FILOSOFIA E REVELAÇÃO EM NICOLAS BERDIAEV

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FILOSOFIA E REVELAÇÃO EM NICOLAS BERDIAEV

Ramon Maia*

Resumo: Neste ensaio, pretendemos mostrar as relações entre filosofia e Revelação no pensamento religioso de Nicolas Berdiaev. O pensamento religioso russo floresce nos albores no século XX em meio aos preparativos para a Grande Guerra e às ebulições da Revolução de Outubro. Berdiaev se insere nesta tradição de pensamento se autodenominando filósofo. O que ele compreende como filosofia dista bastante do que a tradição acadêmica compreende como tal, principalmente, após Kant e Hegel. A filosofia, assim entendida, é uma abertura para o a obscuridade do ser, para a vida original. Se o filósofo crê em uma revelação religiosa, sua filosofia será alimentada por ela. Desse modo, sua filosofia não perderá a liberdade, embora jamais possuirá autonomia e autossuficiência, pois será sempre tributária de sua raízes na vida original, na existência pré-categorial e no ser. O pensamento religioso de Berdiaev, enquanto filosofia, possui seus traços marcadamente russos: sua dimensão escatológica, apocalíptica, messiânica. Além disso, abrindo-se à Revelação, pode-se dizer, este pensamento ou filosofia procura se afastar de variadas modalidade de racionalismo ingênuo e vulgar na medida em que se dispõe ao respeito à verdade do mistério. Palavras-chave: filosofia; revelação; Berdiaev

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Doutorando em Teologia [email protected]

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Teologia)

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O presente ensaio se situa entre os campos da história das ideias e da epistemologia teológica. Nosso objetivo principal consiste em determinar o que seja o pensamento religioso russo a partir das elaborações teóricas de Nicolas Berdiaev (Kiev, 1874 – Clamart, 1948) Berdiaev se autodenominava filósofo. Devemos, contudo, compreender tal nomeação no contexto do aparecimento de seus trabalho na aurora no século XX na Rússia, em meio às ebulições da Revolução de Outubro e aos preparativos para a Grande Guerra. O pensamento religioso russo se viu desafiado pelas urgências do momento, tanto em relação à voga ocidentalista liberal e utilitarista quanto ao radicalismo revolucionário. Não menos importantes são os impulsos apocalípticos populares, tradicionais na Rússia por séculos, opositores ao hierarquismo cesáreo da Ortodoxia. Tais impulsos se farão ecoar, de modo bastante contundente, no pensamento de Berdiaev. Este contexto intelectual do início do século XX russo é conhecido como renascimento cultural. Somente no início do século XX que os frutos do pensamento russo do século XIX foram apreciados e que as conclusões foram tiradas. Mas a problemática, em direção ao início do século XX, se enriqueceu bastante e outros elementos e tendências aí apareceram. Houve, então, na Rússia um verdadeiro renascimento cultural. Somente os que testemunharam este tempo sabiam que elã formidável se produziu, que sopro de espírito preencheu as almas. A Rússia conheceu uma renovação da poesia e da filosofia, intensas buscas religiosas, um interesse novo pela mística e o ocultismo. (BERDIAEV, 1969, p. 227, 228)

Berdiaev foi exilado pelas mãos de Lênin em 1922 e se instalou primeiro em Berlim e, depois, em Paris, onde ficou até o fim de sua vida. O teólogo ortodoxo Paul Evdokimov ressalta o caráter solitário, pessoal e livre de sua trajetória e seu pensamento. Por essas características, Berdiaev ultrapassaria todas classificações facilitadoras, demonstrando a dificuldade de enquadrar seu tipo de reflexão em determinada tendência ou variante. Desconhecido pelos filósofos do ramo, criticado pelos teólogos de escola, dava-se a ele o título de ‘pensador’ simplesmente, título vago e por isso largamente pejorativo. Ora, sua genialidade não precisa ser provada. Bastante conhecido sobretudo no mundo anglo-saxão, ele suscitou um grande interesse, prova disto são uma série de teses doutorais sobre sua filosofia. (EVDOKIMOV, 2011, p. 161)

