Favela x Identidade cultural:A relação do designer e a formação de uma identidade cultural em produtos resultantesde oficinas de capacitação em design e artesanato

September 13, 2017 | Autor: Luiz Izidio | Categoria: Design for Social Innovation, Design E Artesanato, Tecnologia social
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Descrição do Produto

UNIVERSIDADE FUMEC FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITERTURA – FEA

Favela x Identidade cultural: A relação do designer e a formação de uma identidade cultural em produtos resultantes de oficinas de capacitação em design e artesanato.

Luiz Claudio Lagares Izidio

Belo Horizonte 2011

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Luiz Claudio Lagares Izidio

Favela x Identidade cultural: A relação do designer e a formação de uma identidade cultural em produtos resultantes de oficinas de capacitação em design e artesanato.

Artigo científico apresentado à Faculdade de Engenharia

e

Arquitetura

da

Universidade

FUMEC, pelo aluno Luiz Cláudio Lagares Izidio, 6° período do curso de Design Gráfico, como resultado parcial da participação na Pesquisa Desenvolvimento de Tecnologia Social para Realização de Projetos de Capacitação em Artesanato e Design tendo o Projeto ASAS como Estudo de Caso, sob orientação da Prof.ª Natacha Rena.

Belo Horizonte 2011 2

RESUMO

O presente artigo trata de uma análise de ações realizadas por designers em projetos de capacitação em artesanato e design e, conseqüentemente suas influências na vida cultural das comunidades beneficiadas e na formação da identidade cultural dos produtos por eles elaborados. Tudo isso tendo como base experiências adquiridas pela participação na pesquisa Desenvolvimento de Tecnologia Social para realização de projetos de capacitação em artesanato e design tendo o Projeto ASAS_Aglomeradas como estudo de caso. Este projeto faz parte do programa extensão da Universidade FUMEC ASAS_Artesanto Solidário no Aglomerado da Serra, sob a coordenação da Prof.ª Natacha Rena desde 2007. O objetivo desta pesquisa é criar diretrizes metodológicas reaplicáveis especificas para projetos de capacitação em artesanato e design com atuação em comunidades em estado de vulnerabilidade social, para o desenvolvimento de metodologias reaplicáveis em projetos sociais.

ABSTRACT

This article deals with an analysis of actions performed by designers on projects for training in crafts and design, and consequently their influence on the cultural life of the beneficiary communities and training in the cultural identity of the products they elaborados. Tudo this based on experiences by participation in Social Research Technology Development to carry out training projects in craft and design have ASAS_Aglomeradas Project as a case study. This project is part of the extension program of the University Outreach in FUME CASAS_Artesanto Particleboard Sierra, under the direction of Prof. Natacha Rena from 2007.O research objective is to create replicable methodological guidelines for specific training projects in craft and design with expertise in communities in a state of social vulnerability, to develop replicable methodologies for social projects.

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Sumário

1. Apresentação............................................................................................................5 2. Identidade Hibrida e Mutantes.................................................................................6 3. A cultura reconfigurada e a capacitação em artesanato ..........................................8 4. A fragmentação pós-moderna e o território da favela .............................................10 5. Projeto Asas e sua relação com a identidade cultural da favela .............................14 6. Resultados ...............................................................................................................22 6.1. Primeira Coleção do ASAS: Natureza na Favela .................................................22 6.2. Segunda Coleção do ASAS: Territórios Aglomerados .........................................24 7. Tabela de indicadores avaliativos .............................................................................25 8. Conclusão ..................................................................................................................28 9. Bibliografia................................................................................................................ 30

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1. Apresentação O presente artigo tem como objetivo, uma análise de ações realizadas por designers em projetos de capacitação em artesanato e design e, conseqüentemente suas influências na vida cultural das comunidades beneficiadas e na formação da identidade cultural dos produtos por eles elaborados. Tal reflexão é feita sob a luz de teóricos e autores como Nestor Canclini, Eduardo Barroso, Paola Berenstein, Michel Maffesoli, Stuart Hall dentre outros. Como forma de obter uma melhor compreensão das questões que envolvem essas ações e entendimento do território da favela, será feita também uma breve análise do desenvolvimento e dos resultados obtidos da pesquisa realizada tendo como estudo de caso o Projeto ASAS_aglomeradas, parte do Programa ASAS_Artesanato, programa de extensão da Universidade FUMEC, com sede no Aglomerado da Serra, localizado na regional centro sul de Belo Horizonte, Minas Gerais. O objetivo geral desta pesquisa, na qual faço parte como aluno bolsista, é a investigação do processo criativo coletivo e colaborativo realizado durante três anos junto às artesãs, as ações de trabalho giram em torno da capacitação destes beneficiários por alunos e professores, que resultaram na produção de duas coleções de produtos (Natureza na Favela e TerritóriosAglomerados) e na formalização de um grupo produtivo local. Como não existem metodologias publicadas e conhecidas destes procedimentos colaborativos desenvolvidos por designers ao atuar em comunidades, acredita-se que é papel da universidade registrar, organizar, analisar e desenvolver informações que possam construir novas tecnologias sociais que auxiliem em projetos de geração de renda e empoderamento de comunidades em estado de vulnerabilidade social. A expectativa deste trabalho é gerar uma lista de diretrizes de avaliação que sirvam de referência para futuras iniciativas, baseadas nas características e nos procedimentos, positivos e negativos, identificados. Estas diretrizes serão referência para o resultado final de pesquisa

que

terá

uma

tabela

contendo

eixos

temáticos

associados

à

MACROINDICADORES e indicadores específicos de avaliação.

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2. Identidades Hibridas e Mutantes

A identidade de um povo é a união de diversos fatores que atuam diretamente sobre elementos que conformam sua cultura, história, símbolos, representações e instituições. Segundo HALL (2006) esses sentidos estão todos no saber e na memória de uma nação. Esta identidade é um conjunto mutante de referências, em transformação, e quanto maior este movimento de mutação, maior será a capacidade de sobrevivência e de renovação de uma nação. Em tempos de pós-modernidade entende-se a questão da identidade como um momento em que a identidade do sujeito começa a se fragmentar e que o indivíduo torna-se parte do ambiente no qual ele vive, ciente de que não existe um centro fixo e estável, mas que pelo contrário ele é parte de um todo que é móvel, formado por transformações contínuas e que ele reflete essas transformações dos sistemas culturais que o rodeia. Portanto, na contemporaneidade, a formação da identidade em um indivíduo acontece não só de maneira inata, e um processo em constante formação parte dela surge através da forma que somos vistos pelas outras pessoas e como elas tiram significados de nossas diferenças e individualidades, além das transformações que não temos controles sobre elas.

