Forças Especiais, Ações Indiretas e Confrontos Assimétricos.

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FORÇAS ESPECIAIS, AÇÕES INDIRETAS E CONFRONTOS ASSIMÉTRICOS


Conceitos e emprego nos conflitos assimétricos contemporâneos, no âmbito
das forças armadas dos EUA





Christian Vianna de Azevedo [1]





Resumo

O aumento de ocorrências de conflitos assimétricos têm levado os EUA a
adaptar constantemente o emprego de suas forças armadas para fazerem frente
a este novo ambiente operacional. Esta transformação e adaptação no emprego
de suas forças armadas vêm se notabilizando no campo das chamadas ações
indiretas, executadas por meio de suas forças especiais. O emprego de
forças especiais potencializa a flexibilização do ambiente operacional,
pois sua característica de baixa visibilidade operacional mantém as tensões
rotineiras entre nações ou grupos aquém da iminência de um conflito armado
em larga escala. Desta maneira, se convertem em forças amplamente
utilizadas pelos EUA, e, consequentemente, auxilia na manutenção de sua
influência global.

Palavras-chave: Operações Especiais. Forças Especiais. Ações Indiretas.
Conflitos Assimétricos. Política Externa.



Belo Horizonte

2013


1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS


A temática abordada neste artigo está relacionada ao emprego de
forças especiais, por meio de ações indiretas, pelo aparato militar
norte-americano em situações de confrontos assimétricos. Ações estas que
subsidiam o processo decisório na política externa dos EUA, vez que,
para a manutenção de sua hegemonia global, e seu status de principal
potência militar do planeta, esta nação, há pelo menos meio século, têm-
se utilizado vastamente dos bons frutos colhidos no emprego de forças
especiais no exterior.


Os resultados positivos obtidos pelas forças especiais, em ações
indiretas em conflitos ditos assimétricos, produzem vantagens
estratégicas no embate entre as nações, seja nutrindo seus serviços de
inteligência com informações não obtidas pelos meios diplomáticos e
investigativos usuais, seja poupando custosas operações militares cujo
objetivo, ocasionalmente, é realizável por uma força especial de
contingente militar infinitamente menor, a uma fração do custo de
emprego de forças regulares.


2. FORÇAS ESPECIAIS. CONCEITO.


Para entendermos a relação entre forças especiais, ações indiretas
e confrontos assimétricos, abordaremos os conceitos que envolvem estes
termos. Para compreender o que é uma força especial, primeiramente
devemos conceituar a natureza das operações a que elas se incumbem, ou
seja, as operações especiais.


A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) define operações
especiais como as "atividades militares conduzidas por forças
especialmente designadas, organizadas, treinadas e equipadas, que
utilizam técnicas operacionais e modos de ação não habituais para as
forças convencionais" (OTAN, Glossário de termos e definições, 2008).


Denecé (2007) simplifica o conceito, acrescentando que a operação
especial é um conjunto de ações levadas a termo por um pequeno
contingente, empregado de forma reservada, por períodos longos ou
curtos, em busca de resultados estratégicos a serem obtidos em ambiente
hostil.


O USSOCOM (United States Special Operations Command), que é o
Comando de Operações Especiais dos EUA, edita regularmente a Joint
Publication (JP) 3-05 Joint Special Operations (2011).[2]


Esta publicação traz em seu bojo o que a doutrina norte-americana
assim define como operações especiais:


Operações especiais diferem de operações convencionais no
grau do risco físico e político, bem como técnicas
operacionais, modos de emprego, dependência de
inteligência operacional detalhada, e recursos locais.
Operações especiais são conduzidas em quaisquer ambientes,
contudo, particularmente destinadas a ambientes de acesso
negado e politicamente sensíveis. As operações especiais
podem ser dimensionadas para alcançar não somente
objetivos militares por meio de emprego de forças
especiais, que prescindem do enorme aparato logístico das
forças convencionais, mas também para amparar a aplicação
dos instrumentos diplomáticos, informacionais e econômicos
de poder nacional. [3]