Importa dizer, o que Berdiaev compreende por filosofia dista em muito daquilo que a tradição filosófica acadêmica, especialmente após Kant e Hegel, toma por tal. “Não há em mim o que se chama geralmente reflexão, raciocínio discursivo, dedutivo.” (BERDIAEV, 1992, p.276) O pensador russo rejeita os elos sistemáticos e lógicos no texto, bem como o desenvolvimento argumentativo no seu interior. Sobre a maneira de escrever, pensar e filosofar de Berdiaev, Laurent Gagnebin afirma que ela é, “para o leitor desprevenido, muito desconcertante.” Ela pode repelir o leitor definitivamente ou “o conduzir a um tipo de 2

contrassenso perpétuo”. (GAGNEBIN, 1994) p. 10) Se falta-lhe ao pensamento a unidade lógica é porque pretende ser o mais fiel possível à existência. As contradições que se revelam na filosofia são aquelas que nascem da luta espiritual; elas são inerentes à própria existência e não se deixam dissimular sob uma aparente unidade lógica. A verdadeira unidade do pensamento, aliás, inseparável da unidade da pessoa, é uma unidade existencial e não lógica. Ora, a existência é contraditória. (BERDIAEFF, 1946, p. 6)

Para Berdiaev, o trágico destino interior da filosofia se mostrou, ao longo dos séculos, na oposição entre ato cognitivo e ser. Para ele, tal questão sempre fora secundária. “Não é ‘alguém’ ou ‘alguma coisa’ que conhece o ser enquanto objeto oposto, mas sim é o ser mesmo que se conhece a si mesmo”. (BERDIAEV, 2010, p. 11) Considerando que a existência seja contraditória, neste seu itinerário pelo mundo, o ser, por meio do seu conhecimento, “se ilumina e cresce”. (BERDIAEV, 2010, p. 11) O ser é anterior à distinção sujeito e objeto, anterior às formulações categoriais; ele não é senão a vida original, “precedendo toda racionalização”, encontrando-se ainda em estado de obscuridade. (BERDIAEV, 2010, p. 11) O sujeito cognoscente e o ato cognitivo não se opõem ao ser, pois estão mergulhados na vida original, há uma relação interior entre eles. O conhecimento é um ato que se desenvolve no interior da vida. Sujeitando-se à ciência e à religião, a filosofia, segundo Berdiaev perde sua independência. Se assim proceder, a filosofia pretenderá se tornar autônoma em relação à vida. Ainda que as aquisições científicas e a religião possam fecundar a reflexão filosófica, elas não podem figurar com autoridade exterior. Mais propriamente, tanto a submissão da filosofia a alguma força externa quanto o movimento em direção à sua plena independência podem implicar em sua cisão com a vida original, com a existência. (BERDIAEV, 2010, p. 12) Berdiaev afirma que se o filósofo crê em uma revelação religiosa, é impossível que sua filosofia não seja alimentada por ela. Entretanto, “esta revelação não deve ser uma autoridade exterior para seu conhecimento filosófico, mas sim um fato interior, uma experiência que lhe é imanente.” (BERDIAEV, 2010, p. 12) A filosofia, ela mesma, não é uma revelação, senão, “a livre ação cognitiva do homem”. Nela, está implicada a liberdade humana. A revelação, por sua vez, está relacionada com esta liberdade cognitiva. Se o filósofo é cristão, quer dizer, se ele crê em Cristo, ele não deve necessariamente conformar sua filosofia à teologia ortodoxa, católica ou protestante, mas ele pode adquirir a sabedoria de Cristo que diferenciará seu conhecimento daquele que não o possui. A revelação não pode impor à filosofia teorias e especulações ideológicas,

