FIGUEIREDO, Filipe (2015), \"O insustentável desejo da memória. Incursões na fotografia de teatro em Portugal (1868-1974)\". Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor em Estudos Artísticos, especialidade em Estudos de Teatro.

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UNIVERSIDADE DE LISBOA Faculdade de Letras

O insustentável desejo da memória Incursões na fotografia de teatro em Portugal (1868-1974)

Filipe André Cordeiro de Figueiredo

Orientadores: Prof.ª Doutora Maria João Monteiro Brilhante Prof.ª Doutora Maria Margarida Abreu de Figueiredo Medeiros Mendes Godinho

Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor em Estudos Artísticos, especialidade em Estudos de Teatro

2015

UNIVERSIDADE DE LISBOA Faculdade de Letras

O insustentável desejo da memória Incursões na fotografia de teatro em Portugal (1868-1974) Filipe André Cordeiro de Figueiredo Orientadores: Prof.ª Doutora Maria João Monteiro Brilhante Prof.ª Doutora Maria Margarida Abreu de Figueiredo Medeiros Mendes Godinho

Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor em Estudos Artísticos, especialidade em Estudos de Teatro

Júri: Presidente: Professor Doutor José Pedro da Silva Santos Serra Vogais: - Professor Doutor Víctor Manuel Guerra dos Reis - Professora Doutora Ana Isabel Pereira Teixeira de Vasconcelos - Professor Doutor Mário Carlos Fernandes Avelar - Especialista Mestre Maria Emília Moreira Tavares Samora Baptista - Professor Doutor Fernando Jorge da Silva Guerreiro - Professora Doutora Maria João Monteiro Brilhante - Professora Doutora Maria Margarida A. de Figueiredo Medeiros Mendes Godinho Bolseiro FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia

2015

RESUMO O presente estudo tem com objecto a produção de fotografia de teatro em Portugal entre 1868, data das primeiras fotografias, em série, associadas a uma determinada peça, e 1974, que corresponde, simultaneamente, à extinção da companhia Rey Colaço-Robles Monteiro (RC-RM) e ao fim do regime do Estado Novo. Neste contexto histórico, de aproximadamente cem anos, identificam-se as mais significativas práticas da fotografia de teatro, a partir de um vasto trabalho de levantamento e de sistematização de imagens fotográficas, que se disponibiliza a fim de possibilitar uma leitura dinâmica entre texto e imagem. Com recurso a instrumentos de análise emergentes de vários campos teóricos, da história da arte, dos estudos de cultura visual e de teatro, problematiza-se a fotografia de teatro enquanto objecto teórico, procurando identificar modelos distintos da sua compreensão e a afirmação do seu espaço discursivo, tendo em conta a efemeridade do seu referente. A investigação colocou o enfoque no reconhecimento de três modelos distintos de fotografia de teatro, que articulam de forma diferenciada os seus elementos essenciais: o actor, a cena e o fotógrafo. Inicialmente, explora-se a produção de retratos

de

actor

em

personagem

nos

estúdios

dos

fotógrafos,

devido,

fundamentalmente, a questões técnicas, como exemplo das primeiras formas de evocação da cena, desde a década de 1860. Num segundo momento, o destaque é dado à realização de fotografias de cena, produzidas directamente a partir dos palcos dos teatros entre os finais do século XIX e inícios do seguinte e que encontra nas modernas revistas ilustradas um estimulante espaço de difusão que será, pelo menos em parte, responsável pela sua generalização. Finalmente, a investigação dá conta de um caso de estudo absolutamente emblemático que permite afirmar uma nova linguagem na fotografia de teatro: o vasto arquivo fotográfico da companhia RC-RM, em grande parte da responsabilidade do fotógrafo José Marques, numa colaboração quase exclusiva ao longo de mais de 25 anos. Não obstante o permanente desejo de fixar o momento efémero do evento performativo, a análise desenvolvida revela a impossibilidade das imagens fotográficas, fruto do seu dispositivo, de sustentarem essa memória. PALAVRAS-CHAVE Fotografia de Teatro – História da Fotografia em Portugal – História do Teatro – Representação – Memória

