Família - Pistas bíblicas para uma ética cristã

June 3, 2017 | Autor: Luis Miguel Ferraz | Categoria: Ética, Cristianismo, Familia
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Universidade Católica Portuguesa Faculdade de Teologia

Família Qual o conceito apresentado na Bíblia e que pistas fornece para a construção ética cristã no contexto actual?

Trabalho para o

Seminário de Temas Éticos na Bíblia (2º ano – 2º semestre) orientado pelo Prof. Doutor Jerónimo Trigo Por Luís Miguel Ferraz (MIT - Aluno N.º 110193069)

LISBOA 2008/2009

Introdução O trabalho é realizado no Seminário de Temas Éticos na Bíblia, pelo que parte da análise de textos bíblicos onde o tema escolhido está presente. Sem pretender ser exaustivo na selecção – o que se revelaria impraticável –, procuram-se os textos que possam fornecer as principais linhas do ensinamento bíblico, não só no contexto em que são apresentadas, mas sobretudo enquanto luz para uma leitura actual das implicações éticas do tema. O tema da família, mesmo se abordado apenas na perspectiva da moral, é tão vasto que pode abarcar quase toda a realidade humana. De facto, é no seio familiar que toda a pessoa nasce e se desenvolve, tanto na construção da sua personalidade individual como no estabelecer de laços afectivos e redes sociais com os outros seres humanos, e mesmo no posicionamento perante a vida, o cosmos e Deus. Ainda que remetida ao seu âmbito mais restrito, que poderemos definir como comunidade de pessoas que vive na mesma casa, muitas são as questões éticas que poderão ser formuladas, seja quanto às diversas formas possíveis do laço conjugal, seja sobre as complexas teias da relação pais/filhos, seja no campo das funções sociais e comunitárias da família, seja em todas as implicações que resultam da vivência do amor e da sexualidade entre as pessoas. Assim, embora não seja possível isolar totalmente qualquer destas questões, a limitação necessária ao presente trabalho levou a que se centrasse a abordagem no cerne da constituição familiar, na noção básica e nuclear de família, expressa na relação conjugal dos esposos unidos pelo matrimónio. E ainda assim, não se pretende uma exegese profunda e muito fica por explorar, dado o enorme esforço de síntese para tentar tocar em todos os pontos importantes e deles retirar as conclusões fundamentais. Posto em forma de pergunta, será: Qual o conceito de família apresentado na Bíblia, desde o Antigo ao Novo Testamento, e que pistas fornece para a construção ética cristã no contexto actual? Para esta abordagem, procurou-se, em primeiro lugar, o suporte bibliográfico, começando pelos diversos dicionários de Bíblia e de Moral. O tema foi facilmente encontrado, logo na entrada “Família”, mas também em “Matrimónio”, “Casamento”, “Divórcio”, “Pai”, “Mãe”, “Herança”, “Sexualidade Conjugal”, “Procriação”, “Fidelidade”, “Indissolubilidade”, “Adultério”, entre outras. Seleccionaram-se os artigos que mais correspondiam ao núcleo temático definido, usados como ajuda ao estudo, em especial o artigo “Matrimónio” no Nuevo Diccionario de Teologia Bíblica, das Edições Paulinas, que se tomou por base desta elaboração. Também na primeira edição da revista Bíblica - Série Científica (Maio de 1993), dedicada precisamente ao tema “A Família na Bíblia”, se encontraram artigos fundamentais para a construção do esquema. Estas duas fontes são as usadas com mais regularidade, pelo que, mesmo sem serem repetidamente citadas, estão presentes em todo o trabalho. Os documentos do Magistério sobre este tema são variados e apresentam a doutrina oficial da Igreja sobre as múltiplas questões com ele relacionadas. Entre os mais recentes, para além da Constituição Pastoral Gaudium et Spes, encontramos a Encíclica Humanae Vitae, de Paulo VI, a Exortação Apostólica Familiaris Consortio e a Carta às Famílias, ambas de João Paulo II. Outro documento escolhido foi a publicação das Actas da II Semana Social – Família e Solidariedade, de 1994. Depois, em diversas outras obras sobre a família, de autores de teologia moral e não só, encontrámos alguns capítulos sobre a temática da família na Bíblia, que servem, sobretudo, para confirmar e enriquecer algumas afirmações dos artigos de base. Há ainda obras genéricas, usadas para consultas pontuais e para complementar alguns pontos, como as sinopses dos Evangelhos e dos documentos do Vaticano II ou o Código de Direito Canónico. Na conjugação das fontes seleccionadas, procurou-se estabelecer um esquema que pudesse responder da melhor forma à questão previamente definida. Os dois primeiros capítulos são de análise aos textos bíblicos, respectivamente, do Antigo Testamento (AT) e Novo Testamento (NT). Num terceiro capítulo, adiantam-se algumas (breves) considerações para uma leitura ética, a partir dessa análise.

1. A família das “origens” 1.1 – Fundamentação nos textos da criação Quando se fala em “família das origens”, a partir dos relatos do Génesis, não se refere um tipo de família existente nos primórdios da humanidade, ou sequer do povo bíblico, mas, antes, do “ideal” de família aí apresentado e da leitura da sua fundamentação, a partir da fé em Deus criador e da antropo-cosmovisão daí resultante. Naturalmente, nessa criação mítico-religiosa cruzam-se, igualmente, os elementos históricos e culturais próprios da sociedade em que surge e dos povos com que se relaciona. Assim, ao partirmos para uma leitura desses relatos, procuramos, não um espelho da realidade, mas a visão bíblica original do homem e do mundo, concretamente, em relação ao conceito de família que aí se apresenta. Depois, Deus disse: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra.» (Gn 1, 26-28) Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo. (...) O Senhor Deus disse: «Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele.» Então, o Senhor Deus, após ter formado da terra todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, conduziu-os até junto do homem, a fim de verificar como ele os chamaria, para que todos os seres vivos fossem conhecidos pelos nomes que o homem lhes desse. O homem designou com nomes todos os animais domésticos, todas as aves dos céus e todos os animais ferozes; contudo, não encontrou auxiliar semelhante a ele. Então, o Senhor Deus fez cair sobre o homem um sono profundo; e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma das suas costelas, cujo lugar preencheu de carne. Da costela que retirara do homem, o Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem. Então, o homem exclamou: «Esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher, visto ter sido tirada do homem!» Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne. (Gn 2, 7.18-24)

