Evangelismo Direto: A Internet Como Ferramenta de Mobilização e Discipulado

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Por Silvano Barbosa, Ph.D., Candidato

FERRAMENTAS PARA A MOBILIZAÇÃO

A

igreja já aprendeu a ir para a rua. Agora precisamos aprender a entrar na sociedade. Como? Oferecendo serviços relevantes às comunidades ao redor das nossas igrejas e instituições. Para fazermos isso, provavelmente precisaremos utilizar a internet, pois atualmente essa é a ferramenta mais usada para manter comunicação direta com as pessoas, onde quer que elas estejam. Não vamos abandonar os métodos evangelísticos que temos utilizado até aqui. Ao contrário, vamos utilizá-los ainda mais à medida que aplicarmos essa nova abordagem. O objetivo deste artigo é oferecer uma proposta de como esse processo pode ser desenvolvido.

Evangelismo Direto no Adventismo no Brasil Quando os líderes da “Comissão de Missões Estrangeiras” enviaram os primeiros missionários para o Brasil nos anos 1890, eles tinham opiniões diferentes quanto a melhor metodologia para promover o adventismo. L. C. Chadwick era favorável a utilizar a assistência de saúde como uma cunha. William Spicer propôs escolas como agências evangelísticas. W. C. White sugeriu oferecer aulas de inglês, alemão e francês para alcançar aqueles que nunca viriam a um culto protestante. A Comissão decidiu que uma abordagem altamente diversificada seria impossível naquele momento e direcionou a maioria dos recursos financeiros para o evangelismo direto.1 A aplicação deste conceito foi feita através da distribuição de literatura seguida de evangelismo público.2 Esse método já vinha sendo utilizado no adventismo desde a época das reuniões campais do movimento milerita. De fato, num país cristão com liberdade religiosa como o Brasil, o método mais apropriado para promover o adventismo seria ir diretamente às pessoas e apresentar a mensagem de Deus para elas. Este conceito não mudou ao longo de todo o século XX3 e continua sendo empregado atualmente.4 Entretanto, ao mesmo tempo que fizemos evangelismo direto também pregamos a mensagem utilizando uma abordagem indireta.5 De fato, muitas vezes mal havíamos iniciado o trabalho em uma área e sentíamos a necessidade de diversificar a nossa abordagem ao público, pois

diversificar, com o objetivo de aplicar uma abordagem integral, tem sido uma característica central do adventismo.6 Foi dentro desse contexto que a nossa publicadora, as nossas escolas, hospitais, rádios, TV e o recente instituto de tecnologia floresceram. Acredito que a combinação destes dois conceitos - ir diretamente às pessoas, utilizando uma abordagem indireta - será ainda mais crucial agora, considerando as características da sociedade à medida que entramos cada vez mais no século XXI. Evangelismo Direto, Abordagem Indireta Alguma vez você já se perguntou como o Brasil se tornou um país predominantemente católico? Embora o número de fiéis esteja diminuindo, ainda hoje 123 milhões de pessoas dizem pertencer ao catolicismo, tornando o Brasil o país com o maior número de católicos no mundo. Como eles conseguiram fazer isso? Fazendo evangelismo direto, utilizando uma abordagem indireta.7 Em 1551, os missionários jesuítas iniciaram a evangelização do Brasil. Manoel da Nóbrega exerceu um papel de destaque entre os primeiros missionários. Ele chegou ao Brasil em 1549, e em 1552 já havia estabelecido o Colégio Jesuíta de Salvador para ensinar português e religião.8 Os jesuítas perceberam o dom e o gosto musical dos índios e começaram a utilizar a música para embelezar a liturgia e para ensinar o catequismo. Os pontos centrais da doutrina católica eram transmitidos na forma de música de maneira que as crianças aprendiam facilmente e eram capazes de repeti-los em qualquer lugar.9

