FIigurações espectrais no arquivo do escritor: arcontes, biógrafos e o drama da autoria em James e Hawthorne

June 3, 2017 | Autor: Geraldo Caffaro | Categoria: Comparative Literature, Literary Theory, Anglo-American literature
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Textos Completos do XI painel - Vertentes teóricas e ficcionais do insólito / ISBN 978-85-8199-015-6

Figurações espectrais no arquivo do escritor: arcontes, biógrafos e o drama da autoria em James e Hawthorne Geraldo Cáffaro *1

Situações envolvendo autores mortos e seus sucessores tornaram-se objeto de um número cada vez maior de escritores ao longo do século XIX. Em “The undeath of the author”, Helen Sword nos apresenta uma série de exemplos da utilização desse topos no contexto literário anglo-americano daquele século. A lista da autora inclui nomes como Robert Lowell, Mark Twain, Walter Scott e Robert Browning, os quais teriam explorado a relação entre mediunidade e autoria de forma satírica (2002, p. 34). Mas, se Sword vai em busca das ocorrências literárias do topos em questão, ela não deixa de mencionar teóricos como Harold Bloom, que adaptou o apophrades grego (dia dos mortos) para nomear o processo pelo qual o poema de um grande mestre ressurge assimilado à voz de seu sucessor. Seja como recurso literário ou ferramenta conceitual, uma espectropoética atravessa os discursos e nos aponta algumas possibilidades de trânsito entre a teoria e a literatura. Uma dessas possibilidades é a que permite articular o pensamento espectropoético derridiano a uma nuance particular da literatura descrita por Sword: refiro-me a narrativas do contexto anglo-americano do século XIX que inserem o conflito entre gerações de escritores dentro do arquivo pessoal do falecido. Os dois exemplos que gostaria de discutir são os contos: “Fragments from the journal of a solitary man”, de Nathaniel Hawthorne, e “The real right thing”, de Henry James. Como pretendo argumentar, a espectralidade nesses contos deixa de ser um atributo exclusivo do morto para se disseminar de forma inquietante por entre aqueles envolvidos com o arquivo: a esposa, o amigo/biógrafo, ou o próprio autor vivo. Essa disseminação produz nos contos situações insólitas e fenômenos ambíguos, abalando ontologias e expondo o solo instável da autoria. Embora 62 anos separem “Fragments from the journal of solitary man” (1837) de “The real right thing” (1899), esses contos têm muito em comum. Ambos têm como tema a tomada de poder do arquivo do escritor falecido por um outro. No primeiro caso, esse outro é o amigo anônimo de Oberon; já no segundo, os outros são a esposa de Ashton Doyne e seu amigo (e aspirante a escritor) George Withermore. Nos dois contos, a apropriação do arquivo do 1* Mestre em Literaturas de Expressão Inglesa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e doutorando em Literatura Comparada na mesma instituição. [email protected]

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