Faa ningê bê: aspectos de uma gramática pedagógica para a língua crioula principense

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Maria de F´atima Almeida Baia Livia Oushiro Ivanete Bel´em do Nascimento (organizadoras)

Anais do XII e XIII Encontros dos Alunos de P´os-Gradua¸c˜ao em Lingu´ıstica da USP

Anais dos XII e XIII Encontros dos Alunos de P´ os-Gradua¸c˜ ao em Lingu´ıstica da USP. S˜ ao Paulo: Paulistana, 2012, p. 53–67.

Faa Ningˆ e Bˆ e: Aspectos de uma Gram´ atica Pedag´ ogica para a L´ıngua Crioula Principense Ana Livia Agostinho∗

Resumo O objeto deste artigo ´ e elaborar uma gram´ atica pedag´ ogica da l´ıngua principense, l´ıngua crioula de base portuguesa falada na Ilha do Pr´ıncipe. A l´ıngua principense tem sido ensinada nas escolas da ilha desde 2009, por´ em n˜ ao h´ a material did´ atico, m´ etodo pedag´ ogico nem ortografia unificados. Dessa maneira, ser´ a poss´ıvel disponibilizar instrumentos lingu´ısticos tanto para a comunidade cient´ıfica como para os habitantes do local, servindo, sobretudo, de aux´ılio aos falantes da l´ıngua, pois preenche, assim, a lacuna em rela¸c˜ ao ` a inexistˆ encia de material bil´ıngue principense/portuguˆ es. A gram´ atica cont´ em vinte e quatro cap´ıtulos com textos em principense (di´ alogos, letras de m´ usica, folclore etc.), seguidos de tradu¸c˜ ao para o portuguˆ es, vocabul´ ario da li¸c˜ ao, t´ opicos gramaticais e t´ opicos de cultura, vocabul´ ario tem´ atico, al´ em de exerc´ıcios focalizando os t´ opicos gramaticais. Palavras-chave: l´ıngua principense; gram´ atica pedag´ ogica; l´ınguas crioulas; S˜ ao Tom´ e e Pr´ıncipe.

Introdu¸ c˜ ao O objetivo deste trabalho ´e apresentar uma gram´atica pedag´ogica do principense que poder´a auxiliar o aprendizado dessa l´ıngua nas escolas da Ilha do Pr´ıncipe, al´em de servir como material lingu´ıstico para pessoas interessadas em aprender essa l´ıngua crioula. A l´ıngua principense, tamb´em chamada de lung’ie (literalmente, ‘l´ıngua da ilha’), ´e uma l´ıngua crioula de base portuguesa falada na Ilha do Pr´ıncipe, na Rep´ ublica de S˜ao Tom´e e Pr´ıncipe. Todo o material audiovisual deste m´etodo foi gravado com falantes nativos in loco, em trabalho de campo original. Os falantes tamb´em auxiliaram ∗

Programa de Filologia e L´ıngua Portuguesa, Departamento de Letras Cl´ assicas e Vern´ aculas da Universidade de S˜ ao Paulo, Fapesp (processo 2011/06107-6). E-mail: [email protected].

