Formas de vida do semioticista

June 4, 2017 | Autor: J. Portela | Categoria: Semiótica
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FORMAS DE VIDA: ROTINA E ACONTECIMENTO

Edna Maria Fernandes dos Santos Nascimento Vera Lucia Rodella Abriata (Orgs.)

Ribeirão Preto - SP 2014

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Formas de Vida: Rotina e Acontecimento 1a Edição Organizadores Edna Maria Fernandes dos Santos Nascimento Vera Lucia Rodella Abriata Autores Algirdas Julien Greimas Edna Maria Fernandes dos Santos Nascimento Ivã Carlos Lopes Jacques Fontanille Jean Cristtus Portela Juliana Spirlandeli Batista Barci Matheus Nogueira Schwartzmann Naiá Sadi Câmara Vera Lucia Rodella Abriata Projeto gráfico Lau Baptista Impressão e Acabamento Nova Letra - Blumenau - SC

Ficha Catalográfica Formas de vida: rotina e acontecimento, organizado por Edna Maria Fernandes dos Santos Nascimento / Vera Lucia Rodella Abriata 1. ed. Ribeirão Preto - SP: Coruja, 2014. pag 218p. ISBN: 978-85-63583-64-6 1. Semiótica 2. Formas de vida. 3. Rotina. 4. Acontecimento. I. Nascimento, Edna Maria Fernandes dos Santos. II. Abriata, Vera Lucia Rodella.

Editora Coruja Rua Américo Brasiliense, 1.108 - Tel: (16) 3931-3254 Centro, Ribeirão Preto, SP CEP 14015-050

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Sumário Apresentação.................................................................................. 7 O belo gesto.................................................................................. 13 Algirdas Julien Greimas / Jacques Fontanille Formas de vida, acontecimento e semiótica das culturas: de Greimas a Zilberberg.............................................................35 Edna Maria Fernandes dos Santos Nascimento Quando a vida ganha forma.......................................................55 Jacques Fontanille Formas de vida do semioticista..................................................87 Jean Cristtus Portela / Ivã Carlos Lopes GQ e Men’s health: o estilo gentleman de ser........................111 Juliana Spirlandeli Batista Barci Estratégia e formas de vida em cartas de leitores da revista Veja..........................................................147 Matheus Nogueira Schwartzmann Forma de vida no seriado de ficção televisiva Game of Thrones........................................................171 Naiá Sadi Câmara Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.)

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Acontecimentos, paixão e formas de vida em Guimarães Rosa: uma abordagem semiótica do conto “Estoriinha”................................................................193 Vera Lucia Rodella Abriata Sobre as organizadoras.............................................................215 Sobre os autores.........................................................................216

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FORMAS DE VIDA DO SEMIOTICISTA Jean Cristtus Portela / Ivã Carlos Lopes C’est moi-même qui ai donné le mauvais exemple avec /vie/ et /mort/ dans Maupassant, parce qu’il fallait bien partir de quelque part (A. J. Greimas, em entrevista ao Grupo ASTER.). Persuadés qu’un projet scientifique n’a de sens que s’il devient l’objet d’une quête collective, nous sommes prêts à lui sacrifier quelque peu l’ambition de rigueur et de cohérence (A. J. Greimas e J. Courtés, no Prólogo ao Dicionário).

Os estudos sobre as formas de vida em semiótica, que remontam a A. J. Greimas e J. Fontanille (2014a [1993]), sob influência de L. Wittgenstein (1975 [1953]), abriram um fértil terreno de investigação para os semioticistas. Esse conceito, durante muito tempo tido, nos bastidores da teoria, como mera promessa, como conceito sem grande poder operatório, devido provavelmente à generalidade do fenômeno que descreve, (re)caiu nas graças da semiótica contemporânea após ter sido evocado discretamente por Floch (1997), por Landowski (2002 [1997]), ainda que em outra roupagem, a dos “estilos de vida”, e, além disso, por Fontanille e Zilberberg (2001 [1998]), que a ele dedicaram um capítulo de seu Tensão e significação, no qual instalam sob sua tutela a coerência dos valores que sustêm o sentido das narrativas e, portanto, o “sentido da vida”. Entre as discussões pioneiras, merece ser lembrada igualmente a iniciativa do grupo de Puebla, que já em 1999 consagrou o número inaugural da revista Tópicos del Seminario ao tema. Coordenado por Roberto Flores, o dossiê “Formas de Vida” incluía em especial um fac-símile do manuscrito de Greimas, “La parabole: une forme de vie”, em meio a substanciais contribuições de pesquisadores mexicanos. No mesmo ano saía, de Zilberberg, em tradução também de Roberto Flores, Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.)

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o livro Semiótica tensiva y formas de vida, trazendo o ensaio “El jardín como forma de vida”, reinterpretação e aggiornamento, em termos tensivos, de considerações semióticas tecidas por Herman Parret uma década mais cedo, no capítulo “Le jardin” de sua obra Le sublime du quotidien. No entanto, foi a partir das primeiras proposições de J. Fontanille (2008), que datam de 2004 em sua formulação inicial, que o conceito de formas de vida foi integrado efetivamente ao arcabouço conceitual da semiótica discursiva como o último nível de pertinência de análise da semiótica das culturas, na qualidade de instância formal resultante de um percurso gerativo da expressão que se constitui inicialmente por signos, passa por textos-enunciados, por objetos, por cenas práticas e por suas estratégias, até chegar às formas de vida (FONTANILLE, 2008, p. 34). Mesmo que ainda não se extraiam geralmente muitos resultados da estratificação proposta por J. Fontanille, esse caráter concentrado e englobante do conceito de formas de vida, que já aparecia nas reflexões de Wittgenstein, foi absorvido pelo nosso zeitgeist teórico, e se ainda não se estabilizou (o presente teórico se apresenta sempre uma incógnita mais ou menos temerária), não cessa ao menos de se reproduzir, nos limites das diferentes formulações e aplicações que dele se fazem em semiótica discursiva (Cf. ALBERTA RODRÍGUEZ e RUIZ MORENO, 2011 e 2012; BASSO-FOSSALI e BEYAERTGESLIN, 2012; ABRIATA e NASCIMENTO, 2012). Até o momento, os semioticistas se ocuparam de narrativas literárias, midiáticas ou cotidianas, nelas encontrando formas de vida como o “belo gesto” (A. J. Greimas e J. Fontanille), a “armadilha” (T. Keane), o “absurdo” (J. Fontanille), para citar algumas análises do dossiê clássico de RSSI, vol. 13, n. 1, organizado por J. Fontanille em 1993; como a “libertinagem” (C. Zilberberg), a “solidão” (L. Ruiz Moreno) e o “erro” (H. R. Shairi), análises reunidas no dossiê já citado de BASSO-FOSSALI e BEYAERT-GESLIN (2012); a “lentidão” em 88

