Extrema-direita e os \"perdedores da globalização\": análise do voto em Marine Le Pen nas presidenciais francesas de 2012

June 28, 2017 | Autor: Aline Burni | Categoria: Political Science, Comportamento Eleitoral, Front National, Extrema Direita, Marine Le Pen
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Extrema direita e os “perdedores da globalização”: análise do voto em Marine Le Pen nas presidenciais francesas de 2012 Aline Burni1

Resumo Este artigo discute os fatores que melhor elucidam a lógica da preferência eleitoral a favor do partido de extrema-direita francês Frente Nacional nas presidenciais de 2012, particularmente verifica o efeito dos valores na preferência pela candidata Marine Le Pen, que conquistou 17,9% dos votos no pleito em questão, posicionando-se em terceiro lugar. A hipótese central é de que as orientações valorativas dos eleitores são fundamentais para compreender este tipo de escolha eleitoral, particularmente a oposição ao fenômeno da globalização e seus efeitos, como a imigração e a União Europeia. Realizou-se uma análise de regressão logística multinomial, em que a variável dependente foi o voto para presidente no primeiro turno de 2012 e as variáveis independentes foram extraídas das teorias explicativas do comportamento eleitoral: sócio-demográficas (sexo, idade, escolaridade, religião e profissão), ideologia, preferência partidária, satisfação com o funcionamento da democracia, confiança nos políticos, avaliação da economia, voto para presidente em 2007 (1º turno), euroceticismo, xenofobia e conservadorismo. Conforme esperado, identifica-se que as preferências políticas e culturais dos eleitores ancoram o voto na extrema-direita, que não pode ser explicado simplesmente a partir de avaliações econômicas ou visto como um voto temático, mesmo em um momento de crise.

Palavras-chave: Extrema-direita; Frente Nacional, comportamento eleitoral, presidenciais, França.

Introdução Muitas democracias contemporâneas têm enfrentado o desafio da crescente popularidade de partidos da extrema-direita nas últimas décadas. Estes partidos, caracterizados pela ideologia nativista, populista e autoritária (MUDDE, 2007) representam uma nova família ideológica que se orienta, sobretudo, pelas questões culturais que têm ganhado importância nos diferentes eleitorados. O caso francês é um dos mais estudados dentro do tema, posto que a Frente Nacional é o partido mas longevo da família ideológica, tem ganhado protagonismo no cenário político e adota um discurso culturalista moderno (BORNSCHIER, 2010). Estudos que buscam compreender o apoio eleitoral direcionado à extrema-direita evidenciam que não necessariamente os elementos que classicamente explicam o voto nos partidos tradicionais de esquerda e de direita, como a classe social e as preferências econômicas, por exemplo, são determinantes para a escolha por estes 1

Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em Ciência Política (UFMG) e bacharel em Ciências Sociais (UFMG). Pesquisadora do Grupo Opinião Pública: Marketing Político e Comportamento Eleitoral, coordenado pela Profa. Dra. Helcimara de Souza Telles. E-mail: [email protected] I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

partidos (MAYER, 2012). A extrema-direita procura deslegitimar e superar a clássica divisão ideológica entre esquerda e direita, tentando se desvincular de qualquer posicionamento estabelecido em tal espectro ideológico e fundar, por sua vez, uma nova clivagem, baseada na oposição entre “nacionalistas” e “cosmopolitanistas”. Em outras palavras, procuram estabelecer uma nova divisão política entre os defensores dos interesses do Estado Nacional e os defensores da globalização. A classificação desses partidos como de extrema-direita não se deve em função da defesa de uma política econômica ultraliberal, mas sim da proposta de políticas conservadoras no plano societário, como a defesa da pena de morte, a oposição ao aborto e a hostilidade em relação aos direitos dos homossexuais. Isso sugere que há uma dimensão cultural importante a ser levada em conta para compreender a preferência eleitoral pela extrema-direita, sobretudo porque nas últimas décadas esta dimensão de clivagens tem se demonstrado tão importante quanto, ou mesmo mais importante, do que a dimensão econômica para a estruturação das competições eleitorais (KRIESI et al. 2012; MICHELAT & TIBERJ, 2007; MONTERO & TORCAL, 1994). Nesse sentido, nos parece relevante tentar entender o voto na extrema-direita francesa com base em aspectos diferenciados, particularmente voltados para as orientações valorativas dos votantes. Por isso, este trabalho irá focar nos diversos fatores individuais potencialmente explicativos da decisão eleitoral a favor da Frente Nacional nas presidenciais de 2012, buscando identificar em que medida os valores são relevantes para compreender esta lógica de decisão de voto em contraposição aos outros elementos recorrentemente revisitados pela literatura sobre comportamento eleitoral, fundamentados nas principais teorias dentro deste campo de estudos. Realizaremos uma análise de regressão logística multinomial utilizando dados do survey Enquête Électorale Française de 2012, pesquisa realizada dentro do projeto colaborativo Comparative Study of Electoral Systems (CSES) e disponibilizada pelo Centre de Recherches Politiques de Sciences Po. Na primeira parte do artigo, apresentaremos os modelos clássicos explicativos do voto, seguida de uma discussão sobre novas dimensões do comportamento eleitoral que têm emergido na literatura. Posteriormente, será apresentada a análise empírica para o caso francês, onde apresentaremos os resultados do modelo estatístico. Por fim, serão apresentadas as principais conclusões.

