FATORES DE SUCESSO DOS MELHORES SISTEMAS DE EDUCAÇÃO DO MUNDO

June 30, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Sociology, Economics, Development Economics, Public Administration, Education
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FATORES DE SUCESSO DOS MELHORES SISTEMAS DE EDUCAÇÃO DO MUNDO Fernando Alcoforado* Este artigo apresenta as conclusões relacionadas com a análise dos sistemas de educação da Finlândia, Coreia do Sul, Japão, Cuba, Estados Unidos, China, França e Projeto Bolonha de ensino superior da União Europeia tomando por base os artigos Finlândia: paradigma da educação no mundo, Finlândia: paradigma da educação no mundo (2), Bases do sucesso da educação na Coreia do Sul e no Japão, Os fatores de sucesso das políticas de educação na Finlândia e na Coreia do Sul, O sistema de educação em Cuba, O sistema de educação dos Estados Unidos, O sistema de educação da China, O sistema de educação da França e Os Projetos Bolonha de Ensino Superior da União Europeia e da Universidade Nova no Brasil publicados no Blog de Falcoforado (http://fernando.alcoforado.zip.net). O sistema de educação da Finlândia foi analisado por ser um dos países mais bem avaliados pelo Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos da OCDE com um teste padronizado para jovens de 15 anos em mais de 40 países). Os sistemas de educação da Coreia do Sul, da China e do Japão foram objeto de análise porque são bem avaliados pelo Pisa e, também, pelo THE (Times Higher Education que avalia o desempenho dos estudantes universitários e a produção acadêmica nas áreas de engenharia e tecnologia, artes e humanidades, ciências da vida, saúde, física e ciências sociais e considera ainda pesquisa, transferência de conhecimento e perspectiva internacional, além do ambiente de ensino O sistema de educação dos Estados Unidos foi analisado por ser o país melhor avaliado em ensino superior pelo THE e a França por ser um país de grande tradição na área de educação mundial. O sistema de educação de Cuba foi analisado por ser o país melhor avaliado na América Latina e Caribe de acordo com o Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos 2015, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Foi analisado também o Projeto Bolonha de ensino superior da União Europeia e o Projeto da Universidade Nova no Brasil. De toda esta análise, identificou-se que a mais adequada articulação entre o sistema de educação, professores e famílias é decisiva para o sucesso do processo educacional. Desta análise, foi identificado que as políticas educacionais do governo associadas à atuação articulada do sistema de educação, dos professores e das famílias são os fatores básicos de sucesso dos sistemas educacionais em vários países do mundo. Os requisitos para as políticas governamentais e de atuação dos sistemas de educação, dos professores e das famílias estão descritos a seguir: 1.

Políticas educacionais do governo

As políticas educacionais do governo devem ser pautadas no seguinte: 1) O Parlamento deve aprovar as leis relativas ao sistema de ensino e decidir sobre os princípios gerais da política de educação que devem ser colocados em prática pelo Governo e Ministério da Educação; 3) As instituições públicas e privadas da educação básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) ao ensino superior devem ser controladas pelo Ministério da Educação; 4) O elevado patamar de qualidade em educação deve ser atingido com maciço investimento principalmente na formação dos professores, em material de apoio e na melhoria da estrutura e funcionamento das instituições de ensino; 1

5) O governo deve priorizar primeiramente a educação básica e, só quando esta se tornar universal, deve destinar recursos para o ensino superior; 6) O governo deve aplicar a maior parte dos recursos para a educação diretamente nas escolas, universidade e salas de aula; 7) O governo deve promover a seleção e formação de professores de ponta, com reconhecimento profissional e boas condições de trabalho; 8) Os responsáveis pelos órgãos governamentais de educação devem ser educadores; 9) O modelo de educação a ser implantado deve combinar os mais elevados investimentos governamentais destinados à educação contando com o apoio das famílias do país para garantir um aprendizado de alto nível para suas crianças e adolescentes; 10) O currículo rigoroso ditado pelo Ministério da Educação deve ser o mesmo em todo o país respeitadas as diversidades regionais; 11) Os conhecimentos, aptidões e competências dos professores devem ser frequentemente atualizados; 12) Professores devem ser vistos como fundamentais para o projeto nacional de desenvolvimento; e, 13) Os alunos devem ter horas de estudo em sala de aula e fora dela em nível adequado a seu aprendizado. 2.

