Fortificações em madeira no território português nos séculos IX-XI

August 25, 2017 | Autor: Gabriel de Souza | Categoria: Medieval Archaeology
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Faculdade de Ciências-Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa Seminário de Arqueologia da Arquitetura Fortificações em madeira do território português nos séculos IX-XI

1. Introdução Desde muito cedo na história, os seres humanos sentiram a necessidade de protegerem-se dos perigos que a natureza e os outros humanos representavam. Assim sendo, desde o neolítico que verificam-se aldeias e localidades fortificadas das mais diversas formas, utilizando ou não a geografia local e os materiais a disposição. Para a Alta Idade Média em específico, pode-se dizer que esta realidade ficou especialmente patente. Segundo Mário Barroca, “O castelo é uma das mais significativas inovações que a Idade Média introduziu na paisagem portuguesa” (BARROCA, 1991, p. 89), o que demonstra bem a importância que as estruturas defensivas no geral desempenharam nessa fase da história. No entanto, é tradicional estudar-se e conhecer-se melhor as estruturas feitas em pedra, caso da esmagadora maioria dos castelos, especialmente no contexto da Península Ibérica. Este facto é algo natural uma vez que tanto aglomerados populacionais quanto sítios de cariz mais militarizado procuraram construir em pedra de modo a garantir que estas construções fossem mais duradouras e, indiretamente, ajudaram a preservar estas estruturas para os estudos arqueológicos atuais. Porém, estas não foram as únicas soluções construtivas implementadas durante a Idade Média. Mesmo sendo mais difíceis de reconhecerem-se no terreno e de preservarem-se, as estruturas em madeira foram uma parte importante da construção e desenvolvimento histórico medieval, juntamente com os objetos e mobiliário que, na maioria das vezes, são desconhecidos para os investigadores modernos. O presente trabalho procurará então abordar as estruturas defensivas, em madeira, conhecidas para a Alta Idade Média no território português pretendendo, quando possível, identificar paralelos na Europa. É importante realçar que, em termos de estruturas de madeira, a sua maioria encontram-se em contextos rurais e, em relação ao estudo sobre povoamento rural medieval, os primeiros trabalhos mais aprofundados para a parte “cristã” foram realizados por Catarina Tente, no âmbito de um projeto de investigação financiado pelo FCT sob o título “O Alto Mondego: terra de fronteira entre Cristãos e Muçulmanos” e das suas teses de mestrado e doutorado. Deve destacar-se, para além das campanhas em S. Gens, os trabalhos feitos nos sítios do Penedo dos Mouros, Soida, Aljão, Castelo (Arcozelo da Serra), Risado, Castro do Tintinolho, Castro de Santiago, Alto da Quintinha e Algodres. Mais recentemente, e coordenado pela mesma investigadora, um novo projeto, dedicado a região de Viseu e denominado “Estudo interdisciplinar de comunidade alto medievais (séculos V a XI)” foi iniciado tendo igualmente o objetivo de alargar os nossos conhecimentos sobre povoamento rural medieval numa área das Beiras ainda pouco estudada. Para as outras regiões de Portugal fora das Beiras, o avanço das investigações é relativamente limitado. O conhecimento sobre o período entre os séculos VI a XII, em termos de ocupação rural, limitava-se às informações disponíveis nas fontes escritas. As poucas intervenções arqueológicas (em relação a comunidades cristãs) ficaram restringidas a alguns monumentos medievais, especialmente no Entre-Douro-e-Minho, tendo-se deixado de lado os espaços rurais que não teriam uma relação com pontos de importância no povoamento (como seriam uma igreja ou a proximidade a uma cidade).

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Somente nos últimos anos surgiram alguns novos trabalhos realizados sobre contextos rurais, como é o caso das escavações feitas no âmbito da barragem do Alqueva, do projeto desenvolvido por M. A. Vieira para o Alto Paiva ou dos trabalhos feitos por Sara Prata em casais rurais no Alentejo, sendo ainda pouco quando comparado, por exemplo, com o avanço das investigações em Espanha e os trabalhos realizados sobre ocupação medieval rural como, por exemplo, em Zaballa (País Basco), na região de Madrid ou na Catalunha. Para o presente trabalho, pretendemos enumerar todos os sítios conhecidos em Portugal no qual verifica-se a utilização de estruturas defensivas em madeira. Estão registados arqueologicamente somente três casos em que isso acontece, todos escavados na região do Alto Mondego. Foi possível também identificar, na bibliografia nacional, referência a mais dois sítios em que, segundo os investigadores, estariam localizados fortificações do tipo “mota”, referenciadas na documentação antiga. Prosseguiremos com uma ficha de cada um destes sítios do território nacional antes de abordar a interpretação e o debate que pode ser levantado a partir destas estações arqueológicas, para além de procurar identificar paralelos diretos ou formas defensivas coevas em outros países da Europa Ocidental.

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2. Estruturas em Portugal 2.1 O Sítio de S. Gens A estação arqueológica de S. Gens localiza-se na atual freguesia de Santa Maria, no concelho de Celorico da Beira, Distrito da Guarda. Encontra-se a cerca de dois quilómetros a norte da atual vila de Celorico da Beira, junto ao rio Mondego e a um vale. O topónimo S. Gens, que denomina toda a área, estende-se pela encosta e vale que se lhe segue, tendo por limite dois cursos de água, a ribeira dos Tamanhos e o rio Mondego, e resultará provavelmente de um topónimo religioso, da existência de uma Igreja onde seria prestado culto a S. Gens. Em termos arqueológicos o espaço é bastante rico possuindo, para além da aldeia medieval, uma necrópole rupestre com mais de cinquenta sepulturas, dois núcleos com vestígios romanos e um pequeno abrigo natural com ocupação pré-histórica, possivelmente neolítica ou calcolítica (TENTE, 2010, p. 203). O sítio foi alvo de escavações, no sector medieval e no sector romano, entre 2008 e 2011, havendo existido uma última campanha no sector romano em 2012. O povoado, com uma planta de tendência ovalada, encontra-se dentro do vale, a meia encosta e junto a tors graníticos que foram aproveitados para enquadrar a entrada do sítio, cumprindo o papel de torre de vigia. Esta entrada, a única da aldeia, estava voltada em direção ao vale da ribeira, a Noroeste, em sentido oposto ao da necrópole rupestre. O sistema defensivo era composto por uma muralha de pedras não aparelhadas e sem materiais ligantes, não Fig. 1: Planta de S. Gens. Fonte: TENTE, 2010, p. 239. ultrapassando 1,5 metros de altura e os 2 metros de largura na base. Era complementada por uma paliçada de madeira assente numa plataforma pétrea adossada pelo lado interior da muralha, e não sobre a muralha pétrea como irá verificar-se no caso do sítio da Soida. Os restos carbonizados desta estrutura de madeira foram identificados no decurso da escavação, auxiliando no balizamento cronológico da povoação que, ao que tudo indica, foi ocupado entre os séculos IX e X, sendo abandonado na segunda metade deste último. Quanto ao tipo de madeiras que foram recuperados, a principal árvore usada foi o Carvalho negral (Quercus pyrenaica), seguida das madeiras de castanheiro (Castanea sativa) e da azinheira (Quercus rotundifolia) (TENTE, 2014, p. 44).

