FORMULACAO DE PEDIDOS EM CONTEXTOS ORAIS DO PORTUGUES DO RIO DE JANEIRO

May 29, 2017 | Autor: M. Sauco | Categoria: Portuguese as a Foreign Language
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PONTIFÍCIA UNIVESIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO DEPARTAMENTO DE LETRAS 2005

PROPOSTA DESCRITIVA DAS FORMAS DE ABORDAGEM DAS PESSOAS PARA FORMULAR PEDIDOS EM CONTEXTOS ORAIS DO PORTUGUÊS DO RIO DE JANEIRO-BRASIL

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO: FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS (Pós-graduação Lato Sensu)

MATÉRIA: PESQUISA ORIENTADA. PROFESSORA: ROSA MARINA DE BRITO MEYER. ALUNA: MARÍA GRISELDA SAUCO

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 2

3. ANÁLISE ................................................................................................................... 6

3.1. CLASSIFICAÇÃO DOS PEDIDOS...................................................................... 6

3.1.1. PEDIDO DE INFORMAÇÃO: DIRETO E INDIRETO................................. 7

3.1.2. OUTROS PEDIDOS :DIRETOS E INDIRETOS .......................................... 10

3.2. MARCADORES INTRODUTORES AO PEDIDO........................................... 14

3.2.2. PRÉ-SEQÜENCIAS........................................................................................... 17

4. CONCLUSÃO........................................................................................................... 19

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 21

1. INTRODUÇÃO

A forma de que o brasileiro se utiliza para fazer um pedido a alguém, a maneira como ele aborda as pessoas, foi uma das minhas principais inquietações quando cheguei no Rio para fazer o curso de pós-graduação na PUC. Eu, argentina, apesar de ter um bom domínio da língua portuguesa, tinha muitas dúvidas na hora de chegar perto das pessoas para pedir uma informação na rua: como é que eu faço?, pergunto de maneira direta ou faço uma longa introdução como costumo fazer no espanhol? Nunca tinha aprendido na sala de aula, nem visto em nenhum livro didático algo que pudesse me ajudar para esta situação concreta. Acabava fazendo a pergunta depois de uma introdução do tipo: posso lhe fazer uma pergunta? Será que o senhor pode responder para mim?, e só observava expressões de estranhamento. A revisão de alguns livros didáticos de português para estrangeiros, Bem-Vindo (Florisi, S. et al., 1999), Avenida Brasil (Lima, O. F. et al. 1991), Falar, ler, escrever (idem, 1999), Fala Brasil (Coudry. P. et al. 2004), Aprendendo o português do Brasil (Laroca et al., 1992), me deu o impulso para começar a pesquisa. Em um dos materiais em que o assunto aparece mais desenvolvido é no livro Aprendendo o português do Brasil (idem, 34-35). Nele é apresentada uma sistematização de diferentes graus de polidez para fazer um pedido. No entanto, não há uma classificação exaustiva, não é mencionado o uso de certos marcadores para introduzir o pedido, nem se mostram certos marcadores de polidez. Foi por essa razão que comecei a observar como os brasileiros agiam para chamar atenção de alguém com o objetivo de fazer um pedido. Achei que uma pesquisa relacionada com as formas de abordagem para realizar uma solicitação seria de grande utilidade para os professores de PLE (Português Língua Estrangeira); principalmente para os professores que, como eu, ensinamos em um ambiente de não imersão e cuja necessidade de complementar a informação dada pelos livros didáticos é maior ainda. Este trabalho se propõe fazer um registro e classificação das maneiras em que o brasileiro se comporta para fazer um pedido em contextos orais, tentando oferecer uma contribuição para o ensino de português como segunda língua, dar a nossos alunos informações sobre o comportamento lingüístico do brasileiro e facilitar a sua aprendizagem e futura inserção na sociedade da língua alvo.

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O objetivo geral desta pesquisa é descrever as diferentes formas de abordagem que são utilizadas para fazer pedidos em contextos orais do português do Rio de Janeiro. Os objetivos específicos deste trabalho são: a) Listar e classificar os tipos de enunciados usados para abordar as pessoas com a finalidade de fazer um pedido. b) Apontar as formas mais freqüentes em que o pedido é realizado. c) Apresentar possíveis formas de utilização pedagógica das conclusões deste trabalho. As hipóteses da nossa pesquisa são as seguintes: A) A maneira em que o brasileiro aborda uma pessoa para fazer um pedido é direta. B) A diferença na abordagem das pessoas tem a ver com as características dos participantes da conversa e da situação social de comunicação. Trabalhamos numa base qualitativa, ou seja, uma análise contextual do comportamento dos dados. Nosso corpus foi conformado por dados coletados na cidade do Rio de Janeiro em ambientes onde as pessoas precisam fazer pedidos de informação ou solicitações em geral. Um deles foi o balcão de informações do Shopping Rio Sul, na rua Lauro Muller 116, Botafogo; o outro foi a Mostra PUC 2005 (16 a 19 de agosto de 2005) na Rua Marquês de São Vicente 225, Gávea. Também coletamos dados aleatoriamente em diversas situações na praia, no ônibus, na faculdade, entre outras. Os dados são transcrições que nós, pesquisadores, fomos fazendo durante o desenvolvimento da pesquisa e em cada caso será mencionada a situação em que eles foram formulados. Reconhecemos como parâmetro de análise o grau de formalidade; no entanto, nesta pesquisa não será levado em consideração, priorizando o conceito de grau de polidez que desenvolvemos na fundamentação teórica.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Partimos da idéia de que a língua está ligada de maneira inseparável à cultura. Aprender qualquer língua é aprender a comportar-se nessa língua (Meyer, 2003). A língua está inserida numa determinada cultura que tem seu modo de recortar o real e expressa uma determinada visão de mundo (Revuz, 1998, 223). Ensinar uma língua não é só ensinar regras gramaticais, mas também levar em conta a realidade social, o

