Fichamento - SOUSTELLE, Jacques. “Os astecas na véspera da conquista espanhola”.

July 8, 2017 | Autor: G. Loureiro Barcelos | Categoria: Historia Colonial De América Latina, Astecas
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FICHAMENTO SOUSTELLE, Jacques. “Os astecas na véspera da conquista espanhola”. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. __________________________________________________________________________________________

INTRODUÇÃO Os mexicanos – ou mexica, como se autodenominavam e outrora também chamados de astecas, azteca, uma alusão a Aztlán, mítico ponto de partida de sua migração – chegaram tarde ao planalto central e assim se consideravam apenas herdeiros das brilhantes civilizações que os precederam. Seu conhecimento do passado não remontava a mais de alguns séculos. Para eles, as pirâmides de Teotihuacán (datadas do século VI aproximadamente) foram construídas pelos deuses, na origem do mundo, quando criaram a Lua e o Sol. Tudo o que indica uma cultura elevada (as artes, os mosaicos, a invenção do calendário e dos caracteres...) provinha, segundo eles, dos antigos habitantes de Tula, os toltecas, cujo esplendor data dos séculos X e XI. Para os mexicanos, Tula e seu rei-deus Quetzalcoatl, a “serpente emplumada”, pertenciam a um remoto e fabuloso passado. Quetzalcoatl e os toltecas haviam sido os pioneiros na prática de todas as artes e na aquisição de todos os conhecimentos de que o México desfrutava até então. Todavia, a magia negra de Tezcatilipoca, o sombrio deus do céu noturno, triunfara, e o radioso Quetzalcoatl, banido do México, embarcara nas águas do oceano Atlântico, a “água celeste”.

No caos que se sucedeu à queda de Tula, as tribos nômades do norte, agrupadas sob a denominação genérica chichimeca – termo equivalente ao “bárbaro” –, avançaram em sucessivas vagas para se instalar no planalto central. Aqui a lenda coincide com a história. É no século XII que tem início um vasto movimento migratório que arrasta para o sul, um após outro, povos caçadores e guerreiros, que desconhecem a agricultura, não possuem casas e roupas tecidas. Em contato com vestígios da civilização tolteca e com agricultores sedentários que permaneceram na região após a queda de Tula, esses povos fundam cidades e aldeias e assimilam os costumes de seus predecessores. A língua nahualt “clássica”, a mesma falada pelos mexicanos, triunfa sobre os dialetos rústicos empregados pelos invasores. Erigem-se cidades: Colhuacán, Azcapotzalco, Texcoco, onde os grandes levam uma vida refinada. Essas cidades disputam entre si a hegemonia do vale e conquistam-na sucessivamente. Os mexica estabelecem sua capital – uma miserável aldeola de choupanas de junco – em torno do templo do deus indomável e ciumento, Uitzilopochtli, que os guiou em sua migração durante um século e meio. Ao redor deles, prevalecem os pântanos incultiváveis; não há madeira nem pedra para a construção de edifícios. Todo o solo está em mãos das cidades mais antigas, que guardam com tenacidade os campos, as florestas e as pedreiras.

Em 1325, esses errantes fixam-se nas regiões desoladas, onde são tolerados, mas onde avistaram – sinal prometido por seu deus – uma águia pousada num cacto, devorando uma serpente. Decorrerão ainda cinquenta anos para se organizarem e designarem seu primeiro soberano, Acamapichtli. A cidade mexicana ainda é frágil, sua sorte, incerta, e, para sobreviver, é obrigatório aceitar a suserania Azcapotzalco, de que só se libertará em 1428. Somente os “carregadores de deus”, os sacerdotes-guerreiros que haviam conduzido a efígie de Uitzilopochtli durante a migração e que transmitiam ao povo seus oráculos, acreditavam na promessa de dominação. Eles foram o primeiro núcleo da classe dirigente que deveria levar os mexica, cerca de duzentos anos depois, ao auge do poder.

No início do século XVI, do difícil começo não restam outros traços além dos jardins flutuantes, as engenhosas chinampas que substituem nos confins da cidade, testemunhas do tempo em que os mexicanos sem terra tiveram de criar um solo amontoado em jangadas de bambu o lodo retirado dos pântanos. México-Tenochtitlán ergue orgulhosamente sobre as águas seus terraços e suas pirâmides. O nome de seu imperador, Motecuhzoma, é sinônimo de esplendor e de poder em vinte diferentes povos. As riquezas das províncias afluem para lá, o luxo aumenta, como nunca antes visto desde a lendária Tula.

CAPÍTULO I: A CIDADE

ORIGEM, SITUAÇÃO

Modo de vida

Os mexicanos consagravam o essencial de sua atividade à pesca e à caça de aves aquáticas. Seus instrumentos eram a rede e o atlatl, ou propulsor de dardos. A madeira e as pedras de que precisavam para construir sua cidade eram obtidas das tribos urbanas de terra firme, em troca de peixes e animais aquáticos.

Os astecas tiveram de criar um terreno sólido acumulando lama em jangadas de bambu, abrir canais, aterrar cais, construir jangadas e pontes. À medida que a população aumentava, os problemas de urbanismo tornavam-se de solução mais difícil.

EXTENSÃO E POPULAÇÃO

Na época da conquista espanhola, a cidade de México englobava, ao mesmo tempo, Tenochtitlán e Tlatelolco. Esta era povoada por uma fração apartada da tribo mexicana, que lá criara a sua cidade e prosperara na guerra e no comércio.

Toda a superfície da cidade fora transformada numa rede geométrica de canais e de aterros ordenada em torno de dois centros principais: o grande templo e a praça de Tenochtitlán, o grande templo e a praça de Tlatelolco, e inúmeros secundários: os bairros (“calpulli” – grupo de casas).

O “calpulli” era um território, propriedade coletiva de certo número de famílias que o dividiam entre si para explorá-lo. Possuía um rudimento de administração autônoma, sob a direção de um chefe eleito, o “capullec”, e um templo particular. É provável que o “calpulli” tenha persistido como a célula essencial da tribo durante a migração até a fundação da cidade.

A cidade dividia-se em quatro seções em relação ao grande templo:  Cuepopán [N] = lugar em que desabrocham as flores  Teopán [L] = o bairro do deus, isto é, do templo  Moyotlán [S] = o lugar dos mosquitos  Aztacalco [O] = a casa das garças

É evidente que a divisão em quatro seções, atribuída ao deus supremo da tribo, tinha antes de mais nada um caráter administrativo, governamental. Era uma rede de comando superposta à multiplicidade dos “calpulli” antigos ou novos. Cada seção possuía seu templo e um chefe militar nomeado pelo poder central. Desse modo, ela se distinguia profundamente do “calpulli”, que tinha o privilégio de eleger seu chefe; além disso, não possuía terras.  Palácios imperiais = teocalli

As famílias eram numerosas e a classe dirigente praticava a poligamia.

