Federação Anarquista Uruguaia - Luta Armada e Violência Revolucionária

September 29, 2017 | Autor: Felipe Corrêa | Categoria: Anarquismo
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Federação Anarquista Uruguaia Luta Armada e Violência Revolucionária (1968-1973)

Felipe Corrêa •Apresentação utilizada como base do minicurso “Estratégia e Política: a questão militar. Federação Anarquista Uruguaia”, promovido pelo GMARX, na Universidade de Sâo Paulo, em novembro de 2014

Preâmbulo, curso e sumário • Agradecimento ao GMARX e ao público • Problemática das abordagens do anarquismo (dentro e fora das universidades) Curso: • Estudo teórico-histórico da experiência da Federação Anarquista Uruguaia (FAU), no período da “ditadura constitucional” (1968-1973), com foco em sua estratégia de luta armada e violência revolucionária • Práticas e teorias (feitas algumas vezes a posteriori) deste período • Bibliografia de história da FAU + Copei Sumário • 1.) Contexto; 2.) Grandes linhas da história da FAU; 3.) Estratégia com foco na questão das armas e da violência • Copei (1972) passa principalmente pelos pontos 1 e 3; teoriza práticas da FAU que eram levadas a cabo desde os anos 1960

CONTEXTO

Alberto “Pocho” Mechoso Operário da carne, feirante, morador / militante do Cerro e La Teja, membro da OPR-33. Preso, torturado e morto pela ditadura.

Contexto Aprofundamento de uma grande crise, a partir de meados dos anos 1950, que se complica com o passar dos anos

• Dependência do Uruguai (exportações, crédito, tecnologia) • Fim da 2ª Guerra e recuperação da Europa -> Diminuição das exportações • Produtividade estanca, queda nos investimentos, fim das reservas cambiais e aumento da dívida externa • EUA ganham espaço: neoliberalismo, militarização (interesses geopolíticos) • Conflitos entre classes dominantes (frações da burguesia nacional) • Graves consequências para os trabalhadores: precarização crescente, desvalorização dos salários com a inflação

Contexto Crescimento das mobilizações dos trabalhadores • Fortalecidas pela cultura política desenvolvida desde os fins do séc. XIX: sindicalismo revolucionário e autonomia em relação ao Estado (diferença do Brasil e da Argentina) • Foco principal nos sindicatos, mas com relevância entre estudantes e nos bairros (camponeses e trabalhadores do campo s/ relevância) • Movimento sindical em uma crescente de lutas (desde as Greves Solidárias de 1951/52) e tentando se unificar; estava disperso • Processo de unificação iniciado em 1956 culmina na formação da Convención Nacional de Trabajadores (CNT), em 1964 • Influência na esquerda latino-americana da Revolução Cubana de 1959 e da via chilena ao socialismo a partir de 1970

Contexto Governo, buscando manter a dominação de classe, vai abrindo mão dos pressupostos democráticos adquiridos nos anos 1940 e se torna cada vez mais autoritário • Continuam as tentativas de atrelar os sindicatos ao Estado (sem sucesso) • “Reforma Naranja” de 1966 dá mais poderes ao Executivo

• Estado investe progressivamente na repressão e, em 1967, com o “pachequismo” (Jorge Pacheco Areco), tenta isolar a esquerda combativa e revolucionária colocando suas organizações na ilegalidade (só o PCU fica na legalidade); militares ganham força • Ainda em 1967 se inicia o período conhecido como “ditadura constitucional”

Contexto O período subsequente que será tratado (1968-1973) dá continuidade a este quadro

• Crise segue se aprofundando • Conflitos são cada vez mais agudos e se potencializam com iniciativas armadas influenciadas pelo modelo cubano (em especial, o Movimiento de Libertación Nacional – Tupamaros, desde primeira metade dos anos 1960) • No plano sindical, a força hegemônica é o Partido Comunista Uruguaio, de viés reformista (linha da URSS contra linha cubana) • Há rupturas da institucionalidade pela esquerda e pela direita

• Estado conta com um endurecimento progressivo que culminará no golpe militar de junho de 1973

GRANDES LINHAS DA HISTÓRIA DA FAU Gerardo Gatti Militante estudantil, dirigente sindical dos gráficos, fundador da CNT, membro da ROE, da Tendência e da OPR-33. Preso, torturado e morto pela ditadura.