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na elabora¸c˜ao dos textos sobre a cultura e puderam revisar os di´alogos e as tradu¸c˜oes. Ao fim da gram´atica, apresentaremos um gloss´ario principense/portuguˆes e outro portuguˆes/principense, contendo todas as palavras utilizadas nas li¸c˜oes; um ´ındice gramatical remissivo, contendo os t´opicos gramaticais expostos nas li¸c˜oes; e as respostas dos exerc´ıcios. H´a algumas descri¸c˜oes do principense, abordadas adiante, mas ´e v´alido ressaltar que nenhuma dessas descri¸c˜oes tem fun¸c˜ao pedag´ogica. A gram´atica pedag´ogica aqui apresentada cont´em vinte e quatro cap´ıtulos com textos (di´alogos, letras de m´ usica, etc.) em principense, seguidos de tradu¸c˜ao para o portuguˆes, vocabul´ario da li¸c˜ao, t´opicos gramaticais e t´opicos de cultura, al´em de exerc´ıcios focalizando os t´opicos gramaticais. Al´em disso, cada ponto gramatical ´e explicado de forma simplificada. O material foi transcrito utilizando o Alfabeto Unificado para as l´ınguas de S˜ao Tom´e e Pr´ıncipe (ALUSTP), a partir do material gravado. H´a duas gram´aticas pr´evias da l´ıngua principense: Gu ¨nther (1973) e Maurer (2009). Essas gram´aticas n˜ao servem como instrumentos pedag´ogicos para o uso escolar, j´a que s˜ao gram´aticas cient´ıficas, com termos especializados e an´alises complexas. Al´em disso, a primeira tem o alem˜ao como l´ıngua-ve´ıculo, e a segunda o inglˆes. A gram´atica pedag´ogica ora apresentada tem como l´ıngua ve´ıculo o portuguˆes, l´ıngua oficial de S˜ao Tom´e e Pr´ıncipe. Esta gram´atica pedag´ogica faz parte de um projeto em andamento na Universidade de S˜ao Paulo que conta tamb´em, desde 2008, com a elabora¸c˜ao de um dicion´ario principense/portuguˆes. Dessa maneira, ser´a poss´ıvel disponibilizar instrumentos lingu´ısticos tanto para a comunidade cient´ıfica como para os habitantes da ilha do Pr´ıncipe, servindo, sobretudo, de aux´ılio aos falantes da l´ıngua, pois preenche, assim, a lacuna em rela¸c˜ao `a inexistˆencia de material did´atico principense/portuguˆes. Este material tamb´em poder´a mostrar aos falantes que sua l´ıngua ´e objeto de interesse fora de seu pa´ıs (cf. Vaux et al. 2007:4) e, ao mesmo tempo, servir´a como um instrumento lingu´ıstico para apoiar futuros projetos educacionais. Por fim, a gram´atica tamb´em poder´a ser u ublico que tiver interesse em aprender a ´til para o p´ l´ıngua. Apesar de pedag´ogica, esta ´e uma gram´atica cient´ıfica, ou seja, sem julgamentos de valor em rela¸c˜ao a formas lingu´ısticas.

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Hist´ oria e demografia As ilhas de S˜ao Tom´e e Pr´ıncipe foram descobertas por Jo˜ao de Santar´em e Pedro Escobar, que chegaram a S˜ao Tom´e em 21 de dezembro de 1470 e ao Pr´ıncipe em 17 de janeiro de 1471 - at´e ent˜ao, ´areas desabitadas. O povoamento de S˜ao Tom´e - por portugueses, outros europeus e escravos - foi uma ordem da coroa portuguesa e come¸cou a ser cont´ınuo a partir de 1493 (Cardoso 2007); e o povoamento do Pr´ıncipe, provavelmente a partir de S˜ao Tom´e, se iniciou a partir de 1500 (Maurer 2009). A Rep´ ublica de S˜ao Tom´e e Pr´ıncipe, um pa´ıs africano situado no golfo da Guin´e, possui cerca de 1.000 km2 de ´area. Trata-se de um arquip´elago formado por duas ilhas, S˜ao Tom´e e Pr´ıncipe, este com um sexto da ´area daquele (Cardoso 2007). Quanto ao n´ umero de habitantes de S˜ao Tom´e e Pr´ıncipe, os dados s˜ao muitas vezes d´ıspares. Assim, a popula¸c˜ao atestada nesse pa´ıs pode variar de 100 mil a 200 mil habitantes, dependendo da fonte. A popula¸c˜ao da Ilha do Pr´ıncipe varia entre 6 mil a 13 mil. Cardoso (2007) informa que a popula¸c˜ao de S˜ao Tom´e, em 2000, era de 133.624 habitantes, enquanto a do Pr´ıncipe, de 6.036 - somando 139.660 habitantes para todo o arquip´elago. No entanto, o CIA factbook estima que a popula¸c˜ao do arquip´elago seja de 175.808 (dado de julho de 20101 ). O n´ umero de falantes para cada l´ıngua do arquip´elago tamb´em varia. Para o principense, dependendo da fonte, o n´ umero de falantes varia de 20 (Maurer 2009) a 1300. Valkhoff (1966: 85) mencionou ter dificuldade para encontrar informantes desta l´ıngua j´a em 1958. Gu ¨nther (1973: 50), por sua vez, aponta que o principense estaria em processo de extin¸c˜ao, sendo substitu´ıdo pelo santom´e e pelo portuguˆes, j´a que a m´ıdia e a escolariza¸c˜ao (fenˆomenos p´osindependˆencia) d˜ao ao portuguˆes um prest´ıgio que n˜ao podia ser rivalizado. Durante o trabalho de campo, pude constatar que o principense ´e falado por menos de 100 pessoas, geralmente com mais de sessenta anos e n˜ao h´a falantes monol´ıngues. Por volta de 1900, houve uma epidemia de doen¸ca do sono que dizimou a popula¸c˜ao nativa do Pr´ıncipe (Maurer 2009). Segundo Gu ¨nther (1973), apenas 300 pessoas sobreviveram. Sendo assim, devido `a situa¸c˜ao de despovo1

https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/tp.html.