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É algo difícil caracterizar com exatidão o que existia no interior do povoado. Estariam instaladas casas mas, ao contrário do que verificou-se no sector romano da mesma estação arqueológica, não foram identificados muros, telhas ou outros elementos arquitetónicos. As escavações permitiram recuperar apenas elementos sobreviventes de cabanas do tipo choupana ou choça, que teriam no seu interior lareiras delimitadas com pedras e construídas no chão. Estas lareiras foram os únicos elementos que foram possíveis de identificar-se para além de algum pequenos vestígios de madeiras e arbustos nos níveis de incêndio que destruíram a aldeia. O número de cabanas que haveria é impossível de apontar, mas é provável que a densidade não fosse muito alta uma vez que a população procuraria recolher dentro do recinto muralhado todos os seus bens, o que explicaria a razão pelo qual a paliçada delimitaria áreas em que seria impossível construir cabanas. Todos os vestígios recolhidos indicam que se trataria de uma comunidade com uma economia de subsistência e que produziriam as suas próprias loiças, não havendo necessidade para o uso de moedas e predominando as trocas diretas quando houvesse necessidade (LOBÃO et all, 2013, pp. 18-21). Devido a um grande incêndio na segunda metade do século X, cujas causas e origem ainda são um mistério, a aldeia é totalmente destruída, tanto as cabanas quanto a paliçada. Efetivamente, foi somente devido a este incêndio que foi-nos possível identificar as Fig. 2: Troço com derrube da muralha de S. Gens. Fonte: TENTE, 2010, p. 241 estruturas em madeira que, de outro modo, teriam desaparecido do registo arqueológico. Na sequência desta destruição, o povoado é definitivamente abandonado, havendo uma forte possibilidade da população ter-se deslocado para o recém-construído castelo de Celorico da Beira que se integrava numa nova estratégia defensiva e que serviria, na altura, como um grande pólo atractor de populações, especialmente das camponesas (LOBÃO et all, 2013, p. 22). 2.2 O sítio da Soida A estação arqueológica da Soida localiza-se a cerca de 1000 metros de altitude, na freguesia da Rapa, exatamente na fronteira entre os concelhos da Guarda e de Celorico da Beira. O topónimo “Soida“ deriva provavelmente do árabe e significaria “local elevado” ou “terra alta”. Trata-se de um sítio de montanha que ocupa um dos últimos montes da vertente noroeste da Serra da Estrela, a partir do qual pode-se ter um amplo controlo visual da paisagem e sobre o vale do Mondego, podendo-se avistar, para o Norte, Trancoso e a Serra da Marofa; para Este, o planalto da Guarda; e, para o Oeste, a via medieval que ligava Linhares a Guarda. Apesar da altitude, porém, a Soida não

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marca a paisagem, passando praticamente desapercebido para quem observa os montes, uma vez que não se situa nem no ponto mais alto nem no mais destacado da região. Esta localização potencializa a capacidade defensiva da Soida, uma vez que, para além de passar desapercebida, é de difícil acesso (TENTE, 2010, p. 267). Foram efetuadas duas campanhas arqueológicas neste sítio, em 2006 e 2007, divididas em seis sectores sendo que em apenas três destes foram identificados vestígios de estruturas. Nenhuma evidência foi encontrada que comprovasse a existência de algum tipo de ocupação pré-medieval, o que demonstra que tanto a muralha quantos as habitações foram de fundação alto medieval. Foi possível reconhecer e delimitar a estrutura que circundava e protegia o Fig. 3: Planta povoado. Tendo uma base que da Soida. Fonte: variava entre os 2,2 metros e os 2,7 TENTE, 2010, metros, estava estruturada com dois p. 293 paramentos de pedra não aparelhada, com um preenchimento em terra (no sector II) ou terra misturada com pedra miúda (no sector III) e não ultrapassando o metro de altura. Esta muralha de pedra seria complementada por uma paliçada de madeira anexa exatamente sobre ela e da qual recuperaram-se vários restos carbonizados (TENTE, 2014, p. 43). A estrutura defensiva encerra um espaço de grandes dimensões e de planta irregular mas, devido a forte inclinação que verifica-se no local, os espaços domésticos estariam limitados a apenas algumas plataformas aplanadas pequenas ali existentes, especialmente junto a muralha. Em todo o espaço deveriam existir apenas quatro ou seis unidades habitacionais, protegidas do frio devido a sua proximidade à estrutura defensiva do povoado. O facto da maior parte da área da aldeia ficar vazia sugere que possivelmente serviria para guardar os rebanhos, bens fundamentais para uma comunidade que, pelas evidências, teriam uma economia pastoril. A prática da agricultura seria praticamente impossível uma vez que os solos nas proximidades são esqueléticos, há uma abundância de afloramentos expostos e os espaços são íngremes na sua maioria (TENTE, 2009, p. 58). Um dos problemas ao estudar-se as habitações deste sítio foi a ausência de estruturas positivas ou negativas das mesmas. Não foram encontrados buracos de poste, muros, valas de fundação ou nenhum dos tradicionais elementos definidores de espaços de habitação. Somente através da presença das lareiras e da maior concentração de cerâmica é que foi possível especular sobre a localização destes espaços.