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comportamento lingüístico do brasileiro, seus padrões interacionais (Meyer, 2000). O comportamento social lingüístico do brasileiro do ponto de vista do estrangeiro podem ser estranhos. Daí o interesse da nossa pesquisa em mergulhar no comportamento lingüístico do brasileiro a fim de oferecer aos alunos ferramentas necessárias para uma melhor compreensão na interação interpessoal. Baseamo-nos no pressuposto de que a língua é um fenômeno social (Schmidt, 1940, 18). Segundo Schmidt, o homem utiliza a língua e se dirige aos seus semelhantes com a intenção de se comunicar. Schmidt, tomando os conceitos de Searle, explica que a fala efetua-se mediante a realização de atos de fala (idem, 52) que podem ser classificados em categorias de acordo com formas de interação socialmente normalizadas ou que representam a realização de uma atuação social relevante. Neste trabalho, focamo-nos nos atos de fala que visam ao ato de pedir ou solicitar. Segundo a teoria dos atos de fala proposta por Searle (apud Schmidt, 1940, 54; Travaglia, 1998, 69), enunciando uma frase qualquer estamos realizando três atos de fala simultâneos. Primeiramente temos o significado lingüístico, valor de significação ou conteúdo proposicional. Ao mesmo tempo, todo ato de fala realiza uma ação, que a teoria lingüística define como a força ilocucionária. Dentre essas ações destacamos as de afirmar, prometer, ameaçar, jurar, solicitar, desejar, etc. E por último, a seqüência lingüística que produzimos produz uma reação no receptor. É o que a teoria lingüística chama de efeito perlocucionário. Como podemos apreciar, a seqüência lingüística leva a realização de diferentes ações (atos de fala), levando a diferentes efeitos de sentido. Nos termos de Perini (1989, 44), parece que temos duas camadas de significação: o significado literal, que se refere ao significado da forma lingüística independentemente da situação concreta em que a frase é enunciada; e o significado final, que depende, não só da análise da expressão lingüística, mas de se levarem em conta fatores extralingüísticos tais como a situação de comunicação. Os pedidos são enunciados que apresentam uma modalidade diretiva, já que eles têm como objetivo “(...) tentar que o receptor tenha, no futuro, o comportamento expresso pelo estado de coisas ao qual nele se faz alusão” (Pinto, 1994, 92). Segundo o autor, o uso desses enunciados é fortemente dependente das relações de status e familiaridade entre ele e seu interlocutor numa determinada situação de comunicação, e o receptor, ao aceitar o seu papel, confirma a validade dessas relações. Os tipos de modalidade diretiva distribuem-se numa hierarquia, na qual, à medida que decresce o

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poder de imposição pretendido pelo emissor, aumenta o arbítrio do receptor. Eles vão da formulação da ordem, aos requerimentos e pedidos, à sugestão, ao conselho, aos pedidos de informação, e à interpelação. Como menciona Pinto (idem, 95), na comunicação oral, a entonação oral é uma variável importante para se estabelecer a diferença entre os diversos graus de imposição e arbítrio do receptor. A entonação dada ao enunciado é uma das questões chaves para distinguir os diferentes graus de imposição e assim diferenciar a solicitação da ordem. Ele ainda afirma que a formulação de enunciados com a modalidade diretiva com valor imperativo, como ordem, solicitação, proibição, aviso, permissão, é marcada principalmente pelo uso do verbo no modo imperativo e formas equivalentes no subjuntivo, indicativo, gerúndio, e infinitivo, e/ ou por formas de cortesia. Segundo observa Robinson, a situação social em que um determinado ato de fala é realizado é muito importante. Mudando-se o ambiente, os participantes, os fins ou a forma da mensagem, pode-se modificar o comportamento verbal (Robinson, 1972, 139). Em qualquer encontro entre participantes aparecem elementos lingüísticos e paralingüísticos relativos ao papel que cada um desenvolve na interação. Os contextos sociais (Koch, 2000, 83) vão variar de acordo com a posição (papéis, status, etc.), propriedades (sexo, idade, etc.), relação (dominação, autoridade), funções (pai, garçonete, etc.). Os elementos paralingüísticos e sócio-culturais (Marcuschi, 2003, 6) são extremamente importantes para que a comunicação seja bem-sucedida. Como aponta Marcuschi, (idem, 16), não basta dominar a língua em si. Para produzir e manter uma conversação, as pessoas devem partilhar um mínimo de conhecimentos comuns: a aptidão lingüística, o envolvimento cultural e o domínio de situações sociais são aspectos fundamentais. Neste trabalho utilizamos conceitos propostos por Marcuschi (idem, 34) na linha teórica da Análise da Conversação. Dentre eles, destacamos o conceito de organizadores globais ou elementos que providenciam a marcação das seções conversacionais. Nós descrevemos nesta pesquisa os marcadores das seções de abertura do pedido ou da solicitação, para depois analisar a formulação do pedido em si. Os marcadores conversacionais são recursos que aparecem no pedido (Marcuschi, 2003, 61). Podem ser de diferentes tipos: verbais; não verbais ou paralingüísticos; e supra-segmentais, como as pausas e o tom de voz. Nesta pesquisa