As forças especiais se distinguem das forças convencionais
principalmente na origem de seu recrutamento, pois as forças especiais
selecionam cuidadosamente o seu recurso humano e o treina muito além das
aptidões militares básicas que são recomendadas para as forças
convencionais. Por isso as forças especiais, que por doutrina são
empregadas em pequenas equipes, são capazes de operar de forma flexível
em cenários ambíguos e em constante mutação. [4]


Neste sentido, Denecé (2007) informa que, além de elevado grau de
rusticidade, os recrutadores interessam-se pelos candidatos que
demonstrem as seguintes qualidades psicológicas: autonomia, aptidão para
o trabalho em equipe, capacidade de raciocinar e decidir em ambiente
excessivamente estressante, adaptabilidade e autodisciplina.


Lamb e Tucker (2007) acrescentam que os integrantes de forças
especiais têm de possuir sofisticação política, desejo incomum de
vencer, habilidade em utilizar meios não ortodoxos, dominar o uso de
equipamento não convencional, e dispor de informações de inteligência de
alta qualidade; para assim se tornar um "guerreiro-diplomata" com
habilidades multiculturais, linguísticas e políticas para bem
desempenhar suas funções.


As forças especiais norte-americanas são organizadas, treinadas e
equipadas para o cumprimento de onze atividades principais, quais sejam:
ação direta, reconhecimento especial, contra-proliferação de armas de
destruição em massa, contraterrorismo, guerra não convencional, defesa
interna estrangeira, assistência a força de segurança, contra
insurgência, operações de informação, operações militares de apoio
informacional, e operações de assuntos civis. [5]


Atualmente, no entendimento de Denecé (2007), apenas três nações
(EUA, Reino Unido e França) acumularam experiência suficiente neste tipo
de ação a ponto de disporem de forças capazes de bem executar operações
especiais de forma autônoma, dispondo dos instrumentos indispensáveis
para sua condução, quais sejam: informação, transmissão, transporte e
logística.


A constituição de uma unidade de forças especiais de bom
desempenho é uma empresa de longa duração, que depende de
condições específicas. Um Estado só pode dispor de
unidades especiais de qualidade se lhes conceder meios
suficientes e zelar sempre por sua modernização regular
(DENECÉ, 2007).


Uma característica das operações conduzidas pelas forças
especiais é que elas são de baixa visibilidade ou clandestinas; podem
ser conduzidas de maneira independente ou em conjunção com operações de
forças convencionais ou outras agências do governo, ou mesmo com países
anfitriões ou países parceiros, e podem incluir operações com forças
locais, insurgentes ou irregulares. Algo que se destaca na utilização de
ditas forças é que seus resultados são consistentemente desproporcionais
ao diminuto tamanho das unidades empregadas. [6]


Como destacam Lamb e Tucker (2007), as forças especiais têm duas
formas de agir, de maneira independente, ou como suporte às forças
convencionais; neste, seu valor estratégico está diretamente relacionado
a quão dependente das forças especiais estarão as forças convencionais
para o sucesso de sua operação militar.


A utilização de forças especiais auxilia na flexibilização do
ambiente operacional, onde sua característica de baixa visibilidade
operacional mantém as tensões rotineiras entre nações ou grupos aquém da
iminência de um conflito armado em larga escala. Por esta razão, seus
préstimos são amplamente utilizados pelos EUA, e, consequentemente,
auxilia na manutenção da influência global norte-americana.[7]


No propósito de servirem aos desígnios de seus governos, as forças
especiais constantemente agem à margem das leis vigentes, sejam elas
leis internacionais ou leis do país para onde se destinam; cumprem suas
missões na maior discrição possível, evitando a identificação da nação
agressora. O modus operandi destas forças as permitem "mobilizar meios
obscuros e insidiosos, estranhos a qualquer legislação internacional, o
que organismos oficiais não poderiam fazer sem provocar imediatamente
gravíssimos conflitos". Este espectro conceitual permite que um governo
determine a estas forças o cumprimento de missões que são inteiramente
concebidas e orientadas por este, visando colaborar com sua política
externa, e, independentemente do resultado da operação, caso seja do seu
interesse, este governo pode simplesmente ignorar oficialmente ou
repudiar a ação (DENECÉ, 2007).