ASPECTO GERAL, VIAS E TRÂNSITO

Três estradas convergiam ao México:  Iztapalapán  Tlacoplán  Tepeyacac

Essas estradas funcionavam também como diques, cuja construção fora facilitada devido à pouca profundidade da laguna. O dique possuía algumas aberturas que permitiam a passagem de água por sob a ponte de madeira. Era pela laguna, de barco, que se fazia a comunicação com Texcoco, onde era possível penetrar por terra, em direção ao interior.

A maioria das casas era simples, baixa, retangular, de teto plano. De fato, apenas as moradias dos dignitários podiam ter dois andares. Aliás, é evidente que construções sobre pilotis, fundadas num terreno alagadiço, corriam o risco de desmoronar se seu peso ultrapassasse certo limite, a menos que fossem erigidas numa ilha mais sólida, o que era relativamente raro.

A maioria das casas com suas fachadas sem janelas, escondendo uma vida secreta voltada para pátios internos, eram construídas ao longo de ruas retas e canais retilíneos. Nos subúrbios, ainda se encontravam as choupanas

cobertas de palha ou capim, com paredes feitas de caniços entrecruzados e barro, como nos remotos tempos em que sua civilização dava os primeiros passos. Por outro lado, à medida que se aproximava do grande teocalli e dos palácios imperiais, as dimensões e o luxo das casas aumentavam.

Embora houvesse pouco espaço livre além das grandes praças, México não era uma cidade sem verde: cada pessoa possuía seu pátio interno. E todas as ruas, de um extremo a outro da cidade, são abertas de tal maneira que a água atravessa inteiramente.

MONUMENTOS E PRAÇAS Cada “capullec” devia, em primeiro lugar, guardar e revisar, se necessário, as “pinturas” que representavam seu bairro e a divisão deste entre as famílias. A estrutura dos bairros, com suas parcelas cercadas de canais e ruas, era cortada pelas grandes artérias de circulação.

O templo [duplo] de Uitzilopochtli:  Apenas a face ocidental da pirâmide era dotada de uma escada, bem larga e dupla, limitada por balaustradas que começavam com grandes cabeças de serpentes e terminavam quase verticalmente antes de chegar à plataforma. Em torno dos templos propriamente ditos (os “teocalli” ou “teopán”) se elevavam um grande número de anexos consagrados ao culto. Lugares de prece, de penitência, de sacrifício.  Nos “quauhxicalco” (lugar onde se encontrava o “quauhxicalli”, recipiente ritual em que se depositava o coração das vítimas sacrificadas), o imperador e os sacerdotes jejuavam e faziam penitência, enfiando espinhos de agave nas próprias pernas para oferecer seu sangue aos deuses.  Nos “tzompantli” expunham-se os crânios dos sacrificados. Os “calmecac” eram, ao mesmo tempo, mosteiros e colégios. Nessas instituições residiam os sacerdotes, homens austeros, esgotados pelas macerações, de aspecto bravio, com suas túnicas negras e os cabelos ao vento; era lá, também, que os jovens de classe dirigente faziam o aprendizado dos ritos dos glifos e da história de seu país. Cada templo possuía seu “calmecac”, onde sacerdotes e jovens conviviam.

Essa cidade dos deuses encerrava em suas muralhas edifícios para uso mais profano. Pelo Tlachtli, local destinado, local destinado ao jogo da péla (ao mesmo tempo divertimento dos dignitários e representação ritual). O jogo da péla era muito apreciado por todos os povos civilizados do México antigo. O povo de Tenochtitlán o havia o havia importado de seus vizinhos do vale, que, por sua vez, o receberam dos toltecas, e dedicava-se a ele com frenesi.

Vários edifícios denominados tlacochcalli ou tlacochcalco (casa dos dardos) serviam de arsenais não só para a eventual defesa do templo, mas também para operações militares. Eram guardados por soldados, e sua responsabilidade era exercida por um alto funcionário militar, o tlacochcalcatl. Enfim, um edifício especial, o

Mecatlán, constituía a escola e a sala de ensaios dos tlapizque, músicos que tocavam flauta ou outros instrumentos de sopro durante as cerimônias.

Ao que parece, cada imperador fazia questão de constituir sua própria morada. O grande palácio era um combinação de edifícios, alguns dos quais, pelo menos, de dois andares, agrupados em torno de pátios retangulares ou quadrados, ocupados por jardins.

Os aposentos do monarca estavam situados no andar superior que também revela cômodos reservados, no mesmo andar, aos reis das cidades associadas de Texcoco e Tlacoplán. As salas do térreo abrigavam:  Os supremos tribunais “Civil” ou “Criminal” e o Tribunal Especial, que julgava os dignitários acusados de crimes ou delitos graves.  O Conselho de Guerra, de que participavam os principais líderes militares.  O Achcauhcalli, onde se reuniam os funcionários de segunda ordem, encarregados de executar as decisões da justiça.  O Petlacalco, Tesouro público, onde eram acumuladas consideráveis reservas de comestíveis, roupas e mercadorias de toda natureza.  A sala dos “calpixque” (Secretaria da Fazenda)  Outras salas eram utilizadas como prisões, seja para manter prisioneiros de guerra, seja para confinar os condenados pela justiça.

Além disso, uma enorme quantidade de salas e pátios se adequavam a esse gênero de vida luxuoso e requintado adotado pelos monarcas mexicanos, que, sem dúvida, os dignitários mais importantes imitavam de acordo com seus recursos. A praça central de Tenochtitlán – como, aliás, as dos bairros – provavelmente servia de mercado. Os habitantes de Tlatelolco sempre foram conhecidos como particularmente afeitos ao comércio; e, depois de sua anexação, Tlatelolco tornou-se o principal bairro comercial do México. O mercado era extremamente organizado e ordenado, cada mercadoria tinha um lugar estabelecido e delimitado, formando como que ruas. Aqui, vendia-se de tudo, havia uma abundância de artigos de todo tipo.

OS PROBLEMAS DE UMA CIDADE GRANDE

Uma aglomeração tão vasta e tão povoada certamente causaria a seus dirigentes problemas que seus fundadores, dois séculos antes, nem sequer imaginavam. O do abastecimento, a julgar pela abundância dos mercados, estava resolvido sem dificuldade a partir do transporte fluvial, que era, sem dúvida, o mais eficaz e rápido. Era precisamente a água a fonte das maiores dificuldades enfrentadas pelos mexicanos.

Em princípios, os mexicanos não deviam enfrentar dificuldades para abastecer-se de água potável: as fontes que jorravam do solo da ilha central eram suficientes. Essas fontes ainda abasteciam em parte a população no século

XVI. Quanto à água do lago, não se prestava ao consumo, pois era demasiado salobra. Quando os infelizes defensores da cidade foram obrigados a bebê-la, esse líquido só agravou seus sofrimentos.

