FACETEN -FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E TEOLOGIA DO NORTE DO BRASIL EVIDÊNCIAS BÍBLICAS NA ARQUEOLOGIA DO ANTIGO ORIENTE MÉDIO E CONTINENTE AFRICANO

June 5, 2017 | Autor: Thiago Oliveira | Categoria: Near Eastern Archaeology
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FACETEN - FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E TEOLOGIA DO NORTE DO BRASIL

Renato Pacheco da Costa Mendes Thiago de Oliveira Souza

EVIDÊNCIAS BÍBLICAS NA ARQUEOLOGIA DO ANTIGO ORIENTE MÉDIO E CONTINENTE AFRICANO

Trabalho de Conclusão do Curso – Evidências Bíblicas na Arqueologia do Antigo Oriente Médio e Continente Africano – Curso de Teologia da Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil - FACETEN. Orientadora: Adriana dos Santos da Silva Americana/SP

AMERICANA / SP 2016

FACETEN – Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil Bacharel em Teologia Data de Inicio: 09/05/2015 Evidência Bíblicas na Arqueologia do Antigo Oriente Médio e Continente Africano

Renato Pacheco da Costa Mendes Thiago de Oliveira Souza

RESUMO Artigo sobre evidências bíblicas na arqueologia do antigo Oriente Médio e Continente Africano. Análise e avaliação das descobertas que evidenciam os relatos bíblicos como; as pegadas de Adão, José no Egito, Moisés e o Êxodo e por fim a Arqueologia e Jesus.

PALAVRAS-CHAVE: Evidências Bíblicas. Arqueologia. História.

Abstract Article on evidence in archeology of the ancient Middle East and Africa. Analysis and evaluation of findings that highlight the biblical accounts as Adam's footsteps, Joseph in Egypt, and the exodus of Moses and finally Archeology and Jesus.

KEY-WORDS: Biblical Evidence. Archeology. History.

"Não conheço nenhum achado em arqueologia,

que

está

devidamente

confirmado, que está em oposição às Escrituras. A Bíblia é o livro de história mais preciso que o mundo já viu." DR. CLIFFORD WILSON

AGRADECIMENTOS

Renato Pacheco da Costa Mendes A Deus por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades. A Faceten, seu corpo docente, direção e administração que oportunizaram a janela que hoje vislumbro em concluir um curso superior, com base na confiança, no respeito, na ética empregada nesse período. A minha orientadora Adriana, pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelas suas correções e incentivos. A minha mãe, minha irmã, minha sobrinha, pelo amor, incentivo e apoio incondicional. Ao meu irmão em Cristo e amigo, Thiago, que me ajudou aceitando minha colaboração na produção deste artigo. E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu muito obrigado.

Thiago de Oliveira Souza Agradeço primeiramente a Deus, pela saúde, força, capacidade e tudo que envolve a razão da minha existência. Ao corpo docente, administração e diretoria da Faceten, que proporcionaram a oportunidade de concluir tão nobre e sublime formação, a graduação de Bacharel em Teologia. A orientadora Adriana, pelo apoio, paciência e orientação em todo o projeto. A minha esposa Karla, mãe dos nossos filhos, companheira, amiga, grande incentivadora e apoiadora deste projeto de formação para a vida acadêmica. Aos meus dois filhos Samuel e Felipe, grande alegria e bênçãos na minha vida. Ao meu irmão e companheiro em Cristo, Renato, que colaborou ativamente em todo esse projeto. E a todos que direta ou indiretamente tornaram este sonho possível.

Renato Pacheco da Costa Mendes Thiago de Oliveira Souza

Evidência Biblicas na Arqueologia do Antigo Oriente Médio e Continente Africano

Artigo aprovado como requisito parcial para a obtenção do título de Integralização do Bacharelado em Teologia da Faceten. .

Nota:- ______________________________

________________________________ Profª Adriana dos Santos da Silva Orientadora e Avaliadora

______________________________ Thiago de Oliveira Souza Aluno

______________________________ Renato Pacheco da Costa Mendes Aluno

AMERICANA/SP 2016

Sumário 1. Introdução ............................................................................................................................ 7 1.1 Períodos: situando-se na história..................................................................................... 7 2. Pegadas de Adão .................................................................................................................. 9 2.1 Em busca do Adão Histórico .......................................................................................... 10 2.2 Tradição Universal ......................................................................................................... 11 3. José no Egito....................................................................................................................... 12 3.1 Registros Paralelos ........................................................................................................ 14 3.2 Um Escravo Governante ................................................................................................ 14 3.3 Seria José?..................................................................................................................... 15 4. Moises e o Êxodo................................................................................................................ 16 4.1 Escravos Hebreus no Egito ............................................................................................. 17 4.2 As Pragas ....................................................................................................................... 19 5. A Arqueologia e Jesus ......................................................................................................... 20 5.1 Jesus existiu? ................................................................................................................. 21 5.2 Fontes Romanas ............................................................................................................ 21 5.3 Contexto histórico ......................................................................................................... 22 6. Conclusão ...............................................................................................................................24 7. Referências Bibliográficas ................................................................................................... 25

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1. Introdução A tratativa abordada neste artigo será sobre as evidências e descobertas da arqueologia moderna no Oriente Médio e Continente Africano. Esses achados além de nos possibilitar compreender a cultura, política, comércio e atividades religiosas, entre outras coisas, dos povos da antiguidade, traz luz à historicidade da Bíblia Sagrada. Assim como muitas outras ciências, foi em meados do século XIX e XX que a arqueologia tomou formas e status de ciência. Embora essa atividade já fosse conhecida e “praticada” pela mãe do Imperador Constantino no século IV da era cristã, a falta de um adequado preparo técnico e o fervor eclesiástico exagerado fazia ver coisas que de fato não existiam. Mas o curioso é que a própria igreja censurava a prática de pesquisas livres e impunha perseguição para aqueles que se arvoravam pelos caminhos do conhecimento. Apenas após o século XVIII é que foi possível um desenvolvimento maior de várias atividades científicas incluindo a arqueologia. Com essa liberdade de investigação iniciou-se a “corrida arqueológica”, onde vários pesquisadores investiram seus esforços em busca do “ouro arqueológico”. Embora isso não se trate aqui de busca pela riqueza financeira, mas sim pela compreensão mais clara das Escrituras judaico-cristã. E a providência não deixou de recompensá-los, passando do continente africano (Egito) e rumando ao Oriente Médio, bastavam algumas poucas escavações e milênios de história surgiam bem diante dos olhos desses pesquisadores. Embora nem tudo fossem flores, ladrões de sepultura e comerciantes gananciosos se constituíram os inimigos da arqueologia, muitas foram as descobertas que trouxeram uma visão maior de entendimento de algumas passagens bíblicas, como também histórias que antes eram questionadas sua veracidade, sendo considerados mitos, passaram a ser admitidas como possivelmente reais.

