FAZENDO ETNOGRAFIA EM TEMPOS DE CAOS: O “MOVIMENTO - VOZ DO ALUNO” COMO IMPULSIONADOR DE MUDANÇAS NA ESCOLA 

June 3, 2017 | Autor: Carmen de Mattos | Categoria: Etnografía, Student Voice
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Mesa Redonda: Inclusão, Ética e Interculturalidade em Educação: Tecnologias e Linguagens

FAZENDO ETNOGRAFIA EM TEMPOS DE CAOS: O “MOVIMENTO - VOZ DO ALUNO” COMO IMPULSIONADOR DE MUDANÇAS NA ESCOLA





Carmen Lúcia Guimarães de Mattos (UERJ/PROPED) [email protected]

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Proposta desta palestra

Conversar com os colegas desta mesa, professores e pesquisadores sobre a importância de ouvir o aluno como fonte primária de conhecimento sobre a escola no contexto da pesquisa em tempos de caos.

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Pressupostos teóricos Cook-Sather e Grion (2013) - o potencial da voz do aluno como contribuição para promoção de mudanças na escola; Mattos (1992) - abordagem “bottom-up” (de baixo para cima); Fine (2013) - pesquisa participativa; Alves (2012) - reclexividade dos participantes na pesquisa etnográcica. Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

TÓPICOS •  Inclusão, Ética e Interculturalidade em Educação: Tecnologias e Linguagens; •  Etnogracia em Contexto de Caos; •  Voz do Aluno. •  Limites e possibilidades do “movimento - voz do aluno” (GRION; COOK-SATHER, 2013) como impulsionador de mudanças na Educação.

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Inclusão No contexto brasileiro, o tema da inclusão escolar tem sido estudado considerando políticas públicas, em pelo menos dois eixos: • 

Primeiro é a inclusão escolar no sentido estrito referindo-se à inserção na escola de alunos com necessidades educativas especiais;

• 

Segundo é o das políticas públicas de inclusão escolar de forma mais ampla. A inclusão de todos os alunos e particularmente aqueles originários de outros grupos potencialmente marginalizados.

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Inclusão “ A educação inclusiva constitui um paradigma baseado no conceito de direitos humanos, que une igualdade e diferença como valores indissociáveis ​ e supera o modelo formal de igualdade, de passar para incluência na eliminação das circunstâncias históricas da produção de exclusão dentro e fora da escola [ ...] no Brasil, a educação inclusiva é composta da combinação de princípios, políticas, estratégias e práticas visando a democratização da educação e sua qualicicação permanente por meio do desenvolvimento de uma proposta pedagógica que assegure a todos os estudantes o direito de acesso, a participação e aprendizagem, em igualdade de condições, sem qualquer tipo de discriminação que pode restringir, impedir ou abolir o gozo deste direito fundamental” (BRASIL, 2008. p.49). (Relatório Nacional - O desenvolvimento da educação - Educação inclusiva: o caminho do futuro) Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Ética

A palavra ética é de origem grega derivada de ethos, que diz respeito ao costume, aos hábitos dos homens. Teria sido traduzida em latim por mos ou mores (no plural), sendo essa a origem da palavra moral. Uma das possíveis decinições de ética seria a de que é uma parte da cilosocia que lida com a compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade social e da vida individual. A ética seria uma reclexão acerca da incluência que o código moral estabelecido exerce sobre a nossa subjetividade, e acerca de como lidamos com essas prescrições de conduta, se aceitamos de forma integral ou não esses valores normativos e, dessa forma, até que ponto nós damos o efetivo valor a tais valores. Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Ética

“A ética se dá pela educação da vontade. Segundo Marilena Chauí em seu livro Convite à Filosocia (2008), a cilosocia moral ou a disciplina denominada ética nasce quando se passa a indagar o que são, de onde vêm e o que valem os costumes. Isto é, nasce quando também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e consciência moral individuais. Segundo Chauí, podemos dizer que o Senso Moral é a maneira como avaliamos nossa situação e a dos outros segundo ideias como a de justiça, injustiça, bom e mau. Trata-se dos sentimentos morais. Já com relação à Consciência Moral, Chauí acirma que esta, por sua vez, não se trata apenas dos sentimentos morais, mas se refere também a avaliações de conduta que nos levam a tomar decisões por nós mesmos, a agir em conformidade com elas e a responder por elas perante os outros. Isso signicica ser responsável pelas consequências de nossos atos” ( RIBEIRO, 2016).