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mas conferir a ela fatos e uma experiência que enriquecerão o conhecimento. (BERDIAEV, 2010, p. 13)

A possibilidade da filosofia está ligada ao fato de sua liberdade, pondera Berdiaev. Diante da verdade, ela não pode admitir muros ou barreiras. Isso não significa que ela seja autônoma, que ela seja uma esfera isolada autossuficiente. Para Berdiaev, a ideia de liberdade não pode ser identificada com a ideia de autonomia que, por sua vez, pressupõe um isolamento aos fatos da vida, aos eventos, ao curso dos acontecimentos, à existência do sujeito cognoscente. A filosofia: é uma iniciação ao mistério do ser, ao mistério da vida, ela é uma luz irradiado desde o ser e no interior do ser. Ela não pode criar o próprio ser, o conceito, como o desejava Hegel. A revelação religiosa significa que o ser se entreabre ao sujeito cognoscente. Como este poderia permanecer cego e surdo a este fato e afirmar a autonomia filosófica ao encontro daquele que lhe foi revelado? (BERDIAEV, 2010, p. 13)

Chegamos ao tema da teandricidade. Para Berdiaev, “a revelação não saberia ser, como efeito, unilateralmente divina”. (BERDIAEFF, 1954, p. 47) Quando se fala em revelação, não se trata de um raio exterior abatendo o homem em completa passividade. O fato de a revelação ter se dado, se desenvolver através do homem significa que ela depende do meio humano. Nele, o homem nunca está passivo. Sua atividade no interior do domínio da revelação depende de seu grau de consciência, da tensão de sua vontade, bem como do grau de seu desenvolvimento espiritual. Ela pressupõe minha liberdade, meu ato de eleição, minha fé em uma coisa ainda imperceptível aos meus sentidos, mas que não exerce em mim nenhum constrangimento. (BERDIAEFF, 1954, p. 49)

Embora a revelação cristã não seja uma verdade de ordem intelectual, nada impede, segundo Berdiaev, uma atividade humana desta natureza para assimilá-la. Isto porque “a Revelação, como a Verdade, pressupõe uma atividade do homem total.” (BERDIAEFF, 1954, p. 50) Enquanto desvelamento que, ao mesmo tempo, se vela, a Revelação presume o consentimento humano. Afinal, “o homem sempre, com efeito, se mostrou ativo na aceitação da revelação, bem como na sua exegese.” (BERDIAEFF, 1954, p. 51) Para Laurent Gagnebin, este é um ponto crucial no pensamento de Berdiaev, pois demarca a fronteira entre teologia e pensamento religioso. Para o crítico de Berdiaev, a teologia é tributária de uma instituição e, portanto, de um cristianismo histórico. Por outro lado: a filosofia religiosa, inspirada, esclarecida por uma experiência espiritual de fé, marcha livremente em direção ao conhecimento para o qual a Revelação é de ordem existencial interior e não externa e institucional. (GAGNEBIN, 1994, p. 30)

