Formação de professores na Mesorregião Centro Ocidental do Paraná: perfil dos ingressantes nos cursos de licenciatura da UNESPAR/Campo Mourão

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TEMAS EM DEBATE

FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA MESORREGIÃO CENTRO OCIDENTAL DO PARANÁ: PERFIL DOS INGRESSANTES NOS CURSOS DE LICENCIATURA DA UNESPAR/ CAMPO MOURÃO* Frank Antonio Mezzomo** Cristina Satiê de Oliveira Pátaro***

Resumo: diante da baixa procura e elevada evasão nos cursos de formação de professores, apontadas pela literatura, este texto discute o perfil dos licenciandos da Universidade Estadual do Paraná, com base em dados provenientes de questionário socioeconômico aplicado por ocasião do Vestibular. Verificou-se que o ingressante nas licenciaturas é majoritariamente jovem, solteiro e residente na mesorregião, contando com renda de até 3 salários mínimos, necessitando conciliar trabalho e estudo durante a graduação. O processo formativo dos futuros docentes articula-se às suas expectativas, condições de vida, e ao contexto sociocultural da mesorregião. Tais elementos devem estar presentes na reflexão dos cursos ofertados, promovendo a articulação entre Universidade e o contexto regional. Palavras-chave: Formação de professores. Licenciaturas. Estudantes.

A

Mesorregião Centro Ocidental do Paraná, onde se encontra o município de Campo Mourão, constitui-se como uma das regiões de confluência das frentes migratórias de colonização do estado. Essa experiência histórica se faz presente na diversidade cultural representada nas diferentes linguagens, nos costumes, crenças, processos de socialização, na ocupação do espaço e modos de produção, nas práticas socioculturais e no processo de desenvolvimento da região. Com uma população de mais de 320 mil habitantes em 25 municípios, a mesorregião conheceu uma intensa ocupação a partir de 1950, chegando ao início do século XXI com índices expressivos, porém díspares, de desenvolvimento humano. Segundo dados do IBGE (2010), enquanto no Paraná a taxa de urbanização corresponde a 85,3%, os municípios da mesorregião apresentam taxas que variam de menos de 50% até mais de 94% de sua população vivendo na zona urbana. , Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

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A mesorregião é também caracterizada pelo baixo Índice de Desenvolvimento Humano – sendo o 2º menor do Estado – e por altos índices de analfabetismo. Enquanto a média de analfabetismo do Paraná é de 7,9%, na mesorregião é correspondente a 16,8%, constatando-se uma variação que vai de 9% a mais de 23% em alguns municípios. Estes índices demonstram as condições de desenvolvimento humano e as desigualdades intrarregionais, que se refletem inclusive nas atividades produtivas, expressas tanto em uma agricultura de alto desenvolvimento tecnológico, quanto em uma atividade de subsistência. Os dados trazem também importantes desafios para a formação humana tanto no nível do Ensino Superior quanto da Educação Básica. Os investimentos para uma educação de qualidade têm sido apontados como um dos caminhos mais sólidos para a melhoria das condições de vida da população, ganhando destaque inclusive no âmbito das políticas implementadas por agentes nacionais e internacionais e expressos, no caso do Brasil, em documentos como o Plano Nacional de Educação (2011-2020) e o Plano Nacional da Pós-Graduação (20112020). Nesse ponto, a formação de professores para atuação na Educação Básica vem sendo alvo de problematizações, direcionamento de políticas públicas, além de tema recorrente nas pesquisas em educação (BRITO, 2007). No Brasil, a partir do disposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9394/96), a formação dos docentes para a Educação Básica passa a se dar nos cursos de licenciatura ofertados pelo Ensino Superior. Para atuação na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a habilitação se dá por meio do curso de Pedagogia e, para atuação nos anos finais e no Ensino Médio, em cursos de licenciatura das áreas específicas, como Geografia, História, Letras, Matemática, entre outros. Uma das preocupações que tem chamado a atenção dos pesquisadores e gestores públicos, estando presente em manchetes dos principais veículos de comunicação nacionais, é a baixa procura pelos cursos de licenciatura, expressos na demanda (número de candidatos por vaga) dos vestibulares de Instituições de Ensino Superior em todo o país. Em paralelo, têm chamado igualmente à atenção as elevadas taxas de evasão dos licenciandos no Ensino Superior, motivados por fatores como: repetências sucessivas nos primeiros anos; carência de recursos dos estudantes e necessidade de conciliar trabalho e estudo; falta de informações sobre a carreira e decepção com o curso superior; 96

, Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

dificuldades de adaptação à vida universitária (RUIZ; RAMOS; HINGEL, 2007; SILVA FILHO et al., 2007; MENIN et al., 2009; BAGGI; LOPES, 2011). Assim, embora parte da problemática possa estar diretamente relacionada à falta de investimentos em educação, às condições de trabalho nas escolas, aos baixos salários dos professores e consequente desprestígio que vem sendo associado à carreira docente, é necessário ressaltar a importância e a urgência de se conhecer o perfil, os interesses e as expectativas dos estudantes de licenciatura, considerando, conforme apontam diferentes estudos, que estas características dos acadêmicos estão diretamente relacionadas às aprendizagens que se efetivam na formação inicial e à atuação profissional (GATTI, 2010). Ainda quanto ao perfil dos estudantes do Ensino Superior público no Brasil, cabe considerar que, em virtude das recentes políticas públicas de democratização do acesso e da ampliação de vagas, a Universidade não é mais ocupada apenas pela classe média e pelas elites intelectuais. Esse fator reforça ainda mais a pertinência de se compreender qual o perfil desse novo público que passa, a partir de então, a frequentar as universidades brasileiras (ZAGO, 2006; CARRANO, 2009). Diante do exposto, o propósito deste texto é discutir o perfil dos estudantes de licenciatura da Unespar/Campo Mourão, ingressantes nos anos de 2012 e 20131. O câmpus oferta cinco diferentes cursos de licenciatura: Geografia, História, Letras, Matemática e Pedagogia2. Em vista de conhecer e compreender alguns aspectos quanto ao público atendido, bem como de intensificar a articulação entre a instituição e a mesorregião, buscou-se traçar um perfil dos ingressantes nas licenciaturas nos dois últimos anos. Os dados analisados no presente texto são provenientes de questionário socioeconômico aplicado por ocasião do Vestibular de Inverno e Verão, realizados respectivamente em Julho e Novembro de 2011 e 2012. O questionário é composto por questões de múltipla escolha, respondidas via on-line pelo candidato quando de sua inscrição no processo seletivo. Foram tabuladas as informações referentes a todos os alunos matriculados, ingressantes em 2012 e em 2013 nos cursos de licenciatura ofertados em período noturno. Para apresentação e discussão dos dados, expostos no decorrer do texto, foram selecionadas e agrupadas as questões nas seguintes categorias: identificação do ingressante, perfil socioeconômico e escolarização3. , Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

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QUEM SÃO OS ESTUDANTES DE LICENCIATURA DA UNESPAR/CAMPO MOURÃO Os estudantes atendidos pelos cursos de licenciatura em Geografia, História, Letras, Matemática e Pedagogia da Unespar/Campo Mourão são nascidos, em sua maioria, no estado do Paraná, dado que corresponde a 90% dos ingressantes em 2012 e 2013. Ainda quanto aos ingressantes nestes dois anos, apenas 5,1% declaram-se negros, enquanto 67,7% se autoclassificam como brancos e 25,9% como pardos. Com relação ao estado civil, 82,6% são solteiros e 13% casados. No que tange à escolaridade dos pais (pai e mãe) dos ingressantes de ambos os anos, apresentada na Tabela 1, pode-se verificar que aproximadamente 45% dos pais e mães não completaram o Ensino Fundamental. A diferença mais significativa entre a escolaridade dos pais e das mães refere-se ao Ensino Superior completo, cuja média dos dois anos corresponde a 6,9% e 11,3%, respectivamente. Tabela 1: Escolaridade dos pais (%) 2012 Pai Sem escolaridade