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concentramos nossa atenção nos elementos verbais; no entanto, também apontamos outros aspectos não puramente verbais quando eles são relevantes para entender a situação em que se realiza o pedido. A conversação consiste normalmente em uma série de turnos alternados, que compõem seqüências em movimentos coordenados e cooperativos (idem, 2003, 34). As pré-seqüências (idem, 43) são turnos pares que antecedem uma seqüência par ou unidades cuja motivação é preparar o terreno para o evento comunicativo posterior. Nesta pesquisa apontamos as pré-seqüências específicas do pedido denominadas prépedidos (idem, 44), e também outros marcadores introdutores. Dentre eles podemos destacar as interjeições. Como menciona Rebello (2005, 53), o uso das interjeições na interação dá pistas acerca da sociedade em que elas se inscrevem. Cada cultura recorre a formas de expressão peculiares e assim se utiliza de certas interjeições específicas. As interjeições, além de estarem vinculadas ao campo das emoções e sensações, também servem para transmitir que sabemos algo, queremos algo, ou queremos que façam algo. Daremos atenção especial às interjeições que servem para chamar a atenção das pessoas para posteriormente realizar o pedido O conceito de polidez também é levado em conta neste trabalho para analisar o comportamento lingüístico do brasileiro na hora de fazer um pedido. As Estratégias de Polidez (Brown e Levinson, citados por Moraes, L. 2001) operam na interação dependendo dos participantes, o contexto, o lugar que os participantes ocupam e a identidade interpessoal dos indivíduos na comunicação. Segundo Goffman (1967, apud Prado 2001), vivemos em um mundo de encontros sociais que nos põe em contato com os outros participantes. O encontro social envolve troca de palavras ou sinais de reconhecimento e participação mútua na conversação. Segundo Goffman (idem), em toda interação comunicativa temos uma orientação defensiva, de auto-respeito, para salvar a própria face (imagem que cada membro quer reivindicar para si próprio); e uma orientação protetora, de consideração, para salvar a face do outro. Para isso, utilizamos o que Brown e Levinson (idem) denominam Estratégias de Polidez ou o que Prado (2001) chama de “Ações de Salvamento”. De acordo com Brown e Levinson (idem), muitas vezes em nossas interações comunicativas temos a nossa face ameaçada. Isso faz com que procuremos estratégias de polidez para salvaguardá-la e minimizar as ameaças. Para esses autores, o peso da imposição em cada cultura, o poder relativo do falante e do

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ouvinte e a distancia social entre eles são fatores importantes nos atos de ameaça à face e interferem na escolha de estratégias de polidez. Em relação à polidez, podemos mencionar a contribuição de Holanda, S. B. de (2002, 47-48) ao referir-se ao homem cordial. Meyer ( 2000, p.5), retomando os conceitos de Holanda, menciona que “(...) a cordialidade do brasileiro funda-se não na obediência a regras sociais de bom comportamento, a uma polidez entendida como padrão obrigatório de interação lingüística, como ritual, mas baseia-se sim na necessidade de colocar afetividade, proximidade e pessoalidade nas relações sociais. Mais uma vez, transformar a rua em casa”. Um dos traços característicos do comportamento do brasileiro é a cordialidade como forma de se proteger e se impor como indivíduo ante a sociedade (Holanda, 2001, 146). Os espaços da rua e da casa são conceitos de Da Matta (1984, apud Meyer 2000) que consideramos importantes para o nosso trabalho. Este autor propõe dois espaços diferenciados na sociedade brasileira: o da casa, e o da rua. Esses espaços são mais do que espaços geográficos, eles são modos de ler, falar e explicar o mundo. No espaço da casa situam-se as relações pessoais, familiares e afetivas, é o espaço da confiança, da harmonia, do afeto; é idealizado como o espaço da ordem, da segurança, do prazer. Já a rua é o espaço das relações coletivas indiferenciadas, impessoais e tensas. A rua é um local perigoso e é idealizado como o lugar da desordem, da insegurança, do desprazer. A tendência do brasileiro na interação é procurar levar a rua para o espaço familiar da casa, e assim transpor as relações menos distantes e conhecidas da rua para a casa. Isso se manifesta no uso de formas de tratamento, e na expressão da proximidade e emotividade própria do padrão das relações pessoais da casa na esfera da rua.

