Fronteira Cerrado: Sociedade e Natureza no Oeste do Brasil

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Fronteira Cerrado: Sociedade e Natureza no Oeste do Brasil

Editora da PUC Goiás Pró-Reitora da Prope / Presidente do Conselho Editorial Profa. Dra. Sandra de Faria Coordenador Geral da Editora da PUC Goiás (2012) Prof. Gil Barreto Ribeiro Conselho Editorial Profa. Dra. Regina Lúcia de Araújo Prof. Dr. Aparecido Divino da Cruz Profa. Dra. Elane Ribeiro Peixoto Profa. Dra. Heloisa Capel Profa. Dra. Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante Prof. Dr. Cristóvão Giovani Burgarelli Ms. Heloísa Helena de Campos Borges Iúri Rincon Godinho Maria Luisa Ribeiro Ubirajara Galli

Diretor-Presidente Sr. Jair de Melo Gonçalves Diretor Vice-Presidente Sr. Leonardo B. Gonçalves Editora América Editor Presidente do Conselho Editorial Prof. Ms. Gil Barreto Ribeiro Assessora-membro do Conselho Editorial Profa. Dra. Regina Lúcia de Araújo Conselho Editorial Prof. Dr. Adão José Peixoto – UFG Prof. Dr. Antonio Pasqualetto – IF/Goiás Prof. Dr. Carlos Rodrigues Brandão – Unimontes/MG Prof. Dr. Éris Antonio de Oliveira – PUC Goiás Prof. Dr. Gilberto Mendonça Teles – PUC Rio Prof. Dr. Gutemberg Guerra – UFPA Profa. Dra. Heloísa Dias Bezerra – UFG Prof. Dr. Jadir de Moraes Pessoa – UFG Prof. Dr. José Alcides Ribeiro – USP Profa. Dr. Luiz Carlos Santana – UNESP/Rio Claro Profa. Dr. Maria José Braga Viana – UFMG Prof. Dr. Pedro Guareschi – UFRGS

Fronteira Cerrado Sociedade e Natureza no Oeste do Brasil Sandro Dutra e Silva Jose Paulo Pietrafesa José Luiz Andrade Franco José Augusto Drummond Giovana Galvão Tavares ORGANIZADORES

Goiânia, 2013

Fronteira Cerrado Sociedade e Natureza no Oeste do Brasil

Copyright © 2013 by Sandro Dutra e Silva • Jose Paulo Pietrafesa • José Luiz Andrade Franco • José Augusto Drummond • Giovana Galvão Tavares (Orgs.) Editora da PUC Goiás Rua Colônia, Qd. 240-C, Lt. 26 - 29 - Chácara C2, Jardim Novo Mundo CEP. 74.713-200 – Goiânia – Goiás – Brasil www.ucg.br/editora Gráfica e Editora América Ltda Av. C-233, Qd. 568, Lt. 28 - Nova Suíça - Goiânia - GO - CEP: 74.290-040 Fone/Fax: (62) 3253-1307. Comissão Técnica Capa Ricardo Alves Foto da Capa Missão Cruls - Acampamento 1892 Goiás Fotografia de Henrique Morize (1892) ArPDF - Arquivo Público do Distrito Federal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Municipal Marietta Telles Machado C417

Fronteira Cerrado: sociedade e natureza no oeste do Brasil / Organizadores Sandro Dutra e Silva, Jose Paulo Pietrafesa, José Luiz Andrade Franco, José Augusto Drummond e Giovana Galvão Tavares. – Goiânia: Ed. da PUC Goiás / Gráfica e Editora América, 2013. 368 p.: il. Inclui referência bibliográfica ISBN: 978-85-8264-015-9 1. Desenvolvimento sustentável – Cerrado – Brasil. 2. Cerrados – biodiversidade – Brasil. 3. Natureza – proteção – Brasil. I. Dutra e Silva, Sandro (Org.). II. Pietrafesa, Jose Paulo (Org.). III. Franco, José Luiz Andrade (Org.). IV. Drummond, José Augusto (Org.). V. Tavares, Giovana Galvão (Org.). CDU 501.131.2

DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio sem a autorização prévia e por escrito dos autores. A violação dos Direitos Autorais (Lei n.º 9610/98) é crime estabelecido pelo artigo 48 do Código Penal. Impresso no Brasil

Sumário

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Prefácio Lucia Lippi Oliveira

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Apresentação

PARTE I – FRONTEIRAS DO OESTE 19

A certidão de nascimento de Goiás: uma cartografia histórica da Fronteira Antônio Teixeira Neto

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Coronéis e camponeses: a fronteira da fronteira e a tese da “ficção geográfica” em Goiás Francisco Itami Campos, Sandro Dutra e Slilva

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A Fronteira Ouro e outras fronteiras nas gerais do Oeste: história ambiental e mineração em Pilar Goiás nos séculos XVIII e XIX Maria de Fátima, Sandro Dutra e Silva, Giovana Galvão Tavares

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Fundação Brasil Central e as relações entre Estado e territórios no Brasil João Marcelo Ehlert Maia

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O medo dos colonizadores em relação ao indígena na expansão da fronteira colonizadora em Goiás nos séculos XVIII e XIX Eliézer Cardoso de Oliveira

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103 Uma cidade nos caminhos do “sertão” de Goiás Gercinair Silverio Gandara 125 Sertão Cerrado Euripedes Funes

PARTE II – FRONTEIRA E NATUREZA 143 As reservas particulares do Patrimônio Natural e a conservação da natureza na Chapada dos Veadeiros Priscylla Cristina Alves de Lima, José Luiz de Andrade Franco 161 A expansão pioneira no Noroeste Paulista: os Albuns Illustrados como documentação para uma História Ambiental da fronteira (1900-1930) Marcelo Lapuente Mahl 173 Fronteiras no Cerrado e terras quilombolas em Goiás: os Almeida de São Sebastião da Garganta Julia Bueno de Morais Silva 191 Política de Unidades de Conservação do Estado de Goiás: avaliação da eficácia de gestão Edna de Araújo Andrade, Genilda D’arc Bernardes

213 Mudanças climáticas globais e distribuição geográfica de espécies: modelo de nicho aplicado a uma espécie de cupim e de árvore do Cerrado João Carlos Nabout, Pedro Paulino Borges, Karine Borges Machado Érica Diniz Ferreira, Solange Xavier dos Santos, Hélida F. da Cunha

Sumário

203 Flora do Cerrado: perspectivas para estudo de conservação biológica e bioprospecção Mara Rúbia Magalhães, Josana de Castro Peixoto Mirley Luciene dos Santos

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PARTE III – NOVAS FRONTEIRAS 225 Formação e expansão da fronteira agrícola em Goiás: a construção de indicadores de modernização Fernando Pereira dos Santos, Fausto Miziara 243 Capital internacional e novas fronteiras na produção de bioenergias: estudo de caso de questões sócio ambientais José Paulo Pietrafesa, Pedro Pietrafesa 263 Rede empresarial para expansão da soja transgênica no Cerrado goiano Luís Cláudio Martins de Moura, Joel Orlando Beviláqua Marin 281 Clero católico, pequenos agricultores e grande capital no vale mato-grossense do rio Araguaia (1971-1972): a visão do Sistema Nacional de Segurança e Informações - SISNI Dulce Portilho Maciel 303 Goiânia: um marco na transformação do sertão e apropriação das áreas de cerrado Janes Socorro da Luz 315 Mudanças de uso do solo na Alta Bacia do Rio Araguaia e as relações com as políticas públicas de 1975 a 2010 Karla Maria Silva de Faria, Selma Simões de Castro 331 Conservação da biodiversidade no bioma Cerrado: ameaças e oportunidades Roseli Senna Ganem, José Augusto Drummond José Luiz de Andrade Franco

