For the lulz: Como o humor é utilizado como forma de ciberativismo por páginas de coletivos Anonymous no Brasil

June 20, 2017 | Autor: L. Ribeiro Rodrigues | Categoria: Anonymous, Cyberactivism, Pragmaticism, Semiotica, Lulz, Ciberativismo
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For the lulz:[1]
Como o humor é utilizado como forma de ciberativismo por páginas de
coletivos Anonymous no Brasil.



Resumo


Uma das mais importantes potencialidades da Web 2.0 é permitir a difusão de
ideias em comum, unindo pessoas que defendam as mesmas causas, consilidando
o ciberativismo nos últimos anos. No Brasil um dos maiores exemplos foram
os movimentos de junho de 2013, que ainda ressoam pela Internet e faz com
que grupos ativistas tentem novas formas de mobilização tão efeitvas quanto
a do ano anterior. O objetivo desta pesquisa é analisar as publicações que
possuam tons de humor (baseados no princípio do lulz, característico dos
coletivos Anonymous mundialmente), realizadas no site de rede social
Facebook próximo a jogos do Brasil na Copa do Mundo, a partir de quatro fan
pages dos anons: AnonymousBrasil, Anonymous Brasil, AnonymousBr e Anonymous
Rio.

Palavras-chave

Anonymous; ciberativismo; pragmaticismo; redes sociais; lulz.

Introdução
O presente trabalho traz resultados iniciais da pesquisa de mestrado
da autora - esta que é uma continuação da monografia, produzida no ano
anterior e tratava do uso de redes sociais pelos coletivos Anonymous no
Brasil no período das manifestações de junho de 2013. Diante dos resultados
obtidos, surgiram novas questões que podem ser respondidas analisando
processos de mobilização no ano de 2014, com a realização da Copa do Mundo
no Brasil, observando os mesmos grupos que haviam sido objeto da pesquisa
anterior.
Um excerto deste trabalho se encontra neste artigo, o qual focará nas
publicações que apelam para o lulz[2]- que, a priori seria um ato de humor,
sem qualquer cunho político por trás dele. Porém, este recurso é usado
pelos coletivos como forma de mobilização, para atingir o maior número de
pessoas com uma das formas que mais se popularizam nos sites de redes
sociais: através de posts engraçados, irônicos ou sarcásticos.
Diferente do difundido pela imprensa tradicional, atualmente o
Anonymous não é uma organização una, integrada e homogênea (por isso a
menção a "coletivos Anonymous"). Apesar de o primeiro grupo ter surgido de
forma coesa, praticando atos em jogos infantis just for the lulz, a guinada
para um viés político conduziu para um racha interno no movimento
internacional: os favoráveis ao lulz criaram outros grupos (alguns deles
existem até hoje, como por exemplo o LulzSecBrasil) e os demais continuaram
a se denominarem Anonymous e instauraram o seu mote: "We are Anonymous. We
are legion. We do not forgive. We do not forget. Expect us".[3]
Mesmo admitindo suas diferenças (que muitas vezes chegam a extremos,
como grupos que possuem características políticas de direita e outros de
extrema esquerda), os anons se definem todos com a mesma identidade. Isso
se deve a um de seus lemas: Anonymous é uma ideia, e a partir do momento em
que você se identifica com ela, não importam as diferenças existentes entre
seu viés político e o de outro grupo, ambos são anons da mesma forma.