3. ANÁLISE

3.1. CLASSIFICAÇÃO DOS PEDIDOS

Dentre os pedidos, diferenciamos primeiramente os pedidos de informação dos outros pedidos que definimos como pedidos no sentido mais geral e abrangente e que visam a que o interlocutor realize a ação solicitada pelo emissor. Além disso, a partir

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dessa primeira classificação ainda fazemos uma subclassificação de pedidos diretos e indiretos.

3.1.1. PEDIDO DE INFORMAÇÃO: DIRETO E INDIRETO

Em relação ao pedido de informação, Pinto (1994,93) afirma que a maneira mais comum de se realizar a solicitação é pela utilização de enunciados interrogativos ou perguntas. Por pedidos de informação diretos entendemos aqueles em que na própria formulação do pedido ou no conteúdo proposicional aparece claramente seu valor de solicitação de informação. Por exemplo: 1) ”Aonde é que fica a loja...?” (Homem de uns 30 anos perguntando para a recepcionista do balcão de informações do Rio Sul- 11/8/2005)

O que denominamos como pedidos indiretos são aqueles em que a situação de comunicação vai determinar se o enunciado é ou não é uma solicitação. Vejamos um exemplo: 2) “Você sabe onde fica o Arab da Logoa?” (Amiga perguntando a outra onde fica o Arab porque não sabe como chegar até lá, Copacabana, 25/7/2005)

Seguindo o raciocínio do Perini (1989, 44), poderíamos responder essa pergunta com um simples “Sei” só levando em conta o conteúdo proposicional do enunciado. No entanto, a situação de comunicação nos leva a interpretar a pergunta como uma solicitação. Sabemos que a intenção é que o interlocutor nos responda onde é o Arab, e não uma simples pergunta acerca de se sabemos ou não onde fica esse local. Certamente, mudando a situação (Ex. enunciado proferido por alguém que sabe onde fica o bar mas quer ver se a amiga sabe para ter certeza de se encontrarem lá), muda a força ilocucionária do ato de fala ou a ação que se realiza através dele. Quanto aos pedidos de informação indiretos, Pinto (1994, 94) menciona que os pedidos podem vir introduzidos por formas indiretas, algumas vezes com valor de cortesia, introduzidas por uma expressão formada por um verbo de desejo (“desejar”,

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“gostar”, “querer”, etc.) na primeira pessoa do presente do indicativo, ou futuro do pretérito e seus substitutos, seguido por um verbo de conhecimento (“saber”, “conhecer”, etc.) como vemos no exemplo seguinte: 3) “Eu queria saber, por gentileza, onde é...?” (Senhora de uns 55 anos no balcão de informações do Rio Sul, 11/8/2005).

Também observamos nesses pedidos indiretos de informação a presença recorrente do verbo saber no presente (ver exemplo 2) e do verbo poder no presente, futuro do pretérito ou imperfeito do indicativo, seguido por um verbo de conhecimento (ex. informar, saber). Vejamos: 4) “´Cê poderia me informar onde é ...?”

Como aponta Meyer (1999, 141), as escolhas feitas pelos falantes ao dirigir-se ao seu interlocutor determinam o nível de formalidade, o grau de distanciamento e a estratégia de polidez. No livro didático de português para estrangeiros Aprendendo o Português do Brasil (1992, 34-35) vemos claramente sistematizado o uso dos diferentes graus de polidez para realizar uma solicitação. Os exemplos enumerados aparecem em escala ascendente, e vão de um simples pedido como “Você pode abrir a janela?”, passando por “Será que você pode abrir a janela?”, “Você podia abrir a janela?”, “Será que você podia abrir a janela?, “Você poderia abrir a janela?”, até “Será que você poderia abrir a janela?” como o mais polido de todos. Na nossa pesquisa, nota-se que em ambientes em que a expectativa é que o pedido de informação seja respondido (no balcão de informações do Shopping Rio Sul ou na Mostra PUC- Rio) ele se dá de maneira mais direta. A solicitação de informação é realizada através do que Marcuschi (2003, 37) denomina como perguntas abertas ou informativas, cuja característica é que são realizadas com algum marcador do tipo: quem?, qual?, como?, onde?, quando?, etc. No caso da Mostra-PUC, em que os alunos iam se cadastrar na base de dados das empresas para realizar um estágio, um simples “Oi!”, ou apenas o contato visual era suficiente para que o interessado formulasse a pergunta.

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Temos aqui um exemplo do shopping. Depois da pré-seqüência do cumprimento, sempre forçado pela insistência da recepcionista, vinha logo a pergunta:

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“Loja de eletrodomésticos, onde é?”. (Mulher de 30 anos- 18/ 8/2005-

Shopping Rio Sul) ou 6) “Onde tem a loja de souvenirs? (Mulher de 35 anos- 18/ 8/2005- Shopping Rio Sul). Também observamos que as perguntas apareciam na ordem “invertida”, enfatizando assim o caráter direto do pedido. Por exemplo: 7) “Para eu ir nas Lojas Americanas, como faço?” 8) “Loja de souvenirs, onde é?”

Ainda notamos outro tipo de enunciados formulado quando a resposta não era entendida pela pessoa que perguntava:

9) A loja é onde?(Mulher de 25 anos- Shopping Rio Sul- 18/ 8/2005).

