Formação contínua - Na senda de uma alquímia da escola

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Ana Paula Rocha 1 Formação Contínua – Na senda de uma alquimia da escola

FORMAÇÃO CONTÍNUA – NA SENDA DE UMA ALQUIMIA DA Citar este artigo: Rocha, A. P. (2014). Formação contínua – Na senda da alquimia da escola. Almadaforma. Revista do Centro de Formação da Associação das Escolas de Almada. Essencial. Formação Contínua. 20 anos 20 ideias em ação, nº 4, fevereiro, 2014, pp. 38-40.

RESUMO A formação contínua é vista, no presente artigo, como um agente de mudança e transformação da escola, designando-se o seu contributo como alquímico. O processo formativo permanente dos professores, gerador do seu desenvolvimento, afigura-se como importante, permitindo valorizar o potencial de desenvolvimento pessoal e profissional em que os docentes se envolvem ao longo das suas vidas. A presente reflexão fundamenta-se na encruzilhada do desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional, como é encarada por Nóvoa.

FORMAÇÃO CONTÍNUA Um dos maiores desafios que se coloca à formação contínua de professores é a evidente necessidade de transferência das situações de formação para as práticas do quotidiano escolar. O desenvolvimento profissional dos docentes ocorre igualmente na escola, beneficiando estes, nesse espaço privilegiado, de uma aprendizagem em equipa. Esta aprendizagem, não devendo ser subvalorizada, por se encontrar muito

ESCOLA Ana Paula Rocha * infundida de experiências ricas e diversificadas, pode, porém, caracterizar-se por uma certa balcanização que a expurga de múltiplas fontes e dimensões. A formação contínua, cooperando no processo transformativo das escolas, pode preencher as lacunas que decorrem do desenvolvimento profissional promovido em ambientes balcanizados, precisando, no entanto, de se alicerçar nos projetos educativos das organizações escolares para apoiar a sua implementação, assim contribuindo para o rosto e identidade das mesmas. Entende-se, por conseguinte, como a formação contínua não deverá ser “confundida com meras ações de formação pontuais e desarticuladas, somente como meio de obtenção de «diplomas», «certificados» ou «créditos» que permitam uma progressão institucional na carreira docente” (Jesus, 2000, p. 338). As práticas formativas de professores necessitam, deste modo, de ser concebidas como modos de intervenção educativa, compondo-se em solidariedade com os impulsos para a inovação e mudança a que estão sujeitos professores e escolas. Partilhando a visão de António Nóvoa, o qual considera que a formação contínua de professores deve assentar em três eixos estratégicos (investimento na pessoa e sua experiência; investimento na profissão e seus saberes; investimento na escola e seus projetos (2002, p. 56), tentaremos, * Professora do Ensino Secundário, Formadora de Formação Contínua de Professores e Investigadora na área das Ciências da Educação. Membro colaborador na Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Educação e Formação do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.

Ana Paula Rocha 2 Formação Contínua – Na senda de uma alquimia da escola seguidamente, mostrar como a formação contínua, apoiada nesta trilogia, pode determinar o desenvolvimento profissional dos professores mais consentâneo com os tempos de mudança, tão desafiantes, que vivemos. INVESTIMENTO EXPERIÊNCIA

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A formação contínua precisa de valorizar o professor inserido numa lógica educativa e numa organização-escola, considerando relevante a dimensão pessoal que se liga com a trajetória profissional. É importante que os docentes deem sentido aos processos de formação no quadro das suas histórias de vida. Esse contributo é tanto mais relevante e eficaz, se for concedido tempo, no processo de formação, para um trabalho de reflexividade crítica sobre as suas próprias práticas. Não quer isto transmitir que se coloque a teoria de lado, focalizando, exclusivamente, a atenção nas vidas dos professores para a produção do saber, porquanto o quadro conceptual teórico fornece indicadores e grelhas de leitura que são, também, essenciais. Contudo, dando relevo ao trabalho do professor e à sua experiência, o docente sente-se mais compreensivo para com as aprendizagens adquiridas em contexto de formação e, igualmente, mais compreendido. Este facto é pertinente, particularmente, quando o contexto profissional se revela fonte de stress e a fase vivida de crise e mudança. A formação surge, então, como um momento “em que cada um produz a «sua» vida, o que no caso dos professores é também produzir a «sua» profissão” (Nóvoa, 2002, p. 58). INVESTIMENTO NA PROFISSÃO E NOS SEUS SABERES Embora se fale muito em autonomia das instituições escolares e no docente

