientes públicos. A inspiração nasceu a partir da campanha “Ctrl + C Nada + V”1, criada em 2009 pelos alunos de Design Gráfico da mesma instituição. Como primeira referência, pensou-se na aapresentaçào do celular no modo silencioso e seus ícones, surgindo, assim a logo que se tornaria o selo da campanha. A logo é composta por um ícone de celular que tem uma nota musical representada em seu visor. Ele está dentro do símbolo de proibido (um círculo de contorno vermelho e fundo branco, cruzado por uma faixa diagonam, também vermelha), cuja tarja diagonal corta propositalmente a nota musical, sinalizando a proibição dos sons emitidos pelo telefone, representação que também indica tipicamente o modo silencioso. Acima e a baixo dessa ilustração estaria à temática “Campanha Silencioso Já!”, tendo um destaque diferenciado ao termo “já!”, pela aplicação da cor vermelha e

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Disponível em: < http://designmirador.blogspot.com.br/2009/12/ctrl-alt-del.html>

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estilizado como se tivesse sido carimbado, na intenção de atrair a atenção do publico, remetendo a urgência do assunto, levando todos a se mobilizarem para por em prática a campanha. As referências para o modelo do cartaz vieram através de buscar na internet por exemplos de campanhas de conscientização, sobre os mais diversos assuntos. Não foi encontrado nenhum exemplo de campanha já veiculada sobre o uso de celular em sala de aula, mas sobre o uso no trânsito. É possível perceber que esses cartazes seguem um formato similar, apresentando as mesmas características: uma fotografia cujo teor é de grande impacto, seja pelos elementos, seja pelas cores, seguida de uma redação curta e que complementa a informação transmitida pela imagem. Esse modelo surgiu no início dos anos 50, nos Estados Unidos, através da agência de publicidade “Doyle Dane Bernbach”. Seu marco foi remover “‘o ponto de exclamação da publicidade’ e a fez conversar com inteligência com os consumidores”. A principal característica das suas peças era reduzir-se aos elementos básicos necessários para transmitir a mensagem: “uma imagem grande, impactante, uma chamada concisa de forte peso tipográfico, e um texto que reforçasse sua afirmação com redação factual e em geral divertida em lugar de elogios suspirantes e superlativos insignificantes” (Meggs e Purvis, 2009). Com esses elementos em mente, foi feita uma nova pesquisa, para buscar elementos significantes para compor o cartaz dessa campanha. Partindo do slogan “Silencioso Já!”, chegou-se aos cartazes de sinalização de silêncio de hospitais, os quais geralmente possuem uma figura feminina sinalizando com a mão um pedido de silêncio, cuja mensagem é tão clara que torna desnecesário algum texto auxiliar para complementar a informação. Nesse projeto, foi simulada a pose do cartaz acima descrito, no qual um aluno da instituição fazia o sinal de silêncio portando um aparelho celular na mesma mão, destacando o uso alarmante do celular ao mesmo tempo que tramsmite um pedido de silêncio. Essa imagem tem como elemento de fundo uma sala de aula, na qual é possível observar a figura do professor exercendo seu papel de educador, junto a seus alunos. A redação está dividida em três partes. A primeira aparece como título, apresentando o leitor ao problema: “Celular na aula, não dá!”. A segunda parte é a resposta para a primeira, indicando a solução para esse problema: “Silencioso Já!”, que é, também, o slogan da campanha. E por último, temos uma redação auxiliar que complementa e reforça as duas anteriores, expandindo a informação e explicando por que o leitor deve mudar o seu comportamento: “O celular pode causar interferências e interupções na aula. Coloque no modo Silencioso e colabore para um melhor ambiente de aprendizado”. Seguindo este último conceito, está a redação que acompanha o selo da campanha “Para um uso mais consciente do celular”.

