FATAH, HAMAS E A CAUSA PALESTINA - André Luiz Travassos

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HAMAS, FATAH E A CAUSA PALESTINA
André Luiz Teixeira Travassos
Orientador: Prof. Dr. Helvécio de Jesus Júnior

RESUMO
Este artigo tem como principal objetivo analisar a conjuntura da disputa política, das facções Hamas e Fatah, pelo território Palestino envolvendo a atuação de Israel e atores externos, a partir da história das respectivas facções nos territórios palestinos: Cisjordânia e Gaza. O artigo também engloba os fatores de formação dos grupos a partir dos processos de descolonização ao longo do século XX, assim como também expõe a situação atual da Palestina.
Palavras-chave: Israel – Palestina – Fatah – Hamas

ABSTRACT
This article has as its main objective to analyze the conjuncture of the political dispute for the Palestine territory by the two factions Hamas and Fatah, involving external displaying the social situation of the respective Palestinian territories: The West Bank and Gaza. The article also embraces the formation elements of the two factions from the decolonization processes over the 20th century as well as exposes the current situation of Palestine.
Key words: Israel – Palestine – Fatah – Hamas






A CAUSA PALESTINA
A situação política e religiosa da Palestina data antes de sua criação pela ONU. A Palestina é um Estado de jure, ou seja, por direito, reconhecido por 136 países membros da ONU, e desde 2012 tem status de Estado não-membro Observador na Organização. Segundo a agencia Palestina responsável por realizar o censo, em 2013 a população era de 4,420,549 habitantes em uma área de 6,400 quilômetros quadrados. Cerca de 93% dos palestinos são muçulmanos e seguem a ramificação Sunita do Islã, cristãos representam 6% da população enquanto o número de judeus é perto de zero. Politicamente, a capital proclamada da Palestina é, também, Jerusalém. Entretanto, apenas uma porção da cidade sagrada para ambas as religiões é de fato a capital da Palestina.
Schanzer (2008), aponta que a Irmandade Muçulmana – movimento político e social nascido no Egito – foi fundamental para a afirmação do Islã na região de Israel e consequente formação do Estado da Palestina. Todavia esta relação unificada se findaria logo após as ocupações e a Guerra dos Seis Dias, quando os territórios ocupados foram divididos e questionamentos sobre a própria organização surgira.
A Irmandade estabeleceu suas primeiras ramificações na Cisjordânia entre 1946 e 1948. O movimento criou mais divisões depois que o Reino Hashemita da Jordânia conquistou o território na guerra Árabe-Israelense em 1948. A organização Islamista subsequentemente estendeu-se para a Faixa de Gaza, onde o Egito havia tomado o controle militar. Entretanto, em 1948 – quando o Estado de Israel foi fundado, a Jordânia ocupou a Cisjordânia e o Egito ocupou a Faixa de Gaza – a Irmandade Muçulmana Palestina foi forçada a se dividir em duas organizações separadas por razões geográficas. (SCHANZER, 2008, p. 15-16)
Após os conflitos Árabe-Israelenses, a porção oeste de Jerusalém foi ocupada por Israel e a porção leste foi ocupada e anexada pela Jordânia. Anos mais tarde, durante a Guerra dos Seis dias, Israel capturou a parte leste de Jerusalém tal como os arredores da cidade. Atualmente, a maior parte de Jerusalém está sob controle do governo Israelense, restando apenas as áreas da parte leste as quais estão sob os olhos de Israel, porém ocupadas por palestinos. Apesar de Israel ter anexado esta área a seu território, a comunidade internacional não reconhece a cidade como sua legítima capital e trata a área como território Palestino ocupado ilegalmente por Israel.
Ademais, os muçulmanos ficaram em choque com o fato de que Israel havia conquistado Jerusalém, frequentemente descrita como terceira cidade mais sagrada do Islã, depois apenas de Meca e Medina na Arábia Saudita. Este solo sagrado, assim como Israel, era considerado a waqf, ou terra contemplada para os muçulmanos por Alá. Era, portanto, inaceitável que estivesse sob o controle político e militar de não muçulmanos. (SCHANZER, 2008, p. 15)
O Estado Palestino tem reunido forças e celebrado acordos internacionais aos quais o ajudam a ratificar seu status no cenário internacional. Em 2015, foi proposto por representantes da Palestina na ONU, que a bandeira do país e do Vaticano, fossem hasteadas nas sedes da organização, porém o pedido foi negado pelo Vaticano a princípio. Hoje em dia as bandeiras estão em uma área especial ao lado das bandeiras dos países membros da ONU.
O status de Estado continua em questão por alguns países que ainda não o reconhecem como Estado observador não-membro da ONU, e é amplamente criticado por governos como dos EUA. O reconhecimento e ganho no espaço internacional sempre foi o alvo principal da Organização para a Libertação Palestina (OLP - PLO em inglês).
Em 2004, após a morte do líder palestino Yasser Arafat, tensões entre Hamas e o Fatah começaram a aumentar. A situação foi de mal a pior após o Hamas ganhar as eleições em 2006, o que levou a conflitos entre as duas facções. Atualmente os territórios da Palestina equivalem à Faixa de Gaza, na fronteira com o Egito, onde o Hamas tem controle, e a Cisjordânia, a qual faz fronteira com a cidade sagrada de Jerusalém, a qual o Fatah controla.
HAMAS E FATAH
Jonathan Schanzer (2008) explicita que, tanto como a formação, quanto a organização social e política de grupos como o Hamas e o Fatah, partem de uma ideologia reforçada pela Irmandade Muçulmana, incitada durante o colonialismo inglês, no início do século passado.