Breve histórico da FAU • Fundada em 1956, como resultado de um processo originado nas greves do início dos anos 1950 e necessidade de articular politicamente os anarquistas; constroem o processo militantes sindicais, comunitários e estudantis • Cisão em 1963/64 em função do impacto da Revolução Cubana e da estratégia para o período de crise e endurecimento político  Maioria dos que saem são militantes comunitários e estudantes -> Comunidad del Sur / Bellas Artes  Contatos internacionais e narrativa histórica realizados pelos últimos • Ainda na primeira metade dos anos 1960, cria um aparelho armado, que não assina as ações

• Participação influente na constituição da CNT em 1964 (nome e bandeira) e nas greves de 1965 que ela protagoniza; será uma força relevante na central até o golpe

Breve histórico da FAU • Entre 1964 a 1967 realiza profundas reflexões e alinhamentos estratégicos, os quais serão centrais de 1968 em diante

• Impulsiona, entre 1966 e 1968, a criação da Tendência Combativa, reunindo, dentro da CNT, os setores mais combativos e revolucionários em oposição à linha majoritária reformista do PCU; ela funcionará até 1973 • Em 1966, encabeça a construção do “Comitê Uruguaio” da Organização Latino Americana de Solidariedade (OLAS) em apoio à Cuba; em 1967 impulsiona o “Acordo de Época” (redigido pelos anarquistas), envolvendo toda a esquerda, exceto o PCU  Solidariedade às lutas libertação nacional do 3º mundo  Socialismo como projeto de longo prazo  Foco classe operária / trabalhadores  Necessidade de lutas de massas e armadas  Necessidade de luta ideológica

Breve histórico da FAU • Em 1967, é colocada na ilegalidade em função do acordo (junto com as organizações que o assinavam); até 1973, praticamente toda a história da FAU se dá na ilegalidade • Avalia, no período da ditadura constitucional, em função do contexto apresentado, que há condições para um processo revolucionário no país • Em 1968, articula com o MLN a Marcha Cañera, uma mobilização (marcha e acampamento) radicalizada dos trabalhadores da cana; iniciam-se prisões, torturas e assassinatos de militantes • Estimula, desde 1968 na CNT, a ideia de que, em caso de golpe, o movimento sindical deve responder com uma greve geral

• Participa ativamente, em 1969, da grande greve bancários e dos conflitos frigoríficos no Cerro e em La Teja

Breve histórico da FAU • Em, 1969, a Organización Popular Revolucionária – 33 Orientales (OPR33) rouba da Bandeira dos 33 Orientales (independência do país, com mesmo escrito dos makhnovistas) • Neste período, a OPR-33 investe em uma série de ações:  Sabotagens, expropriações econômicas e de armas, sequestros de dirigentes políticos e patronais odiados pelo povo, apoio armado a greves e ocupações de fábricas • Entre 1968 e 1970, impulsiona e consolida a Resistencia Obrero Estudantil (ROE) e, nos fins de 1969 conta, também com o esforço da Tendência, com 1/3 dos sindicatos da CNT; direção da FUNSA (indústria de pneus) é muito importante – sindicato adquire posição central na CNT; participa da Fte. Estudantil Revolucionária • Em 1971 é recolocada na legalidade; forma-se a Frente Ampla, que direciona esforços para eleições; Tendência e ROE perdem força (influência do modelo chileno faz PCU ganhar terreno); esquerda fracassa nas urnas e Bordaberry é eleito

Breve histórico da FAU • Também em 1971, há a conhecida fuga dos 111 presos de Punta Carretas; 3 deles são da FAU

• Em 1972, repressão acaba com Tupamaros e FAU/OPR continua com atuação na CNT e armada; começa a programar a ida para a Argentina • FAU e ROE veem possibilidade de golpe e são acusados de “alarmistas”

• Em 1973, muitos militantes da OPR-33 são presos e a ida à Buenos Aires é acelerada • Desde então, até 1976, a FAU permanece na Argentina; trabalha com ações de propaganda, sequestros etc.

