Fichamento de \"O Príncipe\" de Nicolau Maquiavel

July 5, 2017 | Autor: Claudemir Pereira | Categoria: Political Philosophy, Political Science
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Fichamento da obra: "O Príncipe"

NICOLAU MAQUIAVEL








Claudemir Carlos Pereira – RA 131126725
Ciências Sociais – 1° Ano - Diurno










Araraquara, 26 de setembro de 2013.

DADOS DA OBRA

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo, Nova Cultural, 1999.

INTRODUÇÃO

Nicolau Maquiavel (1469-1527) nasceu em Florença, na parte central da
península Itálica. Cresceu e foi educado em ambiente culto, pois seu pai
era jurista do Principado e relativamente abastado. De 1478 a 1492,
Florença foi governada por Lourenço de Médici, cognominado o Magnífico,
importante poeta e patrono das artes do Renascimento Italiano. Na Itália do
Renascimento reina grande confusão, a tirania impera em pequenos
principados, governados despoticamente por casas reinantes sem tradição
dinásticas e ou direitos contestáveis. A ilegitimidade do poder gera
situações de crise e instabilidade permanentes. Somente o cálculo político,
a astúcia, a ação rápida e fulminante contra os adversários são capazes de
manter o príncipe. É nesse panorama de crise política que Maquiavel escreve
sua obra mais famosa, O Príncipe, um valioso legado e conjunto de ideias
elaboradas para a prática política, cujo objeto de suas reflexões é a
realidade política, pensada como prática humana concreta, e o centro maior
de seu interesse é o fenômeno do Poder.

IDÉIA CENTRAL

O Príncipe foi um manual (para época, no caso o Renascimento Cultural do
Século XVI, eram também conhecidos como espelhos), escrito e destinado a um
príncipe com o intuito de ensinar, ao mesmo, de como conquistar os
Principados e como mantê-los.

OBJETIVO

Maquiavel trata com seus escritos, a temática referente à Conquista e
Manutenção do fenômeno do Poder.

PROBLEMATIZAÇÃO

Maquiavel rompe com a realidade política de sua época, ou seja, rompe com
os princípios morais e cristãos, as virtudes ditas clássicas, que de sua
ótica, não servem para governar. Procura através de seus escritos, os
fundamentos para legitimar o Poder. Ensina, ao príncipe, através de um
estudo profundo da Antiguidade Clássica e juntamente com uma leitura dos
fatos de sua época, mostrar através dos exemplos de personagens históricos,
que nem sempre, a realidade política, dissecada á moda do Renascimento, é
virtuosa, e que para manter o poder, o príncipe precisa fazer o que for
necessário dado as circunstancias, sendo bom ou mau aquilo que for preciso
para conquistar e manter o seu Poder.

RESUMO LÓGICO

Em linhas gerais, estarei estruturando este resumo, para fins didáticos e
para melhor compreensão, conforme Arnaldo Cortina (1994) da seguinte forma:
Do Capítulo I ao XI: Maquiavel discorre sobre as diversas formas de
principados e o modo através do qual podem ser adquiridos e mantidos;
Do Capítulo XII ao XIV: O objeto de sua análise é a necessidade da
formação e organização das Forças Armadas e da análise da Arte da
Guerra;
Do Capitulo XV ao XIX: Maquiavel tem como objetivo e reflexão a forma
de como o Príncipe de proceder para continuar no Poder;
Do Capitulo XX ao XXIII: Assuntos de especial interesse do príncipe e
as escolhas dos Ministros;
Do Capitulo XXIV ao XXVI: Contextualiza a situação da Itália em sua
época.