Estes são os textos que nos fornecem os dados mais directos para a teologia bíblica do matrimónio no AT. No primeiro caso, vemos como, no plano criador de Deus, “a família é constituída pelo homem, pela mulher e pela fecundidade que se manifesta nos filhos”.1 Este relato da tradição sacerdotal (séc. VI a.C.) mostra como a unidade conjugal se funda na dualidade dos sexos, como característica intrínseca da pessoa enquanto “imagem de Deus” (Ele os criou homem e mulher), e aponta como sua finalidade primordial a procriação do género humano (Crescei e multiplicai-vos). Embora acentuando o fim procriativo, ele é apresentado nesse contexto de equilíbrio com o “carácter dialogal” dos sexos distintos, que abre ao dom e à fecundidade, e que representa o desígnio original do Criador para esta sua obra.2 No segundo texto, da tradição javista mais antiga (séc. X a. C.), essa finalidade unitiva (conceito que viria a ser usado no Vaticano II) aparece mais explicitamente como fundamento da conjugalidade. O homem (’ish) é retirado da sua solidão (não é conveniente que o homem esteja só), com a ‘oferta’ de outro ser, distinto mas igual a ele (uma auxiliar semelhante a ele), que ele reconhecerá com parte de si mesmo (’ishsha), com igual dignidade, capaz de dialogar e de amar 1 2

ALVES, Herculano, A instituição familiar na Bíblia, in Bíblica (série científica), I (1993) 1, p. 7. Cf. AA.VV., Matrimónio, in Nuevo Diccionario de Teologia Bíblica (NDTB), p. 1163; PAREDES, José Cristo Rey Garcia, O que Deus uniu – Teologia da vida matrimonial e familiar, pp. 239ss.

(Esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne). Embora acentuado o carácter dialogal e

unitivo desta relação, a finalidade procriativa, que resulta necessariamente da ligação entre os dois, como forma de reconstruir o desígnio criador original (Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne).3

Vemos como a família é entendida na sua capacidade regeneradora do núcleo social. Como nova célula, que se desprende da anterior, ela leva em si todo o potencial inicial criado por Deus. Com o fim da relação filial (deixará o pai e a mãe), inicia-se a nova relação matrimonial (os dois serão uma só carne). Significando uma união de cariz integral, da intimidade da pessoa, o que implicará o desenvolvimento de conceitos como a monogamia e a indissolubilidade no povo de Israel, esta expressão carrega também o carácter sexual da sua concretização. Em Gn 1, Deus dá-lhes a faculdade de se multiplicarem, não como uma ordem, mas como uma bênção: Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos. A família aparece, assim, na expressão do povo bíblico, como lugar da conservação da vida, da realização do futuro de cada homem e mulher enquanto co-criadores, mas também do povo e da humanidade, como se será referido em muito outros textos sobre a sua história (por exemplo, em Ex 1, 7.20: Os filhos de Israel foram fecundos e multiplicaram-se; tornaram-se tão numerosos e poderosos que encheram o país. (...) Deus retribuiu o bem às parteiras, e o povo multiplicou-se e tornou-se muito poderoso).

É, aliás, com base nesta importância que a instituição familiar adquire, que ela aparece protegida nas elaborações jurídicas do povo, especialmente no seu resumo no decálogo (Cf. Ex 20, 1-17; Dt 5, 1-21), onde quatro dos dez mandamentos lhe dizem directamente respeito: sobre a piedade para com os pais (4º), o adultério e a infidelidade (6º), e o desejo ou roubo da mulher do próximo (9º e 10º). Sendo considerada a célula fundamental da sociedade, é natural que leis e costumes se organizam para proteger esta instituição e garantir a sua estabilidade.4 Em resumo, os relatos da criação apresentam um “ideal” familiar, resultante da reflexão do povo sobre si mesmo e da sua relação com Deus. Embora marcados pela realidade sociológica das civilizações do Médio Oriente, superam-na pela concepção religiosa da sexualidade e do matrimónio, realidades inseridas no contexto da criação pelo Deus único. E é nesse âmbito que se coloca em perspectiva toda a história do povo, enquanto lugar de fidelidade à aliança com Deus (conceito que desenvolveremos adiante). 1.2 – Entre o ideal e o real – as famílias bíblicas O Senhor disse a Abrão: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas.» Abrão partiu, como o Senhor lhe dissera, levando consigo Lot. Quando saiu de Haran, Abrão tinha setenta e cinco anos. Tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho do seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Haran, e partiram todos para a terra de Canaã, e chegaram à terra de Canaã. (Gn 12, 1-5) Sarai, mulher de Abrão, que não lhe dera filhos, tinha uma escrava egípcia, chamada Agar. Sarai disse a Abrão: «Visto que o Senhor me tornou uma estéril, peço-te que vás ter com a minha escrava. Talvez, por ela, eu consiga ter filhos.» Abrão aceitou a proposta de Sarai. Então, Sarai, mulher de Abrão, tomou Agar, sua escrava egípcia, e deu-a por mulher a Abrão, seu marido, depois de Abrão ter vivido dez anos na terra de Canaã. Ele abeirou-se de Agar, e ela concebeu. (Gn 16, 1-4)

3 4

Cf. AA.VV., Matrimónio, in NDTB, p. 1163; ALVES, Herculano, loc. cit., p. 8. Cf. ALVES, Herculano, loc. cit., pp. 15-27.

A família do povo bíblico é preponderantemente patriarcal, em que o pai é o centro e quase dono de toda a família (bêt avôt – a casa do pai), um conceito que inclui a(s) esposa(s), os filhos, noras, genros, servos, escravos e mesmo os animais e outros bens do grupo. O pai tem o poder judicial, sacerdotal e político, como é próprio das tribos nómadas, em que uma organização supra-familiar se torna inviável. Por outro lado, inserida no contexto pagão envolvente, em que o politeísmo e a poligamia são prática comum, estas realidade afectam também a sociedade de Israel. É bem conhecida a sua dificuldade em manter a fidelidade ao Deus único, tal como são evidentes os desvios comportamentais em relação à família.5 Como refere D. António Clemente, “a monogamia virá a aparecer no horizonte bíblico como coincidência humana com a relação única que Deus mantém com os seus. E com a monogamia virá a fidelidade conjugal, também reflexo do amor perene de Javé ao seu povo”.6 Servindo-nos do exemplo de Abraão, os textos citados acima servem para ilustrar essa realidade, tal como uma outra: nem sempre as famílias “reais” espelham o ideal expresso nos textos da criação, pelo menos, em toda a sua perfeição e com plena aplicação de todas as suas implicações. Os textos bíblicos, mormente no AT, não são apenas relatos de “exemplaridades”, mas também dos desvios do povo nesse caminho histórico de relação com Deus. O pecado é a expressão desse desvio do plano criador original e tem repercussões em todas as linhas da vida, também no que diz respeito à família. Assim se podem ler os relatos de fratricídio (Caim e Abel: Gn 4, 1-16), de poligamia e concubinato (Lamec: Gn 4, 19-24; Salomão: 1Rs 11, 1-13; Abraão: Gn 16, 3-16), de subserviência da mulher (Sara: Gn 12, 10-20; filhas de Selofad: Nm 36, 1-12), de assassínio por concupiscência (David: 2 Sam 11, 1-27), etc. “Os narradores dos textos bíblicos sabem que a vida familiar é árdua e querem ajudar-nos com exemplos de famílias difíceis. (...) Na experiência bíblica, as crises podem ser interpretadas como provas para possibilitar o crescimento e a maturação da vida familiar”.7 Com o mesmo objectivo, mas em sentido positivo, apresentam-se os exemplos que “agradam ao Senhor”. A família de Noé (monogâmica) foi poupada ao dilúvio (Gn 6) e dessa descendência purificada outros exemplos são apontados de matrimónio monogâmico, vivido na relação de amor e fecundo nos filhos, como são os casos de Rute (Rt 4), Tobias (Tb 7-8) ou da mãe dos Macabeus (2 Mac 7, 20s). De facto, os exemplos de Noé, Tobias e Rute ilustram a fidelidade ao plano original de Deus sobre a família, tal como os exemplos negativos mostram os desvios do povo. E é nessa linha de leitura que vamos encontrar os textos dos profetas, que usam a alegoria nupcial para expressar as relações de Deus com o seu Povo 1.3 – Sinal e encarnação da Aliança de Deus com o Homem O Senhor começou a falar a Oseias, dizendo-lhe: «Vai, toma por mulher uma prostituta, e gera filhos de prostituição, porque a nação não cessa de se prostituir, afastando-se do SENHOR.» (...) É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração. Naquele dia - oráculo do Senhor - ela me chamará: «Meu marido» e nunca mais: «Meu Baal.» Então, te desposarei para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com amor e misericórdia. (Os 1,2. 2, 16.18.21-22) 5

