Fluxos Migratórios na Era Globalizada

May 26, 2017 | Autor: Rubens Correa | Categoria: Geopolítica, Historia Contemporánea
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FLUXOS MIGRATÓRIOS NA ERA GLOBALIZADA

As grandes imigrações humanas são fenômenos que ocorrem desde tempos mais longínquos, contudo, com o processo de globalização os fenômenos migratórios ganharam outros contornos diferenciando-se, portanto, dos períodos anteriores.
A globalização corresponde a um processo histórico de desenvolvimento do capitalismo verificado desde o fim da 2ª. Guerra Mundial (1939-1945) baseado na intensa internacionalização da economia provocando uma grande interdependência entre os países tendo por eixo os centros geo-econômicos mundiais.
Tal processo é acelerado a partir de fins do século XX com a derrocada do comunismo europeu, a derrubada do Muro de Berlim (1989) e a extinção da URSS (1991). Desde então a hegemonia capitalista via EUA impôs um discurso unilateral voltado para a supremacia do mercado, do consumismo e das relações burguesas de produção e trabalho.
A reestruturação da lógica capitalista de produção e distribuição de riquezas correspondente ao que chamamos de globalização e pós-modernidade provocou grande impacto nas populações que se encontram fora do eixo central dos países capitalistas, exercendo forte atração e apelo por meio da oferta de melhores condições de trabalho, de renda, de vida e de consumo.
Com isso os movimentos migratórios ganharam nova complexidade não só de diversos grupos sociais foram afetados pela nova ordem capitalista, como também, porque sua maneira de ser percebida foi deslocada.
Ao lado dos enormes contingentes humanos afetados por guerras, ditaduras, desastres naturais etc, fatores históricos de expulsão populacional, na Era Global surgem os contingentes dos "indesejados", expulsos de seus locais de origem e renegados pelas localidades que adotaram, midiatizados pelas redes sociais, pela televisão, pela cultura do out-door.
Para melhor clarear a questão recorremos a Z. Bauman (1998) que para tipificar as condições dos migrantes transnacionais da Era Globalizada lança mão da metáfora dos "vagabundos" em contraste com os "turistas":
"Os vagabundos" são os migrantes indesejados, trabalhadores temporários e sem-direitos trabalhistas e civis, em conflito com a lei dos países adotados pela condição de ilegal ou refugiado; "os turistas" são os outros, aqueles que consumem, que trazem dinheiro para a municipalidade, que desfilam sua cultura pelas ruas da cidade. Eis o padrão de estratificação social da pós-modernidade, fator intrínseco aos fluxos migratórios na Era Global. (BAUMAN, 1998, p. 5)
Os movimentos migratórios transnacionais no processo da globalização são heterogêneos, mas, de forma geral, podem ser caracterizados, como de duas ordens: econômico e social, de um lado e, por outro, político (subdesenvolvimento tecnológico e científico, fatores bélicos e de insegurança, além dos enormes desequilíbrios entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos).
Na lógica dos Estados "acolhedores", os imigrantes são despesas sociais que, contrariando, pois, o discurso neoliberal relativamente ao Estado é sempre no sentido de gastar o menos possível. Por outro lado, por mais que o discurso dos Direitos Humanos tenha se estabelecido ainda persistem as ações de intolerância contra os imigrantes, sobretudo, nos países centrais do capitalismo.
Se, na Era Global, o papel do Estado foi reduzido à condição de "mínimo" em relação aos imigrantes, contudo, continua tendo função decisiva exercendo um filtro sobre populações imigrantes selecionando os "desejados" com base em elementos étnicos, culturais, econômicos, civilizacionais.
Por outro lado, a economia global tende a valorizar os empregos relacionados às novas tecnologias e ao mercado de capitais, normalmente destinados aos nativos dos próprios países centrais.
Os empregos pouco valorizados, como secretárias, faxineiros, funcionários de manutenção, babás, garçons, etc, são o "nicho" de atração sobre os imigrantes, em geral, pouco qualificados, com baixo nível educacional e técnico.
Por fim, compreender os fluxos migratórios nos tempos da globalização exige esforço de compreensão dos papéis de vários atores envolvidos; os Estados-nações, as sociedades locais desenvolvidas, a condição humana dos próprios imigrantes, os defensores dos Direitos Humanos em confronto com os defensores dos Direitos do Cidadão, etc.
Referências:
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1998.
SOUZA, Edu Morais de & SIQUEIRA, Holgonsi Soares Gonçalves. A problemática das políticas imigratórias em tempos de globalização. 35º Encontro Anual da ANPOCS - GT 22- Migrações Internacionais: Interações entre Estados, Poderes e Agentes. 2011.



Texto apresentado por ocasião da Mesa-Redonda "Direitos Humanos e Processos Migratórios Internacionais". IFSP campus Birigui, 07.06.2016.
BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1998, p. 5.



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