ABSTRACT The main subject of this study is theatre photography in Portugal between 1868, when the first photographic series appeared associated to a particular performance, and 1974, which corresponds both to the extinction of the Rey Colaço-Robles Monteiro’s company (RC-RM) and the end of the Estado Novo regime. In this historical context of about one hundred years, we identify the most significant theatre photography practices based on a wide survey and systematization of photographic images, thus offering readers the possibility of a dynamic reading of text and image. Using emerging analysis tools of various theoretical fields, from art history to visual culture studies or theatre studies, we discuss theatre photography as a theoretical object. Our purpose is to identify different models for its understanding and affirmation of its discursive space, taking into account the ephemerality of its referent. Research has focused on the study of the subject from the recognition of three distinct models of theatre photography that differently combine its essential elements: the actor, the scene, and the photographer. Initially, the study explores the production of “actor in character” portraits, held in photographers’ studios due fundamentally to technical reasons, as an example of the earliest forms of evocation of the theatrical scene since the 1860s. Secondly, the emphasis is put on making photographs of the scene, produced directly from theatre stages between the late nineteenth century and early twentieth century. This practice found in the modern illustrated magazines a privileged and stimulating diffusion space that will be, at least in part, responsible for its generalization. Finally, research examines an absolutely emblematic case study that allows us to argue for the emergence of a new language in theatre photography in Portugal: the huge photographic archive of the RC-RM company, which is largely the responsibility of a single author, the photographer José Marques, who served as the company’s photographer for he worked in an almost exclusive collaboration basis over more than 25 years. Despite the ongoing desire to fix the fleeting moment of a performative event, our analysis reveals the impossibility of photographic images to produce their own memory as a result of the constraints imposed by their dispositif.

KEYWORDS Theatre Photography – History of Photography in Portugal – History of Portuguese Theatre – Representation - Memory

ÍNDICE Abreviaturas ............................................................................................................... 13 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15 PARTE I - Para uma ontologia da fotografia de teatro ......................................... 33 I.1. Definição do objecto: fotografia de teatro ..................................................................... 36 I.1.1. Fotografia de cena .................................................................................................. 36 I.1.2. Retratos de Actor .................................................................................................... 38 I.2. Estado da Arte: iconografia teatral e fotografia de teatro ........................................... 40 I.2.1. Panorama da iconografia e fotografia de teatro no contexto internacional ............ 40 I.2.2. A iconografia e fotografia de teatro em Portugal ................................................... 43 I. 3. Em busca de uma teoria do objecto fotografia de teatro .............................................. 46 I.3.1. Condicionalismos ontológicos da imagem fotográfica .......................................... 46 I.3.2. Especificidades da fotografia de teatro .................................................................. 60

PARTE II - O actor e a evocação da cena - O retrato de actor em personagem entre o séc. XIX e o início do séc. XX ....................................................................... 75 II.1 A implantação de um modelo ......................................................................................... 77 II.1.1. Os actores e o retrato ............................................................................................. 77 II.1.2. Genealogia do retrato de actor em personagem .................................................... 82 II.1.3. Considerações sobre o retrato de actor em personagem ..................................... 110 II.2. Taborda e Vale: dois casos excepcionais .................................................................... 113 II.2.1. Francisco Alves da Silva Taborda (1824-1909) ................................................. 115 II.2.2. José António do Vale (1845-1912) ..................................................................... 128 II.3. A opereta adere à fotografia: Barba Azul e A Bela Helena ....................................... 141 II.3.1. A opereta chega a Lisboa: A Grã-Duquesa de Gerolstein .................................. 141 II.3.2. Barba Azul........................................................................................................... 145 II.3.3. A Bela Helena ..................................................................................................... 155 II.3.4. Algumas considerações ....................................................................................... 159