3. AÇÕES DIRETAS VERSUS AÇÕES INDIRETAS.


Conforme a doutrina militar norte-americana e sua publicação JP 3-
05, as operações especiais são divididas em ações diretas e indiretas.
As ações diretas são aquelas em que se enfrenta o oponente em um
engajamento pontual. O JP 3-05 elenca as seguintes atividades como ação
direta: ação direta, reconhecimento especial, contra-proliferação de
armas de destruição em massa, contraterrorismo e operações de
informação; as ações indiretas são aquelas em que se organiza, treina,
apoia e influencia forças estrangeiras, estas ações indiretas, segundo a
mencionada doutrina militar , tem com rol o que se segue: guerra não
convencional, defesa interna estrangeira, assistência a força de
segurança, operações militares de apoio informacional, e operações de
assuntos civis.


Uma das principais diferenças entre os dois tipos de ação está no
grau de controle sobre o resultado. As ações diretas possibilitam um
maior controle das variáveis existentes em dada situação, pois seu
planejamento e execução estão inteiramente nas mãos do comando das
forças; pois, caso a operação requeira uma sincronia justa e demande uma
execução complexa, tornar-se-ia, possivelmente, comprometedor para o
sucesso da missão, o emprego de forças locais não habituadas com suas
técnicas e táticas (LAMB; TUCKER, 2007).


Por outro lado, o emprego em ação direta significa que o sucesso ou
fracasso da missão será creditado primariamente à nacionalidade do país
que a utilizou. Se vantajoso ou não, dependerá da situação política do
contexto. Às vezes é preferível atribuir o crédito a outrem, mesmo que
se tenha investido tanto no sucesso de uma missão.


As ações indiretas são aquelas em que, por exemplo, a força
especial se propõe a treinar e aconselhar uma força local seja ela força
militar ou insurgente; para apoiar ou inviabilizar um governo; ao mesmo
tempo cooptar membros da população local para servirem como coletores de
informações que, após analisadas e tratadas sejam disponibilizadas para
o serviço de inteligência do país interventor; com o fim de servir de
subsídio para os interesses do país interventor naquela nação.


Esta abordagem é sintetizada por McRaven (2012)[8] no âmbito de um
contexto operacional que se baseia no entendimento do ambiente. Obtêm-
se esta compreensão através do conhecimento e experiências angariadas
nas relações pessoais desenvolvidas nas localidades visitadas múltiplas
vezes ao longo de um determinado período. Estas visitas permitem
conhecer a cultura local, a sociedade, idioma, economia, história,
política e lideranças, bem como o conhecimento físico do terreno e o
próprio oponente. Por meio do aprofundamento nas relações vislumbra-se o
entendimento de sutilezas mais recônditas do tecido social, como suas
crenças, valores e motivações. Esta profundidade contextual permite à
força especial ser mais precisa na coleta, análise e disseminação da
informação, possibilitando uma ação mais eficaz, maximizando os efeitos
programados e minimizando as consequências indesejadas.


Uma aproximação indireta, por isso despersonalizada, pode, por
exemplo, ser a melhor ação para lidar com uma ameaça pequena, antes que
ela se potencialize. Em muitos casos, quando as forças de ação direta
lideram uma missão de apoio a um governo estrangeiro, sua ostensividade
pode minar a legitimidade deste governo que se busca ajudar (LAMB;
TUCKER, 2007).


A aproximação indireta também contempla o fortalecimento das
instituições da nação anfitriã, ao prover assistência às suas agências
humanitárias e engajamento de populações-chave. Estes são esforços de
longo prazo, que possibilitam o incremento da capacidade de parceria, ao
atender as demandas locais e fomentar ideias que desestimulem o apelo ao
extremismo, objetivando estabilização e o advento de um estado de
direito (MCRAVEN, 2012)[9].