1.1 Períodos: situando-se na história Nessa abordagem inicial para entendermos alguns aspectos da história será resumido alguns períodos da história da humanidade.

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Período Neolítico 8.500 – 4.300 a.C. O termo Neolítico é a palavra grega para “pedra nova” e se refere à técnica para obter utensílios a partir da pedra. No Oriente Próximo esse período se caracterizou por mudanças na base da subsistência humana que era a de coletar alimentos. Esse modelo de subsistência para o ser humano passa agora para a produção de alimentos, ou seja, uma revolução que introduziu a agricultura. A segunda grande mudança ocorre mais tarde com o inicio do pastoreio. A estabilidade obtida por essas novas técnicas de domínio da natureza e dos animais também possibilitou a formação de grandes aglomerados populacionais. Essas duas atividades tornaram-se seus principais fatores econômicos. Período Calcolitico 4300 – 3300 a.C. O termo Calcolítico é baseado no grego chalkos, “cobre” e lithos “pedra”, pois marca o aparecimento do cobre, primeiro metal usado pelo homem, muito embora os implementos de pedra continuassem em uso. Nesse período ocorreu o aparecimento de singulares culturas correlatas na Palestina com extraordinários padrões de assentamento, economia, estrutura social e vida espiritual. Período Bronze Antigo 3300 – 2300 a.C. Estamos em um período da civilização no qual ocorreu o desenvolvimento desta liga metálica, resultante da mistura de cobre com estanho. Nesse período desenvolveram-se civilizações literárias, caracterizadas por complexos sistemas de governo e pelas hierarquias religiosas, administrativa e social. Nesse período se praticava a agricultura durante todo o ano, também inventaram a roda do oleiro, criaram um governo centralizado, códigos de leis e impérios, e introduziram a estratificação social, a escravidão e a guerra organizada. Sociedades na região estabeleceram também as bases para a astronomia e matemática. Período Ferro I, II, III e Filósofos Gregos 1.500 – 322 a.C. A idade do ferro foi um período da pré-história, caracterizado principalmente pela fabricação e uso de objetos (ferramentas, instrumentos agrícolas, armas e artefatos diversos) feitos de ferro. Esse período tem inicio em determinadas áreas da região centro-sul da Europa, por volta do século XV a.C. Este período também é encontrado no Oriente, principalmente na Ìndia, África Central e China. A arte da metalurgia do ferro foi um grande avanço com relação ao período anterior (idade do bronze), pois este metal é muito mais eficiente nas atividades cotidianas. Até esse período o ser humano somente se preocupava na busca por sustento e sobrevivência, inclusive considerando o outro semelhante uma ameaça, utilizando esses materiais (bronze, ferro) em armas de guerra pensando somente em sua auto-preservação. Nisto, surge na Grécia antiga, um grupo de homens que buscam utilizar a arte da reflexão na busca não apenas por satisfação dos membros físicos, mas

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psíquicos também. Esses são por assim chamados filósofos, que procuram entender e compreender o sentido e significado da vida. O termo inicia-se em Pitágoras, porém a busca pela forma de compreensão mais racional é desenvolvida pelos filósofos naturalistas (Tales de Mileto, Anaximandro, Demócrito), onde eles começam a mudança de explicação dos mitos (narrativas envolvendo deuses nas dinâmicas da natureza e vida humana) para a compreensão da natureza e suas transformações pelo método de explicação racional. Depois aparecem Sócrates, Platão e Aristóteles (na sequência), que realizam a continuidade da reflexão, mas agora não somente no campo natural, mas também em outras áreas do saber, como o comportamento humano (ética, política, economia, etc). Período Helenístico 332 – 37 a.C. Iniciou-se em Alexandre O Grande. Um exímio militar, discípulo de Aristóteles através de quem aprendeu a comunicar a cultura com os povos conquistados. Esse período marca um processo que avançou e influenciou outro grande império posterior ao grego – os romanos. Período Romano 37 – 325 d.C. Embora o império romano tenha ruído no século V, sua influência e domínio religioso se estendeu por um tempo que durou muitos séculos. De 37 a.C até 638 d.C., onde Roma em um período se dividiu em duas partes, uma Ocidental e outra Oriental (Constantinopla), após a queda do império que, Roma, acabou por abandonar muitas áreas conquistadas e que posteriormente foram ocupadas por outros povos que deram origem à algumas nações europeias conhecidas hoje, Roma ainda esteve em destaque e exerceu forte domínio religioso até o século XVI. Período do moderno Israel 1948 aos dias atuais. A Segunda Guerra mundial e o Holocausto ocasionaram a migração em massa de judeus para a região do Oriente Médio. A liga árabe opôs-se oficialmente ao Estado sionista na Palestina, mas as potências ocidentais, especialmente os Estados Unidos, foram simpáticas a causa judaica, e os próprios judeus determinaram nunca mais permitir um massacre semelhante ao holocausto. Mesmo após forte resistência e intensas lutas, todas com Israel saindo vencedor, com árabes palestinos, em 14 de maio de 1948 foi criado o moderno estado de Israel.

2. Pegadas de Adão “As informações históricas da Bíblia se mostram tão acuradas que superam em muito as ideias de qualquer moderno estudante da crítica, que tem

10 consistentemente tendido a errar para o lado do alto-criticismo.” W. F.