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Modelos explicativos do voto Ao longo do século XX escolas teóricas sobre o voto se consolidaram como referenciais fundamentais para a área de investigação do comportamento eleitoral, cada uma defendendo a atuação de um grupo distinto de fatores como fundamentais para a preferência do eleitor diante das urnas: o modelo sociológico, a escola psicológica (também chamada Escola de Michigan) e a teoria da escolha racional. Apesar de outros modelos explicativos terem surgido posteriormente, inovando cada vez mais nas dimensões e instrumentos evidenciados como decisivos para a escolha do voto, é necessário revisitar os paradigmas e as variáveis explicativas que se originaram nos modelos tradicionais para avaliar sua aplicabilidade aos novos questionamentos acerca do comportamento dos votantes, assim como identificar seus limites para compreender as diferentes dinâmicas das atuais condutas eleitorais. A primeira teoria explicativa do voto consiste na escola sociológica, cuja origem se encontra nos anos 1950 dentre os pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Em linhas gerais, de acordo com esta teoria os fatores mais importantes para compreender o comportamento político são o contexto social em que o indivíduo vive e as interações interpessoais às quais está exposto. Nesse sentido, os elementos estruturais tais como o pertencimento religioso ou a classe social atuam como predisposições para o voto, pois filtram os efeitos de variáveis de curto prazo, como a imagem de um candidato, as informações provenientes dos meios midiáticos e as campanhas eleitorais. A escola sociológica do voto atribui considerável importância aos efeitos do contexto social para as atitudes dos indivíduos e, consequentemente, sua escolha eleitoral. Os diversos pertencimentos sociais dos eleitores, como idade, etnia, religião e classe social, não induzem o indivíduo a se comportar de determinada forma per se, mas determina o contexto de convivência daquela pessoa. Dessa forma, sendo membro de um grupo, o eleitor tende a compartilhar as experiências de vida, os contatos e os interesses dos demais votantes que fazem parte do mesmo corpo coletivo. Por isso, os grupos sociais tendem a ter comportamentos políticos similares. A partir do conhecimento das características sócio-demográficas, é possível prever o comportamento mais esperado do indivíduo (BERELSON et al., 1954).

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Ao final dos anos 1950, a chamada Escola de Michigan elaborou a explicação psicológica ou psicossociológica do voto, na qual o indivíduo passa a ser a unidade de análise fundamental para a explicação do comportamento político, pois o voto é compreendido como uma ação individual que não é apenas fruto de disposições coletivas: “(…)voting is in the end an act of individuals, and the motives for this act must be sought in psychological forces on individual human beings” (CAMPBELL et al., 1960, p.64). Por isso, o voto deve ser analisado a partir de elementos psicológicos. Nesse sentido, as atitudes, crenças e percepções dos eleitores acerca dos temas e objetos da política são relevantes para compreender sua decisão final, apesar de que não se deve descartar a influência dos fatores estruturais provenientes do contexto social em que o indivíduo está inserido para compreender sua conduta final. Campbell et al. (1960) criaram a metáfora do “funil de causalidade” para explicar o comportamento político. Esta conduta individual é uma ação complexa, que envolve elementos políticos do passado e do momento presente do votante. Imaginando-se que o início do funil corresponde a aspectos primários que influenciam o voto - ação que se encontra ao final do funil - é possível visualizar a existência de um mecanismo causal ao longo do percurso, em que vários efeitos de fatores diversos influenciam outros fatores subsequentes até que se chegue ao resultado final. A metáfora do funil permite distinguir os fatores de influência tomados como distantes (fatores históricos e socioeconômicos, valores e atitudes, grupos de pertencimento) dos fatores próximos (temas, candidatos, campanha, situação política e econômica, entre outros). Na entrada do funil estão as características sociológicas, sociais e familiares que influenciam as demais. Tais características contextuais impactam a estruturação da identificação partidária do indivíduo, que, por sua vez, tem papel decisivo na avaliação dos candidatos, percepção dos temas e conversas sobre política. São estas atitudes em direção aos temas e objetos políticos que direcionam o voto, localizado na saída do funil. O elemento “identificação partidária” é, ao mesmo tempo, resultado da conjugação dos fatores de longo prazo e fator moderador do efeito que os elementos de curto prazo exercem sobre o comportamento eleitoral. Ele é o principal elemento a se considerar para compreender o voto, conforme esclarece Antunes (2008, p. 28): O conceito central deste modelo do comportamento eleitoral é o de identificação partidária, que é concebida como uma afinidade psicológica, estável e duradoura em relação a um partido político, que não se traduz necessariamente numa ligação concreta, designadamente, inscrição, militância ou votação consistente e sistemática nesse partido.