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A tenda de evangelismo só nos permitia alcançar diretamente aqueles que vinham até nós. Embora os jesuítas viessem da elite intelectual e da nobreza das grandes cidades da Europa, eles se adaptaram às condições de vida e formas de pensar dos nativos. Eles ensinaram os índios a cultivar cereais, frutas e vegetais, a procriar animais e a comercializar obras de artesanato. Os jesuítas também ensinaram os índios a explorar a floresta e introduziram o uso de ferramentas de ferro. As mulheres foram ensinadas a tecer, tinturar e utilizar a lã. Essas técnicas resultaram em grande progresso econômico e foi um fator determinante para o sucesso das missões.10 Ao mesmo tempo, juntamente com esta abordagem indireta, os jesuítas faziam evangelismo direto. Eles levavam cerca de dois anos para aprender a língua local e buscavam a conversão dos índios pregando sermões, mostrando boas obras e dando um bom exemplo.11 O padre Vieira, por exemplo, que iniciou o seu ministério em 1653 no Pará,12 era reconhecido pela sua extraordinária capacidade oratória. Eles acreditavam que a verdadeira religião deveria ser ensinada através da “persuasão da mente por meio de argumentos racionais e uma pressão gentil da vontade”13. E foi assim que, quando os primeiros missionários adventistas chegaram ao Brasil, eles encontraram um país católico. Contudo, exemplos de evangelismo direto utilizando uma abordagem indireta também podem ser encontrados dentro do adventismo na atualidade, principalmente em territórios predominantemente hindus, muçulmanos e budistas, e em áreas altamente secularizadas.14 Por viverem entre pessoas que não aceitam, não querem, ou acham que não precisam da mensagem cristã, a igreja está sempre desenvolvendo novas formas de despertar o interesse destas pessoas a fim de ter a chance de pregar o evangelho. Na Índia, por exemplo, o pastor Ravi Gill, presidente da associação Madhya Bharat, com sede em Jaipur, aponta que uma das for-

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mas mais eficazes de pregar o Evangelho em seu território é através da mensagem de saúde. Adicionalmente, os seus projetos evangelísticos incluem: (1) lavanderia pública, onde as pessoas podem lavar e passar as suas roupas; (2) fábricas de pequeno porte para a produção de cestas, corte e costura, confecção de potes, materiais de pesca e produção de pão; (3) centros de educação de mulheres e (4) centros de educação infantil.15 Na Mongólia, equipes de missionários de curta duração vindos dos Estados Unidos, Austrália e, recentemente, do Brasil, oferecem atendimento médico, exame oftalmológico com doação de óculos, fisioterapia, aulas de inglês, corte e costura e outros serviços sociais. Os voluntários retornam aos mesmos locais várias vezes, como forma de preparação do território para uma futura série de pregações evangelísticas.16 No Brasil, de alguma forma e até certo ponto, temos integrado o conceito de evangelismo direto utilizando uma abordagem indireta.17 Contudo, recentemente o nosso país tem passado por profundas mudanças sociais. Se não nos adequarmos à nova realidade, estaremos trabalhando como alguém que está enviando um lindo cartão de natal a um amigo que já mudou de endereço!18

Nas últimas décadas a população do Brasil mais do que dobrou de 90 milhões em 1970 para 200 milhões em 2010. Em 1970, 56% da população vivia em áreas urbanas. Em 2010, mais de 84% das pessoas passaram a morar em áreas urbanas. Atualmente, o número de católicos diminuiu de 92% em 1970 para 65% em 2010, e o número de pentecostais, pessoas sem religião, adeptos do hinduísmo, budismo, islamismo, adeptos do espiritismo e candomblé tem aumentado constantemente.19 Quando iniciei o ministério, meu primeiro sermonário de evangelismo tinha noventa sermões. Atualmente, qual foi a última vez que você ouviu falar de alguém que esteja fazendo uma série de evangelismo de noventa noites? Portanto, considerando as transformações no estilo de vida e formas de pensar da sociedade cada vez mais urbanizada e secularizada em nosso país, qual seria a forma mais apropriada de integrarmos o conceito de evangelismo direto, utilizando uma abordagem indireta, no século XXI? Evangelismo Direto, Abordagem Indireta no Século XXI: A Tripla Convergência Em seu livro The World is Flat (O Mundo é Plano), o ganhador do prêmio Pulitzer por três vezes, Thomas Friedman, apresenta uma breve história do século XXI e explica como o mundo passou a ter as características atuais. Friedman sugere que um dos fatores de maior relevância foi o que ele define como a “Tripla Convergência”20. A primeira convergência foi a integração de vários fatores21 que tornaram possível a criação de uma plataforma global de compartilhamento de conhecimento e trabalho em tempo real, independentemente da geografia e distância, viabilizada através da internet.22 A segunda convergência deve-se ao fato de que uma quantidade cada vez maior de profissionais de diferentes áreas, com diferentes