• No período entre 1974/75, ocorre a formação do Partido por la Victoria del Pueblo (PVP), que conta com a participação de militantes da FAU • Com o golpe na Argentina, em 1976, 50 militantes da FAU são mortos; trata-se do fim da primeira fase da FAU; a segunda começará em 1986

ESTRATÉGIA COM FOCO NA QUESTÃO DAS ARMAS E DA VIOLÊNCIA Elena Quinteros Professora, militante da ROE e articuladora da militância estudantil e sindical. Presa e “desaparecida” na ditadura.

León Duarte Morador do Cerro, operário da carne e, depois, da FUNSA (indústria de pneus), dirigente sindical, fundador da CNT e da ROE. Preso e “desaparecido” na ditadura.

Estratégia geral Transformar o Uruguai numa sociedade socialista libertária e abrir condições para a internacionalização da revolução na região

• Ponto de partida:  Capitalismo dependente em crise, Estado em endurecimento autoritário, mobilização dos trabalhadores em alta (cultura política de resistência) • Ponto de chegada (objetivo finalista):  Destruição do capitalismo, do Estado, das classes sociais e construção do poder popular, envolvendo a socialização generalizada (econômica, política, cultural), por meio de uma revolução social violenta

Estratégia geral Revolução protagonizada pelos trabalhadores atuando, ao mesmo tempo, no nível de massas e no nível militar, armado

• Revolução social é violenta, não significa tomada do Estado, não é obra de minorias  Violência das classes dominantes exige violência das classes oprimidas (legitimidade e estratégia de violência)  Estado é organismo de minorias e dominador em todos os casos (limite das revoluções do século XX: criação de novas classes dominantes)  Revolução deve ser obra das massas (trabalhadores formais, informais, pobres em geral)  “Criar um povo forte”, “Construir o poder popular”

Estratégia geral Organização política anarquista (“partido anarquista”) e ação direta em todos os níveis

• Organização específica anarquista que contribua diretamente no processo revolucionário por meio de uma estratégia e um programa coerentes • “Partido” de quadros com critério de ingresso, nível de compromisso, democracia interna e relação complementar com os movimentos de massa (“pequeno motor”) • Fortalecer a proposta anarquista e ganhar força social entre adversários e inimigos; coordenar o processo de luta, insurrecional e revolucionário • Ação direta nos diferentes âmbitos:  Massas  Militar  Ideológico  Propaganda

Estratégia geral A FAU por dentro (1968-1973) • 350-500 militantes (60-100 braço armado) • Liga federal com delegação das instâncias: “Fomento” • Braço armado: “Aguilar” (OPR-33)  3 unidades operativas (aprox. cada uma com 3 equipes de 5 pessoas)  1 unidade médica / psicológica  1 unidade de informação • Braço de massas: “Alejandra”  Células sindicais e estudantis (ambas com vínculos comunitários) • Outros: Violência FAI, Serviços, Publicações, Propaganda, Formação, Teoria...

• Organização • Relações • Finanças • Propaganda • Formação • Teoria Ex. “Cartas de FAU”, 5 mil, semanal)

Liga Federal (“Fomento”)

Braço armado: “Aguilar” (OPR-33)

Unidade operativa 8

Unidade operativa 10

Unidade médica e psicológica

Unidade operativa 12

Braço de massas: “Alejandra”

Célula

Célula

Célula

Unidade de informação

Violência FAI

Serviços técnicos

Célula

Célula

Liga Federal (“Fomento”)

Braço armado: “Aguilar” (OPR-33)

Unidade operativa 8

Unidade operativa 10

Unidade médica e psicológica

Unidade operativa 12

Unidade de informação

Braço armado

Liga Federal (“Fomento”)

Braço de massas: “Alejandra”

Célula

Célula

Célula

Célula

Célula

Braço de massas

Liga Federal (“Fomento”)