Anonymous no Brasil: ativismo e humor
O Anonymous se destaca no Brasil após o sucesso da #OpPayBack[4].
Porém, em pouco tempo, divergências envolvendo os grupos nacionais também
causaram rupturas entre as duas faces encontradas no país: a vertente
hacktivista, mais pragmática, que buscava resultados imediatos através de
ações e operações, e consequentemente, alcançar maior visibilidade; a
segunda é formada por hackers de uma linha mais educativa, que pretendia
conscientizar a população acerca dos problemas políticos e sociais. Neste
também se encontram os membros não-hackers, já que esta postura não exige
grande conhecimento técnico de informática.
A coexistência entre estes dois grandes grupos acontece até o final de
2011, quando ocorre um desentendimento no canal de conversa instantânea
IRC, decretando a ruptura entre essas duas vertentes, e ao mesmo tempo,
resultando em um declínio das ações do Anonymous, que viria a perdurar até
2013.
O ponto de virada para uma nova ascensão dos coletivos no Brasil
acontece com os protestos de junho de 2013. Apesar de não serem
preconizados pelos grupos hackers, eles ganham destaque neste período pela
sua ação nos sites de redes sociais.
O estudo dos grafos gerados no período destas manifestações, realizado
pelos pesquisadores Sérgio Amadeu da Silveira e Tiago Pimentel (online,
2013) mostra que quatro grupos Anonymous alcançaram uma posição de destaque
neste período: AnonymousBrasil[5], Anonymous Brasil[6], AnonymousBr[7] e
Anonymous Rio[8]. Todos estes ocuparam posição de autoridade ou posição de
hub.
Sobre o conceito de autoridade, este está diretamente relacionado com
a reputação que determinado ator da rede (no caso, o coletivo) possui
perante os demais. Acerca da reputação no ambiente virtual, Recuero (2009)
diz:
A reputação, portanto, é aqui compreendida como a
percepção construída de alguém pelos demais atores e,
portanto, implica três elementos: o 'eu' e o 'outro e a
relação entre ambos. O conceito de reputação implica
diretamente no fato de que há informações sobre quem somos
e o que pesamos, que auxiliam outros a construir, por sua
vez, suas impressões sobre nós. (RECUERO, 2009, p.109)


Assim, esse conceito construído sobre o 'outro', seja pessoa física,
seja entidade, empresa ou coletivo influencia diretamente no conceito
subsequente - o de autoridade.
A autoridade refere-se ao poder de influência de um nó na
rede social. Não é a simples posição do nó na rede, ou
mesmo a avaliação de sua centralidade ou visibilidade. É
uma medida de efetiva influência de um ator com relação à
sua rede, juntamente com a percepção dos demais atores da
reputação dele. Autoridade, portanto, compreende também
reputação, mas não se resume a ela. Autoridade é uma
medida de influência, da qual se depreende a reputação.
(RECUERO, 2009, p. 113)


Com essas duas posições de destaque no Facebook, os grupos Anonymous
mostraram um fortalecimento do coletivo, como já apontado em trabalho
anterior (AUTOR SUPRIMIDO, 2014). Porém, isto aconteceu diante de um
cenário de mobilizações por todo o país, o que não necessariamente
resultaria numa manutenção desta posição favorável aos anons. Diante deste
cenário, surge a importância de analisar como estes grupos tentarão manter
suas posições de autoridade, e quais elementos irão utilizar para atingir
seu fim. Este trabalho irá analisar um deles: o humor.
A Internet "nasceu na encruzilhada insólita entre Ciência, a
investigação militar e a cultura libertária" (CASTELLS, 2003, p. 34). Pelas
suas características de surgimento e suas potencialidades inerentes, não
era inesperado que movimentos de contracultura encontrassem seu espaço
nesse ambiente - e que ocorra expressões diversas de suas lutas neste meio.
O lulz, forma característica de humor utilizada pelos anons, não serve
somente para levar os usuários a gargalhadas. Seus posts fogem de um
discurso enfadonho, sisudo, que afastaria justamente o público jovem,
engajado, dinâmico. Este tipo de usuário convive com um meio que pode
oferecer informações, mobilizar, suscitar indignações e questionamentos sem
necessariamente apelar para um efeito ranzinza, como a imprensa tradicional
já faz.
É uma alternativa para criar uma linguagem própria, para trazer à
discussão mais do que apenas ideais de mudanças sociais, mas também
alternativas comunicacionais. "The lulz provides 'a release valve,' as one
participant explained, a valve that makes the hard and sometimes depressing
work of political engagement more bearable" (COLEMAN, s/d, p.5). Afinal, se
o intuito é quebrar as regras, que o ponto de partida seja chamar a atenção
das pessoas, fugindo do ativismo comum e extremamente sério realizado por
outros grupos. Este é um dos primeiros passos que diferencia o Anonymous de
outros movimentos sociais, colocando-o em destaque.