DOS PRINCIPADOS

Capítulo I: Neste capitulo Maquiavel especifica os tipos de Principados e
os modos pelos quais se conquistam. Conforme escreve: "(...) Os Principados
ou são hereditários, e tem como senhor um príncipe pelo sangue (...)" (37).
Neste caso é herdado pelo laço de sangue, e o outro tipo de principado,
Maquiavel especifica como sendo "novo" e geralmente são adquiridos pela
junção a um Estado adquirido.
Capítulo II: Maquiavel exorta o príncipe sobre o cuidado de não abandonar
as tradições de seu antecessor, e orienta, sobre como o príncipe deve
contemporizar com as situações novas e inusitantes. Ensina o príncipe a
agir com inteligência comum para preservar o seu Estado, de forma que se
faça amado e benquisto pelo povo, evitando ser odiado pelo mesmo. Cita
alguns exemplos, sem muito aprofundamento, no caso do Duque de Ferrara e do
Papa Júlio. Finaliza com o conselho sobre a facilidade do esquecimento de
obras pelo povo, obras estas que sempre sofrem inovações e mudanças, e
antecedem a edificação de outra.
Capítulo III: Maquiavel escreve sobre as dificuldades encontradas pelo
príncipe quando conquista novos principados. "(...) Dessa maneira, teus
inimigos são todos os que se acham ofendidos porque ocupas o principado; e
não podes considerar amigos os que ali te colocaram, pois que não podem
estes ser satisfeitos como desejavam (...)" (41). De acordo com a natureza
desses principados, é uma dificuldade comum, que os homens trocam com boa
vontade de senhor, acreditando melhorar, e essa crença faz com que sejam
volúveis e tomem armas contra o senhor atual. Maquiavel discorre das
dificuldades encontradas pelo príncipe, quando conquista principados com
línguas, hábitos e leis distintas, e exorta ao príncipe para agir de forma
impetuosa e com grande capacidade para conservar o seu governo. "(...) Note-
se que os homens devem ser mimados ou exterminados (...)" (43). Em outro
trecho, Maquiavel compara os problemas do Estado com os problemas de saúde,
ou seja, que todo príncipe prudente deve agir não apenas provendo o
presente e sim também antecipando e precavendo o futuro das coisas. "(...)
Se aos males se conhece com antecedência, o que é concedido apenas aos
homens prudentes, rapidamente se pode curá-los; mas se, por estes
ignorados, aumentam ao ponto de a todos se darem a conhecer, não terão
aqueles males, mais remédios (...)" (45). Neste capítulo, relata os feitos
do rei Luís XII da França, que tomou a cidade de Milão num átimo e num
átimo a perdeu, pois este príncipe incorreu em atos e erros que causaram
sua ruína, pois não era prudente e virtuoso, pois para Maquiavel: "(...) O
desejo de conquistar é natural e comum, e os homens capazes de satisfazê-lo
sempre serão louvados, jamais criticados (...)"(47).
Capítulo IV: Continuando sua argumentação de como manter os principados
conquistados, Maquiavel usa do exemplo de Alexandre, o Grande; tendo este
em poucos anos dominado a Ásia, e falecido logo após conquistar aqueles
Estados, não hajam eles se rebelado contra os seus sucessores, no caso seus
generais. Maquiavel escreve: "(...) Responderei que os principados cuja
memória se mantém foram de duas maneiras governados: ou por um príncipe e
auxiliado por seus ministros, os quais, no governo são servos e o exercem
apenas, por favor, e concessão do senhor; ou por um príncipe e seus barões,
os quais, não por graça daquele, mas por tradição de família; tem essa
qualidade (...)" (49). No primeiro caso, os Estados governados por um
príncipe e seus ministros, tem mais autoridade o príncipe, porque em seu
principado inteiro não existe quem lhe seja superior; este uma vez perdendo
seu principado, seu nome é facilmente esquecido e seu poder passa a outro.
E no segundo caso, os barões tem posses e súditos próprios, que como
senhores, estes os reconhecem e lhes devotam afeição natural, dificultando
assim a um novo príncipe tomar o poder, pois a memória de seu antecessor é
lembrada pela tradição. Alexandre fora bem sucedido na Ásia, pois
encontrara um sistema de governo dirigido por um príncipe e seus ministros,
e uma vez morto esse príncipe e eliminado seus ministros, o reino foi
facilmente conquistado.
Capítulo V: Neste capítulo, Maquiavel chama a atenção do príncipe para a
temática de como manter os Estados conquistados, que outrora possuíam leis
próprias. Já no inicio do capítulo, orienta da seguinte maneira: "(...)
Três maneiras há de preservar a posse de Estados acostumados a governar por
leis próprias: primeiro, devasta-los; segundo, morar neles; terceiro,
permitir que vivessem com suas leis, arrecadando um tributo e formando um
governo de poucas pessoas (...)" (53). Maquiavel recorre aos fatos
históricos da Antiguidade Clássica para validar a sua ideia, ou seja, de
acordo com os exemplos: dos espartanos, mesmo com um governo oligárquico,
instituído em Tebas e Atenas, perderam-nas. No caso dos romanos, em alguns
momentos usaram da força e devastaram as "leis" nas cidades-estados
africanas e foram bem sucedidos, porem fracassaram no caso das cidades-
estados gregas, ao deixa-las livres com suas leis e ao final tendo que
recorrer à força e destruir muitas cidades gregas para permanecerem no
poder. Em linhas gerais, no final, Maquiavel exorta "que para preservar o
poder, resta ao príncipe optar pela destruição desses Estados ou passar a
residir neles".
Capítulo VI: Maquiavel orienta o príncipe a empreender pelos caminhos
daqueles que foram bem sucedidos em seus governos, cita exemplos da
