\"Filosofia da tecnologia\" - Peter Kroes (Tradução)

July 15, 2017 | Autor: Franco Soares | Categoria: Philosophy of Technology
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1 Filosofia da Tecnologia* PETER KROES

A filosofia da tecnologia trata da natureza da tecnologia e de seus efeitos na vida humana e na sociedade. A influência cada vez maior da tecnologia moderna sobre a existência humana despertou um crescente interesse na análise filosófica da tecnologia. Apesar disso, a filosofia da tecnologia enquanto um campo coerente de pesquisa ainda não existe. O assunto cobre estudos de quase todo ramo do pensamento em filosofia e lida com uma grande variedade de tópicos em função da falta de consenso em torno do sentido primário do termo “tecnologia”, que pode, entre outros, referir-se a uma coleção de artefatos, uma forma humana de ação, uma forma de conhecimento ou um processo social. Entre as questões mais fundamentais estão dois problemas demarcatórios relativos à definição de tecnologia. O primeiro diz respeito à distinção entre objetos tecnológicos (artificiais) e naturais. Isso envolve a relação entre homem, natureza e cultura. O segundo pertence à distinção entre ciência e tecnologia como tipos de conhecimento. O relacionamento ciência-tecnologia tornou-se algo com importância fundamental por causa da difundida suposição segundo a qual a característica distintiva da tecnologia moderna, quando comparada a formas tradicionais de tecnologia é ser baseada na ciência. Outro problema muito discutido é a autonomia da tecnologia. Ele lida com a questão se a tecnologia segue seu curso inevitável de desenvolvimento, independente de seu contexto social, político, econômico e cultural.

1 Filosofia e tecnologia A enumeração de concepções abaixo pretende dar uma impressão de quão fortemente fragmentado é o campo de estudo que responde pelo nome de filosofia da tecnologia. O que é (a essência da) tecnologia? Em estudos de antropologia filosófica, o ponto de partida para responder essa questão é o ser humano e seu lugar e relação com a natureza. O ser humano é considerado um animal defeituoso que é dependente da tecnologia para sua sobrevivência; a tecnologia se torna o substituto para as deficiências biológicas e é, portanto, determinada, em grande medida, pela natureza dessas deficiências. Para Heidegger (1977), essa caracterização da natureza da tecnologia não é suficiente; uma resposta metafísica é também exigida. Para ele, a essência da tecnologia não é que ela é os meios para algum fim: a tecnologia traz à luz aquilo que estava escondido e, por si mesmo, não se apresenta. Na concepção metafísica de Dessauer (1927), a invenção é a essência da tecnologia e são exploradas as condições ontológicas que tornam a invenção possível.

* KROES, Peter. Philosophy of Technology. In.: CRAIG, Edward. (Ed.). Routledge Encyclopedia of Philosophy. Vol. IX. New York: Routledge, 1998. Traduzido por Franco Nero Antunes Soares. Revisado por Raquel Folmer Corrêa.

2 A filosofia social da tecnologia enfatiza as relações entre (formas específicas de) tecnologia e estruturas políticas, econômicas e sociais. Ela analisa o desenvolvimento tecnológico como um processo social e avalia o problema de como controlar seu desenvolvimento. Um dos problemas chave nesse campo é se o desenvolvimento tecnológico é primariamente determinado por seu contexto (formação social [social shaping] da tecnologia), ou se a tecnologia determina o contexto social, incluindo seus sistemas de normas e valores (uma posição frequentemente atribuída a Marx). No último caso, a ideia de uma sociedade tecnocrática emerge nos casos em que a racionalidade tecnológica impõe a si mesma em todos os domínios da vida social — tecnologia como uma ideologia (HABERMAS, 1968). Estudos éticos tomam um lugar proeminente na filosofia da tecnologia. Novas possibilidades tecnológicas para a intervenção humana criam novos problemas morais. Elas exigem novos princípios éticos? Argumentos favoráveis estão fundamentados, em grande medida, na ideia de que a tecnologia moderna, baseada na ciência, é essencialmente diferente das formas iniciais da tecnologia (as artes manuais), e que seu impacto sobre o homem e a natureza é de uma ordem diferente — por exemplo, as consequências da aplicação da tecnologia moderna não estão mais limitadas espaço-temporalmente (JONAS, 1984). Outra questão nesse campo de estudo diz respeito à afirmação de que a tecnologia, em si mesma, como um sistema de meios, é eticamente neutra. Argumentos contra a tese da neutralidade tentam mostrar que a concepção de tecnologia como um mero sistema de meios é inadequada, pois seu impacto sobre a vida humana vai muito além: ela substitui o natural por um ambiente artificial. A chamada “filosofia analítica da tecnologia” (RAPP, 1974) demonstra uma forte ênfase em problemas epistemológicos e metodológicos da tecnologia, particularmente das engenharias. Esses problemas têm sido longamente negligenciados em função da difundida ideia de que a tecnologia é ciência aplicada. Uma característica específica dessa concepção é que ela toma em consideração os vários tipos e estágios da tecnologia e sua forma concreta de aparição. Tópicos centrais são a natureza do conhecimento tecnológico, a natureza do planejamento das engenharias [engineering design], planejamento metodológico [design methodology] e a relação entre ciência e tecnologia. Suas principais fontes doutrinais são, além da Filosofia, a própria tecnologia e a História da Tecnologia. 2 Tecnologia e artefatos A concepção usual de tecnologia é a de que ela é a transformação ou manipulação da natureza — os ambientes físicos (materiais) e biológicos existentes — para satisfazer necessidades e objetivos humanos. A tecnologia é, dessa forma, concebida como uma forma específica de ação proposital (teleológica), que pode resultar em um “artefato tecnológico”: um objeto ou estado de coisas feito pelo homem que preenche uma função prática ou utilitária. A própria transformação da natureza pode ou não ser mediada por artefatos, que são então chamados de ferramentas [tools].