Segundo Pinto (1994, 94), o enunciado (9) corresponde ao tipo de perguntas ditas de eco, em que o pronome ou advérbio interrogativo é o foco da frase. Através dessas perguntas, o emissor demonstra que não entendeu bem a informação recebida, ou que a achou estranha. Na nossa pesquisa no balcão de informações do shopping, observamos de maneira recorrente enunciados ainda mais diretos, como por exemplo: 10) “O Habib´s?”

Evidentemente, esse tipo de pedido de informação curto e direto pode ser formulado não só porque o contexto deixa claro que o ato de fala tem a força ilocucionária de um pedido, mas também porque quem responde à pergunta está lá especificamente para responder.

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3. 1. 2. OUTROS PEDIDOS: DIRETOS E INDIRETOS

Entendemos por pedidos diretos aqueles em que a formulação literal do enunciado pode ser entendida como um pedido ou em que o enunciado possui as características do pedido. No entanto, é fundamental destacar que esta forma está muito próxima do valor de uma ordem, e que para distingui-la do pedido, será necessário levarmos em conta os fatores extralingüísticos que determinarão realmente se a formulação é de um pedido ou de uma ordem. A força ilocucionária do enunciado será diferente dependendo da situação. Vejamos este exemplo: “Renata, pega a caneta aí para mim?” (Uma amiga fala para a outra na casa de uma delas- Gávea, 20/5/2005).

Pela situação em que o enunciado se insere, percebemos que se trata de um pedido. Mas se o mesmo enunciado fosse formulado por um chefe dirigindo-se a um funcionário, ele pode ser interpretado como uma ordem. Aqui vemos novamente como a força ilocucionária varia de acordo com os participantes e a situação de interação (hierarquia, posição social). Coletamos outro exemplo de pedido com as mesmas características do exemplo anterior. Se o contexto e a entonação mudassem, também mudaria o efeito produzido por ele: 11) “Segura aqui o salgadinho?” (uma amiga pede para segurar o salgadinho à sua amiga no corredor da PUC para poder pegar o celular e ligar para alguém. 28/09/2005).

12) Manda para a gente Vânia! (Aluna da Puc, pedindo a sua colega para enviar um material interessante que só ela tinha - 15/08/2005) 13)“Dá uma olhada para mim no preço?” (Loja de roupas, 28/9/2005, Rio Sul)

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Também queremos ressaltar que, como aponta Kepp (2003, 194), a entonação é muito importante. Segundo o autor, o brasileiro manifesta sua amabilidade mais por meio de atitudes (refletidas em gestos faciais e entonações de voz) do que pelo uso de expressões de cortesia. E mesmo que os brasileiros digam à mesa “me dá” ou “me passa” para pedir um prato, eles normalmente deixam implícita sua cortesia dando às frases uma entonação de quem está pedindo. Notamos que os exemplos acima 11, 12, e 13, estão formulados no presente do indicativo com valor de solicitação. No entanto, como mencionamos anteriormente, a entonação é fundamental. Se o tom não for de pedido, o efeito mudará completamente passando a ter o valor de uma ordem. Observamos ainda um outro exemplo de pedido direto em que aparece o gerúndio na formulação do pedido: 14)“´Cês vão saindo?, porque a gente começa a aula agora” (professora da PUC, incomodada mas se expressando de maneira gentil, porque já era a hora de sua aula e um grupo de alunos da aula anterior continuava na sala-28-9-2005). Observamos que esse enunciado tem o valor equivalente a “Vocês podem sair?”, e que a explicação que segue a pergunta atua como atenuadora do pedido. Nessa situação, a simples formulação do pedido poderia soar pouco polida.

Denominamos como pedidos indiretos aqueles que são interpretados como pedido, não pelo conteúdo proposicional em si, mas sim pela situação de comunicação em que estão inseridos. A seguir tem alguns exemplos:

15) Tem um cigarro, Michelle? (De uma amiga para outra pedindo um cigarro, 2-10-2005- Ipanema). 16) Tem água de coco, amigo? (Uma mulher de 30 anos pedindo a um vendedor de água de coco no corredor da PUC-Rio). 17) Por favor, quer pagar um suco? (homem de uns 55 anos no caixa de uma lanchonete, Ipanema, 20/9/2005). 18) Posso ficar te devendo 30 centavos?(funcionária de 25 anos fala para seu colega de trabalho- Ipanema- 15/11/2005)

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19) “Dá para abrir a janela? (Aluno pergunta para a professora na sala de aula, PUC-Rio, 18/11/2005)

Como já mencionamos nos pedidos de informação, as perguntas dos exemplos 15 a 19 analisadas literalmente poderiam ser respondidas por “Tenho”, “Tem”, “Quero”, “Pode”, “Dá”, mas o contexto em que se inserem deixam claro que são solicitações. Pinto (1994,96) menciona que os verbos que se utilizam com a finalidade de solicitação são os que expressam, mais do que autoridade, os diversos graus de intensidade do desejo que o emissor tem de ver cumprido o que solicita (“pedir”, “solicitar”, “fazer questão”, “requerer”, etc.). Na nossa pesquisa, observamos enunciados em que a manifestação do desejo do emissor era apontada pelo uso do verbo adorar (ver Ex. 50), ou querer: 20) “Quero uma casquinha, por favor” (Sorveteria, Ipanema, senhora pede ao caixa, 18/10/2005).