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Portanto

quando se fala de identidade, não tratamos apenas com aquilo que já nascemos ou já adquirimos de maneira inata, mas, também, de tudo aquilo que foi formado e transformado no interior da representação do mundo no qual vivemos. Por isso é muito importante considerar os processos dinâmicos da inter-culturalidade,processos que são característicos das sociedades híbridas, capazes de relacionar, apropriar, combinar e transformar elementos diversos de origens diferentes.

"A identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já está dentro de nós como indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é “preenchida” a partir de nosso exterior, pelas formas através das quais nós imaginamos ser vistos por outros." (HALL, 2006, p.39). A fragmentação do território é algo a ser levado em conta na formação desse novo pensar sobre a formação da identidade, pois a interconectividade, possível na pós-modernidade, nos leva a entender o espaço-tempo de maneira nova, o tempo e o espaço são coordenadas básicas para nossa representação. Assim nasce a noção de multiterritorialidade, identificada por uma 1

Hall, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.- 11.ed. - Rio de Janeiro: DP&A, 2006

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“desterritorialização” que não é apenas a perda ou o desaparecimento dos territórios, mais a discussão acerca da complexidade dos processos de (re)territorialização em que estamos envolvidos, graças às pós-modernidade, construindo territórios muito mais múltiplos ou, de forma mais adequada, tornando muito mais complexa nossa multiterritorialidade. A territorialidade, além de incorporar uma dimensão estritamente política, diz respeito também às relações econômicas e culturais, pois está intimamente ligada ao modo como as pessoas utilizam a terra, como elas próprias se organizam no espaço e como elas dão significado ao lugar. 2

A identidade está diretamente afetada por esse sentido de representação a partir do momento que percebemos o mundo por uma nova ótica, no qual, ele é menor e as distâncias mais curtas, isso nos leva a um imediatismo com relação à vida, ou seja, nossas ações refletem quase que instantaneamente o mundo global e universal que vivemos, pois sabemos que podemos compartilhar algo que acontece em nosso entorno com pessoas situadas em lugares bem distantes, praticamente em tempo real, ou seja, o lugar permanece fixo, porém o espaço pode ser cruzado rapidamente. Nesse sentido, percebe-se o nascimento de uma visão mais plural com relação à formação da identidade cultural de uma região de um grupo, de um povo. Segundo BARROSSO (1999):

“uma visão mais plural, abrangente e generosa daquilo que possa ser a identidade cultural, cujo interesse extrapola o caráter acadêmico na medida em que se recebe que este poderia ser um dos antídotos contra a exacerbação do nacionalismo, que quando levado ao extremo transforma-se em patologia social e violência sem propósito, como tem sido um fato recorrente em toda a história” (BARROSO, 1999, p6). Para MAFFESOLI (2001), a formação da identidade passou a ser uma escolha pessoal, onde cada indivíduo escolhe estilos de vida a que deve pertencer, atitudes a tomar, aspirações e modismos que querem seguir, reconfigurando a sociedade e criando novas tribos urbanas. A pós-modernidade está se constituindo em torno da idéia de enraizamento dinâmico, a partir de uma vagabundagem existencial que se desenrola a partir do oco, da "sede do infinito" e do desejo de outro lugar. Sendo assim ela se caracterizaria, entre outras coisas, pela volta de 2

HAESBAERT, R. 1994. O mito da desterritorialização e as “regiões-rede”. Anais do V Congresso Brasileiro de Geografia. Curitiba: AGB, pp. 206-214.

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determinados arcaísmos, entre os quais o nomadismo, que seria justamente essa volta de valores ligada ao agora, criando uma nova identidade. "Trata-se de uma tendência geral de uma época que, por uma volta cíclica dos valores esquecidos se liga a uma contemplação daquilo que é." (MAFFESOLI, 2001, p. 28).

Diante disso e dentro da perspectiva de ação em um projeto de capacitação em artesanato e design, deve-se estimular que os beneficiários redirecionem o olhar para dentro de si mesmo e de seu próprio território, buscando em sua própria cultura material e iconográfica as bases para a criação de novos produtos, fortalecendo assim a identidade cultural dos objetos gerados, uma vez que seu olhar pouco contaminado por modismos, oferecendo assim idéias novas e despojadas de vícios e referências exógenas. 3

3. A cultura reconfigurada e a capacitação em artesanato

Essa cultura reconfigurada permite uma nova visão no que diz respeito à busca de uma identidade e entendimento do seu próprio território, como referência pessoal que contém um universo iconográfico no qual o artesão e o designer podem mergulhar, não só no passado, mas no presente.

Com relação à ação do designer e sua influência na formação de uma identidade cultural, mesmo que mestiça, das comunidades envolvidas em projetos capacitação em artesanato e design, está no fato dele ser um agente multiplicador e ou ampliador da realidade vivida por essas pessoas.

Essas ações de capacitação em artesanato e design, em geral, envolvem objetivos como o fortalecimento de uma identidade que reforce o território e deixe clara a relação entre os beneficiários e o seu contexto cotidiano. Isso surge através de oficinas e aulas teóricas, onde são apresentados conteúdos e conceitos dos quais, muitas vezes, os beneficiários nunca tiveram contato antes e isto, usualmente, vem atrelado a metodologias que tornem o olhar dos envolvidos mais atentos para sua própria realidade. Esse tipo de estratégia faz com que a 3

_______. Design, identidade cultural e artesanato: para Primeira Jornada

Ibero-americana de Design no Artesanato. Disponível em http:

www.eduardobarroso.com.br-c 8

carga cultural do participante do projeto se amplie ressituando-o em um lugar de escolhas, no qual ele pode aceitar ou não esses conhecimentos e inseri-los em seu dia-a-dia, gerando assim um fortalecimento da sua noção de território e de valorização do meio em que vive, fazendo esse conhecimento reverberar em suas criações e no desenvolvimento dos produtos. Além desta aplicação direta no produto que vai gerar um alto valor agregado, há um reforço nos processos de aumento de auto-estima, já que os artesãos passam a enxergar qualidades positivas e singulares no seu cotidiano. Porém não são apenas os beneficiados que ganham essa ampliação de estímulos culturais, o designer também ganha (e muito) com essa influência de um território novo no qual ele está trabalhando, podemos dizer até mesmo que o designer ganha mais com esta experiência, pois tem como resignificar melhor esses estímulos para utilizá-los como referências para suas criações e trabalhos alem de se envolver com processos culturais totalmente diferentes do seu. Desta maneira, o que poderíamos dizer de um produto bem desenvolvido carregado de significados culturais relevantes, seria um produto que trás características do território dos beneficiários, porém resignificadas através da ação dos designers.