[...] a Irmandade procurou inculcar e espalhar o fundamentalismo islâmico, crenças e valores no Egito e por todo o mundo Muçulmano. Nascido em 1928, da frustração com a influência britânica no Egito, o movimento visionava o retorno a um tempo marcado por uma ordem global islâmica (o califado), o qual o Islã reinava através de um devoto muçulmano supremo (o califa). (SCHANZER, 2008, p. 13)
Segundo Yousef (2010, p. 26) "durante muitos anos, o debate dentro da Irmandade continuou e os grupos de base aumentaram a pressão por ação. Frustrado com a inércia da Irmandade Muçulmana, Fathi Shaqaqi fundou a Jihad Islâmica da Palestina no fim da década de 1970, mas, mesmo assim, a Irmandade conseguiu manter sua postura de não violência por mais uma década".
O Hamas foi fundado nos anos 1980 por Sheik Ahmed Yassin e Abdel Aziz al-Ranstisi. Em contraste com o secularismo do Fatah, Hamas se caracteriza por um movimento islamista, que reforça as políticas do Islã, e a governança seguindo as leis do Corão. Segundo Schanzer, a teologia da liberação – da Palestina – se mostra um alicerce imutável no sistema ideológico do Hamas até hoje. Em 2006, o Hamas teve ganhos significativos nas eleições palestinas, e acabou chegando ao poder após conflitos com o rival Fatah. A facção tomou o poder da Faixa de Gaza em 2007, após tensões aumentarem entre os dois grupos.
Na eclosão da – primeira – intifada, a Irmandade Muçulmana Palestina era uma casa dividida. Não obstante o debate da Jihad Islâmica Palestina no fim dos anos 1970, houve aqueles que procuraram se juntar a briga e atacar Israel, enquanto outros mantiveram a tradição de radicalização não violenta da Irmandade através de ensinamentos e proximidade com a estratégia cabível. (SCHANZER, 2008, p. 24)
Segundo Schanzer, "o grupo era chamado Harakat al-Muqawamma al-Islamiyya, que significava "Movimento de Resistencia Islâmica", a qual acrônimo era HAMAS, significando "zelo" em árabe". Surgindo assim, de uma frente mais violenta e reacionária, o Hamas era a favor da resistência violenta à Israel. Por este motivo, para Israel, os Estados Unidos e a Europa, o Hamas é considerado um grupo terrorista e se recusa reconhecer Israel como Estado e não abre mão da violência. Diferente do Fatah, que, há algum tempo, abriu mão da violência e reconheceu Israel como papel importante para o reconhecimento da Palestina.
Segundo Schanzer (2008), o grupo Fatah advém, assim como o Hamas, dos processos de descolonização da região de Israel e Palestina ao final da Segunda Guerra Mundial, principalmente alavancado pela Irmandade Muçulmana. Diferente do sunismo do Hamas, o Fatah é um grupo político secularista palestino.
O grupo procurou confrontar Israel nos debates sobre território com a alegação do nacionalismo secular palestino. Criado por Yasser Arafat, o Fatah data por volta de 1959, o líder ficou à frente do grupo até sua morte em 2004. O Fatah é um dos mais antigos movimentos políticos palestinos e atualmente tem maior influência na Cisjordânia.
Em 12 de novembro de 1988, Arafat declarou a independência Palestina em Argel, numa reunião de emergência do Conselho Nacional Palestino. Em um comunicado lançado dias depois, a Organização para Libertação Palestina convocou uma conferência de paz baseado nas resoluções 242 e 338 da ONU as quais convocavam a retirada de Israel dos territórios conquistados durante a Guerra dos Seis Dias. O reconhecimento de Arafat em relação as fronteiras de Israel em 1948 foi um momento histórico. Em duas semanas, pelo menos 55 nações reconheceram o chamado palestino pela independência, fazendo, deste modo, a OLP um governo paliativo, provisório, com Arafat no comando. Não mais a OLP era meramente a guerrilha radical oficialmente representando a causa palestina. Reconhecendo a vaga, o Hamas a preencheu rapidamente. (SCHANZER, 2008, p. 28)
Um dos objetivos do Fatah, desde sua criação, foi a implementação e reconhecimento mundial do Estado Palestino. Ao longo dos anos, as relações entre o Fatah e o Estado de Israel avançaram muito, porém, o crescente nacionalismo palestino fez com que as relações se degradassem na última década, mais precisamente. O Fatah é o maior membro da Organização para a Libertação Palestina – um corpo criado em 1964 em busca da autoafirmação palestina e que serviria como um front para facções contra Israel. Desde a última década, diferentes acordos tentaram ser celebrados entre os dois grupos, porém findaram-se sem sucesso. As divergências se dão em vários campos, político, social, religioso e até mesmo quanto a violência gerada e incitada.
Como previamente apresentado, as duas facções se diferem fundamentalmente à Israel, ponto este a qual é o principal impedimento para uma conciliação do Estado da Palestina como um todo: enquanto Fatah prega que o Estado de Israel deve de fato existir, e ainda busca soluções políticas para conciliação, Hamas, ao contrário, prega que o Estado judeu não deve existir e usa do terrorismo através de atentados contra o mesmo.






















