Fulgores de Fátima: Portugal e o depósito da fé

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II

Cultura

QUARTA-FEIRA, 15 de fevereiro de 2017

Diário do Minho

Fulgores de Fátima: Portugal e o depósito da fé

POR

PEDRO SINDE FILÓSOFO E BIBLIOTECÁRIO

Os portugueses têm uma imagem de si próprios, espiritualmente, muito menorizada; não é demais, no entanto, insistir que eles têm uma missão; uma missão que os uniu durante séculos e que foram cumprindo quase sem pensar nisso. É verdade que no “interregno”, entre 1580 e 1640, os portugueses pareciam pensar já ter perdido a razão de existir como País, pois, na verdade, a primeira parte da sua missão universal se cumprira já: levar a todo o mundo o cristianismo. Esse período de sessenta anos equivaleu à manifestação exterior de uma mudança de ciclo no interior da alma portuguesa – como o pousio para um campo, assim foi a sua breve reintegração peninsular. A Restauração viria a ser o sinal de que ainda havia sentido para a sua existência.

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Em 1646, quando D. João IV entrega Portugal, com a coroa, à Imaculada, semeia uma semente do mundo espiritual nesta nossa terra; semente que permaneceu debaixo da terra, da terra da alma portuguesa, até 1917, altura em que veio a florescer em Fátima. O santuário do Sameiro (1890), dedicado também à Imaculada, foi um primeiro rebento, que veio preparar aquela eclosão de Fátima, situada, curiosamente, em termos geográficos, entre os dois prestigiados santuários à Imaculada que o precederam: Sameiro e Vila Viçosa; e também praticamente coincidindo, de modo bastante significativo, com o centro geográfico de Portugal. Em 1917, a Virgem veio, pois, dizer aos portugueses que a sua missão se transformara, se subtilizara, mas que iria continuar. Deus quis assim ensinar a três crianças humildes, aquilo que aos doutores quis esconder. E esses mesmos doutores ainda hoje riem pirronicamente das três crianças, ignorando que a sabedoria de Deus é loucura para os homens… No contexto deste artigo, interessa-nos destacar dois aspectos da mensagem de Fátima, ligados à missão de Portugal: 1. A Virgem diz, em 13 de julho, que em Portugal se conservará sempre o dogma da fé, e isso apesar dos tempos de generalizada apostasia em que temos vivido. Este ponto é o centro a partir do qual tudo o resto se ordenará: a fidelidade dos portugueses ao depósito da fé (se pudermos identificar “dogma da fé” com “depósito da fé”). A ideia de que haverá uma apostasia generalizada está, de resto, perfeitamente de acordo com o que diz o próprio Catecismo sobre o fim dos tempos (§ 675,

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Avelino Lima

onde se fala de uma “impostura religiosa” e de uma prova que “abalará a fé de numerosos crentes”) e, naturalmente, o Evangelho, nas tremendas palavras do Filho de Deus: “Quando, porém, voltar o Filho do Homem encontrará fé sobre a terra?” (Lc XVIII, 8). Se se conservará sempre, então, podemos pensar num papel espiritual análogo ao de um barco, uma barca, uma arca – uma arca de Noé –, enquanto durar o dilúvio espiritual da apostasia; foi em barcos que noutros tempos Portugal levou ao mundo inteiro a boa nova de Cristo, seria

agora num barco, mas de outra natureza, que ajudaria a conservação do depósito da fé. 2. A Virgem veio também dizer que é vontade do seu Filho que o culto ao Coração Imaculado de Maria se difunda em todo o mundo: “para salvar as almas, Deus quer estabelecer no mundo a Devoção ao Meu Imaculado Coração”; estas são as palavras da Virgem logo depois de ter mostrado às três crianças a terrífica visão do Inferno. Ora, é muito evidente que isso não aconteceu ainda e que o culto ao Coração Imaculado não tem dentro da Igreja o lugar digno