À medida que a população aumentava, as fontes tornavam-se insuficientes. A única solução consistia em trazer para a cidade a água potável proveniente de fontes que jorravam da terra firme. Talvez, durante, algum tempo, os mexicanos tenham se contentado em levar a água dessa fonte em recipientes de barro transportados por barco, mas esse meio logo deve ter-se revelado insatisfatório.

Foi então que surgiu a ideia , no reinado de Motecuhzoma I, da construção de um aqueduto, que, partindo da fonte, se estendia por cinco quilômetros, até o centro da cidade, no recinto do grande “teocalli”. Era feito de pedra e cimento e comportava dois condutos, mas utilizava-se apenas conduto de cada vez. Periodicamente, fazia-se a água passar de um ao outro, a fim de se proceder à limpeza de um deles.

Devido ao plano geral da cidade, o aqueduto devia atravessar inúmeros canais, em cada um haviam operários especializados, mediante pagamento, enchiam de água potável as jarras que os barqueiros lhes estendiam. Estes, por sua vez, vendiam o líquido na cidade. Havia fontes públicas; pelo menos, existia uma fonte principal no centro da capital, onde as mulheres costumavam encher seus cântaros.

O aumento da população tornou obsoleto o aqueduto. A construção de um segundo aqueduto revela ao mesmo tempo a expansão da cidade e a administração inteligente de seus governantes, mas, com a conclusão dessa obra, o aqueduto não era capaz de dar vazão à água, e, ao cabo de quarenta dias, a situação era grave: o nível do lago subia constantemente; primeiro os pescadores deram o alarme; depois, a água invadiu a cidade, destruindo as casas. Nas margens e nas ilhas, os campos de milho foram destruídos, e o espectro da fome tornou-se ameaçador. Inúmeras pessoas se afogaram e a cidade começou a ser evacuada.

Essa inundação é, sem dúvida, a mais célebre registrada na Antiguidade pré-hispânica, mas certamente não foi a única. Cada estação de chuvas colocava a cidade diante de novos riscos. Quando os rios que deságuam no lago Texcoco transbordavam, as águas refluíam para a parte das lagunas em que se localizava México. Para evitar esse perigo, Montecuhzoma I construiu em 1449 um dique que protegia Tenochtitlán da cheia do grande lago.

Assim, pode-se dizer que, dos dois problemas mais importantes enfrentados pelos mexicanos, um deles, o da água potável, tinha sido resolvido; o outro, o das inundações, só estava solucionado de modo parcial e precário. Outra questão é a higiene pública. Em Tenochtitlán não havia esgotos. Portanto, as águas servidas eram escoadas para os canais e a laguna, cujas águas, felizmente, eram agitadas por correntes que garantiram certo escoamento.

Em diversos lugares, existiam latrinas públicas, cujo interior era subtraído à vista dos passantes por paredes de juncos, e era sem dúvida delas que provinham as canoas. Os astecas adubavam as terras utilizando esse tipo de estrume.

O lixo doméstico era despejado nos arredores da cidade, em “terrenos baldios” pantanosos, ou enterrado nos pátios internos. A manutenção das ruas de cada bairro cabia às autoridades locais, sob a supervisão do uey calpixqui, funcionário imperial que, como prefeito, lhes dava as diretivas. Para a limpeza das vias públicas empregavam-se diariamente cerca de mil pessoas. Na verdade, a cidade, no início do século XVI, parece ter sido salubre, graças à abundância de água, aos costumes de higiene de seus habitantes e ao clima proporcionado pela altitude. Tanto que a primeira grande epidemia conhecida no México foi a de varíola, que foi introduzida pelos espanhóis, causando grande mortandade em 1520.

TENOCHTITLÁN, JOVEM CAPITAL

México era a jovem capital de uma sociedade em plena mutação, de um civilização em desenvolvimento, de um “império” ainda em formação. A irrupção dos homens da Europa veio interromper brutalmente um impulso ascendente que nada havia enfraquecido então. É por isso que, em 1519, México é um ser vivo animado por uma furiosa vontade de poder há dois séculos. O império continua a ampliar-se para sudeste; a estrutura social está-se modificando; o modo de governar se parece cada vez menos com o de uma tribo, cada vez mais com o de um Estado.

CAPÍTULO II: A SOCIEDADE E O ESTADO NO INÍCIO DO SÉCULO XVI

CAPÍTULO IV: O DIA DE UM MEXICANO

MORADIA  Grandes diferenças entre os diversos tipos de moradia, de acordo com o nível social, a riqueza e a profissão dos habitantes.

Dois extremos palácios dos dignitários e do soberano X choupanas dos subúrbios ↓ Várias construções privadas e públicas

↓ feitas de galhos e de taipa, e com tetos de palha.

 O centro de toda casa era o fogão = relação com o Deus do Fogo HUITIZILAPOCHTLI Afinal, os astecas eram considerados “o povo do sol”, logo o fogão servia como uma espécie de altar, de ligação com Deus, inclusive o casamento era celebrado próximo ao fogão.  O material utilizado na maioria das casas era o tijolo secado ao sol. As parcelas de terra do CALPULLI eram limitadas em ao menos um dos lados por um canal. Cada casa dispunha de um embarcadouro próprio, para os mercadores chegarem a noite sem que fossem observados enquanto armazenavam suas mercadorias. Isso ressalta o “preconceito” que a população tinha pelos POCHTECAS (comerciantes)

 As casas (luxuosas ou simples) não se diferenciavam quanto à mobília → Um exemplo disso era o “petlat” ( uma espécie de esteira, que servia para dormir e também sentar durante as refeições) e os “icpalli” ( assento mais adornado, confeccionado em CUAUHTITLÁN, que pagava como tributo 4 mil icpalli por ano. → Outro exemplo é com a chegada dos espanhóis, que ficaram no palácio de AXAYACATL e se espantaram com a simples mobília.  Os móveis destinados ao “tatloani” eram cobertos de tecidos ou de peles decoradas com ornamentos de ouro. → A maioria dos móveis era feita de vime (espécie de ramo) → A iluminação era feita por tochas de pinho, e somente utilizadas em circunstâncias especiais (exemplo: rito religioso)  O que diferenciava a residência dos TECUHTLI era a dimensão e a quantidade de aposento, mas principalmente na beleza dos jardins.

O BANHO  Os mexicas tinham o costume de se lavarem todos os dias, mas não tinham sabão, usavam um fruto que produzia espuma.  O banho além de ser higiênico, era religioso e a privação dele era como uma penitência.  “TEMAZCALLI” = espécie de sauna. Vapor d’água e ervas. Considerado higiênico, bem como uma medicação, além de ser um ritual de purificação.

OBS.: os mexicas tinham em tudo o que faziam uma ligação ritualística, sagrada.