Ao valorizar os esforços das lideranças locais, edificando
confiança entre as partes, adentrando assim no campo do terreno humano e
suas formas de associação, organização e meios tradicionais de
mobilização, a força especial estará se utilizando de uma ferramenta
poderosa, definida por Fred Renzi (2007)[10] como Inteligência
Etnográfica. Segundo este autor, os EUA precisam atentar para o poder da
inteligência etnográfica para combater as redes e operar preventivamente
em ações de contra-insurgência.


Ao nos depararmos com formas de organização social alheias ao mundo
ocidental civilizado, como clãs, tribos, movimentos, sociedades
secretas, o sistema hawala, e outras tantas, encaramos algo que escapa à
nossa compreensão; adicionalmente, por estas sociedades não se
comportarem conforme nosso modelo mental, elas se tornam invisíveis aos
nossos olhos e mentes. Como nos esclarece Renzi (2007)[11], estas formas
de organização social, por se apresentarem a nós de maneira diversa da
que conhecemos, são por isso ignoradas e difíceis de serem percebidas,
monitoradas e mapeadas sem uma atenção seletiva e treinamento adequado.


Estas formas distintas de organização social constituem, na
atualidade, o espectro mais comumente apto a desencadear e propagar
conflitos assimétricos.


4. CONFLITOS ASSIMÉTRICOS.


Na atualidade, as ocorrências de guerras convencionais tendem a ser
menos frequentes. A forma de guerrear que hoje predomina nos conflitos
bélicos são os confrontos assimétricos.


Reynolds (2012)[12] afirma que desde a segunda grande guerra houve
44 confrontos entre estados; em contraposição, no mesmo período, houve
372 conflitos assimétricos. De forma que estes são os que,
provavelmente, ameaçarão a segurança e os interesses dos EUA ao redor do
planeta nos anos vindouros.


Os conflitos assimétricos são melhor entendidos como a exploração
das fraquezas do oponente por estratégias diversas, inclusive não
militares, com o intuito de erodir o poder do oponente, minar sua
influência e desconstruir sua autoridade política. O confronto
assimétrico está presente no modus operandi do terrorismo, da guerrilha,
da insurgência, e em todos os conflitos entre estados e atores não
estatais, pois a assimetria permite que uma força militarmente mais
fraca, desde que estrategicamente bem preparada para um enfrentamento
não regular, sobrepuje seu oponente, uma vez bem adestrada nas práticas
de guerra não convencional.


Reynolds (2012)[13] afirma que, estes atores não estatais, por meio
de suas organizações decentralizadas, são mais eficientes em
distribuição de recursos, e altamente eficazes e ágeis em se utilizarem
do poder de sua vantagem informacional, obtida ao combinar elementos
políticos e criminais para influenciar a população e percolar
eficazmente seu tecido social.


A maior falha de uma força convencional como opção deterrente ou
preventiva é que esta enfrentará um adversário que luta
assimetricamente, atacando as vulnerabilidades de seu poderoso oponente,
justamente onde ele é falho e frágil. Ou como simplifica o mencionado
autor: "Esta é a estratégia defensiva de Mao na era da informação".


Quando a guerrilha engaja um inimigo mais forte, ela recua
quando ele avança; ela o perturba quando ele para; ela o
ataca quando ele está cansado; o persegue quando ele se
retira; Na estratégia guerrilheira, os flancos, retaguarda
e outros pontos vulneráveis são seus pontos vitais, onde
ele deve ser perturbado, atacado, dispersado, exaurido e
aniquilado. (Mao, 1961. Tradução nossa.) [14]


5. POSTURA DOS E.U.A. FRENTE ÀS AMEAÇAS ASSIMÉTRICAS


Reynolds (2012)[15] aponta que as forças militares convencionais
dos EUA não podem deter terroristas e insurgentes sem incorrerem em
altíssimos custos operacionais. Ele acrescenta, que a atual política
militar estadunidense tem de se remodelar para ser mais palatável ao
governo e à opinião pública, e, ao mesmo tempo, mais eficaz e menos
custosa.