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Uma vez vistas estas diversas características deste povoado, é possível apurar que a muralhada e paliçada da Soida teria uma tripla função: delimitar o espaço habitacional, servir de curral alargado para o gado e proteger a população da aldeia (TENTE, 2010, p. 289). Quanto a datação do sítio, foram analisadas várias amostras de madeiras carbonizadas recuperadas no sítio e diversas datações por radiocarbono foram publicadas e divulgadas. Uma das mais significativas foi uma amostra de Fig. 4: Foto da escavação com detalhe para o preenchimento em terra da cornogodinho ou sorveira- muralha. Fonte: TENTE, 2010; p. 295. brava (Sorbus aucuparia), proveniente de uma das lareiras identificadas no sector II e cujo resultado correspondeu ao período de 880-1020 cal AD (a 2 sigma). Por corresponder a uma amostra que esteve, definitivamente, ligada ao período de atividade do povoado, essa datação ajuda-nos a ter uma ideia da fase de ocupação do local, que não terá sido muito extensa. Tal como no caso de S. Gens, a aldeia é vitimada por um incêndio destruidor na segunda metade do século X e abandonada definitivamente (TENTE, 2010, p. 287). 2.3 O sítio do Penedo dos Mouros A estação arqueológica do Penedo dos Mouros localiza-se na atual freguesia do Arcozelo, no concelho de Gouveia. Visualmente, o espaço dominado a partir do sítio do Penedo dos Mouros é o vale da Ribeira do Boco, um dos afluentes da Ribeira de Gouveia que vai desaguar no rio Mondego. Apesar de pequena, a área deste vale destaca-se pelo seu potencial agrícola, principalmente quando comparado aos terrenos envolventes, o que seria um dos principais motivos para a implementação das estruturas em estudo naquele local. O sítio arqueológico em si ocupa uma zona aplanada a cerca de 435 metros de altitude, junto a um tor granítico que mede aproximadamente 45 metros de comprimento por 15 de largura, com uma altura de 15 metros do lado Norte e 21 metros do lado Este (TENTE, 2010, p. 139). O local foi intervencionado, inicialmente, em 1999 sob a responsabilidade de Sandra Lourenço e Ana Rita Martins dentro de um projeto de PNTA intitulado “Plano de Intervenção Arqueológica em Gouveia”. Mais duas campanhas decorreram ainda sob a orientação destas duas investigadoras em 2000 e 2001. Posteriormente, um novo projeto, financiado pelo FCT, possibilitou a continuação dos trabalhos, desta vez orientados por Catarina Tente, entre 2008 e 2010 (TENTE, 2014, p. 44). O sítio é composto por vários pequenos troços de muralha que, entre os penedos, colmatam os espaços existentes criando uma espécie de cerca de planta irregular. Os penedos existentes no local são parte essencial pois constituem barreiras naturais que

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foram incorporadas no sistema defensivo do local. O ponto central desta localidade seria a torre que existia no grande tor principal. Durante as escavações foram recolhidas enormes quantidades de vestígios resultantes da combustão e colapso desta grande estrutura em madeira, sendo ainda hoje visíveis os entalhes feitos nos penedos para auxiliar no apoio desta torre de, pelo menos, dois pisos. São visíveis nas paredes Fig. 5: Planta do batólito granítico buracos de topográfica e da poste, escadas e uma sepultura escavação no escavada na rocha. Quanto as Penedo dos Mouros. Fonte: madeiras utilizadas na TENTE, 2010, construção da torre, elas p. 178. precisariam ser de grande dimensão uma vez que seriam necessárias grandes traves para a construção de uma estrutura daquelas. Assim sendo, não foi surpreendente quando verificou-se, na análise das amostras recolhidas durante as escavações, que tinham sido usados essencialmente o carvalho negral (Quercus pyrenaica) e o castanheiro (Castanea sativa), duas árvores que podem atingir um grande porte (TENTE, 2014, p. 47). A entrada da torre seria a nível do solo, com a cobertura sendo feita pelo madeiramento da base do piso superior. A seguir haveria o piso intermédio com a base e a cobertura em madeira, do qual seria possível aceder ao topo do tor. Neste topo, haveria uma cobertura em madeira e telha de meia cana para a torre mas nenhuma no tor em si, que serviria como posto de vigia. A única entrada para este conjunto estaria voltada para Norte e seria protegida com uma pequena muralha de pedra não aparelhada e amontoada caoticamente, desenhando uma planta semicircular. É de realçar ainda um espaço natural que existe do lado sul do grande tor, que foi usado como abrigo diversas vezes ao longo da história, possuindo inclusive uma ocupação pré-histórica (TENTE, 2014, p. 47). Os troços de muralha que existem no local ajudam a proteger os poucos pontos vulneráveis do sítio e é evidente o carácter defensivo de todo o espaço, algo planeado desde o momento da sua fundação. Apesar de encontra-se num local elevado, a torre e, consequentemente, os vigias, estariam ocultos na paisagem pois ela não seria visível de nenhum ponto de observação. A própria visão a partir do topo do tor só permitiria o controlo sobre o vale adjacente e não mais. É nesta falta de visão, quer a partir do sítio quer a partir do exterior, que reside um dos principais motivos para a localização do

