Fichamento: Hobsbawm, E.J. - Nações e Nacionalismo desde 1780

May 29, 2017 | Autor: Tarcísio Queiroga | Categoria: Eric Hobsbawm, Historia, Nacionalismo
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Fichamento: Eric J. Hobsbawm - Nações e Nacionalismo desde 1780 Tarcísio Moreira de Queiroga Júnior1

Introdução O Conceito de nação sempre foi algo muito difícil de ser trabalhado, não existe uma definição exata para tal. A própria palavra nação é relativamente nova. O conceito e a ideia de nação deve ser uma construção diária. “O sentido moderno da palavra não é mais velho que o século XVIII considerando-se ou não o variável período que o precedeu.” (HOBSBAWM, 1990, p. 13) O assunto sobre o nacionalismo passou a ser mais incisivo no período em que a Europa estava sendo “desenhada” de acordo com o princípio de nacionalidade. A maior parte desses estudos se perguntava o que seria uma nação? E como eram classificados os grupos que integrariam a mesma. As tentativas de se estabelecerem critérios objetivos sobre a existência da nacionalidade, ou de explicar por que certos grupos se tornaram “nações” e outros não, freqüentemente foram feitas com base em critérios simples como a língua ou a etnia ou em uma combinação de critérios como a língua, o território comum, a história comum, os traços culturais comuns e outros mais. (HOBSBAWM, 1990, p. 15)

De acordo com Hobsbawm (1990, p. 17) “Na verdade, também não é possível reduzir nem mesmo a “nacionalidade” a uma dimensão única, seja política, cultural ou qualquer outra (a menos, é certo, que se seja obrigado a isso pela force majeure dos Estados).” Mesmo depois de estudos e suposições para o conceito real de nação, não se chegou a lugar algum, por isso em sua obra, Hobsbawm não assume nenhuma postura a priori do que seria uma nação. Assim, nem a definição subjetiva, nem a objetiva são satisfatórias, e ambas são enganosas. Em qualquer caso, o agnosticismo é a melhor postura inicial de um estudioso nesse campo, e, portanto este livro não possui uma definição a priori do que constituí uma nação. Como hipótese inicial de trabalho, trataremos como nação qualquer corpo de pessoas suficientemente

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Graduando do curso de História Licenciatura pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana

grande cujos membros consideram-se como membros de uma “nação”. (HOBSBAWM, 1990, p. 18)

Para que se tenha uma melhor compreensão da obra, é necessário conhecer como o autor se posiciona. Hobsbawm adota os seguintes aspectos: 1 – O uso do termo “nacionalismo” no sentido definido por Gellner, ou seja, significando “fundamentalmente um princípio que sustenta que a unidade política e nacional deve ser congruente”. 2 – O autor não considera a nação como uma entidade social originária ou imutável. Para ele o nacionalismo vem antes das nações. 3 – Hobsbawm acredita que as nações e os fenômenos associados a elas devem ser analisados em questões mais amplas do que a língua, ou questões culturais. Elas devem também ser analisadas em suas condições políticas, econômicas, administrativas e etc. 4 – Partindo de seu ponto de vista, as nações são fenômenos duais. São construídos essencialmente do alto, mas não podem ser compreendidas quando não são analisadas de baixo. As pessoas comuns que não são necessariamente nacionais e muito menos nacionalistas devem ser entendidas também nesse processo. 5 – O autor defende que a consciência nacional se desenvolve de maneira desigual entre grupos e regiões sociais de um país. Além disso, Hobsbawm concentra-se no que chama de movimentos nacionais e suas fases, com ênfase na transição da fase B para a C. Ele começa a tecer sua análise sobre as transformações do conceito de nação e nacionalismo.

A Nação como novidade: da revolução ao liberalismo No capítulo I, o autor trata exaustivamente sobre o conceito de nação que conhecemos e como esse conceito é algo extremamente novo. O governo, não foi, portanto, ligado ao conceito de nación até 1884. [...] Para o dicionário espanhol de 1726 (primeira edição), a palavra pátria ou, no uso mais popular, tierra, “a pátria”, significava apenas “o lugar, o município ou a terra onde se nascia”, ou qualquer região, província ou distrito de

qualquer domínio senhorial ou Estado. [...] Até 1884, a tierra não era vinculada a um Estado. (HOBSBAWM, 1990, p. 28) Como em outros lugares, a palavra desenvolveu-se para descrever grandes grupos fechados, como guildas e outras corporações, que necessitavam ser diferenciados de outros com os quais coexistiam: daí as “nações” aparecem como sinônimo de estrangeiro. (HOBSBAWM, 1990, p. 29)