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amento e escassez de m˜ao de obra, foram levados para as ro¸cas2 do Pr´ıncipe trabalhadores assalariados de outras regi˜oes, principalmente de Cabo Verde. Ainda hoje, ´e poss´ıvel ouvir kaboverdianu pelas ruas, principalmente em comunidades pr´oximas `as ro¸cas. H´a in´ umeros falantes de kabuverdianu como primeira l´ıngua, inclusive falantes monol´ıngues. Pude tamb´em observar que, mesmo os falantes inteiramente competentes naquela l´ıngua utilizam em seu cotidiano predominantemente o portuguˆes.

Planejamento e pol´ıtica lingu´ıstica N˜ao h´a estatuto oficial para o principense. Em S˜ao Tom´e e Pr´ıncipe, o portuguˆes ´e a l´ıngua do Estado, da escolariza¸c˜ao e, majoritariamente, da m´ıdia. A situa¸c˜ao do Pr´ıncipe ´e particular pelo conv´ıvio, como membro minorit´ario, em um ambiente com falantes de outras l´ınguas crioulas (h´a tamb´em um n´ umero alto de falantes de santom´e, crioulo de S˜ao Tom´e, al´em dos falantes de kabuverdianu) e pelo perigo de extin¸c˜ao da l´ıngua. Uma das quest˜oes que surge no processo de padroniza¸c˜ao dos crioulos ´e a dificuldade de passar do crioulo para a l´ıngua lexificadora com competˆencia em ambas (Appel & Verhoeven 1995); mas, no caso do Pr´ıncipe, o problema ´e justamente o oposto, j´a que praticamente todos os nativos falam portuguˆes. Meyn (1983, apud Garrett 2008) se questiona se aprender a l´ıngua dominante n˜ao-crioula n˜ao ´e colocar a identidade cultural e hist´orica do falante do crioulo em perigo. Al´em disso, muitas das crian¸cas que est˜ao sendo obrigadas a aprender principense na escola s˜ao de origem cabo-verdiana e falantes de kabuverdianu, n˜ao tendo qualquer identifica¸c˜ao com a l´ıngua do Pr´ıncipe. H´a tamb´em pouco interesse no aprendizado da l´ıngua mesmo por parte das crian¸cas de fam´ılia principense. Segundo Appel & Verhoeven (1995), a pol´ıtica lingu´ıstica se manifesta em dois principais dom´ınios: na m´ıdia e na educa¸ca˜o. Podemos, ent˜ao, analisar o caso do Pr´ıncipe em cada um destes dom´ınios. A televis˜ao local tem trˆes canais, sendo um s˜ao-tomense (que n˜ao tem programa¸c˜ao o dia todo) e dois portugueses - todos transmitidos em portuguˆes. Cerca de duas vezes por semana s˜ao transmitidos programas de r´adio em principense. Os programas consistem em conversas informais sobre a 2

No portuguˆ es de S˜ ao Tom´ e e Pr´ıncipe, ‘fazendas’ s˜ ao chamadas de ‘ro¸cas’.