2013 Mãe

Pai

Mãe

4,4

4,8

5,9

6,9

Ensino Fundamental incompleto

41,7

39,8

39,4

35,9

Ensino Fundamental completo

12,6

11,6

12,8

8,9

7,8

7,3

4,9

8,9

18,9

20,4

23,7

19,7

Ensino Superior incompleto

4,4

4,4

0,5

5,9

Ensino Superior completo

5,3

10,7

8,4

11,8

Não sabe informar

4,9

1,0

4,4

2,0

100%

100%

100%

100%

Ensino Médio incompleto Ensino Médio completo

TOTAL

Fonte: Questionário socioeconômico – Vestibular 2012 e 2013 (Unespar/Campo Mourão)

As figuras a seguir apresentam a distribuição percentual dos ingressantes em 2012 e 2013 quanto ao perfil etário: 98

, Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

Figura 1: Perfil etários dos ingressantes de 2012

Figura 2: Perfil etários dos ingressantes de 2013

Podemos observar, a partir do perfil etário dos acadêmicos, uma grande quantidade de jovens até 20 anos ingressando no Ensino Superior, dado recorrente em todos os cursos de licenciatura analisados. Vale destacar, dentre os ingressantes, o alto índice de estudantes matriculados em 2013 no curso de Geografia que possuem idade até 20 anos (82,1%) e, em contrapartida, o baixo índice de ingressantes em 2012 e 2013 no curso de História na mesma faixa etária (representando 45% e 35,9%, respectivamente). Tomando por base o estudo nacional realizado por Gatti e Barreto (2009), a partir de dados do Enade 2005, podemos verificar que, em todos os cursos de licenciatura da Unespar/Campo Mourão, a média de ingressantes na faixa etária ideal encontra-se próxima à média nacional, , Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

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excetuando-se os cursos de Pedagogia – com porcentagem significativamente acima – e História, cuja porcentagem de ingressantes na faixa etária ideal é ligeiramente inferior4. Tabela 2: Estudantes dos cursos de licenciatura na faixa etária ideal Curso de licenciatura

Faixa etária ideal (%) Ingressantes - 2012

Ingressantes - 2013

Enade 2005

Geografia

51,3

82,1

44,5

História

45,0

35,9

45,4

Letras

56,2

54,3

45,8

Matemática

62,5

56,1

50,8

Pedagogia

58,5

71,1

56,8

Fonte: Questionário socioeconômico – Vestibular 2012 e 2013 (Unespar/Campo Mourão) e Gatti e Barreto (2009).

Com relação ao local de residência dos ingressantes em 2012 e 2013 nos cursos de licenciatura da instituição, 90% estão na zona urbana e 10% na zona rural, sendo que 50% residem em Campo Mourão e o restante está distribuído nos outros 24 municípios que compõem a mesorregião, além de uma pequena parcela (3,9%) de estudantes oriundos de outros municípios do Paraná e outros estados. Vale ressaltar que a Unespar/Campo Mourão é uma das poucas universidades públicas localizadas na Mesorregião Centro Ocidental do Paraná5, ofertando 10 diferentes cursos de Graduação nas áreas de licenciatura e bacharelado e contando, recentemente, com um Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em nível de Mestrado. Nesse sentido – e em sintonia com as metas e estratégias propostas no Plano Nacional de Educação (2011-2020) quanto à oferta de vagas e interiorização do Ensino Superior –, a instituição assume especial relevância na formação e qualificação de pessoal da mesorregião, que representa mais de 95% do público atendido. Os Indicadores de Desenvolvimento Humano expostos a seguir permitem algumas considerações importantes acerca da inserção regional da Unespar/Campo Mourão. A Tabela 3 apresenta o IDHM, o Índice Gini e as taxas de urbanização, analfabetismo e extrema pobreza de cada um dos 25 municípios que compõem a mesorregião. 100

, Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

Tabela 3: Indicadores de Desenvolvimento Humano dos municípios da Mesorregião Centro Ocidental do Paraná6 Município

IDHM (0 a 1)

Urbanização (%)

Analfabet. (%)

Extrema pobreza (%)

Índice Gini (0 a 1)

Altamira do Paraná

0,667

49,6

22,2

10,2

0,58

Araruna

0,704

78,1

12,4

1,3

0,40

Barbosa Ferraz

0,696

75,7

19,6

5,1

0,48

Boa Esperança

0,720

57,8

16,3

3,4

0,47

Campina da Lagoa

0,704

81,6

16,2

2,9

0,46

Campo Mourão

0,757

94,8

9,2

1,2

0,50

Corumbataí do Sul

0,638

53,2

23,7

4,5

0,42

Engenheiro Beltrão

0,730

88,3

12,1

2,6

0,43

Farol

0,715

58,1

18,5

4,4

0,49

Fênix

0,716

83,2

16,3

4,8

0,43

Goioerê

0,731

87,0

13,2

1,9

0,48

Iretama

0,665

58,3

20,7

3,4

0,58

Janiópolis

0,696

61,8

21,9

2,8

0,50

Juranda

0,708

76,4

15,1

1,5

0,44

Luiziana

0,668

65,0

18,8

2,5

0,48

Mamborê

0,719

64,4

13,8

2,6

0,49

Moreira Sales

0,675

78,8

19,4

3,6

0,44

Nova Cantu

0,658

55,3

21,5

4,4

0,48

Peabiru

0,723

80,8

13,0

2,7

0,54

Quarto Centenário

0,710

60,0

16,6

4,0

0,61

Quinta do Sol

0,715

74,9

20,9

1,8

0,44

Rancho Alegre d’Oeste

0,704

80,9

17,3

1,7

0,44

Roncador

0,681

61,7

19,3

6,6

0,53

Terra Boa

0,728

82,7

10,9

0,3

0,40

Ubiratã

0,739

85,3

11,9

1,8

0,46

Paraná

0,749

85,3

7,9

2,0

0,53

Brasil

0,727

84,4

11,8

6,6

0,60

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. , Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

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Dentre as disparidades intrarregionais constatadas a partir dos dados da Tabela 3, destacamos inicialmente os municípios que apresentam baixa taxa de urbanização, como é o caso de Altamira do Paraná, no qual mais de 50% da população vive na zona rural, em contraposição a Campo Mourão e Goioerê, com índices de urbanização correspondente a 94,8% e 87%, respectivamente. Outro dado que merece atenção são as elevadas taxas de analfabetismo de todos os municípios, acima da média do estado e também da média nacional – exceto, neste último caso, para os municípios de Campo Mourão e Terra Boa. A este respeito, convém salientar a existência de seis municípios que apresentam mais de 1/5 da população analfabeta, o que impõe a necessidade de políticas públicas específicas na área da Educação, que venham a contribuir para a superação de tal condição. A compreensão das condições de vida da população residente nesses municípios possibilita algumas considerações no que tange tanto ao perfil dos estudantes atendidos pelos cursos de licenciatura da Unespar/Campo Mourão quanto ao exercício profissional dos egressos, que passarão a atuar majoritariamente na mesorregião, da qual são oriundos. É em vista desse cenário que devem ser estruturadas as políticas de Estado voltadas para o Ensino Superior e a própria atuação da Universidade no que se refere à organização curricular, as práticas pedagógicas, as políticas de ingresso e permanência, as atividades de pesquisa e extensão e demais ações que promovam a qualidade dos cursos de licenciatura ofertados. CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO DOS LICENCIANDOS A maioria dos ingressantes dos cursos de licenciatura da Unespar/Campo Mourão nos anos de 2012 e 2013 encontram-se na faixa de renda familiar mensal de até 3 salários mínimos, sendo que mais de 80% dos estudantes possuem renda familiar de menos de 5 salários mínimos. Estes indicadores evidenciam que grande parte dos acadêmicos da instituição, que frequentam os cursos de formação de professores para a Educação Básica, são provenientes de classes sociais menos favorecidas, não distante da realidade dos professores em formação em todo o Brasil (BRITO, 2007; RUIZ; RAMOS; HINGEL, 2007; GATTI; BARRETO, 2009; GATTI, 2010). A tabela a seguir apresenta informações referentes à renda mensal dos acadêmicos vinculados aos cinco cursos de licenciatura: 102

, Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

Tabela 4: Renda familiar mensal dos ingressantes 2012 e 2013 Renda familiar mensal

2012

2013

Menos de 3 salários mínimos

50,0

55,2

De 3 a 4 salários mínimos

34,5

34,4

De 5 a 10 salários mínimos

15,0

8,4

De 11 a 15 salários mínimos

0,5

--

Fonte: Questionário socioeconômico – Vestibular 2012 e 2013 (Unespar/Campo Mourão).

Nas figuras 3 e 4 são apresentados os dados relativos à renda familiar mensal dos ingressantes em 2012 e 2013 por curso:

Figura 3: Renda familiar mensal - ingressantes 2012

Figura 4: Renda familiar mensal - ingressantes 2013 , Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

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Tomando por base os dados analisados por Gatti (2010) acerca do perfil socioeconômico dos licenciandos de todo o Brasil que responderam ao Enade 2005, podemos verificar uma maior porcentagem de ingressantes na Unespar/Campo Mourão que possuem baixa renda familiar (menos de 3 salários mínimos), à exceção do curso de Letras em 2012. Nesse sentido, cabe destaque ao curso de Pedagogia da instituição, cuja média dos ingressantes nos dois últimos anos que se encontram nesta faixa de renda é de 61,9%, enquanto que, nos dados nacionais, tal porcentagem corresponde a 41,9% no referido curso (GATTI, 2010). Quanto à participação dos estudantes na renda familiar, apresentado no gráfico a seguir, verificamos que pouco mais de 40% dos ingressantes declaram não trabalhar e contar com apoio financeiro da família ou outras pessoas, enquanto a maioria manifesta ser responsável total ou parcialmente pelo sustento próprio e/ou familiar, estando de alguma forma, portanto, vinculado ao mercado de trabalho. Embora esses dados demonstrem que os ingressantes de licenciatura da instituição são em sua maioria trabalhadores, também contrastam com a realidade nacional (ENADE, 2005), cuja porcentagem de estudantes que têm seus gastos sustentados integralmente pela família cai para 26,2% (GATTI; BARRETO, 2009).

Figura 5: Participação dos ingressantes na renda familiar

Com relação à necessidade de trabalho ao longo do curso de Graduação, os gráficos a seguir trazem a distribuição percentual levando em conta o total de ingressantes em cada um dos anos analisados: 104

, Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

Figura 6: Pretende trabalhar durante a graduação ingressantes 2012

Figura 7: Pretende trabalhar durante a graduação ingressantes 2013

Com base nos dados apresentados, é possível verificar, dentre os ingressantes de 2012 e 2013 em todos os cursos de licenciatura, a baixa incidência de estudantes que indicam a necessidade de trabalhar apenas nos últimos anos ou que não têm intenção de manter vínculo empregatício ao longo de todo o curso. De maneira geral, excetuando-se os cursos de Letras em 2012 e Geografia em 2013, o perfil dos ingressantes é bastante semelhante quanto a intenção de trabalhar em tempo integral ou parcial, indicando, em todos os casos, uma porcentagem média de 72% de estudantes que pretendem conciliar trabalho e estudo. , Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