Atuação do sistema de educação

A atuação do sistema de educação deve ser pautada no seguinte: 1) Cada instituição de ensino deve ter os mesmos objetivos nacionais; 2) O principal objetivo da educação é a formação dos jovens como cidadãos e profissionalmente; 3) O sistema educativo deve investir no Ensino e na Pesquisa, considerando-as como cruciais para a estratégia global do país, cujos objetivos máximos são o bem-estar dos cidadãos, a promoção da diversidade cultural, o desenvolvimento sustentável e a prosperidade; 4) A principal missão das universidades é levar a cabo a pesquisa e ministrar os seus cursos com base nela; 5) A Universidade deve criar novas tecnologias, promover e atrair talentos do mundo todo e incentivar a inovação; 6) O ensino superior deve operar com base nas universidades e institutos politécnicos; 7) As rápidas transformações ocorridas na atividade produtiva exigem uma constante adaptação das universidades e dos institutos politécnicos ao mundo do trabalho; 8) As instituições de ensino superior criadas no âmbito dos institutos politécnicos têm como característica fundamental a formação mais orientada para a prática; 9) A instituição de ensino deve operar como um centro de trabalho educativo e criar grupos de reflexão o mesmo acontecendo fora dela, ou seja, nas diferentes instituições da comunidade em horários extracurriculares; 10) O governo deve garantir que as instituições públicas e privadas em todos os níveis e localidades operem com padrões educacionais elevados; 11) O ensino superior tanto público quanto privado deve ser pago em parte pelos estudantes e em parte pelo governo federal com a maior fonte de recursos; 12) Cada autoridade local deve ter o poder de decidir sobre a contratação de novos docentes cujos critérios de admissão devem ser estabelecidos por cada entidade que preside à contratação; 13) Deve-se evitar que haja número excessivo de horas de estudo para os estudantes que não os deixa com tempo livre para qualquer outra atividade ao ponto de prejudicar o desenvolvimento saudável de sua personalidade e de suas habilidades sociais; e, 14) Nem os professores nem os seus métodos de ensino devem ser alvo de avaliações e sim a qualidade de ensino das escolas cuja finalidade é a avaliação do alcance dos objetivos educativos do ano anterior, bem como o estabelecimento de novos objetivos e o sinalizar de necessidades para o ano seguinte. 3.

Atuação dos professores

A atuação dos professores deve ser pautada no seguinte: 1) Existência de professores qualificados e confiáveis; 2) Reconhecimento social e autonomia dos professores e boas 2

condições de infraestrutura; 3) Existência de professor especial, dedicado a derrubar barreiras à aprendizagem dos estudantes; 4) Existência de “comitê de socorro” para ajuda a alunos com baixo aproveitamento que pode incluir o diretor, psicólogo, outros professores e pais; 5) Os estudantes devem ser preparados para aprender a aprender; 6) Além de um plano de carreira consolidado, os professores devem receber altos salários e deve haver investimentos e valorização de seus meios de trabalhos; 7) Professor deve ter autonomia para ajustar o currículo básico nacional à sua realidade local; 8) O professor deve conduzir o processo de ensino-aprendizagem com metodologias ativas propícias ao diálogo, de reflexão e promover o exercício de pensar, para ensinar a seus alunos a aprender a aprender, aprender a estudar e processar informação de projetos de pesquisa conjuntos a fim de facilitar o exercício do seu poder discricionário, a satisfação de aprender e de saber; 9) A sala de aula deve ser uma verdadeira oficina de construção de criação de conhecimentos, trabalho duro e de respeito com as experiências; e, 10) Professor deve promover o desenvolvimento de habilidades analíticas, a imaginação e a iniciativa pessoal dos estudantes. 4.

Atuação dos pais dos alunos

A atuação dos pais dos alunos deve ser pautada no seguinte: 1) Os pais devem fazer parte do chamado Conselho da Escola com um grau de autonomia que permite interferir na seleção e na promoção de professores, organizar eventos de reciclagem profissional e outras atividades cruciais para o funcionamento de uma instituição de ensino; e, 2) Os educadores devem ser auxiliados e monitorados pelos pais dos alunos. Estes são, portanto, os fatores básicos de sucesso dos sistemas de educação no que diz respeito às políticas educacionais de governo e às atuações do sistema de educação, dos professores e dos pais dos alunos que foram identificados com base nas melhores práticas dos sistemas de educação dos países do mundo mais bem sucedidos tanto na educação básica como no ensino superior. 5.