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l´ıngua, sobre a vida no Pr´ıncipe, sobre pol´ıtica, apresenta¸c˜oes musicais etc. Al´em disso, h´a transmiss˜oes de m´ usicas em principense, mas a maioria da programa¸c˜ao musical ´e em portuguˆes, kabuverdianu e santom´e. Durante o trabalho de campo, notei que alguns jovens tˆem um conhecimento passivo da l´ıngua, mas n˜ao tˆem competˆencia lingu´ıstica para fal´a-la. ´ poss´ıvel observar que a l´ıngua n˜ao ´e, portanto, transmitida h´a cerca de E duas ou trˆes gera¸c˜oes. Um dos motivos apontados pelos pr´oprios habitantes da Ilha do Pr´ıncipe ´e a relutˆancia que os pais apresentavam em transmitir a l´ıngua, pois pensavam que o aprendizado do principense atrapalharia o aprendizado do portuguˆes. No entanto, segundo Garrett (2008), mesmo que qualquer l´ıngua seja percebida por seus falantes como inferior em rela¸c˜ao `a l´ıngua oficial, ela pode servir tamb´em como um s´ımbolo de sua identidade. Desde 2009, a l´ıngua est´a sendo ensinada nas escolas. Severing & Weijer (2008), ao falarem sobre o planejamento lingu´ıstico do Papiamentu nas ilhas de Aruba, Bonaire e Cura¸cao, consideram que o canal mais eficiente na ´area de planejamento lingu´ıstico ´e a escola e o sistema de ensino. No entanto, no Pr´ıncipe n˜ao h´a professores qualificados para lecionar a l´ıngua, nem material did´atico. A cada quinzena, os professores se re´ unem para programar as aulas, por´em a discuss˜ao sempre ´e focalizada na ortografia, j´a que o principense ainda n˜ao tinha uma ortografia padr˜ao e a discuss˜ao sobre a escolha entre uma escrita fon´etica ou etimol´ogica ainda n˜ao havia sido resolvida. Auroux (1992) sugere que: “com a imprensa e a estandardiza¸c˜ao, a ortografia se torna um problema, `as vezes acidamente discutido”. Com a implementa¸c˜ao do ALUSP, que estar´a em per´ıodo experimental at´e 2015, todos os instrumentos lingu´ısticos dever˜ao utilizar a mesma ortografia. Em geral, os professores de principense ensinam somente listas de vocabul´ario; e os alunos apenas decoram estas listas. N˜ao h´a aulas de morfologia e sintaxe. Apesar dos encontros quinzenais, cada professor define sozinho de que forma e com quais materiais ministrar´a suas aulas. A falta de instrumentos lingu´ısticos ´e, portanto, um grande problema para o aprendizado do principense nas escolas, j´a que estes instrumentos permitem notadamente uma maior estabilidade no m´etodo de ensino (Auroux 1998).

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Trabalhos pr´ evios Nesta se¸c˜ao, abordaremos os trabalhos pr´evios acerca do principense. Como dito anteriormente, h´a duas gram´aticas da l´ıngua: Gu ¨nther (1973) e Maurer (2009). Al´em dessas, h´a alguns outros trabalhos em que a l´ıngua ´e descrita ou citada. A primeira descri¸c˜ao do principense foi feita em 1888, por Manuel Ferreiro Ribeiro - base para a publica¸c˜ao de Schuchardt, em 1889 (Maurer 2009). Um segundo trabalho, publicado em 1966 por Valkhoff, continha alguns dados de principense. Em 1973, Gu ¨nther publicou a primeira gram´atica com uma descri¸c˜ao cient´ıfica da l´ıngua, trabalho que ser´a abordado adiante. Luis Ivens Ferraz publicou, em 1975, um artigo sobre a influˆencia africana no principense e, em 1981, juntamente com Anthony Traill, um trabalho sobre os tons em principense. Seu livro The Creole of S˜ao Tom´e, de 1979, traz alguns dados do principense, mas ´e dedicado majoritariamente ao santom´e. Em 1997, Philippe Maurer publicou um artigo sobre o sistema de tempo, modo e aspecto e, em 2009, uma gram´atica cient´ıfica do principense. O trabalho de Maurer (2009) ´e, possivelmente, o u ´nico trabalho ao qual a popula¸c˜ao do Pr´ıncipe teve acesso. Na ocasi˜ao de sua publica¸c˜ao, houve uma palestra do autor na sede do Governo Regional; e h´a alguns exemplares dispon´ıveis para consulta no Centro Cultural do Pr´ıncipe. A seguir, retomarei os trabalhos de Gu ¨nther e Maurer, por serem os mais completos sobre o principense. A gram´atica de Wilfried Gu ¨nther (1973) ´e a primeira gram´atica cient´ıfica da l´ıngua principense. O texto ´e dividido em trˆes partes: gram´atica, crestomatia (cole¸c˜ao de passagens liter´arias) e gloss´ario. Al´em disso, h´a uma introdu¸c˜ao na qual o autor faz uma breve descri¸c˜ao hist´orica e sociolingu´ıstica das ilhas do Golfo da Guin´e (S˜ao Tom´e e Pr´ıncipe e Anobom), comentando tamb´em sobre as l´ınguas santom´e, anobonense e angolar, bem como definindo o termo “crioulo”. Na parte denominada ‘gram´atica’, propriamente dita, Gu ¨nther descreve a fonologia, a morfologia e a sintaxe do principense. Na se¸c˜ao da fonologia, descreve a realiza¸c˜ao das vogais orais, vogais nasais, semivogais, bem como a forma¸c˜ao de ditongos e hiatos. Descreve tamb´em a realiza¸c˜ao das consoantes oclusivas, l´ıquidas, fricativas e africadas. Finalmente, h´a a descri¸c˜ao da pros´odia. Segundo o autor, esta l´ıngua ´e tonal. Ele argumenta que o tom pode provir da l´ıngua de

