Fotorreportagens e política nas páginas da revista Alterosa. 2011

May 29, 2017 | Autor: C. Corradi Rodrigues | Categoria: Fotorreportagens, História Da Imprensa, Jornalismo Impresso
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Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281

FOTORREPORTAGENS E POLÍTICA NAS PÁGINAS DA REVISTA ALTEROSA (BRASIL, 1962-1964). Carla Corradi Rodrigues (UFMG) Alterosa, revista ilustrada mineira de circulação nacional foi criada em 1939 pelo jornalista Miranda e Castro e adquirida pelo governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, em 1962. Neste ano, passou por uma ampla reforma sob a orientação do jornalista e escritor Roberto Drummond. Com um novo formato editorial, moderno e objetivo, a revista publicava fotorreportagens com temas que variavam de eventos pitorescos de cidades do interior de Minas Gerais a temas relacionados com a política nacional e internacional. Alterosa circulou até o fim de 1964, quando foi fechada e seu aparato técnico vendido à Editora Abril. Neste texto, interessa-nos apontar o espaço ocupado pela revista no movimento político civil-militar que culminou no golpe de 1964, além de assinalar como o periódico serviu de plataforma para a difusão das idéias de grupos que se engajaram nos debates políticos da época, especialmente àqueles ligados ao governador José de Magalhães Pinto. Para tanto, tomamos o “documento revista” como fonte múltipla capaz de expor novos hábitos e sociabilidades, padrões de comportamento, intrigas políticas, entre outros temas. Segundo Ana Luisa Martins: ... as imensas possibilidades de análise decorrentes da Nova História potencializaram o gênero „revista‟ como fonte, ou melhor, esta modalidade de publicação periódica evidenciou-se como suporte rico e diversificado de documentos, síntese privilegiada de instantâneos reveladores de processos históricos, representação material de práticas de consumo, usos e costumes.1

As revistas ilustradas, que surgiram como novo gênero periódico no século XIX, levaram a uma divisão de competências dentro da imprensa. Aos jornais caberia a informação rápida e factual; às revistas, a atualidade, a literatura, as variedades e a moda, tornando-se a preferência da população leitora. A partir da segunda metade do século XIX, a revista passou a ser publicação emblemática, expressão das exigências da vida moderna... 2

Mas o caráter fragmentado do gênero revista – que no início muitas vezes possuía folhas soltas e características próximas às do jornal dificultando a sua diferenciação – só foi se modificando ao longo da primeira metade do século passado. O século XX chegou com novas possibilidades tecnológicas, como o telégrafo, as linotipos e diferentes materiais de fotografia, o que levou à transformação dos modos de produção dos periódicos. Em um país de maioria analfabeta como o Brasil, a imagem era uma possibilidade de se transmitir informações e as revistas representavam um lugar privilegiado para escritores e 1

MARTINS, Ana Luisa. Da Fantasia à história: folheando páginas revisteiras. História, São Paulo, 22 (1): 59-79, 2003. Página 62. 2 MARTINS, Ana Luisa. Revistas em revista: imprensa e práticas culturais em tempos de República, São Paulo (1890-1922). São Paulo: Edusp, 2001. Página 42. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281

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grupos literários em um ambiente de escassa publicação de livros, especialmente nos primeiros anos da República. Na década de 1930, o público passou a ser identificado como “massa” e houve um alinhamento dos meios de comunicação com o regime estadonovista, principalmente pela possibilidade de verbas oficiais. Mas, apenas na década seguinte é que acontece a formação de um verdadeiro público leitor3 e o periodismo passa a ter segmentação e projetos definidos inspirados no modelo da imprensa americana. Nos anos 1940 e, principalmente na década de 1950, houve, em geral, uma modernização da imprensa nos grandes centros urbanos. Este é um momento de desenvolvimento e consolidação de periódicos voltados para um amplo mercado consumidor. Como exemplo, podemos citar a expansão das revistas O Cruzeiro, Manchete e Revista do Globo4. A partir da reformulação de O Cruzeiro na década de 1940, vemos um novo formato de editoração de periódicos no país com a introdução do foto jornalismo. Cabe ressaltar aqui que a novidade não foi o uso da fotografia pelo periódico carioca, mas sim a forma como essas imagens passaram a ser apresentadas ao público leitor. As fotografias organizadas em uma seqüência, com um cadenciamento narrativo, tinham como objetivo contar uma história com início, meio e fim. Segundo Helouise Costa e Renato Rodrigues5 a imagem fotográfica passou a ser um elemento ativo, contendo a mensagem ideológica do autor, direcionada pela linha editorial do periódico. Embora contivesse claramente o ponto de vista dos fotógrafos e dos editores, a fotografia era, em geral, considerada como imagem imparcial e ajudava (e ainda ajuda) a legitimar o discurso escrito das publicações. Assim, é preciso levar em consideração que a representação visual possui grande poder de persuasão e oferece chaves de leitura e compreensão da realidade. Segundo Charles Monteiro, as imagens exercem uma pedagogia social6. No caso das fotorreportagens, como as publicadas por O Cruzeiro e também por Alterosa, o “conjunto de título, texto e legenda direcionavam o olhar do leitor para uma interpretação predefinida do conjunto de fotografias da matéria”. 7 A partir de tais considerações apresentaremos brevemente a revista Alterosa e pontuaremos alguns aspectos ligados à política na época da crise do Governo João Goulart e às imagens veiculadas pelo periódico. Como já mencionado no início deste texto, Alterosa circulou pela primeira vez em 20 de agosto de 1939 e foi pensada como uma revista mensal ilustrada, publicada pela Sociedade Editora Alterosa Limitada, com sede em Belo Horizonte. 3