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castelo roqueiro do Penedo dos Mouros, pois este procurava passar desapercebido (TENTE, 2014, p. 47). Em termos de datações, procurou-se analisar por radiocarbono não só amostras das escavações mais recentes, mas também algumas das evidências que tinham sido armazenadas das primeiras escavações realizadas no sítio na viragem do milénio. Da campanha de 2001, por exemplo, foram datadas duas amostras de fava (Vicia faba) Fig. 6: Tor granítico do Penedo dos Mouros com indicação dos sectores que resultaram numa intervencionados. Fonte: TENTE, 2010, p. 185. estimativa de 870-1030 cal AD (a 2 sigma). Das campanhas mais recentes, foi analisada, por exemplo, uma amostra de urze (Erica arborea) que resultou numa calibração de 770-980 cal AD (a 2 sigma). Torna-se mais ou menos evidente então que a ocupação medieval parece ter-se restringido aos séculos IX e X. Quanto a sequência de ocupação humana do sítio, a primeira data do neolítico antigo/médio com a utilização do abrigo natural do grande tor. Após uma longa ausência de qualquer tipo de ocupação, o espaço volta a ser utilizado no século IX, altura em que se constrói a estrutura defensiva em madeira e os troços de muralha. Utiliza-se igualmente o abrigo natural, mas agora como redil de gado. A ocupação alto medieval termina com um grande incêndio que se encontra bem marcado arqueologicamente e que leva ao abandono imediato do espaço em meados do século X. Apenas a guarida volta a ser utilizada, mais recentemente, agora como um abrigo de pastor de cronologia contemporânea (TENTE, 2010, p. 172-173). O sítio do Penedo dos Mouros é um local que levanta até hoje muitas questões. A começar pela sepultura escavada na rocha, que se encontra no topo do grande tor granítico, o seu significado é ainda alvo de debate. As teorias mais plausíveis apontam para que ela seja posterior a destruição e abandono do sítio, feita por alguém que ainda conservaria de algum modo o tradição oral da história daquele local, mas é difícil comprovar essa posição. No que diz respeito a torre e os muros, é seguro afirmar que foram feitos pela comunidade que habitava e explorava o vale da Ribeira de Boco, sendo um espaço utilizado para a defesa da comunidade e do vale, para além do armazenamento dos excedentes da produção. Nas escavações foi possível identificar sementes como as de fava (Vicia faba), trigo (Triticum aestivum) e coentros (Coriandrum sativul). Poder-se-ia então presumir que esta comunidade não seria muito extensa, devido ao tamanho do sistema do Penedo dos Mouros (TENTE, 2010, pp. 174176).

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O investimento aplicado na construção de todo o complexo demonstra claramente a necessidade defensiva daquela população. No entanto, o nível de organização e mobilização de mão-de-obra para garantir o sucesso destas obras levam ao levantamento de outras possibilidades para além da simples dinâmica camponesa, como a da existência de um grupo ou indivíduo destacados na comunidade. Portanto, ambas as teorias concordariam que as estruturas foram construídas pela comunidade camponesa local, mas o significado e orgânica do espaço seriam bastante diferentes. Na primeira possibilidade, o sistema defensivo do Penedo dos Mouros seria um espaço comunitário, que visaria a defesa da população e armazenamento dos excedentes. A segunda teoria defende que o espaço seria a “casa” de um potente local, aonde este guardaria as rendas pagas pelos camponeses ou o resultado da produção das suas terras no vale, e controlaria os arredores de uma posição alta. Teria que se realçar que, mesmo neste cenário, tratar-se-ia de uma elite extremamente localizada e com poderes mais limitados do que aqueles dos senhores feudais na plena idade média. Como se pode ver, são duas possibilidades bastantes distintas mas igualmente plausíveis para o contexto conhecido neste sítio arqueológico, não sendo possível até o momento dar uma resposta definitiva a esta questão (TENTE, 2014, P. 48). 2.4 A “mota” de Eiró Localiza-se na encosta SE do monte chamado de Outeiro das Moças na atual freguesia de Rio Douro, concelho de Cabeceiras de Basto. O topónimo “mota” está associado ao local do sítio arqueológico, sendo inclusive utilizado pela população local para designar o espaço. Na Carta Militar de Portugal 1:25000 está na folha nº 72, estando o local a uma altitude de 550 metros. A estrutura é constituída por um montículo artificial de terra, rodeado por um fosso que nunca ultrapassa os oitenta centímetros de profundidade atualmente (estando, por isso, provavelmente aterrado, uma vez que originalmente deveria ter tido mais profundidade). Apresentada também, de forma circular, uma depressão interior descentrada e uma sobre-elevação no lado NO do montículo. O conjunto apresenta um diâmetro de cerca de Fig. 7: Esboço da planta da “mota” de Eiró. Fonte: FONTES, 1999, p. 329. 45 metros, com o fosso, e de 35 metros sem o fosso. É possível visualizar elementos pétreos na elevação central, possivelmente pertencentes a construções e edificações antigas. Do lado SE observa-se uma abertura no fosso, sugerindo que a entrada se faria por aquele lado. Em termos de materiais, a prospeção de superfície não identificou nenhum tipo de materiais cerâmicos (FONTES, 1999, pp. 325-327).

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A sua estratégica colocação a meia encosta e a difícil acessibilidade colaboram para a defesa do espaço, que domina todo o vale da ribeira do Rio Douro. Este vale é importante devido a ligação natural que faz entre as terras de Basto e o planalto do Barrosão. É também pela sua localização que é possível arriscar uma datação para a ocupação da estrutura. Segundo Luís Fontes, a “mota” de Eiró seria um dos locais referidos nas Inquirições Afonsinas de 1258 aonde os moradores da paróquia de Santo André de Rio de Douro teriam que apresentar-se. O mesmo autor arrisca então balizar cronologicamente o tempo de vida do espaço entre os séculos XII e XIV, não possuindo mais evidências arqueológicas ou documentais para além das apresentadas (FONTES, 1999, pp. 325-327). 2.5 A “mota” de Caíde de Rei ou “lomba mourisca” Localiza-se entre as freguesias de Caíde de Rei e a de Vilar do Torno e Alentém, no concelho de Lousada, a uma altitude de 363 metros. Em prospeção de superfície foi possível identificar algumas cerâmicas medievais, levando ao questionamento sobre a função daquele sítio e o seu papel em contexto medieval. Deste questionamento surgiu a possibilidade de associação entre o morro granítico identificado e a “loba mourisca” ou “lomba mourisca” que vem documentada desde o século XII e que vários investigadores já procuraram localizar com precisão. A forma de mamoa ou lomba que o presumível sítio da “mota” de Caíde de Rei possui ajudaria a explicar o topónimo pelo qual é referida na documentação (SOUSA, 2010, pp. 1-4). O documento mais antigo com referência a “lomba mourisca” data de 1137, aquando a doação de terras de Egas Moniz em memória do seu filho Fig. 8: Perspectiva noroeste do local da “mota” de Caíde de Rei. Fonte: SOUSA, Mendo. Mais tarde, 2010, p. 1. nas inquirições afonsinas de 1258, o local volta a ser referido quando são feitas alusões a umas bouças pertencentes à Igreja de São Mamede de Recezinhos (Penafiel). Por fim, a última referência que possuímos data igualmente de 1258, das inquirições de Caíde de Rei, onde se encontra, segundo Mário Barroca, a mais elucidativa expressão para considerar-se a “lomba mourisca” como uma “mota”, num texto redigido pelo pároco Gonçalo Gil (SOUSA, 2010, pp. 1-4). Curiosamente fica subentendido que o carácter militar do espaço já seria algo que estaria na memória daqueles que escreviam sobre o sítio, o que significaria que no século XII a “lomba mourisca” não teria mais sua função bélica. Segundo Barroca, o local teria sido muito provavelmente utilizado no contexto da reconquista, sendo modelada e usada talvez nos séculos X ou XI (BARROCA, 1991, p. 100).