Como observamos, esses verbos que expressam desejo podem aparecer no presente, imperfeito (ver ex. 42) ou no futuro do pretérito do indicativo. Celso Cunha aponta, entre outros usos, o emprego do futuro do pretérito “como forma polida de presente, em geral denotadora de desejo” (Cunha, 1970, 222). Também Gladstone Chaves de Mello afirma: “Empregam-se também as formas do futuro do pretérito, quando se quer atenuar a expressão, por polidez ou timidez (...)”(Gladstone Chaves de Mello, 1970, 285). Estas formas expressam um desejo que, nas situações citadas são claramente pedidos. Marcuschi aponta que (2003, 38), em certos casos, a formulação da pergunta com a negativa pode indicar polidez. Vejamos um exemplo observado no ônibus:

21) Pode abrir não, moço?(mulher de 50 anos, no ônibus, pedindo para o motorista abrir a porta para descer no ponto-Gávea – 4/10/2005) 22) Não tem 30 centavos?(Cobrador do ônibus perguntando para uma senhora que foi pagar a passagem, linha 432, Ipanema, 22/10/2005)

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Os pedidos também podem apresentar marcadores que servem como elementos de atenuação. O diminutivo é um exemplo que serve, segundo Basílio. M. (2004, 5), para atenuar o que está sendo pedido. Por exemplo: 23) “Moço, enche o pneu rapidinho para mim?” (Mulher de 28 anos faz o pedido ao frentista do posto de gasolina, Gávea). 24) Alguém teria um lapisinho que pudesse me emprestar?” (Aluna da Puc na sala de aula, 21-09-2005).

É claro que a entonação também tem um papel fundamental na atenuação, já que a frase mudaria totalmente e passaria a ser uma ordem se a entonação fosse: “Moço, enche o pneu rapidinho para mim”. Como afirma Meyer (1999), o simples fato de o enunciado ser apresentado em forma de pergunta torna o pedido mais delicado. No exemplo 24, o uso do verbo ter no futuro do pretérito funciona, como mencionamos anteriormente, como forma de polidez. Foi interessante reparar que a expressão “Deixa eu + verbo no infinito” pode servir como forma de solicitação. Vejamos alguns exemplos: 25) “Deixa eu ver esse livrinho...” (Aluna da PUC pedindo o livro para a sua colega- 27-9-2005) 26) “Deixa eu checar meu email” (Uma colega amiga se aproxima da outra que está sentada trabalhando no seu computador no laboratório da PUC-Rio24/10/2005) 27) “Deixa eu furar a fila” (No começo do itinerário, o motorista fala para as pessoas em fila, dentro do ônibus, esperando para pagar a passagem- 18/11/2005Gávea)

Ainda observamos pedidos indiretos propriamente ditos em que é essencial ter uma informação contextualizada para entender o enunciado como uma solicitação. Temos aqui alguns exemplos: 28) “Poxa Joniel, o quarto 8 tá sujo, né?” (dona de um hostel de Copacabana falando para um de seus funcionários da limpeza, 30/08/ 2005)

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29) “Nossa, Michelle, que calor tá fazendo aqui na sala!” (PUC-Rio, Aluna comentando para sua colega, pois na sala o ar-condicionado e as janelas se encontravam fechadas, 14/09/2005). Aqui observamos que as interjeições Poxa e Nossa, além de expressar emoção e surpresa, enfatizam o desejo de que o interlocutor realize algo para mudar a situação.

3. 2. MARCADORES INTRODUTORES AO PEDIDO

Chamaremos de marcadores introdutores ao pedido aos elementos que antecipam o pedido em si e que servem para chamar a atenção da pessoa e preparar o terreno para a pergunta. Dentre os marcadores introdutores ao pedido podemos destacar diversas formas de chamamento ou apelo, que são denominados tradicionalmente pelas gramáticas de vocativos. Através dessas formas, o emissor indica o próprio papel de sujeito da enunciação e atribui ao receptor a imagem complementar de sujeito falado (Pinto, 1994, 93). 30) “Moça, a loja ...” 31) “Filhinha, eu estou procurando saber onde é a loja ...?” 32) “Ei, camarada, onde é a rua Miguel Lemos?” (Copacabana, Homem de 40 anos, de carro, perguntando para outro homem da mesma idade, 6/09/2005). 33) Ô Renata, faz favor, pega os cigarros para mim?” (Mulher de 30 anos pede para sua amiga, 21-09-2005). 34) “Psiu, colega, como eu faço para procurar um livro?” (Biblioteca da PUC-Rio. Aluno de 18 anos perguntando ao funcionário que estava atrás do balcão a 2 metros de distância. 31/08/2005). 35) “Mocinha, me empresta aí o isqueiro?” (Senhora de uns 40 anos se dirige a uma garota de 25 anos, 23/09/2005). 36) Moço, o senhor pára agora no ponto? (senhora de 50 anos fazendo um gesto com a mão apontando o próximo ponto- Gávea-21-09-2005)