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esferas variadas como a pintura, a canção contemporânea ou as práticas alimentares (G. Marrone: o slow food como forma de vida alternativa à “fast life” dos McDonald’s do mundo; Boutaud e Bertin: a lentidão como valorização da experiência gustativa no discurso publicitário de certas marcas de café “espresso ma non troppo”), entre os trabalhos do dossiê temático sobre as “Formas de la lentitud” em recente número duplo do periódico Tópicos del Seminario (2011 e 2012); a estesia incrustada na vida diária (Parret, e depois Zilberberg, falando dos jardins europeus e asiáticos) ou, ainda, como as formas de vida da “mulher brasileira”, como propõe a coletânea de Abriata e Nascimento (2012). Neste trabalho, nosso propósito será refletir sobre as formas de vida que o semioticista assume em sua prática teórica, sobre a maneira como se relaciona com seus objetos de análise e com a construção do texto teórico. Entre os inúmeros textos que poderíamos tomar como objeto, vamos analisar tão somente dois momentos da elaboração teórico-metodológica de A. J. Greimas: Maupassant (GREIMAS, 1976), exemplo do virtuosismo analítico do semioticista lituano, e “Pour ferrer la Cigale” (GREIMAS; KEANE, 1990), capítulo de uma obra organizada em homenagem a Jacques Geninasca. Analisando esses dois textos, que correspondem a dois “extremos” da atividade científica de Greimas, buscaremos mostrar como os grandes “dramas epistemológicos” dos semioticistas estão neles delineados como verdadeiras formas de vida, capazes de dar coerência à totalidade do discurso teórico. Para tanto, vamos orientar nossas reflexões sobre as formas de vida pela (1) formulação de J. Fontanille (2014b, p. 84) segundo a qual compreender a “forma de vida como semiótica-objeto deve [nos levar a] explicitar em todas as circunstâncias como e por que uma vida ‘ganha forma’” e pelos (2) conceitos de exercício (da ordem da implicação) e acontecimento (da ordem da concessão), como definidos

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por C. Zilberberg (2011, p. 14-16), que nos permitem compreender o movimento pendular do sujeito analista na construção de seu discurso teórico1.

Sobre descrição e análise A semiótica discursiva é vista por muitos como a teoria do discurso em que mais abundam procedimentos demonstrativos, etapas e esquemas, uma teoria em que o analista, aparelhado dos corrimões do método, corre o risco de perder-se no exercício, na rotina dessemantizada de uma análise impermeável ao acontecimento analítico e em que todo gesto criador deve ser dedução calculada ou calculável e toda abdução, quando existe, é residual. Na prática, essa ideia, que está longe de ser confirmada pela prática analítica de Greimas, como veremos logo a seguir, assombrou e, de certo modo, assombra gerações inteiras de semioticistas. Tudo se passa como se no mito de criação da semiótica discursiva as formas de vida do rigor e da prudência exercessem a todo momento seu poder coercitivo, obrigando o semioticista a tomar a boa distância de seu objeto e a não interrogar a extensão dos seus métodos. Se pensarmos em termos passionais, essas formas de vida oscilariam entre a coragem e a covardia ou, ainda, entre a arrogância e a humildade. Pelo extremo rigor, sim, mas com prudência, parece ser seu mote. Sabe-se que a ideia de rigor formal encontra eco no projeto greimasiano desde Sémantique structurale (GREIMAS, 1966), obra na qual a veleidade matemática da semiótica é patente. 1 A despeito desse desejo, como observa Fontanille (2008, p. 223-224), Greimas evocará a ideia de projeto ou pesquisa científicos em construção em diversas ocasiões: Greimas e Courtés (2008, p. 12), Greimas (1983, p. 7) e Greimas e Fontanille (1991, p. 15). Essa evocação, mais do que sinalizar o sentido fortemente científico de seu projeto intelectual, aponta a dificuldade ou impossibilidade de alinhá-lo integralmente à ciência. 90

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Dez anos depois de Sémantique e na mesma época de Maupassant, em entrevista a F. Nef, Greimas comentará esse projeto de rigor, no que diz respeito aos modelos de inspiração lógico-matemática, nos seguintes termos: [...] espera-se que nossos modelos sejam representações dos fatos semânticos que se encontram manifestados de uma certa maneira e que se mostram, por essa razão, resistentes e inflexíveis. Nós estamos também satisfeitos com essas estruturas “triviais”: por pouco que se deixem manipular, chegam a dar conta de objetos semióticos cada vez mais numerosos. A semiótica, não se deve esquecer, é antes de tudo uma práxis (NEF, 1976, p. 26)2.

Lamenta-se que a consciência de Greimas sobre a “trivialidade” de seus modelos e o caráter “práxico” ou prático da semiótica – caráter experimental, sociocultural, aproximativo – não é algo que se costuma colocar em evidência no âmbito da semiótica discursiva, especialmente na sua transmissão. Poucos anos depois, do mesmo modo precavido e ciente de seus meios, Greimas e Courtés (2008, p. 128) definem descrição como “procedimentos que satisfazem a critérios de cientificidade”, situando os “procedimentos de descrição” ao lado dos “procedimentos de descoberta”. Sobre os procedimentos de descrição, acusam o “perigo, real, de confundir técnicas operatórias [...] com o próprio fazer científico”. Já os procedimentos de descoberta seriam “a formulação explícita das operações cognitivas que permitem a descrição de um objeto semiótico, de modo a satisfazer às condições de cientificidade”. Fica evidente como os procedimentos de descoberta são preexistentes em relação aos procedimentos de descrição, na medida em que estabelecem tanto os limites quanto as operações de descrição propriamente ditas: 2 “Cf. Greimas e Courtés (2008, p. 272-273), verbete “Intuição”.” Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.)