qualificações, já está confortável com essa nova realidade e tem desenvolvido um conjunto de habilidades e práticas que nos permite explorar cada vez mais as possibilidades do mundo interconectado.23 Por isso, a cada dia mais empresas e indivíduos se adaptam rapidamente e passam a utilizar essas oportunidades. A criação do Whats app e a sua utilização por mais de 100 milhões de brasileiros é um exemplo disso.24 A terceira convergência é resultado da inserção repentina de um número cada vez maior de pessoas nesse novo contexto. Em todo o mundo, mais de 3 bilhões de pessoas, de repente, passaram a ter acesso a essa nova conjuntura e foram habilitadas a competir e colaborar de maneira mais igual, horizontal e com ferramentas mais baratas do que nunca. A Tripla Convergência transformou o mundo para sempre e agora nos permite fazer evangelismo de maneira mais pessoal e abrangente do que em qualquer outra época. Esta é a nova realidade e nós podemos, e precisamos, nos adaptar. O Brasil tem cerca de 140 milhões de usuários da internet em 2016.25 Este número representa 66,4% da população do país, e continua crescendo. Adicionalmente, estima-se que 83,7 milhões de pessoas

A internet nos permite alcançar diretamente as pessoas, onde quer que elas estejam.

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utilizam a internet através do celular no Brasil.26 Esta tendência mundial fez com que o novo CEO da Microsoft adotasse a estratégia “mobile-first, cloud-first” (móvel-primeiro, nuvem-primeiro).27 A tenda de evangelismo só nos permitia alcançar diretamente as pessoas que vinham até nós, normalmente na periferia das cidades. A internet nos permite ir diretamente às pessoas e manter comunicação com elas na periferia ou no centro, no bairro ou no condomínio, em casa, no trabalho, na rua ou no lazer, sejam elas ricas ou pobres, altamente instruídas ou sem qualquer instrução formal. Contudo, não basta simplesmente ter acesso às pessoas. A comunicação só será estabelecida se as pessoas nos escolherem, se estivermos oferecendo algo que

elas estejam precisando. Como fazer isso? A receita é antiga, mas não existe outra! Jesus veio oferecendo serviços: “Ensinando, pregando e curando” (Mat. 4:23), “Ganhando a confiança, mostrando simpatia e suprindo as necessidades” das pessoas.28 Para aproveitarmos as possibilidades que o mundo interconectado nos oferece e termos a chance de mantermos comunicação direta com as pessoas, precisamos usar a internet para oferecer soluções para as necessidades delas. Não tenho a pretensão de apresentar uma resposta completa e definitiva para esse desafio. Ao contrário, acredito que, à medida que uma quantidade cada vez maior de pessoas começar a pensar nesta direção, surgirão inúmeras formas de colocarmos este conceito em prática. Apresento abaixo uma sugestão.

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(1) responder as perguntas que as pessoas estão fazendo, (2) localizar onde essas perguntas estão sendo feitas e (3) oferecer os serviços que as pessoas estão precisando. No momento em que a pessoa fizer a busca, o aplicativo mostrará no mapa todas as localidades daquela região onde o serviço buscado, ou serviços similares, estão sendo oferecidos. Ali mesmo a pessoa poderá se inscrever para participar do projeto, programa, curso, seminário, palestra, clínica, atendimento ou qualquer outro serviço que estejamos oferecendo. Ao mesmo tem-

po, as pessoas serão continuamente informadas acerca dos serviços oferecidos através do aplicativo, TV, rádios e mídias sociais. Sincronizado a esse aplicativo, teremos um website para uso interno da igreja, no qual os pastores daquela região poderão adicionar novos ministérios, à medida que forem surgindo. Assim, o sistema será alimentado continuamente, todos poderão saber o que está sendo feito em outros lugares e poderão reproduzir ideias quando os dons da igreja e as necessidades da área forem as mesmas de outros locais.