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O terceiro modelo de voto que iremos apresentar é a teoria da escolha racional, que se originou no trabalho An Economic Theory of Democracy, de Anthony Downs (1957). Downs assume que eleitores e partidos políticos são atores racionais, que buscam maximizar seus ganhos de acordo com o fim que perseguem. O fim dos partidos políticos é ganhar as eleições, ao passo que o objetivo dos eleitores é eleger o governo que mais lhes proporcione benefícios próprios (DOWNS, 1957). Partidos e eleitores atuam como consumidores em um “mercado político”, onde os partidos querem vender seus produtos e os cidadãos assumem o papel de consumidores, que irão escolher os produtos que maximizem a utilidade de seus ganhos. Os indivíduos possuem preferências que podem ser hierarquizadas e, para optar por uma alternativa, realizam um cálculo racional das diferenças dos benefícios que cada partido pode lhes trazer, procurando maximizar seus ganhos e reduzir seus custos: Cada cidadão, no nosso modelo, vota no partido que ele acredita que lhe proporcionará uma maior renda de utilidade do que qualquer outro durante o próximo período eleitoral. Para descobrir qual partido é esse, ele compara as rendas de utilidade que crê que receberia, caso cada partido estivesse no poder. A diferença entre essas duas rendas de utilidade esperadas é o diferencial partidário esperado do cidadão. Se for positivo, ele vota nos ocupantes do cargo; se for negativo, vota na oposição; se for zero, se abstém. (DOWNS, 1957, p.60)

Como a política é um assunto complexo e a obtenção de informações completas pode apresentar custos altos, a ideologia funciona como um atalho cognitivo. Downs (1957) argumenta que eleitores e partidos podem ser localizados em uma escala ideológica que vai da esquerda para a direita. Na escolha do partido em que votar, o eleitor identifica aquele que está mais próximo de seu próprio posicionamento em tal contínuo ideológico. Por sua vez, os partidos tenderão a se posicionar num ponto da escala que maximize o número de votos de eleitores. Para a teoria da escolha racional, os fatores de curto prazo são muito importantes para compreender o voto, pois são informações abordadas nos cálculos de utilidade feitos pelos eleitores no momento de realizar sua decisão. Não há predisposições sociais ou psicológicas que atuem na racionalidade do voto. Por isso, elementos como a percepção que o votante possui sobre os candidatos, o desempenho do governo, as realizações passadas dos pleiteantes e suas promessas futuras pesam mais na escolha eleitoral do que as afiliações partidárias e sociológicas (MAYER, 2007). A partir dos anos 1970, os modelos clássicos de comportamento eleitoral começaram a perder força explicativa, devido ao fato de não conseguirem esclarecer de forma satisfatória a I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

crescente volatilidade dos eleitores ou o fortalecimento de partidos anti-sistema, particularmente de extrema-direita (MAYER, 2007). À medida que os processos de decisão eleitoral foram se tornando mais e mais voláteis, difíceis de predizer com base nas variáveis estruturais clássicas das teorias sociológica e psicológica apresentadas acima, a atenção dos pesquisadores se voltou para novos elementos que poderiam ser capazes de elucidar tais mudanças. Nos Estados Unidos, por exemplo, verificou-se uma proporção crescente de eleitores que entre duas eleições votavam em partidos diferentes, além da considerável queda na identificação partidária dos eleitores. Tal conceito deixou de apresentar a mesma capacidade preditiva das décadas passadas. Além disso, verificou-se que, com o passar dos anos, os jovens se identificavam cada vez menos com os partidos de seus pais (NIE, VERBA & PETROCIK, 1976). Na Europa, por sua vez, onde o papel das estruturas sociais na política sempre foi mais forte, a divisão esquerdadireita - anteriormente considerada um dos principais fatores estruturadores do espaço político - foi também perdendo o poder em predizer o voto. Constatações como essas geraram questionamento dos modelos considerados “deterministas” e colocou em evidência o eleitor individualista, racional, estratégico e mais reativo ao contexto (MAYER, 2007). Apesar de a teoria da escolha racional proporcionar este enforque no indivíduo, atribuindo importância aos fatores de curto prazo para a elaboração de sua preferência política, ela dá uma atenção quase exclusiva ao papel dos aspectos de natureza econômica. Por esta razão, este modelo também nos parece insuficiente para compreender o comportamento eleitoral em um contexto onde novas temáticas, como a imigração e a integração europeia, emergem. A maneira como estas questões têm sido articuladas pelos partidos de extrema-direita não está vinculada estritamente à esfera econômica, mas colocam constantemente em evidência a dimensão cultural dos fenômenos como a globalização, a imigração e a União Europeia. Além disso, as mudanças provocadas pela globalização e pela construção de instituições supranacionais dificulta a responsabilização das ações dos atores governamentais (KRIESI, 2014), pois as cadeias de delegação são complexas e pouco transparentes, o que interfere no processo de accountability dos governantes e, consequentemente, na avaliação de suas ações por parte dos eleitores. Os autores Nie, Verba e Petrocik (1976) argumentaram que estaria emergindo um novo modelo de votante, que basearia sua escolha nos issues de cada eleição. Os eleitores mais instruídos e informados tenderiam a examinar os diferentes posicionamentos dos candidatos acerca dos temas I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