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Com base na correlação das informações dadas nestes três documentos e com um processo de eliminação dos sítios com menos possibilidades ou sem uma das características necessárias, é possível afirmar que há fortes indicações para que a “lomba mourisca” dos documentos seja o tor granítico identificado como “mota” em Caíde de Rei, não havendo como ter certezas sem escavações arqueológicas que comprovem a funcionalidade daquele sítio.

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3. Arquitetura Militar em Madeira Os cinco sítios apresentados anteriormente constituem os únicos em Portugal onde foi possível comprovar arqueologicamente a existência de paliçadas de madeira para a Alta Idade Média ou aonde existem fortes possibilidades destas terem existido, como é o caso das duas fortificações do tipo “mota”. Procurando então ultrapassar a análise individual de cada um dos casos e pretendendo alcançar uma visão mais globalizada do fenómeno no território nacional, verificou-se a existência de duas vias ou tendências principais. Estas tendências poderiam, como exercício metodológico, refletir-se em duas categorias distintas, que optamos por denominar no presente trabalho de estruturas defensivas de povoado e estruturas defensivas de tipo torre. É importante realçar que estas duas categorias foram criadas para ajudar a compreender a função dos sítios apresentados no contexto do presente trabalho e não se trata, por enquanto, de uma divisão reconhecida e utilizada pela comunidade científica uma vez que é um tema ainda pouco estudado e aprofundado, especialmente na Península Ibérica. A primeira categoria consistiria nas fortificações em madeira que foram construídas para proteger, parcialmente ou integralmente, aglomerados populacionais tais como cidades, vilas ou aldeias. Apesar de possuírem, naturalmente, uma função militar, o seu principal objetivo seria a defesa da população do aglomerado. Geralmente, as estruturas defensivas de povoado seriam construídas após e por consequência da existência desses povoados, sendo feitas por iniciativa local, seja dos moradores ou das elites responsáveis. É o que verifica-se para os casos de S. Gens e da Soida, os dois primeiros exemplos apresentados, onde as paliçadas existentes tinham claramente a função de defender os respetivos povoados. Ambas as estações arqueológicas, apesar de terem algumas diferenças, possuíam muitas semelhanças em termos do tipo de madeiras utilizado e das soluções construtivas implementadas. É significativo, por exemplo, os resultados obtidos na análise antracológica que foi realizada, revelando que nos dois sítios a principal árvore usada nas construções foi o Carvalho negral (Quercus pyrenaica), seguida das madeiras de castanheiro (Castanea sativa) e de azinheira (Quercus rotundifolia). Para além disso, os aparelhos construtivos nos dois povoados utilizaram soluções mistas, empregando madeira mas também uma pequena muralha pétrea, normalmente constituída por dois paramentos preenchidos por terra ou pedra miúda, não ultrapassando o metro e meio de altura (TENTE, 2014, p. 46). A segunda categoria definida para este trabalho, as estruturas defensivas de tipo torre, consiste nas construções que foram feitas para abrigar uma guarnição militar e/ou defender um local estratégico. Possuem então uma função muito mais militar do que as estruturas defensivas de povoado, podendo ter sido construídas por iniciativa real, por parte das elites locais ou ainda por parte de comunidades camponesas. O caso do Penedo dos Mouros estaria aqui incluído, sendo um local de carácter defensivo e militar marcado, tendo sido construído por uma comunidade camponesa (sendo ainda discutível, como já foi visto anteriormente, se foi uma obra realizada por iniciativa dos próprios camponeses ou por ordem de uma elite local não reconhecida arqueologicamente). Estão igualmente incluídas nesta categoria as duas fortificações

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portuguesas denominadas de “motas”, tipologia mais comum em países como a França, Alemanha ou Grã-Bretanha, com uma expansão marcante principalmente entre os séculos X e XII. Nenhum dos casos das “motas” portuguesas foi alvo de escavações, mas as evidências e dados conhecidos sobre este tipo de construção no norte da europa ajudam-nos a compreender como seria a dinâmica e técnicas construtivas inerentes ao processo. 3.1 Paralelos para as estruturas defensivas de povoado Ainda conhecemos poucos exemplos em Portugal de paliçadas de madeiras a serem utilizadas como meio de defesa para povoados e aldeias, porém, os casos de S. Gens e da Soida ajudam-nos a começar a compreender a tendência do povoamento rural alto medieval na região das beiras. Quando procuramos encontrar paralelos estruturais em outros países europeus averiguamos que a situação que ocorre no alto Mondego é mais invulgar do que a partida se poderia pensar, existindo mais paralelos negativos do que aqueles realmente semelhantes. Começando pelo caso espanhol e pela região do País Basco, um dos sítios mais exaustivamente estudados e publicados sobre o tema foi a aldeia de Zaballa. Trabalhado pela equipa de Quirós Castillo, conhecemos hoje em dia a evolução do sítio e as suas várias fases de desenvolvimento desde a sua fundação no século VI até o seu abandono final no século XV. Será no século VIII que se dará uma das mais importantes transformações em Zaballa, quando a localidade transforma-se de uma simples granja em uma pequena aldeia medieval, com certas características que perduram durante a alta idade média. Ao contrário do que acontece nos casos portugueses que foram aqui apresentados, o povoamento nos séculos IX ou X não era concentrado e a aldeia cobriria uma área de aproximadamente 9000 m2. Não haveria um muro ou estrutura delimitadora de todo o povoado existindo no seu lugar diversos muros menores que separavam os terrenos de cada unidade familiar (Ver Figura 9). O povoamento no resto da região do País Basco seria parecido ao de Zaballa, sendo portanto igualmente oposto aos casos de S. Gens e da Soida (QUIRÓS CASTILLO, 2011, Fig. 9: Reconstrução da aldeia de Zaballa nos séculos IX e p. 597). X. Fonte: QUIRÓS CASTILLO, 2011, p. 597. Para a região da Catalunha, os conhecimentos são limitados e parciais mas, mesmo assim, é possível distinguir claramente dois tipos principais de povoamento para a época alto medieval. O primeiro tipo seria o povoamento em altura, com aldeias colocadas em sítios de difícil acesso e com um relevo acidentado, permitindo o uso das características naturais do terreno para a defesa dos povoados. Em alguns casos foram