Cf. RÍOS, Manuel Gómez, La família, in VIDAL, Marciano (org.), Conceptos fundamentales de ética teológica, p. 589; MCKENZIE, John L., Família; Herança; Pai, in Dicionário Bíblico, Paulus, pp. 337-338; 412-413; 677678; AA.VV., Adultério; Família; Matrimónio, in Dicionário Bíblico, Ed. PS/DB, pp. 14-15; 134-135; 235. 6 CLEMENTE, Manuel, Família e Solidariedade – esboço histórico, in Família e Solidariedade – Actas da II Semana Social, pp. 261-262. 7 MORATALLA, A. Domingo, Ética de la Vida Familiar - Claves para una ciudadanía comunitária, pp. 145-146.

Recordo-me da tua fidelidade no tempo da tua juventude, dos amores do tempo do teu noivado, quando me seguias no deserto, na terra em que não se semeia. Acaso esquece a jovem as suas jóias, e a noiva a sua cinta? Mas o meu povo esqueceu-se de mim, durante dias sem fim. (Jr 2, 2.32) Então, passei de novo perto de ti e vi-te; e eis que o teu tempo era o tempo dos amores. Estendi sobre ti a ponta do meu manto e cobri a tua nudez. Fiz, então, um juramento e estabeleci contigo uma aliança oráculo do Senhor Deus. E ficaste a ser minha.(Ez 16, 8) Não tenhas medo, porque não voltarás a ser humilhada. Não te envergonhes, porque não voltarás a ser desonrada. Esquecer-te-ás da vergonha do teu estado de solteira, e não te lembrarás do opróbrio da tua viuvez. Com efeito, o teu criador é que é o teu esposo, o seu nome é Senhor do universo. O teu redentor é o Santo de Israel, chama-se Deus de toda a terra. O Senhor chamou-te novamente como a uma mulher abandonada e angustiada. Na verdade, como se pode repudiar a esposa da juventude? É o teu Deus quem o diz. Por um curto momento Eu te abandonei, mas, com grande amor, volto a unir-me contigo. Num acesso de ira, e por um instante, escondi de ti a minha face, mas Eu tenho por ti um amor eterno. É o Senhor teu redentor quem o diz. (Is 54, 4-8)

“O mais elevado contributo que o AT concede ao matrimónio é a adopção da união matrimonial como imagem da Aliança e do amor de Deus por Israel”.8 Como se lê nos textos acima citados, Deus é o “esposo sempre fiel”, apesar da “infidelidade de Israel”, a noiva. Oseias é o primeiro a usar esta imagem, talvez partindo da sua própria experiência: Deus pede-lhe que despose uma prostituta, em sinal da prostituição (infidelidade) do povo em relação a Deus. Jeremias, Ezequiel e Isaías dão-lhe um toque ainda mais terno, de relação entre o amante e a sua amada. “Na literatura profética, o amor entre os cônjuges transcende-se a si mesmo para se converter em sinal de um amor mais profundo, mais duradouro, mais fecundo”.9 Ora, Deus não tomaria o matrimónio como símbolo do seu amor, se esta não fosse uma realidade marcada pelo amor e pela fidelidade total. E vós perguntais: 'Porquê?' É porque o SENHOR se constituiu testemunha entre ti e a esposa da tua juventude, aquela que tu atraiçoaste, embora ela fosse a tua companheira e aquela com quem fizeste aliança. Porventura não fez Ele um só ser que é carne com um sopro de vida? E este ser único que procura, afinal? Uma posteridade dada por Deus. Por conseguinte, tende cuidado convosco, e que ninguém atraiçoe a mulher da sua juventude. Porque Eu odeio o divórcio - diz o Senhor, o Deus de Israel - e que alguém cubra de injustiças as suas vestes - diz o Senhor do universo. Portanto, tende cuidado convosco e não cometais essa traição.» (Ml 2, 14-16) Grava-me como selo em teu coração, como selo no teu braço, porque forte como a morte é o amor, implacável como o abismo é a paixão; os seus ardores são chamas de fogo, são labaredas divinas. Nem as águas caudalosas conseguirão apagar o fogo do amor, nem as torrentes o podem submergir. Se alguém desse toda a riqueza de sua casa para comprar o amor, seria ainda tratado com desprezo. (Ct 8, 6-7)

No texto do profeta Malaquias, afirma-se claramente que a espinha dorsal do matrimónio é a aliança entre homem e mulher, abençoada por Deus, e que encarna a própria relação expressa na Aliança entre Deus e o seu Povo. Em toda a literatura sapiencial se referem os valores intrínsecos a esta relação, mesmo no que diz respeito ao dom dos filhos (cf. Sl 127, 1-4) e às virtudes exigíveis a vivência em aliança (cf. Sir 26, 1-3). Mas é no livro do Cântico dos Cânticos que se revela em toda a sua poesia a beleza desta entrega de relação amorosa, no duplo sentido da exaltação do amor entre os esposos – também na sua finalidade unitiva e no seu carácter sensual –, e do amor de Deus pela humanidade. Como é exemplo o texto citado acima, o amor surge com a força primordial, inextinguível e sem preço da aliança matrimonial, imagem perfeita do sentimento de Deus para com o seu povo. 8 9

MCKENZIE, John L., Matrimónio, in Dicionário Bíblico, p. 594. FLECHA, José-Román, Família – lugar de evangelização, p. 41.