A própria dominância das forças militares convencionais
dos EUA empurra seus oponentes mais fracos para os
conflitos assimétricos, quebrando a relação entre poderio
militar e econômico que sempre produziu superioridade no
campo de batalha. Esta subjacente causalidade, o
incremento da letalidade das armas, e a longa duração das
guerras significam que a estratégia de emprego de forças
convencionais visando a vitória em rápidas e ágeis
campanhas não mais é factível (LYNCH, 2011).


A manutenção da hegemonia militar mundial estadunidense tem seu
preço. As ameaças e desafios à sua dominância provêm de diversos atores
não estatais. Estes atores, sejam eles organizações terroristas como Al
Qaeda e Hezbollah, organizações criminosas como os cartéis mexicanos ou
as FARC colombianas, ou ativistas globais como grupos anárquicos, ao
empregarem o terrorismo, sabotagem, subversão, atividades criminosas e
insurgência, se servem destes meios para os mais diversos fins. Estas
organizações estão cada vez mais interconectadas e operando em redes,
fortalecidas pelo misterioso manto do ciberespaço onde articulam meios
diversos de recrutar, coletar inteligência, treinar, distribuir
propaganda, financiar e operar (JONES, 2012)[16].


Em decorrência dos sucessos militares na Segunda Grande Guerra e na
primeira Guerra do Golfo, os militares norte-americanos se embeveceram
com o dito "mito da ofensiva", fortalecendo a crença de que, já que sua
nação participa em uma guerra com recursos ilimitados e superioridade
inconteste, nada menos que a derrota incondicional do oponente é aceita.
Desta forma, os EUA criaram um vasto complexo industrial para justificar
este conceito. Entretanto, este conceito é falso, pois muitos dos
conflitos em que participaram não terminaram desta maneira. A partir do
momento em que os conselheiros militares norte-americanos perceberam
que, na atualidade, seus adversários, além de agirem de forma fanática e
por vezes irracional, a partir de estados falidos ou em vias de
ingovernabilidade, eles dificilmente são identificados com clareza,
menos ainda derrotados incondicionalmente; estes mesmos conselheiros
passaram a considerar como objetivo viável a tão somente contenção do
oponente, e como indicador de sucesso, a inação do adversário (REYNOLDS,
2012)[17].


De modo a atingir estes objetivos, as pequenas equipes, agindo de
maneira discreta, inseridas na teia social do estado anfitrião,
desenvolvendo entendimento mútuo, e do ambiente que as cerca, terão
mais chances de atingirem seus fins, ao conseguirem se inserir dentro
do contexto de vantagem informacional do oponente. Pois, como dito mais
acima, as forças que compõem o USSOCOM são versáteis, treinadas e
equipadas para conduzir um leque de atividades que se situam entre a
diplomacia e uma guerra total.


O Departamento de Defesa, ao seguir esta orientação, conforme
Flournoy e Davidson (2012) destacam, já estabeleceu que equipes de
forças especiais trabalharão com países parceiros, no continente
africano, em missões contraterrorismo, ao mesmo tempo estas forças
continuarão treinando e aconselhando organismos policiais no México e
Colômbia, bem como países da América Central no enfrentamento do
tráfico internacional de entorpecentes. Em outros lugares do Planeta as
forças especiais norte-americanas estão, mediante acordos
internacionais, treinando forças militares de países parceiros,
estreitando assim as relações entrepartes. Como sugerem as autoras
mencionadas, o realinhamento estratégico do governo norte-americano,
sustentado por suas forças militares, especialmente as suas forças
especiais de ação indireta, que operam com baixa visibilidade e
consequentemente menor atrito e desgaste de imagem do seu governo,
garantem aos EUA a estabilidade na proteção de seus interesses globais
e reforça sua liderança. [18]


No âmbito da política externa dos EUA, engajamentos em países
estrangeiros por meio de ação indireta provavelmente se tornarão cada
vez mais importantes por dois principais aspectos: primeiramente pelo
fato de mais e mais nações se objetarem ao emprego de numerosas forças
militares norte-americanas em seus territórios, por esta razão, forças
especiais de ação indireta seriam uma solução mais palatável, por
deixarem sempre uma marca menos visível de presença militar. O segundo
aspecto envolve as futuras restrições orçamentárias que assombram o
Departamento de Defesa (DAVIS, 2012).[19]


