Etnias e alianças interétnicas entre indígenas (e não indígenas) na cidade de Manaus, Amazonas

June 14, 2017 | Autor: E. Mainbourg | Categoria: Indigenous Studies
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G.1.7 Etnologia Indígena

ETNIAS E ALIANÇAS INTERÉTNICAS ENTRE INDÍGENAS
(E NÃO-INDÍGENAS) NA CIDADE DE MANAUS, AMAZONAS

Águido Akell Santos de Carvalho1
Evelyne Marie Therese Mainbourg2
Camila Xavier Sá Peixoto Pinheiro3
Gleici Jeane Sena Cruz3
Érico Jander da Silva Lopes4
Maria Ivanilde Araújo4

1. Acadêmico - Departamento de Ciências Sociais/UFAM, Manaus
2. CPqLMD/FIOCRUZ, Manaus
3. Acadêmica - Departamento de Estatística/UFAM, Manaus
4. Departamento de Estatística/UFAM, Manaus

Introdução:

Este estudo faz parte da análise dos resultados de uma pesquisa sobre o
acesso ao SUS das populações indígenas de Manaus realizada em 2007
(PPSUS/FAPEAM).

Objetivo:
O objetivo aqui foi de mostrar a maneira como se combinam as etnias e etno-
regiões de origem dos entrevistados, cônjuges e pais, acrescentando a
categoria não-indígena, de forma a fazer um retrato etnográfico da
população em estudo e identificar eventuais modificações entre uma geração
e outra.

Metodologia:
Trata-se inicialmente de um estudo transversal realizado a partir de uma
amostragem aleatória estratificada proporcional por bairro, representativa
da população indígena residente em Manaus (estimada em 9.294 indivíduos em
2005). Os questionários foram aplicados por 17 indígenas (homens e
mulheres) representantes das associações indígenas da cidade de Manaus e
capacitados para tal. A identificação dos domicílios foi feita pelos
próprios indígenas através de relações de parentesco ou indicação de
endereços por instituições indigenistas. A partir dos 734 questionários
individuais válidos de indígenas entre 0 e 2 anos e maiores de 10 anos,
foram utilizadas as seguintes variáveis: estado civil, sexo, etnia (além da
categoria "não indígena"), assim como etnia do pai, da mãe e do esposo/a; e
foram realizados cruzamentos entre essas variáveis. Chamamos de unidos: os
casados, os amigados e os divorciados; ou seja os que, em algum momento e
de alguma forma, foram unidos. Os termos de casados, casar e casamentos são
utilizados, por extensão, com esse sentido.

Resultados:

Os indígenas entrevistados

Foram observadas, entre os 772 entrevistados, 34 etnias apresentadas na
Tabela 1.

Tabela 1 – Distribuição étnica dos indígenas entrevistados, por etno-região
de origem, Manaus, 2007.

"Marau-A"Tapajós-Made"Negro "Solimões "Juruá-Jutaí-Pu"Outras "
"ndirá "ira " " "rus-Javari "regiões "
"160 "24 Mura "124 Tukano "70 Ticuna "27 Apurinã "4 Macuxi "
"Sateré-"18 Munduruku"70 Baré "46 Kocama "11 Mayoruna "3 Wapixana "
"Mawé " "43 Desana "14 Kambeba "6 Katukina "1 Bakairi "
" " "37 Tariano "5 Kaixana "6 Kulina "1 Guarani "
" " "14 Baniwa " "2 Marubo "1 Kaxinawa "
" " "13 Arapaso " "1 Kanamari "1 Parakana "
" " "10 Tuyuka " " "1 Terena "
" " "9 Piratapuia " " "1 Urucu "
" " "7 Kuripaco " " "1 Wai-Wai "
" " "1 Barasana " " " "
" " "1 Miriti " " " "
" " "Tapuia " " " "
" " "1 Wanano " " " "
"160 "42 "330 "135 "91 "14 "


Foi observada uma identidade entre a etnia do sujeito e a etnia do pai,
conforme esperado, tendo em vista a regra do sistema patrilinear. Mas, cada
vez que o pai é não indígena, a etnia declarada pelo sujeito é a etnia da
mãe.