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Interculturalidade

Nas pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Etnogracia em Educação (NETEDU) o principio da interculturalidade tem sido traduzido na seguinte frase;

“A diferença soma.....” (Mattos 1992)

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Interculturalidade

“[...] os Direitos Humanos são um localismo globalizado, uma espécie de esperanto que dicicilmente se poderá transformar na linguagem quotidiana da dignidade humana nas diferentes regiões culturais do globo. Compete à hermenêutica diatópica [...] transformá-los numa política cosmopolita que ligue, em rede, línguas diferentes de emancipação pessoal e social e as torne mutuamente inteligíveis e traduzíveis. É este o projeto de uma concepção multicultural dos Direitos Humanos” (SANTOS, 2009 :18).

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Tecnologias e Linguagens

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Tecnologias e Linguagens Na prática, o que mudou?

As escolas estão equipadas com um laboratório de informática com muito pouco equipamento (em geral , de 10 a 15 computadores e uma impressora ). Os professores em algumas escolas, receberam doações do governo de Laptops ou Tablets sob certas condições. Mas esses são máquinas muito baixa qualidade e sua presença como instrumentos digitais não garante quaisquer alterações às escolas e salas de aula todos os dias práticas pedagógicas e processos que inclinam-se (MATTOS; CASTRO 2012). Portanto, a incorporação de ferramentas tecnológicas pela sociedade e pela escola pouco mudou no dia a dia das escolas. Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Tecnologias e Linguagens Perguntas Como mudar a dinâmica de interação entre alunos, professores e no ambiente escolar? Como aprender sobre tecnologias usadas nas escolas e fora delas? Como podem estas tecnologias, quando incorporadas nas escolas, serem úteis para entender formas e construção de novos conhecimentos no mundo pósmoderno? Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Tecnologias e Linguagens Em 2008, com o propósito de apoiar os sistemas públicos de ensino na busca por soluções que promovam a qualidade da educação foi criado pelo Ministério da Educação e Cultura (BRASIL, 2008) um Guia de Tecnologias Educacionais. Ele elenca cinco blocos de tecnologias: 1.  Gestão da Educação - formação continuada pela TV, informatização da gestão escolar 2.  Ensino-aprendizagem- software livres 3.  Formação de Procissionais da Educação - formação em EaD 4.  Educação Inclusiva - educar para a diversidade, colaboração/inserção • 

Portais Educacionais- e-Proinfo, Portal Domínio Público Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Tecnologias e Linguagens Para eleger essas tecnologias considerou-se que elas poderiam contribuir para a construção de um novo referencial de qualidade de modo a atender a três eixos básicos: 1.  disseminação de tecnologias às escolas e sistemas de ensino, a cim de alterar o quadro educacional apresentado por boa parte dos municípios brasileiros, por meio do acesso a tecnologias educacionais inovadoras, que possam orientar a organização do trabalho dos procissionais da educação básica, atuando em diferentes áreas do setor educacional (gestão da educação, avaliação institucional, cluxo escolar, ampliação da jornada escolar, alfabetização, leitura e formação de leitores, processo ensino-aprendizagem, entre outras); 2.  estímulo à criação de tecnologias educacionais por pessoas císicas (pesquisadores, professores etc.), instituições de ensino e pesquisa, organizações sociais e demais pessoas jurídicas; 3.  fortalecimento da produção teórica, voltada à qualidade da educação básica, que se concretize por meio da criação de novas tecnologias educacionais. Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Etnogracia em Tempos de Caos Etnogracia começou como um método, que foi descoberto, aperfeiçoado, e institucionalizado em centros ocidentais de poder, para contar histórias sobre populações marginalizadas do mundo. Etnogracia tem suas origens nas desigualdades coloniais originárias na modernidade sob as premissas arrogantes feita pela classe intelectual privilegiada sobre quem tem o direito de contar histórias sobre quem. Como pode etnogracia ainda estar sendo praticada hoje em uma época de interconexão global sem precedentes, em que as desigualdades servem apenas para aumentar a consciência da política? Como pode a etnogracia ser recuperada a partir da sua visão original para tornar-se um projeto de emancipação de seus pesquisados? Deve cada uso de etnogracia no presente , inevitavelmente, ser um ato de pedido de desculpas e tristeza para o vergonha do que a etnogracia era no passado? Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Etnogracia em Tempos de Caos Contrariamente às expectativas que a etnogracia se tornariam um anacronismo , tem, de fato, proliferado como um método, uma epistemologia, uma prática de campo, uma forma de escrita e de desempenho nas pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. Há uma estranha fome para a etnogracia no mundo contemporâneo , que é moldada por conceitos do que é "realmente real " e no desejo de histórias baseadas na verdade e imediatismo do testemunho. Etnogracia, ao invés de se tornar extinta, tornou-se uma condição necessária maneira de saber. Mesmo que os pioneiros da etnogracia tenham sido, muitas vezes, tratados como um pesquisadores de "segunda classe ", os etnógrafos atuais envolvem-se com este método por estarem conscientes das contradições desse saber e da história da vergonha sobre como se pode fazer etnogracia ou como se fazia no passado.

