Fichamento: Geografia, sociedade e espaço, de Milton Santos

July 21, 2017 | Autor: José Neto | Categoria: Geografía Humana
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA (PPGEO)

Santos, M. Geografia, sociedade e espaço. In:_____. Por uma geografia nova. São Paulo: Hucitec, 1986. 2ª parte. P.95-152.

ALUNO: JOSÉ QUEIROZ DE MIRANDA NETO

Fichamento apresentado à disciplina Teoria Geográfica e Análise Regional, ministrada pelo Prof. Dr Saint Claer Cordeiro da Trindade Júnior.

BELÉM-PA 2006.

1 – IDÉIA CENTRAL DA OBRA “Por uma Geografia Nova” faz uma vasta revisão bibliográfica da Geografia vigente ressaltando aspectos fundamentais da disciplina que passam por sua definição metodológica e caracterização de seu objeto de Estudo. Na segunda parte do trabalho: “Geografia, sociedade e espaço”, Milton Santos trata da relação entre a Geografia e outros ramos do conhecimento científica, ressaltando a necessidade de um estudo interdisciplinar e da definição precisa do objeto de estudo da Geografia: o Espaço Geográfico, caracterizando-o como uma estrutura social capaz de condicionar a evolução de outras estruturas sociais. 2 – INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR Milton Santos foi Geógrafo, professor emérito da Universidade de São Paulo, ganhador de vários prêmios internacionais e autor de mais de 30 livros e 400 artigos científicos, publicados em diversos idiomas. O livro “Por uma Geografia Nova”, um de seus trabalhos mais sobressalentes, foi publicado inicialmente em 1978. 3 – OBJETIVOS  Discutir a interdisciplinaridade aplicada a Geografia.  Definir o objeto de estudo e as categorias analíticas da Geografia  Introduzir o espaço do homem como estrutura social capaz de condicionar a evolução de outras estruturas sociais. 4 – PALAVRAS CHAVE Geografia, Interdisciplinaridade, Espaço, Sociedade, Estrutura Social. 5 – SÍNTESE ESQUEMÁTICA DA OBRA

CAPÍTULO IX – UMA NOVA CENTRALIDADE

Pretensão e mania de grandeza de alguns geógrafos em situar a geografia como ciência de síntese: “capaz de interpretar os fenômenos com a ajuda de um instrumental proveniente de uma multiplicidade de ramos do saber científico (naturais/exatas, sociais/humanas). p. 97. “Todas as ciências são de síntese ou simplesmente não são ciências”, a capacidade de síntese não é privilégio de alguma ciência ou especialista, mas corresponde a necessidade em se abarcar o universo das coisas e cada coisa como universo. p. 98. O isolamento da Geografia Ironia: toma-se a Geografia como ciência de síntese e é justamente esta disciplina a que menos se relaciona com outros ramos do saber científico. p. 98.

O isolamento (incapacidade de relacionamento com outras ciências), impediu a busca de uma verdadeira metodologia geográfica – misticismo esquizofrênico – fechou-se em si mesma. p. 99. A manutenção da idéia das escolas nacionais constitui muito mais um efeito de competição que faz sentido no exercício da colonização política, econômica e cultural do século XIX. p. 99. Vantagens da interdisciplinaridade Ritter, ligado a escola dos filósofos, chama atenção para a necessidade de interpenetração das diferentes disciplinas científicas, seguindo as diferentes dimensões. p. 100. Whitehead chama atenção para o fato de que se ficarmos limitados a uma ciência específica acabamos na impossibilidade de se chegar a uma explicação válida, pois a explicação para muitos fenômenos muitas vezes é encontrada fora do âmbito de dada ciência. p. 101. Disse Jacques Boudeville: “Toda ciência se desenvolve na fronteira de outras disciplinas e com elas se integra em uma filosofia. A geografia, a sociologia, e economia, são interpretações complementares da realidade humana”. p. 102. Geografia e Interdisciplinaridade Camille Valaux: O problema da Geografia não passaria diretamente pelas disciplinas auxiliares, mas por geografias particulares dela originárias: “geografias especiais”. Idéia refutada por Maxmilien Sorre, que afirma a não existência de geografias especiais, mas capítulos de uma Geografia Humana. p. 103. Outro fator para que a interdisciplinaridade não fosse alcançada foi a confusão entre multidisciplinaridade e interdisciplinaridade: a primeira trata da colaboração multilateral de diferentes disciplinas, não garantindo a integração entre elas, a segunda refere-se a imbricação entre disciplinas diversas ao redor de um mesmo objeto de estudo. p. 104. As etapas da interdisciplinaridade aplicadas a Geografia 1ª etapa: Interdisciplinaridade clássica, baseada nas relações bilaterais entre Geografia e História – a Geografia organizaria fenômenos no espaço e a História organizaria fenômenos no tempo. Herança de Kant e Hettner. p. 105. Na realidade a Geografia deve ocupar-se em pesquisar como o tempo se torna espaço e de como o tempo passado e o tempo presente tem um papel específico no funcionamento do espaço atual. p. 105. Não se trata, contudo, de uma questão de História e Geografia (cada qual carregada de princípios e preconceitos), mas da relação espaço-tempo, um debate não menos carregado de dificuldades em função de suas raízes filosóficas. p. 106. 2ª etapa: Recusa, por parte da Geografia, em aperfeiçoar conhecimentos de outras disciplinas, fase que corresponde ao período de maior preocupação quanto à afirmação da Geografia como ciência autônoma. p. 106.

