Foroeste no Nordeste

July 22, 2017 | Autor: Railton Da Silva | Categoria: Violência, Alagoas, Homicidios, Assassinatos
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de 6 a 12 de setembro de 2012

brasil

“Faroeste no Nordeste” Agência Alagoas

MAPA DA VIOLÊNCIA Alagoas é apontado como o estado mais violento do país, com uma taxa de 66,8 assassinatos para cada 100 mil habitantes

O crime que mais chocou o estado ocorreu em julho de 2011, quando uma dona de casa foi esquartejada em via pública

Railton Teixeira de Maceió (AL)

A VIOLÊNCIA em Alagoas se espalhou por todas as camadas sociais, dizimando lentamente crianças, jovens, população negra e mulheres. O estado é apontado como o mais violento e homicida do país, com uma taxa de 66,8 assassinatos para cada 100 mil habitantes, segundo dados apresentado pelo Mapa da Violência 2012, desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americano (Cebela). Os casos que alimentam os dados elencados no Mapa são os mais diversos, passando por crimes políticos e chacinas, que ganharam destaques nacionais, como os que foram noticiados pela imprensa local que vai de esquartejamentos, estrangulamentos, brigas fúteis, que acabaram em assassinatos, fazendo-se valer do título de “Faroeste no Nordeste”.

“Diferente dos demais estados onde os números são revelados por conveniências e isso dificulta o trabalho de um todo”

Recentemente sua capital – Maceió – foi apontada por uma pesquisa realizada pelo Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, do México, como a terceira capital mais violenta do mundo, com uma taxa de 135,26 homicídios para cada 100 mil habitantes. Ainda de acordo com a pesquisa, a capital alagoana apenas perde para as cidades de San Pedro Sula, em Honduras, e Juárez, no México, ambas ocupam respectivamente a primeira e segunda posição no ranking da violência mundial. Os números divulgados poderiam ser bem maiores se não fosse a dificuldade apresentada na captação dos dados e a omissão dos órgãos responsáveis que, de acordo com o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisf, organizador do Mapa da Violência, apenas São Paulo tem uma lei que obriga o estado a publicar em seu Diário Oficial todas as informações referentes a cada homicídio. “Diferente dos de-

de Maceió (AL)

Ação policial no Conjunto Carminha, em, Maceió

mais estados onde os números são revelados por conveniências e isso dificulta o trabalho de um todo”, lamentou. O sociólogo destacou em sua visita ao estado, a convite da Comissão Especial de Inquérito que analisa as causas da violência na capital, através da Câmara Municipal de Maceió, que só com uma ampla divulgação dos números de homicídios é possível haver uma redução das taxas. Foi o que aconteceu em São Paulo, que até o final da década de 1990 liderava o ranking de assassinatos no país e, segundo Waiselfisf, hoje está entre os cinco estados com os menores índices. “O que falta na verdade é um sistema federal de dados que reúna todas as informações sobre essas vítimas para que só assim possamos fazer um levantamento e ver onde está a origem do problema”, frisou. Mesmo diante da dificuldade encontrada em vários estados para se obter os dados que alimentam as estatísticas do Mapa da Violência, o sociólogo destacou que sua coletada é feita junto ao Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, que recolhe das unidades federativas às informações que são registradas em cartório por cada Secretaria Municipal e Estadual de Saúde que segundo ele, “são os dados mais fidedignos existentes na área”. Ainda segundo ele, é através destas informações que desde 1997 vem elaborando anualmente o Mapa da Violência e estudando o que ele mesmo denominou de ‘espalhamento da violência’ no país. Em sua pesquisa, Waiselfisf constatou que a violência saiu dos grandes centros urbanos, em especial do eixo RJ-MG-SP, deslocando-se para os estados considerados até então pacíficos. “Pacífico para o Brasil, mas não para o resto da América Latina, havendo assim uma institucionalização da violência”, esclareceu.

“Houve uma mudança nos padrões da violência entre 1999 e 2000. Aqueles estados que antes eram emblemáticos reduziram os seus casos e aqueles que eram relativamente tranquilos elevaram as suas taxas. Ocorreu aquilo que chamo de espalhamento da violência transformando-se em epidemia”, destacou, ressaltando ainda que “o Mapa é apenas um termômetro e isto significa dizer que ele esta mostrando que a febre está muito alta e que ela precisa ser tratada”.

“Houve uma mudança nos padrões da violência entre 1999 e 2000. Aqueles estados que antes eram emblemáticos reduziram os seus casos e aqueles que eram relativamente tranquilos elevaram as suas taxas” Para ele dois fatores são responsáveis por essa interiorização da violência e, no caso de Alagoas especificamente, as greves realizadas pelas polícias Militar e Civil, na década de 1990, foram um dos principais motivos pela massificação da violência no estado e “uma grande festa para a bandidagem” que aproveitou a oportunidade e criou núcleos de suas milícias. “Tem outra questão que está provada teoricamente; nenhum país, nenhuma região chega a elevar seus índices de violência, criminalidade sem que haja uma sucinta articulação entre a criminalidade e o aparelho do Estado, com essa articulação a sociedade morreu”, ratificou.