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A Aplicação do Conceito Imagine um aplicativo que poderá colocar à mão dos habitantes de uma determinada área todos os serviços que as nossas igrejas, grupos, centros de influência, escolas, faculdades, internatos, publicadoras, fábrica, lojas, restaurantes, rádios e TV estão oferecendo naquela região. A principal característica deste aplicativo é uma ferramenta de busca com uma pergunta do tipo: “Como posso te ajudar hoje?”. Para nós, fazer essa pergunta é extremamente importante, pois vai nos ajudar a:

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A prestação dos serviços à comunidade dará às pessoas a oportunidade de nos conhecerem, nosso estilo de vida e nossa mensagem. À medida que o relacionamento for desenvolvido, teremos a oportunidade de convidá-las a conhecerem também os nossos pequenos grupos, classes bíblicas, séries de evangelismo e de receberem estudos bíblicos em casa. Desta forma, poderemos integrar os conceitos de evangelismo direto, através de uma abordagem indireta, num formato adequado à época em que estamos vivendo. Talvez, a maior limitação para o sucesso de uma abordagem como esta é o fato de ainda não termos em nossas igrejas uma cultura bem desenvolvida de ministérios de prestação de serviços relevantes à comunidade. Entretanto, não seria esta uma excelente forma de desenvolvermos essa cultura? Além disso, acredito que o maior benefício desta abordagem é a contribuição que dará aos processos de mobilização e discipulado da igreja.

Evangelismo Direto, Mobilização e Discipulado Uma das nossas principais responsabilidades como líderes da igreja é ajudar as pessoas a utilizarem os seus dons, provendo continuamente novas formas de participação. Temos falado em ajudar as pessoas a descobrir os seus dons, mas normalmente as pessoas sabem aquilo que elas gostam de fazer e que fazem bem feito. A pesquisa de Thumma e Bird sugere que não há uma relação direta entre ajudar as pessoas a descobrir os seus dons e o aumento na participação. Ao mesmo tempo, há um aumento no envolvimento sempre que criamos novas formas de participação.29 O segredo para engajar um número maior de pessoas é ajudá-las a fazerem mais daquilo que até agora têm trazido satisfação espiritual para elas.30 Para fazer isso, é necessário proporcionar um ambiente que tenha oportunidades de envolvimento, motivação para a participação e habilidade de se envolver mais.31

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A iniciativa “Meu Dom, Meu Ministério” foi sem dúvida uma das nossas ações mais consistentes no sentido de ajudar cada membro a achar o seu lugar no corpo de Cristo. Mesmo assim, ainda há um espaço gigantesco para crescimento nessa área. Ao criarmos uma plataforma de compartilhamento de serviços, na prática estaremos organizando uma “feira de exposições permanente”, na qual a igreja poderá oferecer seus serviços e os membros terão oportunidade, motivação e poderão desenvolver a habilidade de transformar os seus dons em ministérios. Mesmo nas igrejas pequenas, no interior ou na periferia, os irmãos foram dotados de dons e podem ser habilitados a oferecerem serviços compatíveis à área em que estão inseridos. Adicionalmente, embora a igreja deva oferecer serviços à comunidade continuamente, os membros têm níveis de interesses ou níveis de disponibilidade diferentes. Portanto, precisamos dar-lhes a oportunidade de desempenharem os seus ministérios em diferentes períodos de tempo: uma vez por ano, uma vez por semana, uma semana por mês, uma vez por mês, durante um trimestre, etc. Ao mesmo tempo, ao implementarmos uma abordagem como esta, estaremos fazendo um investimento concreto no processo de discipulado da igreja. Sabemos que o discipulado é o processo de uma vida inteira que requer a participação do discípulo e da comunidade de crentes.