Os casamentos entre indígenas

A tradicional exogamia dos povos em estudo mostra-se confirmada dentro das
etno-regiões de origem. Porém, vale informar que em 41,68% dos casos, a
etnia da mãe é idêntica à etnia do pai (tendo 1,36% sem informação) e em
25,08% das uniões, a etnia do esposo/a é idêntica à etnia do sujeito (mas
com 15,46% dos casos sem informação quanto ao esposos/a), evidenciando uma
endogamia relativamente importante.



Os casamentos com não indígenas

25,54% dos entrevistados indígenas que são ou foram casados declaram ter o
cônjuge não indígena. São 61 mulheres indígenas unidas com um homem não
indígena e 21 homens indígenas unidos com uma mulher não indígena, ou seja:
3 vezes menos. Há 59 pessoas indígenas unidas (com indígena ou não
indígena) cujo pai ou mãe é (ou era) não indígena, o que representa 18,38%
do total de indígenas unidos; e 140 pessoas indígenas solteiras (inclusive
as crianças) cujo pai ou mãe é (ou era) não indígena, o que representa
33,89% do total de indígenas solteiros ou crianças, ou seja: 2,3 vezes mais
do que para os indígenas que são ou foram casados. Existem então mais
uniões com não-indígenas na geração atual do que na anterior.

As etnias nos casamentos com não indígenas

As uniões não-indígena/indígena relativas aos entrevistados ocorrem com 14
etnias, sendo mais com as etnias Sateré-Mawé (34,14%), Baré (rio Negro)
(13,41%) e Tukano (rio Negro) (9,75%). Há pouca diferença quando se compara
o caso dos homens ao das mulheres não indígenas, quanto à etnia do cônjuge,
pois essas mesmas percentagens são observadas quando se trata de Sateré-
Mawé ou Tukano. Porém, não é o caso para a etnia Baré. Entre as mulheres
casadas com um não indígena, 8,19% são Baré. Entre os homens casados com
uma mulher não indígena, 28,57% são Baré.

Considerando essas mesmas etnias, podemos observar,no que diz respeito aos
pais dos entrevistados, que a diversidade étnica é bem maior quando é a mãe
que casou com um homem não indígena (22 etnias) do que quando é o pai que
casou com uma mulher não indígena (10 etnias). Mas, entre os pais que
casaram com uma não indígena, 34,88% são Sateré-Mawé, 9,30% são Baré e
nenhum é Tukano. E entre as mães que casaram com um não indígena, 31,41%
são Sateré-Mawé, 17,30% são Tukano e 7,05% são Baré. A percentagem de
uniões de não indígenas com Sateré-Mawé parece ter se mantido para homens e
mulheres, enquanto a das uniões com mulheres Tukano diminuiu da metade e as
com homens Baré triplicou e com homens Tukano passou de 0 para 9,52%,
diversificando-se as etnias nas alianças mais recentes.

Conclusão:

Em cada 2 ou 3 uniões dos pais dos sujeitos, 1 foi com uma pessoa de mesma
etnia e em cada 4 uniões dos sujeitos, 1 é com uma pessoa de mesma etnia.
Deve ser feito um estudo para cada etnia. Um em cada 4 entrevistados
indígenas tem ou teve cônjuge não indígena. E um terço das uniões com uma
pessoa não indígena ocorre com uma pessoa da etnia Sateré-Mawé. Um em cada
5 indígenas casados tem pai ou mãe não indígena. Um em cada 3 indígenas
solteiros (inclusive crianças) tem pai ou mãe não indígena. Observa-se uma
diversificação das etnias das pessoas com quem se casa que não se limita ao
aumento do número de casamentos com não indígenas. Esses resultados
configuram uma nítida miscigenação das populações indígenas entre elas, mas
principalmente com as não indígenas.

Instituições de fomento/apoio: FAPEAM e CNPq através do PPSUS.

Palavras-chave: Etnias, Etno-Regiões, Não-Indígenas, Uniões, Manaus.

E-mail para contato: [email protected]
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