3 Essa concepção da tecnologia levanta várias questões. Por um lado, ela parece muito restritiva, pois não se adapta a domínios considerados pertencerem à tecnologia moderna, tais como a engenharia de softwares que lidam com a transformação da algo imaterial (a informação). Por outro lado, essa concepção é muito ampla, já que ela torna qualquer objeto ou estado de coisas que satisfaz uma necessidade prática, e é o resultado de uma intervenção humana na natureza, um artefato tecnológico (por exemplo, uma árvore nativa plantada deliberadamente em certo lugar tendo em vista produzir sombra, ou um organismo com uma estrutura genética ligeiramente modificada). O problema da demarcação — que tipo de ação constitui uma ação tecnológica e que tipos de objetos ou estados de coisas são artefatos tecnológicos — permanece uma questão aberta. São problemáticas tanto a distinção entre o artificial e o tecnológico como a entre o artificial e o natural. A última faz surgir questões filosóficas fundamentais sobre a relação entre a raça humana e a natureza. Essa distinção faz sentido apenas se a raça humana é considerada não ser parte da natureza em algum aspecto. Como uma parte integral da natureza (e como resultado da evolução natural), um ser humano não pode interferir na natureza. A distinção entre o natural e o artificial é comumente considerada ser idêntica à distinção entre o espontâneo e o intencional; essas próprias noções, de qualquer modo, originam todo o tipo de problemas filosóficos. Questões parecidas surgem quando artefatos tecnológicos são caracterizados como objetos que realizam funções práticas segundo projetos humanos [human design]. Em tecnologia, um projeto é considerado um padrão ou esquema que descreve a estrutura ou modo de operação de um sistema e mostra como uma função ou objetivo prático pode ser realizado. A noção de projetos focaliza a natureza inerentemente intencional/teleológica dos artefatos tecnológicos. A característica distintiva dos artefatos tecnológicos quando comparados a objetos naturais continua, entretanto, problemática. A diferença é primeiramente genética (produção por humanos ou pela natureza), ou ela é mais fundamental, no sentido de que a atribuição de um projeto a objetos da natureza é sem sentido (como na concepção científica moderna da natureza)? Essas questões conduzem inevitavelmente a problemas da filosofia da natureza. 3 Tecnologia como conhecimento Para Aristóteles, ciência e tecnologia pertenciam a duas esferas diferentes da experiência humana (contemplação versus ação produtiva) e constituíam duas formas de conhecimento (conhecimento teórico versus conhecimento prático). Além disso, o conhecimento cientifico não era inerentemente relevante para resolver problemas tecnológicos. A tecnologia e a ciência moderna, entretanto, misturam-se de tal forma que mesmo a demarcação entre elas se tornou problemática. A tecnologia moderna é baseada na ciência (e a ciência moderna, baseada na tecnologia) e as ciências da engenharia [engineering sciences] se estabeleceram entre as ciências naturais tradicionais. A chamada “cientifização da tecnologia” é geralmente considerada a qualidade característica da tecnologia moderna que está diretamente relacionada a seu papel proeminente na sociedade. Isso dirigiu a atenção ao problema da relação entre ciência e