Albright (Silva, 2007, pag. 15). Albright, considerado o príncipe dos arqueólogos modernos, faz essa declaração após averiguar vários dos achados arqueológicos no ano de 1949. A grande maioria quando criança teve contato com fábulas e historinhas do tipo “Lobo Mau e os Três Porquinhos”, e todos sabem, e concordamos que é uma estória inventada, ou seja, ninguém de fato acredita que tenha acontecido de verdade. Porcos nem lobos falam, não constroem casas, nem podem com um simples assopro por abaixo uma edificação de palha ou madeira. É óbvio que é uma ilustração inventada. Mas e quando se trata de um casal que vivia num jardim paradisíaco com uma serpente falante? Se utilizarmos o mesmo raciocínio lógico serpentes também não falam e nem oferecem frutos das árvores aos que passam perto delas. Tomando como base o entendimento e consenso racional, muitos teólogos, principalmente do século XIX, entendem que não podemos tomar a sério aquilo que Moisés escreveu. Peter J. Cousins chegou a sugerir que devemos cortar esses capítulos iniciais de Gênesis de qualquer evento especificamente histórico (Silva, 2007, pag. 45). Muitos autores cristãos clássicos propõe uma simbiose entre criação e evolução. O grande problema dessa defesa racional da Bíblia é que seus proponentes se esquecem de que a doutrina de Cristo está edificada sobre o conteúdo do Antigo Testamento. Ora, se a história do Éden não aconteceu de fato, então não houve queda e a humanidade não se encontra em estado de depravação e por fim não necessita de redenção.

2.1 Em busca do Adão Histórico Se formos intelectualmente honestos a história de Adão, o processo da queda, tudo parece realmente muito estranho ao que verificamos hoje no mundo atual. Porém em um processo jurídico além dos fatos, o depoimento das testemunhas, quando há, são averiguados e juntos formam as evidências dos autos no processo. Quando estas testemunhas se constituem em pessoas distantes que nunca se viram ou se conheceram e relatam a mesma história, ainda que com contradições não essenciais, torna-se ainda mais claro e forte a veracidade do ocorrido.

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Sendo assim, há relatos fora do cânon bíblico em outros povos, por exemplo, contando como foi a origem da humanidade? Antes de checar essa resposta é preciso levar em conta que houve uma onda de “apostasia” nas demais civilizações que abandonaram a teologia monoteísta. Investigando os documentos, datados do terceiro milênio antes de Cristo, onde a escrita começou a se desenvolver visando o estabelecimento do comércio, na região da Mesopotâmia além de recibos, cartas e documentos de propriedades, foram encontradas listas genealógicas. Para a surpresa de arqueólogos antigos documentos egípcios e mesopotâmicos chamavam o primeiro ancestral da humanidade de: Adamu, Adime, Adapa, Alulim, Alorus, Atûm, Adumuzi. Entendidas as diferenças ortográficas que variam de um idioma para outro, a fonética é muito similar ao hebraico Adam.

2.2 Tradição Universal Como no mundo acadêmico existe o ateísmo metodológico, outras versões foram sugeridas. Alguns especialistas disseram que os relatos coincidentes com o Gênesis bíblico são um plágio do livro mosaico desses povos mais antigos. Contrastando com essa hipótese documentária K.A. Kitchen diz que “a suposição comum de que este relato bíblico é simplesmente uma versão simplificada de lendas babilônicas é um sofisma em suas bases metodológicas. No Antigo Oriente Próximo, a regra é que relatos e tradições podem surgir (por acréscimo ou embelezamento) na elaboração de lendas, mas não o contrário. No Antigo Oriente, as lendas não eram simplificadas para se tornar pseudo-histórias como tem sido sugerido para o Gênesis”. Simplificando as palavras de Kitchen, o que indica é que o relato de Gênesis possui características de uma “correção” daquilo que o antecede. Levi-Strauss, um dos defensores de que Gênesis é um mito, confessou que a “grande surpresa e perplexidade surgem do fato de que esses temas básicos para os mitos da criação são mundialmente os mesmos em diferentes áreas do globo”. Entre as descobertas similares ao relato mosaico foram encontrados entre aborígenes e tribos isoladas da América, Ásia, África e Oceania, ou seja, em quase todo o globo. Entre essa coletânea de relatos ao redor do mundo, rendeu um livro, best-seller ao redor do mundo, chamado O Fator Melquisedeque: O Testemunho de Deus nas Culturas Através do Mundo (São Paulo: Vida Nova, 1991).

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Seguem-se dois desses relatos encontrados em lugares distantes um do outro. Um na Índia e outro na Birmânia. Ao norte de Calcutá, na Índia, viviam dois milhões e meio de pessoas conhecidas como povo Santhal. Sua antiquíssima tradição conta que um deus chamado Thakur Jiu criou o primeiro homem do barro e deu-lhe o nome de Haram (note a semelhança fonética com o nome Adam em hebraico). Depois criou a mulher que recebeu o nome de Ayo. Ali um ser sagaz chamado Lita fez cerveja de arroz e ofereceu ao casal. Desobedecendo as ordens divinas, eles beberam o líquido e dormiram. Quando acordaram perceberam que estavam nus. (Silva, 2007, pag. 50).

Correlacionando: Distante da Índia, encontramos outra remota tradição contada pelo povo Karen, da Birmânia. Ela está preservada em antigos hinos que foram traduzidos de um primitivo dialeto no final do século 18. Uma das estrofes litúrgicas diz que um deus chamado I’wa formou o mundo a partir da água e a terra produziu o fruto da tentação. Havia ordens explícitas para ninguém comê-lo, mas um espírito rebelde chamado Um-Kaw_Iee enganou duas pessoas fazendo-as experimentar o alimento da morte. Por causa disso, os homens ficaram sujeitos à doença, envelhecimento e punição. (Silva, 2007, pag. 51).

Ainda que contenham distorções nestes relatos, seu escopo segue a mesma base do livro bíblico. Conforme Silva (pag. 51) esses relatos implicam uma suposta tradição adâmica onde seguimos pegadas de uma ancestralidade comum a toda raça humana.