Fruto da consolidação da sociedade urbano-industrial e da queda nos índices de analfabetismo. ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988. Segundo Ortiz, em 1890 cerca de 84% da população brasileira era analfabeta, em 1920 esse número caiu para 75% e em 1940 para 57%. Página 45. 4 As revistas O Cruzeiro e Manchete foram lançadas em 1928 e 1952 respectivamente. Já a Revista do Globo era o periódico de maior tiragem no Rio Grande do Sul, tendo sido criada em 1929 como mostra MONTEIRO, 2007. Nas décadas de 1950 e 1960 as duas primeiras chegavam a vender juntas um milhão de exemplares por semana. 5 COSTA, Helouise; SILVA, Renato Rodrigues da. A fotografia moderna no Brasil. São Paulo: Cosac & Naify, 2004. página 64. 6 MONTEIRO, Charles. Imagens sedutoras da modernidade urbana: reflexões sobre a construção de um novo padrão de visualidade urbana nas revistas ilustradas da década de 1950. Revista Brasileira de História, número 53, 2007. Página 163. 7 COELHO, Maria Beatriz R. de V. O campo da fotografia profissional no Brasil. IN: Varia História.vol. 22 nº 35 -2006- Belo Horizonte: Departamento de História da FAFICH-UFMG, 2006. Página 85. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281

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Segundo Joaquim Nabuco Linhares (Itinerário da imprensa de Belo Horizonte), a revista tinha um formato de 25,5 x 17,5 nas primeiras edições, posteriormente reduzido para 24x16. Sua tiragem inicial foi de 4.000 exemplares, estendida mais adiante 30 a 40 mil exemplares. 8 A revista passou por duas importantes etapas durante seu tempo de circulação: 1- 1939-1962 - Direção de Miranda e Castro. 2- 1962-1964 – Propriedade de Magalhães Pinto e direção de Roberto Drummond com novo modelo editorial baseado em revistas de prestígio nacional e internacional. Alterosa foi editada em um período de importantes mudanças na forma de difusão e no conteúdo veiculado em toda a mídia. Segundo Marialva Barbosa: (...) a partir do desenvolvimento de novos meios de comunicação – como o rádio na década de 1930, a TV nos anos 1950 e a proliferação de meios impressos com amplas possibilidades de impressão -, há a incorporação das mensagens e dos apelos midiáticos de tal forma junto ao público, que os aspectos mais cotidianos da vida passam a ser regulados pela centralidade da mídia. Não é mais a questão do poder da mídia que está em foco. O que está em jogo é a produção de novas sociabilidades reguladas por estes aparatos tecnológicos que instauram relações dialógicas e produzem subjetividade. 9

Neste quadro de transformações técnicas e sociais, Alterosa sofre gradativas mudanças até chegar a seu formato final espelhado nas revistas de sucesso nacional como as já citadas Manchete e Cruzeiro, e em publicações internacionais como a Paris Match. Em 1962, Miranda e Castro, proprietário e fundador da revista, que por duas vezes se recusara a vendê-la aos Diários Associados de Assis Chateaubriand, fica doente e vende o periódico ao político mineiro Magalhães Pinto. Segundo o jornalista Humberto Werneck aí começam os tempos mais brilhantes da publicação. Até então Alterosa, criada em 1939, era uma despretensiosa revista mensal de amenidades em formato pequeno. O novo dono quis mudá-la inteiramente, e confiou a tarefa a José Aparecido de Oliveira; este, por sua vez, convidou para chefiar a redação, Roberto Drummond, que depois do Binômio passara para a edição mineira de Última Hora. Entre efetivos e colaboradores, Roberto escalou uma equipe afiada, da qual faziam parte Jorge Amado, Otto Lara Resende, Fernando Gabeira, Ivan Ângelo e o cronista Carlos Wagner (...). Roberto Drummond mexeu à vontade na publicação que recebera. Mudou, para começar, o seu formato – Alterosa, que tinhas as dimensões da futura Veja, cresceu até o tamanho de Manchete. Provincianismos como o registro de festas e formaturas foram 8 LINHARES, Joaquim Nabuco; CASTRO, Maria Ceres Pimenta S. Itinerário da imprensa de Belo Horizonte 1895-1954. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1995. Página 287. 9 BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa: Brasil, 1900-2000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. Página 147. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281

