Fernando Pessoa e as Sociedades Secretas - CF

July 17, 2017 | Autor: Cláudio Fonseca | Categoria: History of Freemasonry, Maçonaria
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Este texto de Fernando Pessoa resulta após a lei referente às associações secretas proibir e sancionar as pessoas que pertençam a todas e qualquer tipo de sociedades secretas. José Cabral vai com o intuito de endurecer mais a lei, mas para podermos compreender esta postura convém saber quem é este José Cabral, José Cabral foi um monárquico que participou na monarquia do norte, católico tradicional acaba por aderir à União Nacional, estas condicionantes explicam já muito bem aquilo que está por trás desta lei.
A Maçonaria como é sabido defende uma sociedade liberal e livre, pois bem como é óbvio ao Estado Novo não interessa existir uma sociedade que conspire ideias contra o regime. E Fernando Pessoa através deste texto bastante satírico vai expor o que é uma sociedade secreta e desmistifica em parte o que é a Maçonaria.
Através deste texto vamos começar do definir o que é uma associação secreta. Segundo Fernando Pessoa um próprio conselho de ministros é uma associação secreta pelo facto de se reunirem e o conteúdo que discutem pouco se saber, mas Fernando Pessoa realiza um paralelismo com os antigos cristãos, procurando assim justificar o porquê de ela ser uma ordem secreta, a Maçonaria só é secreta devido ao facto de ser vista com maus olhos e ser perseguida e José Cabral parece com esse projecto de lei assemelhar-se a um inquisidor, se uma coisa não pode ser feita legalmente sem incomodar ninguém, essa mesma actividade será feita na forma clandestina, sendo clandestino, obviamente que tal dará aso a que se comente de forma errada e Fernando Pessoa critica José Cabral directamente mas de uma forma indirecta todos aqueles que sem terem conhecimento criticam logo a Maçonaria e que se tornam logo e assumem-se anti-maçons, quais antigos familiares do Santo Ofício.
O Cristianismo foi proibido, mas hoje ainda existe e continua a ser uma religião com grande número de crentes, o mesmo se passa com a Maçonaria ou a Ordem dos Templários que está adormecida, porque a obra deste tipo de organizações é sobretudo metafísica e na base da reflexão de ideias, mesmo durante no Estado Novo, mesmo sendo proibida a Maçonaria continuou a ter filiados que estavam activos, com menos actividade é certo, mas alguns continuaram. Porque a Maçonaria a bem dizer é algo metafísico, a única coisa que é material palpável são os registos das reuniões assim como os filiados, devido a este secretismo era necessário usar nomes simbólicos, Fernado Pessoa deu o caso prático do Grande Oriente de Itália onde Mussolini não conseguiu enterrar um "[…] mortos que continuam de perfeita saúde […]".
Mas é pertinente ver através dos argumentos que Pessoa dá sobre a operatividade desta lei, seguindo a lógica dela, no panorama nacional, apenas inibe, embora que s bens tenho sido confiscados e o palácio maçónico tenha sido entregue à Legião Portuguesa e alguma parte do espólio desapareceu, embora tal tenha acontecido sabemos k muitos foram os maçons que por vezes tinham reuniões debaixo por exemplo de uma árvore. Continuando num tom de ironia de Pessoa algo que iri alegrar José Cabral eram as perseguições a oficiais no exército e marinha.
Agora as que realmente têm peso e expressam são de facto as externas. A Maçonaria obviamente que não é um partido político, nem tenciona fazer campanha nem se apresentar a eleições, todavia a Maçonaria não era uma questão apenas a nível europeu, mas sim mundial. Pessoa fala-nos na existência de "[…] seis milhões de maçons […]" obviamente que nem todos se conhecem e que nem todos têm relações, mas existe uma coisa que os une: o espírito fraterno, que é muito importante, pois é justamente qui que os problemas nascem, Pessoa dá o caso prático do empréstimo da Hungria, e como o facto de se tentar acabar com a Maçonaria levou a que a Hungria não efectuasse o empréstimo pois o governo húngaro queria aplicar as mesmas regras que José Cabral, tal era o mesmo que podia acontecer a Portugal, perder nas relações internacionais devido à sua pouca liberdade nas associações.
O que importa aqui salientar é que as obediências se ajudam quando profanos realizam algum acto contra a Maçonaria em algum país e Portugal tinha as seculares relações com a Inglaterra que como é sabido a família real tem na sua família maçons o que na óptica de Fernando Pessoa poderá ser um problema a nível de entendimentos que possam estar um pouco à mercê de alguns obreiros que decidam ajudar os seus irmãos e que ao ajudar iram realizar pressão sobre o Estado que oprime os irmãos. Não sendo a Maçonaria uma máquina partidária ou política é visível como ela pode e é influente no panorama internacional.
Fernando Pessoa divide a Maçonaria em três elementos: o elemento iniciático, elemento fraternal e por fim a questão humana. E este último ponto é fulcral pois prende-se com a tolerância e a tolerância é uma imagem de marca da Maçonaria, o respeito pelas crenças dos outros, e a tolerância era algo que não estava a ser praticada com estes cavaleiros da tolerância, ora isto faz automaticamente que não exista uma regra maçónica e o que faz com que a Maçonaria não seja toda igual e só porque um realiza uma determinada coisa não quer dizer que todos partilhem a mesma ideia ou que reajam da mesma forma. Outro aspecto que Fernando Pessoa critica é de facto se tomar a parte pelo todo ou seja quando algum maçon faz algum acto errado que se generalize e que todos sejam avaliados segundo aquele acto e padrão, ora se Pessoa diz isto, logo a seguir entra em contradição pois desta feita é ele que toma a parte pelo todo, quando evoca homens que foram maçons e louva as suas atitudes como por exemplo Frederico II que acolheu os jesuítas, ou seja, se ele criticava quem criticava a Maçonaria por um mau gesto e ele faz aquilo que critica, embora que ele louve a Maçonaria baseando-se na obra de personalidades individuais, como por exemplo Eduardo VII existe aqui uma incoerência por parte de Pessoa que realizou algo que ele próprio criticou, pois só porque algum membro de alguma organização faz algo de errado não se deve rotular todos os outros membros nem a organização em si.
Em suma este texto de Fernando Pessoa condensa uma crítica à sociedade e em particular aos anti-maçons como José Cabral, que criticam por não se informarem realmente daquilo que criticam, curiosamente é um texto que tristemente permanece actual, pois ainda hoje o jornalismo alimenta-se de expôor escândalos relacionados com a Maçonaria e dão grande ênfase à questão, numa propaganda anti-maçónica que nada contribui para o conhecimento humano, antes sim para o atrofiamento do pensamento humano que tanto se preza que se desenvolva, sempre na base da tolerância. Viu-se igualmente a questão da influência que a Maçonaria tem no mundo e como consegue influenciá-los de modo a ajudar os seus irmãos como vimos do outro lado do Atlântico. Porque a Maçonaria é algo idílico e pouco palpável e só assim é que se conseguiu preservar ultrapassando muitas dificuldades, pois o espírito é mais forte que todas as dificuldades.

Cláudio Fonseca Nº50350





Vide, Folhas Soltas referentes ao texto de Fernando Pessoa, sobre Sociedades Secretas, p.1.
Vide, idem, ibidem, p.2.
Vide, idem, ibidem, p.2.
Vide, idem, ibidem, p.3.
Vide, idem, ibidem, p.4.
Vide, idem, ibidem, pp.5-6.

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