3. José no Egito A narrativa de José é uma das histórias mais famosas do relato bíblico do Antigo Testamento. Intriga familiar, inveja, escravidão, ascensão ao governo e redenção, são alguns ingredientes que compõe a história deste personagem que foi vítima de um plano, movido por inveja, pelos seus próprios irmãos. Eles o venderam dando como desaparecido seu corpo ao seu pai que tanto o amava. Conforme o relato bíblico, o ápice da ira de seus irmãos ocorreu devido uma túnica preparada por Jacó a José (Gênesis, 37.3-4). Esta motivação para nós ocidentais dos dias de hoje aparenta um tanto estranha e imprópria para a ação que culminou na venda de José pelos irmãos. Mas, de uma forma filosófica, devemos nos despir de nossas “vestes” ocidentais para não incorrer em anacronismo (erro de tempo).

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A começarmos pelo fato de Jacó, pai de José, ter duas esposas e também possuir uma escrava de cada esposa, constituindo assim o que chamamos nos dias atuais de poligamia. Segundo nos relata Vaux (2003, pa. 46) o Código de Hamurabi de 1.700 anos antes de Cristo e que regulava as tribos daquele período, permitia aos patriarcas possuir somente uma esposa, mas em caso de esterilidade uma escrava poderia servir de concubina, devendo os direitos conjugais apenas a esposa. O caso de Jacó ultrapassou esses limites, tendo duas esposas. Mais tarde a Mesopotâmia também abrandou as regras e permitiu aos homens terem quantas concubinas desejassem, podendo, inclusive, elevar alguma concubina ao posto de esposa (Vaux, 2003, pa.47). Essa poligamia era também sinônima de respeito, porém, concordando com Vaux (2003, pag. 47), Silva diz que “não obstante, ele tinha de lidar com o problema de que cada uma de suas mulheres gostaria que seu filho e não o da outra fosse o sucessor do pai na chefia do clã” (2007, pag. 82). Procurando contextualizar a vida tribal daquele período, essa era a motivação que levou os irmãos de José a odiá-lo tanto; Jacó por meio desse presente relatado no livro de Gênesis (37. 3) constituiu José líder do grupo tribal. Ralph Gower nos diz: José ganhou uma túnica feita de muitas peças. As peças adicionais eram provavelmente mangas compridas que atrapalhavam quando havia serviço a fazer. (Quando as mulheres usavam mangas longas e largas, elas as amarravam atrás do pescoço para que os braços ficassem livres.) Isso indicava que José não devia fazer o trabalho pesado; ele era o herdeiro escolhido para governar a família. (Gower, 2012, pag. 12).

Essa cultura das vestes no Oriente Médio ainda nos dias atuais é muito valorizada, mas naquele período o comprimento e as cores dos tecidos possuíam um significado político muito mais acentuado, conforme Silva (2007, pag. 82). Mas a arqueologia nos confirma ou ajuda a traçar linhas paralelas desses eventos narrados em Gênesis, como por exemplo, o comércio nômade de escravos e a ascensão de um estrangeiro ao governo egípcio? Sim, muitas descobertas, por meio dos registros e túmulos egípcios nos levam a estas particularidades.

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3.1 Registros Paralelos Há 100 km ao sul do Cairo, existe uma pequena vila chamada Beni Hassan. Muitos desenhos e inscrições em alguns túmulos demonstram a vida diária de períodos próximos a 12ª dinastia (1800 a.C. aproximadamente), e pode-se encontrar em um deles uma caravana de nômades semitas seguindo rumo ao Egito para comprar alimentos liderados por Abissai (nome semita tanto quanto Jacó, Benjamin e Judá). Este relato pode ser lido no texto hieróglifo ao alto da parede. Apenas este registro seria suficiente para concordar com a narrativa bíblica de que havia crise de fome e que hebreus seguiram ao território egípcio para buscar alimentos. Mas o texto traz mais paralelismos, além das particularidades e detalhes das figuras. É possível notar nos detalhes da pintura a diferença dos egípcios para os semitas, no caso a barba e as vestimentas. Outros realces, em relação aos semitas são destacados, como por exemplo, detalhes das vestimentas. Nos dias atuais por meio de processos químicos é possível se chegar à tonalidade de cor desejada, mas naquele período era um pouco mais complicado, devido a se tratar de produtos naturais. As cores, vermelha e púrpura eram as mais difíceis de conseguir (Silva, 2007, pag. 84), portanto se tornavam mais caros em vestimentas. Nas gravuras de Beni Hassan encontra-se esse tipo de cores em algumas vestes semitas. Para alguns especialistas a túnica de José deveria possuir alguma espécie de ornamento próprio de sacerdotes e divindades do antigo Oriente Médio. Textos cuneiformes referem-se a tipos de vestimentas cerimoniais chamadas kutinnu pishannu, essa designação lembra bem de perto o termo hebraico usado para descrever o presente de Jacó ao filho José, que no caso é chamado no texto de Gênesis de ketonet passim. Esses paralelismos remetem a veracidade do texto bíblico.

3.2 Um Escravo Governante O texto de Gênesis nos informa que José foi vendido à caravana ismaelita por 20 “siclos” ou “pesos” de prata. Muitos minimalistas dos dias atuais, ou seja, críticos que consideram o mínimo e rejeitam o máximo da bíblia defendem a idéia do texto do Pentateuco ser posterior ao cativeiro babilônico. Em outras palavras, não seria Moisés e sim outro, ou outros, autores dos cinco primeiros livros bíblicos. Portanto essa informação do texto de Gênesis 37. 28, com respeito ao valor da venda de José, não podem passar de alto.

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Registros e documentos egípcios antigos revelam ser esse o preço esperado por um escravo no 2º milênio antes de Cristo. Com o passar do tempo o valor foi aumentando de 30, chegando até 50 “siclos” ou “pesos” de moedas, isto ocorrendo justamente no período do cativeiro babilônico. Desta forma, confirma que, não seria correto considerar que houvesse outro autor da narrativa do relato de Gênesis e que o mesmo fosse dos tempos do cativeiro na Babilônia, já que os valores daquele período diferem do evento de 1.200 anos atrás. Outros fatores importantes e que ruíram as teses minimalistas era a possibilidade de um estrangeiro, no caso um semita, assumir um alto posto no Egito antigo. Achados confirmam que sim, contrariando os minimalistas, era possível semitas assumirem altos escalões no Egito antigo, como em Saqqara, que foi encontrado o nome de Apael, semita, primeiro-ministro do faraó Akenaton.

