Fundamentos da educação salesiana

June 1, 2017 | Autor: Dilson Passos Jr | Categoria: Educação, Educação de Jovens e Adultos, Dom Bosco, UNISAL, Educação Salesiana
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Fundamentos da educação salesiana João Belchior Bosco - Sua prática educacional Prof. Dr. Dílson Passos Júnior Dom Bosco1 inspirando-se no princípio de que a criatura humana não é perfeita, mas possuidora da capacidade de alcançar a perfeição, entende que essa imperfeição envolve a natureza física, psíquica e moral, num explícito acolhimento do pensamento tomista. O educador2 é o responsável por essa passagem da imperfeição para a perfeição, exigindo que cada educador conheça a capacidade de seu educando em responder aos estímulos formativos. O próprio Dom Bosco procurava conhecer seus educandos para conquistá-los como amigos. É necessário conhecer o homem naquilo que é e o que deve ser, para poder trabalhar eficazmente com o menino, que deve tornar-se um homem integral.

"Outro modo que podemos considerar como novo, de participação, era a insistência sobre o protagonismo juvenil, bem como o investimento nos próprios jovens, como agentes educadores dos colegas e futuros colaboradores da obra educativa. O próprio clima familiar aponta para um estilo de comunidade educativa com traços democráticos, de cogestão e distribuição de tarefas. Novamente é enfatizada esta Instituição como "família" e a organização do processo de trabalho e respectivos papéis, estão intimamente ligados a esta concepção. Scaramussa (1993) faz a seguinte colocação: na família educativa de João Bosco, todos os educadores são assistentes e irmãos maiores. Na pessoa do Diretor está o núcleo da Pedagogia prática de João Bosco. Ele é o ponto de coesão e de dinamismo de toda ação educativa. Seu papel é prevalentemente educativo, mais que administrativo ou diretivo. Deve conquistar a afeição confidente e filial do educando com a "amorevolezza" (...) o assistente deve ser presença ativa na vida do jovem. Deve dar o primeiro passo em direção a ele e estar ao seu lado como amigo, colocando-se no seu nível como irmão". 3

A educação é a arte de formar o homem, arte esta entendida como ciência. O importante nesta educação era a chamada formação4, um trabalho cuja finalidade era aperfeiçoar o

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Apresento aqui a base filosófica do seu pensamento apoiada numa visão aristotélica-tomista. Seu conceito de educação física possui uma influência claramente platônica, sobretudo do livro "A República". Uma visão otimista cristã é o grande eixo em torno da qual gravitam as diversas concepções filosóficas. 2 Cf. João MODESTI. Uma Pedagogia Perene. São Paulo: Editora Dom Bosco, 1975. p.33 3 Maria José Urioste ROSSO. Cultura Organizacional; uma proposta metodológica. Lorena: Editora Stiliano- Unisal, 2000. pp.113. 4 João BOSCO, O Sistema Preventivo na educação do Jovem. In Constituições e Regulamentos. São Paulo: Editora Salesiana, 1985. pp. 230-237 Prof. Dr. Dilson Passos Júnior - [email protected]

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menino, até fazê-lo homem, tornando-o "bom cristão e honesto cidadão".

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acreditava em uma formação apenas do corpo e nem somente da alma5, mas da natureza total do ser, soma e psique6·. No campo físico-fisiológico, Dom Bosco vê no esporte meio para o desenvolvimento físico, dando maior capacidade de assimilação da inteligência, alegria de viver e meio de