história para incentivar ao príncipe a agir da mesma maneira, embora exorte
que é impossível seguir á risca dado as circunstâncias de cada momento.
Através dos exemplos dos grandes personagens, Maquiavel procura mostrar ao
príncipe que este precisa ser virtuoso e corajoso, independente das
dificuldades que forem impostas ao seu governo. O trabalho será difícil,
principalmente no estabelecimento de uma nova ordem e de novas leis, mas
que sendo virtuosos esses perigos e infortúnios serão superados.
Capítulo VII: Maquiavel faz uma leitura e interpretação acerca dos
principados que são conquistados por certa facilidade, ou seja, pelas armas
e fortuna de outros. Maquiavel discorre acerca do pouco esforço que os
príncipes neste caso dispõe para dominar e como é penosa a preservação de
seu Estado: "(...) O fato é que, como já foi dito, aqueles que não preparam
antes os alicerces somente serão capazes de executar depois esse trabalho
caso possuam grande capacidade, mas para desgosto do arquiteto e perigo
para a construção (...)" (60). Maquiavel dado o comentário acima, repassa e
ilustra tal fato com os relatos de príncipes de sua época. Orienta que
nestes casos, é necessário ao príncipe ter espírito forte e ambição, fazer
o que for necessário para manter o poder e dominar as armas e as leis:
"(...) Portanto, se acreditas necessário, num principado novo, proteger-te
contra os inimigos, fazer amigos, vencer seja pela força seja pela astúcia,
tornar-te amado e temido pelo povo, ser seguido e respeitado pelos
soldados, eliminar aqueles que podem ou devem ofender, renovar as
instituições antigas por novas leis, ser severo e grato, magnânimo e
liberal, acabar com a milícia desleal e formar uma nova, contar com as
amizades de reis e príncipes, de sorte que te sejam solícitos no benefício
e temerosos em ofender-te. (...)" (65).
Capítulo VIII: Maquiavel analisa os casos dos príncipes que conquistam o
poder através da perversidade, por meios criminosos, contrários ás leis
humanas e divinas, e também, sobre os príncipes que sobem ao poder pela
maldade de seus compatriotas. Para exemplificar seu comentário, cita dois
casos, um da Antiguidade – Agátocles Siciliano de Siracusa e um dos seus
dias na Itália – Oliverotto de Fermo. "(...) Julgo que isso é resultado do
modo como os atos de crueldade são bem ou mal praticados. Pode-se chamar de
bem empregados (se for possível falar bem do mal) os que são executados de
uma só vez, por causa da necessidade de cuidar da própria segurança, e que
depois são colocados de lado, tornando-se, tanto quanto possível,
benefícios para os súditos. Mal empregados são aqueles que, embora de
início poucos, aumentam em vez de extinguir-se com o tempo (...)" (70).
Para o primeiro caso, Maquiavel através de sua análise, escreve que é
possível, ao príncipe, com a ajuda de Deus e dos homens, remediar as
consequências (exemplo de Agátocles) e no segundo caso é impossível
conservar-se no poder e manter a própria vida.
Capítulo IX: Neste capítulo, Maquiavel exemplifica outro caso de posse de
principado, neste escreve sobre o principado civil, que não é conquistado,
nem pela força e nem pela violência, mas sim pela conveniência de seus
cidadãos, e o príncipe para alcança-lo, não necessita de muitos méritos e
nem grande fortuna. Neste caso, estabelece uma dialética do poder, conforme
escreve: "(...) Isso vem do fato de que o povo não quer ser governado nem
oprimido pelos poderosos, e estes desejam governar e oprimir o povo (...)"
(73). Destes dois apetites distintos resulta em principados, liberdade e
desordem, e através do texto, Maquiavel trata dessa fina linha tênue do
poder e seus cuidados. Para o príncipe, é necessário ser amigo do povo e
obter o apoio dos poderosos. Sem o apoio do povo, nunca o príncipe estará
seguro da hostilidade e sem o apoio dos poderosos, fica a mercê do abandono
e do ataque. Conclui-se, que é necessário o príncipe ser prudente e pensar
nos modos de agradar aos súditos (povo e poderosos) e destes serem
necessários ao Estado, obtendo assim a lealdade em seu principado.
Capítulo X: Maquiavel discorre sobre a necessidade do príncipe, sendo este
detentor de muito poder em seu Estado, preservar a si mesmo e ao seu
principado, tendo este abundância de homens e riquezas, organizar um
exército poderoso e próprio para defender-se de seus inimigos. Para isto é
necessário, além do poder e das riquezas, ser temido pelo povo e pelo
exército, conduzindo-os através de leis apropriadas, construir muralhas,
ter uma boa administração de víveres, para em caso de guerra ou sítio,
manter seu povo unido e seguro contra os seus inimigos.
Capítulo XI: Maquiavel escreve sobre os principados eclesiásticos, em
resumo, são principados dados a todo tipo de dificuldades e se conquistam
através do mérito ou da fortuna. Discorre acerca de como se sustentam e
mantem-se, devido à força e o poder da religião. Para Maquiavel são os
únicos Estados que não se defendem não se governam e tem súditos. Estes
embora aparentemente indefesos, não lhe são tirados e seus súditos, embora
não são governados, não se livram de seus príncipes e nem o podem fazer e
dessa maneira são os mais seguros e felizes. Pelo fato destes principados
serem dirigidos por poderes divinos e que a razão do homem não alcança, são
instituídos e mantidos por Deus. Maquiavel indaga sobre como a Igreja
chegou a tanta grandeza no poder temporal, das façanhas de seus papas e
suas virtudes, para estabelecer e preservar este poder.




ORGANIZAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS E ARTE DA GUERRA

Capítulo XII: Uma vez instituídos e conquistados os principados, Maquiavel
discorre da necessidade de um príncipe estabelecer alicerces sólidos, e os
principais fundamentos dos Estados, são terem boas leis e boas armas.
Orienta o príncipe a evitar possuir exércitos de mercenários ou mistos,
pois estará sujeito a ruína e exorta a ter as suas próprias armas e
constituir um exército próprio, pois assim garante a sua segurança e a de
seu povo.
Capítulo XIII: Através dos exemplos históricos, Maquiavel orienta o
príncipe de como é necessário ser prudente e não se utilizar de forças
mercenárias e mistas e que nenhum principado está assegurado se não tiverem
suas próprias forças, estará ao sabor da fortuna e que nos momentos
adversos não há virtude que o defenda. Exorta o príncipe sobre a
necessidade de regulamentar e treinar seu próprio exército.
Capítulo XIV: Dado á época, neste capítulo, Maquiavel exorta o príncipe,
que não deve ter outro objetivo, que não seja a guerra, seu regulamento e a
disciplina de seus exércitos. O príncipe deve se preocupar sempre com a
arte da guerra, seja pela prática ou pelo pensamento, e recomenda que este
deva ler histórias de países e avaliar as ações dos grandes homens. Para
Maquiavel: "(...) Um príncipe sábio deve prestar atenção a essas coisas e
jamais permanecer ocioso nos tempos de paz; ao contrário, deve, com
astúcia, ir juntando cabedal de que se possa servir nas adversidades, para
sempre estar pronto a opor-lhes resistência (...)" (97).