Projetos como “Reavivados Pela Palavra”, “Conectando com Jesus” e “Maná” têm provido a motivação e as ferramentas para ajudar cada membro a desenvolver um relacionamento pessoal com Deus e a crescer em compromisso e maturidade cristãos. Contudo, prover oportunidades de serviço talvez seja uma das ações mais relevantes que a comunidade de crentes possa fazer para contribuir no processo de discipulado de cada membro. No capítulo nove do livro Caminho a Cristo, Ellen White apresenta uma série de conselhos práticos relacionados ao crescimento espiritual e ao discipulado.32 Em uma das conexões mais fortes possíveis entre o serviço e o discipulado, ela afirma: “O espírito de serviço desinteressado em favor de outros dá profundidade, estabilidade, e beleza semelhante à de Cristo ao caráter, e traz paz e felicidade àquele que o possui”33. O esforço para abençoar outros resultará em bênçãos sobre a própria pessoa, pois esse serviço desinteressado atrai o crente para “mais próximo do Redentor do mundo”34. Da mesma forma como Jesus viveu na Terra para abençoar e ministrar a outros, a vida do cristão deve ser um testemunho do trabalho da graça de Deus em sua vida. Assim, o serviço se transforma numa forma de transbordar o amor de Deus na vida do cristão à medida que ele participa do processo de santificação.35 Consequentemente, uma das mais claras evidências de discipulado acontece quando o cristão entende os seus dons espirituais e os utiliza na forma de serviço desinteressado em favor dos outros.

Conclusão Por volta do ano 2000, a convergência de vários fatores contribuiu para a criação de uma plataforma global de compartilhamento de conhecimento e trabalho, viabilizada pela internet. Deste então, profissionais de diferentes áreas têm desenvolvido um conjunto de habilidades e práticas que permitem que a cada dia mais empresas e indivíduos explorem as possibilidades do mundo interconectado. Esta é a nova realidade e, como igreja nós podemos, e precisamos, nos adaptar. Desde que os primeiros missionários adventistas chegaram ao Brasil, a igreja tem feito evangelismo direto. Ao mesmo tempo, também temos feito evangelismo indireto pois, diversificar, com o objetivo de aplicar uma abordagem integral, tem sido uma característica fundamental do adventismo do sétimo dia. Mas agora, a internet nos permite integrar estes dois conceitos e fazer evangelismo de maneira mais pessoal e abrangente do que nunca. No centro desta abordagem está o princípio de oferecer serviços relevantes à comunidade, que poderão ser escolhidos através de dispositivos móveis e realizados em nossas igrejas e instituições. Assim, faremos evangelismo direto, utilizando uma abordagem indireta, num formato adequado aos dias atuais. Ao mesmo tempo, a implementação deste conceito será um investimento concreto nos processos de mobilização e discipulado da igreja. Vivemos numa época em que, como igreja e indivíduos, precisamos constantemente decidir se vamos aproveitar apenas as oportunidades para as quais temos potencialidades, ou se vamos desenvolver novas potencialidades para aproveitar novas oportunidades. Hoje vamos precisar decidir novamente. Gostaria muito que você participasse da construção desta ideia. Envie a sua critica, sugestão ou comentário para [email protected]. Muito obrigado!