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Procedimentos de descoberta → Procedimentos de descrição Quando se introduz nesse cenário a questão da análise, percebese claramente como se está a introduzir um termo regente em relação aos termos mencionados anteriormente. Escrevem Greimas e Courtés (2008, p. 29): análise é o “conjunto de procedimentos utilizados na descrição de um objeto semiótico, os quais se particularizam por considerar, em seu ponto de partida, o objeto em questão como um todo de significação, com o objetivo de estabelecer, por um lado, as relações entre as partes desse objeto e, por outro, entre as partes e o todo que ele constitui [...]”. Nessa perspectiva declaradamente hjelmsleviana, assumindo o ponto de vista da coerência global, do todo, a análise estaria no controle do “local”, da parte, considerando e explicitando dependências em níveis distintos, “parte/parte” e “partes/todo”:

Análise → Procedimentos de descoberta → Procedimentos de descrição Assim, a descrição está sob o controle da análise, a “montante” e a “jusante”, e a análise, cuja responsabilidade é operar com o “todo”, não é proibida de flertar com a hipótese. Ela resta por provar, por defender: sua eficácia depende da penetração das relações que depreender, mas não se lhe interdiz o grão da imaginação. Uma questão impõe-se: o exercício da descrição condiciona a prática analítica? Duas respostas são possíveis, ainda que não forçosamente ambas sejam apropriadas, para essa questão, respostas que provêm de diferentes escolhas e acarretam diferentes consequências: • Sim, quando se avalia pura, inocente e enuncivamente a descrição como a sequência textual que antecede a análise. Esse seria um vício (defeito e hábito) recorrente nas teorias dotadas de procedimentos de descoberta e descrição “fortes”, como a semiótica discursiva. 92

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Nessa perspectiva, o analista instala o exercício por duas condutas, ligeiramente distintas: a) Tomando a descrição pela análise, sem explorar hipóteses que não surjam dos próprios procedimentos de descrição. Agindo assim, o analista, enquanto enunciador, neutralizase, suspende seu juízo crítico, seu fazer-interpretativo, e coloca no lugar de sua inteligência e de sua sensibilidade interpretativas a metalinguagem, que, nesse caso, por si só, tal qual uma “máquina de analisar”, pensa pelo analista, pensa o texto em termos de glosa ou paráfrase, em uma versão não muito poética de “não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar”; b) Reservando à análise exclusivamente o papel de sequência conclusiva da descrição, e dando a impressão de que a análise, que se faz em poucas e apressadas linhas, é algo, por um lado, óbvio e tedioso, na medida em que só faz retomar e endossar a descrição, ou, por outro, limitado e perigoso, já que não pode conhecer derramamentos de hipóteses, nem extrapolações criativas que violem os procedimentos de descrição. A essa conduta, para permanecer no repertório cancionista, chamaríamos “o samba é corda, eu sou a caçamba”. • Não, quando se avalia a descrição do ponto de vista enunciativo e não mais do ponto de vista enuncivo, conferindo-lhe o caráter de mero programa narrativo de uso e, portanto, de sequência de caráter modal, que confere competência ao sujeito e que de modo algum se confunde com o programa narrativo de base, a análise, que rege a dimensão contratual e do qual o enunciador controla todos os efeitos de sentido. De onde se conclui que é o exercício da análise que controla a descrição e não o contrário.

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A forma de vida do analista autômato? O sujeito analista, enquanto enunciador da análise semiótica, dispõe dos procedimentos de descoberta e descrição como adjuvantes da prática analítica. A prática analítica na semiótica de Greimas seria orientada pelos princípios de cientificidade tomados de Hjelmslev (exaustividade, coerência e simplicidade) e pelo objetivo central, também hjelmsleviano, de explicar as dependências que estruturam o objeto semiótico. Essas aspirações, somadas à concepção stricto sensu de imanência que perpassa as primeiras décadas da semiótica, deram origem a um imaginário analítico greimasiano ascético e asséptico, austero e metódico, representado figurativamente por “camisas de força”, “muletas” e “prisões”, que nos são impingidas do exterior, das bordas conflituosas da teoria, e nas quais o analista não é apresentado como senhor de si – e tampouco da análise. Aparentemente, o analista não diz nada, só o texto diz – na verdade, nem o texto, é o “como” do texto que diz –, o analista, perfeito autômato, encontra-se assim lobotomizado. A esse respeito, Fontanille (2008, p. 231), ao comentar a prática analítica greimasiana, afirma: Greimas sonhava, na esteira de Hjelmslev, com um discurso científico impessoal, sem sujeito, sem enunciação; seu ideal sobre a publicação científica, em parte tomado das ciências exatas, era a publicação coletiva (ao menos em parceria), em que ninguém deveria reconhecer a pena de um ou de outro3.

Cabe aqui, como quer que seja, uma dupla observação a temperar essa imagem do sujeito analista, para que não se pense nela como um absoluto sem qualquer vestígio de outros traços. 3 Todas as traduções das obras em língua estrangeira citadas na bibliografia são nossas. 94

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Se é verdade que A. J. Greimas não renega esse imaginário, alimentado em sua juventude, do analista idealmente pautado só pelos algoritmos de sua ciência, logo, uma espécie de sujeito “transparente”, sem espessura própria (cf. o verbete “Autômato” do Dicionário I), isso nunca chegaria a implicar um completo descarte da intervenção do sujeito: Definida em filosofia como uma forma de conhecimento imediato que não recorre às operações cognitivas, a intuição poderia ser considerada como um componente da competência cognitiva do sujeito, que se manifesta no momento da elaboração da hipótese de trabalho. [...] Sem diminuir a importância do discurso da pesquisa, parece-nos indispensável levar em consideração a intuição na análise do discurso da descoberta4.

Ademais, quando se olha detidamente a prática analítica do próprio Greimas, o analista concebido como autômato não passa de um ideal pouco ou nada realizado, já que o semioticista lituano em seus trabalhos não hesitava em enriquecer a análise com hipóteses cunhadas em momentos, justamente, de pura intuição, cuja verificação deixava a cargo da descrição localizada e controlada.

Greimas, leitor de Maupassant – ou dos “esforços desproporcionais às descobertas” Nenhum escritor francês, ou melhor, nenhum autor recebeu tanta atenção de Greimas quanto Maupassant. Prova disso é seu Maupassant, 4 A despeito desse desejo, como observa Fontanille (2008, p. 223-224), Greimas evocará a ideia de projeto ou pesquisa científicos em construção em diversas ocasiões: Greimas e Courtés (2008, p. 12), Greimas (1983, p. 7) e Greimas e Fontanille (1991, p. 15). Essa evocação, mais do que sinalizar o sentido fortemente científico de seu projeto intelectual, aponta a dificuldade ou impossibilidade de alinhá-lo integralmente à ciência. Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.)