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ESCOLARIZAÇÃO E VIVÊNCIA UNIVERSITÁRIA Os acadêmicos ingressantes nos cursos de licenciatura da Unespar/Campo Mourão em 2012 e 2013 declaram em sua grande maioria (92,9%) ter cursado todo o Ensino Médio em escola pública, e apenas 2,7% em instituições particulares. Ainda com relação ao Ensino Médio, enquanto 59,2% cursou a totalidade em período diurno, 24,8% frequentou o período noturno, apresentando ainda um alto índice (82%) de acadêmicos egressos dos cursos de Ensino Médio de educação geral. Com relação ao ano de conclusão do Ensino Médio, as figuras a seguir apresentam as respostas, por curso, considerando os ingressantes de ambos os anos analisados:

Figura 8: Ano de conclusão do Ensino Médio dos ingressantes em 2012

A partir das figuras, vale chamar a atenção para duas variáveis envolvendo os cursos de licenciatura: a grande porcentagem de ingressantes no curso de História, em ambos os anos, que finalizaram o Ensino Médio há 4 anos ou mais; e o perfil dos estudantes no curso de Geografia em 2013, cuja maioria ingressou no Ensino Superior logo após concluir o nível médio. 106

, Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

Figura 9: Ano de conclusão do Ensino Médio dos ingressantes em 2013

No entanto, de maneira geral, podemos observar uma quantidade significativa de estudantes que acabaram de concluir o Ensino Médio e, ao mesmo tempo, uma parcela expressiva que ingressa no Ensino Superior após 4 anos ou mais de conclusão da Educação Básica. Esta última constatação ratifica a conclusão de Gatti e Barreto (2009, p. 161), ao afirmarem que, no contexto nacional, “o ingresso tardio nos cursos para a docência constitui a regra antes que a exceção”. Em paralelo ao ingresso tardio na Graduação, tanto em âmbito nacional quanto na instituição, há que se considerar que a grande maioria dos estudantes estão tendo o primeiro contato com o nível superior, conforme disposto no gráfico 10. Essa constatação pede atenção das políticas da instituição e deve ser levada em conta na formulação do projeto político pedagógico dos cursos de licenciatura, tendo em vista sobretudo, conforme evidencia a literatura, a alta incidência de evasão dos estudantes nos primeiros anos da graduação, ao se depararem com novos desafios e dificuldades (CARRANO, 2009). Ainda em relação à vivência no Ensino Superior, merece destaque, no perfil dos ingressantes da Unespar/Campo Mourão, o curso de , Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

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História, que tem recebido menor porcentagem de estudantes que nunca iniciaram outro curso superior (52,5% em 2012 e 35,9% em 2013). Ao mesmo tempo, chama a atenção nestas turmas, assim como na turma de ingressantes de Matemática em 2013, a quantidade de acadêmicos que já são graduados.

Figura 10: Já iniciou outro curso superior?

Com relação ao motivo de escolha dos acadêmicos pela Unespar/Campo Mourão, os dados apresentados no gráfico abaixo demonstram que, para 44,8% dos ingressantes em 2012 e 2013, tal opção ocorreu em função de a instituição ser pública. Na sequência, o motivo mais indicado pela definição da IES refere-se à qualidade do curso ofertado.

108

, Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

Figura 11: Motivo pela escolha da Unespar/Campo Mourão

Com o objetivo de compreender o perfil do ingressante das licenciaturas nas diferentes áreas, são apresentados, a seguir, os indicadores relativos ao motivo da escolha do ingressante pelo curso no qual veio a se matricular.

Figura 12: Motivo pela escolha do curso - ingressantes 2012

Figura 13: Motivo pela escolha do curso - ingressantes 2013 , Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