Como observamos no exemplo 32, 33 e 34, podemos destacar outros marcadores ou interjeições de chamamento (ei, ô, psiu,) que podem se antepor às formas de chamamento que mencionamos anteriormente. Notamos que ainda podem ser

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formulados sem vir acompanhados do apelativo, especialmente quando não se tem necessidade de chamar a atenção da pessoa a quem se faz o pedido. Por exemplo: 37) “Oi, ‘cê poderia me informar...?” (Garota de 25 anos no balcão de informações do Rio Sul- 11/8/2005) 38) “Ops...”, seguido de um assobio e de um gesto apontando a uma cadeira de praia. (Praia de Copacabana, homem de 40 anos entre um grupo de homens da mesma idade dirigindo-se a um rapaz de uma das barracas).

Uma das estratégias muito comuns, descrita por Marcuschi (2003, 41) e observada neste trabalho, é o uso recorrente da interjeição “ô” como marcador introdutor de chamamento, reforçado pelo emprego do nome da pessoa quando se tem intimidade ou às vezes para criar uma proximidade (ver exemplo 33 e 45) . Segundo este autor, essa organização do enunciado, estabelece um maior contato com a pessoa. Observamos que além de interjeições e formas de chamamento, podem ser utilizados outros tipos de introdutores: 39) “Escuta, onde é a loja X?” (Mulher de uns 60 anos no balcão de informações do Rio Sul- 11/8/2005) 40) “´Cê me dá uma informação? Como eu faço para chegar no Jardim Botânico?” 41) “Ô Tina, vem cá, deixa eu te falar uma coisa, será que você pode trocar a folga comigo?”, (Hostel de Copacabana, homem de 25 anos chamando a atenção de sua colega da mesma idade que naquele momento não estava atenta ao pedido, 7/09/2005). 42) “Com licença, podia nos ajudar...?” (Botafogo, calouro pedindo dinheiro a uma mulher de 29 anos, 18 de agosto de 2005) 43) “Olha só, pode descer na próxima rua?” (Van indo para a Gávea, senhora de 50 anos chama a atenção do cobrador de 20 anos). 44) “Oi, por favor, onde fica a Loja ...?”

Observamos alguns marcadores de cortesia como faz favor, por favor, por gentileza, com licença, nos exemplos 33, 44, 3, e 42. Como menciona Laraia (2004),

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todos os membros da nossa sociedade sabem que uma forma cortês de solicitar algum tipo de favor é a de preceder o pedido com a expressão “por favor”. Além disso, especialmente quando aparece no início do pedido, é um elemento que serve para chamar a atenção das pessoas para introduzir o pedido. No exemplo 41 vemos que pode aparecer mais de um introdutor num enunciado. Neste caso, nota-se, que a introdução é maior ainda dado que o pedido a ser feito precisa de uma preparação mais longa para quem vai recebê-lo. O assunto em questão é mais delicado já que não se trata de um simples pedido e sim de um pedido cujo risco de ser recusado é maior. Daí a necessidade da utilização de mais de um marcador introdutor. Foi interessante observar em todos os tipos de pedidos, mesmo não sendo necessário chamar a atenção da pessoa, o uso de formas de chamamento não só antes (ver ex. 36), mas também depois da pergunta (ver ex. 21). Como já mencionamos, essa estratégia cria um maior contato. No caso em que as pessoas já se conheciam, utilizavase o nome da pessoa (ex. 12, 15). Na nossa pesquisa vimos um exemplo esclarecedor do uso do nome para poder criar um clima de cordialidade e conseguir que o pedido fosse aceito. O enunciado foi observado no refeitório da PUC, dez minutos depois do horário do almoço acabar. Vejamos: 45) “Ô Márcia, será que dá tempo para a gente almoçar?” (Mulher de uns 30 anos perguntando para a funcionária que toma conta do refeitório da PUC-Rio, 20/9/2005)

A mulher que fez o pedido só ficou sabendo do nome da funcionária a quem tinha que se dirigir por ter perguntado anteriormente ao caixa do refeitório. Mesmo assim, utilizou-se desta estratégia para se aproximar da pessoa e evitar que seu pedido fosse recusado. Além disso, e como já vimos, o uso do “será que...” modalizou o enunciado, dando um tom mais polido ao pedido.

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3.2.2 PRÉ- SEQÜENCIAS

As pré-seqüências denominadas pré-pedidos (Marcuschi, 2003, 44) que destacamos neste trabalho são também marcadores introdutores ao pedido já que antecipam o terreno para formular a solicitação. Foi interessante observar uma grande variedade e quantidade de pré- seqüencias, especialmente nas observações do shopping, onde o ambiente dava à conversa uma formalidade maior. Na maioria das vezes, esta seqüência era reforçada pela insistência de quem estava atrás do balcão de informações do shopping, falando “Boa tarde”, mesmo depois de escutar o pedido. 46) Ex. A: Boa tarde!, Recepcionista: Boa tarde! Ou, 47) A: Oi, tudo bom? B: Tudo bom.