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de 1976, em que analisa o conto “Dois amigos” ao longo de quase 300 páginas. Propondo a superação das dicotomias muitas vezes impostas pela abordagem tradicional dos gêneros literários, Greimas, a despeito da tradição que configura na poesia do século XIX o modelo do Simbolismo e, na prosa, o modelo do Realismo, vai nos propor um Maupassant “simbolista”, que, embora empregue procedimentos da prosa dita realista, concebe seu conto com a força simbólica de um poema. Mônica Rector (1978, p. 60), em Para ler Greimas, assim descreve essa curiosa obra que é Maupassant (“uma obra sem bibliografia!”, irritou-se à época J.-C. Coquet, segundo seu círculo mais próximo): Em Maupassant, Greimas analisa magistralmente o texto Deux amis. Seis páginas destrinchadas ao longo de 276 outras. Cada sequência, cada frase, cada pausa é analisada. Dois amigos pescando, rodeados pelas circunstâncias de guerra, são surpreendidos e considerados espiões. O diálogo está cravado de verdades paradoxais. A figura da Água fascina e atrai, mas o Céu horroriza e afasta pelo vazio. A charada é decifrada por meio de um simbolismo cristão, a leitura é feita como se se tratasse de uma parábola do Evangelho.

No prólogo a Maupassant, Greimas (1976, p. 7) afirma: “como a exploração de um etnólogo, instalado em seu campo, este trabalho com o texto deve ser, para o semioticista, uma volta inocente às fontes”. Como se sabe, o corpo a corpo com o texto é uma figura recorrente na obra greimasiana. Nesse mesmo prólogo, o semioticista é comparado ao estrangeiro, ao forasteiro, que chega a um lugar desconhecido e mal disfarça sua presunção e sua ignorância, agindo por “esforços desproporcionais às descobertas” e surpreendendo-se ao encontrar “fatos que perturbam suas certezas e o obrigam a reconsiderar 96

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explicações inteiramente prontas” – o que, segundo o mestre lituano, seria característica de toda prática científica. No posfácio à obra, Greimas (1976, p. 243) irá explicar a estratégia analítica adotada, que consiste, por questões didáticas, em variar o cardápio descritivo-analítico para “Dois amigos”: Esse percurso sintagmático e linear do texto, delimitado por frequentes paradas, assim como por inúmeros desvios e retornos, que acabamos de realizar, nós chamamos “exercícios práticos”; isto não é um sinal de modéstia, mas a designação de uma abordagem metodológica. Esta abordagem é eminentemente autodidática. Procuramos rever o maior número de fatos textuais, mudando porém, para cada segmento, para cada sequência, tanto quanto era possível, de ponto de vista e de ponto de insistência, aumentando as variações metodológicas de acordo com as variações textuais.

São essas “paradas frequentes” e esses “inúmeros desvios e retornos” que gostaríamos de colocar em evidência a seguir, dando atenção especial ao que, no exercício da descrição, irrompe como acontecimento analítico. Curiosa é a refutação do “sinal de modéstia” que os “exercícios” poderiam evocar, o que confere um caráter explicitamente passional à forma de vida do semioticista, aberta ao acontecimento e, no limite, à concessão.

A saliência do “céu” A análise de “Dois amigos” é segmentada por Greimas em doze sequências numeradas, que constituem, na ordem, análises detalhadas de doze segmentos do conto, nomeados de maneira predominantemente temática: I. Paris; II. A amizade; III. O passeio; IV. A busca; V. A paz; VI. A guerra; VII. A captura; VIII. A reinterpretação; IX. A recusa; X. A morte; XI. As exéquias; XII. O encerramento da narrativa. Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.)

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Para mostrar como o analista, dentro dos limites impostos pela cientificidade de seus procedimentos de descoberta e descrição, formula hipóteses que vão afetar decisivamente a análise, hipóteses que provêm mais de suas intuições do que propriamente do arranjo textual e que solicitam a descrição para validá-las e naturalizá-las, escolhemos o tratamento dado por Greimas à figura do “céu” na narrativa de Maupassant. Na análise da Sequência II – A amizade, Greimas (1976, p. 4064) configura a seguinte correlação entre figuras do texto e conteúdos semânticos investidos: Sol (vida) : Monte Valérien (morte) :: Água (não morte) : Céu (não vida)

Que dá origem a dois percursos: (1) Sol (/vida/) → Céu (/não-vida/) → Monte Valérien (/morte/) (2) Monte Valérien (/morte/) → Água (/não-morte/) → Sol (/vida/)

A partir dessa sequência, o “céu” (/não-vida/), ao mesmo tempo “ator-espaço” e “ator-sujeito” (p. 59), sempre aparecerá como “espaço vazio suscetível de ser preenchido” (p. 58), “lugar vazio, preenchido ocasionalmente de luz” (p. 79), ilusório e mentiroso (p. 79-82), modelo de “vacuidade” (p. 236), já que anuncia um belo dia e reflete o “sol” (/vida/), preparando o caminho que conduzirá os dois amigos ao assassinato próximo à “água” (/não-morte/), ao pé do “Monte Valérien” (/morte/). É curiosa a insistência de Greimas acerca do papel que o “céu” desempenha na morte dos dois amigos. Embora o “sol” ilumine o “céu” e faça brilhar com seus raios os peixes pescados pelos dois amigos minutos antes de serem executados, na análise greimasiana ele é relacionado tão somente à /vida/, ocupando um estatuto eufórico em comparação com a /não-vida/ que o “céu” manifesta. 98

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Não bastasse a hipótese forte do analista na explicação da figura “céu” em “Dois amigos”, ele fará uma referência interdiscursiva explícita ao uso da figura “céu” em “O cordão”, que apresentaria algo típico da “ideologia do enunciador (Maupassant)”, que é atribuir ao “céu” o papel de destinador que precisa ser afrontado (p. 236-237). Do rigor e da prudência, passamos à paixão do analista e à sua capacidade de (re)significar a complexa rede de relações figurativa tecida pelo enunciador Maupassant. Como apreender essa descrição sem atribuí-la à ousadia da análise, ou melhor, do analista? Na forma de vida do semioticista, a julgar por sua prática, há lugar para a intuição, para a erudição, para o enigma próprio ao texto, que quanto mais exacerbado, mais lustroso.

