Favelas do Rio de Janeiro: História e Memória

June 2, 2017 | Autor: M. Bastos da Cunha | Categoria: Memory Studies, Memoria, Favelas, História do Rio de Janeiro, Memória social
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Favelas do Rio de Janeiro História e Memória

Crescimento dos estudos sobre a memória e história das favelas !  Tema

favela incluído nos estudos sobre a história do Rio de Janeiro, em seus aspectos urbanos, sociais e culturais.

!  Iniciativas

formais e informais sobre a memória das favelas: professores de escolas públicas, localizadas nas favelas, grupos locais, ou pesquisadores envolvidos em projetos de construção de memória local

Interrogando... ! O

que explica o crescimento de iniciativas e estudos sobre história e memória das favelas do Rio de Janeiro?

! Existe

uma história das favelas do Rio de Janeiro?

! Qual a relação entre história e memória?

Algumas referências: ! Mauricio

Abreu e Liliam Fessler Vaz (geografia e urbanismo; ocupação urbana e moradia) ! Licia Valladares (abordagem sociológica); Licia Valladares e Lígia Medeiros (coletânea bibliográfica) ! Adrelino Campos ! Victor Valla (iniciativas governamentais e não governamentais nas favelas)

! Dulce Pandolfi & Mario Grynspan. (história oral) ! Luis Antônio Machado; Marcia Leite (abordagem sociológica) ! Janice Perlman (período das remoções).

Documentos: Relatório do SAGMACS: Aspectos Humanos da Favela Carioca, Suplemento Especial de O Estado de São Paulo Sites: ! Favela tem memória : www.favelatememoria.com.br ! Rede Memória - CEASM (Centro de Estudos e Atividades Solidárias da Maré) / Museu da Maré ! Observatório de Favelas:

Algumas razões para o crescimento !  Centenário

da favela: abre espaço a um crescimento do número de estudos sobre estas localidades, de forma geral, e, em particular, reflexões que localizam a origem histórica da favela, cruzando-a com as tramas da história da cidade.

!  A

partir dos anos 90, “verdadeira explosão” de estudos relacionados: às intervenções do poder público e das ONG´s: “linha de ação que se distancia das práticas antifavelas anteriores”; e, também, a “percepção social da violência urbana nas favelas do Rio de Janeiro” (Lícia Valladares e Ligia Medeiros)

! 

A memória, assim como temas ligados à cultura produzida nas favelas, é um elemento que promove elos, num território em que multiplicam divisões, dentro de cada localidade, e entre elas. A memória funciona como uma espécie de alimento através do qual é possível repensar tais elos, e fertilizar uma prática que contribua para romper com o isolamento das chamadas “comunidades”.

! 

O debate da “cidade partida” e a percepção social da violência urbana: projeção às clivagens presentes na cidade, traz o desafio de se repensar sua configuração histórica e social, em busca das relações existentes entre o “morro” e o “asfalto”.

!  Novo

eixo de análise: romper com leituras dicotômicas, lançando luz sobre as trocas subterrâneas entre a favela e o restante da cidade, ao longo da história do Rio de Janeiro.

! O

tema da memória: indica elos, traduzidos nos registros destas trocas, o que contribui para se relativizar a noção da “cidade partida”.

Recuperar a memória da experiência compartilhada nesses variados territórios da cidade, como muitos grupos estão fazendo é uma forma, fundamental, rica e fortemente mobilizadora, de regenerar o tecido social tão esgarçado pelas razões que conhecemos. E uma condição para prosseguir o trabalho no qual estamos empenhados, de colaborar no processo de democratização de nosso país, reduzindo a desigualdade característica da estrutura urbana carioca (Machado)

Existe uma História das favelas? Como não se escreveu até hoje a história das favelas, os moradores estão também estão dando um jeito nisso. Eles estão vendo que se eles escreverem a própria história, os historiadores mesmos, os acadêmicos e tal não vão se interessar por isso (...). Temos que perceber que cada um tem um papel. A memória tem um papel, o bom jornalista tem um papel e a história é a grande ausente. A história ainda não fez a sua parte. A História ainda não desempenhou o seu papel. Ainda não escreveu um esboço da história das favelas. A gente tem análises antropológicas, análises sociológicas que são sempre sobre determinados momentos. Mas nenhuma tentativa foi feita de escrever a história das favelas.

Fragmentos de uma história

O surgimento das favelas Contexto histórico: fim do século XIX, mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais desenvolvidas no país que vão repercutir nos espaços urbanos, particularmente na cidade do Rio de Janeiro, então capital do país.

A Cidade e as desigualdades Inaugura-se toda uma forma de conceber a gestão das diferenças sociais na cidade, que atualmente nos é bastante familiar. Nesta forma de conceber as diferenças sociais na cidade estão colocados alguns aspectos fundamentais: ! 

! 

o primeiro é a construção da noção de que “classes pobres” e “classes perigosas”- para usar um termo do século XIX – são duas expressões que denotam, que descrevem basicamente a mesma realidade; o segundo refere-se ao surgimento da idéia de que uma cidade pode ser apenas “administrada”, isto é, gerida de acordo com critérios unicamente técnicos ou científicos.

Já que não era mais possível manter a produção por meio da propriedade da própria pessoa do trabalhador, a ‘teoria’ da suspeição generalizada passou a fundamentar uma estratégia de repressão contínua fora dos limites da unidade produtiva. Daí o porquê, em nosso século, de a questão da manutenção da ordem ser percebida como algo pertencente à esfera do poder público e suas instituições específicas de controle – polícia, carteira de identidade, carteira de trabalho etc; na verdade, até 1871, não existia sequer algum registro geral de trabalhadores (Chalhoub).