descontração para aquele que o pratica. No

campo psíquico-moral, o trabalho educativo auxilia na percepção dos valores e uso da vontade. A escola deve trabalhar a afetividade e a vontade livre, que dirigem a ação e a vida do educando. É preciso habituar o jovem a perceber, refletir, julgar e raciocinar retamente. Além da inteligência, aqui trabalhada por D. Bosco, outro elemento que ele também indica na formação do educando, é a vontade e o coração. Cumprir todos os deveres exige uma vontade firme e decidida, e, para isso, muitas vezes, torna-se necessário amar. O resumo de toda a educação consiste em que o menino conheça o bem e que o queira fazer. Esta é uma pedagogia coordenada pela razão, pelo bom senso e pelos valores da religião. O educador deve se fazer presente em todos os momentos de seus educandos, não se ocupando com outros afazeres; os mestres tenham também uma presença notória7 entre os alunos. Entre os elementos presentes no método educativo de D. Bosco está o ambiente ao qual dá absoluta importância. Todo o ambiente é educativo, quando impregnado de espírito cristão, onde o jovem encontra espaço de liberdade e responsabilidade, que favorecem a construção de sua personalidade.

Finalmente o educador, para D. Bosco, não pode considerar-se uma fonte autônoma de educação, mas um delegado e um transmissor de valores. É um “indivíduo consagrado ao bem de seus alunos, e, por isso deve estar pronto a enfrentar qualquer incômodo e canseira para conseguir o fim que tem em vista: a formação cívica e científica dos seus

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Ainda que o aristotelismo-tomista tenha prevalecido na Igreja, muito das ideias de fundo platônico e, sobretudo neo platônicas, prevaleciam na espiritualidade da Igreja com um significativo menosprezo pela dimensão somática do ser humano. Essa ideia perpassava por diversas espiritualidades que tinha certo desprezo e mesmo negação pela dimensão corpórea do ser humano. João Bosco, ainda que acentue veementemente o fim escatológico do ser humano, valoriza de outro lado a sua corporeidade e a integração global do homem. O ser humano é totalidade de corpo e de alma. Essa concepção dá sentido à dimensão social, lúdica e festiva de sua educação. 6 Visão Aristotélica. Cf. Guillermo FRAILE. Historia de la Filosofia. v.1. Madrid: BAC, 1965. pp.487504. 7 Esta "presença notória" entre os alunos é entendida por João Bosco, sobretudo nos momentos de recreios e recreações, onde o contato é descontraído e o mestre é visto "não como mestre, mas como amigo". Aqui está uma das chaves da pedagogia salesiana: a presença do educador no meio dos jovens. Prof. Dr. Dilson Passos Júnior - [email protected]

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alunos”.8 Ele é, no sistema de D. Bosco, pai, e por isso deve possuir toda a bondade e prudência do mesmo, dirigindo os alunos, aconselhando, corrigido e acompanhando seus educandos. Uma forte característica do educador, já observada no próprio comportamento de D. Bosco, é o acolhimento, ele não só sabia acolher, mas "prender" e "amarrar", afetivamente9.

Na gênese da pedagogia salesiana se entrelaçam a vida e a intuição de um homem, que sob a influência do tomismo teve uma visão otimista do homem e da juventude. Seus conceitos, se de um lado estavam solidamente apoiados nos princípios da Igreja, souberam, porém, realizar uma releitura para seu tempo dos valores que perpassam a Educação. Suas intuições e pensamentos foram transmitidos por seus seguidores para as gerações futuras.

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Cf. nota 78, pág. 67 João MODESTI. Uma Pedagogia Perene. São Paulo: Editora Dom Bosco, 1975. p.67 9 Aqui se torna necessário citar o episódio que marca a origem do Oratório Festivo, em 1841, aos 08 de dezembro, quando o jovem Bartolomeu Garelli chega à sacristia da Igreja onde D. Bosco iria celebrar a missa e é expulso pelo sacristão, o que deixa Bosco muito irritado. Pede para chamar o adolescente, que havia fugido, e num diálogo muito paterno o acolhe e promete ensinar-lhe o catecismo, nascendo aí a mais famosa obra de Dom Bosco. Cf. Ibidem. pp. 69 e 70. Prof. Dr. Dilson Passos Júnior - [email protected]

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