MANUAL DE CONDUTA PARA O PRÍNCIPE

Capítulo XV: Neste capítulo, Maquiavel discorre sobre a questão da conduta
do príncipe para continuar no Poder. Segundo o autor: "(...) Julguei
adequado procurar a verdade pelo resultado das coisas, mais do que por
aquilo que delas se possa imaginar (...)" (99). Maquiavel procura orientar
o príncipe, dissecando a realidade das coisas e dos fatos, mostrando ao
mesmo a natureza dos homens, para ele ninguém é virtuoso, segundo a moral e
a religião. Os homens são maus, dado as paixões, volúveis e invejosos. Para
Maquiavel o príncipe precisa aprender a ser mau, e que se sirva ou não
disso de acordo com a necessidade. Neste capítulo, expõe as virtudes e os
vícios dos homens e exorta a usá-las conforme as circunstâncias, tendo o
príncipe a consciência de que neste campo, pode ou não manter o seu Poder e
segurança. Resumindo fazer o que for necessário, independente, de ser bom
ou mau, visando o bem maior, que é o estabelecimento e manutenção de seu
poder e de seu Estado.
Capítulo XVI: Maquiavel analisa a conduta do príncipe, no sentido deste
para com seu povo, a respeito de ser ou não, liberal ou miserável em
relação às riquezas. Para Maquiavel um príncipe extremamente liberal está
dado à ruína e será odiado pelo seu povo, pois em momentos de adversidade
terá que onerar a todos com tributos e impostos. Em contrapartida o
príncipe também não pode ser extremamente avarento, pois também será
odiado. A prudência neste assunto é necessária e um bom príncipe, saberá
administrar suas finanças pessoais, será comedido e conforme a necessidade,
ser parcimonioso com o povo. Dessa maneira, portanto, para o príncipe é
mais prudente ter fama de miserável, o que provoca má reputação sem ódio,
do que obter fama de liberal, e na adversidade, se ver forçado a tributar e
onerar o povo, e por este motivo será odiado.
Capítulo XVII: Maquiavel expõe ao príncipe, um de seus dilemas, em relação
ao seu governo: "Ser um príncipe amado ou um príncipe temido". Para
Maquiavel, o melhor seria serem os dois, mas como os homens são dados às
paixões, nem sempre é possível, e como o fim maior, é a manutenção e
estabelecimento de seu poder, é melhor ao príncipe ser temido, e conclui:
"(...) Concluo, portanto (Voltando ao assunto sobre se é melhor ser temido
ou amado), que um príncipe sábio, amando os homens como desejam eles ser
amados, e sendo temido pelos homens como deseja ele ser temido, deve ter
como base aquilo que é seu e não dos outros. Enfim, deve somente procurar
evitar ser odiado, como ficou dito (...)" (108).
Capítulo XVIII: Maquiavel disseca a natureza humana, em vários trechos,
compara as ações humanas, descreve a natureza humana como sendo metade
humana e metade besta, e que todos os homens é dados a isto, e dada à
circunstância, se for preciso o príncipe deve-se valer de sua natureza
animalesca, pois no campo político vale fazer o que for preciso para
conquistar e manter o poderem outros trechos exorta o príncipe a
desenvolver as qualidades de leão e da raposa, pois no caso do leão para
atemorizar os lobos (homens) com o uso da força e no caso da raposa, o uso
da astucia, ou seja, ao príncipe virtuoso, nem sempre convém manter a
palavra dada. Uma vez que as virtudes, tais como: piedade, fidelidade,
humanismo, integridade e religiosidade, em alguns momentos, verem-se
obrigado pelas circunstâncias, a ser contrário. Por isso, é necessário que
tenha virtude e ser disposto a voltar-se para a direção a que os ventos e
as mudanças da fortuna o impelirem. Valer-se do bem sempre, mas em caso de
constrangido, valer-se do mal, pois no campo político, a natureza é falível
e cheia de paixões.
Capítulo XIX: Maquiavel após dissecar a natureza anteriormente, orienta o
príncipe sobre o cuidado de não ser desprezado e nem odiado. Que o príncipe
possua boa reputação e valha-se da grandeza, Entende-se por desprezível, o
príncipe que é considerado volúvel, leviano, efeminado, covarde e indeciso.
O príncipe deve fazer conhecido os seus atos de grandeza, coragem,
gravidade e fortaleza. Segundo Maquiavel, o príncipe capaz de obter tal
reputação terá para si um governo que dificilmente será contra ele. Sendo
amado e temido pelo povo, pouco devera importar com conspirações e
revoltas. Tendo um Estado bem organizado e valendo-se da prudência, sempre
terá em mente não reduzir o povo ao desespero, para não ser odiado e
estimara os poderosos, para evitar conspirações e ataques.