Contatos extratextuais de primeiro, segundo e terceiro grau Analisando a Sequência X – A morte, o mesmo Greimas que dissera no Brasil três anos antes que fora do texto não havia salvação (GREIMAS, 1974, p. 25), vai comentar o emprego das figuras “Alemão” (o oficial que os interpelou) e “dois franceses” (os dois amigos propriamente ditos), em correlação com as figuras “o culote de uniforme” e “farda furada no peito”, à luz do comentário de “um jovem pesquisador alemão que assistiu à apresentação oral de certos elementos [da] análise” (nota de rodapé) e ao mito revolucionário de 1789, ressurgido na instauração da República (época em que se passa o conto, 1883) e que permanecia “vivo até hoje” (GREIMAS, 1976, p. 217). Segundo o jovem alemão, a oposição entre “Alemão” e “dois franceses” poderia se dever a certo caráter nacionalista de Maupassant (“Não estamos aqui para julgar a ideologia do autor”, acrescenta Greimas (1976, p. 217)). O “culote” e a “farda” (a “tunique”, no original francês, que pode ser uma túnica militar como uma camisa longa ou como um dólmã), que aparecem no começo e no final do conto, fariam as vezes de figurativizar o pertencimento à nação francesa. Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.)

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Tais considerações, que revelam um Greimas preocupado em restituir a espessura histórica do universo figurativo de Maupassant, e bem menos conservador do que se pretendia, são no mínimo curiosas e nos fazem corar quando lembramos da nossa insistência para que alguns alunos se atenham ao “texto”, ao menos em um primeiro momento, e que evitem as boas e fáceis hipóteses do “contexto”, seja lá o que esse termo signifique hoje, quando vivemos a época forra do “cotexto” [sic] ou da semiotização do “contexto” ou da “situação”. Na sequência dessa passagem, a leitura que Greimas (1976, p. 237) faz da queda dos dois amigos mortos em formato de cruz (Sauvage, que é baixo, cai “atravessado sobre seu colega” Morissot, que é mais alto) e do sangue que jorrou do peito de Morissot é peculiar: aí estaria uma isotopia figurativa relativa à “parábola cristã”, na medida em que “lembra estranhamente a figura de Jesus crucificado” (GREIMAS, 1976, p. 238). Pelo uso provavelmente de um “discurso parabólico”, segundo Greimas (1976, p. 239), Maupassant estaria relacionado a uma “tradição ‘mítica’ do século XIX, solidamente estabelecida”, de cunho “simbolista”. Essa leitura, como o próprio Greimas salienta, é apenas uma das possíveis leituras desse discurso pluri-isotópico, embora ele insista que seja “errôneo imaginar [...] que tudo pode ser reduzido assim a uma competência subjetiva do leitor e servir para confirmar a teoria de uma ‘infinidade de leituras possíveis’” (GREIMAS, 1976, p. 239). Uma vez mais a “isotopia cristã” será evocada, dessa vez a respeito da ordem do Prussiano para fritar os peixes pescados pelos dois amigos (GREIMAS, 1976, p. 259). Nessa passagem, mesmo afirmando não ser “competente para discutir aqui as questões árduas de exegese bíblica”, Greimas faz referência à pesca milagrosa, em que Jesus e seus discípulos distribuem peixes ao povo, enquanto ironicamente no conto “Dois amigos” os peixes são “doados” ao antissujeito, um destinatário inesperado. 100

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A fumaça do analista Para terminar nosso inventário de análises ousadas em Maupassant, que conferem componentes passionais igualmente arrojados à forma de vida do semioticista, eis uma analogia que nos parece particularmente notável (GREIMAS, 1976, p. 260-261): o “Prussiano fumante”, que representaria a /calma/, em proximidade com o “Monte Valérien”, que expele fumaça, “fuma” afirmando seu poder, o que para Greimas, é a figurativização da potência, do “ser do poder”. Impossível evitar a anedota ontológica: Greimas, como todos sabem, era um fumante inveterado... Ao nosso ver, essa analogia nos permite entrever certamente uma marca da fumaça, ou melhor, do estilo do genial analista fumante.

O destino da Cigarra em “Pour ferrer la Cigale” Num livro coletivo, publicado em 1990 em homenagem ao artista plástico e semioticista Jacques Geninasca, Greimas incluiu um brevíssimo ensaio elaborado em parceria com Teresa Keane, com o título “Pour ferrer la Cigale”, em que propõe uma leitura da última estrofe da fábula “A Cigarra e a Formiga”, de La Fontaine. Eis o texto em questão: – Nuit et jour à tout venant Je chantais, ne vous déplaise. – Vous chantiez? j’en suis fort aise: Eh bien! dansez maintenant. As considerações de Greimas e Keane começam pelo núcleo passional confrontado na rima dos dois versos internos, “ne vous déplaise” / “j’en suis fort aise”, cada um dos quais se assenta em seu contrário (negação da disforia da Formiga / afirmação de sua euforia Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.) 101

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ante a constatação da desgraça da Cigarra). Os autores dedicarão prioritariamente sua atenção à Cigarra, como portadora de uma forma de vida própria, que se manifesta no cantar e consiste em um certo “desembaraço no viver”. À transformação sofrida pela Formiga – antes, frustrada por constatar a descuidada vida boêmia de sua visitante e, agora, feliz pela dura sanção que sobre ela, Cigarra, se abate – responde em negativo a metamorfose da Cigarra, desde sempre cantora aos quatro ventos, condenada a converter-se em malograda dançarina (“Eh bien! dansez maintenant.”), no instante em que se vê subitamente só. Mas, longe de se ater à decifragem metódica dos dispositivos intrínsecos ao poema eleito, a leitura de Greimas e Keane alarga, de pronto, a perspectiva, recorrendo à “enciclopédia” (ecos de Eco?) para aí garimpar alguns scripts cristalizados em provérbios, locuções feitas, ditos notórios, etc., os quais fornecerão preciosas indicações para o movimento interpretativo do texto do fabulista. Assim, por exemplo, o velho adágio Qui bien chante et qui bien danse, Fait un métier qui peu avance. que soa quase como a própria voz da Formiga, é revelador da íntima associação entre o dançar e o cantar, sedimentada naquela cultura, a demonstrar que o canto e a dança referidos no poema não pertencem, como se poderia supor numa análise desassistida de tal bagagem, a duas isotopias paralelas, mas sim a uma única. Vê-se, nesse ponto do comentário de Greimas e Keane, que os analistas estão trabalhando, por certo, a partir do meticuloso exame do texto mesmo de La Fontaine, mas que, simultaneamente, o trabalho analítico com as estruturas inerentes ao poema inscreve-se, mediante as cristalizações de senso comum historicamente documentadas, no amplo horizonte da cultura que viu surgir o texto e que lhe confere, ao fim e ao cabo, uma interpretabilidade mais densa. Não era outro o procedimento, quando, já no Maupassant de 102