mais importantes das eleições, votando naquele que estaria mais próximo de sua própria posição sobre o tema. Nesse sentido, o voto não estaria atrelado à etiqueta política do candidato, mas sim de seus posicionamentos pontuais em relação a issues. Tal dinâmica, de acordo com os autores de “The Changing American Voter” (1976), seria resultado do crescente individualismo e autonomização das sociedades, em que o eleitor racional adapta seu voto às grandes questões políticas, sociais e econômicas do momento, o que faz com que sua escolha seja mais volátil e menos atrelada a predisposições psicológicas ou clivagens sociais.

Novas dimensões do comportamento eleitoral: qual a importância dos valores? Nas últimas décadas, a Europa tem passado por importantes mudanças políticas, especificamente referentes aos partidos políticos e ao comportamento dos eleitores. Vários estudiosos identificam modificações estruturais nas democracias mais avançadas. Essas mudanças apresentam como alguns sintomas a instabilidade das escolhas eleitorais, a crescente volatilidade e fragmentação dos sistemas partidários, realinhamentos eleitorais ou mesmo a introdução de novos temas e novas clivagens políticas (INGLEHART, 1977; KITSCHELT, 1995; THOMASSEN, 2005; DALTON, 1996), características estas que anteriormente não eram expressivas nas democracias consolidadas, cuja tendência predominante era a estabilidade das escolhas eleitorais. Como as escolas sociológica e psicológica do comportamento eleitoral são importantes para analisar, sobretudo, contextos estáveis, surgiu a necessidade em se elaborar outras teorias para explicar o comportamento em contextos de “desalinhamentos”, como se propõe a abordagem de valores. Autores como Dalton (1996) consideram que estas sociedades estariam entrando no período da “New Politics”, onde novas clivagens políticas, diferentes das clivagens tradicionais encarnadas pela esquerda e direita que mantinham estreitos vínculos com setores sociais específicos do eleitorado, estariam ganhando força no cenário político. Isso teria impacto nos partidos, nas campanhas, na competição política e na lógica da decisão do voto. Para este autor, o período da “New Politics” corresponde à introdução de novos temas na arena política desde meados dos anos 1970, tais como o ambientalismo, os direitos das minorias e a igualdade social. Esses temas passam a diferenciar o eleitorado em termos de suas preferências políticas de uma maneira distinta das clivagens sociais tradicionais, pois têm o poder de dividir os indivíduos em relação a I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

posicionamentos mais etnocêntricos ou universalistas, por exemplo, transgredindo os limites classistas que as clivagens tradicionais originavam. Enquanto as clivagens tradicionais vinculavam-se estreitamente aos elementos sócioestruturais tais como a religião, a classe social e outros pertencimentos identitários referentes a grupos e coletividades, as novas clivagens são edificadas com base nas orientações individuais dos eleitores, sendo estes mais autônomos e independentes dos grupos sociais no momento da decisão do voto. Nesse sentido, o voto tem adquirido, ao longo do tempo, um perfil muito mais individualista do que no passado. Os eleitores decidem menos em termos de identificação partidária e de outras identidades coletivas, e mais em função da sua análise pessoal da situação, o que faz com que suas orientações diante de issues específicos, ou a afirmação de um sistema pessoal de valores pareçam marcar de forma relevante a intenção de voto. Para Ignazi (1992, p. 2): “voting is no longer the confirmation of the belonging to a specific social group but becomes an individual choice, an affirmation of a personal value system: the ‘issue voter’ replaces the traditional ‘party identification voter’”. Para explicar as profundas mudanças nas preferências eleitorais, Inglehart (1977) defendeu a emergência de novos valores – pós-materialistas – nas sociedades pós-industriais, em oposição aos valores materialistas que no passado seriam predominantes. As questões como a economia, a segurança física, a religião e a autoridade passariam a ter reduzida importância para a política dessas sociedades, dando espaço para a preocupação prioritária dos eleitores e partidos políticos com o meio-ambiente, a qualidade de vida, a igualdade de direitos e a maior participação dos cidadãos nas decisões governamentais. A teoria do pós-materialismo defendida por Inglehart (1977) prevê um aumento da adesão a valores pós-materialistas à medida que as sociedades se desenvolvem economicamente e passam pelo processo de ampliação do acesso à educação. No sentido apresentado por esta teoria, as sociedades passam por mudanças geracionais em termos de orientações valorativas, apresentando posturas prioritariamente voltadas para a qualidade de vida e a auto-expressão, visto que os indivíduos não devem mais se preocupar fundamentalmente com situações de escassez em meio à instabilidade econômica. Estariam compreendidas dentro desta perspectiva pós-materialista posturas e atitudes mais críticas e participativas, mais interessadas na política e mais democráticas,