“Seria possível avançar mais no conhecimento da cultura e do popular se abandonasse a preocupação sanitária em distinguir o que teriam a arte e o artesanato de puro e não contaminado e se os estudássemos a partir das incertezas que provocam seus cruzamentos. Assim como a análise das artes cultas requer livrar-se da pretensão de autonomia absoluta do campo e dos objetos, o exame das culturas populares exige desfazer-se da suposição de que seu espaço próprio são comunidades indígenas autossuficientes, isoladas dos agentes modernos que hoje constituem tanto quanto suas tradições: as indústrias culturais, o turismo, as relações econômicas e políticas com o mercado nacional e transnacional de bens simbólicos.” (CANCLINI, 1998, p.245) Através dessas influências de território e de identidade cultural revelada através de um novo olhar é que o processo criativo vai ganhando força e corpo, traduzindo o modo de ser e viver dos participantes do projeto. É importante lembrar que, na hora de ação e interferência no trabalho dos artesãos pelos designers, é que esse procedimento que envolve uma busca de referência no próprio território nunca deve ocorrer com metodologias verticais, como se os artesãos fossem meros executores de ação. Pelo contrario, os artesãos devem ser parte integrante do processo de criação, fabricação, distribuição e gerenciamento do processo. Essa 9

nova estrutura de trabalho faz parte de uma visão multidisciplinar e colaborativa, onde a autoria não é apenas do designer, mas sim de todos envolvidos no processo, sendo assim um exemplo claro de processo coletivo colaborativo. “os designers deveriam se abstrair da ânsia de protagonismo e do desejo narcisista de passar à posteridade como fazedores de objetos de adoração.” (BARROSO,1999:p28). A convergência de princípio e de unidade que a intervenção do designer deve gerar dentro de um projeto de capacitação em artesanato, essa é mais uma possibilidade de importância relevante sobre a qual se constrói uma identidade forte para os produtos artesanais. Por isso faz-se necessário entendermos um pouco mais sobre a construção e a lógica de funcionamento do território chamado favela, para compreender como este território informal no qual o projeto ASAS está inserido, influência na metodologia do trabalho de capacitação em artesanato.

4. A fragmentação pós-moderna e o território da favela

Essa visão fragmentaria do mundo, percebida na pós-modernidade, trás à tona alguns conceitos trabalhados por Paola Berenstein Jacques em seu livro Estética da Ginga, no qual ela apresenta a formação do território da favela tendo como paralelo à obra de Hélio Oiticica. Nele ela nos apresenta os conceitos de fragmento e labirinto evidenciando o contexto da cidade informal.

Através desses conceitos ela nos apresenta a estética própria que a favela possui. Como visto anteriormente o entendimento do seu entorno é parte da formação da identidade cultural de um indivíduo que ali habita. Propõe-se aqui o entendimento do território da favela como forma de fortalecer a criação da identidade cultural dos moradores das favelas e participantes de projetos de capacitação em artesanato e design. O desdobramento do território faz-se necessário para que cada indivíduo conheça e perceba o seu entorno a fim de resignificar e sentir-se parte desse ambiente.

Para entender melhor o território da favela partimos da hipótese que a favela possuiu uma estética própria, que se estrutura de forma venacular. Conceder status estético à favela nos ajuda a entender o seu dispositivo próprio de construção.Elas possuem uma identidade espacial singular e ao mesmo tempo fazem parte da cidade e da paisagem urbana de muitos 10

países em desenvolvimento.

O princípio de fragmento com relação ao espaço da favela está intimamente ligado à forma com que ela é construída e pensada. O fragmento é parte formadora das habitações dos moradores da favela, e essas são construídas a partir de táticas de sobrevivência e uma estética da necessidade. 4

Os barracos são construídos por fragmentos de restos de matérias de construção, madeiras e latões, apanhados e ou achados no entorno da cidade. Assim cada morador é o próprio construtor e projetista de sua habitação, que são modificadas de acordo com a necessidade ditadas pelo acaso sendo por isso o fragmento o agente principal de ação do acaso e da ausência de planejamento estratégico.

É importante salientar que o principal ponto dessa estética da necessidade fragmentaria e o fato de não possuir um projeto de estruturação finalizado com início, meio e fim, mais sim um projeto de forma continua a partir de uma inteligência coletiva que pode ser modificado e deve ser a cada ação do acaso na formatação. Neste sentido a construção do ambiente da favela pode ser vista como análoga à bricolagem estando ligado à idéia de

acaso e

incompletude. O bricoleur ao contrário do homem de artes, jamais vai diretamente a um objetivo ou em direção à totalidade: ele age segundo uma prática fragmentária, dando voltas e contornos, numa atividade não planificada e empírica. (JACQUES, 2001, p.25) Assim como o processo de formação e criação do ambiente da favela é contínuo a ação do designer para a capacitação em artesanato e design, em grupos ou projetos ligados à favela devem seguir o mesmo pensar.O trabalho com artesanato de referência cultural * com moradores, grupos e ou projetos relacionados a moradores de comunidades deve refletir o 4

JACQUES, P. B. A estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica.

Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001.

* Este termo foi retirado do Programa SEBRAE de Artesanato que é o termo de referência de ações relacionadas ao segmento de artesanato. Artesanato de Referência Cultural são produtos cuja característica é a incorporação de elementos culturais tradicionais da região que são produzidos. São, em geral, resultantes de uma intervenção planejada de artistas e designers, em parceria com os artesãos, com o objetivo de diversificar os produtos, porém preservando seu traço cultural mais representativos.

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pensamento de formação do espaço ao redor, a idéia do fragmento deve estar no processo de planejamento das ações dos designer e outros profissionais envolvidos nesse processo.

O planejamento não pode ser enquadrado (engessado), ele deve ser maleável, capaz de ser modificado conforme as necessidades o decorrer das ações , portanto, o processo deve ser contínuo e passível de mudanças e adaptações no decorrer do tempo de duração das atividades, já que o próprio ambiente e a vida das pessoas refletem esse modo de ser.