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A tipografia utilizada no selo foi Cooper Std Black, que possui serifas arrendodadas; classificada como old-style, remete ao modelo utilizado nas antigas prensas. Sua estrutura mais pesada chama a atenção do leitor pela dimensão, mas não se torna agressiva e aproxima o leitor por causa do seu formato arredondado. O “[Já!]” foi escrito com as fontes Misproject, nas chaves, e Dirty Ego, no texto, cujo estilo sujo permitiu transparecer as falhar e manchas deixadas pelo carimbo no papel. No cartaz, foi utilizada Boris Black Bloxx, na primeira parte, Open Sans Extrabold na segunda. Ambas as fontes seguem o mesmo princípio da tipografia utilizada no selo da campanha, um estilo forte, em negrito e sem serifas para reforçar o peso dos caracteres. Na terceira parte e na frase complementar do selo, foi utilizada a Open Sans Regular. Descamos o detalhe da palavra “Silencioso”, que foi marcada em negrito, para se destacar no texto. A redação está em preto, pois se destaca em contraste com o fundo. No selo foi utilizado o amarelo o preto e o vermelho, seguindo os mesmos princípios de cores utilizadas nos sistemas de sinalização de trânsito: o amarelo que capta a atenção e o vermelho que reforça o proibido. No cartaz, o branco, neutro, permite dar destaque as fotografias. O preto dos tipos reforça o peso e atrai a atenção do leitor, ao mesmo tempo que não atrapalha a leitura. O vermelho na segunda parte do texto atrai o leitor para o cartaz, quando visto de longe, e destaca a informação que se deseja gravar na mente do observador.

CONCLUSÃO Podemos perceber o quanto a prática da cidadania e da ética são importantes para a convivência em sociedade e que a etiqueta social foi o meio encontrado para colocar esses conceitos no cotidiano, tornando esse convívio mais agradável. Os benefícios advindos com a vida moderna, principalmente com as evoluções e desenvolvimentos tecnológicos, tornaram o celular uma ferramenta quase que indispensável para o dia a dia das pessoas. Infelizmente, a banalização do uso dessa ferramenta tão prática fez com que a sociedade adquirisse hábitos e comportamentos inadequados, que repercutem para todos ao seu redor. Os jovens, que hoje já nascem imersos nesse universo tecnológico digital e virtualizado, reproduzem esses comportamentos, adquiridos a partir do convívio com seu circulo social, tornando urgente uma discusão acerca dessa passividade para que esse quadro possa ser revertido. No ambiente educacional, esses hábitos e comportamentos inadequados a respeito do uso do telefone celular se agravam. Portanto, espera-se que essa campanha possa atingir a todos os atores do ambiente educacional, conscientizá-los sobre as práticas de etiqueta social, principalmente com relação ao uso do celulare em ambientes públicos.

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ANEXO 1

CST – Design Gráfico Projeto Interdisciplinar – 1ª Série B Questionário sobre o uso do celular em sala de aula 1)

Você tem celular?

 Sim 2)

Você costuma trazer o seu celular para a universidade?

 Sim 3)

Não

Já viu alguém atender o telefone dentro de sala, durante a aula?

 Sim 8)

Não

Já atendeu seu telefone em sala, durante a aula?

 Sim 7)

Não

Já presenciou algum telefone celular tocar (ligação ou mensagem) durante a aula?

 Sim 6)

Não

Você mantém seu celular no modo “Silencioso” enquanto está em aula?

 Sim 5)

Não

Você mantém seu celular ligado enquanto está em aula?

 Sim 4)

Não

Não

Você se incomoda com o fato do telefone tocar durante a aula e/ou de alguém atender o telefone em sala?

 Sim

Não

Comentários:____________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________________ ___________________________ Idade: _______ Instituição: _________________________________ Curso: _____________________ Período: _______ Obrigado pela participação!

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ANEXO 2

CST – Design Gráfico Projeto Interdisciplinar – 1ª Série B Roteiro de observação sobre o uso do celular em sala de aula Horário da observação Início: Fim: Turma: Atividade

Número de vezes que o aluno utiliza o aparelho celular.

Número de vezes/alunos que saem de sala para atender o telenone celular.

Número de vezes que o telefone celular toca* em sala de aula. *ligação ou mensagem

Há algum tipo de reação da turma com relação ao toque?

Outros comentários:

Marcações

Comentários

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ANEXO 3

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ANEXO 4

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ANEXO 5

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REFERÊNCIAS

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