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direcionadas à defesa da igualdade de gênero, direito dos homossexuais, aborto e respeito à diferença de uma forma geral. A ideia de Inglehart (1977) é a de que estaria em curso uma “revolução silenciosa”, correspondente a uma mudança gradual de valores em direção à dimensão pós-materialista. As gerações mais jovens, escolarizadas e materialmente estabelecidas, posto que nascidas em uma época de pleno crescimento econômico, tenderiam a aderir cada vez mais a estes valores, os quais teriam também contribuído para o nascimento dos partidos ecologistas e libertários de esquerda ao final do século XX, considerados os herdeiros destas novas demandas da sociedade pós-industrial. O autor da tese dos valores pós-materialistas previa o fortalecimento dos partidos ecologistas, mas não prognosticou a emergência da outra família mais atual de partidos, a da extrema-direita. Por esta razão, de maneira análoga à ideia de Inglehart, Piero Ignazi (1993) interpretou o crescimento dos partidos de extrema-direita como uma “contrarrevolução silenciosa”, correspondente a uma reação não materialista diante da emergência das tendências pós-materialistas incorporadas pelos novos partidos de esquerda. the value change emphasized by Inglehart with his famous thesis of the “silent revolution” (Inglehart, 1977) and reinforced by Dalton’s “new politics” (Dalton, 1988), has, at first, affected the left side of the political space, but then it has stimulated a reaction on the right side. (…) as a result, authority, hierarchy, patriotism, the role of the family and traditional moral values have been partly re-emphasized and partly redefined in response to post materialist issues. (…) Changes in the cultural domain and in mass beliefs have favoured radicalization and system polarization on one side, and the emergence of attitudes and demands not treated by the established conservative parties on the other one. These two broad changes have set the conditions for the rise of extreme right parties. (IGNAZI, 1992, p.2)

A emergência dos partidos libertários e ecologistas de um lado do espectro políticoideológico, cuja principal motivação seria a defesa dos valores seculares e de auto-expressão, teria sido contrabalanceada pela ascensão dos partidos de extrema-direita, localizados na outra extremidade do mesmo espectro. Estes partidos, por sua vez, estariam preocupados com a defesa dos valores tradicionais e morais, com o patriotismo, reforço da lei e da ordem, xenofobia, entre outras temáticas. Eles são interpretados como os defensores do neo-conservadorismo, pois se apresentam ao público como uma resposta não-materialista à agenda da “New Politics”, em contraposição à nova esquerda.

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the New Left issues (...) have helped to crowd the economic issues off the agenda and have provoked the emergence of the (...) New Right set of moral and religious issues. (...) This new set of issues includes right to life, antiwomlib, creationism, antipornography, support for traditional and moral values, strong defense, patriotism, law and order enforcement, antiminority rights, xenophobia”. (FLANAGAN, 1987, p. 1308, 1312).

Para estes novos grupos de partidos e eleitores, a dimensão cultural passa a ter mais importância do que as orientações meramente econômicas. A interpretação de Kitschelt (1995) acerca deste fenômeno explica que o fim da União Soviética deslocou o eixo da competição partidária da questão fundamentalmente econômica - que colocava em disputa a defesa do socialismo versus o capitalismo - para o eixo de valores, relacionado à vida em sociedade, direitos individuais e papel do Estado no plano das condutas das pessoas – que vai de uma postura autoritária até uma postura liberal. Nesse sentido, orientações valorativas estariam adquirindo crescente importância, não só para o posicionamento dos partidos políticos, mas também para a escolha do eleitor. Em sociedades onde as ideologias e identidades políticas passam a ter poder estruturante reduzido na vida dos eleitores, outros elementos relacionados a orientações individuais crescem em termos do papel exercido na decisão do voto e na participação política. Uma das razões para esta tendência é o fato de as plataformas econômicas dos principais partidos políticos terem se assemelhado drasticamente. Diante de ofertas cada vez mais indiferenciáveis no plano econômico, o eleitor passa a se orientar pelos elementos que mais distinguem as alternativas políticas e estes elementos possuem fundamentos culturais. Conforme coloca Kriesi et al. (2012, p. 19) ao abordar a tese da convergência elaborada por Kitschelt: If economic alternatives are no longer feasible for those who habitually govern or if voters no longer count on parties to propose economic alternatives, opposition to globalization can still be persuasively framed in cultural terms. This is the core of the convergence hypothesis, which argues that in a world where centre-right and centre-left parties – that is, the parties that habitually govern – converge over economics, voters become indifferent to them and increasingly vote for parties clearly distinguishable on cultural grounds (KITSCHELT, 2007).