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1976, Greimas lançava mão de todo um cabedal de ordem cultural como subsídio à leitura das evocações da nacionalidade dos protagonistas postos em cena no conto. Para um texto como o dessa fábula, construído sobre expressõesclichê, sobre sintagmas cristalizados, o olhar de Greimas e Keane é capaz, entretanto, de pôr a nu todo um trabalho da poiesis velada pelas aparências triviais de quanto ali se diz. Há, é certo, uma figuratividade estereotípica, incluindo a formiga trabalhadeira e a cigarra dissipada, além da vontade moralizante de se ver punida a cigarra que, distraída em sua forma de vida modalizada pelo querer e aspectualizada pela continuidade, não teve juízo bastante para cumprir seu dever mínimo. Mas os autores assinalam coisas menos evidentes, detendo o olhar naquela palavra situada no ponto final do texto, “maintenant”. Nessa exata posição, o vocábulo faz duas rimas: a primeira, mais patente, com a expressão à tout venant – explicitando que o cantar da Cigarra não era apenas para seu próprio prazer, mas destinado a qualquer um que quisesse ouvi-la; a segunda, uma “rima-contraste do conteúdo” frente à locução que abre a estrofe, nuit et jour, designando a totalidade do tempo preenchido pelas atividades da vida. Dessa disposição e dessa dupla dependência é que procede, portanto, o peso extraordinário que ganha, aí, o “maintenant”: por um lado, a negação da globalidade do tempo em uma punctualidade; por outro, a anulação da comunicação intersubjetiva permanente da Cigarra, para dar lugar à completa solidão daquela que agora vai “dançar”. Assim, transitando sem muita cerimônia entre diversos níveis de pertinência, o semioticista lituano e sua parceira mostram como a passagem da Cigarra, de uma atividade social e intersubjetiva – o canto, emitido dia e noite perante a plateia de “todos que vierem” – para o brusco momento (“maintenant”) da instauração de seu isolamento, como essa passagem corresponde à repentina abolição de todo um Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.) 103

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projeto de vida, até então celebrado com deleite e leveza5. Quase como se, anacronicamente falando, La Fontaine arremessasse a Cigarra, sem transição, das latitudes generosas de um quente princípio de prazerem-coletividade para a severa zero-dimensionalidade da consciência do real que a faz cair, sozinha, no inverno. A brusquidão da réplica final da Formiga investe-se da violência (subitaneidade + força) adequada à lição de moral que, de muito bom grado, como guardiã de uma forma de vida previdente e circunspecta, ela pode enfim aplicar à infeliz figura alegre que lhe bate à porta. Escrito nos últimos anos de vida de Greimas, depois daquele ponto de viragem que foi Da Imperfeição (1987), o estudo “Pour ferrer la Cigale”, sob as aparências de uma desimportante nota de circunstância, indica uma atitude analítica na qual o proverbial rigor do semioticista alia-se não apenas à erudição como também, e sobretudo, ao apetite da descoberta de novas facetas do texto eleito, aí considerados, em gesto integrador, sua expressão e seu conteúdo. Quando lembramos que aí se trata de um texto tão célebre quanto “A Cigarra e a Formiga”, os comentários de Greimas e Keane vêm proporcionar, pelo exemplo, uma confirmação a mais de que não se acaba nunca de ler um clássico – nem mesmo um simples fragmento dele. Esperamos ter esclarecido também, ao reportar a análise, muito mais aturada e minuciosa, dos “Dois Amigos” de Maupassant, que, em plena construção de um método descritivo, Greimas tampouco se furtava aos lampejos da revelação de sinais, configurações, pistas de leitura imprevistas que a frequentação da obra acabaria trazendo à manifestação. Clarividência do grande lituano: em meio à edificação do exercício, a acolhida consentida aos acontecimentos e surpresas da análise sob a forma de seus insólitos insights. 5 Essa análise do fr. maintenant viria a ser lembrada e explorada, também no campo literário, tempos depois, por Denis Bertrand em seu ensaio “Maintenant”, publicado no periódico italiano E/C em 2004 (BERTRAND, 2004, pp. 2-3).

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Que “formas” para que “vida”? Seria precipitado, no atual estágio das pesquisas, afirmar que o conceito de “forma de vida” conta, em semiótica, com a mesma solidez que outras noções de introdução mais antiga, as quais já atravessaram o polimento que lhes imprimem, nos casos felizes, os debates dos teóricos e o embate com a decifração de bom número de textos. Por volumosas que já sejam as discussões a respeito em domínios circunvizinhos como a filosofia ou a pragmática, deve-se reconhecer que a semiotização desse conceito wittgensteiniano ainda é work in progress, e que mesmo os importantes avanços trazidos, de dez anos a esta parte, pelas propostas de Fontanille, aguardam a construção de um esteio mais firme em estudos de caso que venham a consolidar-lhe pouco a pouco a operacionalidade. Mas, de toda maneira, desde já se evidencia nesse conceito a vocação para o social e o cultural que tem animado parte da investigação semiótica e que, em nossa conjuntura, é uma das peças da disputa territorial travada, ainda que tacitamente, pelos adeptos do “universal”, num campo, e do “situado”, no outro. De fato, embora não querendo alcançar a “origem” de coisa nenhuma, os semioticistas se interessam bastante, e não é de hoje, por “universais”. Para ficar em território familiar, houve um tempo em que a narratividade proppiana, filtrada e tornada mais abstrata por A. J. Greimas, era considerada como “a” narratividade universal, antes de vir a ser reavaliada, em face da resistência de muitos textos literários aos moldes do conto maravilhoso, como “uma” narratividade – por certo, das mais recorrentes – entre outras. Com o passar dos anos e das décadas, a semiótica foi assistindo, à medida que se abria mais e mais o leque das orientações de pesquisa, a um distanciamento progressivo entre as preocupações “universalistas” por um lado e, digamos, “relativistas” ou “situadas” por outro. A vertente do “universal” vem explorando substratos cada vez mais depurados e distantes das formas textuais, chegando por vezes, sob o Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.) 105