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banidos em benefício de grandes reportagens. Propriedade de um banqueiro, dinheiro não faltava – até mesmo para importar máquinas caríssimas, capazes de dar a revista o apelo visual de Manchete, mas que praticamente não chegaram a ser usadas; quando Alterosa fechou, na véspera do Natal de 1964, esse equipamento quase virgem foi vendido para a Editora Abril. (...) Como tantas outras publicações brasileiras, Alterosa acabou quando secaram determinados projetos políticos de seus donos. No caso, Magalhães Pinto, um dos líderes civis do golpe militar, viu se esfumarem seus planos de chegar à presidência da República – e, nesse momento, seu empreendimento editorial deixou de fazer sentido. Se outro motivo de orgulho não tivesse, Roberto Drummond poderia invocar o mérito de haver descoberto, nessa época, um dos maiores cartunistas brasileiros – Henfil. (...) Trabalhava nas oficinas da revista, na rua Piauí, como revisor.10

Embora considere que Alterosa não era tão despretensiosa em sua primeira fase como afirma o jornalista em seu trecho acima citado, é patente que o período de 1962-1964 foi de extrema vitalidade, principalmente pela ampliação do fotojornalismo na revista. Podemos notar através dos textos e imagens de Alterosa, traços importantes da filiação política do periódico. Seu novo dono, o governador de Minas Gerais José de Magalhães Pinto, era importante mediador no governo de João Goulart e participou diretamente das articulações que levaram à derrubada do então presidente brasileiro. Magalhães Pinto fora membro da UDN e posteriormente da ARENA, tendo uma longa e expressiva carreira política. Além disso, era banqueiro do estado mineiro, o que poderia garantir bons saldos para a publicação. 11 O governador de Minas, ao que parece, compra o periódico para fazer de suas páginas um arauto de suas idéias políticas. É comum nas páginas de Alterosa acusações contra comunistas ou contra o governo João Goulart. Muitas vezes, tais acusações têm um caráter pessoal e culpam Goulart por ser um mau pai, um mau marido e, portanto, um mau governante. Como exemplo, podemos citar a reportagem intitulada “Primeiras Damas: diplomacia veste saia” que possui 4 páginas e o mesmo número de fotografias. O texto relata como a primeira dama dos Estados Unidos, Jacquie Kennedy, tem presença marcante, ajudando seu país a firmar acordos internacionais e como isso é um diferencial em relação à URSS, “que é subdesenvolvida em matéria de primeiradama”.12 A beleza de J.Kennedy é comparada com a de Tereza Goulart, no entanto, a primeira-dama brasileira é apresentada como “a mais triste primeira-dama”. O texto ainda ressalta que vários governantes já notaram o poder das mulheres e não abrem mão de viajar com suas esposas para visitas oficiais a outros países e que o 10

WERNECK, Humberto. O desatino da rapaziada: jornalistas e escritores em Minas Gerais. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. Página 171. Ainda segundo Werneck, Magalhães Pinto também foi dono do jornal Diário de Minas, arrendado depois do golpe para o Jornal do Brasil. 11 José de Magalhães Pinto (1909-1996) era proprietário do Banco Nacional. Foi signatário do Manifesto dos Mineiros (1943), deputado federal por MG em várias ocasiões, ministro das Relações Exteriores (1967-1969), além de governador de Minas entre 1961 e 1966. 12 Alterosa, agosto de 1962, nº 356. Acervo da autora. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281

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único presidente que insiste no contrário é João Goulart que foi sozinho aos EUA em visita oficial. As quatro fotografias apresentadas na reportagem são de Jacquie Kennedy, Grace Kelly (Mônaco), Farah Diba (Iran) e de Tereza Goulart. Todas as fotografias ocupam lugar central nas páginas onde estão inseridas, exceto a de Tereza Goulart que ocupa o canto esquerdo de uma das páginas e está em menor formato. Enquanto as três primeiras-damas internacionais estão sorridentes em suas fotografias, Tereza Goulart tem um semblante fechado e triste.

Primeiras Damas: Diplomacia veste saia. Alterosa, agosto de 1962, nº 356.