2. A plenitude da família, em Cristo 2.1 – O Messias nasce na família humana: a nova criação e a nova aliança Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai darlhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela. (Lc 1, 26-35.38)

Deus revela-se na sua plenitude através da incarnação do Filho no seio de uma família humana, de Maria e José. O ‘novo Adão’ vem dar seguimento à humanidade do primeiro Adão, numa nova criação que é, sobretudo, nova aliança entre Deus e os homens. “O Filho de Deus viveu na carne, viveu a tarefa humana do trabalho, e viveu no seio de uma família”, pelo que “a família é uma realidade ungida e salvadora pela Palavra feita carne”, mas a sua importância resulta sobretudo do “anúncio vibrante do Reinado de Deus que se torna presente na vida e na palavra de Jesus”.10 Na sua vida terrena, Jesus valoriza diversos episódios familiares: o primeiro milagre é numas bodas nupciais (Jo 2, 1-11), tem uma amizade especial com a família de Lázaro (Jo 11, 1-44), cura a sogra de Pedro (Mc 1, 29-31), compadece-se com a viúva de Naim (Lc 7, 11-14), usa a imagem do pai para mostrar o amor de Deus pelos seus filhos (Lc 15, 11-32), mostra uma predilecção especial pelas crianças (MC 10, 13-16), etc. Mas é quando fala da sua própria família que a vai situar de novo no plano original de Deus. Nisto chegam sua mãe e seus irmãos que, ficando do lado de fora, o mandam chamar. A multidão estava sentada em volta dele, quando lhe disseram: «Estão lá fora a tua mãe e os teus irmãos que te procuram.» Ele respondeu: «Quem são minha mãe e meus irmãos?» E, percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele, disse: «Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.» (Mc 3, 31-35) Quem amar o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem amar o filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim. (Mt 10, 37)

A família não é um valor absoluto em si, mas está aberta às exigências superiores de Deus, tendo como valor primordial o Reino, onde o elemento preponderante é a aceitação da vontade divina por parte dos seus membros (aliança), tal como já o fora para Maria ao aceitar a encarnação do Verbo. “O Evangelho afirma e anuncia o mundo como ordem da criação de Deus; e o matrimónio faz parte dele. Mas existe também uma outra ordem, pela qual a ordem da criação pode ser superada e suprimida, a saber, a ordem por causa do Reino de Deus que se vem impondo”.11 Aproveitamos o resumo de RIOS: “A postura de Jesus, lida hoje, é afirmação da grandeza original do matrimónio e da dignidade e igualdade da mulher, e, ao mesmo tempo, recusa dos esquemas de domínio que se legitimavam no direito patriarcal. O seu projecto de ‘familia’ supera os esquemas legais de sangue e de povo para se abrir a novas comunidades de fraternas onde se acolham, preferencialmente, os que não são da família, e 10 11

Idem, op. cit., p. 43. SCHELKLE, Karl Hermann, Teologia do Novo Testamento - 4, p. 263.

onde as relações interpessoais se construam sobre o serviço e não sobre o domínio. Não nega a família patriarcal do seu tempo, mas introduz valores críticos que a questionam como projecto evangélico”.12 A única vez que Jesus fala directamente do matrimónio, retoma os relatos do Génesis para reafirmar que o matrimónio estável faz parte do plano de Deus: Alguns fariseus, para o experimentarem, disseram-lhe: «É permitido a um homem divorciar-se da sua mulher por qualquer motivo?» Ele respondeu: «Não lestes que o Criador, desde o princípio, fê-los homem e mulher, e disse: Por isso, o homem deixará o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois um só? Portanto, já não são dois, mas um só. Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.» Eles, porém, objectaram: «Então, porque é que Moisés preceituou dar-lhe carta de divórcio, ao repudiá-la?» Respondeu Jesus: «Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas, ao princípio, não foi assim. Ora Eu digo-vos: Se alguém se divorciar da sua mulher - excepto em caso de união ilegal - e casar com outra, comete adultério.» (Mt 19, 3-9)

Jesus recentra a questão do matrimónio na aliança de amor indissolúvel e abençoada por Deus entre homem e mulher. Por isso, recusa qualquer forma de divórcio, cujas permissões no AT atribui à condescendência de Deus perante a “dureza do coração humano” (mas, ao princípio, não foi assim), e considera uma nova relação pós-matrimonial como forma de adultério.13 “Mas Ele não veio julgar o mundo, nem condená-lo, nem tão-pouco instaurar uma nova religião, em oposição às religiões do mundo. Ele veio para nos fazer recuperar a vocação originária; para nos fazer sentir homens e mulheres de bênção, de bênção criadora. Por isso, têm tanta força aquelas palavras que pronunciou sobre o matrimónio: «no princípio não foi assim!» E a sua proposta tinha muito que ver com o projecto originário do Criador.”14 2.2 – Doutrina Paulina: sinal da união de Cristo à Igreja Mas a respeito do que me escrevestes, penso que seria bom para o homem abster-se da mulher. Todavia, para evitar o perigo da incontinência, cada homem tenha a sua mulher e cada mulher, o seu marido. O marido cumpra o dever conjugal para com a sua esposa, e a esposa faça o mesmo para com o seu marido. A esposa não pode dispor do próprio corpo, mas sim o marido; e, do mesmo modo, o marido não pode dispor do próprio corpo, mas sim a esposa. Não vos recuseis um ao outro, a não ser de mútuo acordo e por algum tempo, para vos dedicardes à oração; depois, voltai de novo um para o outro, para que Satanás não vos tente devido à vossa incapacidade de autodomínio. Digo isto como concessão e não como ordem. Desejaria que todos os homens fossem como eu, mas cada um recebe de Deus o seu próprio carisma, um de uma maneira, outro de outra. Aos solteiros e às viúvas digo que é bom para eles ficarem como eu. Mas, se não podem guardar continência, casem-se; pois é melhor casar-se do que ficar abrasado. Aos que já estão casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido; se, porém, está separada, não se case de novo, ou, então, reconcilie-se com o marido; e o marido não repudie a sua mulher. (1 Cor 7, 1-10) 12