A idéia de “Morfologia Social” de Durkheim, que implicaria situar o estudo do espaço geográfico dentro da sociologia desagradou bastante Vital de la Blache, causando separação prolongada entre Geografia e Sociologia. p. 107. 3ª etapa: a interdisciplinaridade ganha nova dimensão em fins do século XIX e pós II guerra mundial, com ampliação no campo das ciências e domínio das técnicas – “nas condições novas, aumenta a possibilidade de ajudar as ciências afins a progredir de fora para dentro com a contribuição de matérias vizinhas”. A lista de ciências afins a Geografia tornou-se muito mais longa, incluindo a tecnologia (que ampliou o estudo no âmbito das técnicas), Ciência Política, urbanismo, semiologia, epistemologia, etc. p. 107-108. David Harvey (1972) chama atenção com temor de que a necessidade cada vez mais crescente de “especialização conduza a uma concentração em apenas um dos aspectos desse problema tão vasto” chegando a uma especialização com os perigos de uma analogia do tipo mecânico. p. 109. A necessidade de uma definição do objeto da geografia Pesquisa Cooperativa: especialistas de diversas áreas utilizariam terminologias comuns eventualmente reunidas num processo de investigação. p. 110. “Uma interdisciplinaridade que não lava em conta a multiplicidade de aspectos com os quais se apresenta aos nossos olhos uma mesma realidade, poderia conduzir à construção teórica de uma totalidade cega e confusa, incapaz de permitir uma definição correta de suas partes, e isso agravaria, ainda mais, o problema de sua própria definição como realidade total.” p. 111.

CAPÍTULO X – UMA TENTATIVA DE DEFINIÇÃO DE ESPAÇO

Definir a Geografia ou o Espaço? O risco mais grave: a ciência se confundir com seu objeto de estudo. p. 113 Hartshorne: Geografia definida mais pelo método que pelo objeto de estudo. p. 114 Lukermam: a Ciência é definida nem pelo conteúdo nem pelo método, mas por questões tais como Onde? Que? Como? p. 114 “A multiplicidade de definições da Geografia está longe de ajudar o seu próprio desenvolvimento”, havendo, portanto, a necessidade de se definir o objeto de estudo, segundo Simmel: “a preocupação com princípios e classificações fez com que fosse perdido o p´roprio conteúdo”. p. 115-116. Durkheim: Não existem fronteiras precisas entre as diversas ciências: “ a parte da realidade a que se propõem estudar jamais é separada das outras”. p. 116.

