\"Farmácias em Santa Catarina da Serra e Chainça: 1898-1983\", in «Luz da Serra», Santa Catarina da Serra, Ano XLIII, n.° 510 (no original, 530), março de 2017, p. 14.

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LUZ DA SERRA

MARÇO

-- histórias da História --

14

2017

Farmácias em Santa Catarina da Serra e Chainça: 1898-1983

Nos finais de oitocentos, a cidade de Leiria dispunha de diversos estabelecimentos farmacêuticos, facto que não sucedia nos espaços mais afastados da sede concelhia, caso do território da então freguesia de Santa Catarina da Serra, hoje União das Freguesias de Santa Catarina da Serra e Chainça, onde a prática da farmácia assentava, à semelhança de outras partes do país de antanho, sobretudo no uso de chás e mezinhas, preparados por cidadãos, de forma caseira, com plantas recolhidas na região.

Naquela época, isto é, em fins do século XIX, os irmãos Joaquim e Manuel Francisco Alves, naturais de Cercal, freguesia de Santa Catarina da Serra, terminavam a sua formação académica em medicina, indo exercer, respetivamente, para Marinha Grande, então freguesia de Leiria, e Vila Nova de Ourém, atualmente (cidade de) Ourém. De acordo com as fontes históricas coevas compulsadas até ao presente, foram os primeiros cidadãos da região da atual União das Freguesias de Santa Catarina da Serra e Chainça com instrução científica naquela área, apesar de, em inúmeras

ocasiões, ainda fazerem uso de saberes acientíficos, transmitidos, durante séculos, de geração em geração, como a execução de sangrias e a aplicação de sanguessugas, para suprimir, como se aceitava então, enfermidades diversas.

Na transição de oitocentos para o século XX, instalou-se, na sede de freguesia, um indivíduo de nome Hermenegildo das Neves e Sousa, que era descendente de Augusto das Neves e Sousa, farmacêutico, proveniente de Marinha Grande, então concelho de Leiria, e de Maria de Jesus Coelho, doméstica, de Juncal, concelho de Alcobaça, por extinção do de Porto de Mós, consorciado, a 16 de fevereiro de 1898, aos 24 anos, com Joaquina de Jesus, costureira, da povoação de Galhetas, da extinta freguesia de Cortes, atual União das Freguesias de Leiria, Pousos, Barreira e Cortes, herdeira de José de Sousa e de Ana de Jesus. Tal intelectual surge na documentação da paróquia, nomeadamente nos registos paroquiais, como farmacêutico, embora o então prior Francisco da Gama Reis, natural do Sítio, Pederneira, hoje Na-

zaré, não tenha especificado se o dito Hermenegildo das Neves e Sousa tinha, ou não, estudos científicos na área em questão. Desconhece-se, de igual modo, se exerceu a profissão na freguesia, pois o rol de confessados da freguesia de inícios de novecentos não indica qualquer morador com o nome referido, pelo que se deduz que o casal já não habitava no espaço de Santa Catarina ou de Pinheiria, uma vez que o pároco, Francisco da Gama Reis incluiu a informação relativa à sede de paróquia na segunda das duas aldeias acima mencionadas. Para encontrar o nome, é preciso verificar, para o livro redigido entre 1894 e 1898, o povoado de Pinheiria, onde «Ermenigildo das Neves e Sousa» habitava com sua irmã Júlia. O primeiro estabelecimento farmacêutico do território da hodierna União das Freguesias viria a ser erigido, segundo alguns estudiosos, investigadores, em 1905, pelo sobredito Dr. Joaquim Francisco Alves. Se o projeto foi, de facto, concluído, o mesmo acabaria por ter um carácter efémero, na medida em que foi transferido para Albergaria dos Doze, c.

Pombal. Talvez isso tenha ocorrido ainda no ano mencionado, pois o jornal Leiriense, no número 97 do Ano II, com data de 4 de janeiro de 1906, noticiou o seguinte: "Nova pharmacia. - O nosso amigo o sr. Adolpho Paiva está instalando uma nova pharmacia no logar do Cercal, freguezia de Santa Catharina da Serra. Segundo nos consta a sua abertura é no proximo domingo. / É uma medida acertada, pelo que louvamos o nosso amigo Adolpho Paiva". A expressão "uma nova pharmacia no logar do Cercal" indica, de forma clara, que tinha existido, naquela aldeia santacatarinense, uma outra, o que permite corroborar, efetivamente, os dados

Apesar do que se afirmou, a freguesia manteve-se sem posto de farmácia durante parte do século XX. Em 1968, por exemplo, a então Junta de Freguesia, presidida por António Gonçalves, de Ulmeiro, registou que não havia qualquer estrutura do género em Santa Catarina da Serra, pelo que os habitantes tinham de se deslocar sobretudo a Fátima e à Caranguejeira, onde se estabeleceu, como se sabe, o Dr. António Manuel de Correia Ale-

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xandre, que também era médico na Serra. De facto, somente no dia 20 de fevereiro de 1983 é que foi inaugurada a atual farmácia, propriedade do Dr. Henrique de Jesus Francisco, com se pode observar em notícia editada no mensário Luz da Serra, de fevereiro de 1983:

«Desde há muitos anos que se notava a falta de uma farmácia na paróquia para «aviar» os utentes dos serviços médico-sociais e outros. / No passado dia 20, abriu ao público, diariamente, a farmácia «Henrique de Jesus Francisco» na casa do Augusto Gordo e está à disposição de todos, das 9 horas às 19. Já não é necessário recorrer a Fátima ou a Leiria. Bom melhoramento».

Vasco Jorge Rosa da Silva Paleógrafo e Epigrafista Leiria - Ourém ques das, "Coisas da Nossa Terra: A família dos Alves do Cercal da Gordaria (II)", in Luz da Serra, Ano XXXVIII, n.º 450, março de 2012. - Leiriense, Ano II, n.º 97, 4 de janeiro de 1906. - Rol de confessados de Santa Catarina da Serra, AP, 1894-98. - Rol de confessados de Santa Catarina da Serra, AP, 1900-04. - SILVA, Vasco Jorge Rosa da, e VICENTE, Joaquim das Neves, Santa Catarina da Serra: Estudo Histórico e Documental, Santa Catarina da Serra, Junta de Freguesia, 2013.

Bibliografia sumária:

- Correspondência recebida (1958-68), AJFSCS-C, sem fólios. - "Farmácia", in Luz da Serra, Ano IX, fevereiro de 1983, n.º 110. - NEVES, Domingos Mar-

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