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Berdiaev afirma que a verdade supõe o Sol, supõe o Logos. Dostoiévski, numa carta a Natalia Dmitrievna Fonvisin, de fim de janeiro e início de fevereiro de 1854, pontua, de modo categórico que “se alguém pudesse me provar que o Cristo está fora da verdade, se a verdade realmente excluísse o Cristo, eu preferiria estar com o Cristo e não com a verdade.” (DOSTOIÉVSKI, 2011, p. 78) Para Berdiaev, Dostoiévski, com efeito, está sacrificando a verdade moribunda do intelecto em estado de passividade em nome “da verdade viva da integralidade do espírito” (BERDIAEV, 1955, p. 66) Cabe à filosofia, portanto, um ato heroico, um ato de se lançar em direção à verdade, a fim de que o conhecimento se torne um conhecimento pela criação e pela arte, ou seja, um conhecimento ativo. “A filosofia não é um sonho, - mas ato”. (BERDIAEV, 1955, p. 67) Seu elemento é a liberdade, pois luta para fazer com que o espírito humano se desvencilhe da escravidão e da necessidade. (BERDIAEV, 1955, p. 51) Seu interior sempre esteve envolvido com o combate contra a necessidade e a obrigação exteriores, Assim, seu olhar específico e sua visada sempre foram transcendentes.(BERDIAEV, 1955, p. 52) O ato criador do espírito humano consagra sua libertação no interior da filosofia. E é este ato criador que faz da filosofia uma arte, arte particular, diferente em seu princípio da poesia ou da música, mas que supõe também um dom vindo do alto – a arte do conhecimento. A personalidade do criador se imprime totalmente nela, não menos do que aquela do músico ou do pintor. A filosofia cria ideias substanciais, e não imagens; e pela criação livre de ideias, ela se opõe aos dados do mundo e da necessidade, e ela penetra no interior de uma essência nova. (BERDIAEV, 1955, p. 53)

Para Berdiaev, a passividade não pode ser aceita pela consciência filosófica. Mais que vitória sobre a necessidade, tal consciência deve apontar para a transformação do mundo. Esta “filosofia do futuro”, se assim podemos dizer, busca forjar a natureza criadora do conhecimento. A própria filosofia sabe, segundo Berdiaev, que sua natureza é a da revolução espiritual. “O ato criador mais lúcido comporta este elã em direção a uma outra essência, em direção a outro mundo, em direção ao segredo criador.” (BERDIAEV, 1955, p. 64) Desse modo, o problema do conhecimento da verdade fica situado entre a questão da obediência do intelecto e a questão da atividade e da criação do espírito. No primeiro caso, o espírito, segundo Berdiaev, deverá abandonar suas prerrogativas e o que temos é uma aparência de verdade. Quanto ao segundo, devemos nos perguntar por nossa resposta à sentença evangélica “Eu sou a verdade”. Neste caso, “a Verdade não é o que é, o que é dado com sendo, como necessário. Ela não é um forro, uma repetição do ser no interior do

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conhecimento.” (BERDIAEV, 1955, p. 65, 66) A verdade, com efeito, está relacionada com um conteúdo, com um sentido relacionado à existência. A verdade: é significação e não pode negar a significação. Negar o sentido do mundo equivale a negar a verdade, por conseguinte, a só reconhecer as trevas. A verdade nos faz livres. Negar a liberdade equivale a negar a verdade. (BERDIAEV, 1955, p. 66)

A filosofia, assim entendida, enquanto, pensamento religioso, não tem como tarefa a descoberta de Deus, o estabelecimento das provas de Sua existência ou uma investida sobre os dogmas da fé. Ao contrário, “ela é a descoberta do homem, mas do homem enquanto parte do Logos”. (BERDIAEV, 1955, p. 74). Isso significa que suas fontes não são livrescas ou escolares, mas “o ser mesmo, a intuição do ser.” (BERDIAEV, 1955, p. 75) O ser é uma “seiva vital”. Uma filosofia da criação é uma filosofia da liberdade, pois é feita por aqueles que acreditam que, pelo ato criador, podem se libertar dos limites do mundo. Esta filosofia não é “acadêmica, estatista, burguesa.” O filósofo, segundo Berdiaev, não deve servir o Estado, partidos políticos, academia ou fins profissionais. “Eu falo aqui da filosofia enquanto ato criador e não filosofia, sistema adaptável”. (BERDIAEV, 1955, p. 75) Podemos dizer, dessa forma, que Berdiaev era uma existencialista, mas não porque sua filosofia contenha temas e problemas relacionados ao tédio ou ao absurdo da existência. Ele é um “existencialista no sentido de Santo Agostinho”, pois é a vida original nela mesma, em sua relação com a Revelação que o importa. (EVDOKIMOV, 2011, p. 162) Desse modo, cabe-nos mencionar, finalmente, o último aspecto, fundamental, do pensamento religioso de Berdiaev: seu caráter propriamente russo. Primeiramente, a dimensão escatológica marca todo pensamento russo e o orienta assim largamente em direção a uma filosofia da história, cujo lugar privilegiado que ocupa na obra de Berdiaeff é percebido. (GAGNEBIN, 1994, p. 196)