que corresponda ao desejo de Deus: o de o estabelecer no mundo! O que têm feito os portugueses para este fim? A Igreja portuguesa tem aqui uma função essencial, pedida expressamente pela Santa Virgem. Não seria pequeno o seu contributo se ajudasse a estabelecer no mundo esta devoção, que, na verdade, se vai estabelecendo, muitas vezes apesar da hierarquia. Mesmo em Fátima, esta devoção (penso por exemplo na prática dos Cinco Primeiros Sábados) está muito longe de ter o papel central que devia ter. E aqui se vê que o povo, que acorre a Fátima nos primeiros sábados, fá-lo normalmente por sua própria iniciativa; e esta é a nossa grande esperança, na verdade, a de que no seu sensus fidei, no seu sentido da fé, saiba sempre o povo reconhecer onde está a verdade, mantendo-se fiel; vox populi, vox Dei, voz do povo, voz de Deus.

Envio de trabalhos para publicação neste suplemento Diário do Minho / Secção Cultural Rua de S.tata Margarida, 4 - 4710-306 Braga; Fax: 253609469. E-mail: [email protected]

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QUARTA-FEIRA, 15 de fevereiro de 2017

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Temos de nos recordar que a Virgem não pode ter dito em vão aquelas importantes palavras sobre o papel de Portugal na conservação do dogma; seguramente, quis que os portugueses tomassem consciência do que lhes estava reservado, para se prepararem. Lembremo-nos que as seis aparições da Virgem em 1917, foram precedidas pelas três aparições do anjo; este anjo identificou-se dizendo ser o Anjo de Portugal. Isto é absolutamente inusitado nas aparições marianas de todo o mundo e, por isso, devemos ver aí um sinal claro de que estas aparições se ligam intrinsecamente ao ser mais íntimo da identidade portuguesa. O essencial desta missão, ensinaram o Anjo e a Virgem, cumpri-la-á Portugal colaborando com os Céus pela intenção de reparação que deve presidir à sua oração e aos seus sacrifícios, segundo a amorosa doutrina do corpo místico. Dir-se-ia, no entanto, que Portugal parece tanto à deriva como qualquer outro País para aparecer com uma missão tão grandiosa; também à deriva

parecia estar a Arca no dilúvio, no entanto, como antes à Arca, também agora a Divina Providência o conduz, pelas mãos da Virgem: lembremos de novo que desde 1646 é ela quem tem a coroa e, por isso, o poder de reinar. O leme deste barco não está nas mãos dos homens, embora Deus se possa servir circunstancialmente deles. E é aqui que o primeiro ponto se cruza com o segundo, pois onde encontrará refúgio a doutrina, para se conservar, senão no Coração da Mãe? “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc II, 19)… Não é ela, afinal, a Sede da Sabedoria? Não é ela, afinal, a verdadeira Arca da Aliança? E não foi esta senão a prefiguração sua? A consagração de Portugal à Imaculada tem, certamente, relação com a manifestação do Coração Imaculado em Fátima e Balasar (sobre que esperamos escrever noutra ocasião); é no Coração da Mãe que encontraremos, sempre preservadas, as palavras do Filho. Se nos lembrarmos que o depósito da fé se conservará no Coração Imaculado, então será mais fácil de entender porque é que em Portugal, mais do que noutros lugares, se conservará, pois o nosso povo, desde a origem da nacionalidade, praticamente, é de uma fidelidade impressionante à Imaculada. E o povo que permanecer católico, vai perseverar nessa fé. E será dentro da nova Arca de Noé – agora Arca de Maria – que encontrará preservada a Palavra do Senhor: a doutrina, o dogma da fé, o depósito da fé. Porque ali, ainda hoje, a Imaculada medita o profundo mistério do seu Filho na imensidão amorável da Trindade. Assim, será a Imaculada, ela mesma, quem conservará, de novo, a palavra sagrada. Talvez a esta luz já não nos pareça tão inusitada a afirmação da Virgem em torno da conservação do dogma da fé em Portugal, porque aos portugueses caberá manter a fidelidade à Imaculada; e será á Imaculada que caberá a conservação do dogma, coisa que faz, como sua função, vencedora de todas as heresias, desde que meditava, no seu coração, como vimos, os eventos e as palavras do Filho. Fátima é de uma coerência espantosa, não me canso de o constatar e sempre fico perplexo.