VESTIMENTOS E ADORNOS

Os cortes de cabelo diferenciavam certos níveis sociais ou determinadas profissões:  Os sacerdotes raspavam a fronte e os lados da cabeça, mas deixavam o cabelo crescer no alto do crânio.  Os jovens guerreiros deixavam uma longa mecha de cabelo na nuca, que era cortada assim que eles consumassem o primeiro feito.  As mulheres de “classe” não pintavam o rosto, apenas usavam roupas características de sua classe e se lavavam.  As AUIANIME (cortesãs) gostavam de ter mais adornos, se perfumava com um incenso odorífico, e tingiam o dente de vermelho.

Vestimentas

 Os MACHEUALLI (comuns): usavam uma MAXTLATL (tanga) e o TILMATLI (manto) simples, enquanto os TECUHTLI usavam essas mesmas roupas, mas com adornos e cores diferentes. (os mais belos tecidos provinham de outras cidades, que ofereciam esses tecidos como tributo). A MAXTLATL e o TILMATLI poderiam variar em tamanho.  Os sacerdotes usavam um TILMATLI preto ou escuro, por vezes bordados com crânios e ossos humanos. O sacerdote soberano XIUMTECUHTLI usava uma roupa especial de cor azul-esverdeada chamada XIUHTLIMATLI

OBS.: Eles tinham o costume de sobrepor 2 ou 3 mantos. Ordinariamente o mexicano usava roupas folgadas na guerra, ao contrário vestia roupas justas.  TECUHTLI: Os uniformes dos cavaleiros jaguares moldavam-se completamente ao corpo. Já a armadura clássica chamada de “ ICHCAHUIPILLI” era um casaco justo acolchoado usado como proteção das flechas.  MULHER: Usavam um “CULITL” (saia), as de classe popular deixavam os seis desnudos, já nas classes abastadas usavam o HUIPILUI (traje que cobre o busto). Os trajes comuns eram brancos, os de cerimônia contavam com uma variedade de cores.

O ornamento, o ouro, a joia e a pluma eram símbolos de poder e dos meios de governo.  Tudo nesse aparato de insígnias e de luxo era rigorosamente pautado conforme a hierarquia social. As plumas e os adornos em ouro eram reservados àqueles que, por suas façanhas, tinham merecido adornar-se com eles. Punia-se com a morte quem quer que ouse usurpar esses símbolos de honra.

Negócio, trabalho e cerimônias

Muitos homens, embora residentes na cidade, permaneceram homens do campo em sua ocupação.  Os agricultores usavam ferramentas simples: um pedaço de madeira para cavar, uma espécie de enxada.  Caçadores e pescadores: arco e flechas, propulsor de dados e bolsa de caça.  Os nobres incentivavam seus filhos a aprenderem o artesanato, principalmente o que envolvia plumas, pois era uma profissão honrada. Os nobres tinham uma noção realista ao afirmarem que “ nunca se viu ninguém viver apenas de nobreza”.  Os membros do TECUHTLI dispunham de numerosas e extensas terras, as vezes distantes do centro. Eles consagravam grande parte do tempo a visitar “suas” terras e administrar a exploração delas. Contudo, “calpixque” (homens de confiança do TECUHTLI) podiam substituí-los. [p.170-1]

Essas terras formavam uma entidade econômica importante e parcialmente autônoma que produzia alimentos e roupas. As guerras, as tarefas administrativas do Estado faziam com que essa classe dirigente se afastasse da administração das terras. Os negócios de Estado, do “comando” TALTOCAYOTL tendiam a absorver a atividade dos TECUHTLI.

Alguns negócios do ESTADO:  TEQUIUAQUE – patente que os estudantes almejavam  ACHCACAUHTIN – policiais encarregados de aplicar as decisões dos tribunais  NAPPUALTLATOLLI – Audiências gerais. Se liquidavam a cada 4 meses do calendário indígena, durante vários dias, do amanhecer a noite, todos os negócios do em suspenso. (políticos e judiciários)

**Os astecas tinha uma elevada noção de serviço público e da autoridade ligada a ele. Caso algum servidor público privilegiar algum TECUHTLI, seria castigado (possivelmente morto). Quanto mais se subia na hierarquia, menos se dispunha de tempo para si próprio.

OBS.: Quanto maior o grau de nobreza, maior será a pena.  SACERDOTES – se dedicavam durante todos os dias aos deuses.  JUÍZES DE 1ª INSTÂNCIA – provenientes de todas as aldeias e cidades , e eram encarregados de resolver o problema de sua aldeia de origem. Encarregados de decidir as causas de menor importância.  Acima deles havia no MÉXICO E TEXCOCO, juízes oriundos de cada região.  12 juízes constituíam a instância superior – eram em TEXCOCO que se julgavam as apelações. Nenhum processo poderia dura mais de oitenta dias.

O TEMPO

Os astecas eram um povo ligado aos astros, a forma de vida era regulada pelos astros. O ano solar era dividido em 18 meses de vinte dias, além dos 5 dias intercalares e nefasto que se reduziam todas as atividades. Cada um desses meses correspondia a uma nova série de manifestações cerimoniais.

RITOS

Os sacerdotes não eram os únicos a celebrar os ritos, de acordo com os meses as cerimônias exigiam a participação de outros segmentos da população: rapazes, moças, guerreiros, dignitários, certas corporações, e muitas vezes todo o povo. Exemplo: Mês “a grande festa dos senhores”: Nos 7 primeiros dias desse mês o TATLOANI mandava servir comida e bebida a toda a população. Todas as noites guerreiros e mulheres dançavam e cantavam. No 10 º dia, durante a noite que antecede o sacrifício, uma sacerdotisa vestida de maneira a representar a deusa XILONEN (deusa do milho verde), trazendo em sua mão um escudo e CHICAUAZTLI ( um chocalho mágico), cantava junto as mulheres os hinos de XILONEN, e ao raiar do dia tinham início as danças.

Todos os homens guerreiros e rapazes usavam uma TOTOPANTLI (bengala de milho). Homens e mulheres dançando e cantando, faziam uma caminhada até o templo do milho – CINTEOPÁN-. Assim que a sacerdotisa

encarnada pela deusa entrasse no templo, o sacrificador a degolava. Somente após o sacrifício comiam-se as broas de milho verde e fazia-se pães de milho em oferenda aos deuses.

15º mês PANQUETZALIZTLI - iniciava com contos e danças a noite, 9 dias antes da de UITIZILOPOCHTLI ( o beija flor) – começava o preparo pra os sacrifícios. No 20º dia os cativos se despediam de seus amos, e molhando as mãos em uma tinta azul deixavam suas marcas em vigas e nos umbrais das portas e seguiam em procissão de PAYNAL (O DEUS MENSAGEIRO), que seguia desde o centro da capital até TLATELOLCO. Durante a procissão alguns cativos eram sacrificados. Quando PAYNAL ( O DEUS MENSAGEIRO) tivesse percorrido todo esse circuito, reaparecia na cidade em que saiu e entrava no recinto sagrado, então os cativos um a um, eram sacrificado na pedra, diante do templo de UITIZILOPOCHTLI.

