Expedição as fontes do Rio Alto Timpía: o sitio cerimonial do Lago de Angel

July 21, 2017 | Autor: Yuri Leveratto | Categoria: Arqueologia, História
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Expedição as fontes do Rio Alto Timpía: o sitio cerimonial do Lago de Angel Em 1955 o antropólogo peruano Oscar del Prado realizou estudos no povo andino de Q´eros ubicado na Cordilheira de Ausangate. Dedicou-se a copilar algumas lendas que consideravam a Inkarri (Inca Rey) o eroe lendário que, depois de ter-lhes rebelado ao invasor espanhol (Hispanarry), retirou-se ao oasis do Paititi, recorrendo um largo e antigo sendero situado na divisa entre os atuais departamentos de Madre de Dios e de Cusco, na Cordilheira de Paucartambo. Segundo a legenda Inkarri recorreu o caminho de pedra na direção norte até chegar ao altiplano de Pantiacolla de onde internou-se definitivamente no lendário Paititi. Na década de 1960, o explorador de Arequipa Carlos Neuenschwander Landa recorreu o caminho de pedra da localidade de Tres Cruces até o norte, descobrindo alguns interessantes sítios arqueológicos como o petróglifo denominado Demarcação (do qual estão representadas llamas ir a trote ao norte), e alguns restos de antigas edificações na zona chamada Toparake (ou Inca Tambo), ubicada nas fontes do Rio Chunchusmayo, ao noroeste do sítio arqueológico de Miraflores. É possível que as construções de Toporake tenhas sidos utilizadas por soldados incas para delimitar o impêrio e controlar o chamado Antisuyo, a selva baixa amazónica. Carlos Neuenschwander Landa levou a cabo também algumas expedições no altiplano de Pantiacolla, uma áspera meseta localizada entre o atual Parque Nacional de Manu e o Santuário Nacional de Megantoni, a uma altura compreendida entre os 3000 e 4000 msnm. O objetivo de suas expedições era encontrar a ledária Fortaleza justamente o Paititi, onde Inkarri tinha-se isolado até o fim de seus dias. Carlos Neuenschwander Landa ampliou os conhecimentos do caminho de pedra e do Altiplano de Pantiacolla, más não conseguiu enconstrar o ambicionado Paititi . A expedição de 2012 teve a finalidade de explorar a fundo o braço principal do caminho da pedra troncal, que da Cordilheira de Paucartambo conduz ao altiplano de Pantiacolla, e explorar a zona do Lago de Ángel, um lago pouco conhecido ubicado ao interior do Santuário Nacional do Megantoni. O grupo foi formado por Ricardo Conde Villavicencio, Paulino Mamani, Gregory Deyermenjian, Javier Zardoya e eu. Nos reunimos em Cusco para começar a preparar a expedição. Depois de ter obtido a permissão necessária do Ministerio da Cultura, e do Ambiente para poder aceder ao Santuário Nacional de Megantoni, procedemos a preparar os viveres para a expedição. Nos encontramos no mercado de San Pedro onde pudêssemos encontrar alimentos de boa qualidade e preço baixo. Determinante foi a experiência de Paulino Mamani comprando cereais andinos como a quinua, a quiwicha e a qañiwa.