O problema da autonomia e das categorias analíticas Embora a unidade do objeto de estudo seja a sociedade total, cada disciplina exije a construção de um sistema que lhe seja particular, uma parcela da realidade considerada uma totalidade menor – o objeto de estudo. Deve-se, contudo, definir não só o objeto de estudo, mas também suas categorias fundamentais. p. 116. A correta definição das categorias analíticas permitirá desmembrar o todo num processo de análise para depois recompô-lo numa síntese – só assim será possível estabelecer a interdisciplinaridade. p. 117. Elementos para um método interdisciplinar entre as ciências: a) Progresso científico (evolução/criação) b) Posição filosófica-ideológica do pesquisador; c) Momento histórico. p. 117. Objeto científico e teorização Um sistema teórico próprio implica identificar e ajustar categorias analíticas às categorias do real até chegar a síntese – sem isso qualquer esforço interdisciplinar é nulo. p. 118. Um esforço de definição do espaço Há dificuldades em se definir o espaço do homem em relação a outros espaços – o espaço do homem é lugar de morada, de vida e trabalho, “as formas que se apresenta o seu conteúdo são tão variados”- a definição de espaço geográfico é árdua porque tende a mudar com a história. p. 120 O Conceito de lugar: “se de um ponto de vista puramente psicológico o conceito de lugar nos é imposto antes do conceito de espaço, do ponto de vista teórico e epistemológico o conceito de espaço precede o conceito de lugar”. p. 121 O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente (...) e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. p. 122.

CAPÍTULO XI – O ESPAÇO: MERO REFLEXODA SOCIEDADE OU FATO SOCIAL?

Uma forma de percepção Gonseth: O espaço é uma forma de percepção de nosso espírito – “A realidade não nos deixa alcançar sua essência”, da mesma forma Rettner afirma que o espaço é “apenas uma forma de percepção”.. p. 123-124.

Hegel e o Espaço Para Hegel a natureza é uma abstração – não sujeito mais predicado do pensamento. Essa idéia é refutada por Marx, que acusa reduzir a história e a vida a um nível de conceito. p. 124. Para Hegel o homem identifica o caráter particular do objeto que serve a sua finalidade – objetificação do espírito: “nós reconhecemos assim que se trata de um objeto e avaliamos até que ponto sua existência é autônoma”. p. 125. O espaço é reflexo ou projeção de uma organização – Primeiro Grupo: Kant considera o espaço como condição de possibilidade dos fenômenos – a priori, espaço como contenedor; Outro grupo afirma que o espaço é apenas o reflexo da sociedade. “Em ambas as hipóteses o espaço não é considerado um estrutura ou instancia dotada de autonomia relativa, mas como reflexo de outras estruturas, subsistemas ou instancias as quais ele sintetiza”. p. 126-127. Um fato social? Durkheim: O espaço como fato social, realidade objetiva – coisa (tudo que é dado, que se impõe a imaginação) objeto, produto, resultado da produção, um objeto social como qualquer outro. p. 128.

A natureza é uma realidade social: quando a objetividade social é reduzida a objetividade natural (como fez Augusto Comte) equivale esquecer que a natureza é objeto de permanente transformação por causa da atividade humana. p. 130. O espaço é um fato social no sentido com o qual K. Kosik (1967 p. 61) define os fenômenos sociais: um fato histórico, na medida em que o reconhecemos como um elemento de um conjunto e realiza assim uma dupla função que lhe assegura, efetivamente, a condição de fato histórico: de um lado, ele se define pelo conjunto mas também o define; ele é simultaneamente produtor e produto; determinante e determinado; um revelador que permite ser decifrado por aqueles mesmos a quem revela; e, ao mesmo tempo, em que adquire uma significação autêntica, atribui um sentido a outras coisas. Segundo essa acepção o espaço é um fato social, um fator social e uma instância social. p. 130 CAPÍTULO XII – O ESPAÇO, UM FATOR? A reprodução do padrão espacial Nas regiões dotadas de maior infraestrutura a estrutura econômica reproduz-se com mais força – “condições locacionais do passado”. E devido a presença mais fortes de redes infraestruturais de circulação a tendência a novos investimentos e a concentração de atividades amplia-se. p. 132. A mobilidade do capital é relativa O capital não dispõe da mobilidade a qual lhe é atribuída. Pois, principalmente nos países subdesenvolvidos, apenas certos lugares podem oferecer as condições de rentabilidade