Um planejamento de ações fragmentado pode muitas vezes parecer uma desordem ou uma falta do próprio planejamento, porém ele é apenas uma ordem bem mais complexa, cuja complexidade é formada de descontinuidades com intervalos de continuidades. O fragmento esta sempre em movimento é este movimento contínuo que faz-nos ter a idéia de que ele é indeterminado e inacabado.

“Os fragmentos são separadamente inacabados; o que eles têm de incompleto, de insuficientes, trabalho da decepção, é sua deriva, o sinal de que, nem unificáveis, nem consistentes, ele se deixam separar por marcas som as quais o pensamento, ao declinar e ao se declinar, imagina conjuntos furtivos que, ficticiamente, abrem e fecham a ausência de conjunto, mas, definitivamente fascinado, não pára, sempre mantido pela vigília nunca interrompida. Daí a impossibilidade de dizer que tenha havido intervalo, pois os fragmentos, destinados em parte ao branco que os separa, encontram nessa distância não o que os termina, mas o que os prolongará, o que já os prolongou, fazendo-os persistir por sua incompletude, sempre prontos a se deixar trabalhar pela razão incansável, em vez de permanecer a palavra deposta, deixada de lado, o segredo sem segredo que nenhuma elaboração consegue preencher.” (BLANCHOT, 1980, p.96). Este estado inacabado e de desordem é necessário porque a força do fragmento está precisamente nas suas potencialidades provocativas. O fragmento semeia a dúvida, ele pode ser um pedaço, uma etapa ou o todo. O fragmento no caso da formação do espaço da favela é plenamente auto-referente, ele reflete o espaço em que as pessoas vivem, refletem a identidade da favela e de seus habitantes. “A identidade permanece sempre incompleta, está sempre em processo, sempre sendo formada.” (HALL, 2006, p.38). Nesse sentido os projetos 12

de artesanato e design também devem ser auto-referentes, em todas as sua etapas de realização.

“O projetar implica também, na maioria dos casos, um planejamento, uma racionalização, em outros termos, uma repetição do mesmo. No caso da favela, isso é impossível, pois não se pode bricolar duas vezes do mesmo jeito.” (JACQUES, 2001, p.56) O fragmento deve ser utilizado tanto de maneira individual ou coletivamente em atividades de planejamento de ações, criação e execução, é ele que vai fortalecer a identidade cultural do artesanato urbano (artesanato de referência cultural, usado e produzido na cidade contemporânea e se torna o diferencial das peças produzidas por esses artesãos). Pensar no fragmento como parte integrante de um processo de capacitação em artesanato e design faz com que o acaso esteja presente nas etapas de produção dos produtos e este certamente refletirá de maneira mais adequada o ambiente da favela, e praticamente de maneira única, já que o fragmento não pode ser replicado ou refeito da mesma forma.

O entendimento do labirinto vem a partir da construção fragmentária dos barracos da favela que vão dando formas a emaranhados de casas, vielas e becos, assim formasse o labirinto. Portanto ele é formado a partir do movimento de construção do próprio espaço da favela, o labirinto tem o movimento como princípio básico de formação e é este o responsável pela vertigem e o não entendimento do espaço por quem não é da favela. “É um espaço efetivamente labiríntico, tal é o emaranhado dos caminhos internos, e, ainda, como não há sinalização, placas, nomes ou números, qualquer pessoa de fora, ali,se perde facilmente.” (JACQUES, 2001,p.65). O labirinto da favela é complexo não e fixo, está sempre sendo feito, é como um tecido maleável que segue o movimento dos corpos que o criam e não há um autor único, ele é feito de maneira coletiva e colaborativa, cada morador é responsável por acrescentar um fragmento em suas construções, que às vezes se embolam umas nas outras.

Assim, como no fragmento, o mais importante não é a forma ou o fragmento em si, e sim a fragmentação, quebra, divisão que esse provoca. O labirinto segue o mesmo pensamento, o importante não é a forma que ele vai tomando e sim o estado que ele provoca, um estado labiríntico (desorientação) constante que faz sempre necessária a busca de novos caminhos ou 13

formas diferentes de passar pelo mesmo lugar. Segundo Deleuze, “o labirinto não é mais o caminho onde a pessoa se perde; é o caminho que retorna” 5 . A idéia principal está sobretudo na experiência de penetrar no labirinto.

O estado labiríntico segue a lógica da fragmentação, espontaneidade, reflete uma situação de transformação,subjetivação criação de um próprio movimento, tempo e espaço. Ele juntamente com o fragmento é o que sustenta a identidade cultural da favela, pois além de ser parte integrante dela, cria o movimento e a ginga necessária para se adaptar as mudanças do espaço tempo da favela, que é diferente do ritmo da cidade formal, pois é improvisado e formado a partir de uma necessidade sem planejamento prévio.

O entendimento desse território complexo é que permite ações mais eficazes para o gerenciamento de projetos de capacitação em artesanato e design, visto que ele oferece uma lógica própria de funcionamento. Quando esse território é fortalecido tanto por parte da equipe executora, quando pelos beneficiários, o empedramento é algo que acontece paralelamente, já que as pessoas vão tomando noção do ambiente que vivem e como ele funciona, facilitando a aceitação e a reafirmação de suas características culturais e identitárias. Essa relação fica clara nas ações do Programa Asas_Aglomeradas, projeto de extensão da Universidade Fumec, sob a coordenação da professora Natacha Rena desde 2007. Logo a seguir apresento minhas experiências à cerca desde projeto.

5. Projeto Asas e sua relação com a identidade cultural da favela

Participo de um projeto de pesquisa DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA SOCIAL PARA REALIZAÇÃO DE PROJETOS DE CAPACITAÇÃO EM ARTESANATO E DESIGN TENDOO PROJETO ASAS COMO ESTUDO DE CASO, que averigua os projetos de extensão do núcleo produtivo ASAS_aglomeradas desenvolvendo diretrizes para gerar tecnologia social. O foco é debruçar sobre as ações dos projetos, através da pesquisa e de análise de dados, a fim de criar diretrizes metodológicas para o desenvolvimento de projetos

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DELEUZE, GILLES, “Mystère d'Ariane selon Nietzsche”, in critique et

clinique, Paris, Les èditions de Minuit, 1993, p.132.(T.d.a.) 14

em capacitação em artesanato e design que seja replicável. Tendo como objetivo a geração de renda, à agregação de valor ao produto numa perspectiva contemporânea da inserção entre design e artesanato urbano, utilizando o conceito de Design Social, esta pesquisa pretende basicamente avaliar os processos realizados e seus resultados a partir dos indicadores genéricos para projetos de captação em artesanato de qualquer natureza no intuito de gerar novos indicadores específicos para projetos socioambientais em artesanato e design. De início foi realizada uma revisão literária a respeito do tema, para se conhecer o que há de textos e referências desde trabalho no Brasil e no mundo,a partir de então tivemos subsídio para criar uma metodologia a ser aplicada na pesquisa.

