FUNDAMENTALISMO CRISTÃO E RETROCESSOS NA POLÍTICA NACIONAL

June 13, 2017 | Autor: Tom Rodrigues | Categoria: Diversidade Sexual, Artigos Opinião
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FUNDAMENTALISMO CRISTÃO E RETROCESSOS NA POLÍTICA NACIONAL

Tenho ouvido comentários de pessoas desoladas com o fim da Copa do Mundo, elas dizem: "O que faremos agora?". Que tal começarmos a pensar nas eleições que elegerão, em outubro, cargos para a presidência do país, governos de Estado, deputados federais, deputados estaduais e senadores? Decidir quem serão aquelas e aqueles que nos representarão não é tão "chato" quanto a mídia, os partidos e pessoas que detém privilégios e poderes querem que nós pensemos que seja. E definitivamente, é muito mais importante que a Copa do Mundo.
O aumento dos fundamentalistas cristãos no poder público - e consequentemente, o aumento das ameaças aos direitos humanos - tem me deixado cada dia mais preocupado e amedrontado. Entendo por fundamentalistas aqueles que acreditam nos fundamentos de sua religião como verdades absolutas e inquestionáveis para todos os integrantes da sociedade. Por exemplo, pessoas que pinçam trechos da Bíblia para justificar as mais perversas atrocidades contra os direitos de outras. Neste ponto, devemos lembrar que a Bíblia é um livro auto-referente datado de um contexto muitíssimo diferente do nosso e escrito há aproximadamente três mil anos atrás em outro continente do mundo.
Os fundamentalistas religiosos brasileiros a que me refiro são sobretudo evangélicos neopentecostais (mas não somente!) que, através de influencias no cenário político nacional conseguem imensos espaços na mídia (principalmente na TV aberta) e, com isso, aproveitam-se do desespero de algumas pessoas para o aumento de sua fortuna e império imobiliário, isentos de alguns impostos (http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salom%C3%A3o_(IURD)). Por exemplo, considero fundamentalistas pessoas que se organizam contra direitos humanos de outros seres humanos! Que tem a capacidade de proferir em público que se consideram superiores a pessoas gays, lésbicas, transexuais e de religiões diferentes da sua – me refiro às religiões ditas "de matriz africana", cultuadas principalmente por pessoas negras. Pior ainda: me refiro a pessoas que organizam-se politicamente para ocuparem cada vez mais espaços nas Assembleias Legislativas, Câmaras de Vereadores e no Congresso Nacional, com o objetivo principal de que as normas impostas por sua religião a seus fiéis sejam generalizadas a homens, mulheres e crianças de um país imenso e multicultural como o Brasil!



É inacreditável que esses "cristãos" neguem séculos de descobertas científicas e de avanços humanitários em nome de uma forma única de viver baseada em uma hierarquia comandada por eles. O nome disso é ditadura! O que me amedronta e incomoda sobre a gestão política dessas pessoas é que se propõem a tratar homossexuais em "nome da psicologia" e realizam marchas contra famílias (http://noticias.gospelmais.com.br/protesto-manifestacao-contra-plc-122-silas-malafaia-brasilia-20417.html) diferentes das dos comerciais de margarina e acusam a nós de perseguição. Presidem (ainda inacreditavelmente) a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados por um ano (o ano passado, aliás, com o pastor evangélico Marco Feliciano na presidência da comissão) e em seu mandato tem como principal objetivo a retirada de direitos humanos (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/11/1374047-comissao-de-marco-feliciano-aprova-dois-projetos-contra-gays-e-rejeita-um-a-favor.shtml) de uma parte da população que devia representar e a luta pelo direito de distorcem textos da Bíblia para usá-los contra a população LGBT, pregando o ódio e incitando a violência em suas falas públicas como "representantes de Deus". Isso tem que acabar!! Inúmeras pessoas já morreram vítimas do machismo, homofobia, lesbofobia e transfobia, em crimes que acontecem todos os dias. Quantas outras precisarão morrer para que algo seja feito? (http://www.cartacapital.com.br/sociedade/de-quantos-mortos-precisa-o-brasil-para-reagir-contra-a-homofobia-865.html)


Nas oportunidades que tive de conversar sobre a diversidade sexual com crianças, no trabalho ou não, pude notar que depois da resistência e do desabafo de tanto ódio aprendido e guardado em suas religiões e famílias, muitas me contaram suas histórias de irmãs, primos, ou pessoas da escola e da rua que eram lésbicas, gays e travestis. Todas me contavam com pena e certo tom de incompreensão de tamanha violência – os meninos não sem maior insegurança. Disso tudo, uma lição: podemos acreditar em uma geração diferente se não nos calarmos contra a violência hoje! Meu tio gay, que tinha quinze irmãos (entre eles meu pai), foi o único de tantos a ser assassinado com tiro no rosto dentro de sua casa. Não foi mera coincidência. Guardo tanto rancor pelo assassino quanto guardo por aqueles que reforçam a ideologia que hoje fazem que muitos outros assassinem.



Ainda que queiram nos botar abaixo (nós, população LGBT, mulheres unidas pelo direito à liberdade, ateus e agnósticos, pessoas de outras religiões) de uma organização formada majoritariamente por homens brancos e riquíssimos, não vamos desistir! Será que eles acreditam mesmo que com todo o barulho acabarão com quaisquer que sejam as relações homoafetivas do mundo?
Obviamente não tomo todos os cristãos por fundamentalistas, pois não o são. Eu mesmo conheço pessoas que acreditam que "Deus é amor" e que fazem de sua fé uma maneira de fazerem bem para si e para os outros de uma maneira saudável e não violenta. E para essas pessoas, eu imploro: Façam-se ouvidas! Reconheço minha dificuldade em fazer ouvir, ver e sentir aqueles que já perderam seus sentidos em nome da riqueza, popularidade e poder de outros, seus "pastores". Mas, ainda que assim seja, eu não desistirei de desmascarar e denunciar os crimes (e incentivo a crimes) realizados por religiosos fundamentalistas, não desistirei de lutar!


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