Para os asteca nada era mais importante que esses rituais, que garantiriam o renascimento do sol. As atividades religiosas não impediam que as corporações e o próprio povo se dedicassem as suas ocupações normais.

Obras Públicas

Eram executadas graças ao sistema do TEQUITLI, trabalho coletivo que os plebeus estavam sujeitos.

As refeições

Eram feitas em geral 2 refeições, a grande refeição era ao meio dia. Essencialmente composta de milho sob forma de broa, papa, feijão e grãos de amaranto e também plantas selvagens, insetos e batráquios. As classes superiores podiam saborear pratos mais refinados: baunilha, mel, cacau, aves, pequenas caças e cachorro.

O fumo representa um papel importante nas classe dirigentes, ao fim das refeições fumava-se. Passear com o cachimbo nas mãos era sinal de nobreza e elegância. O fumo também era utilizado na medicina e nos ritos. Outros narcóticos eram empregados:  PEYOTL, pequeno cacto, que provoca alucinações, os que consomem tem visões pavorosas ou cômicas e essa embriaguez dura dois ou três dias. Os chichimecas usavam essa planta como alimento, eles diziam que ela lhes dava coragem para guerrear.  Cogumelo TEONANACTL, servido aos convivas no início dos basquetes. O cogumelo preto embriagava. Eles comiam ao raiar do dia com mel, e quando começavam a se animar, dançavam.  Octli – bebida alcoólica, papel religioso, relacionada aos deuses chamados CENTZON TOTOCHTIN, um exemplo é a deusa agave Mayauel. Os mexicas eram receosos quanto a embriaguez, considerada a causadora de todos os males. Leis contra a embriaguez: SEVERAS – DECRETOS DE NEZAUALCOYOTL – punem com a morte o sacerdote, funcionário, ou embaixador encontrados bêbados no pálacio, o dignitário que se embriagou sem fazer escândalo era castigado. E o macehualli (plebeu) seria exposto a zombarias do povo, enquanto raspavam-lhe a

cabeça em praça pública, em caso de reincidência era penalizado com a morte, que também era a punição dada aos nobres em sua primeira falta.

CAPÍTULO V: DO NASCIMENTO À MORTE

O BATISMO

Parteira  Responsável pelos ritos (servia de sacerdote e zelava para que tudo ocorresse de acordo com as tradições);  Corte do codão umbilical (guerreiro ou lar);  Lavar a criança (preces à Chalchiuhtlicue “deusa das águas claras e do nascimento”).

Nascimento noticiado (família, bairro e até outras cidades) Cerimonial de “saudações” (complexo)  Mulheres mais velhas agradeciam à parteira que lhes respondia com um discurso metafórico;  Bons oradores (anciãos) saudavam o recém-nascido e os demais anciãos respondiam;  Retórica (longa, pomposa, a favor dos deuses e o mistério do destino);  Elogios ao passado ilustre da família (mãe: deusa Ciuacoatl Quilaztli / pai: funções de grande importância para o Estado);  Presentes (classe dirigente: mantos / plebeus: alimento e bebida);  Tonalpouhqui ou adivinho (especialista nos estudos dos livros sagrados) - recebia por seu trabalho de consultar o tonalamatl para descobrir o signo do dia do nascimento e a série de treze dias a que pertencia;  Signo (bom e afortunado (>10 ou 7): batismo no dia seguinte / ruim: procurava encontrar na série de 13 dias um melhor e em último caso postergavam-se a data limite de 4 dias para o batismo).

Batismo em si (celebrado pela parteira e se dividia em duas partes)  Lavagem ritualística da criança;  Determinação do nome;  Objetos simbólicos (menino: pequeno escudo, arco e quatro flechas, correspondentes aos pontos cardeais / menina: pequenos bilros, uma lançadeira, uma arca);  Preparo do banquete familiar;  Batismo dos meninos: quatro ritos da água, 4 x apresentava a criança ao céu invocando o sol, e agarrando o arco e as flechas, implorava-se que os deuses o fizessem guerreiro. Terminados os ritos escolhia-se e anunciava-se o nome da criança.  Batismo das meninas: semelhante ao dos meninos, porém não se apresentava a criança ao sol (deus dos homens), dirigia-se ao berço e invocava Yoalticitl “curandeira noturna”. Terminados os ritos escolhia-se e anunciava-se o nome da criança.  Nomes

→ Patronímico: que indicasse o nome do pai; → Quem nascia durante a série de 13 dias dominada pelo signo ce miquiztli, sob a influência de Tezcatlipoca “provedor da vida e da morte”, recebia um dos apelidos desse deus; → Mistecas (todos tinham o nome do dia de nascimento, seguido de um cognome “sete-flor-pena de águia” ou “quatro-coelho-guirlanda de flores”.

A festa terminava com o banquete familiar, após o qual todos os anciãos podiam se entregar as delícias da bebida (p.195).

A INFÂNCIA E A JUVENTUDE, A EDUCAÇÃO

Código Mendoza (É assim chamado porque foi encomendado pelo primeiro vice-rei da Nova Espanha, Antonio de Mendoza, que desempenhou o seu cargo de 1535 a 1550, para enviar a Carlos I informações sobre os astecas. Trata-se de uma coleção de desenhos e costumes e tributos nativos confeccionados após a conquista. Secção III (16 páginas), onde se desenharam aspetos da vida quotidiana asteca.).

Entre 3 e 15 anos a educação do menino era confiada ao pai e a da menina a mãe, isso para os maceualtin (maceualli – comuns), os magistrados ou altos funcionários, segundo Soustelle não tinham tempo para cuidar dos filhos.  1os anos: limita-se a bons conselhos e a pequenas tarefas domésticas → Menino: carregar água, madeira, acompanhar o pai ao mercado e catar os grãos e milho do chão. Dos 7 aos 14 anos, aprendem a pescar, dirigir barcos na laguna. → Meninas: observa a mãe tecer, mas só manuseia o bilro aos 6 anos. Dos 7 aos 14 anos,fiar algodão,varrer a casa, moer milho no metlatl e manejar o tear de delicado manuseio.

Castigos (severos sobre as crianças preguiçosas)

Vestuário (menino: até 13 anos um pequeno manto amarrado no ombro, depois dos 13 (idade viril) passa a usar tanga / meninas: desde o início usa blusa e saia, 1º curta, logo desce até os tornozelos).