Negros, jovens e crianças são as maiores vítimas da violência Agência Alagoas

Para cada pessoa branca assassinada, 20 pessoas negras são exterminadas de Maceió (AL)

As taxas da violência em Alagoas são 2,5 vezes maiores que média nacional, atualmente de 26,2, conforme o último relatório do Mapa da Violência publicado em 2012. Além disso, o estado também é recorde em quase todas as camadas, exceto nos homicídios que têm mulheres como vítimas. De acordo com o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisf, organizador do Mapa da Violência, há uma crescente onda de extermínio em Alagoas tendo como público alvo a população negra. Segundo ele, para cada pessoa branca assassinada, 20 pessoas negras são exterminadas e, de acordo com o Mapa da Violência, a taxa de homicídio envolvendo a população branca é de 4,4 já contra a população negra é de 84,9, a cada 100 mil habitantes. Para o sociólogo e pesquisador da ação policial e relações etnicorraciais Carlos Martins, a causa desta crescente onda de violência tendo como alvo a população negra é consequência de um processo histórico, onde o estado implementou políticas institucionais de impedimento de ascensão destas camadas. “Até a forma que se estão pensando uma política de segurança pública estão pensando na repressão ao negro”, enfatizou.

Alguns homicídios de maior repercussão

Jovem é preso na periferia da capital alagoana

No último mês de agosto, Martins teve a sua residência invadida por policiais da Divisão Especial de Investigação e Capturas (Deic), da Polícia Civil de Alagoas, em uma operação, de acordo com a polícia alagoana, equivocada. Na ocorrência, o sociólogo teve a sua casa revirada, permanecendo por mais de 40 minutos algemado, e mesmo diante das explicações em nenhum momento a polícia lhe pediu a sua identificação. “O infrator não pode ser visto pelas suas próprias características e é por este motivo que nós devemos preparar a polícia, pois ela não deve apenas ter manuais que orientem as situações, ela precisa entender os seus próprios manuais, para desfazer a ideia de que uma determinada pessoa com um determinado biótipo, possa pressupor que ela seja um infrator

e por pertencer a população negra, como todos os negros, não sou infrator”, destacou Martins. Além da violência contra negros, Alagoas também registra uma ascendência nos crimes contra crianças e jovens. Segundo Waiselfisf, enquanto no estado são registrados 30 homicídios contra crianças e adolescentes, a taxa nacional é de 13 e a cada 50 homicídios registrados no país contra jovens de 15 a 24 anos, 170 são registrados no estado, ambos a cada 100 mil habitantes. Em relação a crimes contras as mulheres o estado ocupa a segunda posição no ranking elencado pelo Mapa da Violência, perdendo apenas para o estado do Espirito Santo que foi registrado 9,4 homicídios, enquanto Alagoas 8,3, a cada 100 mil habitantes. (RT)

Dentre os 1334 casos noticiados e contabilizados em 2012 pelo contador de homicídios da agência de notícias Alagoas24horas até o dia 2 de setembro deste ano, quatro deles são emblemáticos e merecem destaque, sendo que apenas um foi registrado no ano passado. Os motivos são os mais diversificados, passando de crimes com envolvimentos políticos, tráfico de drogas, ciúmes e até mesmo briga de trânsito que resulta em mortes. O crime que mais chocou o estado ocorreu em 24 de julho de 2011, quando a dona de casa Maria de Lourdes Farias de Melo, 27 anos, foi esquartejada em via pública no Conjunto Carminha, Complexo Benedito Bentes, em Maceió. Segundo a polícia, a doméstica foi retirada da cama enquanto dormia com o marido e os filhos quando um grupo armado invadiu a sua casa e a arrastou para a rua. A vítima foi baleada e logo após teve a sua cabeça e o braço decapitados e colocados em uma estaca e, de acordo com a polícia, os acusados escreveram em um muro a palavra ‘cabueta’, que significa delator. Após este caso foi implantando uma base comunitária no local do crime, que até então era considerado o mais violento do estado. Outro caso que chamou a atenção, em especial das autoridades, sendo responsável pela implantação do programa nacional Brasil Mais Seguro, foi o assassinato do médico José Alfredo Vasco Tenório, 67 anos. O crime ocorreu na parte nobre de Maceió, no bairro de Stella Maris. De acordo com a polícia, o médico andava de bicicleta quando foi abordado por dois homens. A polícia ainda destaca que ao se negar a entregar a bicicleta, a vítima foi alvejada por disparos de arma de fogo, vindo a falecer na hora e o veículo levado pelos acusados.

Os motivos são os mais diversificados, passando de crimes com envolvimentos políticos, tráfico de drogas, ciúmes e até mesmo briga de trânsito que resulta em mortes

O caso ocorreu em 26 de maio de 2012 e dois dias depois o governador do estado Teotonio Vilela Filho esteve em uma emissora de televisão local destacando que a violência tinha ultrapassado os limites e que iria a Brasília em busca de uma solução junto ao governo federal. Ainda nas primeiras horas de 2012, o modelo Eric Ferraz foi assassinado ao lado da namorada e de alguns amigos no município de Viçosa, distante 96 km de Maceió. As testemunhas informaram à polícia que a vítima foi avisar Judarley Leite de Oliveira e seu irmão, o policial civil Jaysley Leite, que a garota que eles insistentemente olhavam era sua namorada. O modelo foi morto no próprio local com cinco disparos efetuados por Judarley Leite com a arma do irmão. O acusado foragiu do local do crime e se apresentou à polícia meses depois.

A vítima foi baleada e logo após teve a sua cabeça e o braço decapitados e colocados em uma estaca

Wendson da Conceição dos Santos, de apenas 11 anos, foi baleado no peito. O homicídio ocorreu em 13 de junho deste ano e de acordo com a polícia, a vítima estava em uma carroça juntamente com o pai e mais dois conhecidos, no bairro do Jacintinho, em Maceió, quando o assassino, apenas identificado como ‘Nash’ saiu do veículo e no momentop da discussão efetuou o disparo contra a criança. De acordo com a polícia, a motivação do homicídio teria sido uma ‘rixa’ antiga entre o acusado e os dois ocupantes da carroça. O acusado não foi localizado e até o momento permanece foragido da justiça. (RT)

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