Sumário

363 Sobre os Autores

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Prefácio Lucia Lippi Oliveira

H

á uma antiga e constante ideia sobre o Brasil, a do “gigante pela própria natureza”. O significado da natureza no imaginário sobre o Novo Mundo, da natureza como diferencial da nação brasileira frente a matriz portuguesa e dos argumentos geográficos e territoriais como fundamento da identidade nacional são recorrentes e fazem parte das interpretações do Brasil e das políticas do Estado brasileiro durante os século XIX e XX. O mito do “gigante pela própria natureza” tem sido mesmo a mais forte matriz para interpretar o Brasil. Foi ele que definiu a atuação do Estado como guardião do território. Assim a natureza, o trópico produziu um imaginário sobre o país e teve também efeitos práticos tanto em termos de ações políticas do Estado quanto nas migrações populacionais. Podemos mesmo dizer que a história da República se refere ao tempo da “Marcha para o Oeste”, entendida no sentido de conhecer o território e sua população, vencer o abandono do interior e organizar a nação. A política do Estado teve como metas fundamentais garantir não só a unidade do imenso

território mas realizar sua ocupação pelo menos dos anos 1930 até o fim do século. O tamanho do território permitiu que as populações empobrecidas, os excedentes populacionais migrassem para novas terras. As migrações para a região sul – mais industrializada e urbanizada –, e também para outras regiões desabitadas do Centro-Oeste do país exemplificam tal mobilidade. A construção da nova capital para o Estado de Goiás, Goiânia – na década de 1930 – assim como a construção da nova capital para o país, Brasília – iniciada no final da década de 1950 – favoreceu tal movimento. Agora a última fronteira interna está sendo ocupada por correntes migratórias que chegam às bordas da Amazônia vindas do Estado do Mato Grosso e do Pará. Migração, fronteira são fenômenos empíricos e categorias que permitem analisar a história do Brasil Central identificado muitas vezes como espaço do sertão. Produziu-se um discurso que dizia: para solucionar os problemas nacionais era preciso ocupar o interior ou o sertão. Ao Estado coube tal tarefa e ao realizar tal ocupação

em direção ao Centro-Oeste, vai realizar o “crescimento por dentro”. Cada nova leva de ocupantes do sertão vai se identificar aos bandeirantes como inspiração histórica primordial. O Brasil como arquipélago foi a metáfora que serviu para que o Estado ao longo do século XX estabelecesse programas voltados para ocupação do sertão, da fronteira Oeste brasileira. Assim a noção de “crescimento por dentro” ou de “fronteiras ocas” corresponde ao processo histórico pelo qual a colônia portuguesa e depois a nação brasileira estabeleceu seu território através de acordos sem que seu interior fosse ocupado ou sequer conhecido. A Marcha para Oeste, título de livro de Cassiano Ricardo e nome de programa do governo Vargas, vai buscar a junção de litoral e sertão, do corpo e alma da nação e assim vencer o isolamento e o abandono das populações do interior. Incentivar o povoamento e a exploração das áreas desocupadas se tornou eixo fundamental da política que procurou a integração. Tanto o território quanto a economia eram vistos como um “arquipélago”, ilhas cercadas, não por mar, mas por espaços vazios. A importância do espaço vem merecendo estudos e análises relevantes por parte dos geógrafos, historiadores, economistas e outros profissionais que passaram a analisar como o pensamento geográfico foi e é fundamental no processo de construção da identidade nacional ao longo da história do Brasil. Tais estudos e pesquisas estão procurando desnaturalizar a natureza, ou