O eleitor leva em conta prioritariamente elementos de ordem individual e pessoal para fazer sua escolha político-partidária e essa escolha pode ser, em grande medida, influenciada por seus valores. Os valores são orientações atitudinais direcionadas a diferentes conceitos sociais, econômicos e políticos, como ordem, liberdade, direitos políticos, igualdade, o Estado de Bem Estar Social, impostos, o papel do Estado, aborto, religião, participação civil, meio-ambiente, diversidade

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étnica, entre outros (MORENO, 2013, p.6). Abrangem, portanto, uma variada gama de temas relacionados à visão do indivíduo sobre o que consiste uma sociedade desejável a seu ver. As orientações valorativas dos indivíduos podem estar por trás de suas atitudes. Por exemplo, as atitudes anti-imigração podem ser motivadas por valores de intolerância étnica e cultural, de oposição à diversidade e etnocentrismo. Valores tendem a ser estáveis no tempo, mas não são imutáveis. Eles podem orientar os posicionamentos dos indivíduos diante dos mais variados temas, motivando determinadas atitudes, inclusive políticas. Apesar de não se referir explicitamente aos valores e ao seu impacto nas competições eleitorais da Europa contemporânea, a teoria de Kriesi et al. (2012) está em consonância com as abordagens que apresentamos acima e fornece elementos adicionais para a compreensão das competições eleitorais a partir da dimensão cultural. As interpretações que apresentamos acima apontam para mudanças estruturais nas sociedades europeias desde os anos 1960-1970, cujo impacto se estenderia de forma intensa à política destes países. Kriesi (2005) destacou a importância da globalização e da integração europeia para o posicionamento dos partidos políticos e para as atuais disputas nacionais dos países membros do bloco. O posicionamento de eleitores e partidos em relação a estes fenômenos e sua importância para a dinâmica interna dos países membros seria sintoma de um fenômeno mais generalizado de conflito que coloca em evidência a clivagem integração versus demarcação, desencadeado pelo avanço do processo de globalização. En accroissant la compétition au niveau économique (ouverture des frontières), culturel (migrations et minorités ethniques) et politique (nouveaux acteurs transnationaux), la mondialisation génère des gagnants, ceux qui ont les qualifications nécessaires pour en bénéficier, cosmopolites et ouverts à l’international, et des perdants protectionnistes, repliés sur leurs identité nationale, qu’ils le soient objectivement ou qu’il se perçoivent comme tels, dressés contre le changement social, culturel et politique, que s’appuieraient en priorité les nouvelles droites populistes et xénophobes (MAYER, 2012, p. 145)

A nova clivagem originária da globalização opõe dois grupos que possuem orientações opostas: de um lado aqueles que defendem o modelo cosmopolita, cujos recursos humanos, financeiros e políticos os permitem tirar benefícios da crescente integração da esfera internacional; do outro, os que procuram se fechar mais e mais nas fronteiras nacionais e na comunidade identitária de referência, através da incorporação de um posicionamento nacionalista, protecionista e culturalmente fechado. O segundo grupo, dos chamados “perdedores da globalização”, é composto pelos setores da população que mais possuem dificuldades em se adaptar às rápidas e profundas mudanças desencadeadas pelos processos de integração europeia, multiculturalismo, etc. I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

Portanto, tendencialmente são desprovidos de capital econômico, possuem capital cultural mais reduzido e pertencem às classes populares. A condição de estarem sendo prejudicados com os diferentes fenômenos decorrentes da globalização, ou a simples percepção de estarem em tal situação, os leva a procurar alternativas políticas que garantam sua proteção. Os “perdedores da globalização” são o público-alvo dos partidos de extrema-direita, que prometem insulá-los no modelo nacional como forma de proteção face às ameaças da globalização. Por isso, este grupo de eleitores é caracterizado por um posicionamento nacionalista, protecionista e contrário ao multiculturalismo. Em que medida os eleitores de Marine Le Pen podem ser identificados como o público caracterizado como os “perdedores da globalização”? Quais são suas motivações para a escolha eleitoral a favor da extrema-direita e qual o papel das preferências culturais em tal decisão? Em quais aspectos tais eleitores se diferenciam ou se assemelham dos eleitores dos outros partidos políticos? Estas são as indagações que pretendemos responder na análise deste trabalho.