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impulso de um certo cognitivismo contemporâneo, a enveredar pelos modelos de mente/cérebro ou até, nos casos extremos, a propor algo como uma “biossemiótica”, a exemplo daqueles que, desde antes, já vinham preconizando uma biolinguística. Tal integração com as ciências da natureza comporta o risco, para a semiótica, de se ver relegada à condição de um estudo de meros epifenômenos observáveis em superficialidades cujos determinantes profundos são objeto da atenção de biólogos, físicos... os quais se ocupariam, eles sim, das coisas que realmente importam. Por outro lado, há semioticistas envolvidos em prioridade com a questão da produção do sentido dentro de um meio, não mais natural, porém cultural, cujos trabalhos tendem a reaproximar a semiótica da antropologia, da sociologia, da psicanálise – em suma, do conjunto das ciências humanas, com as quais ela entreteve historicamente laços menos ou mais pronunciados. É preciso, nessa orientação, manter a exigência de explicitação das formas (da expressão e do conteúdo) em exame, para que a semiótica, após tanto labor e tanta energia dedicada à construção de protocolos analíticos, não se acabe diluindo em algo como uma subespécie acanhada de Cultural studies desprovidos de militância. Mas, entre as aquisições interessantes que o fenômeno anglosaxônico dos Cultural studies vem produzindo, podemos destacar o papel de pivô em que se passa a colocar a variação no universo semiótico, que é o dos valores. Levada a sério, a variação nos repropõe o problema da inserção dos textos que lemos dentro de conjuntos maiores que os contêm, o que equivale a dizer, em última instância, a cultura, justamente. Tensionado, hoje mais do que em outros períodos, entre os apelos da “naturalização” e da “culturalização” do sentido, o semioticista – não se pode ter tudo – está defrontado com escolhas por fazer. Em tempos de tecnociência triunfante e de crise das humanidades, ninguém negaria que o pendor para a naturalização vem conquistando mais e 106

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mais terreno nas décadas recentes. Queremos crer, todavia, que, tanto em função de suas fontes teóricas quanto das demandas do presente, o semioticista tem interesse em estender sua investigação na direção do social e da cultura, sem perder de vista a centralidade do texto e do discurso como níveis de organização irredutíveis, dotados de morfologias próprias. Sem consciência desses múltiplos patamares de descrição, não há esperança de formar bons analistas, nem sequer bons leitores, estes pressupostos à existência daqueles. Isso nos traz de volta a questões práticas e bem palpáveis para nós, semioticistas. Por incontornável que seja a necessidade da análise do texto enquanto tal em sua morfologia interna, sua divisão em partes, suas dependências entre parte e parte e entre partes e todo, sua hierarquia de níveis de abstração, etc., esta não pode, a não ser por um gesto arbitrário, ser vista como uma autarquia, impermeável às trocas com os englobantes do texto, tais como seus objetos-suporte, as práticas na vida social, as formas de vida à luz das quais elas se leem. Dito de outo modo, o labor analítico não nos dispensa de pensar, para além, nas questões interpretativas e finalmente críticas a que somos conduzidos quando, afastando o olhar, passamos a contemplar os sucessivos entornos em que um texto se produz, se negocia e circula. E, por menos que nos interroguemos sobre nossa própria prática enquanto profissionais, como esquecer, lado a lado com a exatidão visada pelas análises, o dever da formação de leitores cada vez mais críticos? Ante a magnitude das tarefas por empreender, podemos ficar sossegados, que não há de nos matar o tédio.

Referências ALBERTA RODRÍGUEZ, Blanca ; RUIZ MORENO, Luisa (eds.). Dossiê temático “Formas de la Lentitud”. Tópicos del Seminario, nº 26 (2011) e 27 (2012), Universidad Autónoma de Puebla, México. Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.) 107

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GREIMAS, Algirdas Julien, COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. Tradução Alceu Dias Lima et al. São Paulo: Contexto, 2008. GREIMAS, Algirdas. Julien.; FONTANILLE, Jacques. O belo gesto. Trad. Edna Maria Fernandes dos Santos Nascimento. In: NASCIMENTO, Edna. Maria. Fernandes. dos Santos.; ABRIATA,Vera.Lucia.Rodella (org.). Formas de vida: rotina e acontecimento. Ribeirão Preto: Coruja, 2014. GREIMAS, Algirdas. Julien.; FONTANILLE, Jacques. Sémiotique des passions: des états de choses aux états d’âme. Paris: Seuil, 1991. GREIMAS, Algirdas. Julien.; KEANE GREIMAS, Teresa. Pour ferrer la Cigale. In: FRÖLICHER, Peter. et al. (org.). Espaces du texte: recueil d’hommages pour Jacques Geninasca. Neuchâtel: La Baconnière, 1990. LANDOWSKI, Eric. Formas da alteridade e estilos de vida. In: _____. Presenças do outro: ensaios de sociossemiótica. Trad. Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: Perspectiva, 2002. NEF, Frédéric. (org.). Structures élémentaires de la signification. Bruxelles: Éditions Complexe, 1976. PARRET, Herman. Le sublime du quotidien. Paris/Amsterdam/Philadelphia: HadèsBenjamins, 1988. WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. São Paulo: Abril Cultural, 1975 (Coleção Os Pensadores). ZILBERBERG, Claude. Semiótica tensiva y formas de vida. Puebla: Universidad Autónoma de Puebla, 1999. ZILBERBERG, Claude. Des formes de vie aux valeurs. Paris : PUF, 2011.

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Sobre as organizadoras EDNA MARIA FERNANDES DOS SANTOS NASCIMENTO. [[email protected]]. Docente do Programa de Pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa da UNESP-Araraquara, pesquisadora do CNPq e membro co-fundador do Grupo de Pesquisa CASA (Cadernos de Semiótica Aplicada). Mestre e doutora em Linguística pela Universidade de São Paulo, livre-docente em Linguística pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-Araraquara). Publicou em co-autoria o livro João Guimaraes Rosa. Homem plural, Escritor singular (Atual, 1988), organizou com outros pesquisadores os livros: Formas de vida da mulher brasileira (Coruja, 2012); Leitura: linguagens, representações e práxis (Unifran, 2009); Processos enunciativos em diferentes linguagens (Unifran, 2006) e tem vários capítulos e artigos publicados na sua área de especialização, a semiótica greimasiana. Sua pesquisa centra-se nos seguintes temas: rotina, acontecimento, paixão, formas de vida, mulher, cultura brasileira.