3.3 Seria José? Antes de discorrer sobre achados que podem ligar a passagem material do povo hebreu no Egito além do próprio José, é importante destacar uma inscrição tumular mencionada pelo egiptólogo Henrich Brugsh. Ela fala de um período de muita fome que compreende o período da 17ª a 16ª dinastia (abarca parte do tempo que José esteve no governo egípcio), e um certo Baba governador da cidade de El-Kab, segundo o texto, diz que aquilo que o governador hebreu fez pelo seu país ele fez por sua cidade, recolhendo milho e com a chegada da fome, por muitos anos distribuiu comida enquanto durou a fome (Silva, 2007, pag. 90). Escavações realizadas em 1966 por Manfred Beitak encontraram possíveis residências hebraicas em Tell el-Dab’a, antiga capital do Egito no período hicso. O formato das construções e o esquema de sítio próprio de pastores de rebanhos, ofício específico dos hebreus, corroboram com esse achado. Segundo Silva “as escavações duraram quatro anos para serem concluídas (1984-1987)”, (2007, pag. 91). O que Beitak descobriu e foi bastante sugestivo para ele e Bryant Wood, é que havia uma tumba com uma estátua de cor amarela e cabelos presos na forma de cogumelo (indicativo de origem semita). Na mão do indivíduo havia um cetro faraônico especial que os levou a supor que se tratasse de alguém com cargo especial, uma espécie de primeiro-ministro do Egito. O arqueólogo Bryan Wood concluiu que esta seria a primeira evidência material dos hebreus no Egito, e vários outros autores, incluindo Beitak, sustentam que

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ali estaria o túmulo do próprio José. Devido saqueadores de túmulos e práticas políticas de faraós que sucediam outras dinastias, algumas inscrições que poderiam confirmar essa hipótese de neste lugar (Tell el Dab’a) ser a casa de José no final de seu governo e sua tumba, foram destruídas. Para longe de qualquer questionamento essa hipótese nos leva a supor que podemos estar diante do túmulo do antigo patriarca e vários indícios tem levado a isso, ou seja, que José poderia ter estado por ali.

4. Moises e o Êxodo Moisés, um homem conhecido por todos os estudiosos da bíblia por suas muitas manifestações extraordinárias realizadas por Deus através de sua vida. Manifestação do poder de Deus no Egito, local esse onde tem o nascimento de Moisés, temos uma caminhada de quarenta anos pelo deserto, onde um povo escolhido por Deus caminhou rumo a uma terra prometida por Deus ao seu povo. Temos descrito na bíblia a historia de Moises, suas experiências, como por exemplo, na sarça ardente, onde o fogo não a consumiu por um período de tempo, tempo esse que Deus falava com Moises através daquelas chamas, tem também as pragas enviadas por Deus ao Egito, como forma de punição, da aplicação do juízo de Deus a faraó, a abertura do mar vermelho, a rocha que jorrou água para saciar a sede do povo, o maná enviado do céu por Deus para saciar a fome desse povo, enfim, são vários os exemplos dessa manifestação do poder de Deus através de Moises. Muitos críticos, estudiosos ao ler e estudar estes fatos, estas historias a respeito de Moises e do Êxodo, sobre a saída do povo hebreu do Egito, buscam motivos para contestar tais eventos. O primeiro fato que eles buscam contestar está relacionado ao fato de Moises ter sido salvo na margem do rio Nilo. Mas a historia nos conta a respeito de Sargão I, o grande rei de Acade. Ele governou babilônia na segunda metade do 3° século a.C, este foi um personagem legitimamente histórico, com um surpreendente começo de vida. Foram encontrados fragmentos neobabilônicos, escritos em tabletes, desterrados na região do Iraque, que nos conta parte da historia de Sargão I. Nos conta o escrito que sua mãe, uma sacerdotisa o concebeu, depois o pôs em um cesto de juncos, fechou a tampa com betume, após isso ela o levou ate o rio, e o deixou boiando, ate que a correnteza o levou ate Akki, o regador das águas. Aqui temos um relato muito parecido com a história do inicio da vida de Moises, descrito nos primeiros capítulos do livro do Êxodo.

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Até recentemente muitos estudiosos acreditavam que esse escrito teria sido a base para a confecção dos escritos contidos na bíblia sagrada concernentes ao inicio da vida de Moises. Muitos estudiosos crêem que muitas das historias descritas na bíblia foram escritas por escribas judeus cativos na babilônia em 587 a.C. Ali cativos em babilônia os judeus teriam conhecido a historia de Sargão e assim, teriam acrescentado a historia de Moises esse fato. Mas para provar que esses fatos relacionados à vida de Moises não foram produzidos a partir de um mito da babilônia, teríamos que provar que esses fatos estão relacionados à cultura egípcia. Agora o que fazer? James K. Hoffmeier, um egiptólogo da Trinity International University (Illinois, EUA) demonstrou numa pesquisa recente que no texto original que conta a historia do Êxodo de Moises e do povo hebreu do Egito, estão repletos de termos técnicos egípcios que não faziam parte do vocabulário hebraico, muito menos do vocabulário babilônico usado após o exílio do povo hebreu em Babilônia (597-527 a.C). Palavras importantes do texto como cesto, junco, papiro, linho, ribeira, são inquestionavelmente egípcios e não era de se esperar que um escriba judeu cativo em babilônia conhecesse tão bem tais palavras. Estas palavras só podem ter sido escritas por alguém que morou nas cercanias do Nilo em um período muito anterior ao 6° século a.C, período final do cativeiro babilônico conforme (Silva, 2014, pag. 94).

4.1 Escravos Hebreus no Egito A bíblia trata de um assunto um tanto quanto complicado, que é a escravidão do povo hebreu no Egito. Essa escravidão ocorreu em um período de 430 anos, descrito principalmente no livro do Êxodo. Seria difícil acreditar na existência de um povo que permaneceu escravo por tanto tempo nas cercanias do rio Nilo? Seria um absurdo acreditar que esse povo escravo teria contribuído para as construções de alguns monumentos no Egito? Seria difícil, não fossem os vestígios deixados por eles até os dias atuais. Hoje devido ao conflito árabe-israelense, permeado de um preconceito étnico e religioso é muito difícil você encontrar um árabe que confesse que o povo hebreu, ou seja, de origem semita tenha contribuído de forma eficaz para o crescimento do antigo Egito como nação. Uma região quase que em sua totalidade mulçumana, seria algo inconcebível um árabe confessar e ensinar aos seus filhos que um judeu contribuiu para o estabelecimento do antigo império egípcio.