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1 Floyd Greenleaf, Land of Hope: The Growth of the Seventh-Day Adventist Church in South America (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011), 33-34. 2 Após os colportores despertarem o interesse das pessoas e relatarem suficientes guardadores do Sábado, pastores ordenados foram enviados para fazerem batismos e organizar congregações. Ibid., 28-33. 3 Entre os primeiros missionários, Mary e Frank Westphal foram um caso à parte. Eles passaram muitas noites de frio em barcos nos rios, montado em mulas, ou dormindo na cozinha de fazendeiros, que estavam dispostos a ouvir o novo pregador até tarde da noite. Os Westphal viajaram milhares de quilômetros visitando, pregando e batizando. Entretanto, a maior contribuição deles foi dada no processo de unificar os conversos numa comunidade adventista identificável. F. H. Westphal, “Preaching the Truth in Brazil”, The Home Missionary, no. 7 (1895): 134-135; Greenleaf, Land of Hope, 36-37. A partir de 1928, Leo Halliwell teve um papel central no processo de penetrar o interior do Brasil através do seu ministério com a lancha médica. Ele combinou evangelismo público com cuidados médicos e a Luzeiro tornou-se uma benção aos necessitados da bacia amazônica. Nos anos seguintes, o programa foi ampliado e melhor desenvolvido. Além das reuniões evangelísticas, os capitães dos barcos adicionaram aulas de culinária, higiene, sessões de treinamento para as crianças e outros serviços. Leo B. Halliwell. Light in the jungle; the story of Leo and Jessie Halliwell’s mission along the Amazon (Nampa, ID: Pacific Press Publishing Association, 1972), 50-66, 127; Greenleaf, Land of Hope, 329-336. No período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, o evangelista Alemão Walter Schubert tornou-se um dos maiores responsáveis pelo aumento repentino no número de batismos no Brasil. Ele criou a Escola Prática de Extensão do Seminário para treinar os obreiros que trabalhavam com ele. Enfermeiros também foram integrados à equipe. A nova metodologia pegou rapidamente, criando uma onda de entusiasmo pelo evangelismo público. Pastores distritais começaram a utilizar profissionais médicos para apresentar assuntos de saúde. Schubert transformou o evangelismo público numa atividade a ser realizada não apenas por pastores ordenados altamente talentosos, mas também por pastores regulares e membros da igreja. R. A. Wilcox. “Successful Public Meetings in Brazil”, Review and Herald, June 1953; Jolivê Rodrigues Chaves. “Evangelismo Integrado da Divisão Sul Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia: Uma Descrição” (Tese Doutoral, Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, 2014), 103; Greenleaf, Land of Hope, 476-479; dos anos 1980 até a virada do século, a igreja no Brasil foi impulsionada pelos projetos: “1000 Dias de Colheita”, “Colheita 90” e “Missão Global”. Foi a partir desta época que outras metodologias missionárias que já vinham sendo utilizadas passaram a ser enfatizadas, juntamente ao evangelismo público. Adicionalmente, houve também uma forte ênfase na mobilização dos membros. Uma das metas do projeto Colheita 90 era “Dobrar o número de membros capacitados para o envolvimento em atividades missionárias”, Silvano Barbosa. “The Mobilization of the Seventh-day Adventist Church in Brazil Over the Past Thirty Years,” academia.com; Carlos Aeschlimann. “How to Reap the Harvest,” Ministry, Dezembro de 1986; Aeschlimann, “Harvest 90 – Everyone´s Victory,” Ministry, dezembro de 1990; “Plano de Ação Colheita 90,” Revista Adventista, janeiro