O pensamento russo, segundo, Berdiaev, é orientando, especificamente, ao problema do fim, ao mito do final e não das origens. Ele possui um pendor apocalíptico. E, nisto, há uma “simetria existente entre esta consciência messiânica da Rússia e aquela do povo judeu”. (GAGNEBIN, 1994, p. 196). O apocaliptismo e o messianismo russos são marcados por um nomadismo espiritual, por uma errância e uma peregrinação que transmite ao espírito o sentimento de insatisfação, marcando fortemente o pensamento de Berdiaev. Todos os buscadores de Deus possuíam habitualmente seu próprio sistema de salvação para o mundo e se devotam a ele de corpo e alma. Todos julgavam o mundo no qual cada um estava condenado a viver, mau e ateu e procurando um outro mundo, uma outra vida. Sua atitude diante do mundo, diante da história e da civilização contemporânea era escatológica. Este mundo termina e começa um

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mundo novo. A sede espiritual era imensa e tão característica do povo russo. Tais eram os peregrinos russos. (BERDIAEV, 1969, p. 207)

Berdiaev, em suma, na filosofia enquanto pensamento religioso, procura se afastar de variadas modalidades de racionalismo vulgar e ingênuo. Assim se comportando, sua obra se abre a uma dimensão de verdade que não saberia se enquadrar em fórmulas, códigos, regularidades, recorrências ou leis. Mais propriamente, acolhendo o paradoxo e aceitando ser nomeado “pensador” ele parece se colocar na disposição para o respeito pelo mistério. Tratase, portanto, de dar entrada num terreno em que a especulação filosófica culmina no silêncio ou que a reflexão se transforma em experiência espiritual, pois para além da filosofia “se encontra o transcendente mistério divino onde toda contradição se apaga, onde reina a inefável luz divina. É a esfera do conhecimento apofático.”(BERDIAEV, 1992, p. 365) Mas aqui começa outra história, a história da renovação gradual de um homem, da história do seu paulatino renascimento, da passagem progressiva de um mundo a outro, do conhecimento de uma realidade nova, até então totalmente desconhecida. Isto poderia ser o tema de um novo relato – mas este está concluído. (DOSTOIÉVSKI, 2009 p. 561)

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REFERÊNCIAS

BERDIAEFF, Nicolas. De l’esclavage et de la liberté de l’homme. Trad. S. Jankelevitch. Paris: Aubier, 1946. ______. Verité et révélation. Trad. Alexandre Constatin. Paris: Delachux et Niestlé, 1954. BERDIAEV, Nicolas. De la destination de l’homme. Trad. I. P e H. M. Paris: L”Age de d’Homme, 2010. ______.Essai d’autobiographie spirituelle. Trad. E. Belenson. Paris: Buchet/Chastel, 1992. ______.L’idée russe. Trad. H. Arjakovsky. Paris: Mame, 1969. ______. Le sens de création. Trad. Julien Cain. Paris: Desclée de Brower, 1955. DOSTOIÉVSKI, Fiodor. Correspondências (1838 – 1880). Trad. Robertson Frizero. Porto Alegre: 8Inverso, 2011. ______. Crime e castigo. Trad. Paulo Bezzera. 6ª ed. São Paulo: 34, 2009. EVDOKIMOV, Paul. Le Christ dans la pensée russe. Paris: Cerf, 2011. GAGNEBIN, Laurent. Nicolas Berdiaeff ou de la destination crétrice de l’homme. Paris: L’Age d”Homme, 1994.

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