RÍOS, Manuel Gómez, loc. cit., p. 591. Este texto de Mateus admite uma excepção (em caso de união ilegal) que não se encontra nos outros sinópticos (cf. Mc 10, 11-12 e Lc 16,18), nem em Paulo (cf. 2 Cor 7, 10-11), mas deveria corresponder a algum caso concreto que estivesse na mente do evangelista, provavelmente relacionado com as uniões incestuosas ou de concubinato, que causavam problemas nas comunidades aquando da conversão de judeus ou pagãos que viviam antes nessas condições. (A este propósito, cf. ESTEVES, António Luís, O Matrimónio e a Família no Novo Testamento, in Bíblica (série científica), I (1993) 1, pp. 79-84; AA.VV., Matrimónio, in NDTB, pp. 1165-66; PAREDES, José Cristo Rey Garcia, op. cit., pp. 267-268; SCHNACKENBURG, Rudolf, El Mensaje Moral del Nuevo Testamento, pp. 175-181; ORDUÑA, R. Rincón (et al.), Práxis Cristã – II, pp. 438-442). 14 PAREDES, José Cristo Rey Garcia, op. cit., p. 265. 13

Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. (Gl 3, 28)

S. Paulo expõe de maneira especial a teologia neo-testamentária sobre o matrimónio. Numa resposta à comunidade dos Coríntios, exalta a virtude da virgindade, pelo seu valor de liberdade interior, na perspectiva escatológica do regresso definitivo do Messias: no contexto da iminência do fim do mundo, relativizam-se as relações humanas, para uma maior disponibilidade para o serviço do Senhor e anúncio do Evangelho. Mas não deixa de afirmar a dignidade do matrimónio, centrada na igualdade entre marido e mulher, com os mesmos direitos e deveres, os dois formando um único ser, inseparáveis por vontade divina.15 Essa igualdade fundamental, radicada no “ser em Cristo”, é uma das chaves de leitura mais importantes para a teologia Paulina, também a propósito da família. Submetei-vos uns aos outros, no respeito que tendes a Cristo: as mulheres, aos seus maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da Igreja - Ele, o salvador do Corpo. Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim as mulheres, aos maridos, em tudo. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para a santificar, purificando-a, no banho da água, pela palavra. Ele quis apresentá-la esplêndida, como Igreja sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada. Assim devem também os maridos amar as suas mulheres, como o seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. De facto, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo; pelo contrário, alimenta-o e cuida dele, como Cristo faz à Igreja; porque nós somos membros do seu Corpo. Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, unir-se-á à sua mulher e serão os dois uma só carne. Grande é este mistério; mas eu interpreto-o em relação a Cristo e à Igreja. De qualquer modo, também vós: cada um ame a sua mulher como a si mesmo; e a mulher respeite o seu marido. (Ef 5, 21-33)

Neste texto, Paulo aprofunda ainda mais a doutrina sobre a família até descobrir o seu valor enquanto sinal e encarnação do amor de Cristo pela Igreja: a lei fundamental é o amor e o matrimónio cristão radica no próprio mistério de Deus, revelado em Cristo como esposo da Igreja.16 “O amor de Deus para com o seu povo e de Jesus para com a sua Igreja, representados sob a imagem da Aliança esponsal, impulsionam a compreender o matrimónio de uma forma absolutamente nova, mais interpessoal, mais afectiva e livre.”17 Como refere Schelkle, “a Carta aos Efésios esclarece o sentido e a natureza do matrimónio na Igreja (...), vê na palavra que Deus pronunciou no início sobre a unidade do casal humano uma predição profética acerca da unidade entre Cristo e a Igreja; a unidade entre homem e mulher, visada na criação, torna-se verdade na unidade entre Cristo e Igreja.”18 Por outro lado, o matrimónio não é apenas um contrato privado, mas faz parte do plano salvífico de Deus na dimensão da eclesialidade, como lugar primeiro da construção da Igreja. Daqui deriva a “sacramentalidade” do matrimónio cristão, como fonte de graça para viver e

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Também na continuidade deste texto de Paulo, no v. 15, se admite a excepção, no caso em que um dos cônjuges seja não-crente e queira separar-se. É o chamado “privilégio paulino”, que ainda hoje se mantém em vigor no Código de Direito Canónico (can. 1143-1147), in favorem fidei, isto é, a favor da fé, por falta de significado cristão por uma das partes do casal. (Sobre este tema, cf. ESTEVES, António Luís, loc. cit., pp. 85-87; AA.VV., Matrimónio, in NDTB, pp. 1166-1167; SCHNACKENBURG, Rudolf, op. cit., pp. 286-288; ORDUÑA, R. Rincón (et al.), op. cit., pp. 434-435; FORNÉS, Juan, El sacramento del Matrimónio (derecho matrimonial), in AA.VV., Manual de Derecho Canónico, pp. 638-639). 16 Já nos sinópticos (cf. Mc 2, 18-20; Mt 22, 1-9; Mt 25, 11-22) aparece esta identificação de Jesus com o esposo, o noivo, até nas suas próprias parábolas (cf. PAREDES, José Cristo Rey Garcia, op. cit., pp. 269-274). Mas é Paulo que vai apresentar esta teologia de forma mais sistemática. 17 PAREDES, José Cristo Rey Garcia, op. cit., p. 281. 18 SCHELKLE, Karl Hermann, op. cit., p. 269.

educar no amor. “A novidade cristã está precisamente aqui: num amor que é serviço, sem o qual nem sequer há família humana e no qual não há distinção entre homem e mulher.”19 Filhos, obedecei a vossos pais, no Senhor, pois é isso que é justo: Honra teu pai e tua mãe - tal é o primeiro mandamento, com uma promessa: para que sejas feliz e gozes de longa vida sobre a terra. E vós, pais, não exaspereis os vossos filhos, mas criai-os com a educação e correcção que vêm do Senhor. Escravos, obedecei aos senhores terrenos, com o maior respeito, na simplicidade do vosso coração, como a Cristo: não para dar nas vistas, como quem procura agradar aos homens, mas como escravos de Cristo, que fazem a vontade de Deus, do fundo do coração; servi de boa vontade, como se servísseis ao Senhor e não a homens, sabendo que cada um, escravo ou livre, será recompensado pelo Senhor, conforme o bem que fizer. E vós, os senhores, fazei o mesmo para com eles: deixai-vos de ameaças, sabendo que o Senhor, que o é tanto deles como vosso, está nos Céus e diante dele não há acepção de pessoas. (Ef 6, 1-9) Tu, porém, ensina o que é conforme à sã doutrina. Os anciãos sejam sóbrios, dignos, prudentes, firmes na fé, na caridade e na paciência. Do mesmo modo, as anciãs tenham um comportamento reverente, não sejam caluniadoras nem escravas do vinho, mas mestras de virtude, a fim de ensinarem as jovens a amar os maridos e os filhos, a serem prudentes, castas, boas donas de casa e dóceis aos maridos, de modo que a palavra de Deus não seja difamada. Exorta igualmente os jovens a serem moderados, apresentando-te em tudo a ti próprio como exemplo de boas obras, de integridade na doutrina, de dignidade, de palavra sã e irrepreensível, para que os adversários fiquem confundidos, por não terem nada de mal a dizer de nós. Exorta os escravos a serem em tudo dóceis aos seus senhores, procurando agradar-lhes em tudo e não os contradizendo. (Tt 2, 1-9)