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construídos fossos para auxiliar na proteção de zonas mais acessíveis, mas não estão documentados casos em que tenham sido utilizadas paliçadas de madeira. Um exemplo de sítio dessa tipologia seria o de Castellar Vell (em Castellar del Vallès, Barcelona), que se encontra localizado num pequeno planalto junto a uma zona escarpada que oferece uma excelente defesa natural, possuindo também um fosso no lado noroeste, que é a zona de maior acessibilidade. É um local marcado pela sua quantidade de silos (26 até o momento, sem a totalidade do povoado ter sido escavada) e pela superfície de ocupação, cerca de 7000 m2. O segundo tipo de povoamento seria o de planície, em locais com vertentes suaves ou promontórios aplanados. São aldeias localizadas em zonas férteis, juntos a campos de cultivos e ribeiros, tendo em geral pequenas dimensões e sendo pouco estruturadas. Mais importante ainda para o tema do presente trabalho, tratavam-se de povoados abertos, geralmente sem nenhum tipo de aparelho defensivo. Um exemplo para essa tipologia seria o sítio de Can Roqueta II (em Sabadell, Barcelona), uma localidade de pequenas dimensões, com uma área de ocupação de 525 m2, e com um período de vida datado entre os séculos IX e meados do XI (BUXÓ, 2009, PP. 32-34). Para a região de Castilha e Leão, a documentação medieval costuma mencionar três tipos de povoamento: as civitas, os castrum e as villae. Apesar de serem termos latos e de difícil definição para os estudiosos atuais, é possível verificar que em nenhum desses tipos de povoamentos havia o costume de usar estruturas defensivas em madeira. As civitas, na sua maioria herdeiras de cidades romanas, teriam as suas muralhas em pedras, sendo que o mesmo poderia ser aplicado aos castrum. Estes últimos estavam localizados em locais de antigos assentamentos hispano-romanos ou em sítios de novas fundações, mas tinham uma função totalmente militarizada e de controlo do território, tendo em todos os casos defesas em materiais pétreos. As villae seriam o mais próximo das aldeias medievais encontradas em Portugal mas, mesmo assim, no caso castelhano e leones, tratava-se de locais abertos, sem paliçadas ou outras estruturas defensivas, mostrando novamente a diferença existente entre o povoamento rural no Alto Mondego e em Espanha (MARTÍN, 2005, p. 59). Em suma, não foi possível encontrar povoados ou aldeias em Espanha com as características particulares de S. Gens ou da Soida. Felizmente, em Itália e, mais especificamente, na região da Toscana, foi-nos possível averiguar a existência de algumas aldeias que, entre os séculos IX e XI utilizaram paliçadas de madeira para a sua defesa. Para este trabalho iremos abordar apenas três exemplos, o de Montarrenti, o de Scarlino e o de Miranduolo. A aldeia de Montarrenti foi uma das primeiras a ser escavada e estudada pelos arqueólogos italianos no âmbito do estudo da evolução do povoamento na Toscana. Construída num monte e com uma ocupação seguramente datada desde o século VII, o povoado sempre possuiu duas zonas distintas: a parte alta do monte, aplanada, aonde estaria fixada a família que controlava a localidade, e a parte baixa do monte, nomeadamente a encosta e a base, aonde morariam o resto dos habitantes. Entre os

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séculos VII e a primeira metade do século VIII, toda a aldeia seria cercada por uma paliçada de madeira, havendo uma para a totalidade da povoação e uma segunda que protegeria especificamente a parte das elites. Na segunda metade do século VIII a parte alta passa a ser defendida por um muro de pedra, enquanto o resto da aldeia continua com a mesma paliçada de madeira. Somente na segunda metade do século IX é que será feito a construção de todo o sistema defensivo em pedra (FRANCOVICH e MILANESE, 1990, pp. 227-228).

Figs. 10 e 11: O povoado de Montarrenti. Uma reconstituição da primeira fase na esquerda e da segunda fase na direita. Fonte: FRANCOVICH e MILANESE, 1990, pp. 233-234.

O caso de Scarlino é algo diferente do de Montarrenti, uma vez que conhecemos menos das fases iniciais de ocupação daquele espaço. Sabemos que seria uma pequena aldeia, com poucas casas e apenas alguns núcleos familiares, porém, está documentado arqueologicamente a presença de uma paliçada de madeira entre os séculos VIII e X que protegeria a totalidade do espaço habitado. Foi também nesta fase que começou a construção de uma igreja em pedra do lado de fora da paliçada que será, no século XI, incorporado dentro do recinto defensivo, agora em pedra (FARINELLI e FRANCOVICH, 2000, pp. 48-50). Em Miranduolo possuímos outro excelente exemplo da utilização de paliçadas de madeira na Alta Idade Média. Tal como acontece em Montarrenti, há aqui uma separação clara entre o espaço da elite e o espaço do resto da população. No entanto, no caso específico de Miranduolo, é somente na área das elites que existe um sistema defensivo, pelo menos durante o período em que existe a paliçada, antes da construção dos muros e torre em pedra que ocorre na segunda metade do século X. Entre o século IX e a primeira metade do X, há a construção não só do sistema em madeira mas também de um fosso com 35 metros de comprimento, 7 de largura e cerca de 5 metros de profundidade que define uma zona quadrangular e separa fisicamente mas principalmente ideologicamente a aldeia da área reservada para a elite, ponto da moradia do potente local e também sítio para o armazenamento das rendas pagas pelos camponeses (VALENTI, 2008, pp. 87-91).

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Figs. 12 e 13: A esquerda, a aldeia de Scarlino na sua primeira fase. A direita, as duas primeiras fases de Miranduolo. Fontes: FARINELLI e FRANCOVICH, 2000, p. 48; VALENTI, 2008, p. 90.