Compramos nozes e uvas passas, nozes do Brasil, farinha de milho, de cevada e de trigo, para acrescentar proteínas a dieta e várias látas de atúm; compramos 5 kilos de carne seca de alpaca, e uma cantidade considerável de arroz (10 kilos), massa (5 kilos), e açucar (10 kílos). Calculamos que os alimentos seriam suficientes para 6-8 pessoas por um período de ao menos 15 dias. A continuação alugamos uma caminhoneta e saímos para a viagem. Viajamos a noite pelas ruas ao lado de profundos precipícios. O esplendor da lua cheia iluminava debilmente as ladeiras contórnos de ameaçantes montanhas pretas. Pelas três da madrugada chegamos ao povoado de Quebrada Honda onde dormimos aproximadamente duas horas. As cinco acordei e observei, surpreso, que a lua, grande e amarela se escondia no horizonte. Logo depois fomos ao mercado para comprar alguns objetos úteis para a expedição, tais como, velas, telas de plástico e grossos barbantes. Depois de outras quatro horas de viagem acidentadas, chegamos ao Rio Yavero, perto de uma fazenda tropical onde se produz café, milho e achiote. Naquele lugar nos encontramos com o responsável das mulas e organizamos a partida. No dia seguinte, ás sete da manhã depois do desjejum e ter carregado as mulas, iniciamos a caminhada. Passamos dos 1300 msnm do Rio Yavero, a os 3500 msnm do Cerro Lacco, atravessamos em nove horas todos os biomas andinos: selva alta, bosque nublado, puna (o páramo). Acampamos perto de dois pequenos lagos andinos de agua cristalina. No dia seguinte dirigímo-nos primeiro ao nordeste, seguindo uma bicurcação do caminho de pedra, já que tinha sido impossível dirigir-se diretamente até o Lago de Ángel. O profundo vale do Rio Yuracmayo nos dificultava de atravessa-lo. Durante a jornada chegamos a uma imensa cratera circular ubicada a uns 3700 msnm ao interior do qual encontra-se um espelho de água chamado laguna negra. As bordas da cratera são inacessíveis cimas montanhosas de uma altura um pouco maior de 4000 msnm. Penso que a cratera da laguna negra ser o leito de um antigo vulcão, más somente com a opinião de um geologo poderia-se chegar a conclusões com precisão. Logo que chegamos ao borde da cratera percebemos de que tinha um caminho transitável para as mulas na divisória, então resolvemos baixar o estreito vale das fontes do Rio Yuracmayo e acampar a uma altura de 3600 msnm . No dia seguinte continuamos a dura caminhada atraves outros vales onde fluem outros tantos afluentes do Rio Yuracmayo . Aproximadamente pelas quatro da tarde chegamos finalmente a divisa entre o Vale do Rio Yuracmayo e o Rio Timpía (afluente direto do Rio Urubamba). Chegamos a um lago de forma irregular ubicado a 3700 msnm. Más devemos dizer que este lago não aparece no mapa do Instituto Geográfico Militar

Peruano, más em todo caso percebi de que formava uma das fontes do Rio Timpía e resolvi dar o nome de "Lago do Timpía". Acampamos pouco depois no vale adjacente. No dia seguinte, debaixo de uma chuva fria constante, o responsável das mulas voltou ao vale com seu ajudante. Desse modo seria impossível continuar com os animais de carga, já que o terreno era sumamente difícil barrento e cheio de buracos. Ficamos somente em seis: Ricardo Conde Villavicencio, Paulino Mamani, Gregory Deyermenjian, Juan Condori, Javier Zardoya e eu. Desse modo devíamos continuar carregando nossas previsões, as carpas e todo o material de exploração. Começamos a caminhada até as dez da manhã debaixo de uma fina chuva no meio de uma espessa nevoa. O caminho resultou ser muito insidioso já que avançávamos fora do sendero e algumas vezes por cima de pedras escorregadiças e outras vezes em intermináveis pântanos onde nossos pés afundavam em profundos buracos, nos arriscando a fraturas possíveis. Mesmo assim continuamos na direção noroeste, conservando-nos a uma altura aproximada de 3600 msnm. Algumas vezes tivemos que ir a níveis mais baixos porque caminhar na ladeira era literalmente impossível; logo apesar disso tinhamos que voltar a subir com a finalidade de manter a direção noroeste, com grandes dificuldades. Caminhar debaixo da chuva fria e no barro a alturas tão elevadas, onde o oxigênio é escasso e frio intenso, é realmente um grande desafio. Depois de ter atravessado dois vales, nos mantivemos na divisa entre o Rio Yuracmayo (cuenca do Yavero), e alguns afluentes do Rio Timpía. No dia seguinte continuamos avançando na direção noroeste. Muitas vezes durante a caminhada difícil, tivemos que parar e nos proteger da chuva usando telas de plástico. Perto do meio dia nos paramos a comer nozes e uvas passas, más logo depois comessou uma chuva de granizos que nos impediu de avançar. Nos encontrávamos perto do Lago de Ángel, mas tínhamos ainda que atravessar um profundo vale. Durante a difícil descida por uma empinada laderia cheia de buracos escondidos por palha alta e molhada, tivemos que parar por causa de outra chuva de granizos. Finalmente depois de uma hora, chegamos a cima do vale. A densa névoa nos impedia de ver o lago, sabíamos que nesse espelho de agua estava oculto debaixo de nos. Logo depois de poucos instantes a névoa dissepou-se e o lago apareceu como por encanto. Do alto observava-se sua curiosa forma parecida a um tipo de 8 alongado e irregular. O nome " Lago de Ángel" vem de um conto de um indígena Matsiguenkas, chamado Ángel , quem assegurou ter chegado alí na década de 1960, quando