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substrato, Bini. Segundo Gu ¨nther, h´a trˆes tons no principense: alto (´), baixo (n˜ao marcado) e ascendente (ˆ). O autor afirma que n˜ao h´a oposi¸c˜ao entre o tom baixo e o tom ascendente. A crestomatia traz uma cole¸c˜ao de textos em principense. Entre eles, h´a hist´orias, ditados populares e can¸c˜oes. O gloss´ario cont´em 77 p´aginas. O autor utiliza o Alfabeto Fon´etico Internacional (IPA), com algumas modifica¸c˜oes, para transcrever as palavras fonologicamente. Inicialmente, Maurer (2009) apresenta uma introdu¸c˜ao com informa¸c˜oes sobre a hist´oria, a situa¸c˜ao lingu´ıstica e a varia¸c˜ao do principense. H´a, em seguida, descri¸c˜oes da fonologia e da morfossintaxe da l´ıngua. Maurer rejeita a hip´otese sobre a tonicidade do principense apresentada em Gu ¨nther (1973), bem como a de Ferraz & Traill (1981). Dessa forma, o autor apresenta uma vis˜ao diferente acerca dos tons e do acento em principense. Em 1997, Maurer havia descrito o sistema de tempo, modo e aspecto do principense e retoma os mesmos argumentos para definir a tipologia dos verbos. Maurer tamb´em apresenta um cap´ıtulo com tra¸cos variados como interjei¸co˜es, onomatop´eias, reduplica¸ca˜o e ideofones. Ap´os os cap´ıtulos de an´alise lingu´ıstica, h´a uma cole¸c˜ao de dez textos com glosa e tradu¸c˜ao. Por fim, h´a um gloss´ario principense/inglˆes e inglˆes/principense. O livro tamb´em reproduz o manuscrito de Ribeiro, de 1888.

Material e m´ etodos ´ Como este trabalho ´e sobre uma l´ıngua falada na Africa, ´e essencial que o trabalho de campo seja feito no local, j´a que seria muito dif´ıcil obter dados de qualidade no Brasil. Segundo Vaux et al. (2007:5), o trabalho de campo ´e obviamente necess´ario a foneticistas e sintaticistas que n˜ao est˜ao trabalhando com sua l´ıngua materna, j´a que julgamentos sobre a gramaticalidade dos dados dependem da intui¸c˜ao do falante-nativo. Assim, uma longa estadia permite uma coleta de dados variada, a checagem destes dados junto aos falantes nativos, bem como a possibilidade de documentar ocasi˜oes singulares do uso da l´ıngua e da intera¸ca˜o lingu´ıstica com os falantes. Al´em disso, Crystal (2000) afirma que ´e crucial para os estudos lingu´ısticos contar com descri¸c˜oes de l´ınguas em extin¸c˜ao. Durante o mestrado, foram realizados dois trabalhos de campo. No meu primeiro trabalho de campo, realizado em 2009, com dura¸c˜ao de quatro

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meses, estudei a fonologia do principense, al´em de sua morfossintaxe. Em fevereiro de 2010, realizei o segundo trabalho de campo, com dura¸c˜ao de 40 dias. Nesta segunda etapa, preparei, traduzi e revisei os textos utilizados na gram´atica pedag´ogica, al´em de desenvolver sua estrutura. Nesta ocasi˜ao, coletei todos os arquivos de ´audio e v´ıdeo de cada li¸c˜ao. Esta gram´atica foi inspirada no m´etodo de Quint (2009) para o kabuverdianu. Elaborei 16 di´alogos focando os itens gramaticais que apareceriam em cada li¸c˜ao. Dessa forma, h´a muito vocabul´ario e pontos gramaticais b´asicos nas primeiras li¸c˜oes; e menos vocabul´ario e pontos gramaticais mais complexos nas li¸c˜oes mais avan¸cadas. A primeira etapa foi montar os di´alogos em portuguˆes j´a com os pontos gramaticais esquematizados para cada li¸c˜ao. Nas duas primeiras semanas do trabalho de campo, pude traduzir os di´alogos para o principense com aux´ılio de falantes nativos. Os textos foram produzidos pelos pr´oprios falantes e traduzidos para o portuguˆes. Todas as sess˜oes de tradu¸c˜ao foram gravadas em ´audio e v´ıdeo. Com os di´alogos prontos, fiz as grava¸co˜es dos falantes lendo os textos com o gravador de voz Olympus WS-210S e com a filmadora HD digital Sony. Cada di´alogo foi gravado pelo menos cinco vezes, a fim de garantir arquivos sem problemas de leitura ou pron´ uncia. Tamb´em foram gravadas todas as sess˜oes de tradu¸c˜oes dos textos, de vocabul´ario extra e de cultura. A seguir, podemos ver um exemplo da primeira li¸c˜ao da gram´atica, modificado devido ao tamanho do original. Exemplo: Li¸c˜ ao 1 - Faa ningˆ e bˆ e Mene- Modi a? 2 Sabina- Malmˆentˆe ˆo. I atxi bˆe? Mene- Pˆo patxi me, malmˆentˆe ˆo. 4 Sabina- Ine kaxi tˆe bˆe, modi a? Mene- Ah mˆosu, no sa lala na zuda dˆesu. Dˆesu paga txi da mi. 6 Sabina- Nhan. Nˆomi tˆe modi a? Mene- Mene, i atxi? 8 Sabina- Sabina. Mene- Atxi ningˆe Putuga a? 10 Sabina- Ade ˆo! Ami ningˆe Baji. N fo Baji. I atxi, kumin txi sa ta a? Mene- Ami sa ta na Pican. I atxi a? Kaxi tˆe ba?