Estas aldeias toscanas são bons paralelos para ajudar a compreender melhor o uso das paliçadas de madeiras na alta idade média europeia, mas são casos que, socialmente, distinguem-se dos sítios portugueses uma vez que, na sua maioria, estão ligados ao surgimento das elites locais e do proto feudalismo em Itália. Os exemplos portugueses apresentados foram construídos por comunidades camponesas, não havendo evidências da presença de elites locais. Assim sendo, apresentaremos ainda alguns exemplos de aldeias escavadas na Irlanda que, sendo igualmente protegidas por paliçadas de madeira, foram construídas pelas comunidades locais, sem a supervisão ou o beneficiamento de alguma elite ou senhor local. O uso da madeira na construção dos povoados medievais foi generalizado no caso desta ilha, havendo imensos sítios e tipologia diferentes para a utilização de sistemas defensivos com estes materiais. Neste trabalho serão apresentados dois exemplos de sítios com paliçadas irlandeses, um deles associado a fossos desde a fundação, nomeadamente o sítio de Coolcran (condado de Fermanagh) e um exemplo de aldeia com paliçada dupla, caso de Ballynagallagh (condado de Limerick). A começar por Coolcran, o sítio esta localizado no atual condado de Fermanagh, e foi escavado na sua totalidade entre maio e junho de 1983. A localidade foi construída sobre uma pequena elevação artificial com cerca de 2 metros de altura e 43 metros de diâmetro. Um fosso foi construído a volta de todo o espaço e buracos de poste foram encontrados, pelo interior, indicando que existiria uma paliçada em madeira anexa ao fosso. Foram igualmente recuperados restos de madeiras, preservados devido a humidade do sítio (que esta situado próximo a uma zona de pântanos), e que foram datados da primeira metade do século IX. O interior deste pequeno povoado estava em más condições de conservação devido a agricultura local, mas foi possível identificar pelo menos três espaços habitacionais e duas lareiras domésticas (O´SULLIVAN et all, 2009, pp. 248-249). O sítio de Ballynagallagh, localizado no condado de Limerick, foi parcialmente escavado pela Universidade de College Cork nos anos de 1994, 1996 e 1997. O

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povoado, de planta ovalada, teve um longo período de ocupação entre o século VI e o século XII, passando por várias fases. A primeira, entre o final do século VI e o VII, consistiu numa pequena aldeia de casas circulares. A segunda fase, a partir do século VIII, ficou marcada pela criação da primeira cerca no local. As fases que mais interessam para o presente trabalho, a terceira e quarta, estão datadas a partir da segunda metade do século VIII até o século XII, e são caracterizadas pela dupla paliçada que protegeria a população local. Com um perímetro de aproximadamente 380 metros, as duas linhas de paliçadas estavam distanciadas uma da outra por cerca de 1,4 metros, sendo ambas construídas na mesma altura em detrimento da primeira cerca, correspondente a segunda fase de ocupação da aldeia. Ambas as paliçadas teriam tido pedras nas suas bases de modo a auxiliar no aumento da resistência da estrutura, um dado interessante pois assemelhase ao que acontece em S. Gens e na Soida, aonde foram igualmente utilizados bases em pedra para melhorar a resistência das estruturas em madeira. O último acrescento as defesas desse sítio foi um fosso em forma de “U” voltado de norte para sul e com 1, 75 metros de largura e 0, 75 metros de profundidade. Datações a partir de algumas ossadas de animais recolhidas no fundo deste fosso indicam que ele foi construído no início do século XI (O´SULLIVAN et all, 2009, pp. Fig. 14: Planta da escavação em Ballynagallagh. Fonte: O`SULLIVAN et all, 2009, p. 353. 352-353). 3.2 Paralelos para as estruturas defensivas do tipo torre Apesar de não possuir todos os elementos e forma típicos de uma “mota”, o sítio do Penedo dos Mouros possui algumas das características deste tipo de fortificação e é o único local que foi alvo de escavações para as estruturas defensivas do tipo torre portuguesas. Os outros dois exemplos apresentados, das “motas” do Eiró e de Caíde de Rei, tem alguma base documental mas ainda não foram alvo de escavações e estudos mais aprofundados. Em Espanha, a situação é bastante semelhante à de Portugal. Em relação as fortificações de tipo “mota”, existem muitos dados documentais que indiquem a sua presença ao longo da idade média espanhola, porém, faltam dados arqueológicos concretos. Em 2011, Fernando Guerra e Manuel Velasco procuraram fazer um catálogo das fortificações medievais das atuais províncias de Leão, Salamanca, Valhadolid e Zamora, incluindo nos seus elementos de análise as “motas”. Na apresentação dos resultados finais apenas alguns casos são mencionados, mas não são dados detalhes nem