Entretanto, como alerta Nelson (2012), se a próxima administração
almeja beneficiar-se dos sucessos das ações indiretas, algumas mudanças
no cerne das força especiais serão necessárias. Nos próximos anos, as
forças especiais encontrarão um novo ambiente global, em que se
incumbirão de diversas missões de ação indireta para minimizar ameaças
antes que estas requeiram forças de ação direta.[20]


Neste sentido, o comedimento no uso da violência têm se tornado
uma nova tendência para as forças militares, que não mais intervêm com
objetivos de destruir o potencial econômico ou militar do oponente, mas
de dissuadi-lo de alguma ação ofensiva. Desta feita, vislumbra-se que,
brevemente, o padrão de intervenções norte-americanas no exterior, em
situações assimétricas, será o de incursões de baixa visibilidade, sem
ocupação de territórios. Intervenções estas que somente podem ser
eficazes se estruturadas por meio de forças especiais.


6. CONCLUSÃO.


Desde os eventos de 11 de setembro de 2001, os recursos humanos do
USSOCOM duplicaram, seu orçamento praticamente triplicou, e seu emprego
ultramar quadruplicou. Consequentemente, as operações especiais
ocuparam, no cenário militar estadunidense, uma magnitude nunca antes
vista. Ao emergir de uma década particularmente difícil e onerosa, o
Departamento de Defesa dos EUA se depara com a questão de criar uma nova
estratégia com menos recursos. Dada sua inserção hegemônica global, os
militares norte-americanos terão de caminhar sobre a linha tênue ao
manter uma poderosa força convencional, robusta o suficiente para conter
eventuais agressões de estados pouco amigáveis, e, ao mesmo tempo
resolver uma miríade de problemas advindos de atores não estatais
engajados em conflitos assimétricos (REYNOLDS, 2012).[21]


Neste sentido, McRaven (2011), afirmou que as forças especiais de
ação indireta obtiveram mais sucesso nos confrontos assimétricos no
Afeganistão que as forças de ação direta nos últimos anos do
conflito.[22]


A Rand Corporation, entidade que provê grande parte do suporte
técnico-militar necessário às tomadas de decisão do Pentágono, recomenda
ao secretário de defesa que este ponha mais ênfase no treinamento e
aconselhamento de forças de países anfitriões e/ou parceiros, em
detrimento de uso de ações diretas. (LAMB; TUCKER, 2007)


Adotando este pensamento, recente orientação estratégica do
Departamento de Defesa sugere que, em futuro próximo, a demanda para
ações indiretas aumentará, em escala global (NELSON. 2012).[23]


Este aumento da demanda está diretamente relacionado à
versatilidade em termos de táticas, técnicas e tecnologia, empregados em
ações indiretas versus multiplicidade de conflitos assimétricos que
pipocam mundo afora.


Os EUA precisam se adequar para fazerem face aos meios de guerrear
utilizados por seus adversários, sejam eles atores estatais ou não. Para
tanto, suas forças armadas devem estar preparadas para a assimetria dos
confrontos atuais. As estratégias assimétricas são muito vantajosas para
os EUA, pois, além de serem consideravelmente mais econômicas, elas
propiciam um inconteste efeito surpresa, pois seus meios fluidos e ágeis
produzem confusão e desordem no âmbito do oponente, expondo-o a uma
situação de incerteza incômoda quanto à capacidade das forças de seu
adversário, seus objetivos e seus meios, fragilizando, assim, a moral da
tropa oponente, ao evidenciar suas fraquezas.


Por estas razões, os EUA devem priorizar a assimetria, para que
possam obter vitórias contundentes contra adversários mais fracos.
Naturalmente, precisarão se adequar de forma coerente à sua posição de
liderança global e sua política externa.


Não há que se cogitar, todavia, que as estratégias assimétricas
sejam a solução para todo e qualquer conflito enfrentado por aquele
país. Seus líderes, desde que amadurecidos neste pensamento,
necessitarão identificar a natureza do confronto e o melhor e mais
adequado meio de resposta.