Análise
Serão analisadas as publicações realizadas pelos coletivos
AnonymousBrasil, Anonymous Brasil, AnonymousBR e Anonymous Rio. A amostra é
composta por publicações realizadas no mês de julho, na véspera de jogos do
Brasil na Copa do Mundo, no dia dos jogos e dia posterior, a fim de buscar
mobilizações ou conscientizações, já que os grupos pretendiam justamente
confrontar o que julgavam um "patriotismo cego" com os jogos da seleção
brasileira, além de convocar para os protestos de rua. Sendo assim, os dias
selecionados correspondem aos dias 03, 04, 05, 07, 08, 09, 11, 12 e 13 de
julho. Para que entrem na análise, os posts terão que ser compostos de algo
que remeta ao lulz.
A pesquisa será feita através do pragmaticismo e da semiótica de
Charles S. Peirce (1931-1958), considerando as definições das categorias e
suas relações: primeiridade (da ordem do sensível, da mera possibilidade,
das potencialidades), secundidade (existência do real, da ordem do objeto)
e terceridade (as inferências lógicas, do pensamento). Utilizando essas
duas metodologias, seria possível realizar uma pesquisa mais completa, e
que pudesse realmente se aproximar da lógica subjacente aos processos
comunicacionais que se busca compreender (PIMENTA, 2007A, 2007B, 2013).
Assim, as publicações serão analisadas de acordo com os aspectos
técnicos (relação do signo com ele mesmo), a relação dos signos
apresentados com os objetos aos quais se referem e, por último, a relação
dos signos com as mentes interpretantes envolvidas no processo
comunicacional - a partir do ponto de vista dos anons, com a linguagem
utilizada em suas publicações e do usuário, com a análise de seus
comentários.


Aspectos técnicos
Uma característica em comum encontrada nas publicações de todos os
coletivos analisados diz respeito à escolha dos códigos utilizados em seus
posts: a maioria é formada por imagem e um curto texto autoral.
As imagens seguem o padrão de memes[9]: imagem já previamente
estabelecida através da popularização delas no Facebok, utilizados pelos
usuários em contextos diversos. Eles podem ser encontrados disponíveis em
sites geradores de memes, por terem se consagrado nesse ambiente. A mudança
se deve ao texto que acompanha a imagem - e esta determina a situação ao
qual o recurso se aplica.
Através das características técnicas do Facebook, este tipo de imagem
se espalha rapidamente, pela sua fácil assimilação, e por suas
características já consolidadas anteriormente (por exemplo, a maioria dos
memes que utilizam a imagem do "Willy Wonka sorridente" começa com frases
como "que louco seria se...", "Imagina se...", "então você me diz que...",
ou seja, caso queira utilizar dentro deste contexto, o usuário escolhe esta
imagem, apenas acrescentando o texto que deseja). São constituídos de
frases curtas, diretas, simples, e em sua maioria, dotadas de ironia,
sarcasmo e humor de fácil compreensão, sobre assuntos que estão em voga.
Não há publicações com audiovisuais, devido à dificuldade de produzi-
los em tempo hábil para que viralizem como conteúdo atual. São poucas as
informações puramente textuais, cuja dinâmica não se encaixa no formato de
meme, como, por exemplo, formulação de enquetes e perguntas para que os
membros respondam. Uma segunda forma de se utilizar apenas este tipo de
conteúdo aparece em publicações rápidas, como por exemplo, uma frase de
deboche sobre o jogo Brasil x Alemanha.
Outro ponto característico dos aspectos técnicos e dos códigos usados
é a constante utilização de marca d'água nas imagens. Esta foi encontrada
apenas na página AnonymousBrasil. Distinguir cada imagem como pertencente
ao Anonymous define traços de identidade. Ainda que o usuário decida não
compartilhar, e sim salvar para publicar em seu perfil, para não vincular
sua imagem ao do coletivo, ela ainda virá com um signo que a marca como
pertencente, idealizada, criada pelos anons.
Pontualmente em outras páginas (Anonymous Rio, Anonymous Brasil e
AnonymousBr) aparecem imagens encontradas nos meios tradicionais de
imprensa ou charges, artes gráficas, etc.. Porém, aparecem com menos
frequência do que os memes em todos os coletivos.