seja, identificar como, quando, de que modo cientistas, literatos, geógrafos, historiadores produziram, fizeram uso e divulgaram tal versão da identidade nacional brasileira. E igualmente entender o significado da mobilidade de populações pelo espaço territorial do país em um movimento de ampliação das fronteiras. Agora tais questões estão sendo tratadas do ponto de vista de outro campo de pesquisa e de conhecimento, a história ambiental, tema transdisciplinar por excelência. Os artigos aqui selecionados falam de expansão da fronteira, práticas de territorialização; patrimônio natural, políticas de conservação (reservas, unidades de conservação). Tudo isto no espaço do Cerrado ou da Fronteira Cerrado e tendo com foco principal Goiás. Foi uma surpresa extremamente positiva conhecer a produção de instituições de pesquisa e de ensino que se volta para analisar a História Ambiental de seu próprio território, espaço e lugar. Esta coletânea expressa muito bem isto. E o volume Fronteira Cerrado, pode-se dizer, constitui mais um capítulo deste esforço de compreensão, de estudo do “sertão” que virou “cerrado”. Vou agora mencionar, por uma proximidade intelectual maior nos meus trabalhos mais recentes, que o Estado, ao promulgar o Decreto-Lei n. 25, em 30 de novembro de 1937 que cria o Sphan, vai incluir no patrimônio nacional os monumentos naturais, como sítios e paisagens. Assim a natureza passa a ser vista como um bem público devendo ser protegido pelo Estado.

Prefácio

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Mesmo que pouca coisa tenha sido feita à época vale ressaltar que uma das ações governamentais a ser destacada foi a fundação de parques nacionais como os de Itatiaia e da Serra dos Órgãos entre outros. Neste contexto que se associam árvore, família, sociedade e nação as comemorações do dia da árvore se tornam práticas de civismo por todo o país. Vivi tal experiência a partir de uma escola pública primária do Estado do Rio de Janeiro no município de Teresópolis, sede do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Por ocasião do “dia da árvore” os alunos eram levados ao Parque Nacional em caminhões com a boléia aberta, sentados em tábuas que faziam o papel de banco. A entrada do parque se faz por uma subida muito íngreme e todos nós tínhamos que nos segurar com força senão despencaríamos dali. Isto gerava muito grito, muito riso nervoso. Acho que esta foi uma das experiências mais marcantes na escola primária e que se fosse feita da mesma maneira nos dias de hoje seria objeto de denúncia ao Ministério Público!!!

Lucia Lippi Oliveira

Fundação Getúlio Vargas Rio de Janeiro, 2013

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Apresentação Sandro Dutra e Silva José Paulo Pietrafesa José Luiz de Andrade Franco José Augusto Drummond Giovana Galvão Tavares (organizadores)

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s artigos reunidos na presente coletânea têm o objetivo de discutir temáticas relacionadas com a ocupação de diversos territórios do Brasil, mais especificamente de trechos do bioma Cerrado, no passado e no presente. Trata-se de entender como se constituem as relações entre sociedade e natureza, aspectos de devastação, manifestações de preocupação com o ambiente natural, os laços de cooperação e de exploração entre os diversos atores sociais, e as representações que orientam e dão sentido à multiplicidade de experiências individuais e coletivas. Para tanto, lançamos mão, como elemento de coordenação e composição dos diversos textos que compõem o todo, do conceito de fronteira, elaborado pelo historiador norte-americano Frederick Jackson Turner (1861-1932). Em 1893, Turner inaugura, com o artigo “The Significance of the Frontier in American History”1, uma tradição historiográfica baseada na compreensão dos efeitos e consequências sociais e culturais da ocupação da fronteira 1 TURNER, F. J. The frontier in American