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Sabina- Kaxi me sa ta na Santantoni. Ami biolˆogu, i atxi? Mene- Ami sˆeradoˆ.

Cumprimentar algu´ em M- Como vai? 2 S- Mais ou menos. E vocˆe? M- Quanto a mim, mais ou menos. 4 S- E a sua fam´ılia, como vai? M- Ai, estamos bem, gra¸cas a deus, obrigado. 6 S- Sim. Como ´e seu nome? M- Manuel, e o seu? 8 S- Sabrina. M- Vocˆe ´e portuguesa? 10 S- N˜ao! Sou brasileira. Vim do Brasil. E vocˆe, onde vocˆe mora? M- Eu moro no Pic˜ao. E vocˆe? Onde ´e a sua casa? 12 S- Minha casa fica em Santo Antˆonio. Eu sou bi´ologa, e vocˆe? M- Eu sou marceneiro. Vocabul´ ario A Ade Ami Atxi Ba Fo I Ine Kumin Lala malmˆ entˆ e

part. adv. pro. pro. adv. v. conj. pro. n. adv. adv.

part´ıcula interrogativa N˜ ao 1PS.IND 2PS.IND estar em algum lugar vir de e (entre ora¸co˜es) 2PP.SUJ/OBJ/IND/POSS Caminho L´ a mais ou menos

me mene mi modi n na pˆ o sa ta tˆ e txi

pro. n. pro. adj. pro. prep. prep. cop. v. v. pro.

1PS.POSS Manuel 1PS.OBJ como 1PS.SUJ em por ser ser (locativo) ter 2PS.SUJ/OBJ

Notas Gramaticais Nesta li¸c˜ao, abordaremos os pronomes pessoais, a c´opula e sua ausˆencia, a posse e pronomes possessivos, part´ıculas e pronomes interrogativos, a ausˆencia de gˆenero e a conjun¸c˜ao - i.

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1. Pronomes pessoais Nesta li¸c˜ao, veremos alguns pronomes pessoais de 1a e 2a pessoa do singular. Em principense, os pronomes podem assumir diferentes formas de acordo com sua fun¸c˜ao. Os pronomes podem ser: sujeito, objeto direto, objeto indireto, pronomes possessivos, ou aparecerem em fun¸c˜ao de t´opico. A ordem canˆonica das senten¸cas em principense ´e sujeito-verbo-objeto, como veremos a seguir. Os pronomes pessoais sujeito de 1a pessoa n ‘eu’ e de 2a pessoa txi ‘vocˆe’ que servem para conjugar o verbo e sempre s˜ao antepostos `a forma verbal. Note que o emprego do pronome pessoal sujeito ´e obrigat´orio. O pronome pessoal objeto de 2a pessoa li ‘vocˆe’ que aparece na senten¸ca como objeto ´e sempre posposto ao verbo. (1)

N ø fo Baji. 1PS.SUJ PASS vir Brasil ‘Eu vim do Brasil’.

(2)

Txi ø tˆe kaxi. 2PS.SUJ PRES ter casa ‘Vocˆe tem uma casa’.

(3)

vˆe li ø N 1PS.SUJ PASS ver 3PS.OBJ ‘Eu vi ele’.