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Faz-se necessário a realização de uma pesquisa séria, não levando em conta conceitos políticos, religiosos, nacionalistas, territoriais para obtermos resultados relevantes. Temos pleno conhecimento de acordo com pesquisas realizadas por estudiosos sérios que até o presente momento não foi encontrado nenhuma menção direta nas fontes egípcias acerca da opressão dos hebreus ou da saga de Moises. Afinal, temos que entender que há muito que se pesquisar sobre a história dos faraós. Precisamos compreender também que fazia parte da cultura de alguns monarcas apagarem dos monumentos oficiais, relatos de conquista e vitorias que aconteceram antes de seus governos. Tendo em vista isso, muito da historia do Egito foi definitivamente perdido. Mesmo com toda a perda de informações, documentos importantes, temos informações que são importantes para se comprovar a opressão, a escravidão sofrida pelo povo hebreu no Egito. A bíblia diz em Ex 1.13,14 – e os egípcios faziam servir os filhos de Israel com dureza; 14 – assim que lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro em tijolos, e com todo o trabalho no campo, com todo o seu serviço, em que os obrigavam com dureza. Esta informação dada pela bíblia é muito importante, pois até os dias atuais moradores pobres das margens do rio Nilo mantém a mesma pratica milenar, de produzir tijolos com barro retirado do próprio rio e misturá-lo com palha, como a bíblia menciona em outro texto Ex 5.6,7. Isto é algo a ser mencionado, pois a fabricação de tijolos em Jerusalém não era comum, pois suas obras e monumentos eram construídos com pedras e não tijolos. Podemos dizer o mesmo dos babilônios que embora fabricassem tijolos, os faziam com técnicas muito avançadas em relação aos egípcios, usando fornos com temperaturas elevadas, ao contrario dos egípcios que deixavam seus tijolos expostos ao sol para secarem (Silva, 2014, pag. 97). Este relato nos leva a entender que o escritor não retirou informações do que ocorria em Jerusalém ou em babilônia, e sim, de algo comum à cultura egípcia. Temos as atividades das olarias do antigo Egito descritas em desenhos nas paredes de importantes tumbas egípcias. Como por exemplo, uma tumba Rekhmire que viveu sob o domínio de Tutmés II, cerca de 15 séculos a.C, ou seja, próximo a data do Êxodo do povo hebreu. São cenas de trabalhadores braçais semitas fabricando tijolos, à semelhança do que descreve o texto bíblico. São representações de homens com varas nas mãos chicoteando impiedosamente os escravos. Desenhos ornamentais encontrados em um dos templos de Tebas, mais precisamente no complexo de Karnac, mostram a

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figura de um egípcio tendo em sua mão uma vara levantada, expressando a seguinte frase aos trabalhadores: “a vara está em minha mão! Não sejam preguiçosos!”. Noutra representação temos um relevo de Tutmés III, onde mostra o faraó espancando um escravo siro-palestino, ou seja, um hebreu, e levantando-o pelos cabelos em sinal de extrema humilhação. A imagem descreve que este escravo acabara de ser subjugado, ele ergue as mãos implorando misericórdia. Temos nesta imagem uma cena que descreve bem a reação de Moises ao matar um egípcio, pois ele fica irado ao ver o tratamento humilhante que um hebreu era submetido nas obras do Egito antigo Ex 2.11-15 conforme.

4.2 As Pragas Ao tentar provar que o êxodo ocorreu de forma concreta, temos muitas evidencias, mas nada pode se comparar aos relatos das pragas que caíram sobre o Egito e seu povo. Algo que ficou registrado na mente desse povo por muito tempo. Um historiador grego do 1° século a.C, chamado Deodoro Siculo, escreveu o seguinte testemunho que permanece até hoje: “Nos tempos antigos houve uma grande praga no Egito e muitos atribuíram ao fato de Deus estar ofendido com eles por causa dos estrangeiros que estavam em seu país... os egípcios concluíram que, a menos que os estrangeiros fossem embora de seu país, eles jamais se livrariam de suas misérias. Sobre isso, conforme nos informaram alguns escritores, os mais eminentes e estimados daqueles estrangeiros que estavam no Egito foram obrigados a deixar o país... eles se retiraram para a província que agora se chama Judéia. Ele não fica longe do Egito e estava desabitada na ocasião. Aqueles emigrantes foram, pois conduzidos por Moises que era superior a todos em sabedoria e poder. Ele lhes deu leis e ordenou que não fizessem imagens de deuses, pois só havia um só Deus no céu que está sobre tudo e é Senhor de tudo” (Silva, 2007, pag. 99).

Temos um papiro encontrado no Egito em 1820, chamado papiro de Ipuwer, onde se faz uma clara conexão com o Êxodo. Logo após ser descoberto, este documento foi levado para o museu da universidade de Leiden, na Holanda, onde permanece até hoje. Esse documento foi decifrado por Alan H. Gardner, e só veio ao conhecimento do púbico após 1909. Um documento que leva o nome do seu autor, Ipuwer, um antigo sacerdote egípcio. Trata-se de um lamento e admoestação cerimonial. Como o texto nos mostra,

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ele se dirige ao faraó questionando-o acerca do que estaria ocorrendo com a terra do Egito principalmente em relação ao seu principal rio, o Nilo. “os estrangeiros vieram para o Egito... tem crescido e estão por toda a parte... o Nilo se tornou em sangue... as plantações em chamas... a casa real perdeu todos os seus escravos... os mortos estão sendo sepultados pelo rio... os pobres estão se tornando donos de tudo... os filhos dos nobres estão morrendo inesperadamente... o ouro está no pescoço... o povo do Oasis está indo embora e levando as provisões para o seu festival” (Silva, 2007, pag. 99).