exigidas, concentrando-se em regiões metropolitanas onde as condições infraestruturais são favoráveis. p. 133. O espaço na totalidade social A macrocefalia das grandes cidades é resultado dos progressos tecnológicos e das tendências à concentração - macrocefalia pode ser confundida com regiões metropolitanas, mas o fenômeno pode avançar para outras regiões dinâmicas tais como zonas mineiras ou áreas agrícolas. p. 134. “A partir do momento em que o movimento se instala, torna-se irreversível. A exploração das atividades econômicas consideradas fundamentais, exige (e legitima moral e politicamente) a acumulação de investimentos do tipo econômico e muitas vezes também sociais num volume incomparavelmente maior que o destinado ao resto do país”. p. 135. Assim, as antigas localizações condicionam as novas - quando uma região, cidade ou país encontram-se historicamente numa posição dominante vêem esta posição reforçar-se enquanto continua estacionária a situação de localizações que caem no domínio dos primeiros ou simplesmente ficam fora do processo cumulativo. p. 136. O papel das rugosidades Sartre: a necessidade de um estudo sobre o tipo de ação passiva da materialidade que condiciona a atividade dos homens e comanda sua prática social. p. 137. Conceito de rugosidades: são o espaço construído, o tempo histórico que se transformou em paisagem, incorporado ao espaço, nos oferecem restos de uma divisão do trabalho internacional manifestadas localmente por combinações particulares do capital, das técnicas e do trabalho utilizados; Lefebvre|: “o momento se cristaliza em memória”; Mogenstern: “a memória de um presente que se foi”. p. 138. “O espaço, portanto, é um testemunho; ele testemunha um momento de um modo de produção pela memória do espaço construído, das coisas fixadas na paisagem criada. Assim o espaço é uma forma, uma forma durável, que não se desfaz paralelamente à mudança de processos; ao contrário, alguns processos se adaptam às formas preexistentes enquanto que outros criam novas formas para se inserir dentro delas.” p. 138. CAPÍTULO XIII – O ESPAÇO COMO INSTÂNCIA SOCIAL Ausência de referencias ao espaço por parte dos que estudam a sociedade como um sistema – incluindo a literatura marxista. p. 141. Autores que omitem o espaço como instância social: Bettelheim: “relação de causa-efeito das instancias sociais, ideológicas e políticas”; Harnecker: “a formação social e formada por extruturas complexas (econômica, ideológica, jurídica, política)”; Córdova: “relações técnicas de produção e relações políticas e jurídicas”. p. 142-143.

Uma estrutura social como outras O espaço é considerado um fato social ou uma estrutura social: Fato social: “um fenômeno concreto que se impõe a todos os membros da sociedade, sem, todavia, impor-se à sociedade em si mesma”; Estrutura Social: “Capacidade de condicionar, até certo ponto de forma determinante (determinação condicionada) a evolução das outras estruturas sociais”. p. 144. Quais as características que definem o espaço como uma estrutura social: ele “tende a reproduzir-se acentuando seus traços mais dominantes, como as demais estruturas sociais é estrutura subordinada-subordinante e dispõe de certa autonomia manifestadas por leis próprias específicas de sua evolução” p. 145. Uma estrutura subordinada? O espaço não depende exclusivamente da estrutura econômica: o erro é proveniente, em parte, dos estudos marxistas economicistas que tendem a uma interpretação econômica das relações sociais – Marx, todavia, dá primazia à “totalidade como estrutura, a qual está acima das suas subestruturas”. p. 146-147. “Desse modo nos recusamos a imaginar que possa haver estruturas cujo movimento subordinado seria devido exclusivamente as determinações econômicas” p. 147. A especificidade do espaço A inércia do espaço é dinâmica: as formas são resultado e condição dos processos – “a organização do território não é apenas uma variável mas, até certo ponto, um dado do próprio processo capitalista” . p. 148-149. O espaço não é terminado, fixado, mas as formas espaciais herdadas possuem autonomia de existência, embora não de comportamento, permitindo entrar em outros dados da vida social. p. 150. O espaço como História e Estrutura “O enfoque histórico supõem que se caminhe do passado para o presente, aquilo que se mostra sob nossos olhos em interação e funcionamento (...) mas, quando o espaço é submetido a tal discussão a conclusão é que a estrutura espacial é o passado no presente”. Através do espaço, a História se torna estrutura ela própria estruturada em formas. p. 151. Segundo Henri Lefebvre (1974 p. 88-89), “o espaço (social) não é uma coisa entre as coisas, um produto qualquer entre os produtos; ele envolve as coisas produzidas, e compreende suas relações em sua coexistência e simultaneidade: ordem (relativa) ou desordem (relativa). Ele é o resultado de uma série, de um conjunto de operações, e não pode ser reduzido a um simples objeto.” p. 152.

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