Já a reportagem “E agora João” publicada em janeiro de 1963 tem um tom ameaçador e afirma que após o plebiscito, as pressões tornaram-se mais fortes sobre João Goulart. 13 “(...) cada erro que cometer tornará mais difícil o caminho, porque, agora, é o único responsável pela vida de 75 milhões de brasileiros” 14

A reportagem segue com o subtítulo: “Goulart viverá drama como Vargas e Jânio” “Quando João Vicente, de 5 anos, souber através da professora no „jardim de infância‟, que seu pai é Presidente da República de verdade, o Sr. João Goulart estará vivendo, atrás de seu sorriso tranqüilo, as primeiras horas de um drama que vai durar três anos. Desde o dia 06 de janeiro, por causa desse drama, sua vida modificou: já não tem tempo de passear com Dona Maria Tereza; as bombachas gaúchas que gostava de vestir para caçar em sua 13

Alterosa, janeiro de 1963, ano XXV, nº 361. (Coleção Alterosa – APCBH). Agradeço ao Yuri Mesquita e ao Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte pelas imagens. 14 Alterosa, janeiro de 1963, sem página. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281

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fazenda de Goiás estão guardadas. E suas atenções reduziram-se a uma só, que lhe solicita 24 horas por dia: a de assinar papéis e dar ordens. Durante um ano foi uma cópia sem coroa da Rainha Elizabeth: sua função era sorrir, porque, como Presidente, tinha as mãos amarradas pelo regime parlamentarista. Com a volta ao presidencialismo, ao seu sorriso se mistura um gosto amargo: o peso da responsabilidade”. 15

Os textos e as imagens reforçam a idéia de um presidente solitário e altamente sobrecarregado. Além disso, a comparação feita no subtítulo da reportagem entre Jango e dois presidentes da República que não terminaram seus mandatos, traduz o que era esperado para seu governo a partir do fim do parlamentarismo. Com as reportagens citadas podemos perceber a importância da imprensa na disseminação de idéias e valores no processo de transformação política no início dos anos de 1960. Otávio Soares Dulci ao tratar da crise do governo João Goulart afirma que:

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Alterosa, janeiro de 1963, sem página.

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(...) pela primeira vez, a sociedade brasileira virtualmente em bloco participava da arena política, o que ocasionou o mais intenso conflito de interesses a que o país já assistira.16

A afirmação do cientista político nos faz refletir sobre as influências diversas que levaram não só ao posicionamento dos grupos políticos “oficiais”, como os partidos políticos, mas ao envolvimento de setores sociais no processo e aos dispositivos que ofereceram chaves de compreensão da conjuntura política do início dos anos 1960, sendo o principal deles a imprensa. A influência e/ou controle dos meios de comunicação por lideranças políticas oposicionistas em meio à crise política no governo de João Goulart, assim como no caso de Alterosa ao ser adquirida por Magalhães Pinto, propiciou à direita a possibilidade de transmitir sua própria concepção da crise e a produção de um noticiário que gerou alarme e que ajudou a justificar o golpe civil-militar. 17 “De uma forma geral, sabe-se que os grandes órgãos de imprensa se colocaram contra João Goulart, com exceção da rede de jornais Última Hora, que defendia Jango. A grande maioria criticou o chefe do Executivo e tentou desacreditá-lo ou deixou clara sua desconfiança nas medidas do seu governo”.18

Assim, podemos refletir como a revista serviu aos anseios políticos de uma determinada facção política no pré-golpe e como as fotografias ajudaram a forjar uma determinada realidade. Longe de ser um documento neutro, a fotografia cria novas formas de documentar a vida em sociedade. Mais que a palavra escrita, o desenho, e a pintura, a pretensa objetividade da imagem fotográfica, veiculada nos jornais, não apenas informa o leitor – sobre datas, localização, nome de pessoas envolvidas nos acontecimentos – sobre as transformações do tempo curto, como também cria verdades a partir de fantasias do imaginário quase sempre produzidas por frações da classe dominante.19

São essas “verdades” e “fantasias” que despertam nosso interesse, os sistemas de significação estabelecidos, o imaginário social que determina visões de mundo e as formas de representação da sociedade, fatores que ajudam a construir determinadas culturas políticas.

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DULCI, Otávio Soares. A UDN e o anti-populismo no Brasil. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1986. Página 173. 17 DULCI, 1986, p 190. 18 NASCIMENTO, Márcio Santos. A participação do Jornal do Brasil no processo de desestabilização e deposição do presidente João Goulart. Dissertação de mestrado defendida no Programa de Pósgraduação em História Comparada da UFRJ em 2007. Página 12. 19 BORGES, Maria Eliza Linhares. História & fotografia. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

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