Comentários adicionais

Neste artigo não foi incorporada nenhuma prática dos Estados Unidos seja na educação básica seja no ensino superior. Na educação básica, o sistema de ensino norteamericano, além de não ser bem avaliado pelo Pisa (Programme for International Student Assessment) coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é descentralizado, dependendo essencialmente dos estados e das comunidades locais, estando o governo dos Estados Unidos proibido pela lei federal de interferir nesta área, muito menos de formular políticas educacionais. Em outras palavras, não há política educacional do governo dos Estados Unidos para a educação básica. Apesar dos Estados Unidos terem as universidades mais bem avaliadas do mundo pelo THE (Times Higher Education), seu sistema de ensino superior não se desenvolveu como resultado final de um esforço deliberado ou centralizado do governo norte-americano de criar talentos para mercados carentes de mão de obra, nem de busca e criação de novos conhecimentos essenciais para a ciência e o desenvolvimento econômico. Nos Estados Unidos, não há ministério da educação, nem políticas educacionais governamentais para regular o ensino no país. Nenhuma das deliberações relacionadas com o Processo de Bolonha de ensino superior da União Europeia foi considerada neste artigo entre as melhores práticas de ensino superior porque existem muitas críticas de alunos e professores que reclamam da 3

mudança nas durações dos diversos cursos oferecidos que antes tinham uma duração de cinco anos e que pelo novo sistema de três ciclos caiu para 3 anos fazendo reduzir a qualidade do ensino. Outra crítica é a de que a pedagogia universitária proposta pelo Processo de Bolonha é vista como uma mudança superficial ou cosmética sem grande substância e incapaz de promover mudanças na organização do trabalho docente e discente, na adoção de esquemas de apoio tutorial aos estudantes, na dimensão das turmas, na alteração dos processos de avaliação e na atenção à formação cultural, ética, política e cívica dos estudantes. Há questionamento, também, quanto às medidas de “racionalização” e de “downsizing” que têm sido levadas a cabo através de lógicas gerenciais neoliberais que tendem a tornar ainda mais precários os vínculos laborais dos docentes, na sua grande maioria sem nomeação definitiva. Além disso, é criticado o fato de que a educação superior enquanto bem público, que deveria assumir uma dimensão social e de política pública democrática, surge consideravelmente negligenciada no Processo de Bolonha. Neste artigo, nenhuma das proposições do Projeto da Universidade Nova no Brasil foi considerada entre as melhores práticas de ensino superior a ser considerada. Isto se deve ao fato de haver inúmeras críticas à proposta da Universidade Nova como a de que o aluno que pretende seguir uma carreira profissional, após frequentar três anos de formação geral, que lhe conferirá um diploma de Bacharel interdisciplinar em Humanidades, Bacharel interdisciplinar em Artes, Bacharel interdisciplinar em Tecnologias e Bacharel interdisciplinar em Ciências, terá que após a seleção interna na Universidade, cursar mais quatro, cinco ou seis anos a depender da profissão que escolheu alongando seu tempo de acesso ao mercado de trabalho. Outra questão importante diz respeito ao que fará o aluno depois de diplomado em Bacharel em Humanidades se não conseguir pela seleção cursar uma licenciatura ou um curso profissional ou uma pós-graduação. Outra crítica à criação da Universidade Nova é a de que ao propor criar um ciclo básico humanístico e interdisciplinar para o desenvolvimento de uma formação generalista como pré-requisito para o amadurecimento do estudante antes de continuar o seu curso universitário que o formaria como educador, historiador, sociólogo, psicólogo, advogado, médico, ele teria obrigatoriamente que participar de uma seleção, mas agora dentro da universidade, e se não tiver vagas suficientes, o aluno sairá da universidade, agora com um diploma de bacharel interdisciplinar, que não o prepararia efetivamente para o mundo do trabalho. É questionada também a tese de que a Universidade Nova diminuiria a evasão que é muito grande tanto no ensino superior publico como privado no Brasil porque ela se deve ao despreparo do aluno na educação básica e, também, porque na rede privada o aluno abandona principalmente por dificuldades financeiras e na rede pública porque os alunos são obrigados a abandonar seus cursos para poderem trabalhar. * Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,

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Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).

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