Entre os séculos XVI e XVII a palavra nação não estava atrelada ao conceito de Estado, pois não tinha uma definição política. A palavra estava associada muito mais a pequenos grupos que precisavam se distinguir um dos outros com os quais conviviam. Assim, observa-se que a nação era ligada a questões culturais, linguísticas etc. Hobsbawm só consegue enxergar o sentido político na palavra “nação” na época que ele denomina como Era das Revoluções. Qualquer que seja o significado “próprio e original” (ou qualquer outro) do termo “nação”, ele ainda é claramente diferente de seu significado moderno. Podemos, portanto, sem ir mais além no assunto, aceitar que, em seu sentido moderno e basicamente político, o conceito de nação é historicamente muito recente. (HOBSBAWM, 1990, p. 30) De fato, se do ponto de vista revolucionário “a nação” tem algo em comum, não era, em qualquer sentido, a etnicidade, a língua ou o mais, mesmo que estas também pudessem ser indicação de vinculo coletivo. Como mostrou Pierre Vilar, o que caracterizava o povo-nação, visto de baixo, era precisamente o fato de ele representar o interesse comum contra os interesses particulares e o bem comum contra o privilégio, como na verdade é sugerido pelo termo que os americanos usaram antes de 1800 para indicar a existência de nações, embora evitassem a própria palavra. (HOBSBAWM, 1990, p. 32)

Em determinadas regiões a nacionalidade muitas vezes é atrelada a língua comum falada, como no caso da Alemanha. Contudo, em outras regiões e, principalmente, na França revolucionária a língua parece ser algo secundário, a partir dessa premissa que se pode notar o sentido político da palavra, pois na França do século XVIII, a nação era aquela que estava disposta a adotar as leis, as liberdades e as características comuns do povo livre. A Era das Revoluções é o período em que a palavra “nação” começa a ganhar o sentido que conhecemos atualmente, mas não se deve esquecer que o conceito ainda estava sendo construído e por isso a “nação” na Europa ainda possuía significados distintos.

Richard Böckh, cujas influentes publicações na década de 1860 argumentavam que a língua era o único indicador adequado de nacionalidade, um argumento ajustado ao nacionalismo alemão desde que os germânicos estavam amplamente distribuídos na Europa central e oriental,

foi obrigado a classificar os judeus ashkenazim como alemães, na medida em que o ídiche era, sem dúvida, um dialeto germânico derivado da Alemanha medieval. Essa conclusão não podia ser partilhada pelos alemães antisemitas, como Böckh sabia. (HOBSBAWM, 1990, p. 34)

Podemos perceber que o autor enfatiza bastante aos conceitos de nação e nacionalismo ser relativamente novos. É importante notar que ambos os termos são construções históricas e nem sempre estiveram presentes, como conhecemos hoje, no vocabulário e na história da humanidade. O mito criador (da nação) também interfere na construção de uma nação ideal. O termo nação, conforme o entendemos hoje, foi constituído na época das Revoluções Liberais na Europa de 1800, no qual o conjunto de cidadãos cuja soberania é coletiva dá origem às leis e às instituições do Estado. É interessante notar que patriotismo e nacionalismo são elementos distintos. Enquanto o primeiro está atrelado muito mais a símbolos (bandeira, hino, etc.), o segundo tem uma visão mais racional. O nacionalista tem uma visão a longo prazo, ou seja, investe no país para que se atinjam os objetivos necessários. O patriota está ligado a uma questão sentimental, possui orgulho de sua pátria. A questão da visibilidade econômica também é importante para a consolidação de um país. Mas também em outro sentindo a nação moderna era parte da ideologia liberal. Estava ligada ao que sobrou dos grandes slogans liberais a respeito da associação durável, mais do que a respeito de sua necessidade lógica: assim como a liberdade e a igualdade estão para a fraternidade. Em outras palavras, na medida em que a própria palavra nação era historicamente nova, opunha-se aos conservadores e tradicionalistas e, portanto, atraía seus oponentes. (HOBSBAWM, 1990, p. 51)

É importante perceber que embora o conceito de nação fosse algo novo e pujante, ele não se aplicava a todos os territórios, regiões e povos.

O importante a notar, no entanto, é que no período clássico do nacionalismo liberal ninguém sonharia em abandoná-lo. A autodeterminação das nações ajustava-se apenas para as nações consideradas viáveis: ou seja, viáveis culturalmente e, é lógico, economicamente (qualquer que fosse o significado exato de viabilidade). (HOBSBAWM, 1990, p. 44)

[...] a nação maior poderia acolher e patrocinar os dialetos e línguas menores e as tradições históricas e folclóricas das comunidades menores que continha, ao menos para provar o espectro de cores de sua palheta macro-nacional. (HOBSBAWM, 1990, p. 47)

Para compreender a “nação” da era liberal clássica é, portanto essencial ter em mente que a “construção de nações”, por mais que seja central à história do século XIX, aplicava-se somente a algumas nações. E, de fato, a demanda pelo “princípio de nacionalidade” também não era universal. Como problema internacional e como problema político doméstico o “princípio de nacionalidade” atingia um limitado número de povos ou regiões, mesmo em Estados multilíngües e multiétnicos como o Império Habsburgo, onde já dominava claramente a política. (HOBSBAWM, 1990, p. 54) Contudo, depois de 1880, importaria crescentemente de fato como os homens e mulheres comuns sentiam-se a respeito da nacionalidade. É então importante considerar os sentimentos e atitudes desse tipo dos povos préindustriais, sobre os quais o novo apelo do nacionalismo político poderia ser construído. (HOBSBAWM, 1990, p. 56)

Referência Bibliográfica: HOBSBAWM, E. J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Traduzido por Maria Celia Paoli e Anna Maria Quirino. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 11 – 56.

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