4 tecnologia e ao modo como a ciência tem alterado a natureza da tecnologia. De um ponto de vista cognitivo, está em questão a natureza do conhecimento tecnológico e sua relação com o conhecimento científico. Um dos modelos mais influentes para o relacionamento ciência-tecnologia tem sido o modelo tecnologia-é-ciência-aplicada. Ele acentua que a tecnologia, em contraste com as artes manuais [crafts] tradicionais, é tão carregada de teoria quanto a ciência e que ela aplica teorias cientificas a sistemas que são de uso prático. Ele considera o conhecimento tecnológico como um tipo derivado do conhecimento cientifico. Esse modelo tem sido severamente criticado. Ele é historicamente inadequado porque torna o progresso tecnológico totalmente dependente do desenvolvimento científico. De um ponto de vista cognitivo, ele é altamente problemático porque assume haver um trajeto logicamente dedutivo a partir do conhecimento científico (teorias) até projetos tecnológicos. Uma alternativa ao modelo tecnologia-é-ciência-aplicada que seja geralmente aceita está, contudo, em falta. Um forte apelo pode ser feito pela consideração do conhecimento tecnológico, com respeito ao conhecimento científico, como uma forma de conhecimento sui generis, que lida com o planejamento [design] e a produção de artefatos. Uma das considerações em favor de uma concepção como esta diz respeito ao fato de que o critério para avaliar alegações [claim] cognitivas são fundamentalmente diferentes nos dois domínios. Em sua forma mais básica, o conhecimento tecnológico é prescritivo; ele consiste em procedimentos (regras) que descrevem ações que tem de ser realizadas a fim de se alcançar fins práticos. Frequentemente, uma realização adequada dessas ações requer habilidades práticas; tais coisas também constituem uma forma de conhecimento tecnológico, que, entretanto, não podem ser expressas linguisticamente em termos de prescrições. O primeiro critério para avaliar um procedimento que visa resolver um problema tecnológico é sua efetividade: o procedimento produz o estado de coisas desejado? O segundo critério para avaliarmos a solução é seu grau de eficiência: é possível produzir o estado de coisas desejado de um modo melhor, isto é, com menor custo ou esforço? — em geral, medidas de eficiência estão baseadas em comparações quantitativas de entrada e saída de sistemas tecnológicos. Na tecnologia moderna, a noção de eficiência executa um papel dominante, e a avaliação da eficiência do artefato é frequentemente feita por meios teóricos; nesse ponto, teorias científicas sobre os princípios operativos de um artefato adquirem grande valor. Enquanto eficiência, efetividade e outros critérios, tais como durabilidade, custos, manufaturabilidade, segurança e utilidade, são noções centrais na estrutura do pensar sobre tecnologia, na ciência eles quase não desempenham uma função, pois o conhecimento científico é primeiramente descritivo e explicativo. Entre seus principais critérios avaliativos encontramos verdade, adequação empírica e poder explicativo. Essa diferença em conceitos básicos para interpretar e avaliar alegações de conhecimento suporta fortemente a ideia de que duas formas diferentes de conhecimento (e de racionalidade) estão envolvidas em ciência e tecnologia. Concepções adicionais sobre as propriedades características do conhecimento tecnológico, isto é, sobre

5 epistemologia da tecnologia, devem vir de estudos de caso detalhados (VINCENTI, 1990). 4 A dinâmica da mudança tecnológica Um tema recorrente na filosofia da tecnologia é a autonomia do desenvolvimento tecnológico em relação a sua incorporação social [social embedding]. Isso diz respeito à dinâmica da mudança tecnológica. É um tópico extremamente complexo, pois a inovação tecnológica, em seus vários estágios, desde o planejamento [design], desenvolvimento, produção e difusão, é influenciada por fatores bastante heterogêneos (cognitivos, econômicos, sociais, políticos, militares, geográficos, culturais, e assim por diante). Concepções sobre a dinâmica da mudança tecnológica tendem a mostrar princípios fortemente reducionistas ao considerar um desses fatores como o primeiro motor da mudança tecnológica. Exemplos bem conhecidos são o “determinismo tecnológico” e as “interpretações construtivistas sociais da tecnologia”. De acordo com o determinismo tecnológico, a própria tecnologia é o primeiro motor; essa concepção sustenta que a tecnologia segue seu próprio e intrínseco curso de evolução, ao qual a sociedade tem que se adaptar; ela é autodeterminada em relação ao aumento de eficiência como um de seus fundamentais princípios dinâmicos. Portanto, não há espaço para formas alternativas de tecnologia. Interpretações construtivistas sociais da tecnologia, por outro lado, defendem que a tecnologia é, em grande medida, ou mesmo completamente, determinada socialmente. Para revelarmos algumas das premissas básicas subjacentes a essas ideias, examinaremos brevemente a modelagem [shaping] de artefatos na fase do planejamento [desing]. A forma final de um artefato é esquematicamente determinada por dois tipos de condições. Por um lado, há uma lista de especificações que descrevem todos os tipos de exigências que o artefato deve satisfazer. Essa lista heterogênea pode conter, entre outras, condições derivadas da primeira função tecnológica do artefato, as condições sob as quais essa função tem de ser realizada na prática (por exemplo, regulações de segurança), as condições sob as quais os artefatos têm de ser produzidos (por exemplo, produção em massa), seu preço, padrões e normas. A característica definidora dessa lista é que ela é o resultado de um processo de negociação entre as partes interessadas no artefato; ela contém condições sociais ou contextuais que são impostas por convenção. Por outro lado, há uma lista de condições tecnológicas, condições devidas ao que é, como uma questão de fato, física e tecnicamente possível (essa lista pode mudar, é claro, durante o tempo). O artefato desejado deveria satisfazer ambas listas de condições, mas, em função de conflitos, isso não é frequentemente possível na prática. Tais conflitos podem ser resolvidos, de novo, esquematicamente, ao se adaptar a lista de especificações ou pela criação de novas possibilidades tecnológicas. De acordo com essa concepção do processo de planejamento, a força diretiva por trás da mudança tecnológica é a tensão entre duas listas de condições que são diferentes em natureza (uma descrevendo o que é desejável, a outra o que é possível) e, em princípio, diferentes uma da outra. Defensores da autonomia da tecnologia rejeitam essa independência; eles assumem que a lista de