Análise empírica: compreendendo o eleitor da Frente Nacional Para identificar os fatores que ajudam a prever o voto em Marine Le Pen nas presidenciais de 2012, desenvolveu-se um modelo de regressão logística multinomial, em que a variável dependente foi o voto para presidente no primeiro turno de 20122 e as variáveis independentes foram: xenofobia, euroceticismo, conservadorismo3, ideologia, percepção da economia, preferência A variável “voto para presidente” foi reagrupada em três categorias: voto em candidatos da esquerda, voto em candidatos da direita e voto em Marine Le Pen. A categorização dos candidatos como de esquerda ou direita foi realizada com base na classificação ideológica de seus partidos políticos, cuja informação foi obtida na base de dados Perspective Monde, da Universidade de Sherbrooke (Canadá). Os candidatos classificados como de esquerda foram: François Hollande (Partido Socialista), Jean-Luc Mélenchon (Frente de Esquerda), Eva Joly (Verdes), Philippe Poutou (Novo Partido Anticapitalista) e Nathalie Arthaud (Luta Operária). Os candidatos classificados como de direita foram Nicolas Sarkozy (União por um Movimento Popular) e Nicolas Dupont-Aignan (Levante a República). O candidato François Bayrou, que recolheu 9,1% dos votos válidos e corresponde a 6,6% dos respondentes entrevistados pelo survey pós-eleitoral, não foi incluído em nenhuma destas categorias, porque seu partido é classificado como estritamente de centro, sem inclinação para a esquerda ou para a direita. Por sua vez, o candidato Jacques Cheminade não foi incluído na análise porque seu partido Solidariedade e Progresso não apresenta uma linha ideológica claramente definida. Este último obteve apenas 0,2% dos votos válidos e corresponde a 0,1% dos respondentes entrevistados pela pesquisa. 2

As variáveis “xenofobia”, “euroceticismo” e “conservadorismo” correspondem a índices que foram construídos a partir da resposta dos entrevistados em diferentes perguntas relacionadas ao mesmo tema ou dimensão. O índice de xenofobia foi especificamente voltado para o posicionamento do indivíduo em relação à imigração. As variáveis que 3

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partidária, satisfação com o funcionamento da democracia, confiança nos políticos, voto no primeiro turno das presidenciais de 2007, sexo, idade, escolaridade, religião e profissão. Conforme evidenciado pelos resultados expostos na tabela 1 abaixo, no primeiro modelo é possível verificar que, comparativamente ao voto em Marine Le Pen, os candidatos de esquerda foram favorecidos pelas seguintes características sociodemográficas: idades mais avançadas, adeptos de outras religiões (em oposição aos católicos), profissões intermediárias, empregados e operários (comparado aos agricultores). Em termos de crenças e atitudes, os preditores do voto na esquerda foram maior confiança nos políticos, posicionamento à esquerda na escala ideológica, voto anterior em qualquer outro candidato que não tenha sido Jean-Marie Le Pen. No que se refere aos valores, os eleitores tendem a escolher mais os candidatos de esquerda à medida que o conservadorismo e a xenofobia diminuem. As variáveis sexo, escolaridade, satisfação com a democracia, avaliação da economia e euroceticismo não apresentaram significância estatística. Por compõe este índice solicitam ao respondente se posicionar diante das três seguintes frases “Há imigrantes demais na França”, “Atualmente não nos sentimos mais em casa” e “A imigração ameaça nossos empregos”. Para cada uma dessas frases, o entrevistado escolheu entre quatro alternativas, podendo optar por apenas uma delas: “Concorda totalmente”, “Concorda em parte”, “Discorda em parte” e “Discorda totalmente”. Para a construção do índice, cada uma das variáveis, que originalmente assumiam valores de 1 a 4, foi recodificada com valores que vão de 0.1 a 0.4. O índice de Xenofobia corresponde à soma dessas três respostas e sua variação vai de 0.1 a 1.2. Quanto maior o valor da resposta, mais xenófoba a orientação do indivíduo (mais ele concorda com cada as frases). O índice de euroceptismo buscou captar o sentimento do respondente em relação à União Europeia e foi constituído por três variáveis que apresentavam duas opções de resposta cada uma (binárias). A primeira variável perguntava ao entrevistado se ele considerava que, de uma forma geral, a França beneficiou ou não da entrada na União Europeia. As alternativas de resposta eram “beneficiou” ou “não beneficiou”. A segunda e terceira variáveis foram extraídas da mesma pergunta, destinada a captar o sentimento de medo que a União Europeia poderia inspirar nos indivíduos. Esta pergunta solicitou ao entrevistado se posicionar diante de duas proposições, tendo em mente a construção europeia. A primeira proposição era “que haja menos proteção social na França” e a segunda era “que a gente perca nossa identidade nacional e nossa cultura”. As alternativas apresentadas para escolha foram: “isso me provoca medo” ou “isso não me provoca medo”. Se o indivíduo teme pela perda da proteção social em seu país e pela perda da identidade nacional e cultural com a construção europeia, podemos interpretar que ele apresenta um posicionamento eurocéptico. Os valores das três respostas que constituem o índice Euroceticismo foram recategorizados de forma que 0.5 sempre indica a posição mais positiva em relação à União Europeia e 1 significa a posição mais negativa. O índice de euroceticismo corresponde à soma das três respostas dos entrevistados, de forma que quanto maior o valor pontuado, maior é o sentimento de euroceticismo. Tal índice de varia entre 0.5 e 3. O índice de cConservadorismo abordou três variáveis, que apresentavam o mesmo modelo daquelas utilizadas no índice de Xenofobia. O respondente se posicionou diante das afirmativas “Na sociedade é preciso haver hierarquia e chefes”, “A mulher é feita, antes de tudo, para ter e criar filhos” e “O casais homossexuais deveriam ter o direito de adotar filhos”. As alternativas de resposta eram: “Concorda totalmente”, “Concorda em parte”, “Discorda em parte” e “Discorda totalmente”. Nos dois primeiros casos, quanto maior a concordância com as frases, maior a orientação conservadora do indivíduo. Contudo como a lógica aparecia de forma inversa no caso da terceira frase, os valores foram recodificadas de maneira contrária, respeitando a regra de que quanto maior o valor da resposta, maior o conservadorismo do indivíduo. Para a construção do índice, que corresponde à soma dessas três respostas, cada uma das variáveis foi recodificada com valores que vão de 0.1 a 0.4, sendo que quanto maior o valor, mais conservadora a orientação do indivíduo (mais concorda com cada frase no caso das suas primeiras frases e mais discorda no caso da terceira afirmativa). O índice de Conservadorismo varia entre 0.1 e 1.2, sendo que, quanto mais próximo de 1.2, mais conservador é o indivíduo. I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