Tendência Combativa (1/3)

Braço de massas: “Alejandra”

Convención Nacional de Trabajadores (100-400 mil) Célula

Resistencia Obrero Estudantil (2,5-10 mil)

Célula

Célula

Célula

Célula

Braço de massas

Liga Federal (“Fomento”)

Braço armado: “Aguilar” (OPR-33)

Unidade operativa 8

Unidade operativa 10

Unidade médica e psicológica

Unidade operativa 12

Unidade de informação

Braço armado x MLN – Tupamaros (adversário)

Braço de massas: “Alejandra”

Célula

Célula

Célula

Célula

Célula

Braço de massas

x PCU (inimigo)

Estratégia geral FAU (1968-1973) • 2ª força de massas e 2ª força armada; entretanto, única organização que investiu nestas duas frentes (disputas/críticas MLN e PCU) • Organização de minoria ativa (quadros) com influência significativa entre as massas uruguaias; proporcionalmente, um grande destaque na história do anarquismo global

Copei, luta armada e violência revolucionária Copei • Documento base do curso  Nome de um partido conservador da Venezuela (contrainformação)  Escrito em 1972, assim que o MLN havia sido destroçado pela repressão  Constituído por documentos / cartas produzidos semanalmente (clandestinidade, temas que vêm e vão etc.)  Como colocado, discute elementos de contexto e estratégia; formaliza teoricamente prática da FAU do período em questão e mesmo anterior

Crítica ao Partido Comunista e ao reformismo • Atuação legalista no campo sindical e eleitoralista no político reforça o sistema e é incapaz de promover uma insurreição,uma revolução, o socialismo • Não se derrota o capitalismo e o Estado dentro de suas próprias regras; negação da violência reforça o status-quo; crença na invencibilidade da repressão está equivocada

• Apesar do discurso algumas vezes revolucionário, a prática é contrarrevolucionária • Sustenta-se no “mito da insurreição / revolução”; estas são sempre inalcançáveis, nunca há condições para que se realizem, deve haver uma espera eterna, qualquer ação mais radicalizada é “aventureirismo” • Crença numa capacidade da espontaneidade das massas que não existe (espontaneísmo); ação exclusiva de massas não proporciona condições p/ revolução; subordinação do político (partido) ao econômico (sindical)

Crítica aos Tupamaros e ao foquismo • Realizada com base na teorização de Régis Debray (“Revolução na Revolução”) e na prática do MLN e de outras organizações foquistas

• Foquismo tem problemas estratégicos de fundo e é incapaz de promover o socialismo; responsável pelas principais derrotas revolucionárias no continente • A leitura de que foi o foquismo que permitiu a chegada do “socialismo” em Cuba é equivocada e a exportação do modelo mais errada ainda (não se adéqua à realidade uruguaia e outras) • O simplismo de sua avaliação das condições para a implementação do foco, assim como o rechaço da ação urbana por parte importante de seus defensores (não o MLN), são também condenáveis

Crítica aos Tupamaros e ao foquismo • Dentre os aspectos problemáticos do foquismo, podem-se apontar:  Estabelece um atalho inviável no seio de um processo que é duro, de longo prazo e exige intervenção em todos os níveis  Subestima trabalho de massas e papel do partido (org. política); não há adesão das massas, pois não há linha/trabalho de massas; não há coordenação política, pois não há org. política (partido); é a violência que guia o político e não o contrário  Foco restrito na violência militariza a organização das lutas e, assim, o próprio processo de transformação; forjam-se hierarquias e a minoria de revolucionários se afasta das massas

 Apoio na noção voluntarista de que com as armas se pode modificar tudo; no equívoco de que a violência necessariamente gera simpatia, cria consciência e mobiliza trabalhadores; quer mudar a ideologia sem trabalho ideológico

Crítica aos Tupamaros e ao foquismo  Suposições do foquismo que não se confirmam na prática:  A noção de “propaganda pelo fato”, que espera mobilizar pelos atos de violência e, assim, atingir o emocional das massas, levando-as às lutas sem maiores esforços  A dinâmica ação-repressão e a expectativa de que é a repressão que deve empurrar as massas à revolução  Modelo de organização não estabelece critérios adequados de seleção e formação técnica e política; isso faz com que a organização esteja sempre despreparada e vulnerável