Problema com o Codex Mendonza em relação à faixa etária para se entrar na Calmecac (código: 15 anos / Outras fontes: entre 6 e 9 anos). Bernardino de Sahagún, de nascimento Bernardino de Rivera, Ribera ou Ribeira (Sahagún,Leão, Espanha ca. 1499 — Cidade do México, 05 /02/ 1590)1 foi um frade franciscano espanhol. Autor de várias obras bilíngues em náuatle e espanhol, consideradas hoje entre os documentos mais valiosos para a reconstrução da historia do México antigo, antes da chegada dos conquistadores espanhóis. Embarca para o novo mundo em 1529. Viveu +- 61 anos no México. CALMECAC  Voltada para a formação de sacerdotes ou para as altas funções do Estado (educação superior);  Educação severa, rigorosa, dava-se ênfase ao sacrifício e à abnegação;

Para os pensionistas do calmecac não havia noite de sono ininterrupta. Eles se levantavam nas trevas e iam oferecer, isoladamente, na montanha, incenso aos deuses e tirar sangue das orelhas e das pernas com espinhos de agave. Eram submetidos a jejuns frequentes e rigorosos. Tinham que trabalhar na terra dos templos e o ínfimo deslize era castigado com rigor. (Soustelle, p.197) Agave é um gênero de plantas suculentas da família Agavaceae, originárias sobretudo do México  Era reservada a princípio aos filhos e filhas dos dignitários, mas também recebia filhos de comerciantes (Obs.: os grão-sacerdotes eram escolhidos por meritocracia);  Vários calmecac, todos dependentes de um templo;  Mexicatl teohuatzin “vigário geral” (responsável pela administração e educação);  Autocontrole, ser duro consigo mesmo, falar bem, cumprimentar e fazer reverências, ensinava os cantos “divinos”, astrologia indígena, interpretação dos sonhos e cômputo dos anos;  As meninas desde cedo eram destinadas ao templo, seja para esperar o casamento ou para se tornarem sacerdotisas. Eram dirigidas por sacerdotisas idosas, que as doutrinavam na castidade, as colocavam para confeccionar bordados, tomar parte nos ritos e oferecer incenso às divindades várias vezes por noite;  Deus: Quetzalcoatl. (consagrá-lo)

TELPOCHCALLI  Voltada para a formação de guerreiros (“médios”, isso não impedia que indivíduos que a frequentasse alcançasse altos cargos);  Sua educação dava muito mais liberdade aos alunos e os tratava com menos dureza que a escola sacerdotal (SOUSTELLE, p.197);  Existiam várias telpochcalli espalhadas pelos bairros;  Responsáveis pela administração e educação eram funcionários laicos e não religiosos (telpochtlatoque “mestre dos rapazes” / ichpochtlatoque “mestre das moças”);  Menino: era submetido a tarefas penosas e pouco brilhantes (varrer, cortar lenha – colégio -, reparação de fossas e canais, cultivo de terras coletivas- para o serviço público). Porém, ao pôr do sol os jovens iam para “cuicacalco” casa de canto, onde dançava com outros adolescente e após meia-noite os que tivessem amantes “auianime” podia ir dormir com elas;  Toda a educação era feita de modo a preparar para a guerra;  No mês Atemoztli havia um combate simulado entre os alunos do calmecac e da telpochcalli;  Deus: Tezcatlipoca. (consagrá-lo).

O CASAMENTO, A VIDA FAMILIAR

O adolescente podia se casar a partir dos 20 anos, a média era 22, só os altos dignitários podia se casar tarde e manter relações com concubinas antes do casamento;

Era considerado assunto de família, entretanto, para um rapaz passar do celibato ao estado de casado, ser adulto, era preciso liberar-se do calmecac ou telpochcalli e obter a autorização dos mestres. Um banquete oferecido pela família permitia pedir e obter essa autorização. Mera formalidade;

Os pais dos jovens se decidiam sobre a esposa, aí consultavam os adivinhos para saber sobre os presságios que resultariam da combinação dos signos dos noivo;

Cihuatlanque: anciãs encarregadas de servir de intermediárias entre as famílias. Como se dava essa mediação:  Visitavam os pais da moça e informavam o objetivo da visita. Era costume recusar polidamente a 1ª vez,  No dia seguinte ou dias depois as matronas voltavam e tinham um parecer mais favorável, seria feito um conselho de família que daria a aprovação,  Feito o conselho e todos da família concordando, levava-se ao conhecimento dos pais do rapaz o consentimento dos genitores da moça,  Novamente se consultava os adivinhos, a fim de marcar a data das núpcias, que deveria ser sob um signo favorável,  O casamento era algo importantíssimo, desde que a família tivesse alguns meios e algumas pretensões. (Soustelle, p.202)

O casamento propriamente dito  A cerimônia se dava na casa do rapaz, ao cair da noite;  Um dia antes, fazia-se uma festança na casa da noiva, um grande almoço era servido ao meio-dia, os anciãos bebiam octli (ou pulque – é uma bebida alcoólica feita do suco fermentado do agave, consumida tradicionalmente na Mesoamérica) e as mulheres casadas traziam presentes;  À tarde a noiva tomava banho, lavava os cabelos, seus braços e pernas eram enfeitados com plumas vermelhas e o rosto pintado de amarelo-claro como tecozauitl. Sentava-se perto do fogão e recebia os cumprimentos da família do noivo;  À noite, forma-se um cortejo para conduzir a noiva até sua nova casa;

Na frente os parentes do rapaz, depois a noiva carregada por uma anciã (ou liteira, se de boa família), amigas e parentes acompanhavam em 2 filas carregando tochas.  O noivo vinha recebê-la com incensório na mão, um dava incenso ao outro em sinal de respeito mútuo, e todos entravam cantando;  O rito do casamento era realizado perto do fogão, em esteiras, lado a lado recebiam os presentes (ele: roupas masculinas e ela: uma bata e uma saia). Então os cihuatlanque amarravam a roupa de um na do outro, estavam casados, depois dividiam um prato de tamales; Tamale é um prato tradicional da culinária mesoamericana, feito de massa, uma massa normalmente feita à base de milho, que pode ser cozida a vapor, ou então fervida num invólucro, que pode ser feito de folhas de milho, de mandioca, de bananeira, de abacate.

Iam para o quarto de núpcias e lá permaneciam por 4 dias em orações sem consumar o casamento, só saiam para ascender incenso ao meio-dia e a meia-noite na quarta noite preparavam uma cama de esteiras com plumas e um pedaço de jade, símbolos das crianças que nasceriam (hipótese) e no 5º dia banhavam-se no temazcalli e um sacerdote vinha abençoá-los com água benta;

Temazcalli  Nas famílias de dignitários, a cerimônia do 5º dia era tão elaborada quanto à das núpcias, enfeites, bebidas, banquetes. Já os comuns tinham festejos mais discretos. Soustelle relata que ao que parece, isso, era um ideal e que muitos casais de namorados “comuns” se uniam secretamente;  Esse rito era feito com a mulher principal e se podia ser feito uma única vez, porém o homem poderia ter quantas concubinas quisesse, o livro relata alguns conflitos devido aos ciúmes e disputas de poder que se deram devido à poligamia;  E o texto também deixa claro que só dignitários podiam arcar com tamanha despesa e que a poligamia ajudava no crescimento demográfico e mantinha o equilíbrio por conta das guerras;  Após a morte do marido a esposa poderia se casar com um escravo e fazê-lo seu intendente ou se tornar esposa secundária de um parente do falecido.