Os pronomes pessoais toˆnicos iniciais de 1a e de 2a pessoa (ami ‘eu’ e atxi ‘vocˆe’) exercem fun¸c˜ao discursiva de t´opico e s˜ao empregados no in´ıcio ou fim das senten¸cas: (4)

Ami, n ø fo Baj´ı 1PS.TOP 1PS.SUJ PASS vir Brasil ‘Eu, eu vim do Brasil’.

(5)

bi´ologu, i atxi? ø Ami 1PS.TOP COP bi´ologo e 2PS.OBJ ‘Eu, eu sou bi´ologa, e vocˆe?’

Os pronomes de t´opico servem para enfatizar a pessoa designada por eles. O pronome sujeito pode ou n˜ao aparecer ap´os o t´opico. Podemos, ent˜ao, ter: Ami, n fo Baj´ı e Ami fo Baj´ı. O essencial ´e que algum deles apare¸ca.

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Faa Ningˆ e Bˆ e Tabela 1 Pronomesa

1PS 2PS 3PS a Nas

Argumento Sujeito Objeto direto n txi txi li

Objeto indireto Ami Atxi

N˜ ao argumento Adjunto do nome / possessivos Me Tˆ e

Posi¸ c˜ ao discursiva T´opico ami atxi

li¸co ˜es seguintes preencheremos as lacunas.

2. C´opula e ausˆencia de c´opula A c´opula ´e a forma verbal que liga o sujeito da senten¸ca com seu predicado ou complemento. Em principense, pode ser expressa pela forma sa para o presente e era para o passado. A c´opula sa aparece em predicados que apresentam ideia de lugar, como em kumin txi sa ta vˆ evˆ e a? ‘onde vocˆe vive?’/ ami sa ta vˆ evˆ e na Pican ‘eu vivo no Pic˜ao’/ kaxi me sa ta na Santantoni ‘minha casa fica em S˜anto Antˆonio’. O ta aqui ´e usado como locativo. A c´opula no presente n˜ao ocorre em constru¸c˜oes predicativas, como ami biolˆ ogu ‘eu sou bi´ologo’/ ami seradˆ o ‘eu sou marceneiro’. Assim, n˜ao ´e poss´ıvel dizer *ami sa biolˆ ogu / *ami sa seradˆ o. J´a a c´opula no passado pode ocorrer em constru¸c˜oes predicativas, como ami era biolˆ ogu / ami era seradˆ o. 3. Posse e pronome possessivo A rela¸c˜ao de posse entre dois nomes ´e obtida colocando-se o possuidor seguido pelo possu´ıdo, como em zuda Desu ‘ajuda de Deus’, kaxi Maa ‘casa da Maria’. A posse entre pessoa e nome se d´a pospondo o pronome pessoal possessivo ao objeto possu´ıdo, como em kaxi me ‘minha casa’. 4. Part´ıculas e pronomes interrogativos Nesta li¸c˜ao, temos a part´ıcula interrogativa a e os interrogativos de lugar, kumin e ba. • a: em principense, a part´ıcula interrogativa a deve aparecer no final de frases interrogativas, como em modi a ‘como vai’ ? Com esta part´ıcula, a entona¸c˜ao ´e decrescente no final da frase. A part´ıcula pode ser quase

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sempre omitida, mas, nestes casos, a entona¸ca˜o ´e crescente. • kumin: quando utilizado como nome, pode ser traduzido por ‘caminho’ ou ‘lugar’. Se colocado no in´ıcio da frase interrogativa, como em kumin txi sa ta vˆ evˆ e a? ‘onde vocˆe mora?’, tem fun¸c˜ao interrogativa ‘onde’. • ba: ´e um locativo (significa ‘estar em algum lugar’) e pode ser usado ´ no final das senten¸cas, como em kaxi te ba? ‘onde ´e sua casa?’. E usado somente em senten¸cas interrogativas.

5. Gˆenero O gˆenero normalmente n˜ao ´e marcado morfologicamente nem sintaticamente. Nesta li¸c˜ao, temos, por exemplo, a palavra biolˆ ogu e seradˆ o para ambos os gˆeneros, ou seja, podendo se referir a um homem ou a uma mulher. H´a algumas poucas palavras em que encontramos oposi¸c˜ao marcada na termina¸c˜ao, como em kunhadu e kunhada. Outra maneira de distinguir gˆenero ´e colocando os termos omi ‘homem’ e mye ‘mulher’ pospostos `as palavras. Temos, ent˜ao, ugatu omi ‘gato’ e ugatu mye ‘gata’. H´a tamb´em casos em que verificamos uma palavra diferente para cada gˆenero, como are ‘rei’ e ranha ‘rainha’. 6. Conjun¸c˜ao - i A conjun¸c˜ao aditiva i ‘e’ inicia a senten¸ca coordenada aditiva. Em principense, essa conjun¸c˜ao ´e somente usada para introduzir ora¸c˜oes. A conjun¸c˜ao aditiva usada entre nomes ser´a vista mais adiante. Ela pode ser omitida. (6)

I atxi bˆe? CONJ.e 2PS.IND tamb´em ‘E vocˆe?’