Numa linha mais pastoral, Paulo refere-se ao âmbito mais alargado da família, que não se esgota no casal, mas se abre aos filhos, como fruto do amor mútuo, e aos que com ela se relacionam, também envolvidos na mesma dinâmica amorosa. É uma verdadeira “catequese familiar”, dirigida a todos os que estão ligados no mesmo laço familiar, e que devem agir em conformidade com a graça matrimonial que a todos impregna. Alegremo-nos, rejubilemos, dêmos-lhe glória; porque chegou o momento das núpcias do Cordeiro; a sua esposa já está ataviada. Ele ofereceu-lhe um vestido de linho resplandecente e puro.» O linho representa as boas obras dos santos. Depois disse-me: «Escreve: Felizes os convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro!» E acrescentou: «Estas são palavras verdadeiras, do próprio Deus.» (...) E vi descer do céu, de junto de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. (...) O Espírito e a Esposa dizem: «Vem!» Diga também o que escuta: «Vem!» O que tem sede que se aproxime; e o que deseja beba gratuitamente da água da vida.» (Ap 19, 7-9; 21, 2; 22, 17)

No último livro da Bíblia, a imagem da Igreja como esposa de Cristo aparece como a concretização do fim escatológico que estava no horizonte de S. Paulo. Na visão do reino celeste, o escritor sagrado contempla as núpcias do Cordeiro, quando Ele aceita a Igreja como sua esposa, perfeita e purificada.20 Será a mais bela imagem bíblica para a perfeição do amor entre os esposos, como realização plena do fim último do homem no regresso ao Pai da criação, que é a verdadeira fonte do amor a brotar do seio familiar da Santíssima Trindade.

19 20

ESTEVES, António Luís, loc. cit., p. 87. MCKENZIE, John L., loc cit., p. 595.

3. Pistas para uma ética conjugal: Instituição e Sacramento Da reflexão feita, podemos apontar três grandes áreas temáticas fundamentais, lidas sobretudo a partir do NT.21 A primeira é a relativização radical da família, diante da primazia a dar ao Reino de Deus. Se já no AT se chegava à leitura da Aliança entre Deus e o seu povo à imagem do amor conjugal, Jesus vem trazer a definitiva relação que é o amor dos esposos que deve corresponder à sua união com a Igreja e que aí reside a fonte da família: Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim (Mt 10, 37). A segunda é a estrutural igualdade entre homem e mulher, como critério de regulação das relações dentro do casal. Depois de todas as contradições, problemas de linguagem e mal-entendidos, o fundamental resume-se no novo “ser em Cristo”: não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus (Gl 3, 28). E a terceira é fundamentação dos comportamentos numa nova lógica do reino, não já dominada por regras e leis, mas cujos direitos e deveres brotam naturalmente do amor vivido entre todos os que compõem a família, seja homem ou mulher, pai ou filho, escravo ou senhor. Destas premissas, tentaremos agora retirar algumas pistas para uma construção actual da ética familiar, sobretudo, como até agora assumimos, na sua centralidade conjugal. O matrimónio é uma realidade humana (instituição) inerente à criação e comum a diversas civilizações de todos os tempos e, no caso dos cristãos, também um mistério teológico de salvação (sacramento). Desta relação entre as dimensões antropológica e teológica brotam os principais problemas e exigências para uma ética cristã da família, na descoberta do “sólido núcleo” que a distingue e caracteriza.22 A partir da mensagem bíblica, podemos encontrar três pilares fundamentais para uma ética judaico-cristã do matrimónio: a autonomia do casal, núcleo da família (deixará seu pai e sua mãe); o carácter sexual dessa união, lugar da integração da sexualidade na vida pessoal e da abertura à vida (uma só carne; sede fecundos e multiplicai-vos); e a unidade radical e dinâmica que a informa e que marca indelevelmente o homem e mulher que vivem essa comunhão em todas as dimensões da sua vida. “Corpo, amor e beleza são três categorias que fundamentam, em primeiro lugar, a forma estável de vida que é o matrimónio. (...) Na utopia das origens, já se anuncia uma realidade de casal constituída pela comunhão corporal, pela atracção da beleza e pelo amor infrangível. Três elementos ou critérios fundamentais regulam a ética hebraico-cristã do matrimónio: que o casal é autónomo, que a sua relação é muito íntima e que a unidade que formam tende a ser inquebrável. A reinterpretação destes três elementos no Novo Testamento faz aparecer a nova imagem revelada do matrimónio.”23 Os três “pilares” antes referidos não são, ainda assim, o específico do matrimónio cristão. Esse encontra-se na forma como são vividos: na sua relativização em referência ao Reino, na capacidade de os “viver no Senhor”, segundo a expressão paulina. A Bíblia, sobretudo o NT, não desenvolve em pormenor os temas éticos fundamentais, mas pode afirmar-se que a ética matrimonial cristã tem sido construída na linha de uma progressiva explicitação de exigências e indicações contidas nos valores fundamentais que a Bíblia transmite. Isso implica, por outro lado, assumir que “a família não saiu das mãos do criador como algo definitivamente definido, mas está vinculada à cultura; não há, nem houve, uma só forma de família”, conclui RIOS, que adianta: “A fé não impõe um tipo de família; pelo contrário, é o elemento crítico de qualquer 21

Cf. CAMPANINI, G., Família, in Dicionário de Teologia Moral, pp. 514-515. A expressão encontra-se em CAMPANINI, G., Matrimónio, in Dicionário de Teologia Moral, p. 759, artigo que seguimos (cf. pp. 759-767) em algumas das afirmações deste capítulo. 23 Cf. PAREDES, José Cristo Rey Garcia, op. cit., pp. 292-293. 22