Revolução em dois tempos Concretizar um processo revolucionário é uma tarefa de longo prazo e implica dois movimentos

1.) Insurreição Popular  Destruição do capitalismo, do Estado, das classes sociais  Construção do poder popular, socialização generalizada (econômica, política, cultural)

2.) Libertação Nacional  Contra a intervenção estrangeira  Retirada das forças estrangeiras inimigas do país e consolidação do poder popular e do socialismo

• “Revolução é ao mesmo tempo socialista e nacional”

Insurreição popular • Realizada por uma atuação concomitante de massas e armada que deve ser coordenada pela organização política (partido)

• Partido harmoniza luta de massas (condições políticas para a insurreição) e armada (elemento de choque e ruptura com o processo institucional); política coordena armas; deve poder realizar ações públicas e clandestinas • Revolução não se origina no espontaneísmo das massas e nem no voluntarismo do aparelho armado; não é possível ser gerada somente pela luta armada sem apoio das massas e também não pode ser concretizada somente pela luta de massas sem armas/violência (MLN/PC) • Processo insurrecional-revolucionário não pode se “militarizar” (hierarquia); as massas (protagonistas do processo) devem se acostumar a decidir seu próprio destino, tomar suas próprias decisões (autogestão das lutas) • Lutas podem avançar e retroceder, mas no momento que se inicia a insurreição popular (momento mais ou menos escolhido) não há mais possibilidades de retorno -> Vitoria ou derrota

Insurreição popular Três condições para vitória 1.) Aparato armado clandestino, bem preparado e treinado de antemão 2.) Apoio de um setor importante das massas (não há revolução sem participação das massas) 3.) Trabalho desmoralização/desintegração das forças de repressão • A desesperança das massas, o endurecimento político e a diminuição das influências da ideologia burguesa também são condições importantes

Insurreição popular Fontes de inspiração • Bogotazo: Protestos violentos na Colômbia em 1948 depois do assassinato do candidato a presidente liberal Jorge E. Gaitán • São Domingos: Luta na Rep. Dominicana em 1965 contra a ocupação dos Estados Unidos

• Cordobazo: Manifestações de rua em 1969 na Argentina que contribuíram com a queda do governo de Juan C. Onganía

Libertação nacional • Com a derrota das classes dominantes uruguaias, muito provavelmente haveria uma intervenção estrangeira no país  Maior possibilidade Brasil ou mesmo outras forças imperialistas • A revolução deveria conseguir afastar a intervenção estrangeira do país, num tipo de luta de independência, garantindo o aprofundamento e as possibilidades de internacionalização da revolução

• Utilização problemática da FAU dos termos  “Nacionalismo” x “Libertação nacional”  Problemática da história do anarquismo (Atlântico Norte)

Objetivo, início e fim da guerrilha Para que se faz guerrilha? Quando ela começa e quando termina? Objetivo: Independência colonial e democratização • Começa nas lutas pela independência ou democratização e termina quando estas são atingidas • Possui maior facilidade de vitória:  Em ambos os casos há possibilidades de alianças com classes dominantes locais  Mesmo com independência e/ou democratização classes dominantes locais podem continuar sua dominação/exploração • Casos históricos como o de Cuba funcionaram justamente porque era um caso deste tipo (democratização)

Objetivo, início e fim da guerrilha Objetivo: Socialismo • Começa na luta pelo socialismo e termina com quando este é atingido • Isso implica, obrigatoriamente, uma derrota das classes dominantes locais (não há qualquer possibilidade de alianças com elas) • Guerrilha não possui condições de derrotar, num combate frontal, as classes dominantes locais; por isso e outros motivos (expostos adiante), não funciona nos casos de transformações sociais • Caso uruguaio é de luta pelo socialismo e, portanto, a guerrilha sozinha é insuficiente para este processo