6 especificações é determinada primariamente pelas condições tecnológicas (“o que pode ser feito, será feito”). As decisões que conduzem à lista de especificações são supostas prescritas por imperativos tecnológicos (racionalidade tecnológica). Construtivistas sociais, por sua vez, tendem a negar qualquer diferença em natureza entre os dois tipos de condições: eles assumem que condições físicas e tecnológicas são socialmente construídas de maneiras similares às condições contidas na lista de especificações. Essas premissas podem ser criticadas a partir de bases filosóficas, mas muito mais importante para a avaliação dessas concepções é que a questão da autonomia da tecnologia não deve ser estabelecida apenas por argumentos filosóficos. Modelos para a dinâmica da mudança tecnológica (com suas suposições filosóficas subjacentes) devem provas seu valor na pesquisa empírica, particularmente na história da tecnologia. Falando de modo geral, um “giro histórico-empírico” na filosofia da tecnologia pode provar ser proveitoso para o desenvolvimento mais adequado de esquemas conceituais para se interpretar a tecnologia e seu desenvolvimento. Referências e sugestões de leitura A lista seguinte contém obras de níveis gerais e mais avançados sobre filosofia da tecnologia. Bijker, W. E., Hughes, T. P. and Pinch, T. J. (eds) (1989) The Social Construction of Technological Systems, Cambridge, MA: MIT Press.(Contêm contribuições que interpretam a tecnologia de ponto de vista do construtivismo social. Ver §4.) Dessauer, F. (1927) Philosophie der Technik (Philosophy of Technology), Bonn: Cohen.(Análises metafísicas da invenção como a atividade central da tecnologia. Ver §1.) Habermas, J. (1968) Technik und Wissenschaft als ‘Ideologie’(Technology and Science as ‘Ideology’), Frankfurt: Suhrkamp. (Análise do caráter ideológico da ciência e tecnologia. Ver §1.) Heidegger, M. (1977) The Question Concerning Technology and other Essays, trans. W. Lovitt, New York: Harper & Row. (Geralmente considerada como a mais marcante análise metafísica da tecnologia. Ver §1.) Jonas, H. (1984) The Imperative of Responsibility: In Search of an Ethics for the Technological Age, Chicago, IL: University of Chicago Press. (Argumenta que a tecnologia moderna requer uma nova ética baseada na noção de responsabilidade. Ver §1.) Philosophy and Technology (1983-93) Society for Philosophy of Technology, 10 vols. (Publicação official da Sociedade para a Filosofia da Tecnologia; os volumes 6 e 7 discutem várias interpretações e concepções na filosofia da tecnologia.) Rapp, F. (ed.) (1974) Contributions to a Philosophy of Technology, Dordrecht: Reidel. (Essa antologia marca o início da filosofia analítica da tecnologia e aborda principalmente questões metodológicas e epistemológicas. Ver §1.) Research in Philosophy and Technology (1978-93) Greenwich, CT: JAI Press, vols 1-13. (Por um longo tempo, a única publicação regular na área; seu conteúdo ilustra a diversidade de aproximações e de tópicos relacionados à

7 filosofia da tecnologia. Vários volumes contêm uma bibliografia extensa sobre vários tópicos da filosofia da tecnologia.) Staudenmaier, J. M. (1985) Technology’s Storytellers, Cambridge, MA: MIT Press. (Contém uma discussão extensiva das tentativas feitas por historiadores e filósofos da ciência e tecnologia de analisar o relacionamento entre ciência e tecnologia e o debate do determinismo tecnológico. Ver §5.) Vincenti, W. G. (1990) What Engineers Know and How They Know It: Analytical Studies from Aeronautical History, Baltimore, MD: Johns Hopkins University Press. (Contém estudos detalhados sobre a natureza do conhecimento tecnológico e seu uso e produção por engenheiros. Ver §3.)

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