Desta maneira, o uso temperado da assimetria de forças permitirá aos
EUA uma maior interatividade e alcance nas tramas, muitas vezes
complexas, que envolvem as relações internacionais.





Abstract

The rise of assymetric conflicts has led the USA to adapt its armed forces
constantly in order to face this new operational environment. This
transformation and adaptation in the deployment of its armed forces have
been particularly evident in the so called indirect actions carried out by
its special operations forces. The deployment of special operations forces
enhances the flexibility of the operational environment; for its low
visibility capability keeps the tensions among nations low and therefore
avoids large scale armed conflict. Thus these special operations forces are
largely used by the USA, and help them keep their vast global influence.

Keywords: Special Operations Forces. Special Operations. Indirect Actions.
Assymetric Conflict. Foreign Policy.







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[1] Mestrando em Relações Internacionais na PUC/MG.
[2] Joint Publication 3-05 Special Operations – April 2011
[3] Special Operations differ from conventional operations in degree of
physical and political risk, operational techniques modes of employment and
dependance on detailed operational intelligence and indigenous assets.
Special Operations are conducted in all environments, but are particularly
well suited for denied and politically sensitive environments. Special
operations can be tailored to achieve not only military objectives through
application of special operations forces (SOF) capabilities for which there
are no broad conventional force requirements, but also to support the
application of the diplomatic, informational and economic instruments of
national power.
[4] Disponível em: www.dtic.mil/...pubs/jointpub_operations.htm. Acesso:
Outubro/2012

[5] Disponível em: www.dtic.mil/...pubs/jointpub_operations.htm. Acesso:
Outubro/2012. Tradução livre.
[6] Disponível em: www.dtic.mil/...pubs/jointpub_operations.htm. Acesso:
Outubro/2012
[7] Disponível em: www.dtic.mil/...pubs/jointpub_operations.htm. Acesso:
Outubro/2012. Tradução livre.
[8] Disponível em:
http://www.fas.org/irp/congress/2012_hr/030612mcraven.pdf. Acesso em
Fevereiro/2012.
[9] Disponível em:
http://www.fas.org/irp/congress/2012_hr/030612mcraven.pdf. Acesso em
Fevereiro/2012.

[10]Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/oldsite/portuguese/JanFe
b07/renzi.pdf. Acesso em Fevereiro/2012.
[11]Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/oldsite/portuguese/JanFe
b07/renzi.pdf. Acesso em Fevereiro/2012.
[12]Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_2
0121031_art008.pdf. Acesso em Janeiro/2012.
[13]Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_2
0121031_art008.pdf. Acesso em Janeiro/2012.
[14] When guerrillas engage a stronger enemy, they withdraw when he
advances; harass him when he stops; strike him when he is weary; pursue him
when he withdraws; in guerrilla strategy, the enemy's rear, flanks, and
other vulnerable spots are his vital points, and there he must be harassed,
attacked, dispersed, exhausted and annihilated.
[15]Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_2
0121031_art008.pdf. Acesso em Janeiro/2012.
[16] Disponível em:
http://www.rand.org/content/dam/rand/pubs/testimonies/2012/RAND_CT374.pdf.
Acesso em: Fevereiro/2012.
[17] Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_2
0121031_art008.pdf. Acesso em Janeiro/2012.
[18] Foreign Affairs. Jul/Ago. 2012. Volume 91. Número 4.
[19] Disponível em: http://www.fas.org/irp/congress/2012_hr/specops.pdf.
Acesso em Outubro/2012.
[20] Disponível em: http://csis.org/publication/future-special-forces.
Acesso em Outubro/2012.
[21]Disponível em:
http://usacac.army.mil/CAC2/MilitaryReview/Archives/English/MilitaryReview_2
0121031_art008.pdf. Acesso em Janeiro/2012.
[22] Disponível em: www.armytimes.com/news/.../army-socom-boss. Acesso em:
Outubro/2012. 
[23] Disponível em: http://csis.org/publication/future-special-forces.
Acesso em Outubro/2012.
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