Relações entre signo e objeto
Deve-se estabelecer aqui uma distinção: há duas referências diferentes
a objetos reais - aqueles que a imagem referencia diretamente por
semelhança, como no caso de imagens do Neymar, presidente Dilma, Galvão,
Ronaldo, Willy Wonka, entre tantos outros, no caso dos memes; e o objeto
indignação pelos gastos com a Copa do Mundo e a prioridade da utilização
dos recursos para um evento esportivo e não para obras de infraestrutura
para a população brasileira.
O que se pode encontrar na maioria das publicações em todos os
coletivos é uma subversão das relações de semelhança por relações
simbólicas, convencionadas. Esta é mais nítida nos memes. Nela se retira a
imagem de seu contexto original e o texto que a acompanha a subverte,
fazendo desta união um conteúdo de lulz, de humor. Por exemplo, utilizar
fotos da presidente Dilma e o texto atribuir falas criadas pelos anons,
modificando a compreensão sobre o objeto - esta é a intenção desde o
princípio.
Porém, por convenção, as imagens dos memes estão associadas a
determinados contextos, como dito anteriormente. Quando você quer
confrontar a opinião de uma pessoa, utilizando outros argumentos ou ironia,
normalmente se utiliza a imagem do Willy Wonka. Caso esteja mencionando ou
ironizando uma situação que irá começar ("que os jogos comecem", "que a
zoeira comece"), utiliza-se outro personagem, e assim sucessivamente. O
usuário sabe, por esta convenção, que quando ele for utilizado,
provavelmente será dentro do mesmo contexto definido previamente. Outras
vezes são utilizadas montagens de fatos que não ocorreram, apenas para
criar o efeito de humor.
Poucas imagens que dialogam com o tema da Copa necessariamente se
referem diretamente a este evento. Os recursos textuais, em contrapartida,
são os que retomam o objeto sobre o qual querem referenciar.
Esta subversão não se encontra somente na imagem. Ao utilizar de
ironia e sarcasmo nos textos autorais, há também essa presença. O
significado real é subvertido por estes recursos de linguagem existentes no
contexto do post. Assim, um visitante desavisado que não saiba o estilo dos
anons poderá compreender apenas o significado "real" daquelas frases e,
portanto, ocorrer uma falha no processo comunicacional.
Deve-se ressaltar que este recurso de linguagem é encontrado nas
publicações de todos os coletivos analisados, porém, com diferenças em seus
recursos. No AnonymousBrasil e AnonymousBr eles são encontrados em maior
grau nas publicações autorais. Já nas páginas Anonymous Brasil e Anonymous
Rio a ironia está presente nas imagens ou na primeira frase e o restante do
conteúdo se mantém sem subversão.