• Não há casos históricos em que somente uma guerrilha, especialmente nas cidades, conseguiu implementar e garantir o socialismo

Guerrilha urbana • A guerrilha urbana, para chegar ao socialismo, deve ser levada a cabo juntamente com um trabalho de massas consistente e contribuir com todas as modalidades de violência Quatro modalidades de violência 1.) Operações de apoio aos movimentos de massas (conflitos sindicais, ocupações de fábricas etc.) 2.) Operações com finalidade de propaganda, econômica, aquisição de equipamentos etc. 3.) Operações militares que têm como alvo as forças inimigas para desgaste material e/ou psicológico (envolve derrotas parciais) 4.) Operações para destruição do aparelho repressor inimigo (envolve o fim do poder político das classes dominantes, do Estado)

Guerrilha urbana • Não pode ser linear e tem de conseguir avançar e recuar; não pode ter que crescer sempre

• Deve evitar o enfrentamento frontal (guerra aberta); portanto, a guerrilha urbana não deve ter como fim a constituição de um exército popular que enfrentará em guerra aberta as forças inimigas • Precisa possuir autonomia relativa e tamanho limitado  Quem decide a estratégia é a organização política (partido)  Evitar a militarização (deformação) da organização política  Evitar o espontaneísmo e as ações fora de contexto que não contribuem estrategicamente e/ou que isolam os protagonistas das massas  Lidar adequadamente com as consequências e a repressão  Processo de ingresso e de formação rigoroso (seleção, equipe de psicólogos, formação técnica e política) • Deve ser preparada com antecedência pelo partido

Guerra popular prolongada X Insurreição popular Modelo de insurreição popular é diferente do modelo de guerra popular prolongada de Mao e Giap

• MLN é não somente foquista, mas espera que o foco se transforme num exército que possa aplicar o modelo chinês/vietnamita na cidade • Guerra popular prolongada  Campo -> Guerra rural -> Guerra popular prolongada • Insurreição popular  Cidade -> Guerrilha urbana -> Insurreição popular

• A guerrilha urbana não tem condições de se converter num exército para protagonizar uma guerra aberta nas cidades

Guerra popular prolongada X Insurreição popular • Cidades: presença constante dos inimigos (guerrilha urbana opera sempre em território inimigo), não há condições para realizar grandes concentrações / combates e nem para se estabelecer uma retaguarda eficaz • A exigência de um grande número de pessoas envolve não apenas critérios de ingresso e formação frágeis, mas também muita infra e serviços • Atuação em território inimigo somada à falta de possibilidade de grandes concentrações, de retaguarda, de critério de ingresso e formação adequados, implica aumento exponencial da vulnerabilidade • A guerrilha urbana é (e deve ser) reduzida (no máximo algumas centenas de membros); ela é sempre mais fraca que as forças inimigas e possui mais impacto político que militar • Ela é sempre defensiva (ponto de vista estratégico, ainda que taticamente possa realizar ações ofensivas) em relação à repressão; só a insurreição popular permite passar à ofensiva estratégica, mas ela envolve, conforme apontado, outros elementos

Bibliografia FEDERAÇÃO ANARQUISTA URUGUAIA (FAU). Copey. La lucha armada y la tarea revolucionaria. Montevidéu: Recortes, 2011. ____________________. El Copey. Uma posição libertária nas lutas revolucionárias dos anos 60/70 da América Latina. Porto Alegre: Combate, 2009. JUNG, María Eugenia; RODRÍGUEZ, Universindo. Juan Carlos Mechoso: anarquista. Montevidéu: Trilce, 2006. MECHOSO, Juan Carlos. Acción Directa Anarquista: uma historia de FAU. Tomo IV. Montevidéu: Recortes, 2009.

____________________. La Estratégia del Especifismo. Entrevista de Felipe Corrêa. Montevidéu: Recortes, 2011. RUGAI, Ricardo Ramos. Um Partido Anarquista: o anarquismo uruguaio e a trajetória da FAU. São Paulo: Ascaso, 2012.

OBRIGADO! Felipe Corrêa [email protected]

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