modelo e o convite a tornar presentes as opções evangélicas em favor das pessoas que integram a família nas luzes e sombras da história”.24 Podemos afirmar que esse esforço hermenêutico e adaptativo tem sido feito ao longo da história, embora nem sempre na linha mais acertada. Num processo intencional de regresso às origens e de procura da verdade fundamental, iniciada, sobretudo, com o Vaticano II, os documentos mais recentes do Magistério, apresentam-nos a família como “íntima comunidade de vida e de amor, fonte de mútua santificação” (GS 48), “relação inseparável, que Deus quis e o homem não pode romper por sua iniciativa, entre os dois significados do ato conjugal: unitivo e procriativo” (HV 12), chamada a “viver fielmente a realidade da comunhão num constante empenho por fazer crescer a autêntica comunidade de pessoas”, onde “o princípio interior, a força permanente e a meta última é o amor” (FC 18). Como refere D. António Marcelino, a designação da família como “comunidade de vida e de amor é a expressão feliz que a Igreja consagrou para, na fidelidade à origem divina, sublinhar os elementos essenciais a defender e promover em cada família, qualquer que seja o seu laço jurídico e a sua expressão social e histórica.25 De facto, a definição da Gaudium et spes aponta a comunhão profunda que se realiza entre homem e mulher como o primeiro e fundamental “sentido” do matrimónio, no qual a riqueza e plenitude do amor humano não é um impedimento, mas uma ajuda potencial no caminho que leva ao encontro definitivo com Deus (cf. GS 48). Por isso, os actos da sexualidade no matrimónio, quando realizados “de modo autenticamente humano”, não só são “louváveis e dignos”, como “enriquecem mutuamente, em alegre gratidão, os próprios esposos” (GS 49). Na Humanae vitae, que aborda directamente esta questão ética, especifica-se que esses actos cumprem tal dignidade quando mantêm os dois significados unitivo e procriativo “que Deus quis e o homem não pode romper” (HV 12). Só orientado à “totalidade”, à “fidelidade” e à “fecundidade”, o amor conjugal pode “tornar visível aos homens a santidade e a suavidade da lei que une o amor mútuo dos esposos à sua cooperação com o amor de Deus, autor da vida humana (HV 25). O magistério de João Paulo II, sobretudo na Familiaris consortio, irá acentuar este princípio de “totalidade”, que permite ao matrimónio tornar-se o “lugar único” que possibilita a doação recíproca “segundo a sua verdade completa” (FC 11). Assim, mais do que como contrato, o matrimónio cristão tem vindo a ser apresentado como pacto (aliança), até nas formulações do CDC (cf. cân. 1055), numa perspectiva personalista que dá primazia ao amor sobre a lei (cf. FC 11). Como dissemos, esse é caminho para libertar a construção ética das vicissitudes históricas próprias da instituição matrimonial, para encontrar o fulcro do mistério do seu sentido sacramental profundo. Não já numa teoria dos fins, mas a partir da sua essência, o imperativo ético fundamental pode resumir-se no apelo de João Paulo II: “Família sê o que és”, isto é, “comunidade de vida e amor” com a “missão de guardar, revelar e comunicar o amor, como reflexo vivo e participação real do amor de Deus pela humanidade e do amor de Cristo Senhor pela Igreja, sua esposa” (FC 17). Esta visão mais personalista da questão conjugal traz consequências óbvias para a construção da ética cristã a respeito do matrimónio, mas que nem sempre parecem ser completamente assumidas pelo discurso do Magistério, pelos riscos de subjectivismo que traz consigo. Por exemplo, a propósito da questão do divórcio, R. Schnackenburg considera que “a proibição de Jesus se situa no campo de tensão entre uma exigência absoluta e a sua aplicação condicionada 24

RÍOS, Manuel Gómez, loc. cit., p. 593. MARCELINO, Dom António, Pastoral Familiar à luz da Palavra de Deus, in Bíblica (série científica), I (1993) 1, p. 93.

25

pelas situações históricas” e defende que “a mensagem de Jesus sobre a misericórdia divina deveria conduzir a uma nova reflexão sobre o modo com a Igreja – incluindo as suas normas canónicas – pode ajudar os seres humanos atolados em culpa e necessidade”.26 Na mesma linha de pensamento, que cruza a reflexão moral e a sua fundamentação bíblica com a necessidade da atenção pastoral, sobretudo quando se trata de casos irregulares como o dos divorciados tornados a casar, vários autores católicos têm defendido uma aproximação às origens, nesse sentido de descoberta dos valores fundamentais limpos das condicionantes culturais. Embora reconhecendo que “não se pode favorecer a apatia ou falta de seriedade e compromisso cristão com uma atitude de falsa benevolência e compreensão”, nem se pode “dar a impressão de que se facilitam ou aprovam as infidelidades ao compromisso conjugal”, afirma-se, no entanto, que cada caso concreto, nas suas múltiplas circunstâncias pessoais e comunitárias, “exigiria a busca de uma solução adequada para encontrar caminhos humanos e evangélicos que defendam o ideal e se mostrem compreensivos para com a falta ou o engano”. Isto é, mesmo que por parte da autoridade eclesiástica não sejam de esperar “orientações públicas e oficiais”, isso não deveria excluir a “possibilidade de uma solução mais compreensiva no âmbito da vida privada dos casais”.27 E aqui cabe também um papel muito importante à consciência individual bem formada, para que saiba questionar-se e tomar decisões na busca do maior bem possível nas situações concretas da vida. Mais uma vez, pelo perigo do relativismo moral, esta é uma “abertura” cada vez mais “fechada” pelo Magistério, como se percebe pela posição da encíclica Veritatis splendor (1993) e da Carta às Famílias (1994)28, quando em comparação com o apelo à consciência como último reduto da decisão moral na Gaudium et spes (cf. nn. 50 e 52). Ainda a partir da sua essência e, portanto, não como imperativo ao “fazer”, mas como realização do seu “ser”, o matrimónio é também missão e ministério, como unidade de vida conjugal que não se fecha em si, mas se abre aos outros e ao mundo, no dom de cada um dos esposos ao outro, no dom do casal aos filhos e no dom da família à humanização e santificação da sociedade, em relação aberta, solidária e criativa com o ambiente em que se insere. Com “sentido leigo”, no relacionamento respeitoso mas assumido com as realidades mundanas, no princípio da “solidariedade”, que leva o casal a enfrentar em comum a vida que é comum, e na senda da “originalidade”, que torna inventiva e criadora a sua acção no concreto dos tempos e dos lugares, a família manifestará assim o seu papel de humanização do mundo e de construtor do Reino. A este respeito, é de destacar a reflexão feita na II Semana Social da Conferência Episcopal Portuguesa, em 1994, sobre “Família e Solidariedade”, onde o tema da família é abordado nas suas mais variadas implicações sociais.29 Será importante, também, realçar a Conferencia de Puebla, em 1979, tanto na defesa da família nos contextos actuais em que sofre diversas formas de perseguição, como no destaque ao seu papel fundamental na evangelização e promoção da humanidade. Como diz M. Vidal, “a comunhão de pessoas dentro do lar e a sua consciência de solidariedade com o conjunto da sociedade constituem a nova fronteira ética da família; estes dois valores constituem o núcleo do ethos familiar”.30 26

SCHNACKENBURG, Rudolf, op. cit., p. 181. ORDUÑA, R. Rincón (et al.), op. cit., pp. 452-453. A este propósito cf. MORENO, José María Díaz, Interrogantes éticos del matrimónio, in VIDAL, Marciano (org.), op. cit., pp. 563-588. 28 Na Veritatis Splendor, o papel da consciência é completamente subjugado à primazia da verdade revelada, que àquela deverá ser apresentada para que a acolha. Na Carta às Famílias, a mesma verdade é posta em destaque, sobretudo quando se fala de “complexas situações de crise” e da “fragilidade moral de todo o ser humano” (cf. n. 11), e reafirma-se a orientação moral da Humanae Vitae, da Familiaris Consortio e de outras fontes do Magistério, como “amplo e rico tesouro da verdade cristã sobre a família” (n. 23). 29 Cf. Família e Solidariedade – Actas da II Semana Social, Gráfica de Coimbra, 1995. 30 VIDAL, Marciano, Familia y valores éticos, p. 33 27