fugiu do Vale do Rio Yavero, onde tinha sido explorado em modo desumano por chefes peruanos. Angel ficou por perto do lago por alguns dias, más o frio intenso e a falta de alimento o induziram a continuar viagem até a zona tropical próximo ao Rio Alto Madre de Dios. Depois de ter atravessado um clarão formado por musgo esponjoso onde nos nos afundávamos até os joelhos em agua fria, chegamos a beira do lago. Ubicação do Lago de Angel Lat. 12º 27.227` Long.72º 08.799` Altura 3709 msnm De pronto percebi que o lago tem um emisário que substitui um dos afluentes do Rio Timpía. Acampamos perto dele propusendo-nos outra vez explorar os arredores ao dia seguinte. Ao outro dia exploramos o bosque como um todo. Notei que enormes pedras estavam juntadas formando barrancos e cavernas que as entradas estavam totalmente encobertas por uma exuberante vegetação por musgos e líquenes. Na entrada de uma das cavernas notamos um pequeno muro quem sabe utilizado como uma pequena escadaria seguramente construída pelo homem em épocas remotas. No interior do bosque existe um "centro cerimonial", com uma caverna formada por grandes pedras ao lado, com um piso parecendo ter sido aplanado, com blóques, por seres humanos. Continuando a expedição da parte sudeste do bosque encontramos outros indícios de antiga presença humana na zona. Na entrada de outra caverna tem outro muro ou plataforma cerimonial que quem sabe foi construído para delimitar a área "sagrada" daquela de uso comum. Logo a poucos metros de distância, tem a evidencia de um velho caminho de pedra, que passando pelo bosque, se entra no vale do Rio Timpía. Pela tarde continuamos a exploração e percebemos que em toda a região do bosque tem vários "dolmen", o maior é triangular , situado na entrada da primeira caverna; outros , de forma quase retangular, estão espalhados pelo bosque que poderiam indicar pontos importantes pertencentes a uma rede. Ubicação do sítio cerimonial do Lago de Angel: Lat. 12º 27.256 ` Long. 72º 08.804` Altura 3705 msnm No geral chegamos a conclusão de que o bosque entrante ao Lago de Angel foi utilizado por motivos rituais e cerimoniais por pessoas andinas num distante passado. Quem sabe algumas delas vivessem nas cavernas e nos barrancos do sítio arqueológico, más para a comprovação é principalmente saber quem foram os antigos habitantes, se tendria que efetuar minuciosos