(7)

Mene, i atxi? Manuel CONJ.e 2PS.IND ‘Manuel, e vocˆe?’

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Exerc´ıcios I- Verta para o principense as seguintes frases. 1. Vocˆe mora em Santo Antˆonio? 2. Onde vocˆe mora? - Eu moro no Pic˜ao. 3. Qual ´e o seu nome? - Meu nome ´e Sabrina. 4. Vocˆe, vocˆe mora no Pic˜ao. 5. Eu, eu moro em Portugal. 6. Vocˆe, vocˆe se chama Manuel. 7. Eu, eu sou a Sabrina. 8. A sua casa fica em Portugal? 9. A casa de Manuel fica no Pic˜ao. 10. Onde ´e a casa dele? 11. A minha casa fica no Brasil. 12. Onde est´a a Sabrina? 13. Cadˆe o Manuel? 14. Onde ´e a sua casa? II- Como vocˆe costuma cumprimentar seus pais e amigos? E uma pessoa que acabou de conhecer? Pergunte a seu professor como dizer isso em lung’ie. III- Escreva um di´alogo utilizando os cumprimentos e apresenta¸c˜oes vistos na li¸c˜ao. Utilize o texto de Cultura como apoio. Cultura - Cumprimentos Nesta li¸c˜ao, vimos algumas formas de se cumprimentar em principense, como modi a? ‘como vai?’. No portuguˆes local, temos a forma ‘como’, usada para cumprimentar algu´em. A resposta para esta pergunta em principense ´e muitas vezes malmˆ entˆ e, que significa, ‘mais ou menos’, tamb´em utilizado no portuguˆes local. Essa ´e a resposta mais comum, tanto em principense como no portuguˆes local, e corresponde a ‘tudo bem’. Outras express˜oes de cumprimento aparecer˜ao mais adiante em outras li¸c˜oes.

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Ana Livia Agostinho

Kutwa - Modi di faa bˆ eˆ e Na lisan sˆe, no sa vˆe modi ki a ka faa bˆeˆe na lung’ie. ?a sˆe ‘modi a?’. Isˆe modi ki a ka faa bˆeˆe na salasa ˆentˆe kolˆesan. Modi ˆotˆo ˆe ora ki a ka faa ningˆe ta mwin bˆeˆe ‘bensa same’ pu omi i ‘bensa same’ pu mye. Ora ki a ka faa bˆeˆe na salasa, a ka kudi malimˆentˆe, ora ki a ka faa bˆeˆe pa ningˆe ta mwin, a ka kudi ‘bensa di dˆesu’. Na modi sˆe di faa bˆeˆe, ˆeli axi mesu na lung’ie i na putugˆezˆe ie: ‘como vai’, ‘mais ou menos’, ‘ben¸c˜ao, senhor/senhora’, ‘deus te aben¸coe’. Na modi ˆotˆo bˆeˆe di faa ˆe ‘nunxya da no’, i a ka kudi kwisˆe mesu, ‘bensa’. Isˆe modi ki ningˆe dinora tava sa faa bˆeˆe. Modi ˆotˆo di faa bˆeˆe ka podi vika sa pˆo diˆentxi. Abstract The purpose of this study is to display the pedagogical grammar of Principense, a Portuguese-based Creole language spoken on the island of Pr´ıncipe. Principense has been taught on the island schools since 2009, however there are no teaching materials, teaching method nor unified orthography. That being said, it will be possible to make language tools available for the academic community as well as to the inhabitants of the island of Pr´ıncipe in order to assist native speakers by filling the gap in relation to the absence of bilingual Principense/Portuguese material. The grammar contains twenty-four chapters with texts in Principense (dialogues, songs, folklore tales, etc.), followed by a Portuguese translation, vocabulary of the lesson, grammatical topics and topics of culture, thematic vocabulary, and exercises on grammar. Keywords: Principense language; pedagogical grammar; Creole languages; S˜ao Tom´e and Pr´ıncipe.

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