O método utilizado para captação de dados foi o uso de questionários que foram feitos com base em eixos temáticos levantados na revisão bibliográfica como importantes para o bom desenvolvimento de um projeto de capacitação em artesanato e design. Os eixos temáticos escolhidos foram: Criação colaborativa: as metodologias de criação são realizadas de forma coletiva onde cada participante tem autonomia de contribuir com suas idéias livremente, o resultado passa de autoral para colaborativo, todos são criadores. Território e identidade: è levado em consideração aspectos referentes ao território em que os beneficiários vivem e seu repertório cultural. Autonomia: todo esse processo de capacitação gera autonomia e liberdade de ação aos beneficiários, fortalecendo a autoconfiança dele próprio e da comunidade. Economia Solidaria: Ações para um incremento de renda e um possível desenvolvimento de uma rede produtiva levando a formação de uma associação. Também esclarecimentos sobre o processo de gestão do processo de produção distribuição e precificação dos produtos. Sustentabilidade: aplicação dos conceitos relacionados a esse tema no que diz respeito à criação, produção e reutilização de matérias primas.

Apresento e comento alguns resultados que traduzem a identificação dos beneficiários pelos processos de criação colaborativa e o fortalecimento do território e conseqüentemente da identidade cultural.

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Gráfico 1_ Gráfico resultante das entrevistas feitas com os beneficiários do projeto ASAS_Aglomeradas.

Gráfico 2_ Gráfico resultante das entrevistas feitas com os beneficiários do projeto ASAS_Aglomeradas.

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Gráfico 3_ Gráfico resultante das entrevistas feitas com os beneficiários do projeto ASAS_Aglomeradas.

A grande maioria dos beneficiários entrevistados consideraram que o processo coletivo de criação funcionou (93%), mostrando assim uma identificação com essa metodologia de trabalho, da mesma forma que a produção coletiva dos produtos (80%), e confirmando o bom funcionamento dessa metodologia 93% considerou que gosta mais de produzir de maneira colaborativa do que individualmente.

Gráfico 4_ Gráfico resultante das entrevistas feitas com os beneficiários do projeto ASAS_Aglomeradas.

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O território e a identidade cultural mostram-se fortalecidos com os resultados desse gráfico pois quase a totalidade dos beneficiários consideram que a valorização da cultura do lugar onde eles vivem e pelo qual eles se reconhecem é valorizada nas oficinas e no desenvolvimento do projeto.

Outros resultados que devem ser considerados são os referentes às aulas teóricas, pois é nesse momento onde o beneficiário tem a oportunidade de conhecer uma nova visão de mundo que talvez muitas vezes ele não teriam se não fosse esse momento.

Gráfico 5_ Gráfico resultante das entrevistas feitas com os beneficiários do projeto ASAS_Aglomeradas.

O resultado mais uma vez é positivo pois 86% considera que as aulas teóricas funcionaram. Gostaria de ressaltar a importância do processo de criação colaborativa, pois essa metodologia se tornou um marco para o desenvolvimento dos produtos, pois desde quando ela começou a ser utilizada é possível notar um crescimento na identidade dos produtos produzidos pelos beneficiários.

Essa prática faz com que os beneficiários sintam-se mais inseridos no processo de criação já que todos têm plena abertura e liberdade para dar sugestões e interferir na criação, assim o produto final não é mérito de um único autor e sim de vários sendo colaborativo e coletivo, desta forma cada beneficiário se reconhece no produto final. 18

Fig. 01_Oficina de criação colaborativa e coletiva

Fig.02 _Produtos resultantes do processo de criação colaborativa e coletiva.

Desde o seu início, o projeto Asas_aglomeradas tem tido ações relevantes no que diz ao 19

entendimento do território da favela, seja através de leituras e análise critica de textos por parte dos alunos bolsistas, seja através de oficinas que favorecessem o entendimento do território da favela para os beneficiários. O objetivo dessas ações era fazer com que os produtos gerados tivessem características especificas e iconográficas do território.

Outro diferencial e que desde o início foi à preocupação de refletir o lugar onde os beneficiários vivem e no produto final isso fica claro, pode-se observar isto na fala de uma das beneficiaras em entrevista feita no processo de captação de dados por parte da pesquisa.

Entrevistador- Você acha importante que as características do aglomerado apareçam no produto final? Shirley – Nossa ! isso é muito importante,é identidade ! isso tem que acontecer, tem que acontecer. Eu acho que cada dia que passa os produtos, aliás desde o começo os nossos produtos nunca tiveram a cara de asfalto, sabe ! as estampas nunca tiveram, NE ! sempre foi coisa da favela! Tem a identidade da favela.Os bordados principalmente sabe cada um de um jeito, e o mesmo tipo de ponto, mais cada ponto sai de um jeito. 1 É possível perceber que a identidade é uma preocupação no desenvolvimento do produto, há a compreensão de que essas características estando presentes no produto final irão agregar valor e posicionar melhor o produto no mercado, sendo esse o diferencial de produtos desenvolvidos por projetos que envolvem artesãos de comunidades em vulnerabilidade social. Essas entrevistas ainda mostram resultados positivos de outras ações do projeto tais como processos de criação coletivos e colaborativos:

Entrevistador - Você gosta do produto individual, criado apenas por você sem a ajuda ou colaboração de outra pessoa? Shirley – Com a colaboração de outras pessoas, prefiro em conjunto. Entrevistador – Porque você prefere em conjunto? Shirley - Por causa da diversidade das pessoas, pela formação de cada um, maneira de pensar, eu acho que o trabalho vai ficando muito mais interessante.2 Dados retirados de entrevistas feitas durante a fase de captação de dados para a pesquisa de desenvolvimento de metodologia para projetos de capacitação em artesanato e design, com base no projeto Asas_Aglomeradas, projeto de extensão da Universidade FUMEC. 2 Dados retirados de entrevistas feitas durante a fase de captação de dados para a pesquisa de 1

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Outra forma de se ter o empoderamento e valorizar cada ação exercida pelos participantes do processo de criação e produção do produto, uma alternativa pra isso talvez seja a criação coletiva colaborativa. Nesse tipo de estratégia cada beneficiário e co-participante e criador do produto final. Com relação ao empoderamento e identidade cultural: “No ASAS pude aprimorar meus conhecimentos sobre redes sociais, voluntariado educativo e cidadania” Elisângela Maria de Jesus 3 “O Projeto me trouxe um novo olhar dentro da perspectiva do design artesanal, ou seja, o artesanato que faço hoje tem outro conceito. Tornei-me uma pessoa mais ponderada e confiante. (...) Assim meus trabalhos foram tendo uma forma mais prática e objetiva. O melhor de tudo é que surgiu novamente a vontade de voltar a estudar.” Schirley Maria Araujo 4

Já foram lançadas 2 coleções de produtos gerados através dessa metodologia, estas são:

desenvolvimento de metodologia para projetos de capacitação em artesanato e design, com base no projeto Asas_Aglomeradas, projeto de extensão da Universidade FUMEC.