trabalhos de escavação. No dia seguinte depois de ter acabado a exploração exaustiva do sítio arqueológico do Lago de Angel, continuamos nossa exploração na direção norte. Primeiramente caminhamos pelo estreito vale do condutor do Lago de Ángel e logo entramos num vale por perto de onde flui outro afluente do Rio Timpía. Seguimos um velho caminho de pedra, provavelmente construído por antigos povos pre-incaicos. Num determinando ponto, apesar, tivemos que decidir se continuar ao largo do sendero em direção ao norte o se seguir por outro arcaico caminho em direção ao noroeste. Na realidade, continuar na direção norte nos teria afastado muito do caminho de volta. O cansaço, o frio intenso as adversas condições atmosféricas nos obrigaram a decidir percorrer o caminho do truncamento para o noroeste. Inicialmente subimos pelo vale atravessando um denso bosque nublado, logo continuamos nossa caminhada pela divisória entre os vales dos rios que fluem até o Yavero e os de os rios que fluem até o Timpía. Nos encontrávamos já por fora do Santuário Nacional do Megantoni, más as condições atmosféricas eram quase iguais: espesso nevoeiro, fria chuva e alguns granizos. Durante a caminhada notamos que algumas plantas denominadas achupalla tinham sido abertas e que sua polpa tinha sido comida. Uma prova da existência do "olho de óculos” (tremarctos ornatus), nas proximidades, pela qual gosta muito desta planta. A noite acampamos numa encosta onde pudéssemos observar o vale de outro afluente do Rio Alto Timpía. Ao dia seguinte continuamos a caminhada em direção ao noroeste até chegar a uma plataforma cerimonial retangular construída em pedra por povos antigos. Lamentavelmente na atualidade, a denominamos Último Ponto, perto das fontes do Rio Taperachi (que é afluente do Rio Tucumpinea) está em pessimo estado de conservação já que muitas raízes estão fazendo danos. Cordenadas da plataforma cerimonial do Último Ponto: Lat. 12º 25.394` - Long. 72º 12.260` Altura 3621 msnm Desse modo continuamos a caminhada em direção ao sudoeste baixando até um denso e úmido bosque com nevoeiro onde acampamos a uma altura de 3200 msnm. Ao dia seguinte continuamos em direção ao sudoeste baixando por um empinado sendero apenas sinalizado. A descida foi realmente árdua: em primeiro lugar, porque o caminho estava quasi por completo coberto por uma densa vegetação, mas efetivamente porque o solo era barrento e viscoso, nos fez escorregar frequentemente. Pelas três da tarde chegamos a uma localidade de camponeses conhecida com o nome de Sacramento, ubicada a uma altura de 1670 msnm, onde dormimos. No dia seguinte viajamos a Quebrada Honda, de onde seguimos a viagem até Cusco..

O resultado da expedição foi mais que positiva, primeiro de tudo verificamos a existência de uma espessa rede de senderos de pedra, construídos por gentes arcaicas pelas quais conectavam a Cordilheira de Paucartambo com a zona do altiplano de Pantiacolla, até chegar ao Lago de Ángel. Além do mais observamos que hoje outros antigos senderos que do Lago de Ángel penetram na selva tropical do Rio Timpía a uma direção desconhecida e também até o noroeste onde está situada a plataforma do Ultimo Ponto. O resultado mais importante da expedição foi, apesar, o estudo do sítio arqueológico do Lago de Ángel, onde existem alguns pequenos muros que delimitam as zonas rituais das zonas de uso comum e alguns degraus, que seguramente, foram obras do homem. Espera-se que nossa expedição possa motivar a realização de um estudo arqueológico profundo do sítio, com a finalidade de poder esclarecer quem foram os antigos habitantes do Lago de Ángel. YURI LEVERATTO Copyright 2012 Artigo traduzido por Anna Baraldi, Santa Catarina, Brasil Foto: Copyright di Yuri Leveratto

Um braço do "caminho de pedra"

Lago de Angel

Muro ceremonial

O autor, Paulino Mamani e Gregory Deyermenjian perto del Lago de Angel

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