history. Minneola, New York: Dover Publications, Inc., 2010

norte-americana, em particular, e de outros territórios “vazios” capazes de atrair grandes contingentes populacionais em virtude da disponibilidade de recursos naturais. Ao sugerir o tema da fronteira (entendida não como border, limite geográfico entre países ou territórios políticos, mas como frontier, terra livre - ou considerada livre - em processo de ocupação ou colonização acelerada), ele criou uma nova perspectiva para analisar a história dos Estados Unidos da América (EUA). Essa perspectiva se baseia no entendimento de como se configuram as relações entre os humanos e o meio natural que ocupam. Esta concepção, bem sucedida por muitas décadas na historiografia norte-americana, e capaz de orientar estudos mais recentes, tem inspirado também historiadores de outros países. Para entender a ocupação territorial do Brasil, autores como Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Viana Moog, Pierre Monbeig, Stanley Stein, A. J. R. Russell-Wood, Stuart B. Schwartz, José de Souza Martins e Lúcia Lippi, entre outros, flertaram, em maior ou menor grau, com o conceito

de fronteira, negando-o ou incorporando-o ampla ou parcialmente. Em uma aplicação mais ampla, o historiador inglês Alistair Hennessy publicou, em 1978, The Frontier in Latin American History2. Mostrou, a partir da comparação entre os EUA e diversas partes da América Latina, que a ocupação da fronteira se deu de maneira um tanto quanto diversa nesses dois espaços geográficos. Ele sustentou que nos EUA a fronteira avançou de maneira linear, com a anexação preferencial de terras vizinhas às terras anteriormente ocupadas e estabilizadas. Isso se faz com base em levantamentos territoriais e fundiários relativamente detalhados, em transferências programadas das terras públicas para grandes massas de particulares, e no estabelecimento de estrutura administrativa, meios de comunicação e transporte, escolas, universidades e atividades produtivas. No caso da América Latina, em contraste, a ocupação da fronteira obedeceu a uma dinâmica definida por vários impulsos de avanço, alimentados pela restrição drástica dos beneficiários das cessões de terras e pela perspectiva de obtenção de riquezas fartas e imediatas por meio da extração e produção de bens primários. Esses impulsos se manifestaram quase sempre por “saltos” para permitir acesso a produtos ou áreas específicos, em geral distantes entre si, e não por uma ocupação sistemática e ordenada de faixas do territó-

rio próximas entre si. Depois desses repetidos impulsos relativamente curtos, chamados de booms (“bolhas”), muitos espaços do território eram abandonados pelos colonizadores e esquecidos pelos governos centrais, dando origem às “fronteiras ocas” - hollow frontiers, extensões de terras que ficavam praticamente sem ocupação depois que os recursos naturais mais atraentes eram explorados e exauridos Mais recentemente, em 2006, o historiador norte-americano David McCreery, no livro Frontier Goias, 1822-18893, ao discutir a ocupação territorial da província de Goiás, observou que a literatura sobre fronteiras sugere que a fronteira “ideal” se manifesta em uma linha claramente móvel. Atrás dessa linha ocorrem a ocupação ordenada e a institucionalização do poder do Estado, e na sua frente ocorre uma ocupação acelerada e por vezes desordenada, como a fronteira linear dos EUA. No Brasil, que fica distante desse padrão “ideal”, McCreery percebe na fronteira do café em São Paulo a ocorrência de várias hollow frontiers (“fronteiras ocas”), enquanto que na província de Goiás, no século XIX, ele detecta um outro tipo, a fronteira swiss cheese (“queijo suíço”). A fronteira do tipo “queijo suíço” seria uma miscelânea de fronteiras locais. Cada localidade ocupada ficava isolada e, por causa das grandes distâncias entre cada área ocupada, havia

2 HENNESSY, Alistair. The Frontier in Latin

3 McCREERY, David. Frontier Goiás, 1822-

American History. London: Edward Arnold, 1978

1889. Stanford, Califórnia: Stanford University Press, 2006

Apresentação

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Sandro Dutra e Silva • José Paulo Pietrafesa • José Luiz de Andrade Franco • José Augusto Drummond • Giovana Galvão Tavares (Orgs.)