ASSUNTOS DE ESPECIAL INTERESSE E ESCOLHA DOS MINISTROS

Capítulo XX: Maquiavel discorre das ações rotineiras e necessárias ao
príncipe para o ordenamento de seu Estado. Em um primeiro momento, analisa
a necessidade de desarmar os Estados conquistados, para se evitar conflitos
e como conquistar os homens. Para o príncipe, em particular, é sábio agir
conforme as circunstâncias, e para conquistar a confiança dos homens é
necessário que supere alguns obstáculos e oposições, pois ao ser bem
empreendido, ganha o respeito destes. Em um segundo momento, discorre sobre
a necessidade de construção de fortalezas, a priori para conservação de
seus Estados, e para manterem um refugio seguro, caso sejam atacados
inesperadamente. Assim, como no caso das armas, as fortalezas são uteis ou
não de acordo com as circunstâncias. Segundo Maquiavel: "(...) A melhor
fortaleza de todas é não ser alvo do ódio do povo, porque, se contares com
ela e tiveres o ódio popular, aquela não será capaz de salvar-te, pois
nunca faltam aos povos rebelados príncipes de fora que queiram ajuda-los
(...)" (129).
Capítulo XXI: Um dos pilares para o estabelecimento de seu governo, para o
príncipe é a necessidade de realizar grandes atos e feitos, e bem como
reconhecer quando qualquer de seus súditos realizarem algo fora do comum,
sendo para o bem ou mal, o príncipe deve recompensá-lo ou puni-lo, dando
margem a amplos comentários. O príncipe deve trabalhar diligentemente para
alcançar a reputação de grande homem. Em alguns casos, é necessário, para
sua boa estima saber ser verdadeiro amigo e verdadeiro inimigo, isto é,
quando, sem nenhuma preocupação, proceder abertamente em favor de alguém,
contra um terceiro, no caso, quando há guerra entre seus vizinhos. A
prudência encontra-se justamente em conhecer a natureza dos inconvenientes
e dotar uma postura o menos prejudicial para o seu bem. Maquiavel encerra
orientando o príncipe a mostrar-se amante das virtudes e das artes, e
estimular seus cidadãos a exercer suas atividades livremente, seja no
comércio, na agricultura ou em qualquer outra área. Também convém ao
príncipe em determinadas épocas do ano, oferecer ao povo, festas e
espetáculos, dando mostras de sua afabilidade e mantendo sempre a majestade
de sua dignidade e honra.
Capítulo XXII: Maquiavel orienta o príncipe sobre a importância da escolha
dos seus ministros, uma vez que estes serões os seus representantes em
diversos aspectos de seu governo. Para o príncipe a prudência na escolha é
determinante para escolher entre os bons e os ruins, conforme descreve:
"(...) E, uma vez que existem três espécies de cabeças – uma que compreende
as coisas por si próprias, outra que sabe discernir o que os outros
entendem e, por fim, uma terceira, que não entende nem por si nem sabe
avaliar o trabalho dos outros. A primeira é excelente, a segunda muito boa
e a terceira inútil (...)" (135). Estabelecidas essas premissas, cabe ao
príncipe ser prudente em sua escolha e observar o comportamento de seus
escolhidos, e para Maquiavel há um modo que nunca falha: "(...) Quando
perceberes que o ministro pensa mais em si mesmo do que em ti, e que
procura tirar proveito pessoal de todas as suas ações, podes estar certo de
que não é bom, e nunca poderás confiar nele (...)" (136). E finalizando,
para que o príncipe tenha a lealdade do ministro, é necessário que o honre
e o torne rico, cuidando para que os muitos benefícios não corrompa este
ministro.
Capítulo XXIII: Maquiavel exorta o príncipe a respeito do cuidado que dever
ter com os aduladores e como evita-los. Uma das formas é a escolha de um
corpo de conselheiros, na qual o príncipe deposite especial confiança e lhe
deem liberdade. Com isto o príncipe deve ser prudente, saber consultar seus
conselhos, ouvir-lhe a opinião e dada a conveniência acatar e deliberar
suas decisões. Deve o príncipe fazer muitas indagações e ouvir com
paciência, e depois de muita reflexão tirar suas conclusões, tendo assim a
autoridade da palavra final.