3

RENA, Natacha [org.]. Territórios aglomerados. Belo Horizonte: Ed. FUMEC – Faculdade de

Engenharia e Arquitetura, 2010.

4

RENA, Natacha [org.]. Territórios aglomerados. Belo Horizonte: Ed. FUMEC – Faculdade de

Engenharia e Arquitetura, 2010.

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6. Resultados 6.1. Primeira Coleção do ASAS: Natureza na Favela Coleção inspirada nos muros e cercas da favela

Fig.03_ Produtos da coleção natureza da favela, coleção inspirada nos muros e cercas da favela

Coleção inspirada em personagens da favela e nas formas das casas e becos

Fig.04_ Produtos da coleção natureza da favela. Coleção inspirada em personagens da favela e nas formas das casas e becos

Coleção Inspirada na aglomeração de barracos e árvores no morro

Fig.05_ Produtos da coleção natureza da favela. Coleção inspirada em personagens da favela e nas formas das casas e becos

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Luminárias inspiradas nos gatos da favela

Fig.06_ Produtos da coleção natureza da favela. Inspiradas nos gatos da favela.

Coleção inspirada nos gansos que vivem no asfalto

Fig.07_ Produtos da coleção natureza da favela. Coleção inspirada nos gansos que vivem no asfalto

Coleção inspirada no Coco - babão

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Fig.08_ Produtos da coleção natureza da favela. Coleção inspirada no Coco - babão

6.2. Segunda Coleção do ASAS: Territórios Aglomerados Com o intuito de estabelecer processos sustentáveis de geração de renda, professores e alunos trabalharam juntos na capacitação do grupo de artesãs da favela com oficinas de costura, estamparia, encadernação, bordado e fotografia pinhole. As artesãs que produziram a coleção intitulada TERRITÓRIOS AGLOMERADOS são do núcleo produtivo que compõe o Projeto ASAS (www.projetoasas.org) e se chama AGLOMERADAS. Este núcleo é formado por 7 artesãs que trabalham com estamparia, costura, encadernação e fotografia na criação de objetos que refletem a realidade cotidiana da favela.Esta coleção TERRITÓRIOS AGLOMERADOS, cuja força expressiva é resultado de uma metodologia específica focada em processos colaborativos de criação e produção, revela a singularidades coletiva do grupo. Os produtos foram criados a partir de processos criativos envolvendo uma pesquisa realizada com referências iconográficas coletadas na própria favela. O valor agregado dos produtos surge também das técnicas diversas (estampas em mata borrão, bordados e encadernação manual) tornando evidente a complexidade das imagens estampadas, que refletem as bricolagens e a desordem labiríntica típicas da cidade informal.

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Fig.09_ Produtos da coleção Territórios Aglomerados.

Além desses resultados que são visíveis no produto, a pesquisa vem desenvolvendo tecnologia social, através da formulação de uma tabela de indicadores avaliativos especifica para projetos de capacitação em artesanato e design, podendo assim avaliar de maneira quantitativa e qualitativa o sucesso e ou o fracasso das ações realizadas durante o processo baseada nos resultados esperados de cada uma delas.

7. Tabela de indicadores avaliativos

A criação desta tabela está sendo feita a partir das entrevistas realizadas com os beneficiários, onde foram feitas perguntas relativas aos eixos temáticos já apresentados anteriormente. Após a análise destas entrevistas foram levantados possíveis indicadores específicos e então eles foram reunidos em macro indicadores, tornando a tabela bem ampla com relação aos aspectos avaliativos, podendo assim ser reaplicada a qualquer projeto de capacitação em design e artesanato, em qualquer região do Brasil e ou do mundo.

Exponho aqui os resultados referentes à criação colaborativa e território e identidade que já 25

obtivemos.

Empoderamento

Eixos Temáticos

Criação Colaborativa

Fonte de Informação da Pesquisa

Fala Indicatória

Beneficiario 1 E você acha que os processos coletivos colaboram individualmente na sua criatividade e aprendizado? _Adriele: Tem me ajudado bastante, nem só com a criatividade mas também eu to bem mais comunicativa. Beneficiario 3 Você gosta do produto individual criado apenas por você ou com a colaboração de outras pessoas? _Mercedes: Eu gostava muito do sábado, que a gente fazia um trabalho assim, todo mundo junto, né? Era legal demais. Beneficiario 4 Você gosta do produto individual, criado apenas por você sem a ajuda ou colaboração de outra pessoa? Shirley – Com a colaboração de outras pessoas, prefiro em conjunto. Entrevistador – Porque você prefere em conjunto? Shirley - Por causa da diversidade das pessoas, pela formação de cada um, maneira de pensar, eu acho que o trabalho vai Beneficiario 2 E você prefere desenhar sozinha, ou alguém te ajudando e interferindo no seu desenho? Eva: Não, eu preferia eu sozinha mesmo, né? Porque é uma coisa minha, do jeito que eu faço, né? Que as vezes eu faço a carinha e um olho aí vem alguém e faz o olho de um outro jeito. E tem um bonequinho até que eles gostaram muito dele, que eu fiz ele como se fosse o meu pai, sabe? Então eu faço ele, quando eu olho pros lugar, pras pessoas que eu conheço, é.... gente na rua, mas é só o rosto mesmo de gente que conheço mesmo. Então eu sei quem que é.

Beneficiario1 "Tem me ajudado bastante, nem só com a criatividade mas também eu to bem mais comunicativa." Beneficiario 3 "Eu gostava muito do sábado, que a gente fazia um trabalho assim, todo mundo junto, né? Era legal demais." Beneficiario 4 "Com a colaboração de outras pessoas, prefiro em conjunto." “Por causa da diversidade das pessoas,(...)eu acho que o trabalho vai ficando muito mais interessante.”