As famílias eram patriarcais  O homem era o chefe da família;  O que não significava que a mulher era um ser menor, transmitiam a linhagem. Soustelle informa sobre mulheres que na antiguidade haviam atingido o poder supremo e que por conta do fortalecimento do poder masculino a mulher tenha se restringido ao lar.Porém, ela podia fazer negócios, confiando suas mercadorias a vendedores ambulantes ou ter profissões como: sacerdotisa, parteira e curandeira (independência);  Anciãs gozavam de maior prestígio, por conta da idade e sua opinião respeitada em todo bairro;  Esposa (20-50) do dignitário se podia dedicava a poesia, já a do homem comum trabalhava muito, seja no campo ou na cidade;  Adultério era recriminado e os adúlteros, sem exceção, tinham suas cabeças esmagadas por uma pedra, mas a mulher antes era estrangulada. Para isso, tinha que se ter testemunhas imparciais, e o marido que pegasse a mulher no flagra e a matasse, sofreria pena capital;  Divórcio = fala-se pouco, um homem podia repudiar uma mulher se essa fosse estéril ou se descuidasse de maneira afrontosa do lar, já a mulher, poderia pedir se seu marido a batesse, não lhe oferecesse o sustento ou abandonasse os filhos. Nesse caso, dividiam os bens e a mulher podia se casar novamente;  Homem casado tinha direito a uma parcela das terras pertencentes ao seu calpulli, era cidadão de pleno direito, sua consideração no bairro era medida pela sua dignidade familiar e o modo como tratava a educação de seus filhos;  A mulher que morria de parto era associada a um guerreiro morto em combate ou no sacrifício. (p.216)

A DOENÇA, A VELHICE

Medicina

As noções e práticas relativas à doença e à medicina entre os antigos mexicanos se apresentam como uma mistura inextricável (que não pode se desembaraçar) de religião, magia e ciência. (Soustelle, p.217)  Religião (por divindades enviar doenças e outras a cura),  Magia (atribuir a doença à magia negra de algum feiticeiro e por usar a magia para curá-la);  Ciência (devido ao conhecimento das propriedades das plantas ou dos minerais, o uso da sangria e dos banhos, que aproximava a medicina asteca da moderna);  Ticitl “médico” que podia ser homem ou mulher, feiticeiro, bruxo. Partiam da ideia que a invasão mágica de um corpo estranho provocava a doença;  Tonalli ou “gênio” sua boa sorte (cada dia foi associado com um animal que pode ter um aspecto forte ou fraco);  Depois de identificada a causa da doença se iniciava o tratamento, que além dos métodos terapêuticos, sempre contavam com o fumo e com o incenso;  Médicos tinham um conhecimento sobre o corpo humano, que lhes são atribuídas pelos sacrifícios;  Farmacopeia que compreendia certos minerais, carne de alguns animais e muitas plantas, o que impressionou os conquistadores espanhóis.

A velhice Quem conseguia escapar das guerras, das doenças e que chegava a uma idade “suficientemente venerável” para se incluir entre os ueuetque “anciãos”, desempenhava um importante papel na vida familiar e política. Desfrutando de seus últimos anos de maneira sossegada e honrada.  Aquele que havia prestados serviços ao exército ou ao Estado recebia casa e manutenção como aposentado;  E mesmo que fosse um simples maceualli, participava dos conselhos do bairro dando opiniões, aconselhando;  Nos banquetes e almoços familiares o ancião podia se embriagar de octli, com homens e mulheres de sua idade;  Confissão: era feita próxima da morte, já que só podia ser feita uma vez, tinha como finalidade proporcionar absolvição e subtraí-lo das ações dos tribunais, a maioria só recorria ao confessor o mais tarde possível;  O sacerdote dava penitências severas que iam de jejuns mais ou menos longos, as escarificações na língua (800 espinhos), oferendas. Uma vez cumprida a penitência o fiel não podia “ser mais punido nesta terra” e o sacerdote tinha que guardar segredo absoluto, pois fora dito para a divindade.

A MORTE E O ALÉM

Ritos funerários (praticavam dois tipos)

 Enterro (era feito com todos que tivessem a morte relacionada à água ou a chuva – afogados, raio, gotosos, leprosos, hidrópicos); → Afogados (não podia tocá-lo, pois se acreditava que auitzotl havia o arrastado para o fundo, enterrado num dos oratórios ‘ayauhcalco’);  Cremação (os demais mortos eram incinerados, terminada as cinzas eram colocadas num vaso com um pedaço de jade);

Câmara funerária dos mistecas no Monte Albán é um importante sítio arqueológico situado a cerca de dez quilômetros de Oaxaca de Juárez, estado de Oaxaca, México.

CAPÍTULO VI: A GUERRA

A guerra (yaoyotl) ocupava lugar importante nas preocupações dos Astecas, na estrutura social e na vida do Estado. Quando sagrada, a guerra era um dever cósmico. Fazendo a guerra, os homens estavam se conformando com a vontade dos deuses desde a origem do mundo.  Origem mítica da guerra = As Quatrocentas serpentes de Nuvens.

Ao lado do aspecto mítico-religioso, a guerra constituía um meio de conquista para as cidades imperialistas e, para tanto, revestia-se de noções jurídicas destinadas a justificá-la. A doutrina oficial das três cidades aliadas (México, Texcoco e Tlacopán) baseava-se numa dupla pretensão pseudo-histórica: as três dinastia sucediam de direito a dos toltecas, que dominara todo o centro do México. Por outro lado, graças à linhagem de Texcoco, descendente dos conquistadores chichimecas, elas detinham uma espécie de direito eminente sobre todo o país. Sob este ponto de vista, toda cidade independente e que assim pretendia permanecer era encarada como rebelde.

Na prática, para atacar uma cidade ou província, era necessário um casus belli. O motivo mais frequente que justificava a guerra eram:  As agressões aos pochtecas (negociantes) durante as viagens = a recusa de comerciar, a ruptura das relações de negócio eram julgadas como uma declaração de guerra.  Mas, outros casus belli eram admitidos = os conflitos também surgiam por razões políticas, isto é, porque uma cidade temia os ataques de outra e decidia lançar-se contra ela numa guerra PREVENTIVA. O soberano que convocava o conselho para fazê-lo tomar a decisão final deveria expor suas razões que lhe pareciam justificar uma expedição.

Em geral, o conflito, as operações militares propriamente ditas só começavam depois de longas e laboriosas negociações.