sua vez, o voto em Marine Le Pen apresenta maiores chances de ocorrer entre jovens, católicos (comparado a outras religiões), agricultores, pessoas que possuem desconfiança em relação aos políticos, eleitores de Jean-Marie Le Pen em 2007 e portadores de valores xenófobos e conservadores. Tabela 1: Parâmetros do modelo de regressão logística multinomial (Voto em Marine Le Pe como categoria de referência) Variável dependente: Modelo 1: Determinantes do Modelo 2: Determinantes voto para presidente 1º voto em candidatos da do voto em candidatos da turno 2012 esquerda direita Variáveis independentes

Categoria de referência

Coef. (β)

RRR

Coef. (β)

RRR

Sexo

Feminino

0,848578

-

Religião (Outras religiões)

Católica

-0.459* (0.273) 0.0291*** (0.00922) 0.812 (0.717)

0,6316215

Idade

-0.164 (0.299) 0.0332*** (0.0104) 1.789** (0.726) 0.0832 (0.350) -0.249 (0.385) 0.0928 (0.448) 0.773 (0.604) 2.039 (-1.333)

1,08677

-0.634* (0.354) 0.154 (0.343) 0.184 (0.423) 0.648 (0.534) 0.231 (0.812)

0,5305767

Religião (Sem religião) Escolaridade (Bac)

Primário ou secundário

Escolaridade (Bac +2) Escolaridade (Superior) Profissão (Artesãos, comerciantes)

Agricultores

1,033806 5.983951

0,7797137 1,097235 2,166338 7,68292

1,029497 2,252176

1,166002 1,201522 1,911376 1,259651

Profissão (Quadros, intermediária)

2.180* (-1.293)

8,848338

-0.327 (0.773)

0.7211754

Profissão (Empregados e operários)

2.520* (-1.318)

12,42995

-0.523 (0.787)

0,5925506

-0.0135 (0.293)

0,9865474

-0.355 (0.271)

0,7013669

0.188*** (0.0675) 0.951 (0.860)

1,206654

0.147** (0.0619) 0.444 (0.727)

1,158641

0.296 (0.791)

1,344654

-0.352 (0.671)

0,7035277

-0.620*** (0.0765)

0,5380529

0.262*** (0.0724)

1,298968

Satisfação com funcionamento da democracia

Satisfeito ou muito satisfeito

Confiança nos políticos Avaliação da economia (Igual)

Melhorou

Avaliação da economia (Piorou) Ideologia

-

2,589385

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1.558703

Possui preferência partidária

Não possui

-0.112 (0.282)

0,8940887

-0.563** (0.268)

0,5692512

Voto em 2007 (Sarkozy)

Jean-Marie Le Pen

1.143*** (0.436) 2.778*** (0.465) 2.725*** (0.473) -1.958** (0.855) -4.683*** (0.734) -0.360 (0.256)

3,136176

2.199*** (0.360) 0.173 (0.617) 1.803*** (0.477) 0.663 (0.758) -2.871*** (0.686) -0.708*** (0.232)

9,018693

Voto em 2007 (Royal) Voto em 2007 (Outros) Conservadorismo social

-

Xenofobia

-

Euroceticismo

-

Constante

-

3.410* (-1.978)

16,08132 15,26177 0,1411472 0,0092548 0,6979797

30,27456

0.126 (-1.563)

1,188955 6,07067 1,941432 0,0566301 0,4925458

1,133859

Fonte: Survey Enquête Électorale Française de 2012

Erro padrão entre parênteses *** p
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