Beneficiario 2 E você falou que, por exemplo de as pessoas ajudarem, mudando algumas coisas no desenho, isso acontecia muito no ASAS, né? Por exemplo assim, nas oficinas de desenho, de criação sempre tinha uma coisa que todo mundo fazia junto, né? Eva: Não, até hoje no meu eles não mudaram nada não. Ficaram tudo do mesmo jeito... Entrevistador: E você acha que se mudasse você não iria gostar? Eva: Não iria me importat não, não iria me importar.

Beneficiario 2 "Entrevistador: E você acha que se mudasse você não iria gostar? Eva: Não iria me importar não, não iria me importar."

Beneficiario 3 E você acha que os processos coletivos colaboram individualmente na sua criatividade e aprendizado? _Mercedes: Eu acho, porque cada um tem o seu modo de criar, né? Então junta aquilo que a gente sabe, com o que outra pessoa sabe dá uma contribuição bem boa, né? Entrevistador: E você se sente preparada pra criar os produtos sozinha? Mercedes: Ah, sozinha me parece que não... eu precisava de uma pessoa me acompanhando.

Beneficiario 3 "Eu acho, porque cada um tem o seu modo de criar, né? Então junta aquilo que a gente sabe, com o que outra pessoa sabe dá uma contribuição bem boa, né?" Beneficiario 4 “ ó é de forma artística, de forma, na postura de cada um, na forma de pensar no comportamento individual de

Beneficiario 2 "Não, eu preferia eu sozinha mesmo, né? Porque é uma coisa minha, do jeito que eu faço, né? Que as vezes eu faço a carinha e um olho aí vem alguém e faz o olho de um outro jeito."

Indicador Específico

Macro indicador

Importância da Criação Colaborativa

Consolidação de Práticas Colaborativas

Sentimento de Posse Pela Autoria do Produto

Consolidação do Grupo

Estabelecimentos de Processos Criativos

Melhoria da Qualidade dos Produtos

Beneficiario 4 Você acha que os processos coletivos colaboram individualmente na sua criatividade e aprendizado? Shirley - sim. Entrevistador - de que forma? Shirley – ó é de forma artística, de forma, na postura de cada um, na forma de pensar no comportamento individual de cada um.

Tabela 01 _ Tabela de indicadores especificos para avaliação, com eixo temático de criação colaborativa, para projetos de capacitação em artesanato e design, desenvolvida pela pesquisa DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA SOCIAL PARA REALIZAÇÃO DE PROJETOS DE CAPACITAÇÃO EM ARTESANATO E DESIGN TENDOO PROJETO ASAS COMO ESTUDO DE CASO

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Empoderamento

Eixos Temáticos

Fonte de Informação da Pesquisa

Território / Identidade

Beneficiario 1 Qual era a sua visão da favela antes de participar do projeto e qual é agora? Talita: A sua visão assim... é, como que você via assim, olugar? _Adriele: Ah, bem eu não conhecia bem a favela, direito... eu ficava mais é, no meu cantinho aqui... com o ASAS eu to conhecendo mais o lugar eu to vendo que não era que eu pensava... _Talita: E o que que você pensava? _Adriele: Sinceramente eu morria de medo de ir pro lado do cafezal que eles falavam em horrores e aí com o projeto que a gente é, deu uma caminhada eu vi que não tem nada a ver, que não é o que eles dizem... Beneficiario 3 o que mais você acha que você aprendeu nesse tempo que você esteve no ASAS? Eva: Aprendi a por os pontos no bordado. Elas me ensinaram a fazer bordado. Até silkar mesmo, isso aí eu aprendi, mas pra mim pegar assim.... Silk eu sei fazer, mas não tenho ainda aquela firmeza nas mãos, porque sinto muito dor nãos mãos vou ter até que fazer cirurgia, então eu não consigo firmar pra fazer.

"com o ASAS eu to conhecendo mais o lugar eu to vendo que não era que eu pensava(...)com o projeto que a gente é, deu uma caminhada eu vi que não tem nada a ver, que não é o que eles dizem..." "Elas me ensinaram a fazer bordado. Até silkar " “me encontrei aqui dentro e vi essa coisa magica das pessoas de poder criar.” “projeto em sim ele me alertou para eu ver outros pontos que eu não via,”

Beneficiario 1 E você acha importante que as características do aglomerado apareçam de alguma forma nos produtos? _Adriele: o que eu acho? _Talita: No produto ou na produção, na cara dos produtos... _Luiz: É, isso, por exemplo características da favela. _Talita: Igual eu, sabe aquelas estampas que foram todas baseadas num, ..., no que acontece no cotidiano das favelas _Adriele: Eu acho assim, eu acho legal porque mostra um outro lado da favela, porque o pessoal digamos assim que mora no asfalto como dizem, pensa que na favela só tem bandido. E com o projeto nós tamos mostrando que não é só isso que tem nas favelas... Beneficiario 3 Você acha importante que as caracteristicas do aglomerado apareçam de alguma forma nos produtos?Por quê? Eva: Acho, eu acho isso importante. Portanto eu queria, até dei a idéia a elas de fazer tipo uma feira. Na rua ali do coisa, do grupo ali. Ou então lá dentro lá na quadra, fazer uma fE o que você acha dos produtos serem

"Eu acho assim, eu acho legal porque mostra um outro lado da favela, porque o pessoal digamos assim que mora no asfalto como dizem, pensa que na favela só tem bandido. E com o projeto nós tamos mostrando que não é só isso que tem nas favelas..." "Acho, eu acho isso importante.(...)fazer uma feira ali e convidar assim as mocas e os rapazes pra ver, como é que estão fazendo, e quem quiser comprar ." "Muito importante, isso é uma coisa Representação do que eu acho que é um acontecimento, Território no Produto eu acho lindo! (...)Representa sim, você vê lá que elas fazem aquelas escadas, né? Eu vi muita coisa boa ali, fazendo aquelas escadas, aquilo assim dos postes de luz." “Nossa isso e muito importante, é identidade isso tem que acontecer, tem que acontecer. Eu acho que cada dia que passa os produtos alias desde o começo os nossos produtos nunca teve cara de asfalto”

produzidos aqui e vendidos em lojas é, ... consideradas chiques assim? _Adriele: Ah, eu acho bem interessante, porque é como se fosse uma unificação de dois mundos completamente diferentes né? Eu acho bem interessante... E assim, o que que você acha de os produtos serem vendidos em lojas consideradas chiques? Eva: olha isso ai, eu gostaria de dizer que..., assim, é bem, mas também, mas que isso fosse vendido aqui! Mas não com o mesmo preço que eles vendem lá embaixo, né? Entrevistador: Mas você acha que os produtos produzidos por elas assim, teriam aceitação pelas pessoas aqui da favela? Eva: Uai, teria sim, principalmente as bolsas, é... aqueles paninhos de por prato, aquelas luvas, seria sim.. 3. E o que você acha dos produtos serem produzidos aqui e vendidos em lojas é, ... consideradas chiques assim? _Mercedes: Eu acho importante criado aqui e vender, porque tem que vender num lugar f é