Por sua vez, existem pré-seqüências que, como afirma Marcuschi (2003, 44), visam certificar-se das condições para colocar o pedido. Temos aqui o seguinte desenvolvimento de uma pequena conversação em que aparece uma seqüência que antecipou o pedido. São duas amigas, às 23.30 da noite, num bar de Ipanema, no dia 21 de outubro de 2005: 48) A:- “Renata, ´cê está como o celular?” Renata: - “ Tô... vai querer ligar?” A: - “Ah! Eu queria ligar para o Ivan..”. (Renata entrega o celular para sua amiga)

Outra pré-seqüência é a seguinte, coletada na PUC- Rio no dia 26 de setembro de 2005, numa conversação entre professor e aluna em relação a um material que a aluna estava interessada:

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49) Professora: “´Cê está com o livro?” Aluno: “Tô” Professora: “´Cê empresta um minutinho?”

Outro exemplo: 50) Aluna: “ Você vai mandar para a gente?” Professor (para toda a turma): “ Querem?” Aluna: “Adoraria”

Observamos que nos exemplos 48, 49 e 50 utiliza-se uma modalidade indireta para preparar o terreno para o pedido e evitar uma recusa. No exemplo 49 aparece uma seqüência introdutória antes do enunciado do pedido em si. Já nos exemplos 48 e 50 vemos claramente como o pedido vai se construindo a partir das falas dos interlocutores. Segundo observa Levinson (1983, apud Marcuschi, 47) este tipo de pré-sequências anteriores ao pedido são o lugar mais adequado dos atos indiretos de fala e revelam que as pessoas têm a tendência a não esperar respostas negativas.

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4. CONCLUSÃO

Percebemos ao longo da nossa pesquisa que a formulação do pedido se dá de forma variada. Quanto ao pedido de informação observado no balcão de informações do shopping Rio Sul e na Mostra Puc 2005, notamos que ele tende a ser mais direto na medida em que o ambiente em que se insere é um local específico para responder perguntas. Nestes locais as marcas de polidez dependiam da idade e da escolha do falante de ser mais ou menos cortês. Quanto às formas de abordagem para realizar um pedido, notamos o uso de interjeições específicas para chamar a atenção. Em relação aos pedidos em geral e a partir dos exemplos coletados, notamos que, para se proteger de uma possível recusa e a tentar salvar sua face, o falante utiliza formas polidas e indiretas. Nos dados coletados (ver ex. 48 a 50) ainda observamos como a indiretividade do pedido pode se manifestar através de uma seqüência durante o desenvolvimento da conversação. Dentre os recursos de polidez utilizados observamos a entonação do pedido, o uso de diminutivos como elementos atenuadores, o uso de expressões de cortesia como: por favor, por gentileza, faz favor, com licença, e formas de polidez como: “será que...?”, “poderia me informar...?”. Também notamos, no caso de pessoas que se conheciam, o uso recorrente do nome do interlocutor antes ou depois das perguntas, visando assim a um contato maior entre os falantes. Observamos o uso de formas de chamamento como filhinha, amigo, referido a pessoas desconhecidas. Acreditamos que, retomando os conceitos de Da Matta (1984, 29), o uso dessas formas de chamamento para se aproximar do ouvinte e a utilização de formas polidas têm a ver com a característica do brasileiro de querer transpor a esfera da casa para a da rua. Também o conceito de Holanda (2002) de homem cordial com seu desejo de estabelecer intimidade, que não gosta das formalidades, que quer estreitar as distâncias, que prioriza o afetivo, contribui para entender o comportamento do brasileiro que observamos no nosso corpus. Foi interessante notar a importância do papel da entonação para distinguir a solicitação da ordem, especialmente no caso de solicitações diretas. Também é relevante destacar a importância de se levar em conta a posição dos interlocutores para fazer esta mesma distinção.

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Com relação aos introdutores ao pedido observados, como por exemplo “vem cá”, “deixa eu te falar uma coisa”, “escuta”, “Olha só”, que funcionam para preparar o terreno para a solicitação, notamos que quanto mais difícil era a solicitação, ou seja, quando mais dúvidas se tinham em relação à resposta afirmativa, mais quantidade de introdutores eram utilizados. No que se refere ao ensino de português como língua estrangeira, sabendo que os pedidos envolvem também formas apelativas e interjeições para chamar a atenção, podemos sugerir que isto também seja trabalhado na sala de aula. É bom expor a tendência do brasileiro a comportar-se de maneira emotiva e afetiva, a importância da entonação, as maneiras de solicitar através de diferentes tempos verbais com variados graus de formalidade, assim como também mostrar ao aluno os elementos que fazem com que o pedido seja atenuado. Com isto poderemos passar uma informação mais completa sobre a maneira de ser do brasileiro para que o aprendiz possa se inserir na sociedade da língua alvo de maneira menos problemática e mais prazerosa Esperamos que este trabalho contribua para uma melhor descrição do português oral e facilite o ensino de português como língua estrangeira. Esperamos, ainda, que tal estudo sirva como incentivo para que se pesquisem outros tópicos ligados à interação que não envolvem somente a língua de um povo, mas seu modo de ser, seus costumes, sua cultura, e o contexto em que os participantes se encontram.

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