O Cabeça de Porco O Cabeça de Porco foi destruído em 1893, sendo que sua destruição está ligada à origem das primeiras favelas

O surgimento da favelas ! Destruição

do Cabeça de Porco (1893): exmoradores aproveitaram o material da demolição do cortiço e subiram o morro por detrás da estalagem ! Ex- combatentes de Canudos (1897): os soldados que voltaram da Guerra de Canudos, na Bahia, se estabeleceram lá, com a autorização dos chefes militares e do governo.

O Morro da Favela, hoje Providência

As primeiras favelas Morro Santo Antônio, removido em 1950

A gestão técnica e científica da cidade ! Resultante

da aliança de interesses entre o Estado, o Capital e a Ciência ! Deu base ao processo de segregação no espaço urbano, deslanchado com a urbanização de fins do século XIX, mas que atingiu sua maior expressão nos primeiros anos do século XX com as Reformas de Pereira Passos (1902-1906).

A favela e a cidade: antes de 1940 ! Início

dos anos 20: primeira campanha contra a favela; a favela como “lepra esthética” ! Filme “ As Favellas” ! Plano Agache, 1927: plano de embelezamento e mudanças na capital; propõe a erradicação das favelas ! Código de Obras, 1937: documento oficial de reconhecimento da favela

Enquanto isso nas favelas...

1928 - Samba “A Favela vai abaixo”, de Sinhô Seresteiro, minha cabocla, a Favela vai abaixo Quanta saudades tu terás deste torr~~ao Da casinha pequenina de madeira Que nos enche de carinho o coração Mulata, no Estácio, Querosene ou no Salgueiro Meu mulato não te espero na janela Vou morar na cidade nova Pra volta meu coração para o morro da Favela

A favela como problema legítimo 1942, Parques Proletários Provisórios !  1 9 4 7 , C r i a ç ã o d a Fundação Leão XIII !  1948, primeiro censo de favelas: 105 favelas !  1 9 4 8 , f a v e l a n a imprensa: A Batalha do Rio ! 

O Parque Proletário da Gávea

Aparecimento de trabalhos baseados num “conhecimento menos de impressão e mais de fundamento”. O autor questiona a idéia da população favela ser constituída de malandros, desocupados, marginais. Contraria a idéia de que as favelas eram redutos de negros, comprovando a grande participação de brancos. Mostra a participação expressiva da mulher no mercado de trabalho.

A Favela em movimento ! 1945,

primeiras comissões de favelas (Pavão/ Pavãozinho; Cantagalo e Babilônia)

!  Fantasma

agregador

da remoção como elemento

Rocinha

Morro do Borel, 1960

Organizando o movimento !  1952,

Associação do Morro do Borel, uma das primeiras da cidade !  Articulação entre as favelas !  1963, fundação da FAFEG União dos Trabalhadores Favelados

As remoções, a “destituição da fala, a anulação da política !  Aliança

Estado e Capital imobiliário na construção e reconstrução do solo urbano !  Governo Carlos Lacerda e a COHAB !  Programa de erradicação de favelas e construção dos conjuntos habitacionais nas áreas periféricas !  1968, criação da CHISAM (Coordenadoria de Habitação Popular de Interesse Social na Área Metropolitana do Rio de Janeiro)

O Pasmado, 1959

Famílias deixando o Pasmado, 1964

Incêndio no Pasmado e a promessa da nova era que se pretendia inaugurar

Famílias removidas do Esqueleto, 1965

Urbanização sim, remoção não !  Resistência

à remoção em Brás de Pina, em 1964/65 !  Programa CODESCO (Companhia de Desenvolvimento de Comunidade) !  Urbanização da Favela de Brás de Pina, em 1969

!  Intervenção

Favela da Praia do Pinto, 1968: resistência de 7000 moradores e incêndio

do Estado nas Associações de Moradores !  A t r e l a m e n t o d a s associações às Regiões Administrativas e à Secretaria de Serviço Social !  1968/73, remoção de mais 90.000 moradores de 50 favelas !  Perseguição à Fafeg

Mais de cem anos de favela Após 100 anos de luta, empregando diferentes formas de organização e demanda política, inclusive o carnaval, a favela venceu. Há menos de duas décadas, mudou a legislação, e hoje a favela é feita de habitações em alvenaria. Os frágeis barracos facilmente destrutíveis, desapareceram. Desde o final dos anos 70, a favela tem luz em cada casa. Durante os anos 80, ela adquiriu serviços mais ou menos precários de água e esgoto.. Ninguém fala mais de remoção. Mais recentemente, os projetos de urbanização e saneamento, fruto de pequenas vitórias do movimento de favelados fazem surgir ruas e praças, mais ou menos planejadas, mais ou menos discutidas com a população local (Zaluar & Alvito)

A Favela é Cidade? O lugar da favela no espaço da cidade O lugar do morador da favela no mercado de trabalho Os direitos sociais e humanos

A Favela é Cidade! Afirmação do lugar histórico social da favela Luta pelos direitos sociais e humanos Luta pelo direito à cidade Luta por inserção social e econômica

Lílian Vaz observa que a favela da virada do século não era o que entendemos hoje por esta palavra. Levanta a hipótese de que quando ela surgiu constituía uma forma intermediária entre o cortiço e a favela atual, entre o velho e o novo. A conexão que une o velho e o novo se traduz na presença de casebres e barracões dentro do grande cortiço- o Cabeça de Porco- e ainda, na existência no Morro da Favela de habitações coletivas baixas e compridas, formadas pela sucessão de portas e janelas que dificilmente poderiam ser auto construídas

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