Esse texto está muito ligado ao que está escrito em Ex. 7.14-24, especialmente em relação ao fato dos escravos terem ido embora levando consigo algumas riquezas. Essa referencia está ligada também ao texto em Ex. 12.35,36, que nos diz que os hebreus foram aos egípcios pedir objetos de prata e ouro, de modo que eles davam o que eles pediam. Há certo debate acerca do período desse documento escrito por Ipuwer. O manuscrito foi escrito entre a 19° ou 20° dinastia entre 1350-1100 a.C, embora tenhamos essas datas, esse texto trata-se de uma copia, pois originalmente esse texto fora escrito em um tempo anterior. Certamente em uma ocasião anterior ao êxodo, quando o Egito foi castigado pelas pragas.

5. A Arqueologia e Jesus De acordo com a história, ao longo dos tempos tivemos muitos movimentos sociais, religiosos e políticos. Na Alemanha no século 18 tivemos o Iluminismo alemão (Aufklarung), que surgiu como resultado de um espírito crítico-racionalista que dominava toda a Europa. Esse foi um período que supervalorizava o racionalismo em detrimento à fé, especialmente a fé cristã que se baseia nos evangelhos. A idéia desse movimento alemão era criar uma religião cristã mais racional e menos sentimentalista. Eles queriam evitar dois extremos, o primeiro era não ceder a um dogmatismo, influenciado pelas crenças oficiais da igreja cristã. O segundo era não cair na negação completa de Cristo, como fizeram os pensadores franceses. Sendo assim, surgiram muitos teólogos expondo teorias sobre quem fora Jesus Cristo. Suas novas idéias iluministas acerca do fundador do cristianismo contradiziam a visão tradicional da igreja cristã acerca do filho de Deus. Os iluministas alemães pretendiam distinguir o Jesus histórico (historischer Jesus) e o Cristo da fé (geschichtlicher Christus). Eles entendiam que o primeiro, o Jesus histórico, se existiu, foi apenas um homem comum como todos os outros que fizeram parte da historia em Israel no primeiro século da era

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cristã, já o segundo seria um ser mitológico, que os cristãos do primeiro século inventaram e que a igreja cristã tratou de manter viva essa tradição ao longo da historia.

5.1 Jesus existiu? Diante do surgimento do movimento Iluminista na Alemanha os adeptos desse movimento queriam saber se poderiam conhecer o Jesus histórico, se havia a certeza de sua existência, se eram confiáveis informações acerca dele contidas nos quatro evangelhos. Com recursos disponíveis nesse período, como a recém inaugurada arqueologia bíblica, como ferramenta nos ramos cientifico, os estudiosos teriam respostas para tais questionamentos. Muita coisa já havia sido descoberta confirmando a historicidade de varias partes do Antigo Testamento. Começa-se então a utilizar o mesmo método usado para confirmar eventos históricos do Antigo Testamento para obter respostas acerca de Jesus em o Novo Testamento. De acordo com escavações realizadas na palestina (hoje Israel) e também com a descoberta de vários documentos romanos e judaicos, confirmaram a primeira de todas as questões, a existência de um homem chamado Jesus de Nazaré. Flavio Josefo (37-100 d.C), historiador judeu, aliado dos romanos, escreveu um clássico tratado sobre a história dos judeus desde o seu inicio até o primeiro século d.C, período em que ele viveu. Ele menciona Jesus pelo menos três vezes, embora a ultima seja uma interpolação tardia, portanto, não é digna de avaliação. Numa referencia clara ao ministério de Jesus ele escreve a respeito dos seus feitos extraordinários, o que poderia ser uma evidencia testemunhal de tais milagres. Josefo era judeu, não era seguidor de Jesus, portanto, ele não se daria o trabalho de registrar tais acontecimentos em relação a Jesus, senão por se tratarem de fatos históricos conforme Silva (pag. 157).

5.2 Fontes Romanas Em relação às fontes romanas que comprovaram que Jesus Cristo viveu no primeiro século, temos duas informações. Primeiro lugar temos o historiador Tácito que descrevendo por volta do ano 115 d.C o incêndio de Roma ocorrido em 64 d.C, ele mencionou perseguição de Nero aos cristãos, e mencionou também o nome de Cristo que para seu entendimento não era um titulo, e sim um nome próprio. Ele escreve sobre uma perseguição ordenada por Nero, onde ele afirmava que os cristãos, seguidores de

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Jesus Cristo foram os causadores do incêndio em Roma. Os cristãos foram perseguidos, capturados, presos, torturados, eram expostos nas arenas, queimados vivos, pregados em cruzes. Outra fonte trata-se de Suetônio, cerca de (69-122 d.C). Suetônio foi um historiador romano que fez dois registros históricos encomendados por Roma, um sobre a vida de Claudio e o outro sobre a vida de Nero. Em ambos ele menciona algo que pode ser uma referencia a Jesus. No primeiro texto ele faz menção da expulsão dos judeus de Roma por volta do ano 49 d.C durante o reinado de Claudio e faz menção de uma estreita ligação entre os judeus e um certo “Chrestos”, que poderia ser uma grafia errada do nome Cristo, conforme Silva (pag.159). No segundo registro, Suetônio fala das rigorosas repreensões instituídas pelo governo de Nero. Essas repreensões atingiram os cristãos, pois ele menciona que os cristãos eram parte de uma nova e perigosa superstição, e diz que esses cristãos foram entregues ao suplicio, ou seja, maus tratos, torturas, prisões, à morte.