II.4. A Cª Rosas & Brasão e o seu programa fotográfico (1880-1905)............................. 161 II.4.1. A Cª Rosas & Brasão: definição de um corpus .................................................. 161 II.4.2. Os fotógrafos ....................................................................................................... 165 II.4.3. Os actores retratados ........................................................................................... 166 II.4.4. A Cª Rosas & Brasão e a fotografia .................................................................... 167 II.4.5. Das fotografias avulso à implementação de um programa fotográfico .............. 172 II.4.6. A falsa referencialidade dos fundos das fotografias ........................................... 188 II.4.7. A impossível espontaneidade .............................................................................. 190 II.4.8. Algumas considerações ....................................................................................... 191 II.5. O rosto e a pose: instrumentos privilegiados de representação ............................... 197 II.5.1. A teoria da expressão das emoções como discurso ............................................. 197 II.5.2. A teoria da expressão das emoções e o teatro em Portugal ................................ 204 II.5.3. O corpus de imagens em análise ......................................................................... 208 II.5.4. A identificação de um modelo ............................................................................ 210 II.5.5. Alguns exemplos do modelo ............................................................................... 211 II.5.6. Definindo uma tipologia de imagem ................................................................... 217 II.5.7. A dimensão teatral do retrato de expressões ....................................................... 219 II.5.8. Variações ao modelo do retrato de expressões ................................................... 222 II.5.9. Montagens fotográficas: entre a expressão e a representação ............................. 225 II.5.10. A expressão das emoções e as séries fotográficas ............................................ 228 II.5.11. Breves considerações sobre o retrato de expressões ......................................... 237 II.6. A Máscara dum actor: um objecto singular ................................................................ 239 II.6.1. Azevedo Neves, a expressão das emoções e a fotografia ................................... 239 II.6.2. A Máscara dum actor: um atlas da expressão das emoções ............................... 245 II.6.3. A Máscara dum actor e o desaparecimento do teatro ......................................... 255 II.7. A difusão do retrato do actor e o bilhete postal ilustrado ........................................ 257 II.7.1. O bilhete postal ilustrado na viragem do século XIX para o XX ....................... 258 II.7.2. O bilhete postal ilustrado em Portugal ................................................................ 259 II.7.3. Edições de bilhetes postais ilustrados e o teatro ................................................. 262 II.7.4. Os fotógrafos das fotografias dos bilhetes postais ilustrados ............................. 267 II.7.5. Os actores dos bilhetes postais ilustrados ........................................................... 269 II.7.6. Variantes cromáticas nos bilhetes postais ilustrados .......................................... 270

II.7.7. O retrato do actor noutros suportes de difusão ................................................... 271

Figuras I .................................................................................................................... 275 PARTE III - A fotografia no espaço do teatro ...................................................... 333 III.1. A luz artificial: do estúdio do fotógrafo para o palco .............................................. 335 III.2. A madrugada (1894) e o despertar da fotografia de cena ........................................ 343 III.2.1. O álbum de Eduardo Brasão e as fotografias de A madrugada ......................... 343 III.2.2. Datação das imagens.......................................................................................... 344 III.2.3. A madrugada em postal ilustrado ...................................................................... 345 III.2.4. A madrugada nas imagens do álbum de Brasão ................................................ 346 III.2.5. Considerações sobre as fotografias de A madrugada ........................................ 350 III.3 A fotografia de cena na imprensa na viragem do séc. XIX para o XX ................... 353 III.3.1. As fotografias de O Regente .............................................................................. 353 III.3.2. As revistas Ocidente, Brasil-Portugal e Ilustração Portuguesa ......................... 360 III.3.3. A fotografia de teatro nas revistas especializadas: O Palco .............................. 404 III.3.4. Considerações sobre a fotografia de cena na imprensa ..................................... 409

Figuras II .................................................................................................................. 415 PARTE IV - O fotógrafo em cena: A Cª Rey Colaço – Robles Monteiro e a fotografia ................................................................................................................... 437 IV.1. Amélia Rey Colaço e a fotografia .............................................................................. 439 IV.2. Os Livros de Registo e Repertório e a fotografia de teatro ..................................... 445 IV.2.1. A memória do teatro e a construção de um arquivo .......................................... 445 IV.2.2. Os Livros de Registo e Repertório .................................................................... 446 IV.2.3. Os Livros de Registo e Repertório e a “Documentação fotográfica” ................ 447 IV.2.4. A “Documentação fotográfica” e um discurso para as imagens ....................... 450 IV.2.5. Os fotógrafos ..................................................................................................... 454 IV.3. José Marques: o fotógrafo da companhia ................................................................. 458 IV.3.1. José Marques: breve nota sobre a vida e obra ................................................... 458

IV.3.2. O fotógrafo José Marques e um sistema de arquivo .......................................... 461 IV.3.3. Tipos de provas fotográficas de José Marques .................................................. 466 IV.3.4. As fotografias de J. Marques da Cª RC-RM ...................................................... 467 IV.3.5. As fotografias de alguns espectáculos ............................................................... 474 IV.4. Do palco do teatro como câmara escópica à visão fragmentada da cena: breves considerações sobre um novo olhar fotográfico ................................................................. 503

Figuras III ................................................................................................................. 507 Considerações finais................................................................................................. 529 Referências bibliográficas ....................................................................................... 543 Índice de Quadros (tabelas e gráficos) ................................................................... 557 Lista de Figuras ........................................................................................................ 561 Índice remissivo ........................................................................................................ 599

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