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Nos dois anos investigados, é comum entre os ingressantes das licenciaturas, a predominância pela escolha do curso que atenda às aptidões pessoais. A partir desta evidência coletada junto aos cursos de formação de professores, é possível inferir uma representação que associa o trabalho docente a uma vocação, uma missão, e a escola ao templo do saber (TEDESCO; FANFANI, 2004, p. 70). Vale mencionar que tal representação tem sido problematizada pela literatura, em favor de um processo de profissionalização do trabalho docente. Assim, questiona-se a ideia: do professor missionário, do professor quebra-galho, do professor artesão, ou tutor, do professor meramente técnico, para adentrar a concepção de um profissional que tem condições de confrontar-se com problemas complexos e variados, estando capacitado para construir soluções em sua ação, mobilizando seus recursos cognitivos e afetivos (GATTI, 2010, p. 1360). Por fim, vale a menção aos dados de trabalho anterior (MEZZOMO; PÁTARO, 2012) que buscou evidenciar o perfil dos ingressantes de todos os cursos da Unespar/Campo Mourão em 2012. Especificamente com relação à escolha dos cursos nas áreas de Ciências Sociais Aplicadas – Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas e Turismo e Meio Ambiente – os resultados apontam para maior atenção ao mercado de trabalho, variável pouco expressiva no caso das licenciaturas. CONSIDERAÇÕES FINAIS As discussões acerca da formação de professores no Brasil passam necessariamente pela problematização dos cursos de licenciatura ofertados pelas Instituições de Ensino Superior. Embora as reflexões acerca da melhoria na qualidade da educação estejam também relacionadas a fatores exógenos às instituições educacionais, há que se considerar a relevância de se colocar em pauta os sujeitos diretamente envolvidos nos processos educativos. Especificamente para este trabalho, optamos por enfocar o perfil dos estudantes que ingressam nos cursos de licenciatura, em vista de compreender alguns aspectos relativos aos profissionais que, posteriormente, passarão a atuar na Educação Básica. Nesse sentido, buscamos identificar o perfil dos ingressantes matriculados nos cursos de licenciatura da Unespar/Campo Mourão 110

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em 2012 e 2013, com base no questionário socioeconômico respondido pelos candidatos na ocasião da inscrição para o Vestibular. Para a análise, foram selecionadas algumas das questões que constituíam o instrumento aplicado, a fim de possibilitar a compreensão do perfil dos licenciandos no que diz respeito à identificação do estudante, perfil socioeconômico e processo de escolarização. Foi possível verificar que o ingressante no curso de licenciatura é majoritariamente jovem – até 20 anos –, solteiro e residente na Mesorregião Centro Ocidental do Paraná. A grande maioria frequentou a escola pública, sendo que, enquanto 32% são recém egressos da Educação Básica, 35,6% declaram ter finalizado o Ensino Médio há 4 anos ou mais. No que tange à escolaridade dos pais e mães, quase a metade não chegou a concluir o Ensino Fundamental, e uma parcela significativa das famílias conta com uma renda de até 3 salários mínimos. Grande parte dos acadêmicos declara a necessidade de conciliar trabalho e estudo ao longo de todo o curso de Graduação e 64,2% manifestam ter optado pelo curso por atender suas aptidões pessoais. A partir do perfil identificado, podemos dizer que a Unespar/ Campo Mourão se consolida como uma Instituição de Ensino Superior que desempenha papel fundamental na formação dos professores da Mesorregião Centro Ocidental do Paraná, haja vista ser uma das poucas instituições públicas, além de atender predominantemente a estudantes da própria mesorregião. A relevância da inserção regional da instituição ganha ainda mais destaque ao se considerar o perfil socioeconômico do público atendido, egresso de escolas públicas e oriundo, sobretudo, de famílias de baixa renda, contribuindo com o processo de democratização do conhecimento a uma parcela da população que, há até pouco tempo, não tinha acesso ao Ensino Superior público. A reflexão a partir dos dados permite ainda inferir sobre a importância do fortalecimento de políticas de ingresso e permanência da Instituição, tendo em vista, inclusive, a necessidade apontada por grande parte dos licenciandos de trabalhar desde o primeiro ano do curso de Graduação. Tal constatação deve ainda levar em consideração as evidências, trazidas por outras pesquisas, que apontam o grande índice de evasão dos estudantes no primeiro ano do curso superior, quando se deparam com as dificuldades de, entre outros fatores, conciliar trabalho e estudos e identificar-se à vivência universitária. , Goiânia, v. 16, n. 1, p. 95-114, jan./jun. 2013.