III

Ficheiro de Imprensa Bracarense DR

Diário do Minho

POR

V3

MONSENHOR DOMINGOS DA SILVA ARAÚJO ANTIGO DIRETOR DO “DIÁRIO DO MINHO”

Vimaranes Revista Municipal de Guimarães. Diretor, António Magalhães Propriedade da Câmara Municipal de Guimarães. O número um tem a data de março/abril de 1994. Escreve o Diretor: «Com a publicação desta nova Revista Municipal, denominada VIMARANES, inicia-se um novo ciclo de comunicação entre a autarquia e os seus minícipes. Um novo ciclo que substitui a edição, durante três anos, do Boletim Municipal, uma publicação que, estou convicto, foi do vosso agrado e vos permitiu acompanhar a atividade gestionária que imprimimos a esta autarquia durante os últimos quatro anos. Entendemos, porém, que era chegada a altura de, também a esse nível, assumirmos um novo desafio. E decidimos patrocinar uma publicação que não se esgotasse na análise e informação de assuntos marcadamente protagonizados pela Câmara Municipal. Entre a autarquia e a comunidade estabelecem-se hoje laços de profunda inter-relação e ambas convergem no propósito de encontrar novas e adequadas formas de servirem o cidadão, aos mais variados níveis. Daí que a Câmara Municipal de Guimarães contemple nesta nova Revista Municipal uma abordagem, que pretendemos rigorosa, séria e dignificadora, à comunidade vimaranense. Uma abordagem multifacetada, que releve as instituções que nos são queridas e cujo papel não passa despercebido a ninguém, os ilustres vimaranenses, assim como as empresas e/ou marcas que projetem o nome desta cidade, além de outras temáticas que, pela sua atualidade e importância, justifiquem uma análise mais estruturada e fundamentada. No fundo, o que pretendemos com a publicação desta nova revista municipal é aproximar o munícipe da comunidade onde está inserido, informando-o e mantendo-o atualizado sobre o modo como se desenvolve este processo dinâmico de evolução e desenvolvimento da nossa cidade». O Visitador Mensal. Publicação do Estabelecimento Prisional de Braga. A segunda série principiou em novembro de 1994, sob a direção de Eduardo Jorge Duque. Tem como objetivo dar novas oportunidades às pessoas daquele Estabelecimento. O Vitória de Guimarães Mensal. A terceira série começou em abril de 1976. Diretor, José Abílio Gouveia. Propriedade do Vitória de Guimarães Viva Portugal Boletim informativo da Comissão Política Concelhia de Celorico de Basto do Partido Popular – CDS/PP. O número um saiu em maio de 1995. VIVE! Mensal. Da Coordenação Concelhia de Vila Verde da Direção Deral da Educação de Adultos (D.G.E.A). Escreve-se no editorial: «Saiu o VIVE! Não será difícil àqueles a cujas mãos ele vai parar aperceber-se da razão do seu nome. VIVE são as iniciais dos dois vocábulos por que é composto o nome do nosso concelho: VI (de Vila), VE (de Verde). Se, por um lado, ele pode ser definido sob esse pretexto, por outro, também, ele encerra um sério desafio a cada vilaverdense. VIVE!, caro amigo! VIVE atento a todos os problemas da tua freguesia e tenta encontrar para eles a solução desejada, numa sã discussão com a população, com os órgãos autárquicos, com a Associação Cultural, se existir. VIVE as necessidades culturais do teu meio e cria em cada um dos teus conterrâneos o desejo forte de saber mais e melhor, não um saber pelo saber, mas um saber que lhe possibilite a solução de alguns problemas que o consomem». ◗ (Continua no próximo número deste caderno cultural)

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