DA SITUAÇÃO ITALIANA Á ÉPOCA DE MAQUIAVEL

Capítulo XXIV: Maquiavel relata em poucos exemplos, de como os príncipes
italianos perderam seus Estados. Um dos motivos e defeito comum foi a falta
destes príncipes de não terem fortalecidos seus principados com boas armas
e boas leis e o outro motivo comum foi a falta da virtude e coragem para
realizar aquilo que fosse preciso para manter os seus domínios.
Capítulo XXV: Segundo Maquiavel, o príncipe virtuoso é aquele que enfrenta
os maiores perigos, suporta e vence as adversidades. A virtude tem o
direito de lançar mão de todas as armas possíveis para sobrepujar a
"fortuna" (acaso): "(...) Comparo-a a um desses rios impetuosos que, quando
se enfurecem, transbordam pelas planícies, acabam com as arvores, as
construções, arrastam montes de terra de um ponto a outro; tudo foge diante
dele, tudo se submete a seu ímpeto, sem conseguir detê-lo, e, embora as
coisas aconteçam assim, não é menos verdade que os homens, quando a
calmaria retorna, são capazes de fazer consertos e barragens, de sorte que,
em outra cheia, aqueles rios estarão correndo por um canal, e seu ímpeto
não será nem tão livre nem tão nocivo (...)" (144). O príncipe virtuoso não
é aquele que se submete a razões superiores ou que confia a uma justiça
abstrata ou a Deus, mas é aquele que ajusta as suas ações, que observa as
suas capacidades e age com obstinação. Será bem sucedido aquele que
conseguir agir segundo as exigências do momento, segundo as peculiaridades
de cada situação de fato. Ora com prudência, ora com ímpeto, ora com
violência, ora com arte, ora com paciência, ora com impaciência. Em suas
palavras: "(...) Concluo, assim, que se mudando a sorte, e conservando os
homens, obstinadamente, o seu modo de proceder, são felizes (...) porque a
fortuna é mulher e, para ter-lhe o domínio, mister se faz bater nela e
contraria-la. E costuma-se reconhecer que a mulher se deixa subjugar mais
por estes do que por aqueles que agem de maneira indiferente. A fortuna,
como mulher, é sempre amiga dos jovens, pois são menos circunspectos, mais
impetuosos e com maior audácia a dominam (...)" (146).
Capítulo XXVI: Maquiavel parte da experiência real de seu tempo e retrata a
triste realidade da Itália: um amontoado de principados, sem identidade
nenhuma entre eles, sem possuírem um exercito próprio. Uma península quase
sem vida, a Itália descreve, espera por um príncipe que fosse capaz de
curar suas feridas, de por fim aos saques dos bárbaros, á tributação e a
desonra. Aguarda por um príncipe que fosse seguir os exemplos da
Antiguidade Clássica e reunisse a si todas as províncias, em uma única
bandeira e formar uma tropa própria para defender-se dos estrangeiros. Para
Maquiavel, o momento era propicio para tal príncipe, bastasse apenas que
fosse virtuoso e corajoso, que domine a fortuna e unificasse a Itália com
suas boas armas e sua Virtù. Finaliza sua obra, com um dos versos de
Petrarca:
"(...) A virtude tomará armas contra o furor e será curto o combate, pois o
antigo valor não está morto nos corações italianos (...)" (151).

CONCLUSÃO

Suas reflexões sobre a política do seu tempo e seus estudos sobre a
tradição clássica levaram Maquiavel a produzir uma obra marcada por uma
leitura não teocêntrica do poder e seu exercício, defendendo o realismo
político. O Príncipe, publicada em 1513, tornou-se um marco do pensamento
político moderno e granjeou ao autor uma legião de admiradores e de
detratores. Observamos alguns aspectos relevantes da obra de Maquiavel
relativos à conquista do poder e as formas para preservá-lo. A vida regida
pela Virtú e pela Fortuna. A Virtú seria a característica de adaptação aos
contextos, qualidade dos corajosos, daqueles que captam o instante oportuno
com virilidade e a Fortuna é vista como uma deusa, mulher, caprichosa,
inconstante e volúvel que possui riquezas, a honra e a glória, cornucópia
aberta aos apelos humanos, disposta a ser seduzida pelos homens de Virtú.
As lições históricas, principalmente os clássicos da antiguidade, são
utilizadas por Maquiavel para justificar seu argumento e também como uma
maneira de antever os sinais da fortuna e minimizar seus efeitos negativos.
No Príncipe ele trata do jogo entre ser e parecer que é uma fonte constante
para os ataques à obra de Maquiavel e responsável pelo surgimento do
adjetivo "maquiavélico". No entanto, devemos registrar que o pensador tinha
como perspectiva demonstrar o funcionamento do poder e mostrar como as
coisas são e não como deveriam ser.
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