VERA LUCIA RODELLA ABRIATA. [[email protected]]. Docente e Coordenadora do Programa de Mestrado em Linguística da Universidade de Franca. Atua na Graduação em Letras e no Programa de Mestrado em Linguística da Unifran. Membro co-fundador do Grupo Texto e Discurso (GTEDI), certificado pela UNIFRAN. Mestre em Estudos Literários e Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-Araraquara). Publicou e organizou em co-autoria os livros Leitura: a circulação de discursos na contemporaneidade (Unifran, 2013), Formas de vida da mulher brasileira (Coruja, 2012), Discursos e linguagens: objetos de análise e perspectivas teóricas (Unifran, 2011), Sentidos em movimento. Identidade e argumentação (Unifran, 2008). Suas pesquisas estão voltadas para a Semiótica francesa, a narrativa, a poética e a literatura brasileira. Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.) 215

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Sobre os autores ALGIRDAS JULIEN GREIMAS. Semioticista francês de origem lituana, nascido em 1917 e morto em 1992. Foi professor em Alexandria, Ancara, Istambul, Poitiers e em Paris, na École de Hautes Études en Sciences Sociales – EHESS. Fundador dos estudos de semiótica estrutural e da Escola de Semiótica de Paris. Tem vários artigos e livros publicados, dentre eles destacam-se: Semântica estrutural (1966), Sobre o sentido (1970), Semiótica e ciências sociais (1976), Maupassant: a semiótica do texto: exercícios práticos (1976), Sobre o sentido II: ensaios semióticos (1983), Da imperfeição (1987). Escreveu com Joseph Courtés Dicionário de semiótica (1979), obra em que sistematizam os princípios da semiótica greimasiana.

IVÃ CARLOS LOPES. [[email protected]]. Docente do Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, atuando na Graduação em Letras e na Pós-Graduação em Semiótica e Linguística Geral. Membro co-fundador do Grupo de Estudos Semióticos (GES) da Universidade de São Paulo. Publicou as seguintes obras: Semiótica: identidade e diálogos (org., com Jean C. Portela, Waldir Beividas e Matheus N. Schwartzmann, Cultura Acadêmica, 2012); Semiótica da poesia: exercícios práticos (org., com Dayane Celestino de Almeida, Annablume, 2011); Elos de Melodia e Letra (com Luiz Tatit, Ateliê Editorial, 2008); Semiótica: objetos e práticas (org., com N. Hernandes, Contexto, 2005, reprint 2009). Tem realizado traduções, sempre do francês para o português, de trabalhos na área de ciências da linguagem. Seus interesses de pesquisa distribuem-se entre a semiótica geral e aplicada, a linguística geral, a poética e a cultura brasileira. 216

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JACQUES FONTANILLE. [[email protected]]. Docente Titular do Departamento de Ciências da Linguagem da Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade de Limoges (França). É membro sênior do Instituto Universitário da França e fundador do Centro de Pesquisas Semióticas da Universidade de Limoges. Sua obra compreende centenas de artigos e dezenas de obras organizadas e de autoria individual, muitas delas traduzidas para diversas línguas. Entre suas publicações, destacam-se Semiótica das paixões (Ática, 1993, ed. br.), em coautoria com A. J. Greimas, Semiótica do discurso (Contexto, 2012, 2. ed. Br.), Pratiques sémiotiques (PUF, 2008), Corps et sens (PUF, 2011) e Des images à problèmes: le sens du visuel à l’épreuve de l’image scientifique (PULIM, 2012), com Maria Giulia Dondero.

JEAN CRISTTUS PORTELA. [[email protected]]. Docente do Departamento de Linguística e do Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, câmpus de Araraquara (SP). Pós-doutor em Semiótica pela Université de Limoges (França), Doutor em Linguística e Língua Portuguesa pela Unesp de Araraquara (SP) e Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (PR). Líder do Grupo CASA, vice-líder do Grupo de Pesquisa em Semiótica da Unesp (FCLAr/Unesp) e membro-fundador do Seminário de Semiótica da Unesp (SSU). É editor-chefe dos CASA - Cadernos de Semiótica Aplicada. Autor e tradutor de diversas publicações científicas, desenvolve atualmente pesquisas em história e epistemologia da semiótica.

JULIANA SPIRLANDELI BATISTA BARCI. [juspirlandeli@ hotmail.com]. Docente nos cursos de Letras, Tradutor e Intérprete, Nutrição e Gastronomia na Universidade de Franca. Coordenadora dos cursos de Letras, Tradutor e Intérprete e Pedagogia da Universidade de Edna Maria dos Santos Fernandes Nascimento /Vera Lúcia Rodella Abriata (Orgs.) 217

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Franca. Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Fclar/Unesp/ Araraquara e Mestre em Linguística pela Universidade de Franca. Especialista em Língua Inglesa e  graduada em Letras e Direito pela Universidade de Franca. Áreas de atuação e conhecimento: Semiótica, Prática de Tradução, Ensino e Aprendizagem de Língua Inglesa e Inglês e Francês instrumental.

MATHEUS NOGUEIRA SCHWARTZMANN. [[email protected]]. Docente do Departamento de Linguística da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, câmpus de Assis (SP), é doutor em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP (2009), com estágio de doutorando na Université de Limoges, França (2006), e mestre em Estudos Literários pela UNESP (2005). Tem experiência na área de Linguística e Língua Portuguesa, com ênfase em Semiótica francesa e é membro -pesquisador do Grupo CASA (FCLAr/Unesp). Além de ter publicado diversos artigos e capítulos de livro, traduziu textos da área de Semiótica, e co-organizou as obras Leitura: a circulação de discursos na contemporaneidade (Unifran, 2013), Semiótica: identidade e diálogos (Cultura Acadêmica, 2012) e Discurso e linguagens: objetos de análise e perspectivas teóricas (Unifran, 2011).

NAIÁ SADI CAMARA. [[email protected]]. Docente do Programa de Mestrado em Linguística e do curso de Letras da Universidade de Franca. Pesquisadora dos grupos de pesquisa CASA (FCLAr/ Unesp), Grupo de Texto e Discurso - GTEDI (UNIFRAN), Grupo de Estudos sobre Mídias Interativas em Imagens e Som- GEMINIS- (UFSCAR). Mestre e doutora pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Publicou e organizou em co-autoria os livros Leitura: a circulação de discursos na contemporaneidade (Unifran, 2013) e Textos e contextos (Unifran, 2012). A partir dos fundamentos da semióti218

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ca greimasiana, suas pesquisas atuais se voltam se para os seguintes temas: educação e entretenimento, narrativas seriadas audiovisuais, televisão, transmídia, processos de ensino-aprendizagem de leitura e produção de textos.

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