Efeitos nas mentes envolvidas no processo
A análise deste ponto está relacionada com a forma como o Anonymous se
comunica com os usuários e vice-versa. Isso pode ser visto na utilização de
textos autorais (ou seja, aqueles produzidos pelos anons e que acompanham
as publicações) e na resposta do público (através dos comentários que
postam).
Este é o tópico no qual há a maior distinção entre os quatro
coletivos. Sobre os textos autorais, o AnonymousBrasil tem uma oscilação
muito brusca em seu padrão. Até o dia da lesão de Neymar na costela, no dia
04 de julho, a página volta o seu lulz textual para críticas a base de
ironia e sarcasmo. Após este dia, os textos tornam-se apenas mero escracho
da seleção brasileira, potencializados pela derrota para a Alemanha no jogo
seguinte, em 08 de julho.
Já a página Anonymous Brasil mantém um padrão de lulz apenas nas
imagens, tornando seu texto informativo acerca do tema apresentado pelo
recurso gráfico. Assim, o humor na publicação serve como forma de chamar
atenção para o conteúdo informativo. Diferente do encontrado em 2013 (AUTOR
SUPRIMIDO, 2014), esta página torna sua linguagem mais comedida, excluindo
o tom exaltado que havia anteriormente, seu padrão consolidado.
Sobre a página AnonymousBr, esta muda seu perfil de lulz ao longo dos
dias analisados. Até a lesão de Neymar, as publicações são voltadas para um
humor crítico atrelado a textos que conscientizam o usuário que tem acesso
ao conteúdo. Porém, este dia marca a mudança para um humor de deboche
quanto à seleção brasileira e o tema Copa do Mundo. Se anteriormente era
possível visualizar conteúdos sobre diversos assuntos, a partir deste dia
há uma concentração de posts sobre os jogos.
Por último, a página Anonymous Rio possui poucos conteúdos autorais
voltados para o lulz, deixando que este esteja implícito na imagem
publicada, tornando o conteúdo autoral mais sério, sem o uso do humor.
Analisando a interação do usuário, e, portanto, os comentários
realizados pelo público, nota-se também diferenças profundas entre os
quatro coletivos. Na página do AnonymousBrasil há um tom crítico do usuário
acerca do grupo, repetindo frases encontradas já nas análises do ano
anterior, remetendo a perda de foco e de ideais. Isso se torna mais
expressivo com o excesso de publicações realizadas após a derrota do Brasil
para a Alemanha, no qual o lulz voltou-se para a situação da Seleção
Brasileira, e não mais para problemas sociais. Outro ponto de crítica é
pelos anons comentarem os jogos, já que anteriormente defendiam que estes
não deveriam ser assistidos pelos cidadãos que se importassem politicamente
com o Brasil. Deve-se ressaltar que tanto críticas quanto comentários de
apoio são feitos com tom moderado.
Antes dessa mudança de postura, a maioria dos comentários dos usuários
são respostas feitas com memes, a maioria irônica e sarcástica, mostrando a
presença do lulz também na atitude do público que acompanha o conteúdo dos
anons.
O público que interage nas publicações do Anonymous Brasil tem como
característica principal um tom exaltado em seu discurso, muitas vezes
formado por palavras de baixo calão. Apesar de a análise mostrar que o
grupo diminuiu a incidência de textos inflamados, comparado com o ano
anterior (AUTOR SUPRIMIDO, 2014), o perfil do usuário que segue as
publicações da página se mantém: pessoas com uma imagem ruim sobre o Brasil
e sobre brasileiros, com comentários inflamados e sem críticas a postura
dos anons.
Já o perfil do usuário que comenta nos posts do AnonymousBr são
críticos sociais moderados, que utilizam um tom sóbrio em seus discursos.
Também são usuários que gostam de trazer amigos de sua rede para curtirem a
página, já que tradicionalmente os marcam para olharem as publicações.
Também há críticos em relação à página, relatando falta de foco diante do
excesso de publicações falando sobre fatos ocorridos nos jogos do Brasil
durante a Copa do Mundo. Esses usuários também possuem o hábito de
comentarem publicações com lulz com outros memes relacionados com o tema.
Por último, o público que comenta nas publicações do Anonymous Rio é
extremamente sóbrio, seus comentários são sem presença de memes, seguindo a
linha crítica dos textos autorais que acompanham as imagens.

Conclusão
Estes são resultados preliminares acerca das ações dos coletivos
Anonymous no Brasil durante o período da Copa do Mundo no mês de julho.
Apesar de se tratar de esforços iniciais, já trazem resultados
interessantes sobre o perfil dos grupos e dos usuários que se identificam
com cada um deles.
O humor mostra-se como um importante instrumento de mobilização. Se
comparado com publicações normais, ele consegue um engajamento muito maior
do que de publicações informativas. Ela é mais atrativa para o perfil do
público que se identifica com o Anonymous. Apesar de críticas sobre a falta
de seriedade em alguns grupos no período da Copa do Mundo, a maioria dos
usuários que comentam apoia os ideais e essa nova vertente.
Outro ponto interessante é a preferência por conteúdo formado por
imagens, fazendo com que os posts apenas textuais se tornem obsoletos, sem
atratividade, tediosos. O modelo de memes parece mais adequado para que os
anons tragam o usuário para suas páginas - o que não necessariamente
implicaria em criar uma consciência crítica acerca dos temas tratados. Em
um paradigma informacional, o humor apenas por humor não acrescenta e não
inova nada no cenário ciberativista.
Porém, o conteúdo não pode ser formado apenas de lulz. Os resultados
mais positivos dentro do que os anons esperam (apoio e conscientização
política) advém das publicações que unem conteúdo de imagem com humor e
texto informativo
Este ponto torna-se evidente com publicações apenas engraçadas, mas
que não necessariamente tragam alguma crítica que faça o usuário refletir
(principalmente pela maioria ser acerca de deboches sobre os jogos, e não
sobre as consequências sociais que a realização da Copa do Mundo trouxe,
diferente do que difundiam anteriormente). Com isso, as páginas conseguem
uma taxa relativamente alta de engajamento, mas que não necessariamente
leve às mudanças sociais e de hábitos de pensamento que os anons dizem
querer promover. Caso continuem com essa postura, é provável que alimentem
mais ainda a desaprovação de quem os critica, como uma página que quer se
promover, mas não necessariamente seguir os ideais que divulga.
A importância dada para os comentários e deboches acerca dos
resultados dos jogos gera um questionamento: se aquele grupo era
radicalmente contra a Copa do Mundo, e incentivava que seus seguidores não
assistissem aos jogos, é coerente que durante as partidas sejam feitos
comentários sobre estes? Este é um caso que merecerá uma análise mais
aprofundada posteriormente.
Apesar da necessidade de análises mais aprofundadas, percebem-se
padrões bem consolidados de características do lulz deste coletivo
específico, bem como se ele alcança ou não os objetivos propostos pelo o
que o Anonymous declarou serem seus ideais. Alguns coletivos avançaram
bastante, em comparação com o ano passado acerca de seus objetivos
comunicacionais (como Anonymous Brasil e AnonymousBrasil), mas ainda
necessitam avançar mais, compreendendo a dinamicidade dos processos
comunicacionais encontrados no ambiente de sites de redes sociais.