enquanto desejável gestor do currículo na escola inclusiva, os professores sentem como essa retórica está desarticulada com a sua realidade, porque, na sua vida quotidiana experimentam o peso da burocracia e da colegialidade artificialmente mandatada. A profissionalização contínua precisa, por isso, de ajudar a desenvolver os saberes dos professores valorizando o que já sabem, fortalecendo a construção da sua profissão e contribuindo para a colegialidade colaborativa não mandatada. Se a formação se constituir como uma das componentes da mudança, envolvendo os docentes, estes sentir-se-ão mais empenhados não se alheando do processo de transformação das instituições a que estão ligados, nem se apresentando como opositores ou resistentes. INVESTIMENTO NA ESCOLA E NOS SEUS PROJETOS Se, por um lado, já ficou claro que a formação contínua carece de levar em conta o professor, a sua vida e trajetória profissional, por outro lado, não pode deixar de se constituir como um investimento educativo dos projetos de escola, encontrando-se, desejavelmente, em articulação com o desenvolvimento organizacional da mesma e não se pretendendo à margem. A eficácia da formação pode potenciar o processo alquímico que terá reflexos na melhoria e ampliação da qualidade das organizações escolares, caso inclua a componente de investigação-ação-reflexão sobre problemas que o professor identifique na sua própria prática. É essencial, portanto, entrever que “o espaço pertinente da formação contínua já não é o professor individual, mas sim o professor em todas as suas dimensões

Ana Paula Rocha 3 Formação Contínua – Na senda de uma alquimia da escola colectivas, profissionais e organizacionais” (Nóvoa, 2002, p. 56).

ALQUIMIA DA ESCOLA Quem vive dentro da escola sabe como se tem dado cada vez maior relevo aos projetos educativos das instituições escolares pela necessidade de que reflitam as suas identidades. A procura do aumento da qualidade educacional encontra-se espelhada nos normativos e documentos referenciais para o sistema educativo. Os professores estão cientes da importância atribuída ao seu papel e da responsabilidade da sua prestação. São eles o trunfo para a concretização de uma sociedade de aprendizagem, promovendo valores e ajudando no sucesso dos alunos. A intervenção no processo de aprender a aprender dos discentes depende, por isso, da qualidade e dos tipos de oportunidades de desenvolvimento e formação que vão surgindo ao longo da carreira, bem como da cultura em que trabalham. Os centros de formação de professores, atentos à urgência de darem resposta às necessidades formativas vão acolhendo os pedidos concretos de formação, constituindo bolsas de formadores para as diferentes áreas do conhecimento. Contudo, estudos recentes têm identificado a tendência de os professores manifestarem, como áreas de formação do seu interesse, os domínios emergentes, essencialmente, das aspirações e

necessidades individuais, ao invés daqueles reconhecidos como colectivos. Este não é um comportamento repreensível, pois denota a vontade de obter satisfação nas escolhas de aprendizagem, aumentando a apetência dos formandos pela formação. Essa conduta decorre por vezes, conjuntamente, da inexistência de um plano de formação de escola, alcançado a partir da identificação das fragilidades na organização. Logo, é preciso que as escolas criem os seus planos de necessidades de formação e que não o façam de forma avulsa, mas sim fundamentada, ajudando os centros de formação a criar atempadamente as condições necessárias ao desenvolvimento de um sistema de formação contínua que dê resposta eficiente e possibilite concretizar os três eixos estratégicos preconizados por António Nóvoa. Só assim se consolida uma articulação efetiva entre a Escola, enquanto organização, a formação desenvolvida e as necessidades individuais de formação dos docentes, em atenção aos planos individuais dos mesmos. Para que se verifique a verdadeira alquimia da escola, a oferta dos programas de formação contínua dos centros de formação precisam de apresentar ações com uma certa dimensão de desafio, exigência e ousadia e oferecer pluralidade de experiências, modelos e perspetivas. Os formadores, por seu turno, requerem-se como profissionais muito qualificados e experientes. Devem ser capazes de alicerçar as ações num clima estimulante, reflexivo crítico, apostar na implicação dos formandos em situações de investigaçãoação sobre a própria prática e levá-los a agir colaborativamente para a concretização colectiva do desenvolvimento da escola.

Ana Paula Rocha 4 Formação Contínua – Na senda de uma alquimia da escola Neste sentido, a equipa do Almadaforma, tem sido um agente transformador, instigando a proatividade dos envolvidos e constituindo-se, através da sua atividade, como alquímico da escola. A eficácia e dinâmica do trabalho desenvolvido por este centro de formação de professores tem vindo a produzir (aproveitando a imagística das palavras de um reputado investigador e pedagogo) algo mais do que transformações imediatas, ao posicionar-se no sentido de “um «colocar em movimento», que causará efeitos no futuro, assim como um riacho subterrâneo que finalmente sobe até à superfície” (Perrenoud, 2002, p. 127). Referências: JESUS, S. (2000). Motivação e Formação de Professores (1ª ed). Coimbra: Quarteto Editora. NÓVOA, A. (2002). Formação de Professores e Trabalho Pedagógico. Lisboa: Educa. PERRENOUD, P. (2002). A prática reflexiva no ofício de professor: Profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed.

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