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Por fim, ao problematizar o perfil dos estudantes de licenciatura da Unespar/Campo Mourão, é possível afirmar que o processo formativo dos futuros docentes ocorre articulado a aspectos relativos tanto às condições de vida e expectativas dos estudantes quanto ao contexto sociocultural da mesorregião. Tais elementos, portanto, devem se fazer presentes na definição das políticas institucionais, bem como na reflexão dos cursos ofertados, indicando a necessidade de articulações entre a Universidade e o contexto regional no qual esta se insere. Notas 1 As discussões realizadas neste texto fazem parte da pesquisa “Perfil de jovens universitários no estado do Paraná: ações e representações sobre religião e política”, coordenada pelo Prof. Frank Mezzomo e desenvolvida com apoio financeiro da Fundação Araucária. 2 Os cursos de licenciatura do período noturno da Unespar/Campo Mourão ofertam anualmente 40 vagas, à exceção do curso de Letras, cujo número de vagas é 50. Embora o curso de Pedagogia seja ofertado também no período matutino, para o presente trabalho, serão tabuladas apenas as informações referentes à turma do período noturno, garantindo maior coerência para a análise dos dados junto às demais licenciaturas existentes no câmpus. 3 O questionário socioeconômico aplicado foi utilizado como base para os dados apresentados, tendo sido selecionadas e adequadas as questões que atendiam aos objetivos do presente trabalho. Nesse sentido, na apresentação dos resultados, algumas das opções de resposta (múltipla escolha) foram agrupadas em função da representatividade e a fim de facilitar a compreensão do leitor. 4 Entende-se por faixa etária ideal o estudante que cursa o Ensino Superior com idade entre 18 e 24 anos. No caso dos dados referente aos acadêmicos de licenciatura da Unespar/Campo Mourão, foram considerados na faixa etária ideal os ingressantes com idade até 20 anos (que poderão, portanto, concluir o curso até 24 anos). 5 Além da Unespar/Campo Mourão, a mesorregião conta ainda com um câmpus da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, em Campo Mourão, e com uma extensão da Universidade Estadual de Maringá – UEM, localizada em Goioerê. 6 O IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal é calculado pela média geométrica dos índices relativos a Renda, Educação e Longevidade. A taxa de analfabetismo refere-se à porcentagem da população com 25 anos de idade ou mais que não sabe ler ou escrever. Já o Índice Gini indica o grau de desigualdade na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0 (ausência de desigualdade) a 1 (desigualdade máxima). Cf. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013. Referências ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL 2013. Disponível em: . Acesso em: 15 ago. 2013.

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TEACHER EDUCATION AT WESTERN CENTRAL MESOREGION OF PARANÁ: PROFILE OF NEWCOMERS IN UNDERGRADUATE TEACHER TRAINING COURSES AT STATE UNIVERSITY OF PARANÁ Abstract: due to the low demand for teacher training courses and high evasion, indicated by the literature, this paper discusses the profile of undergraduates at State University of Paraná, based on data from socioeconomic questionnaire applied during the Entrance examination. It was identified that the university newcomers are mostly young, single and living at mesoregion, with incomes of up to three minimum wages and needing to balance work and study during undergraduate course. The formation process of future teachers articulates their expectations, living conditions and sociocultural context of mesoregion. Such elements must be present in the reflection of undergraduate courses offered, promoting articulation between University and regional context. Keywords: Teacher education. Undergraduate teacher education programs. Students.

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Texto recebido em 24/01/2013 e aprovado em 30/03/2013.

** Professor do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Sociedade e Desenvolvimento e do curso de História da Unespar/Campo Mourão. Doutor em História Cultural e Bolsista Produtividade da Fundação Araucária. E-mail: [email protected]. *** Professora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Sociedade e Desenvolvimento e do curso de Pedagogia da Unespar/Campo Mourão. Doutora em Educação. E-mail: [email protected].

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