Conclusão As grandes conclusões, em resposta à pergunta formulada no início deste trabalho, estão já retiradas no último capítulo. Ainda assim, podemos apontar alguns conceitos genéricos de resumo deste estudo. Em primeiro lugar, concluímos que, numa aproximação ético-teológica, os textos bíblicos devem ser lidos no seu contexto histórico-cultural, tendo em conta que a revelação divina é feita em situações sociais, económicas e políticas concretas, incarnando no tempo e no espaço alguns conceitos que poderão ser universais com outras formas de concretização. É nessa perspectiva que devemos ler alguns relatos menos exemplares e até escandalosos para o nosso tempo, que com alguma naturalidade se compreendem no contexto cultural da época. Na mesma linha, verificamos que os textos do AT apresentam, às vezes de forma oculta ou pouco clara, os princípios que o NT vem clarificar e tornar mais evidentes. Em Cristo, cumprese a lei das “origens” e faz-se a leitura retrospectiva e prospectiva da verdade revelada, como se viu em relação à questão da indissolubilidade do matrimónio no discurso de Jesus. Na própria concepção geral de família, vimos como a realidade do AT anda longe do “ideal” apresentado nos textos da criação e nas alegorias proféticas com a aliança entre Deus e o seu povo. No NT esse ideal é retomado e tornado mais próximo da realidade humana, sobretudo na teologia Paulina, em que não é já a família que serve de imagem para falar da aliança com Deus, mas sim os esponsais entre Cristo e a Igreja que servem de modelo perfeito do amor que devem ligar os esposos entre si.31 Assim, do AT podemos retirar o princípio basilar de que, segundo o projecto original de Deus, o amor familiar é indissolúvel e para toda a vida. Na perspectiva do Reino, no NT, essa mesma conclusão resulta no convite à vivência do amor a exemplo de Cristo, que se dá por amor na Cruz, e se torna um connosco, em Igreja. Por outro lado, esse amor familiar frutifica nos filhos e colabora na edificação do tecido social, sendo a força que identifica e dinamiza a sua acção em todas as vertentes da vida. Podemos também concluir, com A. Luís Esteves, que a leitura dos textos bíblicos “pode ajudar a Igreja, que somos todos, a ter um horizonte mais largo de hermenêutica dos acontecimentos e situações, sobretudo actuais, que pode gerar uma maior serenidade no meio dos problemas, uma tolerância pastoral mais eficaz face às pessoas e uma atitude de diálogo com o mundo envolvente que serve melhor quer a humanidade quer a Igreja”.32 E esta é uma tarefa tanto mais urgente, quanto mais verificamos que “à estabilidade e segurança de outros tempos, corresponde hoje a sensação de que a Família está a passar por uma grande ‘crise’”, perante a qual “nós, os crentes, devemos ler os sinais dos tempos à luz da fé que nos vem da Palavra de Deus e com a confiança de nos sentirmos sujeitos duma História de Salvação que está nas mãos dos homens, mas sobretudo é conduzida por Deus”.33 Em resumo, “se é verdade que a sociedade é normalmente espelho da família, a Bíblia ensinanos como é possível dar-lhe um novo fundamento, inspirando-lhe aquele alento de amor totalmente gratuito e desinteressado que é o único capaz de tornar mais humano o mundo em que vivemos”.34 31

Cf. ALVES, Herculano, loc. cit., p. 29. ESTEVES, António Luís, loc. cit., p. 89. 33 SILVA, Manuel Arantes, Perscrutando as escrituras..., In Bíblica (série científica), I (1993) 1, p. 3. 34 AA.VV., Matrimónio, in NDTB, p. 1169. 32

Bibliografia

Fonte principal A Bíblia de Jerusalém, Paulus, S. Paulo, 1985 (Apesar de ser a fonte consultada, foi usado para efeitos de citação o texto da Bíblia Sagrada, Difusora Bíblica, on-line em www.paroquias.org/biblia/index.php Documentos VATICANO II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes, 1965 PAULO VI, Papa, Encíclica Humanae Vitae, 1968 JOÃO PAULO II, Papa, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 1981 JOÃO PAULO II, Papa, Carta às Famílias, 1994 CLEMENTE, Manuel, Família e Solidariedade – esboço histórico, in Família e Solidariedade – Actas da II Semana Social, Gráfica de Coimbra, 1995, pp. 261-280 Dicionários CAMPANINI, G., Família, in Dicionário de Teologia Moral, Paulus, São Paulo, 1997, pp. 513-517 CAMPANINI, G., Matrimónio, in Dicionário de Teologia Moral, Paulus, São Paulo, 1997, pp. 758-768 MCKENZIE, John L., Família, in Dicionário Bíblico, Paulus, São Paulo, 2005, pp. 337-338 MCKENZIE, John L., Herança, in Dicionário Bíblico, Paulus, São Paulo, 2005, pp. 412-413 MCKENZIE, John L., Matrimónio, in Dicionário Bíblico, Paulus, São Paulo, 2005, pp. 591-595 MCKENZIE, John L., Pai, in Dicionário Bíblico, Paulus, São Paulo, 2005, pp. 677-678 AA.VV., Adultério, in Dicionário Bíblico, Editorial P. Socorro / Difusora Bíblica, Porto, 1983, pp. 14-15 AA.VV., Família, in Dicionário Bíblico, Editorial P. Socorro / Difusora Bíblica, Porto, 1983, pp. 134-135 AA.VV., Matrimónio, in Dicionário Bíblico, Editorial P. Socorro / Difusora Bíblica, Porto, 1983, p. 235 AA.VV., Matrimónio, in Nuevo Diccionario de Teologia Bíblica, Ed. Paulinas, Madrid, 1990, pp. 1157-1170 Revistas SILVA, Manuel Arantes, Perscrutando as escrituras sobre o matrimónio e a família, in Bíblica (série científica), I (1993) 1, Difusora Bíblica, pp. 3-4 ALVES, Herculano, A instituição familiar na Bíblia, in Bíblica (série científica), I (1993) 1, Difusora Bíblica, pp. 5-32 ESTEVES, António Luís, O Matrimónio e a Família no Novo Testamento, in Bíblica (série científica), I (1993) 1, Difusora Bíblica, pp. 77-90 MARCELINO, Dom António, Pastoral Familiar à luz da Palavra de Deus, in Bíblica (série científica), I (1993) 1, Difusora Bíblica, pp. 91-108

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