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apenas contatos tênues ou esporádicos entre elas. Os habitantes de cada vila, fazenda ou assentamento viviam praticamente por conta própria no “sertão”. Sofriam com a dificuldade de abastecimento, com tempestades violentas, com rios caudalosos que impediam a travessia de tropas que traziam e levavam cargas, com péssimas estradas e transportes, com animais selvagens e com ataques dos indígenas, os “bugres”. Nas terras goianas, a busca frenética pelo ouro e a dispersão dos depósitos auríferos dispersaram a população e os assentamentos. O povoamento ralo, a qualidade agrícola variável dos solos, e as enormes extensões de terras reivindicadas pelos fazendeiros faziam com que os vizinhos se avistassem apenas muito raramente. A miragem da “civilização”, embora distante, confrontava os colonos luso-brasileiros e os seus escravos negros residentes em Goiás, fazia com que eles desenvolvessem uma consciência incômoda sobre a sua situação desconfortável e precária. Os trabalhos apresentados nessa coletânea têm em comum o fato de refletirem sobre questões relacionadas com a ocupação da fronteira Oeste brasileira. Essa publicação representa um esforço conjunto entre o Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Tecnologia e Meio Ambiente do Centro Universitário de Anápolis (PPSTMA/ UniEVANGELICA), o Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB) e o Programa de Pós-Graduação em História (POSHIS/UnB) da Universidade de Brasília, envolvendo um deba-

te interdisciplinar sobre o Cerrado. O PPSTMA/UniEVANGELICA e o CDS/ UnB, programas que estão inseridos na área de Ciências Ambientais da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) aliaram-se ao POSHIS/UnB, buscando alinhavar um conjunto de temas que aparecem distribuídos na coletânea (Geografia, História Ambiental, Biodiversidade, Biologia da Conservação, Desenvolvimento Sustentável, Sociologia Rural, Geociências, entre outras). A parceria entre os Programas envolvidos na realização da coletânea teve início no ano de 2012, por meio da publicação do livro História Ambiental: fronteiras, recursos naturais e conservação da natureza, organizado pelos professores José Luiz de Andrade Franco, Sandro Dutra e Silva, Giovana Galvão Tavares e José Augusto Drummond4, envolvendo pesquisadores nacionais e estrangeiros que atuam no campo da história ambiental ou que lidam com temáticas conexas. Com essa nova produção conjunta buscou-se ampliar o leque da interdisciplinaridade, tendo como referência os domínios do Cerrado. Novos projetos decorrentes dessa parceria estão em andamento e contam, todos eles, com o importante apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) e do PROCAD/ CAPES Novas Fronteiras, realizado em parceria com o Programa de Pós4 FRANCO, J.L.A.; SILVA, S.D.; TAVARES, G.G.; DRUMMOND, J.A. História Ambiental: fronteiras, recursos naturais e conservação da natureza. Rio de Janeiro: Garamond, 2012.

-Graduação em Geografia (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal de Goiás (POSGEO/UFU). Além das parcerias e do apoio à pesquisa pelos órgãos citados, essa coletânea dialogou com pesquisadores de quase todas as regiões brasileiras (Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Nordeste), inserindo a temática do Cerrado e da fronteira em um debate interdisciplinar que permitiu uma perspectiva multifacetada das temáticas que envolvem as sociedades e o meio ambiente. Diferentes objetos, olhares, leituras, procedimentos investigativos, fontes e outros elementos apresentam um rico panorama sobre a região central do Brasil, com ênfase em Goiás e no Distrito Federal. Além das universidades responsáveis pela realização desta coletânea, destacamos as parceiras estabelecidas com pesquisadores das seguintes instituições: Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Fundação Getúlio Vargas (FGV), Universidade Estadual de Goiás (UEG), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Universidade Federal do Ceará (UFC). Destacamos ainda o diálogo entre os diferentes Programas de Pós-Graduação envolvidos, vinculados a diferentes áreas, mas que têm realizado pesquisas significativas nos estudos socioambientais em áreas de Cerrado: Programa de Pós-Graduação em Territórios e Expressão Cultura do Cerrado (TECCER/UEG) e o Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado (RENAC/UEG), ambos