de 1986; Malcolm Bull, Keith Lockhart. Seeking a Sanctuary: Seventh-Day Adventism and the American Dream, 144; Enoch the Oliveira, “Mil Almas por Dia – Sonho ou Realidade”, Revista Adventista, 15 de julho de 1982; Rubens Lessa, “Líderes Traçam Planos Para os Mil Dias de Colheita”, Revista Adventista, 24 de agosto de 1982; “Preparação para a Grande Colheita,” Revista Adventista, 18 de setembro de 1982; Charles Taylor, “Global Strategy”, Ministry, agosto de 1990; “Notícias 90,” Revista Adventista, agosto de 1990, Rubens Lessa, “Missão Global”, Revista Adventista, fevereiro de 1991, 3. 4 Do ano 2000 até os dias atuais, a igreja tem mantido o conceito de evangelismo direto através da distribuição maciça de livros missionários, pequenos grupos, duplas missionárias, classes bíblicas, evangelismo público e de colheita. Recentemente, programas como “Cada Um Salvando Um”, “Um mais Um”, e “Quero Salvar Um” têm colocado nova ênfase no papel das pessoas, “Que usam os métodos e geram resultados.” Silvano Barbosa, “Grandes Mobilizadores: Marlinton Lopes”, Foco na Pessoa 3, no. 1 (2014): 22-29; adicionalmente, os programas evangelísticos da TV Novo Tempo têm despertado o interesse de um número cada vez maior de pessoas. Ao mesmo tempo, as chamadas igrejas contextualizadas oferecem um programa diferenciado buscando atrair um público que normalmente não iria às nossas igrejas tradicionais. 5 Veja exemplos práticos da integração destes dois conceitos nos ministérios desenvolvidos por Leo Halliwell e Walter Schubert, descritos na referência número três. 6 George R. Knight. Em Busca de Identidade: O Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005); Greenleaf, Land of Hope, 51-69; 7 O historiador da missão Andrew Walls observa que, por volta de 1500 d.C., o único modelo de cristianismo que a Europa ocidental conhecia era o modelo de territórios cristãos, frequentemente adquiridos pelo uso da espada. Os portugueses, entretanto, com a mesma teologia e experiência dos espanhóis, mas com um exército pequeno, tiveram que acomodar a ideia da cristandade à realidade militar deles. O modelo das Cruzadas era não apenas inapropriado, mas também impossível. Consequentemente, eles desenvolveram uma nova categoria de servidores cristãos, que tinham a função de persuadir sem os instrumentos para coagir, vivendo nos termos culturais estabelecidos por outras pessoas. Os portugueses aplicaram esta estratégia inicialmente na Ásia, quando estabeleceram uma relação comercial com os grandes impérios mogol e chinês. Andrew Walls. The Cross-Cultural Process in Christian History, 198, 199, 220. 8 O padre jesuíta Manoel da Nóbrega foi muito influente nos anos iniciais da história do Brasil e participou da fundação de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife, além de muitos colégios jesuítas e seminários. 9 Manoel da Nóbrega e Serafim Leite. Cartas do Brasil e Mais Escritos do P. Manoel da Nóbrega (Coimbra: Universidade de Coimbra, 1955), 1-24, 64, 171. 10 Jacques Blocher e Jacques Blandenier. The Evangelization of the World: A History of Christian Mission (Pasadena, CA: William Carey Library, 2013), 143-169. 11 Serafim Leite. História da Companhia de Jesus no Brasil, vol. 2 (Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1938), 545-560. 12 Antonio Vieira to el-rei, Maranhão, 6 de abril de 1654, em Obras do Padre Antonio Vieira: Cartas [Works of the Father Antonio Vieira: Letters], eds., J. Seabra and T. Antunes, vol. 1, Cartas do padre Antonio Vieira [Letters of the Father Antonio Vieira] (Lisboa: Tipografia da Revista Nacional, 1855), 51–58.