Na época em que a aliança das três cidades estava no auge de sua força, ela observava escrupulosamente regras complexas antes de engajar-se num conflito. A justificativa que norteia essas diligências é a de que a cidade que se pretende incorporar ao império de verta forma já lhe pertence de direito. Se ela reconhecer este direito, se aceitar inclinar-se sem resistência, então não será nem mesmo obrigada a pagar tributo; bastará um “presente”

voluntário, e o Estado mexicano nem sequer enviará um funcionário para recebê-lo. Tudo se baseará num acordo amigável.

As três cidades imperiais tinham, cada uma delas, seus embaixadores, que desempenhavam sucessivamente seu papel na série de diligências pelas quais se esforçavam por obter sem conflito a submissão da província visada.  Primeiro, os embaixadores de Tenochtitlán apresentavam-se às autoridades locais = dirigiam-se mais especialmente aos anciãos, fazendo-lhes ver as calamidades que poderiam advir de uma guerra. Os embaixadores pediam também que o soberano aceitasse em seu templo uma imagem de Uitzilopochtli em pé de igualdade com a do maior deus local e enviasse a México um presente em ouro, além de pedrarias, plumas e mantos. Então, deixavam a cidade para ir acampar em algum lugar no caminho, dando aos habitantes da província um prazo de vinte dias (um mês indígena) para tomar sua decisão.  Se, passado esse prazo, a decisão não tivesse sido tomada, ou se a cidade se recusasse a entregar, enviavam-se os embaixadores de Texcoco, que advertiam solenemente ao senhor do lugar e a seus destinatários que, se depois de um prazo de vinte, eles não se submetessem, o senhor seria punido com a morte. Do mesmo modo, os outros cavalheiros de sua casa e de sua corte seriam castigados segundo a vontade dos três chefes do Império. Depois disso, iam ter com os primeiros embaixadores para esperar que o segundo prazo expirasse.  Uma vez dada essa advertência ao senhor e a todos os nobres de sua província, se eles se submetessem nos vinte dias estipulados no prazo, eram obrigados a fazer anualmente um donativo aos três soberanos, mas de um montante moderado, e eram admitidos na graça e na amizade dos três soberanos. Mas, se o novo período de vinte dias expirasse sem que a cidade “rebelde” fosse subjulgada, uma terceira embaixada, delegada pelo rei de Tlacopán, ia dar uma última advertência.  Os embaixadores dirigiam-se com mais atenção aos guerreiros da cidade, pois eles que iriam ter de suportar os golpes e as dores da guerra. Fixavam-lhes um terceiro e último prazo de vinte dias, com a advertência de que, se persistissem em recusar, o exército imperial devastaria a província, os prisioneiros seriam levados como escravos, a cidade seria reduzida à condição de tributária. Depois, voltavam para junto das duas primeiras delegações.  Quando o último prazo de vinte dias expirava, a cidade e o império já se achavam em estado de guerra. Para começar as operações, ainda se esperava, se possível, que os adivinhos indicassem uma data favorável. Portanto, os mexicanos não só davam aos adversários todo o tempo para preparem sua defesa, como ainda lhes forneciam armas, ainda que em quantidade simbólica (ideal cavalheiresco que animava os antigos guerreiros – a luta tinha que ser igual), pois o resultado da guerra seria uma “decisão dos deuses”.

Os índios, contudo, também se utilizavam da astúcia na guerra, infiltrando em meio aos adversários agentes secretos. Essas missões eram perigosas, haja vista que, num país dividido em pequenas unidades, em que todos conheciam todos, em que as roupas, as línguas, os costumes diferiam de um lugar para outro, era difícil passa despercebido. O espião desmascarado era morto imediatamente, bem como seus cúmplices. Se, ao contrário, ele tivesse êxito na missão, recebia terras em recompensa. No combate propriamente dito, as artimanhas da guerra eram bastante empregadas (emboscadas, trincheiras escondidas, camuflagem...).

O armamento dos guerreiros mexicanos compunha-se de:  Escudo redondo = “chimalli”  Gládio de madeira = “macquauitl”  Arco = “tlauitolli”  Propulsor = “atlatl”, com os quais lançavam flechas (“mitl”), ou dardos (“tlacochtli”) Os guerreiros astecas usavam uma armadura, espécie de túnica acolchoada de algodão (“ichcahuipilli”) e capacetes mais decorativos do que eficazes, feitos de madeira, plumas e papel com ornamentos e penachos.

No início de uma batalha os guerreiros davam gritos ensurdecedores, acompanhados de instrumentos que não serviam apenas para exaltar a coragem, mas também para fazer sinais. Primeiro os arqueiros e os lançadores de dardos descarregavam seus projéteis; depois, os guerreiros armados de espadas de obsidiana e de escudos lançavam-se ao assalto, buscando capturar seus inimigos e não matá-los. Os “especialistas” seguiam os combatentes para amarrar com cordas aqueles que haviam sido derrubados.

Uma cidade era vencida, confessava-se vencida, quando o atacante conseguia penetrar até o templo e incendiar o santuário do deus tribal. Assim, a tomada do templo é a derrota do deus local, tem, então, um caráter simbólico. Não se tratava, para os astecas, de forçar o adversário a se submeter, arruinando o país ou massacrando a população, mas de tornar evidente a vontade de Uitzilopochtli. No momento em que essa vontade se tornava manifesta, a guerra perdia sua razão de ser. Aos que haviam ousado resistir ao império, isto é, a seu deus, só cabia reconhecer o erro e tentar safar-se nas condições menos desfavoráveis possíveis.

A guerra iniciava com conversações e terminava com barganha entre as partes, na base desta negociação está a noção de que o vencedor, favorito e instrumento dos deuses, tem todos os direitos. No final, vencedores e vencidos celebravam um contrato, em que se comprometiam de um lado a não aniquilar a cidade conquistada, deportar todos os seus habitantes ou massacrá-los, destruir o santuário; e de outro, ao pagamento de um tributo, ao reconhecimento da supremacia de Uitzilopochtli, logo a de Tenochtitlán, que não tenha política externa independente e que pague imposto, para poder conservar suas instituições, seus ritos, seus costumes e sua linguagem. A cidade derrotada adere à aliança, mas não é suprimida. O império não e nada mais que uma liga de cidades autônomas. Apenas um pequeno número de cidades, que, por razões particulares foram integradas à capital.

Sagrada ou política, a guerra mexicana permanece encerrada numa rede de convenções. No primeiro caso, ela pode até se reduzir a uma espécie de duelo organizado para servir aos deuses; no segundo, ela constitui uma crise, um paroxismo passageiro, destinado a permitir que os deuses se pronunciem. As campanhas podiam ser longas, devido às enormes distâncias e à ausência de meios de transporte, mas as batalhas propriamente ditas eram breves.

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