5.3 Contexto histórico Ao falar do contexto histórico temos algumas evidencias que nos revelam dados curiosos acerca do tempo em que Jesus viveu, acerca de dados narrados nos evangelhos, onde a vida, o ministério, os discípulos, o modo de viver de Jesus são descritos de forma clara. O ossuário de Caifás – em novembro de 1990, trabalhadores da construção civil realizavam a edificação de um parque aquático na Peace Forest, sul da cidade velha de Jerusalém, local onde encontraram uma tumba selada desde a guerra romana de 70 d.C. Os arqueólogos da universidade hebraica foram ao local e encontraram 12 ossuários (caixas para ossos feitas de calcário). Dentro delas estavam os restos mortais de pelo menos 63 indivíduos, todos possivelmente aparentados entre si, pois se tratava de um jazigo familiar. Um dos ossuários, o mais ornamentado, surpreendeu a todos. Conforme o costume da época, alguns desses caixões traziam na tampa ou do lado o nome daquele que estava ali sepultado (Silva, 2007, pag. 161). A inscrição em língua aramaica estava bem preservada para ser lida pelos estudiosos. Estava escrito: Yehoseph bar Kapha, que traduzido significa Jose filho de (ou da família de) Caifás, esse era o nome completo do sumo sacerdote que prendeu Jesus (Silva, 2007, pag. 161). A bíblia o descreve apenas como Caifás, mas em um dos seus escritos Flavio Josefo descreve de forma completa o nome de Caifás, sumo sacerdote à época de Jesus. Havia

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no ossuário restos mortais de um homem de aproximadamente 60 anos de idade, que aumentam as chances de ser o mesmo Caifás descrito em o Novo testamento. Essa descoberta nos mostra pela primeira vez os restos físicos de alguém mencionado em o novo testamento. Barco da Galileia – em 1986, após uma longa seca em Israel, o nível do mar da Galileia baixou em vários metros. Dois jovens estavam caminhando ao longo da praia ao sul de Kibutz de Ginnosar, situado a margem ocidental do lago, e perceberam os contornos de uma estrutura de madeira enterrada na lama. Estudiosos de Israel foram ao local para avaliar a descoberta e concluíram que se tratava de um barco. Após muito esforço por parte dos estudiosos, conseguiram retirar a embarcação e transportá-la a um local onde tivessem condições apropriadas para estudá-lo mais detalhadamente. De acordo com as técnicas de construção, e dois vasos encontrados próximos ao barco, os arqueólogos concluíram tratar-se de uma embarcação do período romano do primeiro século. O barco tinha 8,2 m de comprimento, 2,3 m de largura e 1,2 m de profundidade. Com estudos mais detalhados do local onde a embarcação foi encontrada, estudiosos concluíram que aquele local tratava-se de um antigo estaleiro. A embarcação tinha capacidade de transportar 15 pessoas, inclusive uma tripulação de cinco pessoas. Provavelmente esse tipo de barco era usado para a pesca e não para transportes de pessoas. Essa descoberta foi muito importante, pois os dados históricos que temos a respeito das embarcações dessa época, são dados extraídos de fontes romanas, de Flavio Josefo e dos escritos do Novo Testamento. Até esse momento da historia muitos estudiosos duvidavam que fosse possível a construção de embarcações com a capacidade de transportar quinze pessoas pelas águas do mar da Galileia. Embora os escritos do Novo Testamento não descrevam que Jesus e seus doze discípulos tenham sido transportados em barcos de pesca com essa quantidade de passageiros, fica claro que isso seria possível, pois havia na época tecnologia para construir barcos que atendiam a essa demanda de passageiros. Pilatos – Pilatos conhecido pela historia como um procurador do império romano do primeiro século, descrito em o Novo Testamento como tal, possuía pelo menos duas residências oficiais, uma era um palácio em Jerusalém, local onde ele trabalhava governando a Judéia, outra era uma residência localizada em Cesareia Marítima. Esta era uma espécie de casa de verão onde o procurador se dirigia para descansar de suas atividades. Cesareia Marítima foi por algum tempo o maior porto romano do Leste do

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Mediterrâneo. Local de onde se partia embarcações em direção a capital do império, Roma (Silva, 2007, pag. 164). Em 1961, arqueólogos italianos que escavavam o teatro romano da cidade localizaram uma placa de pedra de “uso secundário”, ou seja, seu posto original fora demolido e os escombros foram usados posteriormente como alicerces de um novo edifício. Um dos arqueólogos percebeu que entre as construções estudadas naquele momento havia uma pedra entre os pisos de uma escadaria que parecia ter uma inscrição em latim. Esta pedra foi removida do local para ser avaliada, já a inscrição não estava em perfeita condições, mas, pôde ser decifrada. Nela estava escrito: “Pôncio Pilatos, Prefeito da Judéia”. Ao que tudo indica Pilatos havia mandado construir um Tiberium, ou seja, uma estrutura de pedra em homenagem ao imperador e, portanto, colocou o seu nome na pedra para que todos o identificassem como o executor da obra. Temos então nessa descoberta mais um personagem bíblico comprovado, pois Pilatos participou de um fato muito importante, o julgamento de Jesus. Onde logo após Jesus ter falado com Pilatos, conta-nos os escritos do Novo Testamento, ele foi condenado e levado para ser morto numa cruz, pois esse tipo de condenação era comum no império romano.

6. Conclusão Concluímos, por meio dos estudos, que a Bíblia além de possuir um rico acervo teológico e de caráter reflexivo atemporal, é também um livro de historicidade confiável. Submetido corretamente ao método de investigação histórica e amparado pela arqueologia, através das descobertas e evidências encontradas, entendemos que a colaboração deste artigo aumenta ainda mais a riqueza epistemológica e a importância desse conjunto de livros, comumente chamado Bíblia, para toda a humanidade. Não apenas no que tange a crença, mas conforme a palavra verdade, que filosoficamente é definida como realidade dos fatos pode conectar o campo subjetivo (fé) com o material (acontecimentos reais). Com certeza ainda existem discordâncias acadêmicas, porém, isso ocorre em toda produção científica de conhecimento humano. Mas à medida que se avançam os estudos a Bíblia tem sido confirmada atestando sempre sua credibilidade. Nossa conclusão final não poderia ser outra, pois, parafraseando um arqueólogo cristão chamado Rodrigo Silva “se a história que se encontra na Bíblia é verdadeira, então, a teologia que se assenta sobre ela também é”.

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7. Referências Bibliográficas SILVA, Rodrigo P. Escavando a verdade: a arqueologia e as incríveis histórias da Bíblia. Tatuí, SP, Casa Publicadora Brasileira, 2007. MAZAR, Amihai. Arqueologia na Terra da Bíblia 10 000 - 586 a.C. Editora Paulinas, 2003. VAUX, Roland De. As Instituições de Israel. Editora Teológica, 2003. GOWER, Ralph. Novo Manual dos Usos & Costumes dos Tempos Bíblicos. CPAD, 2ª edição 2012. ARQUEOLÓGICA, Bíblia de Estudo, Nova Versão Internacional, Editora Vida.

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