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informações adicionais, sendo citados os sítios de Castillo de Muñó, em Estepar, e o sítio de Dueñas como exemplos mais prováveis para a existência de “motas” em Espanha (GUERRA e VELASCO, 2011, p. 76). Há ainda um outro investigador, Rafael Rodríguez, que defende a existência de uma mota em Castrogonzalo, na zona de Benavente, mas não existem mais do que algumas indicações nas documentações medievais para defender esta posição (RODRÍGUEZ, 2005). Os casos mais semelhantes em termos de funcionalidade seriam os castrum da região de Castilha. Tendo sido construídos no contexto do repovoamento do território e consolidação da conquista daquelas terras aos muçulmanos, tinham como papel a defesa dos novos povoados camponeses que estavam a surgir e o controlo visual de passagens e locais importantes. Porém, apesar de terem uma atribuição parecida, possuíam sem exceção defesas em pedra e estavam localizadas em pontos altos naturais (e não em elevações artificiais, como acontece no caso das “motas”), diferenciando-se assim dos casos portugueses (MARTÍN, 2005, p. 59). Em França, na região a volta de Paris conhecido por Ile-de-France, houve uma série de novas fundações e construções por volta dos séculos IX e X, parte do processo de feudalização que atingiu esta zona mais rapidamente, devido a proximidade com a sede do poder real francês. A sul da atual vila de Serris foi escavado um sítio com um fosso de 40 metros de diâmetro que estaria a defender uma torre de madeira, com uma base de 5,5 metros por 7 metros. Esta torre seria, segundo os investigadores, um local de moradia de um senhor e ponto de coleta das rendas por parte dos camponeses, podendo ter eventualmente algumas semelhanças com o que acontece no Penedo dos Mouros (ZADORA-RIO, 2009, p.15). Será na Grã-Bretanha que encontraremos os melhores exemplos de “motas”. Este tipo de fortificação foi introduzido naquela ilha quando a invasão normanda no século XI por Guilherme, o conquistador. Nos dois séculos seguintes, dezenas de “motas” foram construídas, especialmente na região da Inglaterra e do País de Gales, no âmbito da consolidação de poder da nova elite normanda. Conhecemos arqueologicamente diversos exemplos como, por exemplo, o caso do castelo de Cardiff, atual capital do País de Gales. A primeira fortificação foi construída neste local foi em 1091 por Robert Fitzhamom, senhor de Glouchester, num ponto que já tinha sido utilizado anteriormente, em época romana, para a instalação de sistemas defensivos. Esta “mota” foi construída nos modelos clássicos, com uma torre em madeira, com cerca de 12 metros de altura, colocada no topo de um monte que era cercado por uma paliçada de madeira seguida de um fosso. No século XII, tal como aconteceu com muitas destas estruturas, as defesas de madeira são substituídas por outras em pedra, não eliminado porém a marca que as primeiras defesas deixaram na estrutura do castelo e na sua conformação (JONES e NORMAN, 2006, p. 4). Outro exemplo que pode ser dado é o da “mota” de Ammanford, em Carmarthenshire, na Inglaterra, fundada no século XII e cujo monte onde a fortificação foi instalada teria cerca de 23 metros de diâmetro. Para além do fosso, com cerca de 2,4 metros de profundidade, os eventuais atacantes teriam que se defrontar com uma

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paliçada de madeira que teria, segundo estimativas, mais de 3 metros de altura. A torre em madeira no topo do monte serviria como último bastião de defesa (JONES e NORMAN, 2006, p. 7). Também em Duffus, em Moray, na Escócia, foram feitas escavações que revelaram uma “mota” construída no século XII e que sofreu profundas remodelações no século XIV. A planta original desta “mota” seria algo diferente pois, para além de ter um tamanho considerável (com um monte com cerca de 60 metros de diâmetro) teria dois fossos. Um primeiro circundaria o monte principal, aonde estaria a torre do senhor e alguns outros edifícios que não foram identificados. Um segundo fosso, com um diâmetro de mais de 125 metros, faria parte de uma primeira linha de defesas a proteger a “mota”. Para além dos fossos, este local teria outra particularidade que seria ter uma entrada bem definida, que abriria inclusive os fossos, voltada a nordeste (CANNEL e TABRAHAM, 1994, pp. 379-382). No geral, as “motas” foram essenciais na afirmação do poder normando na Inglaterra e tiveram um papel importante na história da feudalização daquela ilha, sendo um modelo amplamente disseminado (apresentamos aqui exemplo de Inglaterra, País de Gales e Escócia, de modo a demonstrar essa disseminação) e aplicado tanto na sua forma clássica, tal qual acontece em Cardiff, como com variações e adaptações, caso de Duffus.

Fig. 15: Planta da “mota” de Duffus, em Moray. Fonte: CANNEL e TABRAHAM, 1994, p. 383.

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4. Conclusão Ao longo deste trabalho procurámos apresentar a situação dos conhecimentos em Portugal quanto as fortificações de madeira na alta Idade Média. Os trabalhos e estudos ainda estão no começo e ainda existem poucos dados para permitir conclusões e interpretações mais elaboradas. Observamos a existência de dois tipos diferentes de estruturas, cada um com as suas próprias características e funcionalidades dentro do mundo medieval. Para as estruturas defensivas de povoado, conseguimos encontrar paralelos bastante semelhantes no estrangeiro, apesar de no país mais próximo, em Espanha, o tipo de povoamento parece ser claramente distinto daquele encontrado no Alto Mondego. É necessário ir a Itália e especialmente a Irlanda para encontrar outras aldeias que utilizaram de forma semelhante os sistemas defensivos em madeira. Naturalmente no Norte da europa o uso da arquitetura em madeira foi algo mais generalizado e prolongado na história, mas a diferença de contexto e cultura era tão grande que optamos por não abordar estes contextos, traçando o limite para a busca de paralelos nas ilhas britânicas. Para as estruturas defensivas do tipo torre, os exemplos que existem para Portugal são mais dúbios e menos conhecidos pois, com a exceção do Penedo dos Mouros, nenhum outro sítio desta categoria foi escavado ou sequer estudado mais em pormenor. Tal como nossos vizinhos espanhóis, os conhecimentos em Portugal para a existência e localização de “motas” ainda esta demasiado dependente das fontes escritas, havendo poucos investigadores que arrisquem ir para além deste dados. Quando, porém, vamos verificar mais a norte, observamos que o estudo sobre “motas” está mais avançado nas ilhas britânicas, sendo um tema amplamente estudado e conhecido dos arqueológos daquela zona. Apresentamos neste trabalho exemplos de Inglaterra, País de Gales e da Escócia para demonstrar como este modelo de fortificação esteve disseminado por aquelas regiões e como são semelhantes entre si as estações arqueológicas, com as suas devidas particularidades, obviamente. Em suma, podemos afirmar que ainda há muito para estudar-se e aprofundar-se no território nacional, principalmente quando temos em conta o desenvolvimento dos estudos nessa área em países como a Itália ou a Irlanda. Se para Portugal só nos foi possível enunciar três estações escavadas e duas possíveis para a existência de paliçadas de madeira, nos países anteriormente citados existem dezenas de sítios deste tipo. Alguns poderão argumentar que o povoamento medieval rural português seria, na sua maioria, sem aparelhos defensivos, tal como acontece em Espanha, e que sítios como S. Gens ou o Penedo dos Mouros seriam exceções a regra. Neste caso, será necessário mais estudos sobre aldeias e sítios deste período para comprovar esta possibilidade, algo que ainda não aconteceu até o momento na arqueologia nacional. Fica então o questionamento sobre a verdadeira tendência portuguesa, se seriamos mais semelhantes ao caso espanhol, ou ao caso italiano ou irlandês, uma pergunta para a qual ainda não possuímos uma resposta segura e definitiva.

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