REFERÊNCIAS
SCHANZER, Jonathan. Hamas Vs. Fatah: The Struggle for Palestine. St. Martin Press, 2008.
YOUSEF, M. Hassan. Son of Hamas. A gripping account of Terror, Betrayal, Political Intrigue, and Unthinkable Choices. Tyndale Momentum, 2011.


AL ZOUGHBI, Basheer (2011). "The de jure State of Palestine under Belligerent Occupation: Application for Admission to the United Nations" (PDF). Acessado em 10 de novembro de 2016.
CHARBONNEAU, Louis (2012). "Palestinians win implicit U.N. recognition of sovereign state". Reuters; Thomson Reuters. Acessado em 10 de novembro de 2016.
Lybarger, 2007, p.114
Palestinian Central Bureau of Statistics. Disponível em . Acessado em 10 de novembro de 2016.

Retirado de B'Tselem - The Israeli Information Center for Human Rights in the Occupied Territories. What is Area C? Disponível em < http://www.btselem.org/area_c/what_is_area_c>. Acessado em 10 de novembro de 2016.
"The status of Jerusalem" (PDF). The Question of Palestine & the United Nations. United Nations Department of Public Information. Acessado em 16 de novembro de 2016.
"UN backs raising Palestinian flag at NY headquarters." Disponível em . Acessado em 15 de novembro de 2016.




Discente do curso de Relações Internacionais da Universidade de Vila Velha. Produção para o Laboratório de Produção Textual – Oriente Médio.
Irmandade Muçulmana - (al-Ikhwān al-Muslimūn) é uma organização islâmica fundada no Egito por Hassan al-Banna em março de 1928 como um movimento islâmico religioso, político e social.
Guerra dos Seis dias – Conflito armado que opunha Israel a uma frente de países árabes em 1967.
Refiro aos 136 países membros da ONU que reconhecem o Estado da Palestina como estado de facto.
Intifada – Insurreição dos Palestinos da Cisjordânia contra Israel. Houveram duas, uma em 1987 e outra em 2000.
Secularismo: é frequentemente usado para descrever a separação da vida pública e assuntos civis/governamentais dos ensinamentos e mandamentos religiosos ou simplesmente a separação de religião e política. (ASAD, Talal. 2003)

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