REFERÊNCIAS
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e Sociedade. Tradução de Rita Espanha. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2003.


COLEMAN, Gabriela. Anonymous: From the lulz to collective action.
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FERREIRA, Jairo (Org.). Cenários, Teorias e Heranças do Campo Acadêmico da
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RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.
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_________.Memes e dinâmicas sociais em Weblogs: informação, capital social
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http://seer.ufrgs.br/intexto/article/view/4265/4427> Acesso 03 jul 2012


AUTOR SUPRIMIDO. "Expect us": uma análise de como o Anonymous no Brasil
ganhou força a partir dos protestos de junho de 2013. Monografia de
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Fora, Juiz de Fora, 2014.


AUTOR SUPRIMIDO; PIMENTA, Francisco José Paoliello. Ativismo nas redes
sociais: uma análise preliminar da participação do AnonymousBrasil durante
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SILVEIRA, Sério Amadeu da, PIMENTEL, Tiago. Cartografia de espaços
híbridos: as manifestações de junho de 2013. Disponível em: <
http://interagentes.net/2013/07/11/cartografia-de-espacos-hibridos-as-
manifestacoes-de-junho-de-2013/>. Acesso em: 13 jul. 2013






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[1] Trabalho apresentado no VII Congresso de Estudantes de Pós-Graduação
em Comunicação, na categoria pós-graduação. UFRJ, Rio de Janeiro, 15 a 17
de outubro de 2014.
[2] Expressão americana que caracteriza ações feitas pelo simples prazer de
realizar alguma ação engraçada, cômica, irônica, etc. Lulz é uma forma
diferenciada da expressão lol (laugh out loud, tradução: rindo em voz
alta). I DID it for the lulz. Disponível em:
Acesso em: 04 out.
2013.
[3] Os membros brasileiros traduzem esse mote como: "Nós somos Anonymous.
Nós somos a legião. Nós não perdoamos. Nós não esquecemos. Nos esperem".
[4] Operação de retaliação ao bloqueio das companhias de cartão de crédito
e bancos as contas do Wikileaks em 2010. Foi caracterizada por ataques DDoS
nos servidores dos sites dessas empresas.
[5] ANONYMOUSBRASIL. Disponível em: <
https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil?fref=ts>. Acesso em: 16 jul. 2014.
[6] ANONYMOUS Brasil. Disponível em: <
https://www.facebook.com/AnonBRNews?fref=ts>. Acesso em: 16 jul. 2014.
[7] ANONYMOUSBR. Disponível em: <
https://www.facebook.com/AnonimosBR?fref=ts>. Acesso em: 16 jul. 2014.
[8] ANONYMOUS Rio. Disponível em: <
https://www.facebook.com/anonymousrio?fref=ts>. Acesso em: 16 jul. 2014.
[9] Termo criado por Richard Dawkins em 1976, derivado da comparação da
evolução cultural com a evolução genética. O meme seria o "gene" da
cultura, que seria perpetuado através das pessoas, através de difusão de
informação. Assim, haveria um "aprendizado cultural" por imitação.
(RECUERO, 2006)

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