da Universidade Estadual de Goiás; Instituto de Estudo Sócio Ambientais do Programa de Pós-Graduação em Geografia (IESA/UFG) e Programa de Doutorado em Ciências Ambientais (CIAMB/UFG) da Universidade Federal de Goiás; e o Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (POSGEO/ UFU). A coletânea foi organizada em três grandes blocos, nos quais os artigos dialogam com temas convergentes relacionados com a questão da ocupação da “fronteira cerrado”. A primeira parte, denominada “Fronteiras do Oeste” agrega trabalhos sobre: cartografia histórica do território goiano; as relações de poder e ocupação territorial em Goiás e os conflitos entre oligarquias e camponeses; a fronteira da mineração e suas implicações para o arraial de Pilar de Goiás nos séculos XVIII e XIX; as políticas de ocupação e desenvolvimento territorial desenvolvidas pela Fundação Brasil Central na década de 1940; a relação entre colonizadores e indígenas na expansão territorial da fronteira goiana nos séculos XVIII e XIX; a constituição histórica da cidade de Uruaçu no norte de Goiás; o debate histórico a respeito do sertão goiano e as diferentes implicações dele para a exploração dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico. A segunda parte do livro, denominada de “Fronteira e Natureza” envolve artigos sobre: as reservas particulares do patrimônio natural e a conservação da natureza no cerrado, com enfoque

Apresentação

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Sandro Dutra e Silva • José Paulo Pietrafesa • José Luiz de Andrade Franco • José Augusto Drummond • Giovana Galvão Tavares (Orgs.)

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na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás; a documentação iconográfica da fronteira no Noroeste paulista e a sua utilização pela História Ambiental; as populações tradicionais em terras quilombolas na região central de Goiás; uma avaliação das políticas estaduais sobre unidades de conservação em Goiás; o estudo da biodiversidade do cerrado e as perspectivas para a sua conservação; os impactos das mudanças climáticas globais e a distribuição de espécies, analisando uma espécie de cupim e uma árvore do cerrado. A terceira parte da coletânea traz artigos sobre as novas frentes de expansão da fronteira em Goiás, com enfoque nas questões agrárias, bioenergias e uso do solo. São estudos sobre: indicadores de modernização na formação e expansão da fronteira agrícola em Goiás; a participação do capital internacional na produção de bioenergias no território goiano; a expansão da soja transgênica no Cerrado goiano e a sua relação com o campo empresarial; documentação acerca dos conflitos de terras envolvendo o clero católico, pequenos agricultores e o capitalismo agrícola na região do Vale do Rio Araguaia em Mato Grosso, na década de 1970; as transformações das paisagens e a apropriação das áreas de cerrado a partir da construção de Goiânia; impactos decorrentes das mudanças de uso do solo na Alta Bacia do Rio Araguaia e a sua relação com a expansão da fronteira agrícola na região a partir da década de 1970; as ameaças e as oportunidades decorrentes das políti-

cas de conservação da biodiversidade no bioma Cerrado. Turner, Hennessy e McCreery são referências importantes para compreender o conceito de fronteira e para orientar a reflexão sobre a validade dele para o entendimento do processo de ocupação do território brasileiro. Seja “oca” ou “queijo suíço”, a fronteira no Brasil e na América Latina em geral diferiu da fronteira nos EUA. Como conceito, a fronteira nos permite comparar processos e experiências diferenciados, estabelecer recortes e estruturar a reflexão. Foi essa a nossa intenção ao colocar, provocativamente, nesta coletânea, por nós organizada, o título de Fronteira Cerrado: Sociedade e Natureza no Oeste do Brasil.

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