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13 Blocher and Blandenier. The Evangelization of the World, 143-169. 14 Miroslav Pujic. “Reinventando o Evangelismo em Uma Cultura Pós-Moderna”, Foco na Pessoa 3, no. 2 (2014): 12-17. 15 Silvano Barbosa. “Hinduísmo: Um Apelo por Assistência”, Foco na Pessoa 3, no. 3 (2014): 26-33. 16 Em 17 de setembro, a Missão Mongólia registrou a incrível quantidade de 198 pessoas sendo batizadas em um só dia como resultado desta abordagem. Veja http://noticias.adventistas.org/pt/noticia/missao/em-um-so-dia-198-sao-batizados-na-mongolia/, acessado em 20 de setembro de 2016. 17 Embora façamos evangelismo direto e indireto, ainda temos alguma dificuldade para integrar os dois conceitos na mesma ação. 18 Henderson usa esta analogia para se referir aos nossos esforços não-contextualizados para alcançar a geração pós-moderna. David W. Henderson. Culture Shift: Communicating God’s Truth to our Changing World (Grand Rapids, MI: Baker Books, 1998), 17. 19 Sandra Stencel. Brazil’s Changing Religious Landscape: Roman Catholics in Decline, Protestants on the Rise (Washington, DC: Pew Research Center’s Religion & Public Life Project 2013), 1-11. 20 Thomas Friedman. The World is Flat: A Brief History of the Twenty-First Century (New York, NY: Farrar, Straus and Giroux, 2005), 173-200. 21 Para Friedman, fatores como a queda do Muro de Berlim, a criação da Netscape, comunicação entre diferente softwares, terceirização, offshoring (produção em outros países), código-aberto, insourcing (colaboração entre diferentes empresas), cadeia de fornecimento, in-forming (ferramentas de busca como Google, Yahoo), tecnologias digitais, móveis, virtuais e pessoais, convergiram por volta do ano 2000 e passaram a contribuir com o valor e qualidade uns dos outros. Friedman. The World is Flat, 48-173, 176. 22 A produção da Revista Foco na Pessoa é uma evidência deste fato. Nos últimos cinco anos, os diferentes membros da equipe de produção têm trabalhado de partir de São Paulo, Campinas, Campo Grande e Berrien Springs, e os artigos são escritos e enviados de diferentes cidades do mundo. 23 Schmidt e Rosenberg definem este novo tipo de profissional como o “Smart Creative” (Criativo Inteligente). Ele é multidimensional e geralmente combina um profundo conhecimento técnico com tino para negócios e faro criativo. Esta pessoa é expert naquilo que faz. É alguém que não apenas apresenta conceitos mas constrói protótipos. Ele entende o seu produto do ponto de vista do consumidor como quase ninguém. Um “Smart Creative” é uma usina de novas ideias que são genuinamente novas. Eric Schmidt e Jonathan Rosenberg. How Google Works (New York, NY: Grand Central Publishing, 2014), 16-20. 24 Alberto Alerigi Jr e Guillermo Parra-Bernal. “Brazil judge orders Whatsapp blocked, affecting 100 million users”, Reuters.com. 25 Internet Live Stats www.InternetLiveStats.com. Dados elaborados por International Telecommunication Union (ITU), World Bank e United Nations Population Division. 26 Emarketer, “Smart Phones Are Widely Adopted in Brazil”, www.emarketer.com, acessado em 21 de setembro de 2016. 27 Móvel-primeiro significa que a empresa está colocando uma ênfase nova na produção de celulares e tablets, que os computadores estão sendo oferecidos em novos formatos e tamanhos e que agora você pode acessar as suas informações em diferentes locais e aparelhos. Nuvem-primeiro significa que a empresa irá prover a infraestrutura para manter os aparelhos conectados e dar suporte aos serviços prestados através deles. Michael Endler. “Microsoft’s Mobile First, Cloud First Strategy, Explained”, informationWeek.com, acessado em 21 de setembro de 2016. 28 Ellen White. The Ministry of Healing (Washington, DC: Review and Herald, 1965), 143. 29 Scott Thumma e Warren Bird, “Os Outros 80% Parte III: Mobilizando os Outros 80%”, Foco Na Pessoa 3, no. 4 (2014): 17; Scott Thumma e Warren Bird, The Other 80 Percent (San Francisco, CA: Jossey-Bass, 2011), 1-56. 30 Scott Thumma and Warren Bird, “Os Outros 80%: 20% da Igreja Produz 80% dos Resultados, Mas Isso Não Tem Que Ser Assim”, Foco na Pessoa 3, no. 2 (2014): 18-25. 31 Ibid., 23. 32 Veja uma análise do tema em Denis Fortin, “Growing Up in Christ: Ellen G. White’s Concept of Discipleship,” 12. Artigo não publicado apresentado na conferência International Fellowship of Adventist Mission Studies/Swallen Mission Conference, Discipleship in Context: Being All in for Christ in the Era of Social Media, 15 a 17 de setembro de 2016. Download disponível em: https://www.dropbox.com/s/u8d9y1458uzo8lg/Denis_Fortin.pdf?dl=0 33 Ellen White. Steps to Christ (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1956), 80. 34 White. Steps to Christ, 79. 35 Fortin. “Growing Up in Christ: Ellen G. White’s Concept of Discipleship”. 12.

SILVANO BARBOSA O pastor Silvano Barbosa é professor de ensino superior no UNASP-EC e é o editor da revista Foco na Pessoa. Graduou-se em Teologia no IAENE em 1998 e concluiu o mestrado em Teologia Pastoral no UNASP, em 2010. Atualmente, está cursando PhD em Missão e Ministério na Andrews University. Foi pastor distrital por cinco anos nas associações Paulista Leste e Mineira Sul. Também atuou no sul de Minas como Secretário Ministerial e departamental de Publicações por três anos. Em seguida, serviu por quatro anos como departamental de Ministério Pessoal e Escola Sabatina nas associações Norte Paranaense e Paulista Central. É casado com a enfermeira Lea Sampaio, com quem tem dois filhos, Davi e Liz.

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