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

Etnogracia em Tempos de Caos Etnogracia como uma abordagem de pesquisa Eu me tornei etnógrafa educacional, porque queria ser um contadora de histórias sobre pessoas reais em lugares reais. Fui seduzida pela ideia do trabalho de campo , a ideia de ir a algum lugar para encontrar eu não estava procurando. Mas a beleza e o mistério da busca do etnógrafo é encontrar as histórias inesperadas, as histórias que desaciam nossas teorias. A razão pela qual nós ainda vamos a campo, e a mesma pela qual questionamos onde o campo é localizado no século 21? Como e onde vamos para encontrar histórias que não sabíamos onde não sabemos procurar? Esta é a questão maior da etnogracia na atualidade.

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

“Student Voice Movement” [ Movimento Voz do Aluno] &

Compartilhando nossas práticas de pesquisa com os alunos a cim de estimular a sua ressignicicação pelos próprios alunos

Etnogracia em Educação

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

“Student Voice Movement” COOK-SATHER, 2013)

Os alunos como “protagonistas” de pesquisa, expressando as interpretações sobre as suas próprias vivências e experiências. A “voz do aluno” como orientadora dos resultados da pesquisa. Os objetivos políticos e pedagógicos preponderam na pesquisa

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

“Student Voice Movement” (GRION, 2013)

O Aluno possui ideias muito positivas e realistas a respeito de sua escola e de como ela pode ser melhorada. O aluno é “coparticipe” nos processos de mudança da escola. Participação democrática entre os diversos níveis de poder

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

“Student Voice Movement” (MATTOS, 1992)

Necessidade de se iniciar o planejamento das ações pedagógicas e educacionais sob uma perspectiva “bottom-up” (baixo /cima) levando-se em consideração as demandas que emanam da b a s e ( o a l u n o ) p a r a o t o p o ( g e s t o r e s educacionais).



Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

“Student Voice Movement” Pesquisa participativa (Michelle Fine)

Formação de uma “zona de contexto” (TORRES, et al., 2008) - pessoas de diversos segmentos socioeducacionais se reúnem com os pesquisadores e, juntos, partilham conhecimentos e criam as questões da pesquisa, os instrumentos, as amostras, as análises e os produtos, tornando-se uma equipe e constituindo o que se considera “campo de pesquisa”. Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

“Student Voice Movement” (ALVES, 2012)

O aluno é reclexivo sobre a sua realidade e sobre o seu potencial para aprender. Desejam participar ativamente do processo ensino/aprendizagem quando lhes é permitido.





Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

“Student Voice Movement”

Etnogracia em Educação

Estamos cada vez mais conscientes de diferentes fenômenos da história global e diversas modernidades alternativas. Sistemas ocidentais de ascensão de tempos modernos e de novos sistemas de classicicação utilizados nas ciências sociais e humanas estão se tornando desaciados por “contra-saberes” ou “contraculturas”. Isso sugere que temos de abandonar muitos dos pressupostos universais que estão na base destes sistemas, por exemplo, a cerca da temporalidade linear, e em vez disso, começar a partir de uma perspectiva que enfatiza a variabilidade, conectividade e intercomunicação global.

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

“Student Voice Movement”

Etnogracia em Educação

As possibilidades a serem criadas a partir da voz dos alunos permite compreender que é possível articular mecanismos de transformação da realidade educacional atual, onde o ensinar não se restrinja a uma mera transferência de conhecimentos, mas que seja lugar de vida, de produção de conhecimento e de vicissitudes que propulsionem novas formas de interpretar, ver e ouvir a realidade a partir do outro. Em particular, invertendo-se as relações hierárquicas de poder e clexibilizando a assimetria existentes entre elas.

Carmen Lúcia Guimarães de Mattos

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