Fala Indicatória

"Ah, eu acho bem interessante, porque é como se fosse uma unificação de dois mundos completamente diferentes né? Eu acho bem interessante..." "olha isso ai, eu gostaria de dizer que..., assim, é bem, mas também, mas que isso fosse vendido aqui! Mas não com o mesmo preço que eles vendem lá embaixo, né?" "Eu acho importante criado aqui e vender, porque tem que vender num lugar assim... como que fala... no centro, né? " “É bom, e muito bom colocar os nossos produtos nessas lojas, mais eu acho que é importante também à comunidade adquirir, sabe conhecer os produtos”

Indicador Específico

Macro indicador

Alteração do Olhar Sobre o Território

Dimensão Política e Afetiva Sobre o Território

Identificação Com os Produtos Gerados

Tabela 01 _ Tabela de indicadores especificos para avaliação, com eixo temático de Território e Identidade, para projetos de capacitação em artesanato e design, desenvolvida pela pesquisa DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA SOCIAL PARA REALIZAÇÃO DE PROJETOS DE CAPACITAÇÃO EM ARTESANATO E DESIGN TENDOO PROJETO ASAS COMO ESTUDO DE CASO

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Esses são breves relatos de resultados significativos já levantados por essa pesquisa. Porem ainda há muito que fazer e áreas de atuações a serem concertadas ou reformuladas para que seja alcançado um êxito maior, e é esse o principal objetivo desta pesquisa, já que não existem metodologias publicadas e conhecidas de procedimentos coletivos e colaborativos em artesanato e design.

8. Conclusão A experiência do mundo não é desprovida de referências e é através dela que formamos nossa identidade e nos relacionamos com o mundo que nos cerca, dando significado e resignificando cada informação que nos é passada por alguém ou por alguma situação. No ambiente da favela isso não é diferente talvez o que muda e a ordem que não e linear e sim fragmentária e labiríntica.

É através desses fragmentos e por essa ordem aleatória que as pessoas se comunicam e tiram significado daquilo que vivem e experênciam na favela. Entender essa lógica territorial é fator primordial para quem quer se envolver em projetos de capacitação em artesanato e design em aglomerados, vilas e ou favelas.

Ter planejamentos mais maleáveis e ações menos engessadas são atitudes importantes para gerar uma identidade forte que reflita o território da favela e gerar um empoderamento dos beneficiários do projeto.Criar um campo de negociação que reflita o encontro entre os designers que habitam a cidade formal e a comunidade que habita uma cidade totalmente informal.

A pesquisa DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA SOCIAL PARA REALIZAÇÃO DE PROJETOS DE CAPACITAÇÃO EM ARTESANATO E DESIGN TENDOO PROJETO ASAS COMO ESTUDO DE CASO, tem conseguido bons resultados. Em um primeiro momento foram levantados dados a fim de se obter conhecimento da aceitação, por parte dos beneficiários, da metodologia utilizadas e se havia ocorrido avanços no que diz respeito às ações de criação colaborativas, autonomia e reconfiguração da cultura por meio de um fortalecimento do território e ampliação da identidade cultural dos beneficiários. Num segundo momento estamos no processo de desenvolvimento do nosso principal objetivo que é 28

a criação de uma tabela de indicadores avaliativos específicos para projetos de artesanato e design, que possa ser utilizada como uma metodologia de avaliação a fim de ser reaplicada por qualquer instituição e ou designer que queira trabalhar com projetos de capacitação em artesanato e design, gerando assim tecnologia social. Já no que diz respeito aos profissionais envolvidos nesse processo de capacitação em artesanato e design, é importante ressaltar que é necessário rever o incentivo que os leva a essa ação, o profissional tem que estar disposto a deixar de lado a caráter autoral, para desenvolver estratégias de negociação e troca de conhecimento, através de um processo coletivo colaborativo, onde a assinatura e de toda a equipe e não apenas de um profissional, visto que os produtos produzidos nesse processo reflete uma subjetividade coletiva de realidades sociais, culturais e econômicas diversas.

Acredito que o Programa ASAS está no caminho certo para o desenvolvimento de tecnologia social, pois tem desenvolvido um trabalho que contém os quesitos necessários para o desenvolvimento de conjunto de técnicas e procedimentos de organização coletiva que trazem soluções para a inclusão social e a melhoria de vida dos beneficiários envolvidos nos seus projetos.

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9. BIBLIOGRAFIA

CANCLINI, M. Culturas Híbridas. São Paulo: Edusp, 1998. BLANCHOT, Maurice. L’écriture du désastre. Paris: Gallimard, 1980. p. 96 DELEUZE, GILLES, “Mystèred'Arianeselon Nietzsche”, in critique et clinique, Paris, Les èditions de Minuit, 1993, p.132.(T.d.a.) FRANÇA, Vera Regina Veiga (org.). Imagens do Brasil: Modos de ver, modos de conviver. Belo Horizonte : Autêntica, 2002. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.- 11.ed. - Rio de Janeiro: DP&A, 2006. HAESBAERT, R. 1994. O mito da desterritorialização e as “regiões-rede”. Anais do V Congresso Brasileiro de Geografia. Curitiba: AGB, pp. 206-214. JACQUES, P. B. A estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001. MAFFESOLI, Michel, 1944. Sobre o nomandismo: Vagabundagens pós-modernas / Tradução de Marcos de castro – Rio de Janeiro: Record. 2001. _______. Design, identidade cultural e artesanato: para Primeira Jornada Ibero-americana de Design no Artesanato. Disponível em http:www.eduardobarroso.com.br-c RENA, Natacha [org.]. Territórios aglomerados. Belo Horizonte: Ed. FUMEC – Faculdade de Engenharia e Arquitetura, 2010.

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